Este documento analisa a cobertura das eleições presidenciais brasileiras de 2006 e 2010 pelo jornal Folha de São Paulo, comparando a visibilidade dada aos principais candidatos e se o jornal manteve a neutralidade. A metodologia inclui análise quantitativa de conteúdo, coletando matérias que mencionam os candidatos e avaliando se a representação é positiva ou negativa. Os resultados podem indicar se o jornal privilegiou algum candidato.
Folha de são paulo e cobertura eleitoral uma comparação entre os pleitos de 2006 e 2010
1. XIV Seminário de Inverno de Estudos em Comunicação
Tema: "Mídia, segmentação editorial e grupos sociais"
Universidade Estadual de Ponta Grossa
6 a 10 de junho de 2011
Folha de São Paulo e cobertura eleitoral: uma comparação entre os pleitos de 2006 e 2010
Edgar Ribas1
Leonardo Medeiros Barretta2
Emerson Urizzi Cervi3
RESUMO: A relação entre o campo jornalístico e o campo político é um processo de mão dupla
(MIGUEL, 2003). A editoria de política tem ganhado destaque nos jornais nacionais, vide seu
posicionamento nestes (geralmente o primeiro caderno). O presente trabalho tem como objetivo
analisar, a partir de análises estatísticas de dados, a cobertura política das eleições presidenciais
de 2006 e 2010, pelo jornal Folha de São Paulo. Tal periódico adota a postura de neutralidade e
imparcialidade partidária em sua cobertura eleitoral, expresso pelo seu manual de redação. Mas
não é observado este comportamento ao prender a análise às valências negativas dos candidatos
do PT e do PSDB.
Palavras-chave: cobertura eleitoral, Folha de São Paulo, eleições 2006 e 2010.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho, realizado pelo projeto de extensão mídia política e atores sociais, tem como
objeto de análise as eleições presidenciais de 2010, no que diz respeito ao período de 1° de
fevereiro até 31 de outubro, em comparativo com as de 2006 (com as mesmas datas). Portanto,
busca o supervisionamento da cobertura eleitoral realizada pela mídia, através de um veículo
impresso, de maneira a correlacionar o cenário político com o jornalismo.
“De fato, a visibilidade nos meios é uma condição importante para o reconhecimento
público, em qualquer área de atividade, nas sociedades contemporâneas” (MIGUEL, 2003). A
correlação entre o que é divulgado no cenário midiático, neste caso, o periódico Folha de São
Paulo, tem certa influência no que vai ser discutido, posteriormente, pelos consumidores da
gazeta.
A análise a que este trabalho reporta foi aplicada ao jornal Folha de São Paulo, que adotou
uma política apartidária nos pleitos de 2006 e 2010. A escolha do periódico justifica-se por sua
abrangência nacional – que tende a dar mais destaque para as eleições máximas do executivo –
e ser o jornal de maior tiragem diária nacional. Desde 1980, tem a maior busca pelos leitores se
1
Graduando do primeiro ano de Comunicação Social – Jornalismo pela UEPG e integrante do grupo de pesquisa
Mídia, Política e Atores Sociais. E-mail: edgar_ribas@hotmail.com
2
Graduando do terceiro ano de Comunicação Social – Jornalismo pela UEPG e integrante do grupo de pesquisa
Mídia, Política e Atores Sociais como bolsista PIBIC/CNPq. E-mail: leobarretta@gmail.com
3
Professor doutor do departamento de Comunicação Social da UEPG, professor do departamento de Ciências Sociais
da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do grupo de pesquisa de ‘Mídia Política e Atores Sociais’
pela UEPG do qual faz parte esta pesquisa. E-mail: ecervi7@gmail.com
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comparado a outros jornais de interesse geral e possui a maior tiragem nacional, que chega a
cerca de 300 mil exemplares por dia4.
O Brasil como um país democrático, termo esse que deriva do grego demos (= povo) e
kratos (= autoridade ou poder), utiliza o voto direto para escolher seus representantes. Logo, as
eleições exigem atos de campanha, ou seja, aparições públicas, seja no corpo-a-corpo com os
eleitores ou através dos meios de comunicação de massa, remetendo ao debate da sociedade
sobre tal tema. Então, é de grande importância a relação entre eleições e mídia, já que essa torna
publico, dando visibilidade a temas políticos e aos atos de campanha, nos períodos eleitorais.
O estudo baseia-se apenas nos dois partidos que concentraram as disputas nacionais nos
últimos 20 anos, o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira
(PSDB), sendo que em 2002, 2006 e 2010 os pleitos presidenciais foram conquistados por algum
candidato desses dois partidos.
