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Aquisição da linguagem
Ester Mirian Scarpa

No capítulo 7 do livro “Introdução à Linguística” (São Paulo: Cortez, 2001. pág.
203-232.), intitulado como “Aquisição da Linguagem”, a professora Ester Mirian Scarpa
aborda a história, a abrangência e a evolução de alguns conceitos relacionados a estudos
que tem como objeto a percepção e a e o processamento da linguagem por uma criança.
É notório que, ao longo da história, oprocesso de desenvolvimento da linguagem
da criança sempre provocou especulações diversas entre leigos ou estudiosos do
assunto. Contudo, estudos sistemáticos sobre o que a criança aprende e como adquire a
linguagem só começaram a ter destaque mais recentemente. Desde o século XIX, alguns
linguistas começaram a desenvolver pesquisas longitudinais (envolvendo uma criança em
ambiente naturalístico) bem como estudos transversais (com um número maior de
crianças, ou grupos etários diversos).
A autora apresenta a Aquisição da Linguagem como uma área híbrida e ao mesmo
tempo heterogênea e multidisciplinar, já que propõe-se que o estudo da obtenção da
linguagem tem suas bases “no meio do caminho entre teorias linguísticas e psicológicas”
(Mussalim, 2001). A área recobre muitas subáreas, cada uma formando um campo
próprio de estudos, como por exemplo: a aquisição da língua materna, a aquisição de
uma segunda língua e a aquisição da escrita nos processos de alfabetização.
Dentro da evolução dos conceitos nesta área, Scarpa começa nos apresentando o
contexto da década de 50, onde predominava-seo conceito do behaviorismo, que pregava
o aprendizado da língua, em essência, como outros tipos de aquisições de habilidades e
comportamentos, tais como: andar de bicicleta, dançar, etc. Porém, surge no fim dessa
década, o linguista Noam Chomsky com ideias reacionárias a esse conceito mediante
uma postura inatista na consideração do processo por meio doqual o ser humano adquire
a linguagem. “A linguagem, específica da espécie, dotação genética e não um conjunto de
comportamentos verbais, seria adquirida comoresultado do desencadear de um
dispositivo inato, inscrito na mente” (pg 206). Esta tese inatista de Chomsky desencadeou
uma série de estudos e acabou sendo contestada por outras correntes teóricas: o
cognitivismo construtivista e o interacionismo social.
O cognitivismo construtivista, proveniente dos estudos do epistemólogo suíço Jean
Piaget e defendido pelo psicólogo soviético Vygotsky, associava a aquisição da linguagem
a um estágio de conquistas cognitivas da criança. Por volta dos 18 meses, a criança
superaria um estágio sensório-motor, o que permitiria o aparecimento da linguagem.
Esta teoria difere-se do modelo inatista de Chomsky, pois apresenta a aquisição da
linguagem como resultado da interação entre o ambiente e o organismo através de
assimilações (Piaget conceitua linguagem como um sistema simbólico de
representações), rechaçando essa aquisição como fruto de um desencadeamento de um
módulo específico para a linguagem. Dessa forma, a teoria behaviorista também é
contestada já que entende-se que a criança não espera passivamente a transmissão do
conhecimento de qualquer espécie.
Por fim, chegamos ao interacionismo social, uma visão que se distancia em graus
variados tanto do cognitivismo piagetiano quanto do inatismo chomskiano. Segundo esta
postura, passam a ser levados em conta fatores sociais, comunicativos e culturais para a
aquisição da linguagem. Assim, a interação social e a troca comunicativa entre a criança e
seus interlocutores são vistas como pré-requisito básico no desenvolvimento linguístico. O
interacionismo social apresenta como um de seus vertentes o“sociointeracionismo", cujas
propostas consistem na afirmação de que a linguagem é atividade constitutiva do
conhecimento do mundo pela criança, bem como o espaço em que a criança se constrói
como sujeito. Linguagem e conhecimento do mundo estão intimamente relacionados e os
dois passam pela mediação do outro, do interlocutor.
