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Alice Jones
†
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Alice Jones
Rossana Campos
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A Convivência entre
vampiros, feiticeiros e humanos não será permitida. Do contrário: sempre haverá
guerra.
(Bhaskara)
Prefácio
A garota se aproximou do vulcão.
– Nicaraless – ela disse, lançando uma moita de gelo no buraco do vulcão.
Nada aconteceu e ela se afastou. O vulcão começou a entrar em erupção.
– Droga, você está bem garota? – um sujeito de olhos azuis perguntou.
Ela arregalou os olhos e não disse nada. Naomi tentou a sorte. Então não pôde
fazer nada, uma gota daquela larva e ela sem dúvidas alguma, se derreteria por
inteira. – Inútil – ela sussurrou consigo mesma.
– Faz alguma coisa! – a garota ruiva pediu num tom de ordem, impaciente.
O vulcão entrou totalmente em ebulição, piorando toda a situação. A garota ruiva
ficou na beirada segurando-se ao vento, e sabia que uma olhadinha para baixo daquela
enorme montanha tornaria tudo mais impossível.
Havia duas opções: morrer queimada ou suicidar-se.
– Boa sorte – ela disse ao homem de olhos azuis e saltou de costas. O cara de
olhos azuis saltou atrás e logo se tele transportou para o topo da montanha
novamente.
– Não! – ele gritou bem alto para que o mundo todo ouvisse.
– Só dois de nós vai sobreviver – outro sujeito gritou, aparecendo pro cara de
olhos azuis.
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Vampiros e dons-chaves:
Futurícx = Prevê o futuro.
Mentalix = Controle de mentes, hipnose.
Olhos-de-morte = Causa sangramento grave pelos ouvidos, boca, nariz e olhos.
Velocímetrox = Extremamente veloz.
Sentimentalinx = Leitura de corações.
Autocontrolex = Autocontrole.
Supersound = vampiro ouve a longa distancia.
Forçalittler = Força extrema.
Sensíbleter = vampiro sensível, que não consegue matar.
O que pode matar um vampiro:
Fogo lançado pelo corpo durante a meia noite.
Um feitiço muito forte.
Beber sangue morto, de alguém que esteja morto.
Ter a cabeça arrancada enquanto estiver no período puro.
Atacar alguém que bebe bebidas alcoólicas ou usa drogas deixam-lhes fracos.
Vampiros ficam fracos quando sugam o sangue de alguém que bebe, fuma ou usa
drogas. Mas não significa que morrem, eles vão ficando cada vez mais fraco. Se no
mesmo dia, for a oitava vítima com esses sintomas, o vampiro poderá morrer.
Espécies inimigas que devem viver em lugares
distintos:
Vampiros.
Feiticeiros.
Humanos.
Detalhes
– Alice? – John sussurra, me cutucando.
Estava uma manhã calorenta da América do sul. Ele tinha uma espécie de grave
e rouquidão em sua voz, bem diferente de Kate, que possuía a voz suave e bem
feminina.
Fiz cara feia e revirei os olhos, depois daquele sonho esquisito que tive agora
pouco. Ultimamente desde quando completei dezesseis anos, coisas estranhas vêm
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acontecendo comigo. Bem, na verdade quando eu nasci algo estranho também
aconteceu.
É uma história que meus pais me contaram, ela é pequena. Que eu nunca me
lembro perfeitamente.
E muito menos acredito.
Minha mãe e meu avô são meio sinistros, pra ser franca. Eles sempre foram
bastante misteriosos e diferentes... Eu até ficava com medo. Eu achei até estranho eles
me contarem isso porque eles quase nunca me contam o que eles conversam, digo,
coisas do passado. Até que cresci um pouco e lá com os meus oito anos, eu lembro-me
de ter entrado no quarto dos meus pais e já era de madrugada. Ouvi barulhos de
alguém mordendo algo.. Ela gritava muito alto, um tipo de gemido de prazer com dor.
Fui correndo, abri a porta do quarto, pude ver meu pai ferrado no sono e Kate virada
para a janela e meio agachada, ela virou-se lentamente para mim e vi sangue na boca
dela. Foi aí que o vovô apareceu e não me lembro de mais nada. No dia seguinte, fui
até minha mãe e perguntei o que havia acontecido. Ela disse que eu era sonâmbula e
estava tendo um tipo de sonho e que fui ao quarto dela, eu só não consigo é ter certeza
se isso realmente aconteceu ou foi apenas um pesadelo. Disso eu consigo lembrar, mas
depois que meu avô apareceu, eu não me lembro de mais nada. Desde aquele dia, meu
conceito sobre ela ficou mais estranho que já era.
Ainda criança, John me pegava no colo com tal facilidade confortadora, eu me
sentia menos sozinha com ele, já que Kate quase não existia pra mim. Ele era minha
mãe e meu pai, apesar de ter aquele jeitão meio anti-social que ele sempre teve. Depois
quando completei quatorze anos, eu comecei a notar que Kate tentou ficar mais
próxima de nós. Ela ficava assustada com algumas atitudes minha como, por exemplo:
bater em uma garota do Colégio, que por sinal, havia me provocado muito durante
todo o jardim de infância. Qual é! Todo mundo vai se defender de alguém um dia, foi
só isso que fiz.
Depois ela sumiu, nunca mais ouvi falar dela. Lembro-me de ter brigado com
ela, e ela desmaiou, depois disso nunca mais a vi, de verdade mesmo. Meus pais
ficaram atordoados comigo, até hoje eu não entendo o que houve pra tanta tensão da
parte de Kate. Afinal, porque eu tenho que me preocupar com coisas que fiz quando
era criança?
Completei dezesseis anos e as coisas ficaram definitivamente mudadas. Kate se
separou do meu pai, mas continua vivendo conosco, só por minha causa. E que
sinceramente não entendo, ela não precisava continuar morando conosco só por causa
de mim. Mas isso era temporário porque ela estava procurando uma casa.
John Jones é meu pai.
Pálido, alto, magro e um pouco musculoso, cabelos pretos bem escuros. John
possui muito charme, ele consegue atrair qualquer uma com sua aparência e jeito
macho de ser. Não... Não sou feminista, apenas digo isso porque é o tipo de cara que
interessa qualquer uma. Pelo menos em minha opinião. Seus olhos são claros pelo lado
de mel escuro – que chega a ser exagerado de tão belos – tem um sorriso maravilhoso.
Na verdade meu pai é lindo até demais, não me acho nem um pouco parecida com ele.
Só que por dentro, é um poço de machismo.
Kate Jones é minha mãe.
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Mais pálida ainda, loira e bem menor que John. Há nela algo obscuro: seus
olhos são meio avermelhados e seus dentes são tão brancos que chega a doer os olhos.
– Quem dera eu ser tão linda o quanto Kate. Kate sempre foi a mais estranha de todas
as mães que conheci. Ela não possui jeito de mãe, é muito ativa e independente.
Desde quando eu cheguei a entender os gestos das pessoas, eu comecei a
perceber coisas estranhas nela.
Kate é aquele tipo de mulher que se olha no espelho de trinta em trinta
segundos sem perceber o quanto isso a torna maluca e obcecada por beleza. Não
entendo porque tanta preocupação, já que ela está sempre na mesma aparência, aliás,
Kate usa umas maquiagens esquisitas, parece que a maquiagem a deixa mais velha, não
sei se é essa sua intenção, mas é exatamente isso que acontece quando ela enche a cara
desse pó fedorento.
Há algo em que sempre me incomodou muito também.
Pensando bem, é mais fácil dizer o que não me incomoda nela.
Meus pais sempre mudam de país. Eu nasci em Londres, logo cinco anos
depois me mudei para Buenos Aires e quatro anos depois nos mudamos para cá, em
Campos Do Jordão, ainda em terras sul-americanas. Não sei falar português ainda, o
português é extremamente complicado e diferente pra mim. No entanto, algo que
reparei é que John e Kate sempre se mudam para lugares frios, gelados. Como, por
exemplo: nasci em Londres e onde estou agora. Uma cidade normal e onde eu moro
fica em uma casa reservada e alta, onde as montanhas verde-escuro cercam por toda
parte, causando um frio enorme.
Estamos morando aqui em terras sul-americanas por pouco tempo, pois vamos
voltar para a América do norte o mais breve possível, terras nativas e ainda mais
geladas.
– Calma. Porque esse nervosismo todo, pai? – retruquei levantando-me meio
desajeitada e descabelada. Logo me sentei na cama e apertei os olhos para enxergar
melhor, afinal: ser acordada é uma porcaria.
John ficou impaciente a me ver daquela maneira, impaciente assim como ele.
– É a Kate. Eu não estou a fim de ficar perto dela agora, ela está toda surtada,
minha paciência não é de ferro, caramba! Só porque não consegui concertar a porcaria
do secador...
Paciência de ferro? A paciência de John não é nem de papel isopor. Mas eu
não contive o riso, ele falou de um jeito que me causou nostalgia de quando eles ainda
eram casados.
– Posso ficar no seu quarto? – perguntou sorrindo, tentando me esconder
alguma coisa que eu nem perdi meu tempo de perguntar, John não tinha o costume de
me agradar e me botar apelidos, ele era sério ao extremo. Ah! John era xerife e era um
dos melhores, aliás. Daqueles tipos em que leva o trabalho para sua vida.
– Tudo bem. O que ela tem? – perguntei curiosa.
Ele pensou um pouco pra responder e apertou as pálpebras enquanto pensava
no que me dizer. Eu geralmente não gostava nem um pouco quando ele pensava para
responder, sempre que ele fazia isso parecia que ele queria inventar algo, ou esconder
alguma coisa de mim. Apertar as pálpebras então? Perigo na certa.
– Não é nada demais, mas e como estão as coisas com você?
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Fingi que acreditei e puxei outro assunto bobo pra confortá-lo.
– Eu estou bem, estou de férias, como você já sabe. Já que você mudou de
assunto, me diz sobre aquela cidade que vamos nos mudar, qual é o nome mesmo? –
perguntei, porque na verdade, eu havia me esquecido completamente o nome do lugar,
nesse aspecto eu não estava forçando a barra, eu realmente não me lembrava.
Ele fez careta e sorriu.
– Port Angeles. Uma cidade boa, pequena e ainda mais fria que aqui. Apesar
do frio insuportável eu espero que você goste de lá – afirmou, coçando o nariz logo
depois.
Respirei fundo e olhei firme em seus olhos.
– Vamos sair desse país e voltar para América do norte? Quando nós vamos?
Ele tinha uma mania irritante em sempre ficar mudando de casa, como já disse.
Mas isso só pode ser culpa de Kate, conheço as técnicas de manipulação dela. Eu já
morei em tantas casas e cidades diferentes que até já perdi a conta. Também não sei se
é bem uma mania, mas que me irrita muito, isso sim. Cada ano nós estamos em um
lugar diferente, mas dessa vez eu queria mesmo era me mudar. Não gostava nem um
pouco de onde nós estávamos. Ele ficou animado em responder.
– Advinha? Você vai adorar saber, aposto.
Fiz um esforço grande pra tentar adivinhar, mas aí eu chutei.
– Daqui a dois meses? Em setembro, ou quem sabe em novembro? Nada contra
mudarmos rápido, pelo contrário. Eu quero é me mudar logo daqui. Eu me lembro
daquela casa grande e cheia de gente, que hoje, nem sei se ainda vive ou está morto. Eu
sinto falta deles.
Ele abaixou a cabeça olhando pro nada, sei lá... Eu tinha praticamente certeza
que ele não iria responder a minha pergunta indiscreta.
– Errou... Mas até que passou perto.
Ele logo deu uma ajeitada no seu cabelo que estava um pouco bagunçado.
– Seis de outubro – explicou.
– Sério? No mês do meu aniversário! Seria até que um presente legal – vibrei e
abri um sorriso largo, esquecendo da pergunta que eu havia feito segundos atrás.
Ele abriu um olhar novo e uma conversa nova.
– Quando você completar dezessete anos, você terá uma surpresa – John
começou com a conversa que não me agradava. Daí pra piorar a caretice, se sentou na
minha cama e olhou com esperança de que eu sentasse também. Olhei para John e
tentei decifrá-lo quase que em vão novamente.
– Como assim?
Ele pegou em minhas mãos e deu aquela olhada de pai.
– Alice, só me faça uma promessa – seu tom era sério agora, John não sabia
brincar com coisa séria, quando ele estava falando sério, qualquer um podia perceber
apenas olhando em seus olhos e sentindo seu nervosismo machista.
– Ok. Pai, fale.
Retruquei de mau-humor, como de costume, quando eu sentia que estavam
escondendo alguma coisa de mim fazendo pausas de leve em cada palavra. Ele sorriu e
forçou o olhar.
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– Eu não entendo o motivo de Kate ter me pedido para te dizer isso... Mas
enfim, não desobedeça nenhuma regra ou mandamento. Ainda é mais ou menos como
uma metáfora, Alice. Eu não posso te dar detalhes, você mesma vai descobrir, viver isso
sozinha. Você pode me prometer isso por sua mãe, Alice?
John me fitou remexendo seu nariz. Então respirei fundo novamente e tentei
não brigar com meu pai.
– Do que você está falando?
Fiquei encabulada com aquela metáfora inútil que ele acabou de estabelecer.
Não era mais fácil me contar logo o que estava acontecendo? Eu agradeceria se Kate
ou John parasse por um instante de me poupar. E aí ele persistiu mais uma vez
– Seis de outubro, Alice – também não faço idéia dessa maluquice de sua mãe.
John continuou a tentativa de me fazer prometer algo que eu não faço a menor
idéia. Quer dizer, que nem ao menos ele sabia! Por fim, não conseguimos e caímos na
gargalhada. É como assinar um contrato em que você não leu nenhuma estrofe. Mas eu
tinha que escolher, ele é meu pai e eu confio nele mais do que qualquer promessa
estranha. Eu fui vencida e não contradisse mais nada.
– Eu confio em você. Tudo bem, eu prometo.
Ah! Detalhe: Kate é super ausente, talvez seja esse o motivo de não chamá-la de
mãe sempre... Em 1996, ela sumiu durante o ano todo, e só voltou no ano seguinte. E
isso se repetiu vários e vários anos. Então, ela é minha mãe de acordo com a genética
porque sendo franca, ela quase não convive comigo e aposto que não sabe o nome do
meu primeiro amor, que foi o Matt... Namorico de escola, de criança. Isso foi há 9
anos atrás.
Meu celular tocou, era um número privado. O que fora hilário porque me ligou
e desligou logo depois, na minha cara. Quando fui desligar, meu pai não estava mais
lá.
– O que foi isso? – pensei, com um pouco de medo sobre sua conversa maluca
sem pé nem cabeça. Procurei atrás de mim, na minha frente, do meu lado. Olhei
desconfiada para os lados e me distraí.
Fui até o quarto de Kate e não bati na porta.
– E então?
Eu a chamei entrando em seu quarto, passo por passo com uma vergonha
enorme de ser tão teimosa. Ela apareceu e ficou desconfiada, Kate odiava quando eu
estava planejando algo com ela. Ainda mais quando o assunto era sério e eu não temia.
Se existia algo no mundo que eu fosse profissional, era de não temer o temível.
– O que foi? – disse ela mal humorada.
Fingi o meu interesse e tentei mesmo assim, na cara de pau.
– Vim te dar um abraço de boa noite mãe – disse, mentindo horrivelmente.
Kate chegou perto de mim e colocou as mãos na minha testa fazendo cara de
cúmulo.
– Você me chamou de MÃE? Você está doente? – perguntou incrédula.
Entreguei-me e falei a verdade, não havia como esconder coisas dela, ainda mais
ela sabendo do quanto eu sou péssima para mentir.
– Precisamos conversar.
Kate respirou bem profundamente e tentou não me olhar.
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– Fala – e fez outra cara de “eu já sabia”.
– Ta legal Alice. Vamos nos mudar da América do sul para a América do norte
daqui a um mês. Eu preciso que me prometa algo quando chegarmos a Port Angeles,
terra nativa de nossa família – ela disse. Quem fez cara de cúmulo dessa vez, fui eu.
– Você de novo com essa história de juramento? – perguntei irritada, fazendo
aquela expressão com o rosto de tédio que não agradava ninguém, muito menos ela.
Ela brevemente se aproximou de mim e me olhou parada cruzando os braços.
– Sim.
Seu tom era ainda mais sério dessa vez. Tentei dar uma de boba, meio que em
vão. Ela estava com uma blusa de frio num tom de vinho de lã colada e uma calça jeans
formando as curvas de suas pernas dentre a calça.
– Sobre respeitar regras que eu nem imagino quais e mais isso e aquilo que você
vive falando o tempo todo?
Ela balançou a cabeça negativamente apertando as pálpebras.
– Não, apenas me jure uma coisa...
E ficou séria de novo, ela não andava com paciência para minhas ironias.
Afastei-me dela e fiquei de costas.
– Fala logo.
Eu me irritei.
Kate, por sua vez, plantou-se igual uma doida atrás de mim, invertendo-nos
meio que brincando com meu cabelo.
– Não se apaixone por ele – Kate murmurou, pegando minhas mãos e me
encarando com seus olhos lindos e convincentes que me fazia confiar em cada palavra
que ela dizia sem importar mais nada, nenhum tantinho.
Franzi o cenho.
– Ele quem?
Eu estava completamente sem entender tudo isso.
– Não se envolva por seu inimigo. Por um de nossos opostos.
Virei-me para olhar para ela enquanto conversávamos e mostrei minha cara de
não entendi porcaria nenhuma que você disse.
– Você anda tomando algum remédio? – zombei.
E então, só me lembro de ter piscado e por um instante virar-me para a janela
de meu quarto, mas no exato momento em que olhei para a direção que ela estava, já
não havia mais ninguém ali.
Fiquei com aquela frase em minha cabeça: “Faça a escolha certa, Não se
apaixone por um de nossos inimigos” O que foi aquilo? Isso não existe, uma
preocupação surgiu dentro de mim, ela não está em sã consciência.
Estava tão assustada que fui dormir.
Abri os olhos, sentei-me na minha cama e olhei em volta, sentindo o cheiro
fresco do perfume dela ali no meu quarto. Meu quarto não era daqueles super
arrumado, eu nunca gostei de quartos impecáveis e cheios de ursos rosa. Sempre preferi
uma cama de solteiro e um cômodo pequeno em que só caiba a mim. Coerentemente,
olhei em volta do meu quarto inteiro, de um jeito tão nostálgico. Pensei na escola que
eu estudava que era sem graça e com pessoas sem graça. O ano estava quase acabando.
Estávamos em primeiro de setembro, faltando apenas um mês para a mudança à Port
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Angeles. Eu andava com pensamentos mais profundos, sobre não me envolver em
nenhum relacionamento sério, ou não fazer amizades falsas, eu queria uma vida
decente e normal, já que eu não tenho uma mãe normal. De algo eu sei: estou prestes a
ser uma mulher, quero ser tratada como uma adulta. Já que, aliás, tudo indica que não
vou morar com eles por muito tempo. Talvez esse seja o ultimo ano em que moro com
eles, por isso eu fico observando tudo e aproveitando cada maluquice de Kate. Enfim,
não tenho que pensar quando vou morar sozinha também... Vamos deixar as coisas
acontecerem.
Olhei-me no espelho e não reconhecia aquela cara fria e sem paciência com
tudo, porque eu estou tão estranha e rebelde? Paciência era algo que definitivamente eu
não tinha desde que me conheço por gente. Ficava séria a maioria do tempo, não me
misturava com pessoas da minha idade com facilidade, eu não era o tipo de pessoa que
é popular e muito sociável. Às vezes minha sinceridade é exagerada. Não gosto de
mentir só para agradar alguém, seja lá o que for.
Respirei fundo e mantive o olhar aleatório ao redor do meu quarto.
Um mês se passou
Com toda a sinceridade do mundo, sabe quando você sente que algo está para
acontecer? Não é algum motivo concreto, ou algo que botaram na sua cabeça. É só
algo que você sente do nada. Quando está tudo bem, mas algo dentro de você diz que
não. Ou algo está para ser descoberto, sei lá. Falar dos outros é tão legal, mas quando
você tem que falar sobre você... É horrível! Talvez seja por isso que não seja muito
popular, o sujeito me pergunta “me fale sobre você?” e tudo que vem na minha cabeça
é que amo chocolate e sou sincera, não grossa.
O fato é: eu odeio falar muito sobre mim.
E havia outras coisas que estava me afligindo muito. Principalmente
envolvendo Kate. Eu sentia a todo o momento que alguma coisa iria acontecer comigo,
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eu só não imaginava o tamanho e a profundidade do que está por vir. Porque eu
mereço tantos cuidados?
Se o assunto era eu, eu sou quem mais deveria saber o que estava acontecendo.
Mas não, todos continuavam me poupando.
Todos não, só Kate.
Eu também tinha medo da verdade, na verdade. Queria saber o que havia de
errado comigo, eu só não tinha era muita coragem para tentar descobrir de uma vez
por todas. E aí, deixei o tempo passar, aquele vazio silencioso dentro de mim dia após
dia foi só crescendo aos poucos. Eu acordava, me alimentava, morria de sono, dormia e
não sabia quantos dias dormia, ou onde eu estava. Fiquei um tempo no meu canto, eu
não vivia eu apenas existia. Meus pais Kate e John notaram minha vida tediosa e
agiam como se fosse à coisa mais normal do mundo. Fácil, não eram eles que estavam
sendo a última pessoa que sabia das coisas.
Ficava horas no meu quarto lendo livros grossos e de anos atrás procurando
algo com que eu pudesse me divertir e nada aparecia. Eu queria mandar aquilo tudo, de
verdade, a puta que pariu. Kate estava a cada dia que passava mais ansiosa para a
mudança e minhas férias estavam sendo péssimas, não era culpa dela. Não é culpa de
ninguém! É só que... Deixe, nem eu mesma sei.
Tudo bem, eu sempre detestei o colégio, mas ficar em casa não era uma coisa
muito emocionante de se fazer por muito tempo, você acaba se afundando na solidão e
nem percebe.
Senti algo me cutucando.
– Alice, acorda.
Ouvi a voz de Kate cantarolando-me com meros toques acompanhados. Abri
os olhos de má vontade e os vi na minha frente, plantados e esperando a rainha
acordar.
– Que foi?
Aquela pergunta idiota que eu havia feito ali naquele momento família foi
hilária.
– Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de
vida...
Kate fez aquele coral vergonhoso, o mais engraçado foi o John, que tentou não
ficar vermelho, mas foi em vão. John não curtia essas coisas, assim como eu. Acho que
deve ser culpa dele esse meu jeito fechada e tímida de ser, mas sinceramente eu gosto
muito disso, eu me sinto menos fútil. Não consigo me imaginar agindo como Kate a
todo o momento, não o culpo; o agradeço.
Fiz cara feia e pedi para ela parar, extremamente corada e sem saber o que dizer
o que fazer. Eu até que ligava antes para essa coisa de aniversário, mas as coisas
mudam. John estava com uma expressão forçada que soou um pouco de que ele
também se sentiu bastante envergonhado de estar ali, vendo Kate cantar parabéns para
mim daquela maneira tão animada e exagerada.
Levantei-me e tentei enxergá-los direito apertando as pálpebras.
– Seis de outubro. É hoje nossa mudança para Port Angeles, se arrume, anda
logo!
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Cutucou-me.
Levantei-me com tal rapidez estranha, dei até um risinho depois que percebi.
Ficando mais feliz de poder voltar a me comunicar no idioma inglês, no qual eu sabia
perfeitamente falar, obviamente. Fiquei aliviada, português não era o meu forte,
mesmo. Depois de algumas horas, estava tudo pronto. Olhei pela ultima vez em volta
daquele lugar lindo que eu não pertencia mais, que na verdade nunca pertenci. Entrei
no carro e no caminho até o aeroporto encostei minha cabeça no vidro do carro e
lembrei-me de uma música perfeita para se escutar naquele momento: Unmistakable –
backstreet boys. E eu estava tão cansada que na hora de descer do carro para ir ao
avião dei o maior chilique. Então, quando entrei dentro do avião, fiquei observando
tudo pela janela, as pessoas do tamanho de uma formiga... Tão simples e interessante.
Na verdade, eu me encabulei com a pressa que Kate estava em se mudar para
Port Angeles. Será que ela queria voltar a se comunicar em inglês? Claro que não...
Deitei minha cabeça no acento do avião e pensei em nada. Minha mente fluiu no
silencio delicioso e envolvente, que me confortava muito e ao mesmo tempo me
deixava num clima tenso maior ainda. Digo, do mesmo modo que aquela sensação de
viajar de avião era gostosa, era tensa. Confesso! Tenho medo de altura.
Como eu pude me tornar isso? Acredite, eu não era assim. Não mesmo! Já
existiu uma Alice que contava piadas, sorria de tudo, se apaixonava por astros de
televisão. Desde pequena gostava de assistir seriados impróprios para minha idade,
ninguém sabe... Mas já vi de tudo! E, aliás, um seriado que fez parte da minha infância
foi “American Horror Story”
Eu sei que isso soa muito estranho. Pelo menos para quem já assistiu... É muito
diferente, um tanto assustador e sexy. Aquele Tate... Meu deus! Eu era louca por ele.
Ou melhor, havia também o Kit... Eu não sei por que, eu sempre gostei mais dos
vilões. Felizmente, é tudo ficção sobre coisas sobrenaturais, poderes heróicos e mais
dessas bizarrices.
Quer dizer, ainda gosto.
Meus olhos se abriam... Fechavam-se... Nunca sabiam o que realmente fazer ou
o quê acompanhar.
