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Universidade do Minho
Instituto da Educação
Mestrado em Ensino de Música
Unidade Curricular de Sociologia e Profissão Docente I
“O Papel do professor no séc. XXI- Reflexão Histórica”
Imagem in http://estantedoaprendiz.wordpress.com/2009/11/14/um-professor-bibliotecario-para-o-sec-xxi-uma-quase-sintese-
grafica/ [Disponível em 24/11/2012]
Carla Daniela da Costa Ferreira Marques
PG23435
Professor da UC: Manuel António Silva
janeiro 2013
2
Estamos em 1989, ano de acontecimentos marcantes e simbólicos tais como a
queda do muro de Berlim, ocorrido a 9 de novembro. Acontecimentos como o referido
proporcionaram ao mundo mudanças em todas as áreas do saber. Essas mudanças são
mais evidentes e foram preconizadas, particularmente, na área das relações humanas ou
seja, sociológicas1
. Consequentemente expandiram-se também à área da docência,
sendo que o questionamento sobre a profissão docente foi nesse ano uma questão em
voga. É no referido ano que António Nóvoa nos apresenta a base para esta reflexão
referente ao papel do professor em Portugal a partir da reforma pombalina.
Se para Platão e Aristóteles, o ideal para se viver em sociedade felizes era
exercendo o direito à cidadania e, se para isso era necessário reunir um certo conjunto
de saberes associados à educação, educação essa para todos, verificamos que só é
possível a concretização desse ideal através de agentes2
, no caso concreto do nosso
estudo, os professores. São os referidos agentes que, ao longo da história,
desempenharam o papel de educar a sociedade. Mas que papel é esse à semelhança da
interrogação de Daniel Hameline (Nóvoa, 1989, p. 60) que diz “Professores para quê?”,
respondendo: “Para assegurar a sua própria reprodução e a da sociedade” 3
.
António Nóvoa, num texto centrado em torno da questão das mudanças operadas
do séc. XIX para o séc. XX, apresenta-nos como mote da sua reflexão o questionamento
sobre o papel do professor na sociedade, na referida transição, na época atual (1989)
bem como, quais os caminhos para o futuro desta profissão. Nós, professores, somos
então definidos por Nóvoa, como “agentes-atores” que necessitam de encontrar um
1
Lenina Pomerans (2010) diz-nos que “de todo o modo, a queda do muro representou de fato, e não só
simbolicamente, o marco inicial da derrocada do sistema do socialismo real, podendo ser incluída na
avalanche que se abateu no Leste Europeu no final da década de 80, e à qual se sucedeu o
desmoronamento da URSS, em dezembro de 1991”.
2
“Em Atenas havia um só lugar onde era possível falar aos cidadãos em grupo sobre qualquer questão
que não fosse de qualquer relevância política imediata: o teatro” (Janko, R. citado por Pereira, 2003, p.
394). O melhor tipo de teatro para o efeito era a tragédia cujo propósito era educar os cidadãos em
questões de ordem moral e comportamental, ou seja, integrá-los na sociedade.
3
É esta aliás a função da sociologia. Segundo Pierre Bourdieu (1971, p. 327) “(…) a sociologia da
Educação define o seu objeto. Este objeto está contido no esforço de determinar a contribuição dada
pelo sistema de ensino para a reprodução das relações de força e das relações simbólicas entre as
classes, ao contribuir para a reprodução de estruturas de repartição do capital cultural por entre essas
classes.” Sobre esta função Nóvoa a propósito do processo de escolarização que tem atravessado as
sociedades ocidentais desde o séc. XVI, diz-nos também que “Os professores vão ser os intérpretes
principais deste processo que transformará de forma decisiva as práticas culturais e sociais, inscrevendo
uma cultura escrita em comunidades de base oral e substituindo progressivamente a «aristocracia do
sangue» pela «aristocracia do mérito” (Nóvoa a,1989, p. 436).
3
caminho coletivo. Em 1989, vivia-se um “tempo de crise e tempo difícil” bem como,
“uma desintegração dos valores dominantes da sociedade” (Nóvoa, 1989, p. 61).
Consequentemente a função dos professores parece ser de menor influência na
sociedade pelo que tem que passar por outros caminhos e adquirir novas competências:
“Os professores deixaram de estar no centro da sociedade. E ainda não se habituaram a
viver nas suas margens. Sobretudo, ainda não compreenderam todas as potencialidades de
uma intervenção pedagógica centrada cada vez menos na informação e na transmissão do
saber (funções que outras instâncias da sociedade parecem desempenhar mais
eficazmente), voltada decididamente para a formação reflexiva e para apropriação crítica
dos saberes” (Nóvoa, 1989, p. 61).
