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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo
VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo
(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

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Escândalos Políticos, Identidade Profissional e Jornalismo: Uma
Perspectiva Histórica
Carlos Figueiredo 1

Resumo: Este artigo estuda o desenvolvimento do profissionalismo jornalístico no Brasil através do estudo de três escândalos políticos ocorridos em diferentes momentos históricos: o suicídio de Vargas, o impeachment de Collor e o Mensalão. O objetivo é apresentar o desenvolvi mento do campo jornalístico brasileiro de uma perspectiva histórica, respeitando as particularidades nacionais já que as narrativas apresentadas pelas teorias da Esfera Pública e do jornalismo
têm como ponto de partida realidades estrangeiras, tornando difícil a aplicação direta desses
modelos ao caso brasileiro.
Palavras-chave: Escândalos Políticos; Illusio; Profissionalismo; Esfera Pública;.História do
Jornalismo.

1. Introdução
O escândalo político pode ser encarado como um momento de acirramento das
tensões entre os campos político e jornalístico, e de disputas dentro dessas respectivas
esferas sociais. Com um potencial devastador nas carreiras de agentes do campo político, o escândalo pode minar o capital político dos envolvidos, uma vez que esse capital
pode ser renovado ou não a cada eleição, de acordo com a percepção do eleitorado sobre
o comportamento de seus representantes políticos. O poder destrutivo do escândalo político advém desse fato nascer da transgressão de uma norma moral realizada por agentes
do campo político (THOMPSON, 2002, p.129), e quando os representados pelo agente
tomam conhecimento do fato podem considerá-lo indigno da confiança depositada nas
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Jornalista, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGS/UFPE) e Mestre em Comunicação (UFPE).

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eleições. A origem da tensão entre os campos tem origem no fato de que o campo jornalístico é o principal responsável pela publicidade desses fatos, tornando-os conhecidos
por uma audiência indefinida numericamente.
A luta pelo poder político se transformou, nas sociedades contemporâneas, em
uma luta pelo poder simbólico de visão da realidade social e pelos poderes públicos administrativos (BOURDIEU, 2006, p.174), e o espaço midiático se tornou a arena onde
os representados se relacionam com os agentes do campo político. Vencer a luta simbólica na imposição da construção da realidade social é um meio importante de alcançar o
controle do aparelho estatal, vide as enormes cifras investidas pelos partidos e políticos
profissionais em comunicação e media training com a contratação de pessoal especializado como assessores, profissionais de marketing e etc. Todavia, é importante lembrar
que a arena simbólica onde se dá essa disputa é gerenciada pelos jornalistas e administrada segundo seus valores e práticas (GANS, 1980, p.249).
Já o campo jornalístico encara o escândalo político como um momento especial
em que a notícia pode ser potencializada enquanto um bem simbólico que persegue a
busca do interesse público, e por outro lado maximiza o potencial mercadológico da notícia política. O escândalo político é um fato que preenche vários critérios de noticiabilidade, sendo ao mesmo tempo importante, com alto grau de interesse público, e interessante, preenchendo as necessidades do campo jornalístico. Além disso, as coberturas de
escândalos políticos podem ser analisadas como momentos de reafirmação das crenças
profissionais, dos valores e da auto-imagem dos jornalistas de cães de guarda (watchdog) da democracia.
Contudo, não se pode acreditar que as regras práticas de funcionamento dos
campos sociais e os valores que as justificam são atemporais e estão fora de contextos
históricos. Por isso, tomando os escândalos políticos como situações-limite, realizamos
um estudo comparativo dos valores e práticas profissionais de três momentos históricos
brasileiros em que a cobertura de escândalos políticos tiveram um papel central na história do Brasil: o suicídio de Vargas, o impeachment de Fernando Collor e o caso Mensalão, envolvendo o governo Lula. Os três episódios serão comparados com o caso norte-americano Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon. O objetivo

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é mostrar a evolução profissional do campo jornalístico brasileiro, e sua influência política, através da avaliação do comportamento dos jornalistas nesses casos.

2. O Surgimento do Profissionalismo
As relações entre jornais e política observadas a partir do início da modernidade
eram bem diferentes das atuais. Os jornais defendiam causas políticas, era a época do
chamado publicismo, ou do jornalismo político-literário, e eram sustentados comercialmente pelos seus donos. Habermas (2003, p.215 – 216), defende que esses jornais tinham um conteúdo crítico, funcionando como mediadores de idéias e não como “um
mero transporte de informações” e “instrumento de uma cultura consumista”. Essas mudanças negativas teriam acontecido depois que o jornalismo se transformou também em
empresa capitalista a partir do século XIX, graças às novas tecnologias que permitiam
uma circulação maior, e à entrada no mercado consumidor de uma massa de recém-alfabetizados. Para fazer jus ao investimento na circulação, os jornais teriam que ser direcionados para um público politicamente heterogêneo, nascia assim a imprensa de massa.
A transformação do jornalismo numa empresa lucrativa, a entrada das massas na
política e o Estado de bem-estar social que rompeu as fronteiras entre as esferas pública
e privada teriam refeudalizado a esfera pública, agora dominada por meios de comunicação de massa, que passam a mostrar e a exaltar o poder de forma superficial, sem
qualquer reflexão. A “publicidade” perderia, a partir daí, “a sua função crítica em favor
da função demonstrativa”. (HABERMAS, 2003, p.241).
Para Thompson (1998, p.72) comparar a visibilidade oferecida pelos meios de
comunicação de massa com a visibilidade das cortes feudais é uma visão superficial da
complexidade das relações entre o jornalismo e a política. A nova visibilidade midiatizada pode sair do controle dos agentes do campo político, e o escândalo político seria
um momento em que isso pode acontecer. Já de acordo com Schudson (2003, p.69), Habermas não compreendeu que a transformação do jornalismo em empresa capitalista no
século XIX foi acompanhada da profissionalização do campo, trazendo benefícios para
a democracia e diminuindo a influência dos proprietários e dos partidos políticos sobre
o jornalismo.

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Os jornais deixariam de depender de subsídios políticos e passam a contar com
as receitas da publicidade e as vendas dos jornais, permitindo sua despolitização, fundamental na instalação de uma nova forma de jornalismo que privilegia os fatos e não a
opinião (TRAQUINA, 2004, p.36). Esse movimento de profissionalização teria criado
um novo ethos jornalístico que faz nascer a prática da caça de escândalos (muckraking)
e uma visão do jornalista como adversário do poder constituído e cão de guarda da democracia, tornando a revelação de transgressões morais por agentes do campo político
parte da auto-imagem profissional dos jornalistas (THOMPSON, 2002, p.112-113). O
escândalo político seria, portanto, um momento de reafirmação desse papel jornalístico.
Trinta anos depois, Habermas revisa seus postulados teóricos, resgatando o papel democrático da Esfera Pública dentro de um novo contexto social. O autor passa a
entender a esfera pública como uma rede de comunicação de conteúdos, funcionando
como um filtro, que ao mesmo tempo sintetiza os conteúdos e opiniões públicas produzidas na sociedade (HABERMAS, 1997, p.92). Habermas amplia o seu conceito ao estender o poder de integração e formação do debate exercido pelos meios massivos de
comunicação para além de contextos sociais partilhados como os cafés do século XIX.
Habermas (2007) passa a defender a manutenção de jornais capazes de oferecer bom
jornalismo atendendo à demanda por formação e informação, oferecendo um lucro aceitável; e reconhece, no texto, a importância da produção de notícias no Estado democrático de direito, defendendo o papel da imprensa de fornecer informação credível, que
serve de base para a discussão pública.
Dentro desse novo contexto, a notícia possui dupla face. Ao mesmo tempo em
que é um bem público, é também um bem econômico. O escândalo político-midiático
seria o tipo de notícia que preencheria as exigências dos dois pólos do campo do jornalismo. O pólo positivo ou ideológico estaria tendo seus requisitos preenchidos pelo fato
de que o escândalo político permite que os agentes do campo jornalístico reafirmem sua
imagem mítica de cão de guarda. Enquanto o pólo negativo, o econômico, estaria sendo
satisfeito por uma notícia com suficiente potencial para atrair a curiosidade pública
(BOURDIEU, 1997, p.105 – 106).
Thompson (2002, p.142) se concentra em cinco mudanças sociais importantes
que causaram o crescimento dos escândalos políticos: (1) a crescente visibilidade dos lí4
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deres políticos, (2) a mudança nas tecnologias de comunicação e de vigilância, (3) a mudança na cultura jornalística, (4) a mudança na cultura política e (5) a crescente regulamentação da vida política. Todas as mudanças propostas têm de ser levadas em conta
num estudo sobre o fenômeno do escândalo político, entretanto aqui o foco será colocado na cultura dos jornalistas.

