2. O início de tudo: uma visão dos povos primitivos
Segundo Branden (1982), nas tribos primitivas as relações entre os sexos não eram
mantidas com o intuito afetivo ou pelo desejo de ter o outro para si, e sim para
estabelecer uma unidade com o propósito de sobrevivência física.
No entanto, como tem sido verificado, entre os povos primitivos mais
contemporâneos, eles continuam apresentando características iguais aos seus
antepassados, sendo ainda a desvinculação afetiva, em suas relações sexuais, a
preocupação maior destes grupos. Entretanto, mesmo com a reprenssão afetiva, a
questão da sexualidade em relação à sua manifestação não é reprimida; pelo
contrário, existe um incentivo, pois a procriação tem sido o principal fator a reforçar
seu exercício, em diversos tempos e em sociedades diferentes.
A questão do idoso, no entanto, não é comentada nesse período até mesmo pela falta
da possibilidade de uma longevidade. Se, por ventura, ocorresse algum problema
nessa área, seja pela idade ou infertilidade, o distanciamento seria inevitável, já que,
entre eles, o envolvimento emocional é censurado severamente.
3. Segundo momento: Grécia
A antiga Grécia ficou marcada como uma época na qual a beleza física era o ponto
central de devoção e idolatria. Paralelamente a ela, os gregos valorizavam também o
espírito, como afirma Cabral (1995).
A posição feminina na sociedade era vista de forma desvalorizada e, enquanto a
mulher não se casava, ela ficava subjugada à autoridade do pai ou a de algum parente
próximo. Durante a vida de casada, a mulher passava a maior parte do seu tempo em
seus aposentos, realizando afazeres femininos, sem direito a uma educação formal,
sem informações políticas, e seus passeios eram realizados somente com
acompanhantes.
O casamento era visto como uma união com interesses pessoais, como por exemplo:
filhos legítimos, formação de capital, uma forma de assegurar o patrimônio familiar e
segurança para a velhice, demonstrando, assim, que as uniões por amor estavam, a
princípio, em segundo plano, dificultando possivelmente as trocas afetivas entre
pessoas que deveriam unir-se por sentimentos mais profundos. Este tipo de união faz
lembrar as relações sexuais dos povos primitivos, cujo objetivo central era a procriação
para a sobrevivência de seu povo.
4. Terceiro momento: Roma
Tannahill (1983) salienta que o aparecimento de rugas poderia ser um motivo de
divórcio. Neste caso, a observação da questão da velhice feminina era um fator
prejudicial na relação e que, provavelmente, poderia atrapalhar o convívio do casal por
perda dos padrões estéticos de beleza e, conseqüentemente, falta de atração sexual.
Dessa forma, verifica-se que o envelhecimento feminino esteve mais pré
conceitualizado do que o masculino, demonstrando, assim, a importância da beleza
física dessa época até os dias atuais.
As características do comportamento e dos papéis sexuais na antiga Roma possuem
muito mais fatores para serem comentados. No entanto, este trabalho enfoca a
questão da velhice. Sendo assim, após a citação do autor, observa-se que a população
de Roma caracteriza-se pela baixa faixa etária. Desta forma, a sexualidade e velhice
nesta população, a priori, não deveriam ser tão presentes.
5. Quarto momento: Cristianismo, uma grande
mudança
Ao final do Império Romano, em sua desintegração, surge uma nova força cultural e
histórica que começaria a causar grande impacto sobre o mundo ocidental, a qual iria
afetar as relações entre homens e mulheres tão profundamente quanto afetou o resto
da cultura ocidental: o cristianismo.
Cabral (1995) comenta que o sexo casual tornou-se polêmico do século VII ao XII, entre
os componentes da Igreja. Todavia, através de discussões, os componentes da Igreja
definiram o casamento como: “uma união consentida e abençoada por Deus, que
conferia ao mesmo tempo a indulgência ao ato sexual, a intenção de procriar.” (p.107)
Dessa forma, o conceito de atividade sexual e reprodução torna-se mais forte, ou seja,
o sexo permanece ligado à reprodução de seres e não a uma reprodução de trocas
afetivas de quem se ama, dificultando, assim, a manifestação da sexualidade entre
idosos.