Um conceito de importância para este estudo é do agenda-setting (agendamento) –
proposta por McCombs e Shaw, em 1972 – segundo o qual os meios de comunicação de massa
teriam o poder de agendar o debate público. Isto é, a mídia teria o poder de pautar o debate
público com os temas vinculados por ela. Desta maneira, no período eleitoral, no qual os atores
do campo político ganham destaque e espaço na mídia, a visibilidade a esses atores e suas
ações pelas pessoas cresça. É importante ressaltar que a hipótese do agendamento não
considera o poder de orientar o debate público (conceito de framing), mas sim, somente de
agendá-lo.
Assim, o estudo de mídia e política é de extrema relevância para o compreendimento da
relação eleitoral/político nacional com as instituições responsáveis pela divulgação de
informações, pois há uma relação direta entre mídia e interação social, onde a lógica midiática
promove as futuras discussões na sociedade. “A mídia deixou de ser um apêndice da vida
contemporânea, e passou a fazer parte dela” (SILVERTONE, 2002).
Em 2006 a disputa eleitoral pela presidência da República aconteceu entre o então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), governador de São Paulo. O
Brasil vivia um cenário político conturbado, devido aos escândalos do „mensalão‟, que ocorreram
em 2005. O „esquema‟ se tratava de uma quantia de dinheiro destinada a alguns congressistas
com o objetivo de conquistar o apoio deles às ações do governo federal. Isto afetou a
popularidade de Lula, que entrou na disputa presidencial com sua imagem e de seu partido
atreladas ao esquema de corrupção.
Lula manteve-se afastado das repercussões do escândalo, e em maio de 2006, a pesquisa
4
Segundo dados do IVC (Instituto de Verificação de Circulação) de 20101. Consultar: www.ivc.org.br.
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de opinião de pública da CNT/Sensus assinalava em 38% a avaliação do governo de Lula como
bom ou ótimo e já indicava a vitória do petista no primeiro turno. No entanto, um suposto esquema
de dossiê sobre o candidato ao governo paulista, José Serra, desvelado pela Polícia Federal,
envolveu o Partido dos Trabalhadores e fez com que a curva de intenção de voto do então
presidente decrescesse, acarretando no segundo turno5. Já nesta etapa, Lula liderou o pleito e foi
reeleito presidente da República.
O segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva teve como característica marcante a
crescente popularidade do petista entre a população brasileira. Em dezembro de 2010, às
vésperas de deixar o governo após oito anos, pesquisa encomendada pela Confederação
Nacional do Transporte (CNT) revelou que o então presidente Lula havia alcançado expressivos
87% de aprovação de seu governo, sendo que em setembro do mesmo ano, o índice era de
79,4%.
Ainda em 2009, institutos de pesquisa realizaram simulações e projeções do cenário
eleitoral de 2010, e em todas elas, o candidato tucano à presidência, José Serra (PSDB), aparecia
na frente, oscilando entre 35% e 47% das intenções de voto, sendo que Dilma não conseguia
ultrapassar o índice de 16%.
A candidata petista começou a crescer nas pesquisas no início de 2010. Segundo dados
do levantamento Datafolha, em março, Dilma estava a onze pontos percentuais de alcançar as
intenções de voto de José Serra. Dois meses depois, o mesmo instituto afirmava o empate técnico
entre os candidatos, ambos com 37% das intenções de voto.
O empate se manteve até meados de agosto, quando a pesquisa Datafolha apontou pela
primeira vez a vantagem da candidata petista, que alcançava 41% das intenções de voto, contra
33% de seu principal rival.
A vantagem de Dilma foi sendo ampliada e cogitou-se a possibilidade de não haver
necessidade de um segundo turno. Nem mesmo as acusações de elaboração de um dossiê
contra Serra por parte do PT e de quebra do sigilo fiscal de Verônica Serra, filha do candidato
tucano, afetavam a intenção de voto dos eleitores. Em setembro, porém, o escândalo envolvendo
Erenice Guerra, substituta de Dilma na Casa Civil, acabou afetando a candidata petista nas
pesquisas de intenção de voto, e as eleições novamente ficaram em aberto.
Mesmo mantendo a ponta nas intenções de votos, Dilma não foi eleita no primeiro turno. A
candidata petista recebeu 46,9% dos votos válidos, contra 32,6% de José Serra.
A campanha de Dilma para o segundo turno teve presença incisiva do presidente Lula e foi
marcada por sua recuperação. Pesquisa Datafolha divulgou, no início da campanha para o
5
Resultado do primeiro turno: Lula, 48,61 % dos votos e Alckmin, 41,64. Fonte TSE.