Nesta passagem para a última década do século XX também outros autores
abordam esta temática. Philippe Perrenoud, em 10 Novas Competências para Ensinar,
reflete sobre quais as competências necessárias para se desempenhar o “ofício4
” de ser
professor. Para Perrenoud são ingredientes do “roteiro do ofício”, elementos já referidos
como “a prática reflexiva, profissionalização, trabalho em equipa e por projetos,
autonomia e responsabilidades crescentes, pedagogias diferenciadas, centralização sobre
os dispositivos e situações de aprendizagem, sensibilidade à relação com o saber e a
lei5
” (Perrenoud, 2000, p. 11).
Através da constatação de Nóvoa sobre a história dos professores ser um
constante recomeço do qual é necessária a compreensão do passado, questiono-me sobre
a atualidade. Estaremos tão longe desta época, teremos melhores condições, temos uma
profissão ou de facto um ofício como o de um sapateiro? Seremos reconhecidos pela
nossa função tão nobre, ou penamos reconhecimento pessoal, social e monetário como
outrora o fez Fructuozo José da Silva6
(1751-1823)?
Luís Filipe Leite (1892, p. 6), pedagogo português, no final do séc. XIX diz-nos
o seguinte:
“Não exageremos. O professorado português de hoje distancia-se pela maior parte dos
mestres de primeiras letras de há quase quarenta ou cinquenta anos, como a viação
acelerada pelas estradas de ferro se diferencia das liteiras em que se viajava no século
passado” (Nóvoa, 1989, p. 117).
4
Definição dada por Perrenoud, através de Meiriou (1989).
5
Referencial de competências da docência elaborado em 1996 em Genebra; Perrenoud integrou o
grupo que construiu o referencial.
6
A 2ª parte do texto de Nóvoa evoca as Reformas Pombalinas através do retrato biográfico deste
“mestre régio de ler, escrever e contar” (Nóvoa, 1989, pp. 65-78); “A concorrência era renhida e as
oposições podiam, por vezes, atingir aspetos de violência física” (Nóvoa, 1989, p. 72); antigo secretário
de D. Gaspar declara em 1803 que Fructuozo José da Silva “vive amesquinhado, até por moléstias, em
tanta forma que por algumas vezes compadecendo-me da sua situação, o tenho favorecido com
esmolas” (Nóvoa, 1989, p.74).
4
Estamos atualmente na era das autoestradas, do comboio de alta velocidade e da
internet como principal meio de comunicação e emissor de informação/conhecimento7
e
questiono-me se está o corpo docente de Portugal muito diferente de 1989 ou até de
outas épocas e, como foi o seu futuro até à atualidade? Qual o futuro da nossa
atualidade?
Se na viragem do século XIX para o século XX o número de professores
aumentou, os professores passaram a ser funcionários do estado8
e “personificam as
esperanças de mobilidade social de vários extratos da sociedade”, hoje, ano da graça de
2012, muitos professores estão sem horário letivo e sem esperança. Procuram outros
meios para além da função pública sendo muitas vezes, mais reconhecidos pelo seu
trabalho contínuo no setor privado.
Procuremos então melhorias. Os métodos de ensino aprendizagem, bem como os
processos de avaliação dos professores procuram ser mais adaptáveis à sociedade e ao
meio envolvente onde lecionam. A própria avaliação dos professores se encontra na
linha de pensamento de Perenoud – do professor reflexivo sobre as suas práticas, que
em 1989 começava a emergir. Neste ano também a nossa consciência desperta para o
facto de uma formação contínua, para o que era necessário espaços de formação. Foram
entretanto, criadas as ações de formação mas essa, é uma questão que requer outro tipo
de reflexão, sobre se de facto alargou os horizontes dos saberes dos professores e
pessoal auxiliar.
Se já vigorou a conceção de um professor decisor, um professor-reflexivo
devemos considerar atualmente, então, o conceito de professor aprendiz. Se Sócrates
dizia “Só sei que nada sei!”, é importante que alunos e professores tenham consciência
desde facto e que procurem sempre novos conhecimentos quer numa área específica,
quer em áreas particulares do saber. Deve, portanto, o professor manter-se sempre em
constante formação e procurar dar resposta a todas as solicitações dos alunos com vista
à sua melhor formação pessoal e intelectual. Contudo, não deve deixar-se enveredar
7
É de destacar que primeira transmissão a ser considera um e-mail é de 29 de outubro de 1969.
Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Internet [consultado em 15/11/12]
8
Concordo, contudo, que os professores devem ser funcionários do estado pois se a profissão docente
“está intimamente articulada com uma prática e um discurso sobre as finalidades e os valores da
sociedade” deve, por isso mesmo, ter um estatuto de funcionário público como sinónimo de
reconhecimento. Com base em António Nóvoa (1989 a, p. 441).
5
novamente pelo caminho de professor funcionário, o que me parece por vezes, na minha
pouco experiência profissional, uma realidade.
No caso concreto do professor de instrumento, para além de proporcionar
competências técnicas/musicais para o estudo individual, competências de autonomia e
eficácia de estudo, fomentar a autoavaliação e aprendizagem contínua ao longo da vida,
competências de performance como a memorização, competências de expressão
artística através da interpretação da retórica musical da partitura, (competências que o
professor também deve ter), deve também, constantemente insistir na formação pessoal
do aluno. Esta passa pela área da cidadania9
, pelo âmbito do incentivo ao uso correto do
português e pelo incentivo ao estudo de pelo menos uma língua estrangeira, o inglês.
Deve também fomentar o estudo de línguas como o alemão e o italiano, línguas
essenciais, por exemplo, para um cantor. Na área da cultura e das artes, os professores
devem sempre fomentar que o aluno saiba algo concreto sobre a obra ou a época da
mesma. Logo, deve fomentar o recurso às ditas novas tecnologias, novas de há 50 anos,
se me permitem o comentário, como o Youtube, para que os alunos vejam gravações e
procurem uma melhoria constante. Também o professor, no seguimento do conceito de
professor aprendiz, deve estar a par das obras mais recentes e dos bens de cultura que
vão estando disponíveis (sem esquecer a própria estética de novos movimentos
artísticos e políticos). Assim, todos os professores devem ter em atenção que “bens de
cultura” consumir e propagar. Não devemos também esquecer, se me permitem o
comentário, que um professor da área do ensino vocacional de música investe
constantemente na sua formação, e na do aluno, pois tem que adquirir os seus próprios
manuais, ou seja, partituras, bem como gravações de obras específicas e intérpretes que
são de elevado valor monetário até para nós, profissionais. Contudo, sendo profissionais
da docência de uma área cultural, temos que investir pois não devemos desconsiderar os
direitos de autor. Não devemos também, desconsiderar que todas estas competências,
atualmente, deixaram de estar somente na consciência de cada profissional para uma
obrigatoriedade burocrática (avaliação de professores).
Sem entrar por esta questão e sem tirar créditos a todas as competências que as
artes fomentam (atualmente desvalorizadas, logo também os professores dessas áreas), e
9
Transversal a todas as áreas do saber segundo o DL 139/2012 de 5 de julho. Da minha experiência
enquanto aluna de ensino profissional na ARTAVE- Escola Profissional Artística do Vale do Ave, criada
em 1989, sempre foi uma constante preocupação dos professores de instrumento, pelos quais, muitas
vezes, os alunos detêm mais consideração e respeito do que pelos professores de outras áreas.
6
embora nos aborreça a burocracia excessiva (pois o que fazemos deve-se a uma ética
profissional), devemos pois enveredar por este caminho. Desta forma, a lógica
burocrática de evidenciar o que fazemos não deixará que coloquem em causa a
pertinência da nossa área, realçando que não devemos esquecer que, nesta lógica, é
exigida uma planificação excessiva que, muitas vezes, sufoca algo que se queira
evidenciar como a vontade de ensinar e aprender.
Pegando novamente na questão sobre os bens de consumo culturais questiono-
me também sobre que bens de consumo os professores procuram e de que forma esses
bens ajudam a uma boa (re)produção da sociedade? Sem esquecer que o propósito da
minha reflexão era outro deixo em aberto esta questão pois, se transmitimos
conhecimentos e saberes e, também, meios de adquirir o mesmo saber bem como, meios
de preservação de um capital social que é a sociedade, como o disse Pierre Boudieu,
devemos pois refletir sobre este assunto (Bourdieu, 1971, pp. 328-329).