3. O Escândalo sob a Ótica Jornalística
Os mitos ligados ao papel do jornalismo no surgimento da democracia e na sua
manutenção que garantem à profissão suas garantias constitucionais, e dão aos jornalistas um sentido de missão à sua ocupação. Essas crenças e valores carregados pelos jornalistas são essenciais para o campo, assim como para o seu senso prático. As crenças
sustentam as práticas e lhes dão sentido. É no conceito de illusio que essa relação com a
crença mantida dentro dos campos sociais pode ser explicada.
A illusio é uma fantasia subjetiva assentada numa crença partilhada, a qual os
agentes de um campo aderem em busca de distinção, de honra, de um sentido para seus
atos, de uma razão para existir, em outras palavras a illusio dá sustentação aos atos dos
agentes de determinado campo (BOURDIEU, 1996, p.106). A crença na importância do
que está sendo feito é essencial para um agente de qualquer campo, tanto que Bourdieu
(1997a, p. 143) considera a illusio como a condição e o fruto do funcionamento do campo. A comparação (BOURDIEU, 1997a, p.14) entre illusio, campo e jogo pode ajudar a
esclarecer o sentido desse conceito para o funcionamento do campo. Quando alguém se
engaja em um jogo, ele deve aceitar as regras do jogo, considerar seus objetivos importantes, enfim, encará-lo com seriedade; ter um interesse além do puramente econômico,
um interesse pelo jogo social que é disputado dentro do campo.
O jornalismo não se limita a retratar a realidade, ele também contém valores ou
modelos que se tornarão preferenciais nas narrativas jornalísticas. As notícias não dizem
apenas como a sociedade é, elas trazem pistas implícitas de como a sociedade deveria
ser, através do modo que as situações e agentes são relatados (GANS, 1980, p.39). O
fato é incompleto e os jornalistas preenchem parte de seus espaços vazios com os valores da sua cultura profissional. Os valores jornalísticos, de acordo com a tipologia pro-

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posta por Gans (1980, p.41), podem ser divididos em valores duráveis (Enduring Values) e valores tópicos (Topical Values). Este último tipo de valores é expresso em opiniões sobre temas ou tópicos em voga num curto espaço de tempo, já os valores duráveis
podem ser encontrados em diferentes tipos de coberturas jornalísticas por um longo período de tempo, contundo não são eternos.
Os valores duráveis para Gans (1980, p.42) podem ser agrupados em oito grupos: etnocentrismo, democracia altruística, capitalismo responsável, pastoralismo de cidade pequena, individualismo, moderação, ordem social e liderança nacional. Esses valores são tirados de uma pesquisa empírica feita nos EUA, mas como lembra Traquina
(2005), ao estudar a cobertura da AIDS em quatro diferentes países (Brasil, Portugal,
EUA e Espanha), os jornalistas mesmo localizados em diferentes culturas nacionais partilham uma cultura profissional semelhante. Sanders e Canel (2006, p.455) pesquisando
comparativamente escândalos políticos concluíram que apesar das diferenças nas coberturas, havia três similaridades na forma que os jornalistas cobriam escândalos políticos
em ambos os países: usam intensos recursos humanos e materiais, revelam fatos pouco
palatáveis sobre o campo político e foram enquadrados a partir de valores morais. As diferenças ficaram por conta das disputas realizadas dentro do campo político e do grau de
institucionalização do regime democrático nos dois países, defendemos que os valores
profissionais também passam por um processo de negociação com as diferentes culturas
nacionais, resultando em identidades jornalísticas próprias em cada país. Quatro dos valores citados por Gans podem ser reafirmados durante a cobertura de escândalos políticos: democracia altruística, capitalismo responsável, ordem social e os relativos à qualidade da liderança.
A democracia altruística é uma visão da democracia que entende que esse tipo
de organização da sociedade deve trilhar sempre o caminho do interesse público. Os
escândalos políticos geralmente envolvem, em alguma medida, o uso da posição conferida pelo cargo político em benefício próprio. Já o capitalismo responsável seria o sistema econômico ideal na visão jornalística do mundo. Esse valor seria mobilizado apenas
nos casos de escândalos político-financeiros. O valor da ordem social pode ser considerado central na explicação da importância do escândalo político. As notícias sobre desvios morais trazem implícitas pistas do que os jornalistas consideram atitudes morais
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desejáveis, e ao relatar os escândalos políticos o campo jornalístico está defendendo que
essas transgressões da moral vigente não estão de acordo com o que se espera da ordem
moral de um sistema democrático. Por fim, para que a ordem moral e social seja mantida, os jornalistas consideram que as lideranças devem agir de acordo com esses valores
e ter determinadas competências para manter a situação sob controle. Lideranças que
transgridem a moral vigente passam a ser enxergadas com desconfiança pelo campo jornalístico.
O mito em torno das coberturas de escândalos políticos deve muito ao caso Watergate e à imagem criada em torno dos jornalistas responsáveis por essa cobertura: Bob
Woodward e Carl Bernstein, que trabalhavam no diário americano Washington Post.
Para Schudson (1995, p.142, tradução nossa), “nenhuma outra narrativa na História
Americana colocou a imprensa num papel tão proeminente e heróico”. Principalmente
em função do best-seller Todos os Homens do Presidente (BERNSTEIN e WOODWARD, 1978), que conta a saga da cobertura do caso, e sua transformação em um
premiado filme em que Woodward e Bernstein são encarnados por duas estrelas de
Hollywood, Robert Redford e Dustin Hoffman. O caso terminou com a renúncia do presidente Richard Nixon. De acordo com Schudson (1995, p.143) pouco se discute o que
Nixon fez para quase sofrer impeachment, mas o mito em torno dos dois repórteres é
lembrado mais de três décadas depois do caso.
O caso americano teve seu embrião no arrombamento do comitê do partido democrata em 1972; localizado no prédio Watergate. Cinco homens munidos de maquinas
fotográficas e equipamentos eletrônicos capazes de interceptar conversas telefônicas foram presos durante o arrombamento. Todos os homens detidos possuíam ligações com a
CIA e o partido republicano. Com o desenrolar das investigações, foi descoberto um esquema de espionagem política envolvendo o presidente Nixon, eleito pelo partido republicano em 1970. A investigação levada a cabo pelo FBI, a Polícia Federal Americana;
pela justiça e pelos jornalistas do Washington Post acabou juntando provas da participação de assessores próximos a Nixon, e que comprovavam sua responsabilidade no caso.
(BERNSTEIN e WOODWARD, 1978).
Para Schudson (1995, p.143) o caso Watergate criou alguns mitos em relação ao
jornalismo americano, sendo os mais importantes aqueles que dariam conta de que o
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caso teria gerado mudanças institucionais no jornalismo. Entre elas estaria uma ênfase
maior no jornalismo investigativo e o aumento da agressividade dos jornalistas americanos em relação aos governantes. A maior mudança causada pelo caso Watergate para
Schudson (1995, p.164), não foram, entretanto, possíveis mudanças de comportamento
no jornalismo, mas a volta da mitologia da caça de escândalos que surgiu nos primórdios da profissionalização do jornalismo no início do século XX. O caso Watergate permitiu que determinados valores jornalísticos fossem reafirmados, e esse foi um dos seus
principais méritos.