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segundo turno, a vantagem de sete pontos percentuais de Dilma (48% a 41%), que acabou sendo
eleita no dia 31 de outubro com 55,9% dos votos válidos.
Assim, este trabalho objetiva analisar, de forma quantitativa, como o jornal de maior
circulação no país, Folha de São Paulo, atribui visibilidade aos dois principais candidatos à
presidência da República em 2006 e em 2010. Ou seja, poderá avaliar se existiu algum tipo de
padrão na cobertura eleitoral nesses dois momentos políticos, e se o periódico em questão
privilegia ou não um dos candidatos.
É possível verificar ainda como o jornal portou-se durante o decorrer do processo eleitoral,
observando se ele atribui relevância ao tema – por se tratar do maior processo democrático
sazonal – e se o periódico em voga manteve o princípio da imparcialidade e neutralidade ao qual
se propõe.
3. METODOLOGIA
Neste estudo utilizou-se a metodologia quantitativa de análise de conteúdo da mídia. A
coleta quantitativa de dados, utilizando-se de códigos numéricos, possibilita a análise de
quantidade, de tipo e de qualidade da cobertura jornalística, oferecendo condições para comparar
diferentes veículos da imprensa e o comportamento de um jornal em diferentes episódios
políticos. O método da análise de conteúdo permite o relacionamento entre estatística e análise
qualitativa dos textos de modo complementar (BAUER e GASKELL, 2002). Assim, nesta pesquisa
utilizou-se de uma técnica híbrida muito utilizada em pesquisas de comunicação política.
Quanto às eleições de 2006, foram coletados todos os jornais de 1° de fevereiro a 31 de
outubro, período no qual se desenvolveu a campanha eleitoral para presidente da República.
Nestas eleições, o período pré-eleitoral foi até 1° de julho, iniciando-se, a partir de então, a disputa
do primeiro turno, cujo término ocorreu em 1° de outubro, data da votação. Já o segundo turno se
estendeu até 30 de outubro, data da votação que elegeria o novo presidente.
Nas eleições de 2010 também compreendeu o período entre 1° de fevereiro e 31 de
outubro. Em 2010, o período pré-eleitoral foi até 3 de julho, quando se deu o início do primeiro
turno, que se estendeu até 3 de outubro, o primeiro dia da eleição. Já o segundo turno foi até 31
de outubro, data da votação.
Vale ressaltar que só foram coletadas as matérias jornalísticas que possuíam ao menos
uma citação ou referência (como foto) a algum dos dois principais candidatos à presidência em
cada pleito. Desta forma, foram coletadas todas as matérias (fotos, charges, reportagens, artigos,
textos de colunistas, articulistas ou editoriais) que contivessem, ao menos uma vez, qualquer
referência a pelo menos um dos principais candidatos (Lula e Alckmin, em 2006, e Serra e Dilma,
em 2010).
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A coleta usou como ferramenta um livro código, no qual é possível identificar as variáveis
que sustentarão os dados desta pesquisa. A variável „valência‟ tem por objetivo identificar a
representação positiva ou negativa dos candidatos e/ou de suas campanhas. A valência positiva
foi atribuída a textos sobre ou com o candidato que abordavam favoravelmente ações de sua
iniciativa, podendo ser também auto-declarações ou manifestações, feitas por terceiros, como
avaliações de ordem moral, política ou pessoal, ao candidato ou suas propostas de governo.
Também foram considerados textos a respeito dos resultados das pesquisas de opinião ou
estudos favoráveis aos candidatos/campanhas.
Já a valência negativa era atribuída a textos que reproduziam ressalvas, críticas ou
ataques (contendo avaliação de ordem moral, política ou pessoal) do autor ou de terceiros a
respeito da atuação do candidato, de suas propostas, campanha, ou com a divulgação de
resultados de pesquisas e estudos desfavoráveis a campanha do candidato em questão.
As duas valências anteriores estiveram presentes nas coletas das eleições de 2006 e de
2010. É importante ressaltar, que nas eleições de 2006 o candidato Luiz Inácio Lula da Silva
(Lula) foi coletado como candidato e então presidente da República. O mesmo se aplica ao
candidato Geraldo Alckmin, na ocasião governador de São Paulo, e ao seu sucessor, José Serra –
nas eleições de 2010 – então governador paulista e candidato à presidência. Por sua vez, a
candidata do PT, Dilma Rousseff, aparece como presidenciável e ex-ministra da Casa Civil. Ou
seja, não foi feita distinção na coleta se o personagem se apresentava como candidato ou
qualquer outra profissão no texto.