Em suma, o professor do século XXI é o professor reflexivo, dos portefólios e
das evidências deve refletir sobre estas questões e não se deixarem ir por meios de
controlo totalitários, como por exemplo alguns programas televisivos. É portanto, um
professor aprendiz que deve sempre autoavaliar as suas práticas de ensino, logo
desempenhar a sua função mais nobre de ajuda à melhoria da sociedade e dos seus
cidadãos. Desta forma, devemos ser nós próprios a construir a profissão docente (nossa
profissão), para que no futuro queiramos continuar a fazer parte dela e, dessa forma, a
dignificá-la. Verificam-se, desta forma, os sinais seguros da construção de uma
profissionalização por parte dos interessados – os professores 10
(Perrenoud, 2000, p.
179).
“ (…) O êxito escolar, depende do capital cultural e da vontade de investir no mercado
escolar” (Bourdieu, 1971, p. 341).
10
Para aprofundar esta temática sobre o futuro dos professores ver relatório norte-americano A Nation
at Risk: Teachers for the Twenty-First Century, citado por Nóvoa, 1989, p. 455.
7
Bibliografia:
- Bourdieu, P. (1971). Reproduction Culturelle et Reproduction Sociale. Informations
sur les sciences Sociales, X, 2. In Richard Brown (org.) (1975). Knowledge,
Educations and Cultural Change. Londres: Tavistock. pp. 327- 366
- Nóvoa, A. (1989). Os Professores: Quem são? Donde vêm? Para onde vão? In St.
Stoer (org.). Educação, Ciências Sociais e Realidade Portuguesa, uma
abordagem pluridisciplinar. Porto: Afrontamento. pp. 59-130.
- Nóvoa, A. (1989). Profissão: Professor. Reflexões Históricas e Sociológicas. Análise
Psicológica, 435-456.
- Pereira, M. H. R. (2006). Estudos da Cultura Clássica. 1º vol. Cultura Grega. 10ª
edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. p. 394
- Perrenoud, P. (2000). 10 Novas Competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed
- Pomerans, L. (2010). A queda do Muro de Berlim: Reflexões vinte anos depois. Ver.
USP, nº 84, São Paulo. Recuperado em 15 de novembro de 2012, de
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0103-
99892010000100003&script=sci_arttext
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Internet [Consultado em 15/11/2012]

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Papel prof

  • 1. Universidade do Minho Instituto da Educação Mestrado em Ensino de Música Unidade Curricular de Sociologia e Profissão Docente I “O Papel do professor no séc. XXI- Reflexão Histórica” Imagem in http://estantedoaprendiz.wordpress.com/2009/11/14/um-professor-bibliotecario-para-o-sec-xxi-uma-quase-sintese- grafica/ [Disponível em 24/11/2012] Carla Daniela da Costa Ferreira Marques PG23435 Professor da UC: Manuel António Silva janeiro 2013
  • 2. 2 Estamos em 1989, ano de acontecimentos marcantes e simbólicos tais como a queda do muro de Berlim, ocorrido a 9 de novembro. Acontecimentos como o referido proporcionaram ao mundo mudanças em todas as áreas do saber. Essas mudanças são mais evidentes e foram preconizadas, particularmente, na área das relações humanas ou seja, sociológicas1 . Consequentemente expandiram-se também à área da docência, sendo que o questionamento sobre a profissão docente foi nesse ano uma questão em voga. É no referido ano que António Nóvoa nos apresenta a base para esta reflexão referente ao papel do professor em Portugal a partir da reforma pombalina. Se para Platão e Aristóteles, o ideal para se viver em sociedade felizes era exercendo o direito à cidadania e, se para isso era necessário reunir um certo conjunto de saberes associados à educação, educação essa para todos, verificamos que só é possível a concretização desse ideal através de agentes2 , no caso concreto do nosso estudo, os professores. São os referidos agentes que, ao longo da história, desempenharam o papel de educar a sociedade. Mas que papel é esse à semelhança da interrogação de Daniel Hameline (Nóvoa, 1989, p. 60) que diz “Professores para quê?”, respondendo: “Para assegurar a sua própria reprodução e a da sociedade” 3 . António Nóvoa, num texto centrado em torno da questão das mudanças operadas do séc. XIX para o séc. XX, apresenta-nos como mote da sua reflexão o questionamento sobre o papel do professor na sociedade, na referida transição, na época atual (1989) bem como, quais os caminhos para o futuro desta profissão. Nós, professores, somos então definidos por Nóvoa, como “agentes-atores” que necessitam de encontrar um 1 Lenina Pomerans (2010) diz-nos que “de todo o modo, a queda do muro representou de fato, e não só simbolicamente, o marco inicial da derrocada do sistema do socialismo real, podendo ser incluída na avalanche que se abateu no Leste Europeu no final da década de 80, e à qual se sucedeu o desmoronamento da URSS, em dezembro de 1991”. 