4. Profissionalismo e Escândalos Políticos no Contexto Brasileiro
Comparar o desenvolvimento do campo jornalístico e suas relações com o campo político utilizando os modelos europeus e norte-americanos pode levar a um erro de
avaliação. Tanto a teoria da Esfera Pública, formulada por Habermas, quanto o surgimento do jornalismo narrado pelos teóricos do jornalismo não podem ser aplicados diretamente ao contexto brasileiro, mas servir como base de comparação para uma análise
do caso nacional. As teorias do profissionalismo nos EUA e da Esfera Pública na Inglaterra, país que serve de modelo para Habermas, são narradas em contextos de continuidade institucional e elaboradas como tipos ideais2.
O desenvolvimento da imprensa no Brasil conviveu com rupturas institucionais
no campo político que afetaram o desenvolvimento da profissionalização do jornalismo
e o funcionamento da Esfera Pública. Depois da ditadura do Estado Novo que implantou a censura de jornais, o Brasil vive um breve espasmo democrático a partir de 1945
que termina com o golpe militar de 1964. A ditadura militar, que a exemplo do Estado
Novo impõe censura ao campo jornalístico, termina apenas em 1985. Todas essas mudanças fizeram com que o campo jornalístico brasileiro adotasse um regime de objetividade e uma identidade profissional própria que oscila entre o modelo norte-americano,
factual, e o europeu, mais analítico (MATOS, 2008).
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O tipo-ideal é um modelo simplificado do real, baseado em traços considerados essenciais pelo pesqui sador para a determinação da causalidade. Tais construções permitem determinar o local tipológico de um
fenômeno histórico, permitindo avaliar se o modelo construído teoricamente se aproxima da realidade. “A
construção é simplesmente um recurso técnico que facilita uma disposição e uma tipologia mais lúcidas”
(WEBER, 1982, p.372).

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A cultura e o sistema políticos podem determinar diferenças no formato e no
conteúdo das notícias políticas dos países, e até mesmo no uso da linguagem jornalística
como constataram Hallin e Mancini ao comparar as notícias televisivas da Itália e dos
EUA (1993, p.312). Já Sponholz (2004, 162), ao comparar as noções de objetividade no
Brasil e na Alemanha, concluiu que, apesar da influência norte-americana, a objetividade possui características próprias nos dois países, de acordo com suas diferentes tradições culturais e com o contexto histórico em que foi adotada. A partir dessas hipóteses
foram analisados os regimes de objetividade e profissionalismo em três escândalos políticos, localizados em diferentes momentos históricos: o suicídio de Vargas, o impeachment de Collor e o caso do mensalão.
Três escândalos políticos brasileiros marcaram a política brasileira nos últimos
60 anos, em dois deles dois governantes saíram do poder com participação marcante do
jornalismo em momentos históricos diferentes, mas nenhum caso, por motivos diferentes, teve a força do Watergate. O primeiro caso estudado aqui, que teve seu desfecho
com o suicídio de Getúlio Vargas, pode ser relacionado à pressão da imprensa. Depois
de sua vitória nas eleições presidenciais em 1950, em que se elegeu com a oposição da
maioria da imprensa, Vargas ajudou o jornalista Samuel Wainer a fundar o jornal Última Hora, que funcionava como um jornal oficioso, mas que trouxe profundas mudanças
para o jornalismo brasileiro, no que concerne ao aspecto gráfico e a busca em alcançar o
maior público possível através de um produto atraente.
Surge então uma campanha contra Última Hora, liderada por Carlos Lacerda,
que acusava Wainer de praticar Dumping, prática que consiste em oferecer um produto
de qualidade superior por um preço inferior ao praticado no mercado para levar a concorrência à bancarrota. Os concorrentes acusavam Wainer de ser financiado por fontes
oficiais. Lacerda era dono de um pequeno jornal carioca, Tribuna da Imprensa, e líder
de uma ala do partido União Democrática Nacional (UDN) que ganharia importância a
partir da década de 50, expressando de forma agressiva o rancor de um setor da classe
média, que se sentia excluída à medida que os políticos passavam a cortejar as emergentes classes populares que começavam a ter permitida a participação política (GOLDENSTEIN,1987,p.52). A oposição ferrenha era resultado do temor causado pelo discurso populista de Vargas e suas posturas nacionalistas. Pedidos de Impeachment e de
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renúncia eram parte das estratégias da UDN para obter a deposição de Vargas. Os
escândalos nessa época eram alimentados por uma postura moral chamada, por estar ligada à pregação moralista da UDN, de udenismo que defendia a moralização da política
e dos homens públicos, buscando a explicação dos comportamentos políticos nos valores morais dos homens públicos, tendo para Benevides (1981, p.267) um fundo autoritário.
Apesar de os escândalos alimentados contra Vargas fazerem parte de uma conjuntura de crise política, a imprensa tive um papel importante nos desdobramentos que
levaram ao seu suicídio. No dia 05 de agosto de 1954, aconteceu o famoso atentado da
Rua Toneleros em que ocorreu a morte do Major Rubem Vaz e em que Lacerda foi ferido. O presidente passa a ser apontado como mandante do crime, dando origem a um
escândalo de poder. “A opinião concentrada de jornais, rádios e emissoras de TV desempenha um papel avassalador nos fatos políticos que culminam com o suicídio do
presidente Getúlio Vargas” (BAHIA, 1990, p.269). O suicídio de Vargas foi seu último
ato político, e o transformou em um mártir, principalmente pelo tom dramático da sua
carta-testamento. A imprensa era muito politizada e em sua maioria ligada à oposição,
não podendo assumir um papel heroico nessa ocasião. A edição do jornal Última Hora
(FIG 1), ligado ao governo Vargas, no dia seguinte ao suicídio traz na sua capa uma síntese da narrativa que teria entrado para a história oficial: Getúlio Vargas, vítima da oposição, se desfaz da própria vida para impedir um golpe.

FIG 1 - Capa do Jornal Última Hora – 25/08/1954

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Fonte: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uhdigital

Goldenstein (1987) considera que a indústria cultural brasileira ainda não havia
se desenvolvido inteiramente no momento em que jornais como Última Hora surgiram.
Ainda que fossem utilizadas técnicas próprias da Indústria Cultural, esses periódicos
ainda obedeciam a um paradigma de engajamento político que não teria conseguido impor a lógica do profissionalismo e da objetividade. A imposição do regime militar em
1964, que levou à censura aos meios de comunicação, foi mais um obstáculo a esse processo. Num primeiro momento, houve a adoção, por conta da censura, de um padrão
oficialista que privilegiava a informação advinda de fontes do regime. A divulgação de
pontos de vistas que estavam fora dos círculos oficiais ficou por conta da imprensa alternativa.
Contudo, a campanha das Diretas-Já, que ganhou força em 1984 e nasceu de iniciativas da sociedade civil organizada, representou uma mudança nesse quadro, principalmente após a Folha de São Paulo resolver apoiar o movimento. Como avalia Matos
(2008, p.51), o apoio da Folha, seguido depois por outros meios de comunicação teve
uma dupla face. O engajamento da Folha e de seus profissionais na consolidação de ideais democráticos não deve ser desprezado, contudo a direção do jornal entendia que a
abertura política seria benéfica para o desenvolvimento da empresa além de a cobertura
da campanha das Diretas ter servido como um elemento de marketing e consolidação da
importância política da publicação. Após as Diretas-Já e com a derrota da emenda constitucional que permitia as eleições diretas para presidente ter sido derrotada no congresso, a direção do jornal coloca em prática o chamado projeto Folha, mudança editorial
que preparava o jornal para um novo contexto histórico, adotando os padrões norte-americanos, e abandonando o jornalismo engajado, visando atrair um número maior de
leitores.
O caso Fernando Collor veio a tona depois que Pedro Collor, irmão do presidente, concedeu uma entrevista à revista Veja, em maio de 1992, acusando o tesoureiro da
campanha presidencial de seu irmão, o empresário Paulo César Farias, de controlar um
esquema de corrupção dentro do governo. Collor acabou sofrendo um processo de Impeachment e sendo destituído do cargo. O impeachment de Fernando Collor carrega

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grande simbolismo, já que este foi o primeiro presidente eleito de forma direta desde
1960. A participação do campo jornalístico na eleição de Fernando Collor em 1989, até
então um desconhecido que saíra candidato por uma legenda (PRN) inaugurada para
abrigar seu projeto político, foi marcante e decisiva, refletindo o temor de que Luís Inácio Lula da Silva (PT) vencesse o pleito (RUBIM, 1998, p.30).
Motivado pelas afinidades ideológicas entre os donos das publicações e o então
candidato a presidente, o campo jornalístico construiu um cenário favorável á eleição de
Fernando Collor. De acordo com Matos (2008), a exceção foi a Folha de São Paulo,
mas sem grande impacto. Após a famosa entrevista de Pedro Collor, os meios de comunicação começaram uma cruzada pela cassação do então presidente. Os jornalistas, nesse contexto, assumiram o papel de cão de guarda, deixando de lado a objetividade em
alguns momentos, mas conseguindo êxito nas denúncias contra Collor.
O campo jornalístico como um todo teve influencia decisiva no processo de impeachment de Collor (FIG 2), contudo a derrubada do presidente não criou um mito
como Watergate, pois não existiu a solidão jornalística de Woodward e Bernstein que tiveram suas investigações contestadas pelos seus superiores. Pode ser dito que houve
uma ação conjunta dos meios de comunicação, além da participação central de fontes
como Pedro Collor, que denunciou o próprio irmão. Outra questão que colaborou para a
que não fosse criado tal mito é a ideia difundida no senso comum de que “a mídia colocou Collor no poder e depois o tirou de lá”.