6. Quinto movimento e o rótulo final: Idade média
A Idade Média caracterizou-se por ser um período da história onde a sociedade estava muito
preocupada e interessada em modificar os padrões morais e do comportamento sexual. Neste
momento, a Igreja medieval proclamava que os assuntos relativos à moral estavam dentro de
sua circunscrição, sendo assim, esteve na frente, possuindo um papel dominante na definição
do que era um comportamento sexual apropriado.
Apesar dos esforços da Igreja medieval, o período foi considerado como sendo relativamente
aberto, ou seja, houve uma certa liberdade sexual no final da Idade Média.
Sendo os preconceitos voltados para o comportamento sexual desviante, desvinculado da
procriação, a atividade sexual dos idosos, naquela época, era também considerada como algo
negativo, já que, nessa idade, o coito e o desejo sexual não eram bem aceitos pela Igreja.
7. Séculos concentrados no reforço às sexualidade do
idoso
Covey (op.cit.) salienta que as crenças ocidentais sobre a as sexualidade do idoso estão sendo
sustentadas desde a Idade Média, ao disseminarem que o apetite sexual desaparece com o
envelhecimento, que o sexo é perverso na velhice e que os idosos que tentavam praticá-lo
sofriam uma auto decepção pelas dificuldades oriundas da idade. Ainda comenta que: “Em
adição, os conceitos tradicionais relacionados à sexualidade, tais como: beleza, atração,
potência sexual e orgasmos femininos não eram referidos às pessoas idosas e sim as excluíam.”
(p. 3)
Quanto ao trabalho de Burrow, publicado em 1986, Covey (op.cit.) constata o comportamento
sexual do idoso era considerado inapropriado e ainda salienta que: “Aqueles idosos que
permaneciam em atividades sexuais eram julgados como tendo um comportamento
inapropriado em relação à idade, apresentando assim uma variedade de respostas sociais
negativas.” (p. 5)
O sexo realizado entre os idosos casados era visto também como não natural e representava
uma afronta à dignidade. Em 1988 esta visão ajudava aos mais jovens a não sentirem os idosos
como competidores sexuais (Barash, cit. por Covey, 1989), esta visão ajudava aos mais jovens a
não sentirem os idosos como competidores sexuais. Esta percepção talvez tenha sido e continue
a ser o motivo principal pelo qual a sociedade visualiza o idoso como “sem sexo”.
8. A sexualidade do idoso: O resultado da história no
século XX
Diante de tantos tabus, a sociedade continua com dificuldades em lidar com a questão da
sexualidade, principalmente, no que se refere ao idoso. A grande força negativa que o grupo de
idosos possui, em relação à sua manifestação do desejo ou da atividade sexual, vem das normas
de comportamento existentes nos séculos anteriores.
Na existência de percepções positivas e negativas na fase da velhice, Libman (1989) comenta
que, atualmente, os gerontologistas estão trabalhando para a quebra ou diminuição dos
preconceitos de conotação negativa e dos estereótipos que são atribuídos aos idosos, como o
de serem degenerativos. Ainda segundo a autora, é importante tomar cuidado, pois nesses
combates podem surgir os chamados “contra-mitos”, que são imagens super otimistas do idoso,
igualmente não-realistas. Neste caso, o importante não é a criação dos “contra-mitos” e, sim,
demonstrar e permitir que o idoso manifeste sua sexualidade sem culpa, sem considerar que
esta atitude ou sentimento seja percebido como anormais.
É o jovem, entretanto, quem mais abertamente pré conceitualizada a sexualidade do idoso,
ridicularizando qualquer manifestação sexual dos mais velhos.
9. A sexualidade do idoso: O resultado da história no
século XX
Para demonstrar a existência dessa energia e da dificuldade de expressão do desejo sexual,
Werlang (1989) realizou uma análise sobre um texto de Clarisse Lispector, intitulado Ruídos de
passos, de 1974, onde a autora relata a angústia de uma idosa diante de seu desejo sexual.