Quando acordei já tínhamos chegado, incrivelmente já tínhamos chegado. Eu
mal fechei os olhos e lá estou eu: em Port Angeles!
Levantei-me ainda meio desajeitada, ouvi conversas insignificantes de John e
Kate no aeroporto e perguntei que horas eram. John me disse que já haviam passado
dois dias desde que saímos da antiga casa.
Eu dormi dois dias? Como assim?
Ele me cutucou.
– Alice, nós chegamos.
Levantei-me do carro e saí pela porta de trás, tirando o cinto de segurança e
ajeitando meu corpo ameaçadíssimo. No caminho para entrar a nova casa, Kate
apareceu do nada.
– Quando começam suas aulas no colégio? – perguntou fingindo um interesse
nunca tido antes.
– Depois eu ligo pra alguma escola daqui no Yellow Pages – grunhi.
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– Não, deixa que eu ligue pra você – pediu com um sorriso falso. Tão hilária...
– Esperamos.
John corrigiu de leve sorrindo de leve com covinhas. Movi-me de onde eu
estava e fiquei frente a frente deles, meio que corada por Kate não entender que sou
muito mais matura que ela possa imaginar. Mais matura que ela.
– Eu sou americana, Kate. Eu sei disso – retruquei.
Ela sorriu e soltou uma piada idiota.
– Alice anda melancólica, John. Não se assuste – zombou.
Revirei os olhos e preferi ignorá-la.
Chegamos à nova casa. A cidade era extremamente fria. Havia bastantes árvores,
natureza e ao mesmo tempo a cidade era extremamente urbanizada. Eu me sentia em
uma cidade que já morei antes. Fiquei observando de longe todo aquele pessoal,
estávamos em véspera de inverno e o inverno nessa cidade parecia muito mais rigoroso
que a antiga cidade. Chegando à nova casa, a porta estava aberta, passei por Kate e
John e fui direto para meu novo quarto com aquele jeito de intrometida que eu tinha.
Liguei a TV, deitei na minha nova cama que agora era de casal. A cama era normal,
nem dura e nem mole. Fiquei ali me movimentando como uma criança por alguns
segundos consecutivos.
Foi então que eu ouvi ruídos insuportáveis em minha mente, eu podia ouvir
cada detalhe da voz de todos, podia sentir o cheiro de tudo, podia ver com uma
imagem perfeita. Eu podia sentir tudo de um modo muito horripilante e repentino. Fiz
caretas de incômodo e me sentei na cama, o cabelo bastante atrapalhado e com
algumas madeixas no meu olho dificultando-me de enxergar. Tirei as madeixas
irritantes dos meus olhos e me levantei para procurar o controle daquela televisão.
Coloquei no volume um e ainda ouvia perfeitamente, mas sem incomodar. Até que por
fim, desisti de procurar o controle e enfiei o dedo em um botão grande e desliguei a
TV. Levantei-me e tentei ficar de bom-humor. Fui até a cozinha e perguntei a Kate:
– É nessa cidade que tem aquela geleira ou montanha? Eu não me lembro
direito o nome disso.. É um tipo de montanha diferente do restante do mundo até que
passou no telejornal – eu perguntei meio confusa.
Kate me olhou e ficou mais confusa ainda.
– Sim, você quer ir? Mas é um pouco longe daqui, Alice. Por que você quer isso
agora? Alice Jones, não me faça ler sua mente... – ela brincou.
Ler minha mente? Que brincadeira nova é essa?
– Brincadeirinha... – disse, saindo de fininho ao banheiro.
Fiz cara de nada. A verdade era que eu precisava de um tempo sozinha, achava
que a época mais difícil na minha vida foi à época em que eu estava entrando na
adolescência, lá nos meus mais ou menos treze ou quatorze anos. Mas não, agora tudo
acontecia com mais profundidade, com mais peso, com mais freqüência e eu ficava
confusa a medida dos dias que se passavam.
– Não, só perguntei. Outro dia eu vou – disse despreocupada.
Ela aceitou a resposta sem controversas já indo em direção à janela para ver se
era de madeira e fez cara feia, retrucando porque queria que fosse inteira de vidro. Mas
poxa, só se for um vidro blindado e tudo mais, porque o que não falta é ladrão
arrombando janelas de vidro. Será que ele não pensou nisso não? Vai entender.
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– Tudo bem então, o que quer fazer agora? – perguntou ao se virar para mim.
Kate pegou minhas mãos e abriu um sorriso meigo que ela costumava dar com
seus dentes brancos e aquelas presas totalmente aparentes quando queria disfarçar
alguma coisa.
– Vou dar uma volta por aí.
Daí ela apareceu na minha frente, me impedindo de qualquer coisa.
– Não – disse num tom estranho.
John fez cara de nada, não entendo porque dela ter ficado tão tensa.
– Por quê?
Eu estava ficando bastante impaciente com ela.
– Porque acho melhor você ficar essa semana em casa, sem ir a lugar nenhum. A
cidade anda meio violenta, sabe como é – Kate me disse de última hora meio aflita
entreolhar com John andando em zigue zague.
O que deu nela? Porque fingindo se importar comigo agora? Eu vou onde eu
bem entender, a menos que meu pai não queira o que duvido muito, ele é super liberal,
jovem e sexy. Kate era péssima em mentir, ainda mais para mim e John. Aquela
desculpinha não estava fazendo sentido algum.
– Até parece que eu acreditei nesse seu papo ridículo. Não vou ficar trancada
em casa sete dias, sinto muito senhora – afirmei, dando as costas a ela já prestes a sair.
– Você que se atreva.
Ficou brava e foi atrás de mim com o seu olhar mortal de mãe desafiada, até
parece! Eu já estava com quase dezessete anos... O sangue subiu pela cabeça e a fúria
cresceu dentro de mim. Ter uma mãe problemática não é nem um pouco fácil.
Revirei os olhos pela milésima vez, de costas para os dois e evitei olhar para ela.
– Pode ficar emburrada, mas não vou mudar de idéia – acrescentou ela.
– Largue de ser ridícula – John retrucou a ela.
Saí de perto deles e fui até a escada para ir até meu quarto evitando ao máximo
qualquer discutição. Ela não havia se acostumado com o fato de que eu já me tornei
uma quase adulta sem ela. Tanto faz, eu não me importava em ficar em casa ou sair.
Tudo que eu queria de verdade naquele momento era um bom banho e dormir. Mas
não, eu já havia dormido demais na viajem, então pensei em ler um pouco. Na
escrivaninha, havia um livro: Alice no país das maravilhas. Mas eu não conseguia
passar da décima pagina. Que livro mais chato! Talvez porque tinha haver com meu
nome.
Brincadeirinha...
Andei pela casa, que era bem grande e confortável. E então, meio que quando
fui dar o quinto passo até minha suíte, ouvi passos de gente andando para lá e para cá.
Mas não era simplesmente ouvir passos de longe, parecia que havia gente andando em
cima de mim, ou melhor, em cima dos meus tímpanos. Com toda certeza eram eles:
Kate e John. Só que John tinha ido para a cozinha preparar alguma coisa e eu fui atrás,
já que não ia mesmo ler aquele livro.
– Não vai me ignorar, vai? – perguntei tentando esconder o sono profundo que
ridiculamente estava escancarado na minha cara de mal-humor.
Kate sorriu de longe, escorada na porta da copa.
15
John estava pegando algo que ele havia deixado cair no chão de um modo todo
desajeitado.
– Claro que não, Alice. Eu preciso beber... Comer alguma coisa – Kate
murmurou meio nervosa, corrigindo suas frases novamente.
Ele percebeu o quanto ela estava tensa, mas não disse nada. E o mais hilário, é
que minha pergunta foi somente ao John, porque foi ela quem respondeu? Oh God.
Daí de repente, de novo foi me batendo um sono tão profundo, e dessa vez eu
não me referia sono de dormir, era um sono estranho. Acho que eu estava prestes a
desmaiar. Fiquei zonza e tentei abrir os olhos para enxergar coisas ao meu redor, foi
em vão. Eu caí ali no meio deles e nem me lembro onde foi que eu fui parar.
Tudo novo de novo
u estava em cima de uma geleira de neve, tudo ao meu redor era gelo e
água. Levantei-me com os olhos ardendo devido ao frio e à luz
fascinante que batia diretamente nos meus olhos, meio sem jeito e
amassada... Fui levantando aos poucos e me deparei com uma paisagem de deixar
qualquer um boquiaberto. O horizonte do sol se pondo e aquele mundo de gelo em
volta. O mais incrível é que não estava tão frio assim. Ali possuía árvores floridas,
pedras gigantes e barrancos para se encostar normalmente. Estava realmente
confortável e não confortável pelo fato de não fazer idéia de onde eu estava, mas por
E
16
estar sentindo a paz que não sentia há tempos. Não sentia frio, pelo contrário, eu
estava ótima.
Melhor impossível.
Mas era só eu e o gelo ali naquele lugar imenso e sem ninguém para me ajudar,
ninguém para me explicar como fui parar ali, de fato. Eu não sabia para onde ir, o que
fazer. Olhei para os lados e não vi nada, ajeitei meu cabelo quando deu aquele
ventinho frio.
– Que lugar é esse? – retruquei a mim mesma, com a voz rouca devido ao frio
que eu não estava sentindo.
Senti um vulto atrás de mim de repente, fazendo-me automaticamente virar-me
junto.
– Está perdida?
Uma voz tocante surgiu atrás de mim. E então quando virei-me para ver de
onde surgiu aquela voz rouca e tudo mais, fiquei meio que em trance. Eu, por alguns
segundos, fiquei paralisada sentindo um pouco de medo daquele cara tão diferente e
altamente bonito. Virei-me tentando ver de onde vinha aquela voz maravilhosa e
assustadora novamente e lá estava o cara de novo. Quando eu me levantei tive a
impressão de estar em um sonho estranho e bonito. É que eu nunca tinha visto alguém
tão lindo quanto esse, mas seu olhar era arrogante e irritante. Ele era mais alto que eu,
tinha olhos super azuis, seus cabelos eram castanho claro com uns flashes claros, com
umas meras mechas bem claras, pele branca. Seu cabelo tinha uma forma de vida
própria, com umas mechas para cima e caídas fazendo o caimento perfeito dos olhos e
daquele rosto vigarista e atraente que ele possuía. Seu cabelo era incrivelmente
bagunçado deixando-o com a expressão facial bem curvada e bela.
Enfim, o cara é mesmo diferente de todos os caras que eu já vi.
Soltei um riso forçado e tentei ficar normal sendo educada na primeira
impressão.
– É, acho que estou – eu disse hipnotizada.
Ele me olhou sério com uma expressão marcante que era impossível de não
olhar e que me intrigava ao mesmo tempo. Como se ele estivesse jogando comigo,
impossibilitando-me de analisá-lo. Parecia que ele era dois caras ao mesmo tempo, e
tudo isso eu percebi só ao olhar nos olhos azuis dele.
– Aqui não é lugar para você, melhor ir embora daqui – disse apertando as
pálpebras.
Olhei bem no fundo dos olhos dele e fiz cara de cúmulo. Quem ele achava que
ele era para me dar ordens? Que sujeitinho metido à besta!
– Acho que alguém esqueceu a educação em casa por aqui... – ironizei ao dar de
ombros imitando-o por fim. Ele tinha uma expressão interessante de se observar, ele
possuía uma mania divertida do tipo que quando falava algo que não fazia sentido ele
meio que coçava a nuca de má vontade, eu pude perceber isso de imediato. Sou boa
com olhares das pessoas de primeira impressão.
Ele retribuiu a feição.
– Aqui não é lugar para Vamp – ele interrompeu cauteloso, só pude ouvir o
som de v no meio da palavra estranha que ele fez questão de engasgar e não terminar
de falar.
17
Fiz gestos com as mãos de não ter entendido ainda dando de ombros.
– Vam o quê?
Ele ficou sem jeito, repetindo aquela mania que eu havia percebido de coça a
nuca.
– Nada, esquece. Pelo visto você ainda não deve saber, que sacanagem – disse
num sorriso zombador, que sinceramente, me irritou bastante.
Fiz outra cara feia e desviei o olhar um tanto brava.
– Sei de quê? Você não é muito agradável, cara – deixei escapar.
Na maior sinceridade que eu tinha, estava usando isso com ele porque eu estava
cansada dessa história estranha de dormir o tempo todo, Kate esconder coisas de mim,
acordar no meio de um mundo de gelo... Coisas normais da vida, não?
– Calma, não quero brigar com você, nervosinha – ele disse, tirando a máscara
de idiota na mesma hora, fazendo com que minha birra com ele diminuísse um pouco.
Tentei mudar de assunto naturalmente para acabar com o climinha bobo.
– Como eu volto para casa? – perguntei.
Ele não respondeu minha pergunta de imediato, mas disse outra coisa estranha
que eu não entendi e não quis perguntar sobre o que era.
– Você parece assustada – ele murmurou encostando-se a árvore grande com as
mãos no bolso e totalmente despreocupado de um jeito relaxado também.
E não é que ele acertou? Ele tem toda razão, parabéns cara! Um ponto pra
você.
– É eu estou um pouco... – bufei de má vontade.
Ele se desencostou da árvore em que estava encostado e se aproximou de mim
meio que olhando diretamente aos meus olhos, que perto dos deles, eram como a
escuridão da noite. Mas sabe, ele parecia tenso também, apesar de mostrar-se relaxado
e pôr as mãos nos bolso, mas eu percebendo isso perguntei a ele o que ele estava
querendo dizer, mas pareceu envergonhado demais para me responder.
– Você deve estar querendo me dizer alguma coisa – eu insinuei.
Aquele sujeito então me olhou surpreso, parecendo gostar do meu jeito.
– Você é humana? – Ele perguntou, de modo que se sentiu mais aliviado
respirando mais forte depois. Eu logo fiquei encabulada com aquela pergunta tão
estranha e ridícula.
– Todos nós somos. Você, eu e todos – respondi o óbvio sem nem esperar o
meu cérebro gerar a resposta correta e racional. Então, ainda com o vento batendo em
nossos cabelos, ele pensou um pouco para responder e olhou para cima, ora depois
voltou a me encarar.
– É – murmurou se sentindo estranho por ter concordado.
No entanto, fiz cara de cúmulo maior que sua pergunta anterior.
– O quê? – eu perguntei com cara de apavorada, só piorando nossa conversa.
Ele não estava brincando.
Ora, desviou o olhar com aquelas sobrancelhas perfeitas e diferentes dos meus
olhos, não querendo com toda certeza entregar o jogo de que sou uma aberração pra
ele.
– Eu sei que você não é uma humana – ele sussurrou zombando de mim de
novo, soltando quase um sorriso largo ao perceber que não estava olhando pra ele.
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Daí eu o fitei.
– Escuta aqui, se você quiser ficar com as suas loucuras você fica. Mas não me
coloca no meio disso – então, perdi a paciência dessa vez. Eu não entendi porque ele
falava sobre coisas tão sem sentido e agia com naturalidade, ele não parecia alguém
normal. Deixava-me sem saber o que dizer, eu não me sentia a vontade perto dele, era
como se eu tivesse alguma coisa de errado. Como se ele soubesse mais de mim do que
eu mesma. Ele ficou atrás de mim e sussurrou baixo nos meus ouvidos.
– Não está com sede? – insistiu.
Quando ele disse aquela palavra, eu só pensava em alguma coisa que eu não
sabia o quê. Uma mistura de fome, de sede, de desejo, de dor. Uma explosão sem
sentido.
– Aqui só tem água gelada. Ficou maluco? Se eu beber qualquer coisa daqui,
posso ficar doente e morrer – eu exclamei nem um pouco calma.
Ele abaixou a cabeça e não conteve o sorriso, estando atrás de mim. Ele estava
realmente se divertindo a beça ao ver meu jeito estourado e careta.
– Ficar doente? Morrer? – nesse instante sua risada foi mais intensa.
– E que tal, Sangue?
Provocou-me novamente, dessa vez ele dizia algo totalmente sem sentido, mas
que automaticamente era a coisa que eu mais desejava, de fato. Essa foi à palavra certa,
– sangue. Nesse mesmo instante que ouvi, fiquei desesperada e velozmente tentei
atacá-lo
Sim, eu tentei atacá-lo! Eu não posso acreditar no que acabei de fazer ali. Olhei
para ele e logo valsei no seu pescoço sendo repuxado por sangue que me dava água na
boca só de pensar em sugar aquilo. Tudo bem, eu já brinquei de chupar meu próprio
sangue e fingir que era um morcego quando era pequena. Mas aquilo? Aquilo foi à
coisa mais estúpida e sem explicação que já fiz na vida. Então, quando eu estava
segurando-o pelo pescoço bravamente, olhei para aquela cena e soltei-o imediatamente.
E o engraçado é que aquele sujeito estava rindo.
– Droga, Que desejo de sangue!
Fiquei atordoada enquanto aquelas palavras saíam da minha boca.
Ele se defendeu.
– Foi exatamente o que eu suspeitei – ele disse sério, parecia que ele tinha medo
em seu olhar dessa vez, era uma mistura de medo e prazer em seus olhos azuis.
– Quer perder seu pescoço? – eu sussurrei ainda sentindo o descontrole dentro
de mim.
Passado alguns segundos, me dei conta que do que eu havia dito de novo.
Aquele lugar, aquele clima... Ele estava me atordoando muito.
– Desculpe, acho que estou ficando maluca, não sei o que estou dizendo, acho
que meu controle desapareceu desde que cheguei aqui. Eu vou embora – eu disse já
dando de ombros e com intenção de ir embora. Mas aí pensei: como vou embora de
um lugar pelo qual nunca estive antes?
Eu me afastei lentamente dele. Mas ele manteve o olhar fixo em mim sem
medo.
– Tudo bem, é normal para gente como você – ele hesitou.
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Aí que eu não consegui relaxar mesmo. Como alguém acharia o que eu disse,
normal? Ele falava tanto que eu não era normal. Que eu não era humana. Quando na
verdade o estranho dali era ele.
Virei em direção a ele e olhei profundamente em seus olhos na intenção de
saber.
– O que você sabe sobre mim que eu não sei? – perguntei.
Ele não desviou o olhar azul.
– Você quer mesmo saber? – ele hesitou de novo.
– Sim, muito.
Ele balançou a cabeça e respirou fundo dando a volta por trás de mim.
– Vamos lá então...
Começou a conversa que eu queria tanto saber, era a coisa que mais me
chamava atenção naquele momento. Afinal: acordar no meio do nada não é coisa
muito normal...
– Antes, eu posso te fazer uma pergunta? – ele pediu.
Mexi nos meus cabelos e ajeitei minha blusa acompanhando os olhos aonde ele
ia.
– Qual pergunta?
– Quando você nasceu, nasceu com os olhos amarelos ou avermelhados? –
perguntou.
Movimentei-me rapidamente e o encarei.
– Como você sabe disso? Meu tom era alto.
Nada do que eu dizia, era a forma que eu estava no meu estado normal, a cada
palavra dita por mim, era como se fosse outra pessoa, outra Alice.
Ele manteve o olhar frio.
– Calma. Eu vou te explicar. Eu já ouvi muito sobre você, você é uma espécie
de raridade extrema. Talvez você seja a única assim – ele murmurou, mas engoliu em
seco para não me deixar mais irritada, parecia que ele sabia como me acalmar, ele sabia
lidar comigo de algum modo, ele sabia o que me irritava e o que não me irritava, tudo
isso apenas em poucos minutos de conversa. Ele chegou perto de mim e sussurrou algo
do tipo:
– Você é uma Vampira.
Então, fiquei paralisada com aquela situação. Quando essa palavra chegou aos
meus ouvidos, eu não sabia o que sentir e o que dizer e então comecei a gargalhar. Até
que passou alguns segundos e eu pude por fim ver que ele não estava rindo e me
fitando, aí eu parei de rir. Vampira? Nossa, que engraçado! Ele era um sujeito tão
estranho. Falava sobre coisas idiotas com tanta seriedade...
– Como assim? Nunca matei ninguém, nunca voei, nunca tive nenhuma
característica vampiresca. Eu tenho coração e durmo! Essa coisa de Vampiros são
todas meras lendas, coisas de seriados para adolescentes e filmes de ficção – eu cravei
no peito o que dizia, foi uma espécie de orgulho do que eu estava dizendo ali.
Ele riu.
– É uma longa história. Eu não sei sobre isso direito. Só posso te informar que
com certeza há alguma explicação. Seus pais não te contaram nada? E, aliás, quantos
anos você tem?
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Ele me encheu de perguntas e dúvidas, falando coisas sobre mim que nem eu
mesma sabia, quer dizer, que ele achava que sabia.
– Eu fiz dezessete ontem, e sobre meus pais, eu tenho até me acostumado. Eles
não costumam me contar muitas coisas, John não é um pai muito sociável e de
conversa. Ele se preocupa, mas do jeito dele.
O que sentir com aquelas perguntas? E, aliás, afirmações consecutivas? Aí eu
parei pra pensar: porque estou contando essas coisas pra esse sujeito metido à besta? O
que está dando em mim? Vê se acordar, Alice Jones! Erga a cabeça e dê o fora daqui,
saia fora desse cara! – era o que meu cérebro me dizia, mas meu coração dizia que eu
devia ouvir cada gotícula de palavra vinda dele.
Ele sorriu de novo.
– Parabéns atrasado – murmurou.
Olhei para ele e fiz uma cara de cúmulo misturada com diversão diminuindo
um pouco daquela tensão toda que rolava entre nós. Cúmulo por fazer piada de algo
tão sério na qual ele afirmou. Diversão pela sua cara extremamente séria para fazer
piadas.
Ele levantou uma sobrancelha e seu cabelo ficou espalhado por sua cabeça.
– E quanto a morrer, me machucar, respirar, piscar, comer? – perguntei,
tentando ver lógica naquela conversa. Na verdade, tentando entrar na conversa dele
para ver até onde ele estava querendo realmente chegar com isso.
– Nada disso. Vampiros são imortais. Enquanto à relação de se machucar, isso
depende de cada dom de cada Vampiro. Eu não sei quais são seus dons, não sei nada
sobre seu tipo de Vampira. Que é único e estranho – sussurrou, fazendo careta.
“Interessante... Você tem provas de tudo isso que você disse?”
Agora quem zombava era eu.
– Está no livro de Bhaskara, o rei da magia que conhece cada espécie e cada
um. No livro, fala que vai existir uma Vampira única e outras coisas que não me
lembro, eu costumo ler, já que não durmo muito. Então fui ligando as peças e descobri
que é você. Eu não preciso te provar nada, você mesmo vai ver sanguessuga! Porque
acha que veio parar aqui? – ele tomou o pódio de zombaria de novo, sendo o irritado
da vez.
Acreditei e senti uma ponta de arrependimento.
– Bem... Isso é estranho. Como funciona esse livro?
Eu estava praticamente o subestimando, duvidando dele. Ele pegou uma
pedrinha de gelo que estava embaixo dele e a observou, logo me mostrando.
– É mais ou menos um livro guia. O livro é bastante útil para seres de outro
mundo... Seres estranhos e malignos.
– Tipo você – e deu uma risada sínica.
– Seres de outro mundo, você fala como se eu fosse uma deles. E pare com esse
olhar sínico que fica dando o tempo todo desde que cheguei aqui. E, afinal, quem é
você? Não. Melhor dizendo, o que você é? – perguntei.
Ele mudou sua expressão, ficando sério e preocupado.
Foi como se ele tivesse vergonha do que é. Como se não gostasse, algo assim.
Ele deu meia volta e se afastou, mantendo sua expressão longe e vazia observando
21
aquele paraíso lindo e maravilhoso, que infelizmente estava sendo habitado por dois
corpos sem ligação nenhuma.
Ele não respondeu.
Não consegui conter e por vez, fiquei preocupada também, mas com ele. Fui à
sua direção e o fitei de perto.
– Qual é o problema? – perguntei doce dessa vez.
– Eu não sou um urso panda – sussurrou ainda longe.
Liguei meus pensamentos um ao outro e cheguei à conclusão que talvez ele
também fosse um Vampiro.
– Você também é um Vampiro? – inocentemente eu perguntei.
Ele fez outra careta e me olhou com aquele olhar sincero que me fazia muito
bem. Surpreendentemente, ele abriu um sorriso de lado, achando aquilo engraçado pra
caramba.
Pensei em sua reação e logo tentei interpretá-lo.
– Eu disse alguma piada ou coisa assim? – retruquei ainda de frente a ele.
Seu sorriso foi um sorriso automático, daqueles que não se pode controlar
facilmente.
– Não, desculpa. É que sua pergunta foi tão inocente que achei hilário para
uma máquina de matar como você.
Máquina de matar? Ele me chamou de quê?
Fiquei obruscalmente irritada, muito na dúvida do que responder.
Daí então, aquele sujeitinho estranho veio em minha direção, pegou em minhas
mãos ainda com medo de algo, mas querendo demonstrar autoconfiança. De algum
modo estúpido, ele estava sempre com um pé atrás na minha presença.
– Eu acho que você me entendeu errado. Eu quis dizer que você não tem culpa
de ser assim, eu também não. Não temos culpa de sermos tão diferentes um do outro e
de muitos outros.
Eu compreendi o que ele quis dizer, não precisava de mais explicações.
– Antes, só me esclarece algo: Você é um humano ou um ser de outro mundo?
Ele riu.
– Sou humano.
Não senti nenhuma firmeza no que ele disse, mas deixei tudo quieto.
– Tudo bem, não se preocupa. O que eu quero mesmo saber é o que você é –
bufei.
Ele logo voltou com sua expressão triste e inconformada.