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FIG 2 - Capa da revista ¨Veja¨, 30/09/1992
Fonte: www.cpdoc.fgv.br

Após o caso Collor, a cobertura da imprensa foi atingindo a cada eleição, de
acordo com Matos (2008) um nível maior de profissionalismo e objetividade, com algumas exceções, e diminuindo o preconceito ideológico contra os candidatos que não representavam o ponto de vista oficial, além de apresentarem boas análises da conjuntura,
culminando com a elogiada cobertura das eleições presidenciais de 2002, que com a
eleição de Luís Inácio da Silva, levou o PT ao poder. Embora Matos (2008, p.299) considere que o profissionalismo e a objetividade tenham trazido benefícios para o exercício do jornalismo e para a sociedade, outros como Moretzsohn (2001) defendem que a
adoção da objetividade significa a redução de um problema ético-político a um problema técnico, encobrindo o papel de construção da realidade exercido pelo campo jornalístico que teria se rendido à lógica de mercado.
Os padrões de profissionalismo que vinham sendo implantados em grande parte
do campo jornalístico brasileiro, contudo, são abandonados no caso “Mensalão”, que revelou pagamentos feitos a parlamentares da base aliada do governo petista para que votassem a favor de projetos importantes propostos pelo poder executivo. As denúncias
que deram origem ao escândalo foram feitas pelo deputado Roberto Jefferson, que cunhou a expressão que deu nome ao caso, em entrevista concedida ao jornal Folha de

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São Paulo, no dia 6 de junho de 2005, em que o parlamentar explicou em detalhes como
funcionava o esquema, dando início ao escândalo.

FIG 3 – Capa da Revista “Veja”, 13/07/2005
Fonte: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/130705/capa.html

Lima (2006, p.20) critica a cobertura adotada pelo campo jornalístico naquele
momento, por ter adotado o enquadramento da “presunção de culpa”, ou seja, as denúncias contra o PT e o governo Lula eram divulgadas, muitas vezes, antes de qualquer
apuração mais rigorosa (FIG 3). O enquadramento adotado pelos meios de comunicação
tratava, de acordo com Lima, o governo e seus integrantes como culpados antes do desfecho de qualquer investigação. Muitos analistas de mídia e acadêmicos classificaram a
cobertura do escândalo “Mensalão” como tendenciosa, pelo fato de o jornalismo “cão
de guarda” ter sido exercido em conjunto com preconceitos ideológicos, levando ao
abandono da objetividade e do profissionalismo. O enquadramento continuou sendo
adotado nas eleições de 2006, contudo Lula foi reeleito no segundo turno.

5. Conclusão
As rupturas institucionais no Brasil pedem um tipo de análise diferenciado em
relação aos modelos europeu e norte-americano. O campo jornalístico brasileiro encontrou dificuldades para implantar padrões de desempenho condizentes com o seu papel
em democracias devido à censura imposta por regimes autoritários. Dessa forma para
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VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo
(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

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entender a complexidade do caso brasileiro é preciso compreender os contextos históricos em que o jornalismo foi praticado, e para fazê-lo de forma mais apropriada analisamos os escândalos políticos, momentos em que as tensões entre o campo jornalístico e
político aumentam de forma exacerbada, permitindo a compreensão dos valores profissionais em voga naquelas oportunidades.
A adoção gradual do regime de profissionalismo e objetividade no Brasil não
significou uma submissão completa ao modelo norte-americano, mas uma adaptação
deste à conjuntura nacional. O profissional brasileiro ainda não possui uma identidade
tão forte como o norte-americano, a identidade jornalística brasileira ainda se encontra
em construção, realizada através de uma negociação com diferentes modelos, apesar dos
indícios de que o padrão norte-americano ganha cada vez mais espaço nas redações brasileiras. Acreditamos que os escândalos políticos retratem de maneira muito aproximada
os valores profissionais partilhados pelos jornalistas, apesar de escândalos recentes marcarem a vida política brasileira nenhum teve o caráter reafirmador das crenças que sustentam o campo, no caso a Illusio, como o caso Watergate.
Contudo, apesar das semelhanças entre as culturas jornalísticas ao redor do mundo, o sistema e cultura políticos influem bastante no conteúdo das notícias. No Brasil,
eleições presidenciais são um fenômeno recente para o campo jornalístico, se compararmos a experiência democrática brasileira com a vivenciada nos EUA, por exemplo,
onde eleições são um ritual que acontece desde o século XVIII. Podemos dizer, portanto, que o jornalismo brasileiro está lidando com uma nova situação. Prova disso é que a
primeira alternância de poder, em termos de bloco histórico, aconteceu em 2002 com a
eleição de Lula. Espera-se que o campo jornalístico brasileiro possa se adequar à experiência democrática e ao mesmo tempo encontrar uma identidade própria, em um processo de amadurecimento que ajude a fortalecer as intuições políticas no país.

6. Referências
BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica: História da Imprensa Brasileira. Vol 1.
São Paulo: Ática, 1990.
BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A UDN e o Udenismo. Ambigüidades do
Liberalismo Brasileiro (1945 – 1965). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
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VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo
(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

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BERNSTEIN, Carl e WOODWARD, Bob. Todos os Homens do Presidente. Rio de
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__________________.Razones Prácticas. Sobre la Teoria de la Acción. Barcelona:
Editorial Anagrama, 1997a.
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Nightly News, Newsweek and Times. New Work: Vintage Books Edition, 1980.
GOLDENSTEIN, Gisela Taschner. Do Jornalismo Político à Indústria Cultural. São
Paulo: Summus, 1987.
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre Faticidade e Validade. Volume
II: Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
_________________. Mudança Estrutural na Esfera Pública. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 2003.
_________________.O Valor das Notícias. 05 jun 2007 Disponível no site:
http://www.sjpdf.org.br/internas/noticias_details.cfm?id_noticia=938. Acesso em 22 jan
2008.
HALLIN, Daniel C. e MANCINI, Paolo. Falando do Presidente: a Estrutura Política
e a Forma Representacional nas Notícias Televisivas dos Estados Unidos e da Itália. In: TRAQUINA, Nelson (Org). Jornalismo: Questões, Teorias e “Estórias”. 1.
ed. Lisboa: Vega, 1993. p. 306 - 325.
LIMA, Venício A. de Lima. Mídia: Crise Política e Poder no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006.
MATOS, Carolina. Jornalismo e Política Democrática no Brasil. São Paulo: Publifolha, 2008.
MORETZSOHN, Sylvia. Profissionalismo e Objetividade: o Jornalismo na contramão da política. 2001. Disponível no site: www.bocc.ubi.pt/pag/moretzsohn-sylviaprofissionalismo-jornalismo.pdf. Acesso em 20/12/2007

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VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo
(Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010

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1999.
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1995.
__________________. The Sociology of News. New York/ London: W.W Norton &
Company, 2003.
SPONHOLZ, Liriam. As idéias e seus lugares - Objetividade em jornalismo no Brasil e na Alemanha. Comunicação & Política, Rio de Janeiro, v. XI, p. 144-165, 2004.
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: Porque as Notícias São Como São.
Florianópolis: Insular, 2004.
__________________. Teorias do Jornalismo. A Tribo Jornalística – Uma Comunidade Interpretativa Transnacional. Florianópolis: Insular, 2005.
WEBER, Max. Rejeições religiosas do mundo e suas direções. In: GERTH, Hans;
MILLS,Wright (Org). Max Weber. Ensaios de Sociologia. . Rio de Janeiro: Guanabara, 1982.