Percebendo a importância do texto, resolvemos transcrevê-lo para enriquecer o nosso trabalho
através de sua análise.
Ruídos de passos
Clarisse Lispector:
10. “Tinha oitenta e um anos de idade. Chama-se
dona Cândida Raposo.
Essa senhora tinha a vertigem de viver. A
vertigem se acentuava quando ia passar dias
numa fazenda: a altitude, o verde das árvores, a
chuva, tudo isso a piorava. Quando ouvia Liszt se
arrepiava toda. Fora linda na juventude. E tinha
vergonha quando cheirava profundamente uma
rosa.
Pois foi com dona Cândida Raposo que o desejo
de prazer não passava.
Teve enfim a grande coragem de ir a um
ginecologista.
E perguntou-lhe envergonhada, de cabeça baixa:
- Quando é que passa?
- Passa o quê, minha senhora?
- A coisa.
- Que coisa?
- A coisa, repetiu. O desejo de prazer, disse
enfim.
- Minha senhora, lamento lhe dizer que não
passa nunca.
Olhou-o espantada.
- Mas eu tenho oitenta e um anos de idade!
- Não importa, minha senhora. É até o morrer.
- Mas isso é o inferno!
- É a vida, senhora Raposo.
A vida era isso, então? Essa falta de vergonha?
- E o que é que eu faço? Ninguém me quer mais...
O médico olhou-a com piedade.
- Não há remédio, minha senhora.
- E se eu pagasse?
Não ia adiantar de nada. A senhora tem que se
lembrar que tem oitenta e um anos de idade.
- E... e se eu me arranjasse sozinha? O senhor
entende o que eu quero dizer?
- É, disse o médico. Pode ser um remédio.
Então saiu do consultório. A filha esperava-a
embaixo, de carro. Um filho Cândida perdera na
guerra, era um pracinha. Tinha essa intolerável dor
no coração: a de sobreviver a um ser adorado.
Nessa mesma noite deu um jeito e solitariamente
satisfez-se. Mudos fogos de artifícios. Depois
chorou. Tinha vergonha. Daí em diante usaria o
mesmo processo. Sempre triste. É a vida, senhora
Raposo, é a vida. Até a bênção da morte.
A morte.
Parece-lhe ouvir o ruído de passos. Os passos de
seu marido Antenor Raposo.’ (p. 93)
11. A sexualidade do idoso: O resultado da história no
século XX
Diante da obra de Clarice Lispector, verifica-se que a manifestação da sexualidade não termina
com a idade. Sendo assim, o ser humano não deve continuar acreditando que o desejo e a
necessidade da manifestação sexual na Terceira Idade sejam atribuídos a questões diabólicas ou
que seja um comportamento negativo em suas vidas, como era visto na Idade Média. E nem
como diz Rieman (1995), que para algumas pessoas “o desejo pode ser um presente de grego.”
(p. 36)
A falta de informação sobre o processo de envelhecimento, assim como das mudanças na
sexualidade, em diferentes faixas etárias e especialmente na velhice, tem auxiliado a
manutenção de preconceitos e, conseqüentemente, trouxeram muitas estagnações das
atividades sexuais das pessoas com mais idade.
Muitas pessoas, pela formação reprimida que tiveram, possuem uma dificuldade em falar sobre
sexo, dificultando muitas vezes, o esclarecimento de suas dificuldades nesta área.
13. Considera-se sexualidade as diversas formas, jeitos, maneiras que as
pessoas buscam para obter ou expressar prazer. É basicamente a busca do
prazer humano em suas diversas formas. A idéia de prazer irá variar de
pessoa para pessoa, levando em conta a realidade de cada indivíduo.
Quando uma pessoa está sentindo prazer, ela está vivenciando a sua
sexualidade. A busca do prazer se dá de várias formas, em variadas
circunstâncias.
14. Asexualidade é uma energia que nos motiva a procurar amor, contato,
ternura, intimidade, que se integra no modo como nos sentimos,
movemos, tocamos e somos tocados; É ser-se sexual.