Eu dei meia volta e desisti.
–Tudo bem, não precisa falar.
Ele logo se espantou com minha mudança e pegou em minhas mãos
novamente, ora me fitando, ora sorrindo ou sei lá, zombando de mim. Durou pouco
tempo, pois ele se afastou com a expressão envergonhada e incomodada.
– Tem tantas outras coisas no mundo mais legal de se saber... Porque você não
vai dar uma volta? – perguntou.
Minha paciência não seria eterna, mas decidi entendê-lo, porque minha
curiosidade era a vencedora até então. Somente balancei a cabeça positivamente,
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mostrando que eu havia o compreendido. Ainda longe de mim e tenso, ele decidiu
falar de uma vez por todas. Eu só ascenti com a cabeça.
Mas ele revidou, pensando bem se deveria mesmo me contar.
Pausa de mais trinta segundos para que o silencio dos pássaros dominasse o
lugar.
Minha mente se tornou uma bagunça total. Não sabia quase nada sobre ele,
com certeza a maioria das coisas que são ditas sobre ele são mentiras ridículas. Não
sabia nada sobre o que estava prestes a me tornar, um monstro. Voltei aquele lugar,
parando de pensar.
– Isso aí que você é deve ser melhor que ser um vampiro – eu disse, quebrando
o gelo.
Dessa vez ele abriu mais um grande sorriso, me fazendo sorrir levemente
também.
– O quê? – perguntei.
Ele só balançou a cabeça de modo negativamente ainda sorrindo com suas duas
covinhas bonitas, como se eu fosse extremamente hilária para ele.
– E o que isso que você é costuma fazer? – perguntei tentando de novo que ele
falasse.
– Esqueça, eu não vou te contar.
Mas que droga, eu quero saber detalhadamente!
Minha raiva só ia aumentando a cada passar das horas. Só que aí eu decidi me
conformar, cruzando os braços logo de uma vez.
– Tudo bem, eu sei que você não vai me contar.
Exatamente, ele não contaria mesmo. Não me sentia absolutamente nada uma
vampira, eu até duvidei dele, mas na maioria de suas afirmações fizeram muito sentido.
Eu só não queria era dar o braço a torcer mesmo.
Ele fez que não com a cabeça e não se aproximou muito.
Segurei toda minha raiva dentro de mim. – eu já imaginava.
– O que você está fazendo aqui? Quero dizer, nós – perguntei voltando a ele de
novo.
Ele se interessou pela minha pergunta, mas ficava atento pra não deixar alguma
coisa escapulir. Será mesmo que eu era uma vampira? Mas e se eu for: vampiros
comem humanos, e ele é um humano. Ou seja...
Não tinha jeito, eu ia perguntar e perguntar muitas e muitas vezes, já que ele
começou com essa fantasia doida idiota.
– Eu costumo ficar aqui às vezes – respondeu.
Confesso que não acreditei muito no que ele respondeu. Apenas bufei e tentei
arriscar de perguntar o que eu estava fazendo ali, já que eu mesma não tinha a menor
noção. Pergunto ou não pergunto? Hm... Vou perguntar logo de uma vez!
– E o que eu estou fazendo aqui?
Ele pensou para responder, mas inacreditavelmente respondeu:
– Vou tentar ir pela lógica do que eu sei: Você é quase uma Vampira agora, na
verdade. Então qualquer humano que você ver na sua frente, ou até mesmo longe, vai
matá-lo e sugá-lo inteiro. E com isso você precisa de um dia de isolamento para se
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controlar e não matar ninguém. Seus pais então devem ser Vampiros legais – ele riu de
leve, não olhando para mim.
– Me deixa ver se eu entendi: A qualquer momento em que eu me transformar,
você vira purê de batata? – perguntei de um modo irônico.
– Exato.
Mas... Meus pais? Vampiros? Oi?
Senti um pouco de culpa por ter falado aquilo sem pensar, que podia mesmo
ser sério.
– O que meus pais têm haver com essa historia?
Ele ficou sério.
– Você não tem pai, nem mãe? – perguntou.
Revirei os olhos de má vontade – claro que tenho.
– Se você é uma vampira, com certeza seus pais são. A não ser que você seja
adotiva.
Impossível! Eu e John somos iguais na frieza e em quase tudo, e ainda sim
que seja quase impossível, eu me pareço muito com Kate no termo de aparência e só.
– Não, meus pais não são vampiros! Pelo menos, John... – e então, eu liguei os
pontos e comecei a ver lógica em tudo o que ele estava dizendo. Mudanças de países,
comportamento estranho de Kate, eu ter nascido com os olhos amarelos, Kate sumir o
tempo todo...
– Não é possível! – exclamei.
– O que foi agora? – ele perguntou um tanto irritado.
– Kate é uma vampira! Faz todo o sentido.
Ele franziu o canto da boca, preocupado com minha exclamação tão absoluta.
– Kate é sua mãe? – perguntou.
Eu só ascenti com a cabeça, sentindo dores no estomago só de pensar, imaginar
o que realmente estava acontecendo. Mas e John? Ele não é um vampiro! Eu tenho
certeza... Porque senão, ele poderia ter escolhido uma profissão melhor que a de um
xerife.
– E seu pai?
– Ele não. Tenho certeza que não...
Ele ficou confuso, mexendo em seus cabelos arrepiados com volume perfeito,
causando o reflexo claro em suas madeixas lisas lindas.
– Mas isso não é possível, para ter um filho... A não ser que... Já sei – ele sorriu.
– O quê?
– É você mesmo... A vampira única e rara. Seu pai é um humano e sua mãe é
que é a vampira. Portanto, você é a vampira que falava no livro de Bhaskara. Você é
metade humana, metade vampira. Uau!
Meu coração parou.
– Então é isso? Existe essa coisa toda de vampiros? Ok, próxima piada, por
favor.
–Isso não faz muito sentido para mim, para ser bem sincera – admiti, tentando
não falar sobre meus pais desse jeito pra um estranho.
– Como você sabe tanto sobre isso? – perguntei, me interessando pela conversa.
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Ele se acomodou na grande árvore que havia perto de nós, com cara de
fingimento.
– Eu sou historiador de coisas sobrenaturais – afirmou.
Tentei analisá-lo para ver se realmente fazia sentido, mas eu não conseguia
analisá-lo.
– Existe uma legião de vampiros que costumam usar seus dotes para o mal-
extremo. Existe também um vampiro que é metade bom e metade ruim. Uns dizem
que ele é bom, outros que ele é do mau, mas todos sabem a verdade: ele é muito
poderoso, de acordo com um capítulo que eu li que falava sobre isso. Nunca o
conheci, nem quero. Não gosto de caras como ele – ele deu a palestra chata, mas com
total sinceridade.
Por fim, eu fiquei parada e com tédio.
– Então somos dois?
Ele balançou a cabeça positivamente e não prestou atenção em mim.
– Qual é seu nome? – perguntei.
Ele sorriu.
– Nossa, é mesmo. Qual é seu nome, vampiralha? – ele bufou, tomando uma
breve intimidade me colocando um apelido.
– Meu nome é Nickolas – ele disse, perguntando o meu nome logo em seguida.
Abri meus olhos de forma normal e botei os dois em direção a ele.
– Alice – eu bufei o meu curto e simples nome, comum também, nada raro.
Ele riu ainda um pouco distante.
Olhamo-nos por cinco segundos e ele virou o rosto. Eu tinha a impressão de
que ele me evitava, ele não mantinha o olhar profundo nos meus olhos, ele de algum
modo, desviava seu olhar azul e eu fazia exatamente o mesmo, eu o evitava o máximo
possível. A cada segundo mais próximo dele, meu desejo se triplicara.
Hesitei.
– Você sente vontade de matar?
Ele se encabulou com minha pergunta impulsiva e um tanto ridícula.
– De onde você tirou isso? Não sinto desejo de matar ninguém – gargalhou de
costas, quando percebeu que eu estava olhando, ele disfarçou e ficou sério, em vão.
– E eu? Terei vontade de matar todo mundo? – ironizei.
Fiquei irritada, aumentando meu tom de voz de galeio em galeio.
– Sentirá dores no corpo, e seus instintos enfraquecerão de vez em quando –
ele explicou novamente mantendo sua invejada paciência.
– Você fala com tanta certeza! Por um acaso conhece outros vampiros?
– Infelizmente.
– Porque infelizmente, se você os estuda?
Ele ficou estranho e sem saber o que responder baixando o olhar sem dizer
nada.
– Você por um acaso saberia me dizer quais são meus dons? – perguntei
inocente, enchendo-o de perguntas.
– Eu não faço idéia. Isso é você quem vai descobrir.
Então, o silencio dominou aquele mundo de água e gelo, um paraíso.
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– Você vai ficar por aqui também, Nickolas?
De algum modo eu queria que ele ficasse, afinal, ele era o único que tinha a
solução para os meus problemas e as respostas para as minhas perguntas. Mas por
outro lado... Ele é insuportavelmente irritante.
Ele ficou assustado e com a expressão confusa. Quando me dei por mim do
quão ridículo e precipitado aquelas múltiplas perguntas em apenas uma frase foram,
fiquei com vergonha e não sabia onde enfiar a cara.
– À noite eu vejo o que fazer.
Ele ajeitou a sua blusa e coçou sua nuca.
– Eu vou passar a noite aqui também, mas amanhã, quando você se transformar
eu não vou estar aqui para virar lanche – ele murmurou.
Então, fiquei com raiva de mim mesma, eu não estava nem um pouco preparada
para me tornar isso.
“Mas e hoje?” perguntei.
– Acho que posso sobreviver – Ele brincou, mas ficou sério de repente.
Ficamos em silêncio por alguns meros instantes. Sinceramente, eu não fui muito com a
cara dele.
– O que você pretende fazer agora? – perguntei entusiasmada, tentando me dar
bem com ele.
Tentando.
– O que você quiser.
– Não sei. Tentar falar sobre esportes, futebol ou algo do tipo – sugeri.
Ele fez cara de cúmulo e se segurou para não perder a paciência. Eu pude
perceber.
– Eu acho melhor você ficar calada por algumas horas, isso seria perfeito –
disse, zombando de mim.
Não consegui ter alguma reação sequer diante do que ele disse. – mas de uma
coisa eu estava certa – ele me deixava completamente sem graça e furiosa.
– Prove que sou uma vampira – ordenei impaciente.
Nickolas me olhou e fez cara de raiva. Sua expressão era de vontade de arrancar
o meu pescoço, mas não. Ele só revirou os olhos e sorriu sinicamente.
– Não tenho que te provar nada.
O sangue subiu até o ultimo fio de cabelo que eu tinha, deixando-me calada
sem conseguir dizer nada. Só conseguia bufar e sentir raiva o tempo todo.
– Tem sim. Não é justo! Então não acredito em você.
– Eu não ligo. Problema seu – sussurrou.
Saí de perto dele e fui procurar algo para me encostar e dormir. Só achei uma
enorme árvore e uma pedra gigante que acompanhou o lugar, pedindo para que eu me
encostasse ali e dormisse logo de uma vez.
“Vampiros” Eu zombei, com um riso sínico estampado no rosto, já com os
olhos preparados para dormir e só acordar no dia seguinte. A tarde acabou, e o sol
nasceu naquele lugar gelado, florido e com um sol lindo ao mesmo tempo. Eu acordei
não me sentindo muito bem, com o estomago revirando e minha aparência estranha, eu
pude sentir. A última pessoa que eu queria ver era ele.
26
Então, levantei-me despreocupada e ainda zangada. Morrendo de fome. Ainda
me ajeitando, levei uma pedrada na cabeça. E advinha? Era ele. Nickolas havia dormido
em cima do ultimo galho da árvore que estava ao lado da grande pedra cinza em que eu
dormi. E eu nem o vi, nem imaginei... Então, Nickolas lançou uma pedrinha na minha
direção. Quer dizer, em direção da minha cabeça. Quando a pedra veio em minha
direção, lancei-a quilômetros de distancia sem pensar. Foi tão rápido, aquilo foi
sobrenatural. Olhei para ele percebendo o quanto aquilo foi estranho e ele sorriu
zombando “Eu te avisei, você é uma vampira” Preferi não olhar na cara dele e decidi
ignorá-lo. Mas ele quis contrariar de novo, aparecendo na minha frente do nada. Eu
me assustei com aquilo, sério.
– Oi, vampiralha. Conseguiu dormir?
Revirei os olhos. Como ele é sínico!
– Dormi – respondi com frieza.
Mas então, ele decidiu agir sério. Olhou-me como quem estava arrependido.
Então, ele me parou pelos braços e me fitou.
– Desculpe por ontem, eu pensei sobre e vi que não fui legal com você – disse.
– Agora sou eu quem deve desculpas. Você não viu o que eu acabei de fazer?
Duvidei de você o tempo todo e agora essa droga acontece.
Ele ri.
– Seria legal ser um vampiro... – murmurou, soltando-me.
Olhei para ele e persisti.
– Sério? – me entusiasmei.
– Não – e fez aquele olhar sínico de novo.
Eu reviro os olhos, que por sinal estavam ardendo muito. Olho para ele e vejo
que ele não esta rindo, que está super sério dessa vez. Então, meus olhos começam a
doer pra valer.
– Ai!
– Que foi? – ele pergunta realmente preocupado... Levando meu queixo ao
encontro de seus olhos com a sua mão direita e quente.
– Meus olhos... Estão doendo muito – digo, colocando a mão neles.
Ele tira meus dedos dos meus olhos e leva os dele nos meus. Chega bem perto
e se assusta.
– Nossa.
– Estão machucados?
– Não é isso...
– Então é o quê? – pergunto impaciente.
Ele se afasta e prepara para me dar alguma má noticia com toda certeza.
– Você está se transformando – ele conclui.
Transformando-me? Que ótimo... Estou me transformando em uma
sanguessuga maluca! Perfeito, hein? Que maravilha! Maravilha é o caramba. Não
pode ser. Eu não quero. Não é! A sensação era maravilhosa! Eu sorria, ficava mal,
tudo ao mesmo tempo. Eu queria sair por aí correndo, queria matá-lo, ninguém me
segura mais.
– Que ótimo. É agora que eu pulo no seu pescoço e te mato? – eu ri.
– Mais ou menos – ele também ri.
27
Então, Nickolas me surpreende. Puxou-me muito delicadamente para encontro
dele, me levando para o topo da montanha, me puxando com tal rapidez engraçada.
Então, o lance dos vampiros: era verdade...
Eu não consegui decifrar aquela cena, de verdade. O que eu vi foi apenas que
estávamos no topo daquela montanha linda, apenas isso. Eu estava sem falas, não
esperava muita coisa naquele dia. Quando olhei para o lado, lá estava ele, com aquele
jeito inibido e original que ele tinha, sem forçar nenhuma gota.
– Eu não entendo você – eu disse um pouco emburrada.
Ele se aproximou de mim e olhou para cima, o céu estava bonito, com muitas
nuvens prestes a cair uma tempestade, eu achava bonito quando o céu ficava cinza, era
como o fim do mundo, com todos vivos e vivendo normalmente suas vidas. Dia após
dia, semana após semana, meses após meses, anos após anos. Morte após morte. Era
essa a vida que todos levavam.
– Não tem que me entender – ele disse, ficando com a expressão de seu rosto
séria e expressiva a cada conversa que desenvolvia entre nós.
Fiz cara de cúmulo e considerei aquilo como uma revanche.
– Desculpe, eu sei que não estou sendo a melhor companhia do mundo – ele
ascentiu.
“É bom que você saiba disso” Pensei com uma pitada de raiva dentro de minha
mente. Eu não disse nada, apenas virei o rosto e fiquei em silêncio. Ele percebeu a
minha raiva. Eu não conseguia entendê-lo, ele era como um enigma. Quanto mais eu o
conhecia, menos eu sabia. Nickolas era o cara mais estranho e misterioso que já
conheci em toda a minha vida. Se é que agora posso chamar de vida.
– Tenho dezenove anos – ele olhou para baixo e manteve a expressão calma.
Fiz uma cara de surpresa e decidi parar de ignorá-lo.
– Quantos anos você tem agora? Você tem certeza que você tem dezenove? – eu
perguntei, educadamente. Nickolas ficou mais sério ainda.
– Na verdade, tenho vinte. Mas prefiro ser reconhecido por dezoito anos, é
assim que todos acham que eu tenho, nos colégios, bares, clubes, amigos, enfim – ele
disse.
– Vinte? Eu te dou dezenove, com certeza.
Finalmente fiquei a vontade com ele e me soltei um pouco. Ele me olhou com
cara de brincalhão, uma expressão nova.
– Eu sou quatro anos, mais velho que você – ele zombou de mim pela milésima
vez.
Pensei um pouco em alguma forma de me vingar dele na resposta.
– Eu sou imortal – eu finalmente abri um sorriso largo, aceitando os fatos.
– Vampira atrevida – ele disse e não sorriu junto comigo.
Era como se ele fosse Vampiro e eu humana. Ele agia de uma forma estranha,
ele não parecia um cara normal quando se comunicava comigo. Era como se qualquer
gesto que eu desse, ia o estimular um desejo que sugar o meu sangue e me matar. Era
eu quem tinha que me sentir assim. Mas não, relacionado a ele, tudo ficava ainda mais
confuso. Também tinha o fato que a Alice de hoje, não seria mais a de amanhã. Eu me
tornaria outra Alice, com outra personalidade, outro estilo de vida. Isso me deixava tão
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tensa. Abaixei a cabeça, cheguei perto de um mini barranco que havia por lá e me
sentei.
– Quantos dons você acha que eu terei? – sussurrei na pergunta.
Eu ficava o fitando para entender qual era a dele, de fato. Ele foi atrás de mim e
se sentou ao meu lado, me surpreendendo pro lado bom.
– Eu não sei, eu nunca me interessei sobre você– disse.
Eu fiz quase que uma careta.
– Quanto você acha que eu tenho?
Ele fez um movimento com os olhos pensando na resposta.
– De acordo com sua espécie, deve ser alguns bons – ele finalmente abriu um
sorriso largo, com covinhas que era muito bonito de ficar vendo, era contagioso, me
dava vontade de sorrir também. Infelizmente era raro ver aquele sorriso largo e sincero.
Ele mal sorria, ele não ficava a vontade com a minha presença. Eu então olhei para ele.
Ele ficou muito surpreso com a minha reação, eu pude perceber.
– Espero que isso seja algo bom – eu murmurei.
Ele ficou sem jeito quando respondeu. Nickolas se afastou e olhou para o céu.
– Você costuma conviver com humanos, eles são tão sortudos...
– Eles?
– Nós. Somos sortudos por não ser como você, uma maquina de matar – ele
corrigiu.
Ele se levantou e não me deu tempo de responder. Perfurou o gelo apenas com
murros, que sinceramente, nem pareceu que ele estava fazendo força. Vinte segundos
depois, ele estava lá de novo na minha frente, com alguns tipos de animais marinhos na
mão, acho que estavam mortos.
– Tenho uma péssima notícia para te dar – eu disse, me levantando também e
entortando o canto da boca.
– Eu odeio peixes e qualquer coisa que venha do mar – confessei.
– Eu sei, eu não trouxe para você – ele me cortou completamente.
– Como assim você sabe?
– Nenhum vampiro gosta – completou, colocando-os no chão, de modo bruto.
Senti vontade de atacá-lo dessa vez, acabar com ele.
– Eu não sei se isso faz parte da transformação, mas não sinto fome e você não
está facilitando as coisas. Além do mais, porque eu não estou sentindo desejo por você?
Ele deu alguns passos para o lado direito, se afastando de mim normalmente e
sorriu. Eu havia me esquecido desse detalhe. Ele me fitou sem graça.
– Que ótimo, então eu sentirei vontade de matar?
– Por enquanto, não – ele esclareceu.
– Perfeito, droga – eu disse, olhando perdidamente naqueles olhos diferentes
dele.
– É tão legal você não estar me atacando. Eu acho que tem alguma coisa errada
aqui – ele disse consigo mesmo, segurando o máximo o sorriso largo.
Eu me intrometi no seu momento eu.
– Enquanto você estiver bonzinho, eu vou pensar no se caso...
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Ele ficou parado de repente, me observando, olhando cada piscar de olhos que
eu dava. Confesso que me senti estranha e completamente desconfortável. Tentei
arrumar alguma maneira daquilo acabar o mais rápido possível.
– Você dorme? – eu perguntei quebrando qualquer espécie de clima.
– Lógico. Dã.
Ele desviou o olhar, como eu esperava e desejava que ele fizesse.
– O que vai ficar fazendo enquanto eu dormir? Vai dormir também?
– Credo, como você pergunta! Eu não sei, mas quando você acordar, eu não
vou estar aqui. Eu prometo – ele dissera com tal educação e meiguice estranha.
– Tudo bem – eu disse encerrando a conversa, não estava com muita vontade
de conversar com ele, meu estado nervoso estava um pouco descontrolado. E, aliás,
como ele mesmo disse, eu pergunto demais.
– Eu estou indo, é melhor você dormir, amanhã será um dia e tanto.
Ele se virou com aquelas costas compridas e curvadas, de modo que mostrava
sua magreza e alguns meros músculos junto. Ele não era um cara muito forte, era um
cara magro, com músculo normal, nada exagerado, e alto.
– Não – eu fui até ele e o virei de frente para mim, mudando de idéia de
repente.
– Fica mais um pouco, quero saber mais, tenho tantas dúvidas – ele ficou
desconfiado com a minha atitude. Ele não esperava aquela minha reação.
– Tudo bem, como você quiser – ele se sentou ao meu lado, acho que ele sentiu
pena de minha expressão pidona, com cara de abandonada e sem saber de nada.
– Eu sou uma Vampira. Mas não me sinto como uma. Eu não tenho poderes
nem nada, isso soa tão estranho, eu não estou sabendo lidar com isso, Nickolas – eu
fui começando o assunto.
– Alice, eu vou te explicar uma coisa... Você vai descobrir cada dom aos
poucos, com o tempo. Amanhã, com certeza, você vai notar alguma diferença em você.
Esses sete dias serão talvez, um bom tempo – ele concluiu.
– Você sabe de tanta coisa, às vezes eu sinto como se você fosse bom demais
para ter paciência comigo, isso é estranho, eu não sei explicar.
Eu me sentei, já que ele estava sentado, me aproximei e fiquei frente a frente
com ele, de modo com que cada diálogo, eu me sentia mais próxima e a vontade de
estar ali com ele, descobrindo coisas sobre mim e sobre todos ao meu redor. O grande
problema é que eu estava nos últimos instantes de ser humana. A partir daquele dia, eu
já não seria mais humana e a Alice normal. Eu me tornaria mais possessiva e cautelosa,
principalmente agressiva e anti-social. Eu não pretendia matar ninguém. Mas na real,
eu só acreditaria vendo.
Eu me levantei, com intenção de procurar alguma coisa para fazer. Ele se
levantou logo em seguida, com medo do que eu estava prestes a fazer. Cada gesto que
eu dava, era uma ameaça a ele.
– O que foi? – ele perguntou, tentando entender o que se passava comigo.
– Estou muito entediada. Aqui é tão lindo, quero fazer alguma coisa nesse
paraíso. Algo diferente e bem doido – eu hesitei, fazendo praticamente um pedido
estúpido.
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– Alice, ficou maluca? – Nickolas me cortou de querer qualquer coisa e de
principalmente conhecer a minha espécie estranha.
– Eu não quero fazer coisas doidas para sempre, é só hoje. Esses são meus
últimos instantes de humana, Nickolas – eu pedi, com aquele olhar que sinceramente
pareceu que funcionaria, eu, aliás, estava exuberante.
– Você tem toda razão – ele se deixou levar, pegando minhas mãos e me
levando com ele com muita delicadeza – que eu mal podia sentir – para perto de um
buraco profundo de água gelada. Fiquei completamente surpresa com aquele ato dele.
Pegar minhas mãos, eu não conseguia entendê-lo de jeito nenhum, eu desistira.
– Quer mesmo entrar? Não sei se isso é uma boa idéia – ele me olhou,
confirmando, não dando mais nenhuma palavra sequer.
– Eu tenho certeza. Mas espere, eu consigo respirar debaixo d’água? –
perguntei.
Nickolas teve que virar o rosto para gargalhar.
– Você é uma vampira, não está se transformando na pequena sereia – disse
rindo.
– Preste atenção – ele me puxou para encontro a ele, inusitadamente nossos
rostos se colaram.
– Não tente fazer nada de errado, eu estou confiando em você, se for preciso eu
não vou pensar nem duas vezes para tentar te matar, eu falo sério.
– Me matar não deve ser algo muito fácil – eu retribuí, olho no olho.
– Você ainda não se transformou, no entanto você ainda é humana, lembre-se
disso.
Eu, por vez, fiz cara de cúmulo.
– Então porque está com medo de que eu faça alguma coisa? – o confrontei.
Nickolas me ignorou e ficou estranho.
– Isso não importa – murmurou ajeitando sua regata.
Ele me puxou para perto dele. – segurou minhas mãos, e me levou para o
buraco com água gelada. A sensação era estranha, mas confortável ao mesmo tempo.
Era tudo tão incrível, havia várias coisas exóticas, fizemos acrobacias, teve um
momento bom, o melhor de todos. Foi quando eu estava embaixo dele na água,
completamente confortável. Encostei meu nariz no dele e brincamos por alguns
instantes. Pela primeira vez, eu senti que ele possuía algum sentimento por mim que
não seja nojo, raiva ou desejo de morte. Depois de algum tempo, voltamos. Ele me
colocou com toda leveza no chão de gelo. Ele me tratava como se eu fosse uma
humana sensível, alguém indefeso. – mal ele sabia o que eu era de verdade, mal eu
sabia.