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Escândalos Políticos e Jornalismo

  • 1. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Escândalos Políticos, Identidade Profissional e Jornalismo: Uma Perspectiva Histórica Carlos Figueiredo 1 Resumo: Este artigo estuda o desenvolvimento do profissionalismo jornalístico no Brasil através do estudo de três escândalos políticos ocorridos em diferentes momentos históricos: o suicídio de Vargas, o impeachment de Collor e o Mensalão. O objetivo é apresentar o desenvolvi mento do campo jornalístico brasileiro de uma perspectiva histórica, respeitando as particularidades nacionais já que as narrativas apresentadas pelas teorias da Esfera Pública e do jornalismo têm como ponto de partida realidades estrangeiras, tornando difícil a aplicação direta desses modelos ao caso brasileiro. Palavras-chave: Escândalos Políticos; Illusio; Profissionalismo; Esfera Pública;.História do Jornalismo. 1. Introdução O escândalo político pode ser encarado como um momento de acirramento das tensões entre os campos político e jornalístico, e de disputas dentro dessas respectivas esferas sociais. Com um potencial devastador nas carreiras de agentes do campo político, o escândalo pode minar o capital político dos envolvidos, uma vez que esse capital pode ser renovado ou não a cada eleição, de acordo com a percepção do eleitorado sobre o comportamento de seus representantes políticos. O poder destrutivo do escândalo político advém desse fato nascer da transgressão de uma norma moral realizada por agentes do campo político (THOMPSON, 2002, p.129), e quando os representados pelo agente tomam conhecimento do fato podem considerá-lo indigno da confiança depositada nas 1 Jornalista, Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGS/UFPE) e Mestre em Comunicação (UFPE). 1
  • 2. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: eleições. A origem da tensão entre os campos tem origem no fato de que o campo jornalístico é o principal responsável pela publicidade desses fatos, tornando-os conhecidos por uma audiência indefinida numericamente. A luta pelo poder político se transformou, nas sociedades contemporâneas, em uma luta pelo poder simbólico de visão da realidade social e pelos poderes públicos administrativos (BOURDIEU, 2006, p.174), e o espaço midiático se tornou a arena onde os representados se relacionam com os agentes do campo político. Vencer a luta simbólica na imposição da construção da realidade social é um meio importante de alcançar o controle do aparelho estatal, vide as enormes cifras investidas pelos partidos e políticos profissionais em comunicação e media training com a contratação de pessoal especializado como assessores, profissionais de marketing e etc. Todavia, é importante lembrar que a arena simbólica onde se dá essa disputa é gerenciada pelos jornalistas e administrada segundo seus valores e práticas (GANS, 1980, p.249). Já o campo jornalístico encara o escândalo político como um momento especial em que a notícia pode ser potencializada enquanto um bem simbólico que persegue a busca do interesse público, e por outro lado maximiza o potencial mercadológico da notícia política. O escândalo político é um fato que preenche vários critérios de noticiabilidade, sendo ao mesmo tempo importante, com alto grau de interesse público, e interessante, preenchendo as necessidades do campo jornalístico. Além disso, as coberturas de escândalos políticos podem ser analisadas como momentos de reafirmação das crenças profissionais, dos valores e da auto-imagem dos jornalistas de cães de guarda (watchdog) da democracia. Contudo, não se pode acreditar que as regras práticas de funcionamento dos campos sociais e os valores que as justificam são atemporais e estão fora de contextos históricos. Por isso, tomando os escândalos políticos como situações-limite, realizamos um estudo comparativo dos valores e práticas profissionais de três momentos históricos brasileiros em que a cobertura de escândalos políticos tiveram um papel central na história do Brasil: o suicídio de Vargas, o impeachment de Fernando Collor e o caso Mensalão, envolvendo o governo Lula. Os três episódios serão comparados com o caso norte-americano Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon. O objetivo 2
  • 3. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: é mostrar a evolução profissional do campo jornalístico brasileiro, e sua influência política, através da avaliação do comportamento dos jornalistas nesses casos. 2. O Surgimento do Profissionalismo As relações entre jornais e política observadas a partir do início da modernidade eram bem diferentes das atuais. Os jornais defendiam causas políticas, era a época do chamado publicismo, ou do jornalismo político-literário, e eram sustentados comercialmente pelos seus donos. Habermas (2003, p.215 – 216), defende que esses jornais tinham um conteúdo crítico, funcionando como mediadores de idéias e não como “um mero transporte de informações” e “instrumento de uma cultura consumista”. Essas mudanças negativas teriam acontecido depois que o jornalismo se transformou também em empresa capitalista a partir do século XIX, graças às novas tecnologias que permitiam uma circulação maior, e à entrada no mercado consumidor de uma massa de recém-alfabetizados. Para fazer jus ao investimento na circulação, os jornais teriam que ser direcionados para um público politicamente heterogêneo, nascia assim a imprensa de massa. A transformação do jornalismo numa empresa lucrativa, a entrada das massas na política e o Estado de bem-estar social que rompeu as fronteiras entre as esferas pública e privada teriam refeudalizado a esfera pública, agora dominada por meios de comunicação de massa, que passam a mostrar e a exaltar o poder de forma superficial, sem qualquer reflexão. A “publicidade” perderia, a partir daí, “a sua função crítica em favor da função demonstrativa”. (HABERMAS, 2003, p.241). Para Thompson (1998, p.72) comparar a visibilidade oferecida pelos meios de comunicação de massa com a visibilidade das cortes feudais é uma visão superficial da complexidade das relações entre o jornalismo e a política. A nova visibilidade midiatizada pode sair do controle dos agentes do campo político, e o escândalo político seria um momento em que isso pode acontecer. Já de acordo com Schudson (2003, p.69), Habermas não compreendeu que a transformação do jornalismo em empresa capitalista no século XIX foi acompanhada da profissionalização do campo, trazendo benefícios para a democracia e diminuindo a influência dos proprietários e dos partidos políticos sobre o jornalismo. 3
  • 4. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Os jornais deixariam de depender de subsídios políticos e passam a contar com as receitas da publicidade e as vendas dos jornais, permitindo sua despolitização, fundamental na instalação de uma nova forma de jornalismo que privilegia os fatos e não a opinião (TRAQUINA, 2004, p.36). Esse movimento de profissionalização teria criado um novo ethos jornalístico que faz nascer a prática da caça de escândalos (muckraking) e uma visão do jornalista como adversário do poder constituído e cão de guarda da democracia, tornando a revelação de transgressões morais por agentes do campo político parte da auto-imagem profissional dos jornalistas (THOMPSON, 2002, p.112-113). O escândalo político seria, portanto, um momento de reafirmação desse papel jornalístico. Trinta anos depois, Habermas revisa seus postulados teóricos, resgatando o papel democrático da Esfera Pública dentro de um novo contexto social. O autor passa a entender a esfera pública como uma rede de comunicação de conteúdos, funcionando como um filtro, que ao mesmo tempo sintetiza os conteúdos e opiniões públicas produzidas na sociedade (HABERMAS, 1997, p.92). Habermas amplia o seu conceito ao estender o poder de integração e formação do debate exercido pelos meios massivos de comunicação para além de contextos sociais partilhados como os cafés do século XIX. Habermas (2007) passa a defender a manutenção de jornais capazes de oferecer bom jornalismo atendendo à demanda por formação e informação, oferecendo um lucro aceitável; e reconhece, no texto, a importância da produção de notícias no Estado democrático de direito, defendendo o papel da imprensa de fornecer informação credível, que serve de base para a discussão pública. Dentro desse novo contexto, a notícia possui dupla face. Ao mesmo tempo em que é um bem público, é também um bem econômico. O escândalo político-midiático seria o tipo de notícia que preencheria as exigências dos dois pólos do campo do jornalismo. O pólo positivo ou ideológico estaria tendo seus requisitos preenchidos pelo fato de que o escândalo político permite que os agentes do campo jornalístico reafirmem sua imagem mítica de cão de guarda. Enquanto o pólo negativo, o econômico, estaria sendo satisfeito por uma notícia com suficiente potencial para atrair a curiosidade pública (BOURDIEU, 1997, p.105 – 106). Thompson (2002, p.142) se concentra em cinco mudanças sociais importantes que causaram o crescimento dos escândalos políticos: (1) a crescente visibilidade dos lí4