2 “Em Atenas havia um só lugar onde era possível falar aos cidadãos em grupo sobre qualquer questão que não fosse de qualquer relevância política imediata: o teatro” (Janko, R. citado por Pereira, 2003, p. 394). O melhor tipo de teatro para o efeito era a tragédia cujo propósito era educar os cidadãos em questões de ordem moral e comportamental, ou seja, integrá-los na sociedade. 3 É esta aliás a função da sociologia. Segundo Pierre Bourdieu (1971, p. 327) “(…) a sociologia da Educação define o seu objeto. Este objeto está contido no esforço de determinar a contribuição dada pelo sistema de ensino para a reprodução das relações de força e das relações simbólicas entre as classes, ao contribuir para a reprodução de estruturas de repartição do capital cultural por entre essas classes.” Sobre esta função Nóvoa a propósito do processo de escolarização que tem atravessado as sociedades ocidentais desde o séc. XVI, diz-nos também que “Os professores vão ser os intérpretes principais deste processo que transformará de forma decisiva as práticas culturais e sociais, inscrevendo uma cultura escrita em comunidades de base oral e substituindo progressivamente a «aristocracia do sangue» pela «aristocracia do mérito” (Nóvoa a,1989, p. 436).
  • 3. 3 caminho coletivo. Em 1989, vivia-se um “tempo de crise e tempo difícil” bem como, “uma desintegração dos valores dominantes da sociedade” (Nóvoa, 1989, p. 61). Consequentemente a função dos professores parece ser de menor influência na sociedade pelo que tem que passar por outros caminhos e adquirir novas competências: “Os professores deixaram de estar no centro da sociedade. E ainda não se habituaram a viver nas suas margens. Sobretudo, ainda não compreenderam todas as potencialidades de uma intervenção pedagógica centrada cada vez menos na informação e na transmissão do saber (funções que outras instâncias da sociedade parecem desempenhar mais eficazmente), voltada decididamente para a formação reflexiva e para apropriação crítica dos saberes” (Nóvoa, 1989, p. 61). Nesta passagem para a última década do século XX também outros autores abordam esta temática. Philippe Perrenoud, em 10 Novas Competências para Ensinar, reflete sobre quais as competências necessárias para se desempenhar o “ofício4 ” de ser professor. Para Perrenoud são ingredientes do “roteiro do ofício”, elementos já referidos como “a prática reflexiva, profissionalização, trabalho em equipa e por projetos, autonomia e responsabilidades crescentes, pedagogias diferenciadas, centralização sobre os dispositivos e situações de aprendizagem, sensibilidade à relação com o saber e a lei5 ” (Perrenoud, 2000, p. 11). Através da constatação de Nóvoa sobre a história dos professores ser um constante recomeço do qual é necessária a compreensão do passado, questiono-me sobre a atualidade. Estaremos tão longe desta época, teremos melhores condições, temos uma profissão ou de facto um ofício como o de um sapateiro? Seremos reconhecidos pela nossa função tão nobre, ou penamos reconhecimento pessoal, social e monetário como outrora o fez Fructuozo José da Silva6 (1751-1823)? Luís Filipe Leite (1892, p. 6), pedagogo português, no final do séc. XIX diz-nos o seguinte: “Não exageremos. O professorado português de hoje distancia-se pela maior parte dos mestres de primeiras letras de há quase quarenta ou cinquenta anos, como a viação acelerada pelas estradas de ferro se diferencia das liteiras em que se viajava no século passado” (Nóvoa, 1989, p. 117). 4 Definição dada por Perrenoud, através de Meiriou (1989). 5 Referencial de competências da docência elaborado em 1996 em Genebra; Perrenoud integrou o grupo que construiu o referencial. 6 A 2ª parte do texto de Nóvoa evoca as Reformas Pombalinas através do retrato biográfico deste “mestre régio de ler, escrever e contar” (Nóvoa, 1989, pp. 65-78); “A concorrência era renhida e as oposições podiam, por vezes, atingir aspetos de violência física” (Nóvoa, 1989, p. 72); antigo secretário de D. Gaspar declara em 1803 que Fructuozo José da Silva “vive amesquinhado, até por moléstias, em tanta forma que por algumas vezes compadecendo-me da sua situação, o tenho favorecido com esmolas” (Nóvoa, 1989, p.74).