– Pronto. Não foi tão ruim assim, foi? – perguntei, com uma expressão de
ansiosa.
– Legal – ele disse e sorriu amarelo, tentando ser educado.
– Basta por hoje – e se levantou.
Eu concordei com a cabeça, afinal: já estava completamente escuro ali.
– Eu vou dormir agora.
Eu me ajeitei naquele canto e fechei os olhos. O céu mudou de cor, se tornando
noite bem negra. E com aquelas nuvens intensas brilhantes acinzentadas.
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Já era manhã. Meu sono foi interrompido por uma dor enorme.
Senti todas as veias do meu corpo se repuxando, uma dor imensa, meus olhos
mudavam de cor a todo o momento, os pêlos de meu corpo, eu sentia que eles estavam
caindo, se soltando de mim aos poucos. Os meus ossos estavam se tornando duro
como uma pedra. Meus dentes, crescendo as presas, meu cabelo também cresceu e
ficou extremamente liso em cima e ondulado nas pontas, com um tom mais mesclado
claro. Eu não conseguia controlar meus pensamentos, tudo ao meu redor estava mais
nítido, os sons estavam duplamente mais ampliados. E o pior de tudo, eu estava com
uma sede imensa, a única coisa que estava em minha mente, era – sangue – eu não
consegui me controlar e comecei a ter uma crise de dor, transformação e desejos
incontroláveis.
– Olha só quem decidiu acordar – Nickolas disse, sendo interrompido por uma
cara de surpresa hilária. Ele estava assustado e com um olhar diferente, ele não sabia o
que fazer a me ver monstruosa daquele jeito. Ele então ficou imóvel e quieto como se
eu fosse uma cobra árabe e ele estava fazendo uma dança para me hipnotizar. Ah, tenha
dó, qual é!
Mas que droga, ele me prometeu que não estaria aqui quando amanhecesse.
Vou tentar explicar como eu estou me sentindo.
Imagine que está sem comer por dois dias. Ok, agora de repente aparece alguém
caminhando perto de você na maior inocência e sorrisos com um bolo de chocolate
bem farto. Sentiu? Não, você nem imaginou... Ser uma vampira:
– É muito pior que isso.
– O que tem de errado comigo? – perguntei, num tom mais alto do que o
normal e desesperada. No mesmo instante, Nickolas fez um espelho de gelo para mim.
–Talvez isso ajude – ele disse de boa vontade.
– Que diabos são isso? – Eu quase que gritei, rindo e brava ao mesmo tempo.
Meu rosto estava perfeito, sem nenhuma falha, meus dentes laterais estavam
pontudos, meus olhos – vermelhos – Meu cabelo, brilhante e perfeito.
Meus lábios estavam rosa escuro. Eu estava outra. Mas ao mesmo tempo, Alice
de sempre. Olhei para ele e não consegui ter reação alguma.
– Achei que era impossível você ficar mais bonita – ele sussurrou consigo
mesmo, talvez com a intenção de me acalmar. – eu pude ouvir perfeitamente o que ele
havia dito em segredo, consigo mesmo. Eu estava a mil, e me afastei dele. Eu estava
sedenta demais, uma possível cena não saía da minha cabeça, – a morte dele.
Fiquei tensa e evitei olhar pra ele. Ele então se posicionou à minha esquerda.
– Você está estranha, o que está havendo? – perguntou inocente.
– Saia de perto de mim agora – eu respondi totalmente fria com a voz
demoníaca.
Ele não se afastou e se aproximou de mim, como eu não esperava, de fato.
Minha voz, meus olhos, meu rosto... Tudo era tão feio! Tão assustador.
– Você está querendo morrer ou algo do tipo? – perguntei irônica.
Ele abriu mais um daqueles sorrisos irônicos.
32
– Não, eu só acho que deveríamos tentar caçar... – ele disse, me chamando para
fazer aquilo que eu mais queria naquele momento, exceto por sugar todo o pescoço
dele e acabar com o pouco sangue que ele possui, é claro.
Fiz uma careta hilária que só não sei descrever perfeitamente por não estar me
vendo e tentei disfarçar aquele sentimento estranho que estava me consumindo por
inteira.
Como assim? Um vampiro indo caçar com um humano? Não...
– Como sabe que eu estou sedenta? – perguntei de má vontade.
Ele ficou indiferente, com uma expressão tranqüila. Que, aliás, parecia muito
que ele estava bastante tenso, mas ele disfarçava bem. Até agora eu sabia que ele não
ficou tranqüilo em nenhum momento, eu senti sua tensão em todos os momentos que
estive perto dele.
– Você devia ficar calada e ir caçar.
Eu me virei de costas já mostrando a língua em seguida, para que ele não visse.
– Eu nunca cacei antes, não sei o que fazer – eu admiti.
– Você vai saber o que fazer – ele disse, me confortando.
Então quando chegamos perto do mundo de paraíso lindo e tudo mais, pulei
dentro daquele mundo de água gelada que estava super gelada e eu só sentia cócegas.
Podia enxergar tudo com aquela água cristalina e azul, aliás. Quando achei um urso,
fisguei e o chupei inteiro sem pensar nem duas vezes. Como eu me sentia forte e
melhor!
Voltei sorrindo até as orelhas, já ele ficou meio sem jeito e se aproximou de
mim, colocando seus dedos no canto de minha boca esquerda retirando uma gota
grande de sangue.
– Muito melhor – e franziu o cenho.
Olhei com cara de cúmulo para ele e tentei não demonstrar a minha timidez
exagerada e um tanto hilária, pra falar a verdade.
Ele continuou na dele.
– Pelo visto está satisfeita. Não vai querer me atacar, certo? – perguntou.
Nickolas me olhou.
Eu sou uma Vampira, ele é um humano. Eu sou fria, ele é quente. Ele é
humano, eu sou metade. Quando nossos rostos se encontraram e nos aproximamos, eu
fechei os olhos com intenção de sumir dali. E então senti umas cócegas no maxilar e
fui abrir os olhos para entender o que foi aquele vulto que surgiu dentro dos meus
olhos ainda por cima.
E num passe de mágica, Nickolas não estava mais comigo.
O que foi aquilo? Será um sonho? Pesadelo...
– Eu sei que você está aí.
Eu olhava ao redor, tentando achá-lo. Ouvi atrás de mim um sussurro breve
que não queria dizer nada, mas só me fazer sentir que estava ali. Quando ouvi aquela
voz, meu coração parou. Foi então que eu me entreguei e retribuí a brincadeira de mau
gosto, desaparecendo com minha super-agilidade vampiresca. Eu apaguei mais uma
vez, perdendo completamente minhas forças. Eu já estava até me acostumando com
esses apagões do nada.
– Alice, acorda.
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Ouvi a voz de Kate me acordando se destacando em minha mente confusa.
– Kate... – foi até mim com um olhar de plena culpa e me deu um abraço.
– Então, como foi passar a noite sozinha no meio de todas aquelas geleiras? –
ela sorriu.
– Sozinha? – não a contei sobre Nickolas.
Eu estava com pleno ódio dela, claro. Tantas coisas que ela me escondeu minha
vida toda e agora vem com esse rosto culpado pra cima de mim, qual é. Ela me
escondeu por tanto tempo que eu sou uma vampira, quer dizer, metade vampira. Com
toda certeza ela escondia muito mais.
– Descobriu algo sobre você? – ela queria muito saber, eu pude perceber cada
movimento que ela dava, era parecido com uma respiração, mas não era. Ela queria que
eu descobrisse sozinha, não queria me contar de nenhuma maneira. Talvez não fosse
bem assim do jeito que eu estou pensando, mas de qualquer forma...
– Sei de tudo... Porque não me contou esse tempo todo? Você é ridícula. Sério.
E o John? Com toda certeza ele não sabe, sabe? Claro que não, né. Você faz questão de
esconder seus podres de todo mundo e age com a maior cara de pau possível –
perguntei e afirmei plenamente séria, vendo que o “sangue” nela estava pulsando.
Os olhos dela se preencheram de vampirismo e ela meio que me atacou.
– Não fala assim comigo – e rugiu.
Aquele momento era a hora da verdade, era a hora de muitas explicações. Foi
tão estranho vê-la com os olhos daquela cor vampiresca, com os dentes pra fora e
ainda por cima, dando uma prensa em mim.
– Não... Desculpe-me – e me soltou arrependida.
Eu me segurei para não demonstrar o medo ao vê-la com aquele rosto
demoníaco.
– É uma longa historia. Eu e seu pai nos envolvemos e então eu fiquei grávida
de você, mas eu não consegui transformar John, porque na verdade não era o que eu
realmente queria fazer. Então, preciso que você mantenha segredo... Se John sonhar
que vampiros existem, ele vai pirar. Alice... Prometa para mim, por favor, que você
nunca vai contar a ele? –
Kate estava a mil com toda essa situação humilhante e completamente estranha no meu
ponto de vista.
– Não prometo nada. E quando prometeu a ele que sempre seria fiel em
qualquer circunstancia... E então? E você ainda quer que eu te prometa algo? Por favor,
você. Tenha dó, como você pôde. E a sinceridade? Onde fica? Que ótimo que não
estão mais juntos... Quero que saia de casa, quero que nos deixe em paz.
Os olhos dela se enchem de lagrimas, mas ela não chorou.
– É tão fácil falar. Você não sabe um terço do que eu passei. John é
complicado. Acha que não tentei contar toda a verdade? Acha que não tentei? Não
adianta nada agora. A verdade é: você é uma vampira, eu sou uma vampira e seu pai, o
John... É um humano que odeia coisas sobrenaturais. Quando eu decidi contar a ele,
ele chegou a casa estranho dizendo que encontrou três corpos na beira do rio de Port
Angeles com furos no pescoço e começou a ficar irritado de um modo que a coragem
que estava dentro de mim desapareceu muito rapidamente. Também dizendo que iria
34
descobrir e que iria acabar com a raça daquilo. Sabe como doeu o ver falando daquilo?
Aquilo sou eu. Somos nós! E...
– Kate, pare de falar, agora não tem mais jeito – eu concluí vendo-a daquele
jeito, enxergando que ela tinha uma razão no meio de todas as versões da situação, eu
não podia julgá-la daquele jeito, não mais! Eu sou uma vampira agora, um monstro,
nada mais importa.
– E seus dons?
– Eu não sei direito, eu não descobri nenhum, só a minha aparência que
mudou.
Encarei-a, estava escuro onde estávamos. Meio que na penumbra.
– O que eu sou? – perguntei, já sabendo da triste resposta.
– Não está mais que claro? – ironizou ela.
Pisquei mais rápido que o normal.
– Sei que sou vampira, mas quero saber mais sobre o monstro que me tornei –
e fiz expressão de tensão.
– Não prefere se sentar? – perguntou.
Fiz que não com a cabeça e pedi que me contasse tudo logo de uma vez.
– Ok, vamos falar logo sobre isso. A espécie dos vampiros, quer dizer, a nossa
espécie é a mais antiga entre todo o resto. – Havia um pedaço de hambúrguer em cima
do móvel branco, que não terminei de comer há alguns dias, Kate o pegou.
– Está vendo isso? – mostrou-me o hambúrguer. Fiz que sim com a cabeça.
Observou-o por algum tempo, eu também fiquei observando. Aproximou seus lábios
lentamente até o hambúrguer e o afastou novamente, aproximando o hambúrguer do
nariz, deu uma longa farejada e fez uma tremenda cara de nojo, pavor.
– Tudo que antes, considerávamos comida do paraíso, do prazer, agora que
somos vampiros, consideramos como lixo, a comida, o chocolate, a torta, o refrigerante
que causavam delírio, passará a causar nojo e pavor. – E abocanhou o hambúrguer.
Enquanto mastigava-o, suas mudanças de expressão eram assustadoras.
– Tem gosto de merda de elefante – e cuspiu o pedaço que estava mastigando,
de forma obrusca.
Eu zombei.
– Como sabe? Já comeu merda de elefante? – perguntei.
Ela revirou os olhos. – É só modo de dizer.
Andou de um lado para o outro e continuou. – Como pôde ver, comida de
humanos não são mais comestíveis, não são suficientes para sobrevivermos, pelo
contrário, se decidir comer comida humana, seu novo corpo irá rejeitar, causando
mudança de cor, vazamento de sangue por qualquer parte do corpo e até mesmo
vômito. A comida agora é outra, é... – Antes que ela terminasse, completei a frase por
ela. – é sangue.
– Que bom que sabe.
– O que é capaz de nos matar? – perguntei. Kate acariciou o quadro gigante. –
é um erro dizer que somos imortais, porque apesar de não morrer como uma pessoa
normal, que vai pro céu ou inferno e blábláblá, nós morremos sim, de varias formas. –
ela parou pra pensar. – várias não, de algumas formas especificas.
– Quais? – perguntei.
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– Uma das coisas que um vampiro não pode fazer de maneira alguma é beber
sangue morto, ou seja, beber sangue de alguém que esteja morto. No mesmo instante
que isso acontecer, o corpo estufa e passa a ficar da cor roxa acinzentado. Com apenas
um arranhão, o vampiro explode, eliminando todo o sangue que sugou em um mês, e
claro, morre. Ter o corpo queimado à meia noite, ter a cabeça arrancada enquanto
estiver no período puro. Se alimentar em excesso de alguém que usa drogas ou é
alcoólatra, e talvez haja alguma outra maneira, mas desconheço.
– Você disse algo sobre período puro, o que é isso? – perguntei.
Ela abaixou a cabeça. – período puro é o período em que se tem sangue de
aluguel no corpo, quero dizer, quando um vampiro alimenta-se de alguém, fica com o
sangue da pessoa durante dois dias. Portanto, esses dois dias são chamados de período
puro.
Lembrei-me da transformação. – Como se transforma um humano em
vampiro?
Ela fez cara feia. – precisa mesmo saber disso? É tão cruel que pensa que
transformar um humano em vampiro seja algo justo? Você deve dar escolha, ninguém
merece ser condenado ao inferno, como nós somos.
– Nem passa pela minha cabeça tirar a vida de alguém pra transformá-lo num
monstro, eu só quero saber – rebati.
– Há duas formas. Uma é você, que foi marcada pra transformar-se a certa
idade, isso é raro. A outra é o básico, o vampiro deve ter acima de 100 anos de
existência para possuir seu sangue pronto para transformar quantas e quem quiser. Isso
depende do caráter do vampiro.
– Então um vampiro normal com menos de cem anos não é capaz de
transformar um humano em vampiro? – perguntei.
Fez que não com a cabeça. – Ainda bem, porque até os 50 anos de existência, é
o período mais imaturo e impulsivo que um vampiro enfrenta.
– E você? – perguntei.
– Eu o quê?
– Quantos anos você tem 26? – e fiz cara de séria.
– Muitos anos. Tenho cento e vinte e seis anos – e fez cara de decepção.
– Então você pod... – Shhh. Kate olhou-me com cara de cúmulo. – nem pense
nisso, jamais transformei alguém, e nem vou – ela disse.
Ascenti.
– E como se transforma alguém?
– Primeiro se dá o seu próprio sangue, depois mata o sujeito e aproxima seu
sangue do nariz dele, no mesmo instante em que sentir o cheiro, irá abrir os olhos já
transformados. Quer dizer, quase. Se o sujeito não se alimentar de algum sangue
diferente e humano em dois dias, vira cinzas e não se transforma em vampiro, apenas
morre.
Grunhi.
– Vou pegar o medalhão.
– De que medalhão está falando? E não muda de assunto assim.
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Ela fez cara de pensativa e mexeu no bolso de sua blusa, pegando um colar com
um medalhão, com o símbolo †. Kate se alertava de segundo em segundo para garantir
que John não chegaria ali.
– Isso aqui é seu agora. É um medalhão que protege Vampiros. Eu acho melhor
evitar qualquer atrito, já que vamos nos relacionar com humanos. Todo vampiro que
pretende conviver com humanos usa o medalhão. A menos que seja um vampiro das
antigas, que só aparece com o pôr-do-sol. Porque vampiros podem ser hipnotizados
pela outra espécie. Mas com esse medalhão você pode se proteger. Isso foi enfeitiçado
e foi entregue a nós para te dar quando você se tornasse Vampira. Ainda não sabemos
se você consegue se controlar, se não... De qualquer modo, use isto. Vai te proteger do
sol, da sede incontrolável, e da outra espécie.
– Então, filha. Não é lindo? – Kate o pegou e me mostrou.
A espessura daquele medalhão era bem moldada e interessante, aceitei
preparando minhas mãos para colocá-lo no pescoço.
– Deixa que eu coloque em você... – hesitou ela.
Kate se levantou e me virou de costas a ela, colocando o medalhão em meu
pescoço logo de uma vez. Ora que o medalhão se fechou, meus olhos se queimaram,
mudando de cor por uns três segundos para a cor branca e logo voltando à cor normal
segundos depois. Fui ao espelho e me olhei com o tal medalhão, até que não foi difícil
de me acostumar. O medalhão era preto por inteiro e apenas com um detalhe branco e
rosado em suas beradas brilhantes. Ela estava é querendo algo novo. Mas Kate não
poderia enganar John pelo resto da vida... Um dia ele iria perceber que ela não
envelhece não se machuca, não dorme muito. O mais engraçado era que ela era uma
vampira e John um humano, e a dúvida surgia novamente “como foi possível meu
nascimento?” Esses pensamentos rebatiam dentro de mim com toda velocidade e
confusão.
Eu fiquei bastante aérea e com minha mente longe dali.
Minha mente era como um trovão de sentimentos e desejos. Eu queria matar
várias pessoas, eu queria sentir o sabor de ser mau. Eu queria sentir o sabor de desejo
realizado. Mas outra parte dentro de mim me dizia para ficar quieta e não fazer nada
de errado.
Eu não sou uma Vampira? Então eu tenho mais é que agir como uma.
Esse pensamento martelava em minha mente o tempo todo desde que me tornei
essa coisa.
– E então, agora você vai me contar toda verdade? – perguntei, mantendo
distância e fingindo não estar tensa.
– Tudo bem, eu vou te contar – Kate disse se aproximando de mim, mas dessa
vez tensa também. Se havia algo que eu fazia muito mal era fingir.
Preparei-me e ela também.
– Eu fui transformada com vinte e seis anos. Conheci seu pai, que era humano e
me apaixonei por ele. Mas algo extremamente estranho e impossível aconteceu. Eu
fiquei grávida, e você nasceu humana. Mas eu sabia que você iria se tornar vampira
com dezessete anos porque é a idade ideal. É uma lei de família, você é a única assim
até hoje. Você é um enigma, uma metáfora. Então, você nasceu com os olhos amarelos
37
e depois foram ficando com a cor normal. Agora que você se tornou uma Vampira,
ainda é pouquíssima humana. Você possui um coração e dorme.
Ela olhou para fotografia de John e sorriu triste.
– Isso não é incrível?
Ela se empolgou e levantou uma sobrancelha. Minha expressão ficou vazia e
conformada. Agora eu sabia toda verdade, eu me senti muito aliviada com tudo aquilo.
Levantei-me velozmente, de acordo com todo Vampiro.
– Kate, quais são seus dons? – eu perguntei, tentando mudar de assunto o mais
rápido possível, tentando ter um momento menos sangrento com ela.
– Tenho vários, mas o meu dom-chave é que posso ver as pessoas de olhos
fechados e enxergar coisas que ninguém consegue, eu vejo o coração.
Ela me fitou. Lembrei-me de tudo, das portas e mesas que se quebravam
“sozinhas”, das inúmeras vezes que me silenciei sobre minha vida pessoas e achava
estranho ela nunca ter interesse em me perguntar, mas agora tudo faz sentido... Ela
sempre soube o tempo todo.
– Então é por isso que portas e mesas viviam se quebrando sozinhas? – revirei
os olhos.
– Nossa, mas que sortuda eu.
– Eu preciso descansar – eu disse mentindo.
Kate fez cara de cúmulo.
– Descansar? Você não precisa mais descansar, você não é mais humana –
murmurou.
– Que seja – eu disse, dando as costas para ela.
Chegando ao meu quarto, Kate estava “plantada” lá.
– Porque não me contou sobre o Nickolas?
Seu tom era sério, ela me olhava com cobrança. Levei um tremendo susto, a
forma que ela apareceu do nada, parecia como naqueles filmes de terror psicóticos. Eu
não estava nem um pouco acostumada com aquilo, algo me dizia que eu teria que me
acostumar o mais rápido.
– Como você sabe disso?
– Ah, droga. Kate Sentimentalinx.
Eu fiquei sem graça ao me lembrar do que ela era de verdade, uma mãe sabe
tudo. Uma dúvida engraçada veio a minha cabeça naquele exato momento: ela sempre
soube quando eu mentia? Que droga de mãe é essa.
– Você está pensando nele, Alice. Quem é esse rapaz?
Ela me fitou, perguntando brava.
– Não vem com essa. Eu acho que o seu dom de mãe falhou. De onde você
tirou que estou pensando nele? Você devia prestar mais atenção no que fala ou vê,
tanto faz. E escute aqui, você não tem direito de saber nada sobre mim, não agora.
Tarde demais pra bancar a mamãe – bufei.
Sua expressão ficou horrível, eu não contive e tive que dizer a verdade que ela
já sabia.
– Não pode ao menos responder?
Ela continuou, ignorando a minha fúria. Virei-me de costas e fechei os olhos
fazendo uma careta de pré-alívio.
38
– Ele é muito estranho – franzi o cenho quando eu disse.
– Estranho? Como assim? – perguntou.
– Na verdade, ele é um historiador de coisas sobrenaturais – deixei escapulir.
Ela fez cara feia, não gostando nada, nada dele.
– Eu acho bom... Ou melhor, trate de não se envolver com esse tal.
Historiadores de coisas sobrenaturais é uma pedra no nosso sapato.
– Você está inventando coisas, eu não sinto nada por ele e não sei o porquê
disso, tem alguma objetividade nessa história toda? – eu igualei meu tom ao dela.
– Porque sim. Não tenho que te dar explicações de tudo.
Ela estava indo até a porta.
Eu meio que fiz um movimento próximo ao de respirar fundo.
– E quanto aos poderes? – cambaleei ao dizer. Kate rosnou, seus olhos estavam
vermelhíssimos. Porque ela ficou daquele jeito quando eu disse a palavra, poderes? O
que ela estava escondendo de mim? Fiquei tentando decifrar o que estava havendo ali.
Eu fiquei também com tanta raiva que dei um soquinho de leve na porta, era o meu
único alvo menos perigoso.
Quando eu me virei, levei um enorme susto.
– Nossa – grunhi comigo mesma. Eu havia arrancado a porta e um pouco da
parede. Então, ouvi passos de John subindo as escadas correndo com o barulho, Kate
não se assustou, pois sabia que ele estava para aparecer ali, ambos de nós duas
sabíamos, os passos de John são inconfundíveis, o cheiro então?
Ela se escondeu debaixo da cama com rapidez.
– O que é isso na parede? – rugiu ele observando.
Eu ri hilariamente. Daquele tipo de riso que você dá quando não tem a mínima
idéia do que responder, ou melhor, explicar.
– Estava brincando de arremessar coisas e arremessei o abajur na parede e
aconteceu isso – menti.
Ele fingiu que acreditou e hesitou.
– E por um acaso um abajur causa isso? – e apontou para o estrago.
Eu entortei o canto da boca e não disse mais nada.
– Nem vi você chegando, passou a noite na casa da Andrea? – perguntou
ingênuo.
Andrea?
– ah sim, Andrea! Sim, foi divertido.
Ele saiu do quarto rapidamente e não disse mais que alguns grunhidos ainda
encabulado com aquele estrago na porta. Entrei no quarto de Kate e contei a novidade.
Eu tinha descoberto meu primeiro dom e único até então.
– E então... – me aproximei dela, disposta a saber de tudo. Ela ficou muda,
nenhuma surpresa até aí. E então quando toquei em seu ombro, aconteceu àquela coisa
estranha.
Poder e Poder
39
enti uma dor profunda, pude sentir todo o sofrimento dela. Eu vi tudo,
senti tudo. Eu a vi chorando, eu a vi amando, a vi apaixonada. Eu a vi de
todas as formas possíveis. – Espera – Não era John.
Era um sujeito todo de preto, seus cabelos eram castanho claro, ele era até que
bonito. Mas não sei se era um vampiro, sem falar das mínimas possibilidades de ser um
humano. Arregalei meus olhos e soube de tudo num instante. Tudo ali funcionou
como algo esquisito, ou quem prefere dar nomes, macumba. O grande amor de sua
vida, como parecera naquele instante, era um ser de outro mundo. Soltei-me dela, no
entanto, eu caí no chão juntamente dela. Eu podia ser uma Vampira, mas estava
exausta, triste, eu estava com ódio. Agora eu sabia a verdade e o sofrimento, eu vi na
guerra entre Vampiros e outra espécie. Vi o pior, Tom sendo morto pelos Vampiros.
Havia uma lei, que eu já estava cansada de saber. Vampiros não podem se envolver
com aqueles outros, humanos e vice-versa. Então eu entendi o motivo de Nickolas
sempre me evitar o máximo. Eu era ainda mais proibida para ele. Kate estava
desesperada, não sabia o que estava acontecendo. Eu estava um pouco feliz por outro
lado, aliás. Eu havia descoberto outro dom. Eu entendi completamente o porquê
daquilo. Naquele exato momento eu prometi a mim mesma não me envolver com
nenhum ser de outra espécie. Para o bem de todos.
Mas o que eram esses seres de outra espécie? Nasceu em mim uma grande
curiosidade.