  • 5. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: deres políticos, (2) a mudança nas tecnologias de comunicação e de vigilância, (3) a mudança na cultura jornalística, (4) a mudança na cultura política e (5) a crescente regulamentação da vida política. Todas as mudanças propostas têm de ser levadas em conta num estudo sobre o fenômeno do escândalo político, entretanto aqui o foco será colocado na cultura dos jornalistas. 3. O Escândalo sob a Ótica Jornalística Os mitos ligados ao papel do jornalismo no surgimento da democracia e na sua manutenção que garantem à profissão suas garantias constitucionais, e dão aos jornalistas um sentido de missão à sua ocupação. Essas crenças e valores carregados pelos jornalistas são essenciais para o campo, assim como para o seu senso prático. As crenças sustentam as práticas e lhes dão sentido. É no conceito de illusio que essa relação com a crença mantida dentro dos campos sociais pode ser explicada. A illusio é uma fantasia subjetiva assentada numa crença partilhada, a qual os agentes de um campo aderem em busca de distinção, de honra, de um sentido para seus atos, de uma razão para existir, em outras palavras a illusio dá sustentação aos atos dos agentes de determinado campo (BOURDIEU, 1996, p.106). A crença na importância do que está sendo feito é essencial para um agente de qualquer campo, tanto que Bourdieu (1997a, p. 143) considera a illusio como a condição e o fruto do funcionamento do campo. A comparação (BOURDIEU, 1997a, p.14) entre illusio, campo e jogo pode ajudar a esclarecer o sentido desse conceito para o funcionamento do campo. Quando alguém se engaja em um jogo, ele deve aceitar as regras do jogo, considerar seus objetivos importantes, enfim, encará-lo com seriedade; ter um interesse além do puramente econômico, um interesse pelo jogo social que é disputado dentro do campo. O jornalismo não se limita a retratar a realidade, ele também contém valores ou modelos que se tornarão preferenciais nas narrativas jornalísticas. As notícias não dizem apenas como a sociedade é, elas trazem pistas implícitas de como a sociedade deveria ser, através do modo que as situações e agentes são relatados (GANS, 1980, p.39). O fato é incompleto e os jornalistas preenchem parte de seus espaços vazios com os valores da sua cultura profissional. Os valores jornalísticos, de acordo com a tipologia pro- 5
  • 6. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: posta por Gans (1980, p.41), podem ser divididos em valores duráveis (Enduring Values) e valores tópicos (Topical Values). Este último tipo de valores é expresso em opiniões sobre temas ou tópicos em voga num curto espaço de tempo, já os valores duráveis podem ser encontrados em diferentes tipos de coberturas jornalísticas por um longo período de tempo, contundo não são eternos. Os valores duráveis para Gans (1980, p.42) podem ser agrupados em oito grupos: etnocentrismo, democracia altruística, capitalismo responsável, pastoralismo de cidade pequena, individualismo, moderação, ordem social e liderança nacional. Esses valores são tirados de uma pesquisa empírica feita nos EUA, mas como lembra Traquina (2005), ao estudar a cobertura da AIDS em quatro diferentes países (Brasil, Portugal, EUA e Espanha), os jornalistas mesmo localizados em diferentes culturas nacionais partilham uma cultura profissional semelhante. Sanders e Canel (2006, p.455) pesquisando comparativamente escândalos políticos concluíram que apesar das diferenças nas coberturas, havia três similaridades na forma que os jornalistas cobriam escândalos políticos em ambos os países: usam intensos recursos humanos e materiais, revelam fatos pouco palatáveis sobre o campo político e foram enquadrados a partir de valores morais. As diferenças ficaram por conta das disputas realizadas dentro do campo político e do grau de institucionalização do regime democrático nos dois países, defendemos que os valores profissionais também passam por um processo de negociação com as diferentes culturas nacionais, resultando em identidades jornalísticas próprias em cada país. Quatro dos valores citados por Gans podem ser reafirmados durante a cobertura de escândalos políticos: democracia altruística, capitalismo responsável, ordem social e os relativos à qualidade da liderança. A democracia altruística é uma visão da democracia que entende que esse tipo de organização da sociedade deve trilhar sempre o caminho do interesse público. Os escândalos políticos geralmente envolvem, em alguma medida, o uso da posição conferida pelo cargo político em benefício próprio. Já o capitalismo responsável seria o sistema econômico ideal na visão jornalística do mundo. Esse valor seria mobilizado apenas nos casos de escândalos político-financeiros. O valor da ordem social pode ser considerado central na explicação da importância do escândalo político. As notícias sobre desvios morais trazem implícitas pistas do que os jornalistas consideram atitudes morais 6
  • 7. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: desejáveis, e ao relatar os escândalos políticos o campo jornalístico está defendendo que essas transgressões da moral vigente não estão de acordo com o que se espera da ordem moral de um sistema democrático. Por fim, para que a ordem moral e social seja mantida, os jornalistas consideram que as lideranças devem agir de acordo com esses valores e ter determinadas competências para manter a situação sob controle. Lideranças que transgridem a moral vigente passam a ser enxergadas com desconfiança pelo campo jornalístico. O mito em torno das coberturas de escândalos políticos deve muito ao caso Watergate e à imagem criada em torno dos jornalistas responsáveis por essa cobertura: Bob Woodward e Carl Bernstein, que trabalhavam no diário americano Washington Post. Para Schudson (1995, p.142, tradução nossa), “nenhuma outra narrativa na História Americana colocou a imprensa num papel tão proeminente e heróico”. Principalmente em função do best-seller Todos os Homens do Presidente (BERNSTEIN e WOODWARD, 1978), que conta a saga da cobertura do caso, e sua transformação em um premiado filme em que Woodward e Bernstein são encarnados por duas estrelas de Hollywood, Robert Redford e Dustin Hoffman. O caso terminou com a renúncia do presidente Richard Nixon. De acordo com Schudson (1995, p.143) pouco se discute o que Nixon fez para quase sofrer impeachment, mas o mito em torno dos dois repórteres é lembrado mais de três décadas depois do caso. O caso americano teve seu embrião no arrombamento do comitê do partido democrata em 1972; localizado no prédio Watergate. Cinco homens munidos de maquinas fotográficas e equipamentos eletrônicos capazes de interceptar conversas telefônicas foram presos durante o arrombamento. Todos os homens detidos possuíam ligações com a CIA e o partido republicano. Com o desenrolar das investigações, foi descoberto um esquema de espionagem política envolvendo o presidente Nixon, eleito pelo partido republicano em 1970. A investigação levada a cabo pelo FBI, a Polícia Federal Americana; pela justiça e pelos jornalistas do Washington Post acabou juntando provas da participação de assessores próximos a Nixon, e que comprovavam sua responsabilidade no caso. (BERNSTEIN e WOODWARD, 1978). Para Schudson (1995, p.143) o caso Watergate criou alguns mitos em relação ao jornalismo americano, sendo os mais importantes aqueles que dariam conta de que o 7
  • 8. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: caso teria gerado mudanças institucionais no jornalismo. Entre elas estaria uma ênfase maior no jornalismo investigativo e o aumento da agressividade dos jornalistas americanos em relação aos governantes. A maior mudança causada pelo caso Watergate para Schudson (1995, p.164), não foram, entretanto, possíveis mudanças de comportamento no jornalismo, mas a volta da mitologia da caça de escândalos que surgiu nos primórdios da profissionalização do jornalismo no início do século XX. O caso Watergate permitiu que determinados valores jornalísticos fossem reafirmados, e esse foi um dos seus principais méritos. 4. Profissionalismo e Escândalos Políticos no Contexto Brasileiro Comparar o desenvolvimento do campo jornalístico e suas relações com o campo político utilizando os modelos europeus e norte-americanos pode levar a um erro de avaliação. Tanto a teoria da Esfera Pública, formulada por Habermas, quanto o surgimento do jornalismo narrado pelos teóricos do jornalismo não podem ser aplicados diretamente ao contexto brasileiro, mas servir como base de comparação para uma análise do caso nacional. As teorias do profissionalismo nos EUA e da Esfera Pública na Inglaterra, país que serve de modelo para Habermas, são narradas em contextos de continuidade institucional e elaboradas como tipos ideais2. O desenvolvimento da imprensa no Brasil conviveu com rupturas institucionais no campo político que afetaram o desenvolvimento da profissionalização do jornalismo e o funcionamento da Esfera Pública. Depois da ditadura do Estado Novo que implantou a censura de jornais, o Brasil vive um breve espasmo democrático a partir de 1945 que termina com o golpe militar de 1964. A ditadura militar, que a exemplo do Estado Novo impõe censura ao campo jornalístico, termina apenas em 1985. Todas essas mudanças fizeram com que o campo jornalístico brasileiro adotasse um regime de objetividade e uma identidade profissional própria que oscila entre o modelo norte-americano, factual, e o europeu, mais analítico (MATOS, 2008). 2 O tipo-ideal é um modelo simplificado do real, baseado em traços considerados essenciais pelo pesqui sador para a determinação da causalidade. Tais construções permitem determinar o local tipológico de um fenômeno histórico, permitindo avaliar se o modelo construído teoricamente se aproxima da realidade. “A construção é simplesmente um recurso técnico que facilita uma disposição e uma tipologia mais lúcidas” (WEBER, 1982, p.372). 8