Ela influencia pensamentos, sentimentos, ações internas e por isso
influencia também a nossa saúde física e mental, portanto, ela é
essencial.
A sexualidade não deve ser confundida com relação sexual, que é
apenas um dos componentes da sexualidade.
15. Desde o nascimento a vida se desenvolve de tal forma que a idade
cronológica passa a se definir pelo tempo que avança. E o tempo fica
definido como um sinônimo para uma eternidade quantificada, ou seja,
uma cota. Desta forma, o homem e o tempo se influenciam mutuamente,
o que resulta em um aproveitamento diferente do tempo para diferentes
pessoas (Goldfarb, 1998).
Em geral, a literatura classifica, didaticamente, as pessoas acima de 60
anos como idosos e participantes da Terceira Idade. A idade pode ser
biológica, psicológica, ou ainda, sociológica à medida que se enfoca o
envelhecimento em diferentes proporções das várias capacidades dos
indivíduos. Entretanto, a transformação da velhice em problema social
não pode ser encarada apenas como decorrente do aumento demográfico
da população idosa.
16. Biológico - Alterações fisiológicas especialmente quanto a
resistência física.
Social – Alterações dos papeis que o idoso tem na sociedade,
impostos pela mesma.
Psicológico – A forma como cada um se percebe - com base
em suas próprias crenças e vivências anteriores - sua
identidade.
17. Sexualidade ignorada
Na verdade, mesmo ocorrendo mudanças nas áreas social, política e
médica, os preconceitos em relação à atividade sexual precisam ser
discutidos e analisados, visando uma melhor explicação e orientação
das verdadeiras mudanças existentes no comportamento sexual do
idoso, para que este grupo possa não se sentir culpado pelos seus
desejos sexuais, independentemente da forma de sua manifestação.
18. A sociedade insiste em acreditar, que a atividade sexual
desapareça com a idade.
Continuam
sendo
sexualment
e ativos.
80%
Preferem
manter
interesse
sexual
90%
19.
20. A população acima de sessenta anos está crescendo de maneira significativa, não só
no Brasil como no mundo. Acompanhando a elevação do contingente populacional
de idosos, houve a necessidade de se criarem espaços sociais para atendê-los.
A formação de grupos de terceira idade constitui-se numa das formas de agregar e
socializar os indivíduos idosos, prática que tem se difundido para todas as
localidades do país.
A freqüência dos idosos nos grupos é de extrema importância, porque o convívio
social leva a que troquem experiências, adquiram novos conhecimentos e
mantenham e ampliem seu grupo de amizades, o que poderá lhes transmitir maior
segurança e suporte social.
Como se pode constatar, também surgem laços amorosos além da formação de
amizades, Desperta, ainda a sexualidade, o interesse por alguém especial, que se
destaca dentre outros.
21. Descrevem-se como variáveis que podem comprometer a atividade sexual na
maturidade, alguns fatores:
A capacidade e interesse do(a) companheiro(a);
O estado de saúde;
Problemas de impotência no homem ou de dispareunia (dor durante o ato sexual)
na mulher;
Efeitos colaterais de medicamentos e
Perda de privacidade, como por exemplo, viver na casa dos filhos.
23. Para a maioria dos investigadores, a diminuição da atividade sexual na
velhice se relaciona tanto com as mudanças físicas do envelhecimento,
como com as influências de atitudes e expectativas impostas pelo modelo
social.
Diz um ditado que “envelhece-se como se viveu”.
O progressivo aumento do período entre as ereções e a maior dificuldade
para consegui-las, pode produzir uma ansiedade crescente no homem, e
esta ansiedade prejudicará ainda mais sua capacidade de resposta sexual.
Completa-se um círculo vicioso mantido pela ansiedade. O mesmo sucede
com a dispareunia de introdução nas mulheres devida à diminuição de
estrógenos pós-menopáusica. A dor na relação (dispareunia) provoca
ansiedade antecipatória com conseguinte aumento da dor, também
formando um círculo vicioso difícil de romper (Serna, 1996).