– Saia daqui, e não conte nada ao seu pai – ela gritou mais tensa do que ela
estava anteriormente.
– quanto sofrimento. Eu entendo tudo, mas quero que vá embora ainda essa
semana, ok? Uma semana.
Ela não se moveu e sua reação foi seca.
– Uma semana é muito tempo, vou embora amanhã.
Eu estava tão fraca que apaguei no chão mesmo, até que me recuperei e subi
para meu quarto. Meus olhos então se fecharam aos poucos de segundo em segundo.
Quando os abri, eu estava em meu quarto completamente silencioso. Eu estava
sozinha de novo. Então, pela primeira vez decidi aproveitar o que um vampiro podia
fazer.
– Como vou fazer isso? – grunhi comigo mesma, pegando distancia e andando
para lá e para cá velozmente. Eu sentia cócegas, só isso. Mas eu via o quão veloz eu
estava indo para lá e para cá. E aí, comecei a me divertir um pouco naquele momento
eu.
– O que mais posso fazer? – zombei, dando um super pulo em cima de minha
cama. E aí foi à hora em que eu rolei para lá e para cá gargalhando sem parar.
Posso ouvir o que estão conversando lá fora!
– Nem que a vaca tussa, eu irei comprar aquela bolsa – disse a garota ao
passar do outro lado da calçada em frente de minha casa. E aí, meu abajur caiu do
nada. Eu parei de rir e fui até a janela ver o que tinha acontecido, se alguém passou por
aqui.
Eu senti que alguém estava ali me observando. Eu juro...
– Alice? O jantar está na mesa – Kate me chamou da cozinha.
S
Alice Jones
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  • 3. 3 A Convivência entre vampiros, feiticeiros e humanos não será permitida. Do contrário: sempre haverá guerra. (Bhaskara) Prefácio A garota se aproximou do vulcão. – Nicaraless – ela disse, lançando uma moita de gelo no buraco do vulcão. Nada aconteceu e ela se afastou. O vulcão começou a entrar em erupção. – Droga, você está bem garota? – um sujeito de olhos azuis perguntou. Ela arregalou os olhos e não disse nada. Naomi tentou a sorte. Então não pôde fazer nada, uma gota daquela larva e ela sem dúvidas alguma, se derreteria por inteira. – Inútil – ela sussurrou consigo mesma. – Faz alguma coisa! – a garota ruiva pediu num tom de ordem, impaciente. O vulcão entrou totalmente em ebulição, piorando toda a situação. A garota ruiva ficou na beirada segurando-se ao vento, e sabia que uma olhadinha para baixo daquela enorme montanha tornaria tudo mais impossível. Havia duas opções: morrer queimada ou suicidar-se. – Boa sorte – ela disse ao homem de olhos azuis e saltou de costas. O cara de olhos azuis saltou atrás e logo se tele transportou para o topo da montanha novamente. – Não! – ele gritou bem alto para que o mundo todo ouvisse. – Só dois de nós vai sobreviver – outro sujeito gritou, aparecendo pro cara de olhos azuis.
  • 4. 4 Vampiros e dons-chaves: Futurícx = Prevê o futuro. Mentalix = Controle de mentes, hipnose. Olhos-de-morte = Causa sangramento grave pelos ouvidos, boca, nariz e olhos. Velocímetrox = Extremamente veloz. Sentimentalinx = Leitura de corações. Autocontrolex = Autocontrole. Supersound = vampiro ouve a longa distancia. Forçalittler = Força extrema. Sensíbleter = vampiro sensível, que não consegue matar. O que pode matar um vampiro: Fogo lançado pelo corpo durante a meia noite. Um feitiço muito forte. Beber sangue morto, de alguém que esteja morto. Ter a cabeça arrancada enquanto estiver no período puro. Atacar alguém que bebe bebidas alcoólicas ou usa drogas deixam-lhes fracos. Vampiros ficam fracos quando sugam o sangue de alguém que bebe, fuma ou usa drogas. Mas não significa que morrem, eles vão ficando cada vez mais fraco. Se no mesmo dia, for a oitava vítima com esses sintomas, o vampiro poderá morrer. Espécies inimigas que devem viver em lugares distintos: Vampiros. Feiticeiros. Humanos. Detalhes – Alice? – John sussurra, me cutucando. Estava uma manhã calorenta da América do sul. Ele tinha uma espécie de grave e rouquidão em sua voz, bem diferente de Kate, que possuía a voz suave e bem feminina. Fiz cara feia e revirei os olhos, depois daquele sonho esquisito que tive agora pouco. Ultimamente desde quando completei dezesseis anos, coisas estranhas vêm
  • 5. 5 acontecendo comigo. Bem, na verdade quando eu nasci algo estranho também aconteceu. É uma história que meus pais me contaram, ela é pequena. Que eu nunca me lembro perfeitamente. E muito menos acredito. Minha mãe e meu avô são meio sinistros, pra ser franca. Eles sempre foram bastante misteriosos e diferentes... Eu até ficava com medo. Eu achei até estranho eles me contarem isso porque eles quase nunca me contam o que eles conversam, digo, coisas do passado. Até que cresci um pouco e lá com os meus oito anos, eu lembro-me de ter entrado no quarto dos meus pais e já era de madrugada. Ouvi barulhos de alguém mordendo algo.. Ela gritava muito alto, um tipo de gemido de prazer com dor. Fui correndo, abri a porta do quarto, pude ver meu pai ferrado no sono e Kate virada para a janela e meio agachada, ela virou-se lentamente para mim e vi sangue na boca dela. Foi aí que o vovô apareceu e não me lembro de mais nada. No dia seguinte, fui até minha mãe e perguntei o que havia acontecido. Ela disse que eu era sonâmbula e estava tendo um tipo de sonho e que fui ao quarto dela, eu só não consigo é ter certeza se isso realmente aconteceu ou foi apenas um pesadelo. Disso eu consigo lembrar, mas depois que meu avô apareceu, eu não me lembro de mais nada. Desde aquele dia, meu conceito sobre ela ficou mais estranho que já era. Ainda criança, John me pegava no colo com tal facilidade confortadora, eu me sentia menos sozinha com ele, já que Kate quase não existia pra mim. Ele era minha mãe e meu pai, apesar de ter aquele jeitão meio anti-social que ele sempre teve. Depois quando completei quatorze anos, eu comecei a notar que Kate tentou ficar mais próxima de nós. Ela ficava assustada com algumas atitudes minha como, por exemplo: bater em uma garota do Colégio, que por sinal, havia me provocado muito durante todo o jardim de infância. Qual é! Todo mundo vai se defender de alguém um dia, foi só isso que fiz. Depois ela sumiu, nunca mais ouvi falar dela. Lembro-me de ter brigado com ela, e ela desmaiou, depois disso nunca mais a vi, de verdade mesmo. Meus pais ficaram atordoados comigo, até hoje eu não entendo o que houve pra tanta tensão da parte de Kate. Afinal, porque eu tenho que me preocupar com coisas que fiz quando era criança? Completei dezesseis anos e as coisas ficaram definitivamente mudadas. Kate se separou do meu pai, mas continua vivendo conosco, só por minha causa. E que sinceramente não entendo, ela não precisava continuar morando conosco só por causa de mim. Mas isso era temporário porque ela estava procurando uma casa. John Jones é meu pai. Pálido, alto, magro e um pouco musculoso, cabelos pretos bem escuros. John possui muito charme, ele consegue atrair qualquer uma com sua aparência e jeito macho de ser. Não... Não sou feminista, apenas digo isso porque é o tipo de cara que interessa qualquer uma. Pelo menos em minha opinião. Seus olhos são claros pelo lado de mel escuro – que chega a ser exagerado de tão belos – tem um sorriso maravilhoso. Na verdade meu pai é lindo até demais, não me acho nem um pouco parecida com ele. Só que por dentro, é um poço de machismo. Kate Jones é minha mãe.
  • 6. 6 Mais pálida ainda, loira e bem menor que John. Há nela algo obscuro: seus olhos são meio avermelhados e seus dentes são tão brancos que chega a doer os olhos. – Quem dera eu ser tão linda o quanto Kate. Kate sempre foi a mais estranha de todas as mães que conheci. Ela não possui jeito de mãe, é muito ativa e independente. Desde quando eu cheguei a entender os gestos das pessoas, eu comecei a perceber coisas estranhas nela. Kate é aquele tipo de mulher que se olha no espelho de trinta em trinta segundos sem perceber o quanto isso a torna maluca e obcecada por beleza. Não entendo porque tanta preocupação, já que ela está sempre na mesma aparência, aliás, Kate usa umas maquiagens esquisitas, parece que a maquiagem a deixa mais velha, não sei se é essa sua intenção, mas é exatamente isso que acontece quando ela enche a cara desse pó fedorento. Há algo em que sempre me incomodou muito também. Pensando bem, é mais fácil dizer o que não me incomoda nela. Meus pais sempre mudam de país. Eu nasci em Londres, logo cinco anos depois me mudei para Buenos Aires e quatro anos depois nos mudamos para cá, em Campos Do Jordão, ainda em terras sul-americanas. Não sei falar português ainda, o português é extremamente complicado e diferente pra mim. No entanto, algo que reparei é que John e Kate sempre se mudam para lugares frios, gelados. Como, por exemplo: nasci em Londres e onde estou agora. Uma cidade normal e onde eu moro fica em uma casa reservada e alta, onde as montanhas verde-escuro cercam por toda parte, causando um frio enorme. Estamos morando aqui em terras sul-americanas por pouco tempo, pois vamos voltar para a América do norte o mais breve possível, terras nativas e ainda mais geladas. – Calma. Porque esse nervosismo todo, pai? – retruquei levantando-me meio desajeitada e descabelada. Logo me sentei na cama e apertei os olhos para enxergar melhor, afinal: ser acordada é uma porcaria. John ficou impaciente a me ver daquela maneira, impaciente assim como ele. – É a Kate. Eu não estou a fim de ficar perto dela agora, ela está toda surtada, minha paciência não é de ferro, caramba! Só porque não consegui concertar a porcaria do secador... Paciência de ferro? A paciência de John não é nem de papel isopor. Mas eu não contive o riso, ele falou de um jeito que me causou nostalgia de quando eles ainda eram casados. – Posso ficar no seu quarto? – perguntou sorrindo, tentando me esconder alguma coisa que eu nem perdi meu tempo de perguntar, John não tinha o costume de me agradar e me botar apelidos, ele era sério ao extremo. Ah! John era xerife e era um dos melhores, aliás. Daqueles tipos em que leva o trabalho para sua vida. – Tudo bem. O que ela tem? – perguntei curiosa. Ele pensou um pouco pra responder e apertou as pálpebras enquanto pensava no que me dizer. Eu geralmente não gostava nem um pouco quando ele pensava para responder, sempre que ele fazia isso parecia que ele queria inventar algo, ou esconder alguma coisa de mim. Apertar as pálpebras então? Perigo na certa. – Não é nada demais, mas e como estão as coisas com você?
  • 7. 7 Fingi que acreditei e puxei outro assunto bobo pra confortá-lo. – Eu estou bem, estou de férias, como você já sabe. Já que você mudou de assunto, me diz sobre aquela cidade que vamos nos mudar, qual é o nome mesmo? – perguntei, porque na verdade, eu havia me esquecido completamente o nome do lugar, nesse aspecto eu não estava forçando a barra, eu realmente não me lembrava. Ele fez careta e sorriu. – Port Angeles. Uma cidade boa, pequena e ainda mais fria que aqui. Apesar do frio insuportável eu espero que você goste de lá – afirmou, coçando o nariz logo depois. Respirei fundo e olhei firme em seus olhos. – Vamos sair desse país e voltar para América do norte? Quando nós vamos? Ele tinha uma mania irritante em sempre ficar mudando de casa, como já disse. Mas isso só pode ser culpa de Kate, conheço as técnicas de manipulação dela. Eu já morei em tantas casas e cidades diferentes que até já perdi a conta. Também não sei se é bem uma mania, mas que me irrita muito, isso sim. Cada ano nós estamos em um lugar diferente, mas dessa vez eu queria mesmo era me mudar. Não gostava nem um pouco de onde nós estávamos. Ele ficou animado em responder. – Advinha? Você vai adorar saber, aposto. Fiz um esforço grande pra tentar adivinhar, mas aí eu chutei. – Daqui a dois meses? Em setembro, ou quem sabe em novembro? Nada contra mudarmos rápido, pelo contrário. Eu quero é me mudar logo daqui. Eu me lembro daquela casa grande e cheia de gente, que hoje, nem sei se ainda vive ou está morto. Eu sinto falta deles. Ele abaixou a cabeça olhando pro nada, sei lá... Eu tinha praticamente certeza que ele não iria responder a minha pergunta indiscreta. – Errou... Mas até que passou perto. Ele logo deu uma ajeitada no seu cabelo que estava um pouco bagunçado. – Seis de outubro – explicou. – Sério? No mês do meu aniversário! Seria até que um presente legal – vibrei e abri um sorriso largo, esquecendo da pergunta que eu havia feito segundos atrás. Ele abriu um olhar novo e uma conversa nova. – Quando você completar dezessete anos, você terá uma surpresa – John começou com a conversa que não me agradava. Daí pra piorar a caretice, se sentou na minha cama e olhou com esperança de que eu sentasse também. Olhei para John e tentei decifrá-lo quase que em vão novamente. – Como assim? Ele pegou em minhas mãos e deu aquela olhada de pai. – Alice, só me faça uma promessa – seu tom era sério agora, John não sabia brincar com coisa séria, quando ele estava falando sério, qualquer um podia perceber apenas olhando em seus olhos e sentindo seu nervosismo machista. – Ok. Pai, fale. Retruquei de mau-humor, como de costume, quando eu sentia que estavam escondendo alguma coisa de mim fazendo pausas de leve em cada palavra. Ele sorriu e forçou o olhar.
  • 8. 8 – Eu não entendo o motivo de Kate ter me pedido para te dizer isso... Mas enfim, não desobedeça nenhuma regra ou mandamento. Ainda é mais ou menos como uma metáfora, Alice. Eu não posso te dar detalhes, você mesma vai descobrir, viver isso sozinha. Você pode me prometer isso por sua mãe, Alice? John me fitou remexendo seu nariz. Então respirei fundo novamente e tentei não brigar com meu pai. – Do que você está falando? Fiquei encabulada com aquela metáfora inútil que ele acabou de estabelecer. Não era mais fácil me contar logo o que estava acontecendo? Eu agradeceria se Kate ou John parasse por um instante de me poupar. E aí ele persistiu mais uma vez – Seis de outubro, Alice – também não faço idéia dessa maluquice de sua mãe. John continuou a tentativa de me fazer prometer algo que eu não faço a menor idéia. Quer dizer, que nem ao menos ele sabia! Por fim, não conseguimos e caímos na gargalhada. É como assinar um contrato em que você não leu nenhuma estrofe. Mas eu tinha que escolher, ele é meu pai e eu confio nele mais do que qualquer promessa estranha. Eu fui vencida e não contradisse mais nada. – Eu confio em você. Tudo bem, eu prometo. Ah! Detalhe: Kate é super ausente, talvez seja esse o motivo de não chamá-la de mãe sempre... Em 1996, ela sumiu durante o ano todo, e só voltou no ano seguinte. E isso se repetiu vários e vários anos. Então, ela é minha mãe de acordo com a genética porque sendo franca, ela quase não convive comigo e aposto que não sabe o nome do meu primeiro amor, que foi o Matt... Namorico de escola, de criança. Isso foi há 9 anos atrás. Meu celular tocou, era um número privado. O que fora hilário porque me ligou e desligou logo depois, na minha cara. Quando fui desligar, meu pai não estava mais lá. – O que foi isso? – pensei, com um pouco de medo sobre sua conversa maluca sem pé nem cabeça. Procurei atrás de mim, na minha frente, do meu lado. Olhei desconfiada para os lados e me distraí. Fui até o quarto de Kate e não bati na porta. – E então? Eu a chamei entrando em seu quarto, passo por passo com uma vergonha enorme de ser tão teimosa. Ela apareceu e ficou desconfiada, Kate odiava quando eu estava planejando algo com ela. Ainda mais quando o assunto era sério e eu não temia. Se existia algo no mundo que eu fosse profissional, era de não temer o temível. – O que foi? – disse ela mal humorada. Fingi o meu interesse e tentei mesmo assim, na cara de pau. – Vim te dar um abraço de boa noite mãe – disse, mentindo horrivelmente. Kate chegou perto de mim e colocou as mãos na minha testa fazendo cara de cúmulo. – Você me chamou de MÃE? Você está doente? – perguntou incrédula. Entreguei-me e falei a verdade, não havia como esconder coisas dela, ainda mais ela sabendo do quanto eu sou péssima para mentir. – Precisamos conversar. Kate respirou bem profundamente e tentou não me olhar.
  • 9. 9 – Fala – e fez outra cara de “eu já sabia”. – Ta legal Alice. Vamos nos mudar da América do sul para a América do norte daqui a um mês. Eu preciso que me prometa algo quando chegarmos a Port Angeles, terra nativa de nossa família – ela disse. Quem fez cara de cúmulo dessa vez, fui eu. – Você de novo com essa história de juramento? – perguntei irritada, fazendo aquela expressão com o rosto de tédio que não agradava ninguém, muito menos ela. Ela brevemente se aproximou de mim e me olhou parada cruzando os braços. – Sim. Seu tom era ainda mais sério dessa vez. Tentei dar uma de boba, meio que em vão. Ela estava com uma blusa de frio num tom de vinho de lã colada e uma calça jeans formando as curvas de suas pernas dentre a calça. – Sobre respeitar regras que eu nem imagino quais e mais isso e aquilo que você vive falando o tempo todo? Ela balançou a cabeça negativamente apertando as pálpebras. – Não, apenas me jure uma coisa... E ficou séria de novo, ela não andava com paciência para minhas ironias. Afastei-me dela e fiquei de costas. – Fala logo. Eu me irritei. Kate, por sua vez, plantou-se igual uma doida atrás de mim, invertendo-nos meio que brincando com meu cabelo. – Não se apaixone por ele – Kate murmurou, pegando minhas mãos e me encarando com seus olhos lindos e convincentes que me fazia confiar em cada palavra que ela dizia sem importar mais nada, nenhum tantinho. Franzi o cenho. – Ele quem? Eu estava completamente sem entender tudo isso. – Não se envolva por seu inimigo. Por um de nossos opostos. Virei-me para olhar para ela enquanto conversávamos e mostrei minha cara de não entendi porcaria nenhuma que você disse. – Você anda tomando algum remédio? – zombei. E então, só me lembro de ter piscado e por um instante virar-me para a janela de meu quarto, mas no exato momento em que olhei para a direção que ela estava, já não havia mais ninguém ali. Fiquei com aquela frase em minha cabeça: “Faça a escolha certa, Não se apaixone por um de nossos inimigos” O que foi aquilo? Isso não existe, uma preocupação surgiu dentro de mim, ela não está em sã consciência. Estava tão assustada que fui dormir. Abri os olhos, sentei-me na minha cama e olhei em volta, sentindo o cheiro fresco do perfume dela ali no meu quarto. Meu quarto não era daqueles super arrumado, eu nunca gostei de quartos impecáveis e cheios de ursos rosa. Sempre preferi uma cama de solteiro e um cômodo pequeno em que só caiba a mim. Coerentemente, olhei em volta do meu quarto inteiro, de um jeito tão nostálgico. Pensei na escola que eu estudava que era sem graça e com pessoas sem graça. O ano estava quase acabando. Estávamos em primeiro de setembro, faltando apenas um mês para a mudança à Port
  • 10. 10 Angeles. Eu andava com pensamentos mais profundos, sobre não me envolver em nenhum relacionamento sério, ou não fazer amizades falsas, eu queria uma vida decente e normal, já que eu não tenho uma mãe normal. De algo eu sei: estou prestes a ser uma mulher, quero ser tratada como uma adulta. Já que, aliás, tudo indica que não vou morar com eles por muito tempo. Talvez esse seja o ultimo ano em que moro com eles, por isso eu fico observando tudo e aproveitando cada maluquice de Kate. Enfim, não tenho que pensar quando vou morar sozinha também... Vamos deixar as coisas acontecerem. Olhei-me no espelho e não reconhecia aquela cara fria e sem paciência com tudo, porque eu estou tão estranha e rebelde? Paciência era algo que definitivamente eu não tinha desde que me conheço por gente. Ficava séria a maioria do tempo, não me misturava com pessoas da minha idade com facilidade, eu não era o tipo de pessoa que é popular e muito sociável. Às vezes minha sinceridade é exagerada. Não gosto de mentir só para agradar alguém, seja lá o que for. Respirei fundo e mantive o olhar aleatório ao redor do meu quarto. Um mês se passou Com toda a sinceridade do mundo, sabe quando você sente que algo está para acontecer? Não é algum motivo concreto, ou algo que botaram na sua cabeça. É só algo que você sente do nada. Quando está tudo bem, mas algo dentro de você diz que não. Ou algo está para ser descoberto, sei lá. Falar dos outros é tão legal, mas quando você tem que falar sobre você... É horrível! Talvez seja por isso que não seja muito popular, o sujeito me pergunta “me fale sobre você?” e tudo que vem na minha cabeça é que amo chocolate e sou sincera, não grossa. O fato é: eu odeio falar muito sobre mim. E havia outras coisas que estava me afligindo muito. Principalmente envolvendo Kate. Eu sentia a todo o momento que alguma coisa iria acontecer comigo,
  • 11. 11 eu só não imaginava o tamanho e a profundidade do que está por vir. Porque eu mereço tantos cuidados? Se o assunto era eu, eu sou quem mais deveria saber o que estava acontecendo. Mas não, todos continuavam me poupando. Todos não, só Kate. Eu também tinha medo da verdade, na verdade. Queria saber o que havia de errado comigo, eu só não tinha era muita coragem para tentar descobrir de uma vez por todas. E aí, deixei o tempo passar, aquele vazio silencioso dentro de mim dia após dia foi só crescendo aos poucos. Eu acordava, me alimentava, morria de sono, dormia e não sabia quantos dias dormia, ou onde eu estava. Fiquei um tempo no meu canto, eu não vivia eu apenas existia. Meus pais Kate e John notaram minha vida tediosa e agiam como se fosse à coisa mais normal do mundo. Fácil, não eram eles que estavam sendo a última pessoa que sabia das coisas. Ficava horas no meu quarto lendo livros grossos e de anos atrás procurando algo com que eu pudesse me divertir e nada aparecia. Eu queria mandar aquilo tudo, de verdade, a puta que pariu. Kate estava a cada dia que passava mais ansiosa para a mudança e minhas férias estavam sendo péssimas, não era culpa dela. Não é culpa de ninguém! É só que... Deixe, nem eu mesma sei. Tudo bem, eu sempre detestei o colégio, mas ficar em casa não era uma coisa muito emocionante de se fazer por muito tempo, você acaba se afundando na solidão e nem percebe. Senti algo me cutucando. – Alice, acorda. Ouvi a voz de Kate cantarolando-me com meros toques acompanhados. Abri os olhos de má vontade e os vi na minha frente, plantados e esperando a rainha acordar. – Que foi? Aquela pergunta idiota que eu havia feito ali naquele momento família foi hilária. – Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida... Kate fez aquele coral vergonhoso, o mais engraçado foi o John, que tentou não ficar vermelho, mas foi em vão. John não curtia essas coisas, assim como eu. Acho que deve ser culpa dele esse meu jeito fechada e tímida de ser, mas sinceramente eu gosto muito disso, eu me sinto menos fútil. Não consigo me imaginar agindo como Kate a todo o momento, não o culpo; o agradeço. Fiz cara feia e pedi para ela parar, extremamente corada e sem saber o que dizer o que fazer. Eu até que ligava antes para essa coisa de aniversário, mas as coisas mudam. John estava com uma expressão forçada que soou um pouco de que ele também se sentiu bastante envergonhado de estar ali, vendo Kate cantar parabéns para mim daquela maneira tão animada e exagerada. Levantei-me e tentei enxergá-los direito apertando as pálpebras. – Seis de outubro. É hoje nossa mudança para Port Angeles, se arrume, anda logo!