  • 9. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: A cultura e o sistema políticos podem determinar diferenças no formato e no conteúdo das notícias políticas dos países, e até mesmo no uso da linguagem jornalística como constataram Hallin e Mancini ao comparar as notícias televisivas da Itália e dos EUA (1993, p.312). Já Sponholz (2004, 162), ao comparar as noções de objetividade no Brasil e na Alemanha, concluiu que, apesar da influência norte-americana, a objetividade possui características próprias nos dois países, de acordo com suas diferentes tradições culturais e com o contexto histórico em que foi adotada. A partir dessas hipóteses foram analisados os regimes de objetividade e profissionalismo em três escândalos políticos, localizados em diferentes momentos históricos: o suicídio de Vargas, o impeachment de Collor e o caso do mensalão. Três escândalos políticos brasileiros marcaram a política brasileira nos últimos 60 anos, em dois deles dois governantes saíram do poder com participação marcante do jornalismo em momentos históricos diferentes, mas nenhum caso, por motivos diferentes, teve a força do Watergate. O primeiro caso estudado aqui, que teve seu desfecho com o suicídio de Getúlio Vargas, pode ser relacionado à pressão da imprensa. Depois de sua vitória nas eleições presidenciais em 1950, em que se elegeu com a oposição da maioria da imprensa, Vargas ajudou o jornalista Samuel Wainer a fundar o jornal Última Hora, que funcionava como um jornal oficioso, mas que trouxe profundas mudanças para o jornalismo brasileiro, no que concerne ao aspecto gráfico e a busca em alcançar o maior público possível através de um produto atraente. Surge então uma campanha contra Última Hora, liderada por Carlos Lacerda, que acusava Wainer de praticar Dumping, prática que consiste em oferecer um produto de qualidade superior por um preço inferior ao praticado no mercado para levar a concorrência à bancarrota. Os concorrentes acusavam Wainer de ser financiado por fontes oficiais. Lacerda era dono de um pequeno jornal carioca, Tribuna da Imprensa, e líder de uma ala do partido União Democrática Nacional (UDN) que ganharia importância a partir da década de 50, expressando de forma agressiva o rancor de um setor da classe média, que se sentia excluída à medida que os políticos passavam a cortejar as emergentes classes populares que começavam a ter permitida a participação política (GOLDENSTEIN,1987,p.52). A oposição ferrenha era resultado do temor causado pelo discurso populista de Vargas e suas posturas nacionalistas. Pedidos de Impeachment e de 9
  • 10. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: renúncia eram parte das estratégias da UDN para obter a deposição de Vargas. Os escândalos nessa época eram alimentados por uma postura moral chamada, por estar ligada à pregação moralista da UDN, de udenismo que defendia a moralização da política e dos homens públicos, buscando a explicação dos comportamentos políticos nos valores morais dos homens públicos, tendo para Benevides (1981, p.267) um fundo autoritário. Apesar de os escândalos alimentados contra Vargas fazerem parte de uma conjuntura de crise política, a imprensa tive um papel importante nos desdobramentos que levaram ao seu suicídio. No dia 05 de agosto de 1954, aconteceu o famoso atentado da Rua Toneleros em que ocorreu a morte do Major Rubem Vaz e em que Lacerda foi ferido. O presidente passa a ser apontado como mandante do crime, dando origem a um escândalo de poder. “A opinião concentrada de jornais, rádios e emissoras de TV desempenha um papel avassalador nos fatos políticos que culminam com o suicídio do presidente Getúlio Vargas” (BAHIA, 1990, p.269). O suicídio de Vargas foi seu último ato político, e o transformou em um mártir, principalmente pelo tom dramático da sua carta-testamento. A imprensa era muito politizada e em sua maioria ligada à oposição, não podendo assumir um papel heroico nessa ocasião. A edição do jornal Última Hora (FIG 1), ligado ao governo Vargas, no dia seguinte ao suicídio traz na sua capa uma síntese da narrativa que teria entrado para a história oficial: Getúlio Vargas, vítima da oposição, se desfaz da própria vida para impedir um golpe. FIG 1 - Capa do Jornal Última Hora – 25/08/1954 10
  • 11. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Fonte: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/uhdigital Goldenstein (1987) considera que a indústria cultural brasileira ainda não havia se desenvolvido inteiramente no momento em que jornais como Última Hora surgiram. Ainda que fossem utilizadas técnicas próprias da Indústria Cultural, esses periódicos ainda obedeciam a um paradigma de engajamento político que não teria conseguido impor a lógica do profissionalismo e da objetividade. A imposição do regime militar em 1964, que levou à censura aos meios de comunicação, foi mais um obstáculo a esse processo. Num primeiro momento, houve a adoção, por conta da censura, de um padrão oficialista que privilegiava a informação advinda de fontes do regime. A divulgação de pontos de vistas que estavam fora dos círculos oficiais ficou por conta da imprensa alternativa. Contudo, a campanha das Diretas-Já, que ganhou força em 1984 e nasceu de iniciativas da sociedade civil organizada, representou uma mudança nesse quadro, principalmente após a Folha de São Paulo resolver apoiar o movimento. Como avalia Matos (2008, p.51), o apoio da Folha, seguido depois por outros meios de comunicação teve uma dupla face. O engajamento da Folha e de seus profissionais na consolidação de ideais democráticos não deve ser desprezado, contudo a direção do jornal entendia que a abertura política seria benéfica para o desenvolvimento da empresa além de a cobertura da campanha das Diretas ter servido como um elemento de marketing e consolidação da importância política da publicação. Após as Diretas-Já e com a derrota da emenda constitucional que permitia as eleições diretas para presidente ter sido derrotada no congresso, a direção do jornal coloca em prática o chamado projeto Folha, mudança editorial que preparava o jornal para um novo contexto histórico, adotando os padrões norte-americanos, e abandonando o jornalismo engajado, visando atrair um número maior de leitores. O caso Fernando Collor veio a tona depois que Pedro Collor, irmão do presidente, concedeu uma entrevista à revista Veja, em maio de 1992, acusando o tesoureiro da campanha presidencial de seu irmão, o empresário Paulo César Farias, de controlar um esquema de corrupção dentro do governo. Collor acabou sofrendo um processo de Impeachment e sendo destituído do cargo. O impeachment de Fernando Collor carrega 11
  • 12. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: grande simbolismo, já que este foi o primeiro presidente eleito de forma direta desde 1960. A participação do campo jornalístico na eleição de Fernando Collor em 1989, até então um desconhecido que saíra candidato por uma legenda (PRN) inaugurada para abrigar seu projeto político, foi marcante e decisiva, refletindo o temor de que Luís Inácio Lula da Silva (PT) vencesse o pleito (RUBIM, 1998, p.30). Motivado pelas afinidades ideológicas entre os donos das publicações e o então candidato a presidente, o campo jornalístico construiu um cenário favorável á eleição de Fernando Collor. De acordo com Matos (2008), a exceção foi a Folha de São Paulo, mas sem grande impacto. Após a famosa entrevista de Pedro Collor, os meios de comunicação começaram uma cruzada pela cassação do então presidente. Os jornalistas, nesse contexto, assumiram o papel de cão de guarda, deixando de lado a objetividade em alguns momentos, mas conseguindo êxito nas denúncias contra Collor. O campo jornalístico como um todo teve influencia decisiva no processo de impeachment de Collor (FIG 2), contudo a derrubada do presidente não criou um mito como Watergate, pois não existiu a solidão jornalística de Woodward e Bernstein que tiveram suas investigações contestadas pelos seus superiores. Pode ser dito que houve uma ação conjunta dos meios de comunicação, além da participação central de fontes como Pedro Collor, que denunciou o próprio irmão. Outra questão que colaborou para a que não fosse criado tal mito é a ideia difundida no senso comum de que “a mídia colocou Collor no poder e depois o tirou de lá”. 12