A autora destaca também a abordagem que Pinker (1994) faz no tocante a
mudanças maturacionais no cérebro, tais como o declínio da taxa de metabolismo e do
número de neurônios durante a idade escolar e da diminuição do metabolismo e do
número de sinapses cerebrais na adolescência, que têm como consequência uma grande
dificuldade em dominar-se uma segunda língua em idade adulta. A esta abordagem
chamamos de período crítico. A aquisição de uma linguagem normal é garantida atéa
idade de 6 anos, é comprometida entre 6 até pouco depois da puberdade, e é rara daí em
diante, tendo seu sucesso associado a “puro talento”.
Algumas curiosidades sobre o estágio de desenvolvimento da linguagem na
criança são apresentadas. Segundo Bates & Goodman (1997), a trajetória do
desenvolvimento da linguagem parece ser, com algumas especificidades, universal e
contínua. As crianças começam com balbucio, primeiro com vogais (cerca de 3 a 4
meses, em média). Aparentemente, os sons que a criança balbucia no começo são
universais: os sons iniciais não são específicos de sua língua materna. Em seguida,
aparecem as combinações de vogais e consoantes de complexidade crescente
(geralmente entre 6 e 12 meses). As primeiras palavras emergem entre 10 e 12 meses,
em média, embora a compreensão de palavras possa começar algumas semanas antes.
As primeiras combinações de palavras geralmente aparecem entre 18 e 20 meses e, no
começo, tendem a ser telegráficas. Aos 3 ou 3 anos e meio, a maioria das crianças
normais dominou as estruturas sintáticas e morfológicas de suas línguas maternas.
Em suma, Ester Mirian Scarpa apresenta neste capítulo as várias posturas
teóricas, fatos e instrumentos focados na investigação do processo de aquisição da
linguagem, explicitando sempre que as polêmicas que envolvem as grandes questões da
área estão ainda abertas a novas indagações e descobertas. Mediante o uso de exemplos
interessantes e linguagem acessível, este material consolida-se como uma ótima
referência para aqueles que têm interesse e curiosidade nesse assunto.

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Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
 

Aquisição da Linguagem: Teorias e Evolução dos Conceitos

  • 1. Aquisição da linguagem Ester Mirian Scarpa No capítulo 7 do livro “Introdução à Linguística” (São Paulo: Cortez, 2001. pág. 203-232.), intitulado como “Aquisição da Linguagem”, a professora Ester Mirian Scarpa aborda a história, a abrangência e a evolução de alguns conceitos relacionados a estudos que tem como objeto a percepção e a e o processamento da linguagem por uma criança. É notório que, ao longo da história, oprocesso de desenvolvimento da linguagem da criança sempre provocou especulações diversas entre leigos ou estudiosos do assunto. Contudo, estudos sistemáticos sobre o que a criança aprende e como adquire a linguagem só começaram a ter destaque mais recentemente. Desde o século XIX, alguns linguistas começaram a desenvolver pesquisas longitudinais (envolvendo uma criança em ambiente naturalístico) bem como estudos transversais (com um número maior de crianças, ou grupos etários diversos). A autora apresenta a Aquisição da Linguagem como uma área híbrida e ao mesmo tempo heterogênea e multidisciplinar, já que propõe-se que o estudo da obtenção da linguagem tem suas bases “no meio do caminho entre teorias linguísticas e psicológicas” (Mussalim, 2001). A área recobre muitas subáreas, cada uma formando um campo próprio de estudos, como por exemplo: a aquisição da língua materna, a aquisição de uma segunda língua e a aquisição da escrita nos processos de alfabetização. Dentro da evolução dos conceitos nesta área, Scarpa começa nos apresentando o contexto da década de 50, onde predominava-seo conceito do behaviorismo, que pregava o aprendizado da língua, em essência, como outros tipos de aquisições de habilidades e comportamentos, tais como: andar de bicicleta, dançar, etc. Porém, surge no fim dessa década, o linguista Noam Chomsky com ideias reacionárias a esse conceito mediante uma postura inatista na consideração do processo por meio doqual o ser humano