  • 12. 12 Cutucou-me. Levantei-me com tal rapidez estranha, dei até um risinho depois que percebi. Ficando mais feliz de poder voltar a me comunicar no idioma inglês, no qual eu sabia perfeitamente falar, obviamente. Fiquei aliviada, português não era o meu forte, mesmo. Depois de algumas horas, estava tudo pronto. Olhei pela ultima vez em volta daquele lugar lindo que eu não pertencia mais, que na verdade nunca pertenci. Entrei no carro e no caminho até o aeroporto encostei minha cabeça no vidro do carro e lembrei-me de uma música perfeita para se escutar naquele momento: Unmistakable – backstreet boys. E eu estava tão cansada que na hora de descer do carro para ir ao avião dei o maior chilique. Então, quando entrei dentro do avião, fiquei observando tudo pela janela, as pessoas do tamanho de uma formiga... Tão simples e interessante. Na verdade, eu me encabulei com a pressa que Kate estava em se mudar para Port Angeles. Será que ela queria voltar a se comunicar em inglês? Claro que não... Deitei minha cabeça no acento do avião e pensei em nada. Minha mente fluiu no silencio delicioso e envolvente, que me confortava muito e ao mesmo tempo me deixava num clima tenso maior ainda. Digo, do mesmo modo que aquela sensação de viajar de avião era gostosa, era tensa. Confesso! Tenho medo de altura. Como eu pude me tornar isso? Acredite, eu não era assim. Não mesmo! Já existiu uma Alice que contava piadas, sorria de tudo, se apaixonava por astros de televisão. Desde pequena gostava de assistir seriados impróprios para minha idade, ninguém sabe... Mas já vi de tudo! E, aliás, um seriado que fez parte da minha infância foi “American Horror Story” Eu sei que isso soa muito estranho. Pelo menos para quem já assistiu... É muito diferente, um tanto assustador e sexy. Aquele Tate... Meu deus! Eu era louca por ele. Ou melhor, havia também o Kit... Eu não sei por que, eu sempre gostei mais dos vilões. Felizmente, é tudo ficção sobre coisas sobrenaturais, poderes heróicos e mais dessas bizarrices. Quer dizer, ainda gosto. Meus olhos se abriam... Fechavam-se... Nunca sabiam o que realmente fazer ou o quê acompanhar. Quando acordei já tínhamos chegado, incrivelmente já tínhamos chegado. Eu mal fechei os olhos e lá estou eu: em Port Angeles! Levantei-me ainda meio desajeitada, ouvi conversas insignificantes de John e Kate no aeroporto e perguntei que horas eram. John me disse que já haviam passado dois dias desde que saímos da antiga casa. Eu dormi dois dias? Como assim? Ele me cutucou. – Alice, nós chegamos. Levantei-me do carro e saí pela porta de trás, tirando o cinto de segurança e ajeitando meu corpo ameaçadíssimo. No caminho para entrar a nova casa, Kate apareceu do nada. – Quando começam suas aulas no colégio? – perguntou fingindo um interesse nunca tido antes. – Depois eu ligo pra alguma escola daqui no Yellow Pages – grunhi.
  • 13. 13 – Não, deixa que eu ligue pra você – pediu com um sorriso falso. Tão hilária... – Esperamos. John corrigiu de leve sorrindo de leve com covinhas. Movi-me de onde eu estava e fiquei frente a frente deles, meio que corada por Kate não entender que sou muito mais matura que ela possa imaginar. Mais matura que ela. – Eu sou americana, Kate. Eu sei disso – retruquei. Ela sorriu e soltou uma piada idiota. – Alice anda melancólica, John. Não se assuste – zombou. Revirei os olhos e preferi ignorá-la. Chegamos à nova casa. A cidade era extremamente fria. Havia bastantes árvores, natureza e ao mesmo tempo a cidade era extremamente urbanizada. Eu me sentia em uma cidade que já morei antes. Fiquei observando de longe todo aquele pessoal, estávamos em véspera de inverno e o inverno nessa cidade parecia muito mais rigoroso que a antiga cidade. Chegando à nova casa, a porta estava aberta, passei por Kate e John e fui direto para meu novo quarto com aquele jeito de intrometida que eu tinha. Liguei a TV, deitei na minha nova cama que agora era de casal. A cama era normal, nem dura e nem mole. Fiquei ali me movimentando como uma criança por alguns segundos consecutivos. Foi então que eu ouvi ruídos insuportáveis em minha mente, eu podia ouvir cada detalhe da voz de todos, podia sentir o cheiro de tudo, podia ver com uma imagem perfeita. Eu podia sentir tudo de um modo muito horripilante e repentino. Fiz caretas de incômodo e me sentei na cama, o cabelo bastante atrapalhado e com algumas madeixas no meu olho dificultando-me de enxergar. Tirei as madeixas irritantes dos meus olhos e me levantei para procurar o controle daquela televisão. Coloquei no volume um e ainda ouvia perfeitamente, mas sem incomodar. Até que por fim, desisti de procurar o controle e enfiei o dedo em um botão grande e desliguei a TV. Levantei-me e tentei ficar de bom-humor. Fui até a cozinha e perguntei a Kate: – É nessa cidade que tem aquela geleira ou montanha? Eu não me lembro direito o nome disso.. É um tipo de montanha diferente do restante do mundo até que passou no telejornal – eu perguntei meio confusa. Kate me olhou e ficou mais confusa ainda. – Sim, você quer ir? Mas é um pouco longe daqui, Alice. Por que você quer isso agora? Alice Jones, não me faça ler sua mente... – ela brincou. Ler minha mente? Que brincadeira nova é essa? – Brincadeirinha... – disse, saindo de fininho ao banheiro. Fiz cara de nada. A verdade era que eu precisava de um tempo sozinha, achava que a época mais difícil na minha vida foi à época em que eu estava entrando na adolescência, lá nos meus mais ou menos treze ou quatorze anos. Mas não, agora tudo acontecia com mais profundidade, com mais peso, com mais freqüência e eu ficava confusa a medida dos dias que se passavam. – Não, só perguntei. Outro dia eu vou – disse despreocupada. Ela aceitou a resposta sem controversas já indo em direção à janela para ver se era de madeira e fez cara feia, retrucando porque queria que fosse inteira de vidro. Mas poxa, só se for um vidro blindado e tudo mais, porque o que não falta é ladrão arrombando janelas de vidro. Será que ele não pensou nisso não? Vai entender.
  • 14. 14 – Tudo bem então, o que quer fazer agora? – perguntou ao se virar para mim. Kate pegou minhas mãos e abriu um sorriso meigo que ela costumava dar com seus dentes brancos e aquelas presas totalmente aparentes quando queria disfarçar alguma coisa. – Vou dar uma volta por aí. Daí ela apareceu na minha frente, me impedindo de qualquer coisa. – Não – disse num tom estranho. John fez cara de nada, não entendo porque dela ter ficado tão tensa. – Por quê? Eu estava ficando bastante impaciente com ela. – Porque acho melhor você ficar essa semana em casa, sem ir a lugar nenhum. A cidade anda meio violenta, sabe como é – Kate me disse de última hora meio aflita entreolhar com John andando em zigue zague. O que deu nela? Porque fingindo se importar comigo agora? Eu vou onde eu bem entender, a menos que meu pai não queira o que duvido muito, ele é super liberal, jovem e sexy. Kate era péssima em mentir, ainda mais para mim e John. Aquela desculpinha não estava fazendo sentido algum. – Até parece que eu acreditei nesse seu papo ridículo. Não vou ficar trancada em casa sete dias, sinto muito senhora – afirmei, dando as costas a ela já prestes a sair. – Você que se atreva. Ficou brava e foi atrás de mim com o seu olhar mortal de mãe desafiada, até parece! Eu já estava com quase dezessete anos... O sangue subiu pela cabeça e a fúria cresceu dentro de mim. Ter uma mãe problemática não é nem um pouco fácil. Revirei os olhos pela milésima vez, de costas para os dois e evitei olhar para ela. – Pode ficar emburrada, mas não vou mudar de idéia – acrescentou ela. – Largue de ser ridícula – John retrucou a ela. Saí de perto deles e fui até a escada para ir até meu quarto evitando ao máximo qualquer discutição. Ela não havia se acostumado com o fato de que eu já me tornei uma quase adulta sem ela. Tanto faz, eu não me importava em ficar em casa ou sair. Tudo que eu queria de verdade naquele momento era um bom banho e dormir. Mas não, eu já havia dormido demais na viajem, então pensei em ler um pouco. Na escrivaninha, havia um livro: Alice no país das maravilhas. Mas eu não conseguia passar da décima pagina. Que livro mais chato! Talvez porque tinha haver com meu nome. Brincadeirinha... Andei pela casa, que era bem grande e confortável. E então, meio que quando fui dar o quinto passo até minha suíte, ouvi passos de gente andando para lá e para cá. Mas não era simplesmente ouvir passos de longe, parecia que havia gente andando em cima de mim, ou melhor, em cima dos meus tímpanos. Com toda certeza eram eles: Kate e John. Só que John tinha ido para a cozinha preparar alguma coisa e eu fui atrás, já que não ia mesmo ler aquele livro. – Não vai me ignorar, vai? – perguntei tentando esconder o sono profundo que ridiculamente estava escancarado na minha cara de mal-humor. Kate sorriu de longe, escorada na porta da copa.
  • 15. 15 John estava pegando algo que ele havia deixado cair no chão de um modo todo desajeitado. – Claro que não, Alice. Eu preciso beber... Comer alguma coisa – Kate murmurou meio nervosa, corrigindo suas frases novamente. Ele percebeu o quanto ela estava tensa, mas não disse nada. E o mais hilário, é que minha pergunta foi somente ao John, porque foi ela quem respondeu? Oh God. Daí de repente, de novo foi me batendo um sono tão profundo, e dessa vez eu não me referia sono de dormir, era um sono estranho. Acho que eu estava prestes a desmaiar. Fiquei zonza e tentei abrir os olhos para enxergar coisas ao meu redor, foi em vão. Eu caí ali no meio deles e nem me lembro onde foi que eu fui parar. Tudo novo de novo u estava em cima de uma geleira de neve, tudo ao meu redor era gelo e água. Levantei-me com os olhos ardendo devido ao frio e à luz fascinante que batia diretamente nos meus olhos, meio sem jeito e amassada... Fui levantando aos poucos e me deparei com uma paisagem de deixar qualquer um boquiaberto. O horizonte do sol se pondo e aquele mundo de gelo em volta. O mais incrível é que não estava tão frio assim. Ali possuía árvores floridas, pedras gigantes e barrancos para se encostar normalmente. Estava realmente confortável e não confortável pelo fato de não fazer idéia de onde eu estava, mas por E
  • 16. 16 estar sentindo a paz que não sentia há tempos. Não sentia frio, pelo contrário, eu estava ótima. Melhor impossível. Mas era só eu e o gelo ali naquele lugar imenso e sem ninguém para me ajudar, ninguém para me explicar como fui parar ali, de fato. Eu não sabia para onde ir, o que fazer. Olhei para os lados e não vi nada, ajeitei meu cabelo quando deu aquele ventinho frio. – Que lugar é esse? – retruquei a mim mesma, com a voz rouca devido ao frio que eu não estava sentindo. Senti um vulto atrás de mim de repente, fazendo-me automaticamente virar-me junto. – Está perdida? Uma voz tocante surgiu atrás de mim. E então quando virei-me para ver de onde surgiu aquela voz rouca e tudo mais, fiquei meio que em trance. Eu, por alguns segundos, fiquei paralisada sentindo um pouco de medo daquele cara tão diferente e altamente bonito. Virei-me tentando ver de onde vinha aquela voz maravilhosa e assustadora novamente e lá estava o cara de novo. Quando eu me levantei tive a impressão de estar em um sonho estranho e bonito. É que eu nunca tinha visto alguém tão lindo quanto esse, mas seu olhar era arrogante e irritante. Ele era mais alto que eu, tinha olhos super azuis, seus cabelos eram castanho claro com uns flashes claros, com umas meras mechas bem claras, pele branca. Seu cabelo tinha uma forma de vida própria, com umas mechas para cima e caídas fazendo o caimento perfeito dos olhos e daquele rosto vigarista e atraente que ele possuía. Seu cabelo era incrivelmente bagunçado deixando-o com a expressão facial bem curvada e bela. Enfim, o cara é mesmo diferente de todos os caras que eu já vi. Soltei um riso forçado e tentei ficar normal sendo educada na primeira impressão. – É, acho que estou – eu disse hipnotizada. Ele me olhou sério com uma expressão marcante que era impossível de não olhar e que me intrigava ao mesmo tempo. Como se ele estivesse jogando comigo, impossibilitando-me de analisá-lo. Parecia que ele era dois caras ao mesmo tempo, e tudo isso eu percebi só ao olhar nos olhos azuis dele. – Aqui não é lugar para você, melhor ir embora daqui – disse apertando as pálpebras. Olhei bem no fundo dos olhos dele e fiz cara de cúmulo. Quem ele achava que ele era para me dar ordens? Que sujeitinho metido à besta! – Acho que alguém esqueceu a educação em casa por aqui... – ironizei ao dar de ombros imitando-o por fim. Ele tinha uma expressão interessante de se observar, ele possuía uma mania divertida do tipo que quando falava algo que não fazia sentido ele meio que coçava a nuca de má vontade, eu pude perceber isso de imediato. Sou boa com olhares das pessoas de primeira impressão. Ele retribuiu a feição. – Aqui não é lugar para Vamp – ele interrompeu cauteloso, só pude ouvir o som de v no meio da palavra estranha que ele fez questão de engasgar e não terminar de falar.
  • 17. 17 Fiz gestos com as mãos de não ter entendido ainda dando de ombros. – Vam o quê? Ele ficou sem jeito, repetindo aquela mania que eu havia percebido de coça a nuca. – Nada, esquece. Pelo visto você ainda não deve saber, que sacanagem – disse num sorriso zombador, que sinceramente, me irritou bastante. Fiz outra cara feia e desviei o olhar um tanto brava. – Sei de quê? Você não é muito agradável, cara – deixei escapar. Na maior sinceridade que eu tinha, estava usando isso com ele porque eu estava cansada dessa história estranha de dormir o tempo todo, Kate esconder coisas de mim, acordar no meio de um mundo de gelo... Coisas normais da vida, não? – Calma, não quero brigar com você, nervosinha – ele disse, tirando a máscara de idiota na mesma hora, fazendo com que minha birra com ele diminuísse um pouco. Tentei mudar de assunto naturalmente para acabar com o climinha bobo. – Como eu volto para casa? – perguntei. Ele não respondeu minha pergunta de imediato, mas disse outra coisa estranha que eu não entendi e não quis perguntar sobre o que era. – Você parece assustada – ele murmurou encostando-se a árvore grande com as mãos no bolso e totalmente despreocupado de um jeito relaxado também. E não é que ele acertou? Ele tem toda razão, parabéns cara! Um ponto pra você. – É eu estou um pouco... – bufei de má vontade. Ele se desencostou da árvore em que estava encostado e se aproximou de mim meio que olhando diretamente aos meus olhos, que perto dos deles, eram como a escuridão da noite. Mas sabe, ele parecia tenso também, apesar de mostrar-se relaxado e pôr as mãos nos bolso, mas eu percebendo isso perguntei a ele o que ele estava querendo dizer, mas pareceu envergonhado demais para me responder. – Você deve estar querendo me dizer alguma coisa – eu insinuei. Aquele sujeito então me olhou surpreso, parecendo gostar do meu jeito. – Você é humana? – Ele perguntou, de modo que se sentiu mais aliviado respirando mais forte depois. Eu logo fiquei encabulada com aquela pergunta tão estranha e ridícula. – Todos nós somos. Você, eu e todos – respondi o óbvio sem nem esperar o meu cérebro gerar a resposta correta e racional. Então, ainda com o vento batendo em nossos cabelos, ele pensou um pouco para responder e olhou para cima, ora depois voltou a me encarar. – É – murmurou se sentindo estranho por ter concordado. No entanto, fiz cara de cúmulo maior que sua pergunta anterior. – O quê? – eu perguntei com cara de apavorada, só piorando nossa conversa. Ele não estava brincando. Ora, desviou o olhar com aquelas sobrancelhas perfeitas e diferentes dos meus olhos, não querendo com toda certeza entregar o jogo de que sou uma aberração pra ele. – Eu sei que você não é uma humana – ele sussurrou zombando de mim de novo, soltando quase um sorriso largo ao perceber que não estava olhando pra ele.
  • 18. 18 Daí eu o fitei. – Escuta aqui, se você quiser ficar com as suas loucuras você fica. Mas não me coloca no meio disso – então, perdi a paciência dessa vez. Eu não entendi porque ele falava sobre coisas tão sem sentido e agia com naturalidade, ele não parecia alguém normal. Deixava-me sem saber o que dizer, eu não me sentia a vontade perto dele, era como se eu tivesse alguma coisa de errado. Como se ele soubesse mais de mim do que eu mesma. Ele ficou atrás de mim e sussurrou baixo nos meus ouvidos. – Não está com sede? – insistiu. Quando ele disse aquela palavra, eu só pensava em alguma coisa que eu não sabia o quê. Uma mistura de fome, de sede, de desejo, de dor. Uma explosão sem sentido. – Aqui só tem água gelada. Ficou maluco? Se eu beber qualquer coisa daqui, posso ficar doente e morrer – eu exclamei nem um pouco calma. Ele abaixou a cabeça e não conteve o sorriso, estando atrás de mim. Ele estava realmente se divertindo a beça ao ver meu jeito estourado e careta. – Ficar doente? Morrer? – nesse instante sua risada foi mais intensa. – E que tal, Sangue? Provocou-me novamente, dessa vez ele dizia algo totalmente sem sentido, mas que automaticamente era a coisa que eu mais desejava, de fato. Essa foi à palavra certa, – sangue. Nesse mesmo instante que ouvi, fiquei desesperada e velozmente tentei atacá-lo Sim, eu tentei atacá-lo! Eu não posso acreditar no que acabei de fazer ali. Olhei para ele e logo valsei no seu pescoço sendo repuxado por sangue que me dava água na boca só de pensar em sugar aquilo. Tudo bem, eu já brinquei de chupar meu próprio sangue e fingir que era um morcego quando era pequena. Mas aquilo? Aquilo foi à coisa mais estúpida e sem explicação que já fiz na vida. Então, quando eu estava segurando-o pelo pescoço bravamente, olhei para aquela cena e soltei-o imediatamente. E o engraçado é que aquele sujeito estava rindo. – Droga, Que desejo de sangue! Fiquei atordoada enquanto aquelas palavras saíam da minha boca. Ele se defendeu. – Foi exatamente o que eu suspeitei – ele disse sério, parecia que ele tinha medo em seu olhar dessa vez, era uma mistura de medo e prazer em seus olhos azuis. – Quer perder seu pescoço? – eu sussurrei ainda sentindo o descontrole dentro de mim. Passado alguns segundos, me dei conta que do que eu havia dito de novo. Aquele lugar, aquele clima... Ele estava me atordoando muito. – Desculpe, acho que estou ficando maluca, não sei o que estou dizendo, acho que meu controle desapareceu desde que cheguei aqui. Eu vou embora – eu disse já dando de ombros e com intenção de ir embora. Mas aí pensei: como vou embora de um lugar pelo qual nunca estive antes? Eu me afastei lentamente dele. Mas ele manteve o olhar fixo em mim sem medo. – Tudo bem, é normal para gente como você – ele hesitou.
  • 19. 19 Aí que eu não consegui relaxar mesmo. Como alguém acharia o que eu disse, normal? Ele falava tanto que eu não era normal. Que eu não era humana. Quando na verdade o estranho dali era ele. Virei em direção a ele e olhei profundamente em seus olhos na intenção de saber. – O que você sabe sobre mim que eu não sei? – perguntei. Ele não desviou o olhar azul. – Você quer mesmo saber? – ele hesitou de novo. – Sim, muito. Ele balançou a cabeça e respirou fundo dando a volta por trás de mim. – Vamos lá então... Começou a conversa que eu queria tanto saber, era a coisa que mais me chamava atenção naquele momento. Afinal: acordar no meio do nada não é coisa muito normal... – Antes, eu posso te fazer uma pergunta? – ele pediu. Mexi nos meus cabelos e ajeitei minha blusa acompanhando os olhos aonde ele ia. – Qual pergunta? – Quando você nasceu, nasceu com os olhos amarelos ou avermelhados? – perguntou. Movimentei-me rapidamente e o encarei. – Como você sabe disso? Meu tom era alto. Nada do que eu dizia, era a forma que eu estava no meu estado normal, a cada palavra dita por mim, era como se fosse outra pessoa, outra Alice. Ele manteve o olhar frio. – Calma. Eu vou te explicar. Eu já ouvi muito sobre você, você é uma espécie de raridade extrema. Talvez você seja a única assim – ele murmurou, mas engoliu em seco para não me deixar mais irritada, parecia que ele sabia como me acalmar, ele sabia lidar comigo de algum modo, ele sabia o que me irritava e o que não me irritava, tudo isso apenas em poucos minutos de conversa. Ele chegou perto de mim e sussurrou algo do tipo: – Você é uma Vampira. Então, fiquei paralisada com aquela situação. Quando essa palavra chegou aos meus ouvidos, eu não sabia o que sentir e o que dizer e então comecei a gargalhar. Até que passou alguns segundos e eu pude por fim ver que ele não estava rindo e me fitando, aí eu parei de rir. Vampira? Nossa, que engraçado! Ele era um sujeito tão estranho. Falava sobre coisas idiotas com tanta seriedade... – Como assim? Nunca matei ninguém, nunca voei, nunca tive nenhuma característica vampiresca. Eu tenho coração e durmo! Essa coisa de Vampiros são todas meras lendas, coisas de seriados para adolescentes e filmes de ficção – eu cravei no peito o que dizia, foi uma espécie de orgulho do que eu estava dizendo ali. Ele riu. – É uma longa história. Eu não sei sobre isso direito. Só posso te informar que com certeza há alguma explicação. Seus pais não te contaram nada? E, aliás, quantos anos você tem?