  • 4. 4 Estamos atualmente na era das autoestradas, do comboio de alta velocidade e da internet como principal meio de comunicação e emissor de informação/conhecimento7 e questiono-me se está o corpo docente de Portugal muito diferente de 1989 ou até de outas épocas e, como foi o seu futuro até à atualidade? Qual o futuro da nossa atualidade? Se na viragem do século XIX para o século XX o número de professores aumentou, os professores passaram a ser funcionários do estado8 e “personificam as esperanças de mobilidade social de vários extratos da sociedade”, hoje, ano da graça de 2012, muitos professores estão sem horário letivo e sem esperança. Procuram outros meios para além da função pública sendo muitas vezes, mais reconhecidos pelo seu trabalho contínuo no setor privado. Procuremos então melhorias. Os métodos de ensino aprendizagem, bem como os processos de avaliação dos professores procuram ser mais adaptáveis à sociedade e ao meio envolvente onde lecionam. A própria avaliação dos professores se encontra na linha de pensamento de Perenoud – do professor reflexivo sobre as suas práticas, que em 1989 começava a emergir. Neste ano também a nossa consciência desperta para o facto de uma formação contínua, para o que era necessário espaços de formação. Foram entretanto, criadas as ações de formação mas essa, é uma questão que requer outro tipo de reflexão, sobre se de facto alargou os horizontes dos saberes dos professores e pessoal auxiliar. Se já vigorou a conceção de um professor decisor, um professor-reflexivo devemos considerar atualmente, então, o conceito de professor aprendiz. Se Sócrates dizia “Só sei que nada sei!”, é importante que alunos e professores tenham consciência desde facto e que procurem sempre novos conhecimentos quer numa área específica, quer em áreas particulares do saber. Deve, portanto, o professor manter-se sempre em constante formação e procurar dar resposta a todas as solicitações dos alunos com vista à sua melhor formação pessoal e intelectual. Contudo, não deve deixar-se enveredar 7 É de destacar que primeira transmissão a ser considera um e-mail é de 29 de outubro de 1969. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Internet [consultado em 15/11/12] 8 Concordo, contudo, que os professores devem ser funcionários do estado pois se a profissão docente “está intimamente articulada com uma prática e um discurso sobre as finalidades e os valores da sociedade” deve, por isso mesmo, ter um estatuto de funcionário público como sinónimo de reconhecimento. Com base em António Nóvoa (1989 a, p. 441).
  • 5. 5 novamente pelo caminho de professor funcionário, o que me parece por vezes, na minha pouco experiência profissional, uma realidade. No caso concreto do professor de instrumento, para além de proporcionar competências técnicas/musicais para o estudo individual, competências de autonomia e eficácia de estudo, fomentar a autoavaliação e aprendizagem contínua ao longo da vida, competências de performance como a memorização, competências de expressão artística através da interpretação da retórica musical da partitura, (competências que o professor também deve ter), deve também, constantemente insistir na formação pessoal do aluno. Esta passa pela área da cidadania9 , pelo âmbito do incentivo ao uso correto do português e pelo incentivo ao estudo de pelo menos uma língua estrangeira, o inglês. Deve também fomentar o estudo de línguas como o alemão e o italiano, línguas essenciais, por exemplo, para um cantor. Na área da cultura e das artes, os professores devem sempre fomentar que o aluno saiba algo concreto sobre a obra ou a época da mesma. Logo, deve fomentar o recurso às ditas novas tecnologias, novas de há 50 anos, se me permitem o comentário, como o Youtube, para que os alunos vejam gravações e procurem uma melhoria constante. Também o professor, no seguimento do conceito de professor aprendiz, deve estar a par das obras mais recentes e dos bens de cultura que vão estando disponíveis (sem esquecer a própria estética de novos movimentos artísticos e políticos). Assim, todos os professores devem ter em atenção que “bens de cultura” consumir e propagar. Não devemos também esquecer, se me permitem o comentário, que um professor da área do ensino vocacional de música investe constantemente na sua formação, e na do aluno, pois tem que adquirir os seus próprios manuais, ou seja, partituras, bem como gravações de obras específicas e intérpretes que são de elevado valor monetário até para nós, profissionais. Contudo, sendo profissionais da docência de uma área cultural, temos que investir pois não devemos desconsiderar os direitos de autor. Não devemos também, desconsiderar que todas estas competências, atualmente, deixaram de estar somente na consciência de cada profissional para uma obrigatoriedade burocrática (avaliação de professores). Sem entrar por esta questão e sem tirar créditos a todas as competências que as artes fomentam (atualmente desvalorizadas, logo também os professores dessas áreas), e 9 Transversal a todas as áreas do saber segundo o DL 139/2012 de 5 de julho. Da minha experiência enquanto aluna de ensino profissional na ARTAVE- Escola Profissional Artística do Vale do Ave, criada em 1989, sempre foi uma constante preocupação dos professores de instrumento, pelos quais, muitas vezes, os alunos detêm mais consideração e respeito do que pelos professores de outras áreas.