adquire a linguagem. “A linguagem, específica da espécie, dotação genética e não um conjunto de comportamentos verbais, seria adquirida comoresultado do desencadear de um dispositivo inato, inscrito na mente” (pg 206). Esta tese inatista de Chomsky desencadeou uma série de estudos e acabou sendo contestada por outras correntes teóricas: o cognitivismo construtivista e o interacionismo social. O cognitivismo construtivista, proveniente dos estudos do epistemólogo suíço Jean Piaget e defendido pelo psicólogo soviético Vygotsky, associava a aquisição da linguagem a um estágio de conquistas cognitivas da criança. Por volta dos 18 meses, a criança superaria um estágio sensório-motor, o que permitiria o aparecimento da linguagem. Esta teoria difere-se do modelo inatista de Chomsky, pois apresenta a aquisição da linguagem como resultado da interação entre o ambiente e o organismo através de assimilações (Piaget conceitua linguagem como um sistema simbólico de representações), rechaçando essa aquisição como fruto de um desencadeamento de um módulo específico para a linguagem. Dessa forma, a teoria behaviorista também é
  • 2. contestada já que entende-se que a criança não espera passivamente a transmissão do conhecimento de qualquer espécie. Por fim, chegamos ao interacionismo social, uma visão que se distancia em graus variados tanto do cognitivismo piagetiano quanto do inatismo chomskiano. Segundo esta postura, passam a ser levados em conta fatores sociais, comunicativos e culturais para a aquisição da linguagem. Assim, a interação social e a troca comunicativa entre a criança e seus interlocutores são vistas como pré-requisito básico no desenvolvimento linguístico. O interacionismo social apresenta como um de seus vertentes o“sociointeracionismo", cujas propostas consistem na afirmação de que a linguagem é atividade constitutiva do conhecimento do mundo pela criança, bem como o espaço em que a criança se constrói como sujeito. Linguagem e conhecimento do mundo estão intimamente relacionados e os dois passam pela mediação do outro, do interlocutor. A autora destaca também a abordagem que Pinker (1994) faz no tocante a mudanças maturacionais no cérebro, tais como o declínio da taxa de metabolismo e do número de neurônios durante a idade escolar e da diminuição do metabolismo e do número de sinapses cerebrais na adolescência, que têm como consequência uma grande dificuldade em dominar-se uma segunda língua em idade adulta. A esta abordagem chamamos de período crítico. A aquisição de uma linguagem normal é garantida atéa idade de 6 anos, é comprometida entre 6 até pouco depois da puberdade, e é rara daí em diante, tendo seu sucesso associado a “puro talento”. Algumas curiosidades sobre o estágio de desenvolvimento da linguagem na criança são apresentadas. Segundo Bates & Goodman (1997), a trajetória do desenvolvimento da linguagem parece ser, com algumas especificidades, universal e contínua. As crianças começam com balbucio, primeiro com vogais (cerca de 3 a 4 meses, em média). Aparentemente, os sons que a criança balbucia no começo são universais: os sons iniciais não são específicos de sua língua materna. Em seguida, aparecem as combinações de vogais e consoantes de complexidade crescente (geralmente entre 6 e 12 meses). As primeiras palavras emergem entre 10 e 12 meses, em média, embora a compreensão de palavras possa começar algumas semanas antes. As primeiras combinações de palavras geralmente aparecem entre 18 e 20 meses e, no começo, tendem a ser telegráficas. Aos 3 ou 3 anos e meio, a maioria das crianças normais dominou as estruturas sintáticas e morfológicas de suas línguas maternas. Em suma, Ester Mirian Scarpa apresenta neste capítulo as várias posturas teóricas, fatos e instrumentos focados na investigação do processo de aquisição da linguagem, explicitando sempre que as polêmicas que envolvem as grandes questões da área estão ainda abertas a novas indagações e descobertas. Mediante o uso de exemplos interessantes e linguagem acessível, este material consolida-se como uma ótima referência para aqueles que têm interesse e curiosidade nesse assunto.