  • 20. 20 Ele me encheu de perguntas e dúvidas, falando coisas sobre mim que nem eu mesma sabia, quer dizer, que ele achava que sabia. – Eu fiz dezessete ontem, e sobre meus pais, eu tenho até me acostumado. Eles não costumam me contar muitas coisas, John não é um pai muito sociável e de conversa. Ele se preocupa, mas do jeito dele. O que sentir com aquelas perguntas? E, aliás, afirmações consecutivas? Aí eu parei pra pensar: porque estou contando essas coisas pra esse sujeito metido à besta? O que está dando em mim? Vê se acordar, Alice Jones! Erga a cabeça e dê o fora daqui, saia fora desse cara! – era o que meu cérebro me dizia, mas meu coração dizia que eu devia ouvir cada gotícula de palavra vinda dele. Ele sorriu de novo. – Parabéns atrasado – murmurou. Olhei para ele e fiz uma cara de cúmulo misturada com diversão diminuindo um pouco daquela tensão toda que rolava entre nós. Cúmulo por fazer piada de algo tão sério na qual ele afirmou. Diversão pela sua cara extremamente séria para fazer piadas. Ele levantou uma sobrancelha e seu cabelo ficou espalhado por sua cabeça. – E quanto a morrer, me machucar, respirar, piscar, comer? – perguntei, tentando ver lógica naquela conversa. Na verdade, tentando entrar na conversa dele para ver até onde ele estava querendo realmente chegar com isso. – Nada disso. Vampiros são imortais. Enquanto à relação de se machucar, isso depende de cada dom de cada Vampiro. Eu não sei quais são seus dons, não sei nada sobre seu tipo de Vampira. Que é único e estranho – sussurrou, fazendo careta. “Interessante... Você tem provas de tudo isso que você disse?” Agora quem zombava era eu. – Está no livro de Bhaskara, o rei da magia que conhece cada espécie e cada um. No livro, fala que vai existir uma Vampira única e outras coisas que não me lembro, eu costumo ler, já que não durmo muito. Então fui ligando as peças e descobri que é você. Eu não preciso te provar nada, você mesmo vai ver sanguessuga! Porque acha que veio parar aqui? – ele tomou o pódio de zombaria de novo, sendo o irritado da vez. Acreditei e senti uma ponta de arrependimento. – Bem... Isso é estranho. Como funciona esse livro? Eu estava praticamente o subestimando, duvidando dele. Ele pegou uma pedrinha de gelo que estava embaixo dele e a observou, logo me mostrando. – É mais ou menos um livro guia. O livro é bastante útil para seres de outro mundo... Seres estranhos e malignos. – Tipo você – e deu uma risada sínica. – Seres de outro mundo, você fala como se eu fosse uma deles. E pare com esse olhar sínico que fica dando o tempo todo desde que cheguei aqui. E, afinal, quem é você? Não. Melhor dizendo, o que você é? – perguntei. Ele mudou sua expressão, ficando sério e preocupado. Foi como se ele tivesse vergonha do que é. Como se não gostasse, algo assim. Ele deu meia volta e se afastou, mantendo sua expressão longe e vazia observando
  • 21. 21 aquele paraíso lindo e maravilhoso, que infelizmente estava sendo habitado por dois corpos sem ligação nenhuma. Ele não respondeu. Não consegui conter e por vez, fiquei preocupada também, mas com ele. Fui à sua direção e o fitei de perto. – Qual é o problema? – perguntei doce dessa vez. – Eu não sou um urso panda – sussurrou ainda longe. Liguei meus pensamentos um ao outro e cheguei à conclusão que talvez ele também fosse um Vampiro. – Você também é um Vampiro? – inocentemente eu perguntei. Ele fez outra careta e me olhou com aquele olhar sincero que me fazia muito bem. Surpreendentemente, ele abriu um sorriso de lado, achando aquilo engraçado pra caramba. Pensei em sua reação e logo tentei interpretá-lo. – Eu disse alguma piada ou coisa assim? – retruquei ainda de frente a ele. Seu sorriso foi um sorriso automático, daqueles que não se pode controlar facilmente. – Não, desculpa. É que sua pergunta foi tão inocente que achei hilário para uma máquina de matar como você. Máquina de matar? Ele me chamou de quê? Fiquei obruscalmente irritada, muito na dúvida do que responder. Daí então, aquele sujeitinho estranho veio em minha direção, pegou em minhas mãos ainda com medo de algo, mas querendo demonstrar autoconfiança. De algum modo estúpido, ele estava sempre com um pé atrás na minha presença. – Eu acho que você me entendeu errado. Eu quis dizer que você não tem culpa de ser assim, eu também não. Não temos culpa de sermos tão diferentes um do outro e de muitos outros. Eu compreendi o que ele quis dizer, não precisava de mais explicações. – Antes, só me esclarece algo: Você é um humano ou um ser de outro mundo? Ele riu. – Sou humano. Não senti nenhuma firmeza no que ele disse, mas deixei tudo quieto. – Tudo bem, não se preocupa. O que eu quero mesmo saber é o que você é – bufei. Ele logo voltou com sua expressão triste e inconformada. Eu dei meia volta e desisti. –Tudo bem, não precisa falar. Ele logo se espantou com minha mudança e pegou em minhas mãos novamente, ora me fitando, ora sorrindo ou sei lá, zombando de mim. Durou pouco tempo, pois ele se afastou com a expressão envergonhada e incomodada. – Tem tantas outras coisas no mundo mais legal de se saber... Porque você não vai dar uma volta? – perguntou. Minha paciência não seria eterna, mas decidi entendê-lo, porque minha curiosidade era a vencedora até então. Somente balancei a cabeça positivamente,
  • 22. 22 mostrando que eu havia o compreendido. Ainda longe de mim e tenso, ele decidiu falar de uma vez por todas. Eu só ascenti com a cabeça. Mas ele revidou, pensando bem se deveria mesmo me contar. Pausa de mais trinta segundos para que o silencio dos pássaros dominasse o lugar. Minha mente se tornou uma bagunça total. Não sabia quase nada sobre ele, com certeza a maioria das coisas que são ditas sobre ele são mentiras ridículas. Não sabia nada sobre o que estava prestes a me tornar, um monstro. Voltei aquele lugar, parando de pensar. – Isso aí que você é deve ser melhor que ser um vampiro – eu disse, quebrando o gelo. Dessa vez ele abriu mais um grande sorriso, me fazendo sorrir levemente também. – O quê? – perguntei. Ele só balançou a cabeça de modo negativamente ainda sorrindo com suas duas covinhas bonitas, como se eu fosse extremamente hilária para ele. – E o que isso que você é costuma fazer? – perguntei tentando de novo que ele falasse. – Esqueça, eu não vou te contar. Mas que droga, eu quero saber detalhadamente! Minha raiva só ia aumentando a cada passar das horas. Só que aí eu decidi me conformar, cruzando os braços logo de uma vez. – Tudo bem, eu sei que você não vai me contar. Exatamente, ele não contaria mesmo. Não me sentia absolutamente nada uma vampira, eu até duvidei dele, mas na maioria de suas afirmações fizeram muito sentido. Eu só não queria era dar o braço a torcer mesmo. Ele fez que não com a cabeça e não se aproximou muito. Segurei toda minha raiva dentro de mim. – eu já imaginava. – O que você está fazendo aqui? Quero dizer, nós – perguntei voltando a ele de novo. Ele se interessou pela minha pergunta, mas ficava atento pra não deixar alguma coisa escapulir. Será mesmo que eu era uma vampira? Mas e se eu for: vampiros comem humanos, e ele é um humano. Ou seja... Não tinha jeito, eu ia perguntar e perguntar muitas e muitas vezes, já que ele começou com essa fantasia doida idiota. – Eu costumo ficar aqui às vezes – respondeu. Confesso que não acreditei muito no que ele respondeu. Apenas bufei e tentei arriscar de perguntar o que eu estava fazendo ali, já que eu mesma não tinha a menor noção. Pergunto ou não pergunto? Hm... Vou perguntar logo de uma vez! – E o que eu estou fazendo aqui? Ele pensou para responder, mas inacreditavelmente respondeu: – Vou tentar ir pela lógica do que eu sei: Você é quase uma Vampira agora, na verdade. Então qualquer humano que você ver na sua frente, ou até mesmo longe, vai matá-lo e sugá-lo inteiro. E com isso você precisa de um dia de isolamento para se
  • 23. 23 controlar e não matar ninguém. Seus pais então devem ser Vampiros legais – ele riu de leve, não olhando para mim. – Me deixa ver se eu entendi: A qualquer momento em que eu me transformar, você vira purê de batata? – perguntei de um modo irônico. – Exato. Mas... Meus pais? Vampiros? Oi? Senti um pouco de culpa por ter falado aquilo sem pensar, que podia mesmo ser sério. – O que meus pais têm haver com essa historia? Ele ficou sério. – Você não tem pai, nem mãe? – perguntou. Revirei os olhos de má vontade – claro que tenho. – Se você é uma vampira, com certeza seus pais são. A não ser que você seja adotiva. Impossível! Eu e John somos iguais na frieza e em quase tudo, e ainda sim que seja quase impossível, eu me pareço muito com Kate no termo de aparência e só. – Não, meus pais não são vampiros! Pelo menos, John... – e então, eu liguei os pontos e comecei a ver lógica em tudo o que ele estava dizendo. Mudanças de países, comportamento estranho de Kate, eu ter nascido com os olhos amarelos, Kate sumir o tempo todo... – Não é possível! – exclamei. – O que foi agora? – ele perguntou um tanto irritado. – Kate é uma vampira! Faz todo o sentido. Ele franziu o canto da boca, preocupado com minha exclamação tão absoluta. – Kate é sua mãe? – perguntou. Eu só ascenti com a cabeça, sentindo dores no estomago só de pensar, imaginar o que realmente estava acontecendo. Mas e John? Ele não é um vampiro! Eu tenho certeza... Porque senão, ele poderia ter escolhido uma profissão melhor que a de um xerife. – E seu pai? – Ele não. Tenho certeza que não... Ele ficou confuso, mexendo em seus cabelos arrepiados com volume perfeito, causando o reflexo claro em suas madeixas lisas lindas. – Mas isso não é possível, para ter um filho... A não ser que... Já sei – ele sorriu. – O quê? – É você mesmo... A vampira única e rara. Seu pai é um humano e sua mãe é que é a vampira. Portanto, você é a vampira que falava no livro de Bhaskara. Você é metade humana, metade vampira. Uau! Meu coração parou. – Então é isso? Existe essa coisa toda de vampiros? Ok, próxima piada, por favor. –Isso não faz muito sentido para mim, para ser bem sincera – admiti, tentando não falar sobre meus pais desse jeito pra um estranho. – Como você sabe tanto sobre isso? – perguntei, me interessando pela conversa.
  • 24. 24 Ele se acomodou na grande árvore que havia perto de nós, com cara de fingimento. – Eu sou historiador de coisas sobrenaturais – afirmou. Tentei analisá-lo para ver se realmente fazia sentido, mas eu não conseguia analisá-lo. – Existe uma legião de vampiros que costumam usar seus dotes para o mal- extremo. Existe também um vampiro que é metade bom e metade ruim. Uns dizem que ele é bom, outros que ele é do mau, mas todos sabem a verdade: ele é muito poderoso, de acordo com um capítulo que eu li que falava sobre isso. Nunca o conheci, nem quero. Não gosto de caras como ele – ele deu a palestra chata, mas com total sinceridade. Por fim, eu fiquei parada e com tédio. – Então somos dois? Ele balançou a cabeça positivamente e não prestou atenção em mim. – Qual é seu nome? – perguntei. Ele sorriu. – Nossa, é mesmo. Qual é seu nome, vampiralha? – ele bufou, tomando uma breve intimidade me colocando um apelido. – Meu nome é Nickolas – ele disse, perguntando o meu nome logo em seguida. Abri meus olhos de forma normal e botei os dois em direção a ele. – Alice – eu bufei o meu curto e simples nome, comum também, nada raro. Ele riu ainda um pouco distante. Olhamo-nos por cinco segundos e ele virou o rosto. Eu tinha a impressão de que ele me evitava, ele não mantinha o olhar profundo nos meus olhos, ele de algum modo, desviava seu olhar azul e eu fazia exatamente o mesmo, eu o evitava o máximo possível. A cada segundo mais próximo dele, meu desejo se triplicara. Hesitei. – Você sente vontade de matar? Ele se encabulou com minha pergunta impulsiva e um tanto ridícula. – De onde você tirou isso? Não sinto desejo de matar ninguém – gargalhou de costas, quando percebeu que eu estava olhando, ele disfarçou e ficou sério, em vão. – E eu? Terei vontade de matar todo mundo? – ironizei. Fiquei irritada, aumentando meu tom de voz de galeio em galeio. – Sentirá dores no corpo, e seus instintos enfraquecerão de vez em quando – ele explicou novamente mantendo sua invejada paciência. – Você fala com tanta certeza! Por um acaso conhece outros vampiros? – Infelizmente. – Porque infelizmente, se você os estuda? Ele ficou estranho e sem saber o que responder baixando o olhar sem dizer nada. – Você por um acaso saberia me dizer quais são meus dons? – perguntei inocente, enchendo-o de perguntas. – Eu não faço idéia. Isso é você quem vai descobrir. Então, o silencio dominou aquele mundo de água e gelo, um paraíso.
  • 25. 25 – Você vai ficar por aqui também, Nickolas? De algum modo eu queria que ele ficasse, afinal, ele era o único que tinha a solução para os meus problemas e as respostas para as minhas perguntas. Mas por outro lado... Ele é insuportavelmente irritante. Ele ficou assustado e com a expressão confusa. Quando me dei por mim do quão ridículo e precipitado aquelas múltiplas perguntas em apenas uma frase foram, fiquei com vergonha e não sabia onde enfiar a cara. – À noite eu vejo o que fazer. Ele ajeitou a sua blusa e coçou sua nuca. – Eu vou passar a noite aqui também, mas amanhã, quando você se transformar eu não vou estar aqui para virar lanche – ele murmurou. Então, fiquei com raiva de mim mesma, eu não estava nem um pouco preparada para me tornar isso. “Mas e hoje?” perguntei. – Acho que posso sobreviver – Ele brincou, mas ficou sério de repente. Ficamos em silêncio por alguns meros instantes. Sinceramente, eu não fui muito com a cara dele. – O que você pretende fazer agora? – perguntei entusiasmada, tentando me dar bem com ele. Tentando. – O que você quiser. – Não sei. Tentar falar sobre esportes, futebol ou algo do tipo – sugeri. Ele fez cara de cúmulo e se segurou para não perder a paciência. Eu pude perceber. – Eu acho melhor você ficar calada por algumas horas, isso seria perfeito – disse, zombando de mim. Não consegui ter alguma reação sequer diante do que ele disse. – mas de uma coisa eu estava certa – ele me deixava completamente sem graça e furiosa. – Prove que sou uma vampira – ordenei impaciente. Nickolas me olhou e fez cara de raiva. Sua expressão era de vontade de arrancar o meu pescoço, mas não. Ele só revirou os olhos e sorriu sinicamente. – Não tenho que te provar nada. O sangue subiu até o ultimo fio de cabelo que eu tinha, deixando-me calada sem conseguir dizer nada. Só conseguia bufar e sentir raiva o tempo todo. – Tem sim. Não é justo! Então não acredito em você. – Eu não ligo. Problema seu – sussurrou. Saí de perto dele e fui procurar algo para me encostar e dormir. Só achei uma enorme árvore e uma pedra gigante que acompanhou o lugar, pedindo para que eu me encostasse ali e dormisse logo de uma vez. “Vampiros” Eu zombei, com um riso sínico estampado no rosto, já com os olhos preparados para dormir e só acordar no dia seguinte. A tarde acabou, e o sol nasceu naquele lugar gelado, florido e com um sol lindo ao mesmo tempo. Eu acordei não me sentindo muito bem, com o estomago revirando e minha aparência estranha, eu pude sentir. A última pessoa que eu queria ver era ele.
  • 26. 26 Então, levantei-me despreocupada e ainda zangada. Morrendo de fome. Ainda me ajeitando, levei uma pedrada na cabeça. E advinha? Era ele. Nickolas havia dormido em cima do ultimo galho da árvore que estava ao lado da grande pedra cinza em que eu dormi. E eu nem o vi, nem imaginei... Então, Nickolas lançou uma pedrinha na minha direção. Quer dizer, em direção da minha cabeça. Quando a pedra veio em minha direção, lancei-a quilômetros de distancia sem pensar. Foi tão rápido, aquilo foi sobrenatural. Olhei para ele percebendo o quanto aquilo foi estranho e ele sorriu zombando “Eu te avisei, você é uma vampira” Preferi não olhar na cara dele e decidi ignorá-lo. Mas ele quis contrariar de novo, aparecendo na minha frente do nada. Eu me assustei com aquilo, sério. – Oi, vampiralha. Conseguiu dormir? Revirei os olhos. Como ele é sínico! – Dormi – respondi com frieza. Mas então, ele decidiu agir sério. Olhou-me como quem estava arrependido. Então, ele me parou pelos braços e me fitou. – Desculpe por ontem, eu pensei sobre e vi que não fui legal com você – disse. – Agora sou eu quem deve desculpas. Você não viu o que eu acabei de fazer? Duvidei de você o tempo todo e agora essa droga acontece. Ele ri. – Seria legal ser um vampiro... – murmurou, soltando-me. Olhei para ele e persisti. – Sério? – me entusiasmei. – Não – e fez aquele olhar sínico de novo. Eu reviro os olhos, que por sinal estavam ardendo muito. Olho para ele e vejo que ele não esta rindo, que está super sério dessa vez. Então, meus olhos começam a doer pra valer. – Ai! – Que foi? – ele pergunta realmente preocupado... Levando meu queixo ao encontro de seus olhos com a sua mão direita e quente. – Meus olhos... Estão doendo muito – digo, colocando a mão neles. Ele tira meus dedos dos meus olhos e leva os dele nos meus. Chega bem perto e se assusta. – Nossa. – Estão machucados? – Não é isso... – Então é o quê? – pergunto impaciente. Ele se afasta e prepara para me dar alguma má noticia com toda certeza. – Você está se transformando – ele conclui. Transformando-me? Que ótimo... Estou me transformando em uma sanguessuga maluca! Perfeito, hein? Que maravilha! Maravilha é o caramba. Não pode ser. Eu não quero. Não é! A sensação era maravilhosa! Eu sorria, ficava mal, tudo ao mesmo tempo. Eu queria sair por aí correndo, queria matá-lo, ninguém me segura mais. – Que ótimo. É agora que eu pulo no seu pescoço e te mato? – eu ri. – Mais ou menos – ele também ri.
  • 27. 27 Então, Nickolas me surpreende. Puxou-me muito delicadamente para encontro dele, me levando para o topo da montanha, me puxando com tal rapidez engraçada. Então, o lance dos vampiros: era verdade... Eu não consegui decifrar aquela cena, de verdade. O que eu vi foi apenas que estávamos no topo daquela montanha linda, apenas isso. Eu estava sem falas, não esperava muita coisa naquele dia. Quando olhei para o lado, lá estava ele, com aquele jeito inibido e original que ele tinha, sem forçar nenhuma gota. – Eu não entendo você – eu disse um pouco emburrada. Ele se aproximou de mim e olhou para cima, o céu estava bonito, com muitas nuvens prestes a cair uma tempestade, eu achava bonito quando o céu ficava cinza, era como o fim do mundo, com todos vivos e vivendo normalmente suas vidas. Dia após dia, semana após semana, meses após meses, anos após anos. Morte após morte. Era essa a vida que todos levavam. – Não tem que me entender – ele disse, ficando com a expressão de seu rosto séria e expressiva a cada conversa que desenvolvia entre nós. Fiz cara de cúmulo e considerei aquilo como uma revanche. – Desculpe, eu sei que não estou sendo a melhor companhia do mundo – ele ascentiu. “É bom que você saiba disso” Pensei com uma pitada de raiva dentro de minha mente. Eu não disse nada, apenas virei o rosto e fiquei em silêncio. Ele percebeu a minha raiva. Eu não conseguia entendê-lo, ele era como um enigma. Quanto mais eu o conhecia, menos eu sabia. Nickolas era o cara mais estranho e misterioso que já conheci em toda a minha vida. Se é que agora posso chamar de vida. – Tenho dezenove anos – ele olhou para baixo e manteve a expressão calma. Fiz uma cara de surpresa e decidi parar de ignorá-lo. – Quantos anos você tem agora? Você tem certeza que você tem dezenove? – eu perguntei, educadamente. Nickolas ficou mais sério ainda. – Na verdade, tenho vinte. Mas prefiro ser reconhecido por dezoito anos, é assim que todos acham que eu tenho, nos colégios, bares, clubes, amigos, enfim – ele disse. – Vinte? Eu te dou dezenove, com certeza. Finalmente fiquei a vontade com ele e me soltei um pouco. Ele me olhou com cara de brincalhão, uma expressão nova. – Eu sou quatro anos, mais velho que você – ele zombou de mim pela milésima vez. Pensei um pouco em alguma forma de me vingar dele na resposta. – Eu sou imortal – eu finalmente abri um sorriso largo, aceitando os fatos. – Vampira atrevida – ele disse e não sorriu junto comigo. Era como se ele fosse Vampiro e eu humana. Ele agia de uma forma estranha, ele não parecia um cara normal quando se comunicava comigo. Era como se qualquer gesto que eu desse, ia o estimular um desejo que sugar o meu sangue e me matar. Era eu quem tinha que me sentir assim. Mas não, relacionado a ele, tudo ficava ainda mais confuso. Também tinha o fato que a Alice de hoje, não seria mais a de amanhã. Eu me tornaria outra Alice, com outra personalidade, outro estilo de vida. Isso me deixava tão
  • 28. 28 tensa. Abaixei a cabeça, cheguei perto de um mini barranco que havia por lá e me sentei. – Quantos dons você acha que eu terei? – sussurrei na pergunta. Eu ficava o fitando para entender qual era a dele, de fato. Ele foi atrás de mim e se sentou ao meu lado, me surpreendendo pro lado bom. – Eu não sei, eu nunca me interessei sobre você– disse. Eu fiz quase que uma careta. – Quanto você acha que eu tenho? Ele fez um movimento com os olhos pensando na resposta. – De acordo com sua espécie, deve ser alguns bons – ele finalmente abriu um sorriso largo, com covinhas que era muito bonito de ficar vendo, era contagioso, me dava vontade de sorrir também. Infelizmente era raro ver aquele sorriso largo e sincero. Ele mal sorria, ele não ficava a vontade com a minha presença. Eu então olhei para ele. Ele ficou muito surpreso com a minha reação, eu pude perceber. – Espero que isso seja algo bom – eu murmurei. Ele ficou sem jeito quando respondeu. Nickolas se afastou e olhou para o céu. – Você costuma conviver com humanos, eles são tão sortudos... – Eles? – Nós. Somos sortudos por não ser como você, uma maquina de matar – ele corrigiu. Ele se levantou e não me deu tempo de responder. Perfurou o gelo apenas com murros, que sinceramente, nem pareceu que ele estava fazendo força. Vinte segundos depois, ele estava lá de novo na minha frente, com alguns tipos de animais marinhos na mão, acho que estavam mortos. – Tenho uma péssima notícia para te dar – eu disse, me levantando também e entortando o canto da boca. – Eu odeio peixes e qualquer coisa que venha do mar – confessei. – Eu sei, eu não trouxe para você – ele me cortou completamente. – Como assim você sabe? – Nenhum vampiro gosta – completou, colocando-os no chão, de modo bruto. Senti vontade de atacá-lo dessa vez, acabar com ele. – Eu não sei se isso faz parte da transformação, mas não sinto fome e você não está facilitando as coisas. Além do mais, porque eu não estou sentindo desejo por você? Ele deu alguns passos para o lado direito, se afastando de mim normalmente e sorriu. Eu havia me esquecido desse detalhe. Ele me fitou sem graça. – Que ótimo, então eu sentirei vontade de matar? – Por enquanto, não – ele esclareceu. – Perfeito, droga – eu disse, olhando perdidamente naqueles olhos diferentes dele. – É tão legal você não estar me atacando. Eu acho que tem alguma coisa errada aqui – ele disse consigo mesmo, segurando o máximo o sorriso largo. Eu me intrometi no seu momento eu. – Enquanto você estiver bonzinho, eu vou pensar no se caso...
  • 29. 29 Ele ficou parado de repente, me observando, olhando cada piscar de olhos que eu dava. Confesso que me senti estranha e completamente desconfortável. Tentei arrumar alguma maneira daquilo acabar o mais rápido possível. – Você dorme? – eu perguntei quebrando qualquer espécie de clima. – Lógico. Dã. Ele desviou o olhar, como eu esperava e desejava que ele fizesse. – O que vai ficar fazendo enquanto eu dormir? Vai dormir também? – Credo, como você pergunta! Eu não sei, mas quando você acordar, eu não vou estar aqui. Eu prometo – ele dissera com tal educação e meiguice estranha. – Tudo bem – eu disse encerrando a conversa, não estava com muita vontade de conversar com ele, meu estado nervoso estava um pouco descontrolado. E, aliás, como ele mesmo disse, eu pergunto demais. – Eu estou indo, é melhor você dormir, amanhã será um dia e tanto. Ele se virou com aquelas costas compridas e curvadas, de modo que mostrava sua magreza e alguns meros músculos junto. Ele não era um cara muito forte, era um cara magro, com músculo normal, nada exagerado, e alto. – Não – eu fui até ele e o virei de frente para mim, mudando de idéia de repente. – Fica mais um pouco, quero saber mais, tenho tantas dúvidas – ele ficou desconfiado com a minha atitude. Ele não esperava aquela minha reação. – Tudo bem, como você quiser – ele se sentou ao meu lado, acho que ele sentiu pena de minha expressão pidona, com cara de abandonada e sem saber de nada. – Eu sou uma Vampira. Mas não me sinto como uma. Eu não tenho poderes nem nada, isso soa tão estranho, eu não estou sabendo lidar com isso, Nickolas – eu fui começando o assunto. – Alice, eu vou te explicar uma coisa... Você vai descobrir cada dom aos poucos, com o tempo. Amanhã, com certeza, você vai notar alguma diferença em você. Esses sete dias serão talvez, um bom tempo – ele concluiu. – Você sabe de tanta coisa, às vezes eu sinto como se você fosse bom demais para ter paciência comigo, isso é estranho, eu não sei explicar. Eu me sentei, já que ele estava sentado, me aproximei e fiquei frente a frente com ele, de modo com que cada diálogo, eu me sentia mais próxima e a vontade de estar ali com ele, descobrindo coisas sobre mim e sobre todos ao meu redor. O grande problema é que eu estava nos últimos instantes de ser humana. A partir daquele dia, eu já não seria mais humana e a Alice normal. Eu me tornaria mais possessiva e cautelosa, principalmente agressiva e anti-social. Eu não pretendia matar ninguém. Mas na real, eu só acreditaria vendo. Eu me levantei, com intenção de procurar alguma coisa para fazer. Ele se levantou logo em seguida, com medo do que eu estava prestes a fazer. Cada gesto que eu dava, era uma ameaça a ele. – O que foi? – ele perguntou, tentando entender o que se passava comigo. – Estou muito entediada. Aqui é tão lindo, quero fazer alguma coisa nesse paraíso. Algo diferente e bem doido – eu hesitei, fazendo praticamente um pedido estúpido.
  • 30. 30 – Alice, ficou maluca? – Nickolas me cortou de querer qualquer coisa e de principalmente conhecer a minha espécie estranha. – Eu não quero fazer coisas doidas para sempre, é só hoje. Esses são meus últimos instantes de humana, Nickolas – eu pedi, com aquele olhar que sinceramente pareceu que funcionaria, eu, aliás, estava exuberante. – Você tem toda razão – ele se deixou levar, pegando minhas mãos e me levando com ele com muita delicadeza – que eu mal podia sentir – para perto de um buraco profundo de água gelada. Fiquei completamente surpresa com aquele ato dele. Pegar minhas mãos, eu não conseguia entendê-lo de jeito nenhum, eu desistira. – Quer mesmo entrar? Não sei se isso é uma boa idéia – ele me olhou, confirmando, não dando mais nenhuma palavra sequer. – Eu tenho certeza. Mas espere, eu consigo respirar debaixo d’água? – perguntei. Nickolas teve que virar o rosto para gargalhar. – Você é uma vampira, não está se transformando na pequena sereia – disse rindo. – Preste atenção – ele me puxou para encontro a ele, inusitadamente nossos rostos se colaram. – Não tente fazer nada de errado, eu estou confiando em você, se for preciso eu não vou pensar nem duas vezes para tentar te matar, eu falo sério. – Me matar não deve ser algo muito fácil – eu retribuí, olho no olho. – Você ainda não se transformou, no entanto você ainda é humana, lembre-se disso. Eu, por vez, fiz cara de cúmulo. – Então porque está com medo de que eu faça alguma coisa? – o confrontei. Nickolas me ignorou e ficou estranho. – Isso não importa – murmurou ajeitando sua regata. Ele me puxou para perto dele. – segurou minhas mãos, e me levou para o buraco com água gelada. A sensação era estranha, mas confortável ao mesmo tempo. Era tudo tão incrível, havia várias coisas exóticas, fizemos acrobacias, teve um momento bom, o melhor de todos. Foi quando eu estava embaixo dele na água, completamente confortável. Encostei meu nariz no dele e brincamos por alguns instantes. Pela primeira vez, eu senti que ele possuía algum sentimento por mim que não seja nojo, raiva ou desejo de morte. Depois de algum tempo, voltamos. Ele me colocou com toda leveza no chão de gelo. Ele me tratava como se eu fosse uma humana sensível, alguém indefeso. – mal ele sabia o que eu era de verdade, mal eu sabia. – Pronto. Não foi tão ruim assim, foi? – perguntei, com uma expressão de ansiosa. – Legal – ele disse e sorriu amarelo, tentando ser educado. – Basta por hoje – e se levantou. Eu concordei com a cabeça, afinal: já estava completamente escuro ali. – Eu vou dormir agora. Eu me ajeitei naquele canto e fechei os olhos. O céu mudou de cor, se tornando noite bem negra. E com aquelas nuvens intensas brilhantes acinzentadas.