  • 6. 6 embora nos aborreça a burocracia excessiva (pois o que fazemos deve-se a uma ética profissional), devemos pois enveredar por este caminho. Desta forma, a lógica burocrática de evidenciar o que fazemos não deixará que coloquem em causa a pertinência da nossa área, realçando que não devemos esquecer que, nesta lógica, é exigida uma planificação excessiva que, muitas vezes, sufoca algo que se queira evidenciar como a vontade de ensinar e aprender. Pegando novamente na questão sobre os bens de consumo culturais questiono- me também sobre que bens de consumo os professores procuram e de que forma esses bens ajudam a uma boa (re)produção da sociedade? Sem esquecer que o propósito da minha reflexão era outro deixo em aberto esta questão pois, se transmitimos conhecimentos e saberes e, também, meios de adquirir o mesmo saber bem como, meios de preservação de um capital social que é a sociedade, como o disse Pierre Boudieu, devemos pois refletir sobre este assunto (Bourdieu, 1971, pp. 328-329). Em suma, o professor do século XXI é o professor reflexivo, dos portefólios e das evidências deve refletir sobre estas questões e não se deixarem ir por meios de controlo totalitários, como por exemplo alguns programas televisivos. É portanto, um professor aprendiz que deve sempre autoavaliar as suas práticas de ensino, logo desempenhar a sua função mais nobre de ajuda à melhoria da sociedade e dos seus cidadãos. Desta forma, devemos ser nós próprios a construir a profissão docente (nossa profissão), para que no futuro queiramos continuar a fazer parte dela e, dessa forma, a dignificá-la. Verificam-se, desta forma, os sinais seguros da construção de uma profissionalização por parte dos interessados – os professores 10 (Perrenoud, 2000, p. 179). “ (…) O êxito escolar, depende do capital cultural e da vontade de investir no mercado escolar” (Bourdieu, 1971, p. 341). 10 Para aprofundar esta temática sobre o futuro dos professores ver relatório norte-americano A Nation at Risk: Teachers for the Twenty-First Century, citado por Nóvoa, 1989, p. 455.
  • 7. 7 Bibliografia: - Bourdieu, P. (1971). Reproduction Culturelle et Reproduction Sociale. Informations sur les sciences Sociales, X, 2. In Richard Brown (org.) (1975). Knowledge, Educations and Cultural Change. Londres: Tavistock. pp. 327- 366 - Nóvoa, A. (1989). Os Professores: Quem são? Donde vêm? Para onde vão? In St. Stoer (org.). Educação, Ciências Sociais e Realidade Portuguesa, uma abordagem pluridisciplinar. Porto: Afrontamento. pp. 59-130. - Nóvoa, A. (1989). Profissão: Professor. Reflexões Históricas e Sociológicas. Análise Psicológica, 435-456. - Pereira, M. H. R. (2006). Estudos da Cultura Clássica. 1º vol. Cultura Grega. 10ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. p. 394 - Perrenoud, P. (2000). 10 Novas Competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed - Pomerans, L. (2010). A queda do Muro de Berlim: Reflexões vinte anos depois. Ver. USP, nº 84, São Paulo. Recuperado em 15 de novembro de 2012, de http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S0103- 99892010000100003&script=sci_arttext - http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Internet [Consultado em 15/11/2012]