  • 13. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: FIG 2 - Capa da revista ¨Veja¨, 30/09/1992 Fonte: www.cpdoc.fgv.br Após o caso Collor, a cobertura da imprensa foi atingindo a cada eleição, de acordo com Matos (2008) um nível maior de profissionalismo e objetividade, com algumas exceções, e diminuindo o preconceito ideológico contra os candidatos que não representavam o ponto de vista oficial, além de apresentarem boas análises da conjuntura, culminando com a elogiada cobertura das eleições presidenciais de 2002, que com a eleição de Luís Inácio da Silva, levou o PT ao poder. Embora Matos (2008, p.299) considere que o profissionalismo e a objetividade tenham trazido benefícios para o exercício do jornalismo e para a sociedade, outros como Moretzsohn (2001) defendem que a adoção da objetividade significa a redução de um problema ético-político a um problema técnico, encobrindo o papel de construção da realidade exercido pelo campo jornalístico que teria se rendido à lógica de mercado. Os padrões de profissionalismo que vinham sendo implantados em grande parte do campo jornalístico brasileiro, contudo, são abandonados no caso “Mensalão”, que revelou pagamentos feitos a parlamentares da base aliada do governo petista para que votassem a favor de projetos importantes propostos pelo poder executivo. As denúncias que deram origem ao escândalo foram feitas pelo deputado Roberto Jefferson, que cunhou a expressão que deu nome ao caso, em entrevista concedida ao jornal Folha de 13
  • 14. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: São Paulo, no dia 6 de junho de 2005, em que o parlamentar explicou em detalhes como funcionava o esquema, dando início ao escândalo. FIG 3 – Capa da Revista “Veja”, 13/07/2005 Fonte: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/130705/capa.html Lima (2006, p.20) critica a cobertura adotada pelo campo jornalístico naquele momento, por ter adotado o enquadramento da “presunção de culpa”, ou seja, as denúncias contra o PT e o governo Lula eram divulgadas, muitas vezes, antes de qualquer apuração mais rigorosa (FIG 3). O enquadramento adotado pelos meios de comunicação tratava, de acordo com Lima, o governo e seus integrantes como culpados antes do desfecho de qualquer investigação. Muitos analistas de mídia e acadêmicos classificaram a cobertura do escândalo “Mensalão” como tendenciosa, pelo fato de o jornalismo “cão de guarda” ter sido exercido em conjunto com preconceitos ideológicos, levando ao abandono da objetividade e do profissionalismo. O enquadramento continuou sendo adotado nas eleições de 2006, contudo Lula foi reeleito no segundo turno. 5. Conclusão As rupturas institucionais no Brasil pedem um tipo de análise diferenciado em relação aos modelos europeu e norte-americano. O campo jornalístico brasileiro encontrou dificuldades para implantar padrões de desempenho condizentes com o seu papel em democracias devido à censura imposta por regimes autoritários. Dessa forma para 14
  • 15. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: entender a complexidade do caso brasileiro é preciso compreender os contextos históricos em que o jornalismo foi praticado, e para fazê-lo de forma mais apropriada analisamos os escândalos políticos, momentos em que as tensões entre o campo jornalístico e político aumentam de forma exacerbada, permitindo a compreensão dos valores profissionais em voga naquelas oportunidades. A adoção gradual do regime de profissionalismo e objetividade no Brasil não significou uma submissão completa ao modelo norte-americano, mas uma adaptação deste à conjuntura nacional. O profissional brasileiro ainda não possui uma identidade tão forte como o norte-americano, a identidade jornalística brasileira ainda se encontra em construção, realizada através de uma negociação com diferentes modelos, apesar dos indícios de que o padrão norte-americano ganha cada vez mais espaço nas redações brasileiras. Acreditamos que os escândalos políticos retratem de maneira muito aproximada os valores profissionais partilhados pelos jornalistas, apesar de escândalos recentes marcarem a vida política brasileira nenhum teve o caráter reafirmador das crenças que sustentam o campo, no caso a Illusio, como o caso Watergate. Contudo, apesar das semelhanças entre as culturas jornalísticas ao redor do mundo, o sistema e cultura políticos influem bastante no conteúdo das notícias. No Brasil, eleições presidenciais são um fenômeno recente para o campo jornalístico, se compararmos a experiência democrática brasileira com a vivenciada nos EUA, por exemplo, onde eleições são um ritual que acontece desde o século XVIII. Podemos dizer, portanto, que o jornalismo brasileiro está lidando com uma nova situação. Prova disso é que a primeira alternância de poder, em termos de bloco histórico, aconteceu em 2002 com a eleição de Lula. Espera-se que o campo jornalístico brasileiro possa se adequar à experiência democrática e ao mesmo tempo encontrar uma identidade própria, em um processo de amadurecimento que ajude a fortalecer as intuições políticas no país. 6. Referências BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica: História da Imprensa Brasileira. Vol 1. São Paulo: Ática, 1990. BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A UDN e o Udenismo. Ambigüidades do Liberalismo Brasileiro (1945 – 1965). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. 15
  • 16. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: BERNSTEIN, Carl e WOODWARD, Bob. Todos os Homens do Presidente. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978. BOURDIEU, Pierre.A economia das trocas lingüísticas. São Paulo: Edusp, 1996. _________________. Sobre a Televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1997. __________________.Razones Prácticas. Sobre la Teoria de la Acción. Barcelona: Editorial Anagrama, 1997a. __________________. A Representação Política: Elementos para uma Teoria do Campo Político. In: BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. pg. 163 – 207 GANS, Hebert J. Deciding What’s News: A Study of CBS Evening News, NBC Nightly News, Newsweek and Times. New Work: Vintage Books Edition, 1980. GOLDENSTEIN, Gisela Taschner. Do Jornalismo Político à Indústria Cultural. São Paulo: Summus, 1987. HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia: entre Faticidade e Validade. Volume II: Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. _________________. Mudança Estrutural na Esfera Pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. _________________.O Valor das Notícias. 05 jun 2007 Disponível no site: http://www.sjpdf.org.br/internas/noticias_details.cfm?id_noticia=938. Acesso em 22 jan 2008. HALLIN, Daniel C. e MANCINI, Paolo. Falando do Presidente: a Estrutura Política e a Forma Representacional nas Notícias Televisivas dos Estados Unidos e da Itália. In: TRAQUINA, Nelson (Org). Jornalismo: Questões, Teorias e “Estórias”. 1. ed. Lisboa: Vega, 1993. p. 306 - 325. LIMA, Venício A. de Lima. Mídia: Crise Política e Poder no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006. MATOS, Carolina. Jornalismo e Política Democrática no Brasil. São Paulo: Publifolha, 2008. MORETZSOHN, Sylvia. Profissionalismo e Objetividade: o Jornalismo na contramão da política. 2001. Disponível no site: www.bocc.ubi.pt/pag/moretzsohn-sylviaprofissionalismo-jornalismo.pdf. Acesso em 20/12/2007 16
  • 17. SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do Maranhão, São Luís), novembro de 2010 :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: RUBIM, Antônio Albino Canelas. Mídia e Política no Brasil. João Pessoa: UFPB, 1999. SANDERS, Karen e CANEL, María José. A scribbling tribe. Reporting political scandal in Britain and Spain. Journalism. London. v.7. n.4. 2006. p.453-476. SCHUDSON, Michael. The Power of News. Cambridge: Harvard University Press, 1995. __________________. The Sociology of News. New York/ London: W.W Norton & Company, 2003. SPONHOLZ, Liriam. As idéias e seus lugares - Objetividade em jornalismo no Brasil e na Alemanha. Comunicação & Política, Rio de Janeiro, v. XI, p. 144-165, 2004. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo: Porque as Notícias São Como São. Florianópolis: Insular, 2004. __________________. Teorias do Jornalismo. A Tribo Jornalística – Uma Comunidade Interpretativa Transnacional. Florianópolis: Insular, 2005. WEBER, Max. Rejeições religiosas do mundo e suas direções. In: GERTH, Hans; MILLS,Wright (Org). Max Weber. Ensaios de Sociologia. . Rio de Janeiro: Guanabara, 1982. 17