  • 31. 31 Já era manhã. Meu sono foi interrompido por uma dor enorme. Senti todas as veias do meu corpo se repuxando, uma dor imensa, meus olhos mudavam de cor a todo o momento, os pêlos de meu corpo, eu sentia que eles estavam caindo, se soltando de mim aos poucos. Os meus ossos estavam se tornando duro como uma pedra. Meus dentes, crescendo as presas, meu cabelo também cresceu e ficou extremamente liso em cima e ondulado nas pontas, com um tom mais mesclado claro. Eu não conseguia controlar meus pensamentos, tudo ao meu redor estava mais nítido, os sons estavam duplamente mais ampliados. E o pior de tudo, eu estava com uma sede imensa, a única coisa que estava em minha mente, era – sangue – eu não consegui me controlar e comecei a ter uma crise de dor, transformação e desejos incontroláveis. – Olha só quem decidiu acordar – Nickolas disse, sendo interrompido por uma cara de surpresa hilária. Ele estava assustado e com um olhar diferente, ele não sabia o que fazer a me ver monstruosa daquele jeito. Ele então ficou imóvel e quieto como se eu fosse uma cobra árabe e ele estava fazendo uma dança para me hipnotizar. Ah, tenha dó, qual é! Mas que droga, ele me prometeu que não estaria aqui quando amanhecesse. Vou tentar explicar como eu estou me sentindo. Imagine que está sem comer por dois dias. Ok, agora de repente aparece alguém caminhando perto de você na maior inocência e sorrisos com um bolo de chocolate bem farto. Sentiu? Não, você nem imaginou... Ser uma vampira: – É muito pior que isso. – O que tem de errado comigo? – perguntei, num tom mais alto do que o normal e desesperada. No mesmo instante, Nickolas fez um espelho de gelo para mim. –Talvez isso ajude – ele disse de boa vontade. – Que diabos são isso? – Eu quase que gritei, rindo e brava ao mesmo tempo. Meu rosto estava perfeito, sem nenhuma falha, meus dentes laterais estavam pontudos, meus olhos – vermelhos – Meu cabelo, brilhante e perfeito. Meus lábios estavam rosa escuro. Eu estava outra. Mas ao mesmo tempo, Alice de sempre. Olhei para ele e não consegui ter reação alguma. – Achei que era impossível você ficar mais bonita – ele sussurrou consigo mesmo, talvez com a intenção de me acalmar. – eu pude ouvir perfeitamente o que ele havia dito em segredo, consigo mesmo. Eu estava a mil, e me afastei dele. Eu estava sedenta demais, uma possível cena não saía da minha cabeça, – a morte dele. Fiquei tensa e evitei olhar pra ele. Ele então se posicionou à minha esquerda. – Você está estranha, o que está havendo? – perguntou inocente. – Saia de perto de mim agora – eu respondi totalmente fria com a voz demoníaca. Ele não se afastou e se aproximou de mim, como eu não esperava, de fato. Minha voz, meus olhos, meu rosto... Tudo era tão feio! Tão assustador. – Você está querendo morrer ou algo do tipo? – perguntei irônica. Ele abriu mais um daqueles sorrisos irônicos.
  • 32. 32 – Não, eu só acho que deveríamos tentar caçar... – ele disse, me chamando para fazer aquilo que eu mais queria naquele momento, exceto por sugar todo o pescoço dele e acabar com o pouco sangue que ele possui, é claro. Fiz uma careta hilária que só não sei descrever perfeitamente por não estar me vendo e tentei disfarçar aquele sentimento estranho que estava me consumindo por inteira. Como assim? Um vampiro indo caçar com um humano? Não... – Como sabe que eu estou sedenta? – perguntei de má vontade. Ele ficou indiferente, com uma expressão tranqüila. Que, aliás, parecia muito que ele estava bastante tenso, mas ele disfarçava bem. Até agora eu sabia que ele não ficou tranqüilo em nenhum momento, eu senti sua tensão em todos os momentos que estive perto dele. – Você devia ficar calada e ir caçar. Eu me virei de costas já mostrando a língua em seguida, para que ele não visse. – Eu nunca cacei antes, não sei o que fazer – eu admiti. – Você vai saber o que fazer – ele disse, me confortando. Então quando chegamos perto do mundo de paraíso lindo e tudo mais, pulei dentro daquele mundo de água gelada que estava super gelada e eu só sentia cócegas. Podia enxergar tudo com aquela água cristalina e azul, aliás. Quando achei um urso, fisguei e o chupei inteiro sem pensar nem duas vezes. Como eu me sentia forte e melhor! Voltei sorrindo até as orelhas, já ele ficou meio sem jeito e se aproximou de mim, colocando seus dedos no canto de minha boca esquerda retirando uma gota grande de sangue. – Muito melhor – e franziu o cenho. Olhei com cara de cúmulo para ele e tentei não demonstrar a minha timidez exagerada e um tanto hilária, pra falar a verdade. Ele continuou na dele. – Pelo visto está satisfeita. Não vai querer me atacar, certo? – perguntou. Nickolas me olhou. Eu sou uma Vampira, ele é um humano. Eu sou fria, ele é quente. Ele é humano, eu sou metade. Quando nossos rostos se encontraram e nos aproximamos, eu fechei os olhos com intenção de sumir dali. E então senti umas cócegas no maxilar e fui abrir os olhos para entender o que foi aquele vulto que surgiu dentro dos meus olhos ainda por cima. E num passe de mágica, Nickolas não estava mais comigo. O que foi aquilo? Será um sonho? Pesadelo... – Eu sei que você está aí. Eu olhava ao redor, tentando achá-lo. Ouvi atrás de mim um sussurro breve que não queria dizer nada, mas só me fazer sentir que estava ali. Quando ouvi aquela voz, meu coração parou. Foi então que eu me entreguei e retribuí a brincadeira de mau gosto, desaparecendo com minha super-agilidade vampiresca. Eu apaguei mais uma vez, perdendo completamente minhas forças. Eu já estava até me acostumando com esses apagões do nada. – Alice, acorda.
  • 33. 33 Ouvi a voz de Kate me acordando se destacando em minha mente confusa. – Kate... – foi até mim com um olhar de plena culpa e me deu um abraço. – Então, como foi passar a noite sozinha no meio de todas aquelas geleiras? – ela sorriu. – Sozinha? – não a contei sobre Nickolas. Eu estava com pleno ódio dela, claro. Tantas coisas que ela me escondeu minha vida toda e agora vem com esse rosto culpado pra cima de mim, qual é. Ela me escondeu por tanto tempo que eu sou uma vampira, quer dizer, metade vampira. Com toda certeza ela escondia muito mais. – Descobriu algo sobre você? – ela queria muito saber, eu pude perceber cada movimento que ela dava, era parecido com uma respiração, mas não era. Ela queria que eu descobrisse sozinha, não queria me contar de nenhuma maneira. Talvez não fosse bem assim do jeito que eu estou pensando, mas de qualquer forma... – Sei de tudo... Porque não me contou esse tempo todo? Você é ridícula. Sério. E o John? Com toda certeza ele não sabe, sabe? Claro que não, né. Você faz questão de esconder seus podres de todo mundo e age com a maior cara de pau possível – perguntei e afirmei plenamente séria, vendo que o “sangue” nela estava pulsando. Os olhos dela se preencheram de vampirismo e ela meio que me atacou. – Não fala assim comigo – e rugiu. Aquele momento era a hora da verdade, era a hora de muitas explicações. Foi tão estranho vê-la com os olhos daquela cor vampiresca, com os dentes pra fora e ainda por cima, dando uma prensa em mim. – Não... Desculpe-me – e me soltou arrependida. Eu me segurei para não demonstrar o medo ao vê-la com aquele rosto demoníaco. – É uma longa historia. Eu e seu pai nos envolvemos e então eu fiquei grávida de você, mas eu não consegui transformar John, porque na verdade não era o que eu realmente queria fazer. Então, preciso que você mantenha segredo... Se John sonhar que vampiros existem, ele vai pirar. Alice... Prometa para mim, por favor, que você nunca vai contar a ele? – Kate estava a mil com toda essa situação humilhante e completamente estranha no meu ponto de vista. – Não prometo nada. E quando prometeu a ele que sempre seria fiel em qualquer circunstancia... E então? E você ainda quer que eu te prometa algo? Por favor, você. Tenha dó, como você pôde. E a sinceridade? Onde fica? Que ótimo que não estão mais juntos... Quero que saia de casa, quero que nos deixe em paz. Os olhos dela se enchem de lagrimas, mas ela não chorou. – É tão fácil falar. Você não sabe um terço do que eu passei. John é complicado. Acha que não tentei contar toda a verdade? Acha que não tentei? Não adianta nada agora. A verdade é: você é uma vampira, eu sou uma vampira e seu pai, o John... É um humano que odeia coisas sobrenaturais. Quando eu decidi contar a ele, ele chegou a casa estranho dizendo que encontrou três corpos na beira do rio de Port Angeles com furos no pescoço e começou a ficar irritado de um modo que a coragem que estava dentro de mim desapareceu muito rapidamente. Também dizendo que iria
  • 34. 34 descobrir e que iria acabar com a raça daquilo. Sabe como doeu o ver falando daquilo? Aquilo sou eu. Somos nós! E... – Kate, pare de falar, agora não tem mais jeito – eu concluí vendo-a daquele jeito, enxergando que ela tinha uma razão no meio de todas as versões da situação, eu não podia julgá-la daquele jeito, não mais! Eu sou uma vampira agora, um monstro, nada mais importa. – E seus dons? – Eu não sei direito, eu não descobri nenhum, só a minha aparência que mudou. Encarei-a, estava escuro onde estávamos. Meio que na penumbra. – O que eu sou? – perguntei, já sabendo da triste resposta. – Não está mais que claro? – ironizou ela. Pisquei mais rápido que o normal. – Sei que sou vampira, mas quero saber mais sobre o monstro que me tornei – e fiz expressão de tensão. – Não prefere se sentar? – perguntou. Fiz que não com a cabeça e pedi que me contasse tudo logo de uma vez. – Ok, vamos falar logo sobre isso. A espécie dos vampiros, quer dizer, a nossa espécie é a mais antiga entre todo o resto. – Havia um pedaço de hambúrguer em cima do móvel branco, que não terminei de comer há alguns dias, Kate o pegou. – Está vendo isso? – mostrou-me o hambúrguer. Fiz que sim com a cabeça. Observou-o por algum tempo, eu também fiquei observando. Aproximou seus lábios lentamente até o hambúrguer e o afastou novamente, aproximando o hambúrguer do nariz, deu uma longa farejada e fez uma tremenda cara de nojo, pavor. – Tudo que antes, considerávamos comida do paraíso, do prazer, agora que somos vampiros, consideramos como lixo, a comida, o chocolate, a torta, o refrigerante que causavam delírio, passará a causar nojo e pavor. – E abocanhou o hambúrguer. Enquanto mastigava-o, suas mudanças de expressão eram assustadoras. – Tem gosto de merda de elefante – e cuspiu o pedaço que estava mastigando, de forma obrusca. Eu zombei. – Como sabe? Já comeu merda de elefante? – perguntei. Ela revirou os olhos. – É só modo de dizer. Andou de um lado para o outro e continuou. – Como pôde ver, comida de humanos não são mais comestíveis, não são suficientes para sobrevivermos, pelo contrário, se decidir comer comida humana, seu novo corpo irá rejeitar, causando mudança de cor, vazamento de sangue por qualquer parte do corpo e até mesmo vômito. A comida agora é outra, é... – Antes que ela terminasse, completei a frase por ela. – é sangue. – Que bom que sabe. – O que é capaz de nos matar? – perguntei. Kate acariciou o quadro gigante. – é um erro dizer que somos imortais, porque apesar de não morrer como uma pessoa normal, que vai pro céu ou inferno e blábláblá, nós morremos sim, de varias formas. – ela parou pra pensar. – várias não, de algumas formas especificas. – Quais? – perguntei.
  • 35. 35 – Uma das coisas que um vampiro não pode fazer de maneira alguma é beber sangue morto, ou seja, beber sangue de alguém que esteja morto. No mesmo instante que isso acontecer, o corpo estufa e passa a ficar da cor roxa acinzentado. Com apenas um arranhão, o vampiro explode, eliminando todo o sangue que sugou em um mês, e claro, morre. Ter o corpo queimado à meia noite, ter a cabeça arrancada enquanto estiver no período puro. Se alimentar em excesso de alguém que usa drogas ou é alcoólatra, e talvez haja alguma outra maneira, mas desconheço. – Você disse algo sobre período puro, o que é isso? – perguntei. Ela abaixou a cabeça. – período puro é o período em que se tem sangue de aluguel no corpo, quero dizer, quando um vampiro alimenta-se de alguém, fica com o sangue da pessoa durante dois dias. Portanto, esses dois dias são chamados de período puro. Lembrei-me da transformação. – Como se transforma um humano em vampiro? Ela fez cara feia. – precisa mesmo saber disso? É tão cruel que pensa que transformar um humano em vampiro seja algo justo? Você deve dar escolha, ninguém merece ser condenado ao inferno, como nós somos. – Nem passa pela minha cabeça tirar a vida de alguém pra transformá-lo num monstro, eu só quero saber – rebati. – Há duas formas. Uma é você, que foi marcada pra transformar-se a certa idade, isso é raro. A outra é o básico, o vampiro deve ter acima de 100 anos de existência para possuir seu sangue pronto para transformar quantas e quem quiser. Isso depende do caráter do vampiro. – Então um vampiro normal com menos de cem anos não é capaz de transformar um humano em vampiro? – perguntei. Fez que não com a cabeça. – Ainda bem, porque até os 50 anos de existência, é o período mais imaturo e impulsivo que um vampiro enfrenta. – E você? – perguntei. – Eu o quê? – Quantos anos você tem 26? – e fiz cara de séria. – Muitos anos. Tenho cento e vinte e seis anos – e fez cara de decepção. – Então você pod... – Shhh. Kate olhou-me com cara de cúmulo. – nem pense nisso, jamais transformei alguém, e nem vou – ela disse. Ascenti. – E como se transforma alguém? – Primeiro se dá o seu próprio sangue, depois mata o sujeito e aproxima seu sangue do nariz dele, no mesmo instante em que sentir o cheiro, irá abrir os olhos já transformados. Quer dizer, quase. Se o sujeito não se alimentar de algum sangue diferente e humano em dois dias, vira cinzas e não se transforma em vampiro, apenas morre. Grunhi. – Vou pegar o medalhão. – De que medalhão está falando? E não muda de assunto assim.
  • 36. 36 Ela fez cara de pensativa e mexeu no bolso de sua blusa, pegando um colar com um medalhão, com o símbolo †. Kate se alertava de segundo em segundo para garantir que John não chegaria ali. – Isso aqui é seu agora. É um medalhão que protege Vampiros. Eu acho melhor evitar qualquer atrito, já que vamos nos relacionar com humanos. Todo vampiro que pretende conviver com humanos usa o medalhão. A menos que seja um vampiro das antigas, que só aparece com o pôr-do-sol. Porque vampiros podem ser hipnotizados pela outra espécie. Mas com esse medalhão você pode se proteger. Isso foi enfeitiçado e foi entregue a nós para te dar quando você se tornasse Vampira. Ainda não sabemos se você consegue se controlar, se não... De qualquer modo, use isto. Vai te proteger do sol, da sede incontrolável, e da outra espécie. – Então, filha. Não é lindo? – Kate o pegou e me mostrou. A espessura daquele medalhão era bem moldada e interessante, aceitei preparando minhas mãos para colocá-lo no pescoço. – Deixa que eu coloque em você... – hesitou ela. Kate se levantou e me virou de costas a ela, colocando o medalhão em meu pescoço logo de uma vez. Ora que o medalhão se fechou, meus olhos se queimaram, mudando de cor por uns três segundos para a cor branca e logo voltando à cor normal segundos depois. Fui ao espelho e me olhei com o tal medalhão, até que não foi difícil de me acostumar. O medalhão era preto por inteiro e apenas com um detalhe branco e rosado em suas beradas brilhantes. Ela estava é querendo algo novo. Mas Kate não poderia enganar John pelo resto da vida... Um dia ele iria perceber que ela não envelhece não se machuca, não dorme muito. O mais engraçado era que ela era uma vampira e John um humano, e a dúvida surgia novamente “como foi possível meu nascimento?” Esses pensamentos rebatiam dentro de mim com toda velocidade e confusão. Eu fiquei bastante aérea e com minha mente longe dali. Minha mente era como um trovão de sentimentos e desejos. Eu queria matar várias pessoas, eu queria sentir o sabor de ser mau. Eu queria sentir o sabor de desejo realizado. Mas outra parte dentro de mim me dizia para ficar quieta e não fazer nada de errado. Eu não sou uma Vampira? Então eu tenho mais é que agir como uma. Esse pensamento martelava em minha mente o tempo todo desde que me tornei essa coisa. – E então, agora você vai me contar toda verdade? – perguntei, mantendo distância e fingindo não estar tensa. – Tudo bem, eu vou te contar – Kate disse se aproximando de mim, mas dessa vez tensa também. Se havia algo que eu fazia muito mal era fingir. Preparei-me e ela também. – Eu fui transformada com vinte e seis anos. Conheci seu pai, que era humano e me apaixonei por ele. Mas algo extremamente estranho e impossível aconteceu. Eu fiquei grávida, e você nasceu humana. Mas eu sabia que você iria se tornar vampira com dezessete anos porque é a idade ideal. É uma lei de família, você é a única assim até hoje. Você é um enigma, uma metáfora. Então, você nasceu com os olhos amarelos
  • 37. 37 e depois foram ficando com a cor normal. Agora que você se tornou uma Vampira, ainda é pouquíssima humana. Você possui um coração e dorme. Ela olhou para fotografia de John e sorriu triste. – Isso não é incrível? Ela se empolgou e levantou uma sobrancelha. Minha expressão ficou vazia e conformada. Agora eu sabia toda verdade, eu me senti muito aliviada com tudo aquilo. Levantei-me velozmente, de acordo com todo Vampiro. – Kate, quais são seus dons? – eu perguntei, tentando mudar de assunto o mais rápido possível, tentando ter um momento menos sangrento com ela. – Tenho vários, mas o meu dom-chave é que posso ver as pessoas de olhos fechados e enxergar coisas que ninguém consegue, eu vejo o coração. Ela me fitou. Lembrei-me de tudo, das portas e mesas que se quebravam “sozinhas”, das inúmeras vezes que me silenciei sobre minha vida pessoas e achava estranho ela nunca ter interesse em me perguntar, mas agora tudo faz sentido... Ela sempre soube o tempo todo. – Então é por isso que portas e mesas viviam se quebrando sozinhas? – revirei os olhos. – Nossa, mas que sortuda eu. – Eu preciso descansar – eu disse mentindo. Kate fez cara de cúmulo. – Descansar? Você não precisa mais descansar, você não é mais humana – murmurou. – Que seja – eu disse, dando as costas para ela. Chegando ao meu quarto, Kate estava “plantada” lá. – Porque não me contou sobre o Nickolas? Seu tom era sério, ela me olhava com cobrança. Levei um tremendo susto, a forma que ela apareceu do nada, parecia como naqueles filmes de terror psicóticos. Eu não estava nem um pouco acostumada com aquilo, algo me dizia que eu teria que me acostumar o mais rápido. – Como você sabe disso? – Ah, droga. Kate Sentimentalinx. Eu fiquei sem graça ao me lembrar do que ela era de verdade, uma mãe sabe tudo. Uma dúvida engraçada veio a minha cabeça naquele exato momento: ela sempre soube quando eu mentia? Que droga de mãe é essa. – Você está pensando nele, Alice. Quem é esse rapaz? Ela me fitou, perguntando brava. – Não vem com essa. Eu acho que o seu dom de mãe falhou. De onde você tirou que estou pensando nele? Você devia prestar mais atenção no que fala ou vê, tanto faz. E escute aqui, você não tem direito de saber nada sobre mim, não agora. Tarde demais pra bancar a mamãe – bufei. Sua expressão ficou horrível, eu não contive e tive que dizer a verdade que ela já sabia. – Não pode ao menos responder? Ela continuou, ignorando a minha fúria. Virei-me de costas e fechei os olhos fazendo uma careta de pré-alívio.
  • 38. 38 – Ele é muito estranho – franzi o cenho quando eu disse. – Estranho? Como assim? – perguntou. – Na verdade, ele é um historiador de coisas sobrenaturais – deixei escapulir. Ela fez cara feia, não gostando nada, nada dele. – Eu acho bom... Ou melhor, trate de não se envolver com esse tal. Historiadores de coisas sobrenaturais é uma pedra no nosso sapato. – Você está inventando coisas, eu não sinto nada por ele e não sei o porquê disso, tem alguma objetividade nessa história toda? – eu igualei meu tom ao dela. – Porque sim. Não tenho que te dar explicações de tudo. Ela estava indo até a porta. Eu meio que fiz um movimento próximo ao de respirar fundo. – E quanto aos poderes? – cambaleei ao dizer. Kate rosnou, seus olhos estavam vermelhíssimos. Porque ela ficou daquele jeito quando eu disse a palavra, poderes? O que ela estava escondendo de mim? Fiquei tentando decifrar o que estava havendo ali. Eu fiquei também com tanta raiva que dei um soquinho de leve na porta, era o meu único alvo menos perigoso. Quando eu me virei, levei um enorme susto. – Nossa – grunhi comigo mesma. Eu havia arrancado a porta e um pouco da parede. Então, ouvi passos de John subindo as escadas correndo com o barulho, Kate não se assustou, pois sabia que ele estava para aparecer ali, ambos de nós duas sabíamos, os passos de John são inconfundíveis, o cheiro então? Ela se escondeu debaixo da cama com rapidez. – O que é isso na parede? – rugiu ele observando. Eu ri hilariamente. Daquele tipo de riso que você dá quando não tem a mínima idéia do que responder, ou melhor, explicar. – Estava brincando de arremessar coisas e arremessei o abajur na parede e aconteceu isso – menti. Ele fingiu que acreditou e hesitou. – E por um acaso um abajur causa isso? – e apontou para o estrago. Eu entortei o canto da boca e não disse mais nada. – Nem vi você chegando, passou a noite na casa da Andrea? – perguntou ingênuo. Andrea? – ah sim, Andrea! Sim, foi divertido. Ele saiu do quarto rapidamente e não disse mais que alguns grunhidos ainda encabulado com aquele estrago na porta. Entrei no quarto de Kate e contei a novidade. Eu tinha descoberto meu primeiro dom e único até então. – E então... – me aproximei dela, disposta a saber de tudo. Ela ficou muda, nenhuma surpresa até aí. E então quando toquei em seu ombro, aconteceu àquela coisa estranha. Poder e Poder
  • 39. 39 enti uma dor profunda, pude sentir todo o sofrimento dela. Eu vi tudo, senti tudo. Eu a vi chorando, eu a vi amando, a vi apaixonada. Eu a vi de todas as formas possíveis. – Espera – Não era John. Era um sujeito todo de preto, seus cabelos eram castanho claro, ele era até que bonito. Mas não sei se era um vampiro, sem falar das mínimas possibilidades de ser um humano. Arregalei meus olhos e soube de tudo num instante. Tudo ali funcionou como algo esquisito, ou quem prefere dar nomes, macumba. O grande amor de sua vida, como parecera naquele instante, era um ser de outro mundo. Soltei-me dela, no entanto, eu caí no chão juntamente dela. Eu podia ser uma Vampira, mas estava exausta, triste, eu estava com ódio. Agora eu sabia a verdade e o sofrimento, eu vi na guerra entre Vampiros e outra espécie. Vi o pior, Tom sendo morto pelos Vampiros. Havia uma lei, que eu já estava cansada de saber. Vampiros não podem se envolver com aqueles outros, humanos e vice-versa. Então eu entendi o motivo de Nickolas sempre me evitar o máximo. Eu era ainda mais proibida para ele. Kate estava desesperada, não sabia o que estava acontecendo. Eu estava um pouco feliz por outro lado, aliás. Eu havia descoberto outro dom. Eu entendi completamente o porquê daquilo. Naquele exato momento eu prometi a mim mesma não me envolver com nenhum ser de outra espécie. Para o bem de todos. Mas o que eram esses seres de outra espécie? Nasceu em mim uma grande curiosidade. – Saia daqui, e não conte nada ao seu pai – ela gritou mais tensa do que ela estava anteriormente. – quanto sofrimento. Eu entendo tudo, mas quero que vá embora ainda essa semana, ok? Uma semana. Ela não se moveu e sua reação foi seca. – Uma semana é muito tempo, vou embora amanhã. Eu estava tão fraca que apaguei no chão mesmo, até que me recuperei e subi para meu quarto. Meus olhos então se fecharam aos poucos de segundo em segundo. Quando os abri, eu estava em meu quarto completamente silencioso. Eu estava sozinha de novo. Então, pela primeira vez decidi aproveitar o que um vampiro podia fazer. – Como vou fazer isso? – grunhi comigo mesma, pegando distancia e andando para lá e para cá velozmente. Eu sentia cócegas, só isso. Mas eu via o quão veloz eu estava indo para lá e para cá. E aí, comecei a me divertir um pouco naquele momento eu. – O que mais posso fazer? – zombei, dando um super pulo em cima de minha cama. E aí foi à hora em que eu rolei para lá e para cá gargalhando sem parar. Posso ouvir o que estão conversando lá fora! – Nem que a vaca tussa, eu irei comprar aquela bolsa – disse a garota ao passar do outro lado da calçada em frente de minha casa. E aí, meu abajur caiu do nada. Eu parei de rir e fui até a janela ver o que tinha acontecido, se alguém passou por aqui. Eu senti que alguém estava ali me observando. Eu juro... – Alice? O jantar está na mesa – Kate me chamou da cozinha. S