Para a análise dos dados utilizou-se o programa Excel, no qual foram organizadas todas
as informações que posteriormente foram processadas no programa de pacote estatístico SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences). Nele foram gerados os gráficos, sempre utilizando
um banco com datas agregadas, isto é, todos os dados foram gerados por datas, e não por
matérias.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS
Eleições 2006:
Iniciando a análise a partir do tratamento dispensado pelo jornal aos candidatos
individualmente, nota-se que a cobertura destinada ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva
aumenta o número de textos com referência ao candidato petista conforme evolui a campanha
eleitoral. Um dia antes do primeiro turno, o candidato apresenta um pico. Com o início do segundo
turno, suas citações apresentam uma queda, só voltando ao topo com a eminência do dia que
decidirá as eleições presidenciais daquele ano.
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Gráfico 1 – Citações de Lula e Alckmin (eleições 2006)
O candidato do PSDB, Geral Alckmin, apresentou comportamento semelhante ao de seu
adversário. As aparições apresentam variações menores entre os períodos: vai de menos de 10 a
cerca de 70, no período pré-eleitoral, apresentando um pico em meados de março, quando sua
candidatura foi oficializada. No primeiro turno, varia de 20 a 70 aparições diárias. Já no segundo
turno, sobe para algo em torno de 40 a 150 citações por dia, com tendência de queda, ou seja, no
início do segundo turno o número de aparições é maior e cai ao se aproximar o dia da votação.
Todavia, as diferenças no tratamento dispensado pelo jornal Folha de São Paulo aos dois
principais presidenciáveis, individualmente, começam a aparecer quando se lança mão de uma
ferramenta estatística mais refinada. Vejamos os dados através da lente fornecida pelos testes de
Regressão Temporal (ver tabela 1).
Os dois primeiros índices indicam a relação entre o número de citações dos candidatos e a
variação do tempo, ou seja, informa se ao longo do tempo houve ou não variação significativa do
número de textos com referências aos candidatos. Os „Sigs.‟ dos modelos de Lula e Alckmin estão
abaixo do limite crítico (de 0,05), possibilitando inferir que, nos dois casos, houve mudança
significativa no número de citações ao longo do tempo (ver gráfico 4)6.
Tabela 1 – Índices das valências de Lula e Alckmin (eleições 2006)
LULA ALCKMIN
Sig R-square F Sig R-square F
Aparições 0,000 0,528 296,404 0,000 0,293 109,646
Valência
0,000 0,141 43,652 0,000 0,187 60,864
Positiva
Valência
0,000 0,332 131,468 0,000 0,281 103,662
Negativa
6
Índice de Significância (Sig). Para esta pesquisa admite-se como limite crítico do Índice de Significância de 5%
(0,05).
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Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública - UFPR
Ainda, as estatísticas F são positivas, isto é, a mudança foi de crescimento e não de
redução nos dois candidatos. Porém, há duas diferenças que se destacam nos índices: a primeira
é na magnitude do índice F. No candidato petista ele é de 294, contra 109 no tucano, o que indica
que a mudança ao longo do tempo foi maior no candidato do PT do que em seu concorrente. A
segunda é conseqüência da primeira e diz respeito ao R-quadrado. O modelo da mudança de
aparições de Lula ao longo do tempo explica 52,8% do total, contra apenas 29,3% em Alckmin.
Assim, infere-se que a Folha de São Paulo deu visibilidade crescente maior ao candidato
do PT, Lula, do que ao candidato tucano, Alckmin, no período analisado.
Gráfico 2 – Valência Positiva para Lula e Alckmin (eleições 2006)
Citações de valência
positiva
É possível observar outras diferenças ao lançar o olhar para as valências dos textos, ou
seja, o viés positivo ou negativo atribuído aos candidatos pelo periódico em voga. Para os dois
candidatos, houve mudança significativa no decorrer da campanha eleitoral (Sig abaixo do limite
crítico) (ver tabela 1). Analisando o valor de F (positivo) infere-se que há um aumento do número
de valências positivas para os dois candidatos ao longo das eleições. No entanto, o valor de F de
Alckmin (60) é maior do que de Lula (43), isto é, valência positiva aumenta mais para o tucano do
que para o petista, ao longo do período eleitoral.
Gráfico 3 – Valência negativa para Lula e Alckmin (eleições 2006)
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Citações de valência
negativa
Atentando agora para as valências negativas, surgem algumas singularidades na cobertura
individual dos candidatos. Para ambos os candidatos, os modelos são significativos. A estatística
F de Lula (131) é pouco superior a de Alckin (103). Assim, resulta um R-quadrado de 33% de
explicação para o crescimento da valência negativa para Lula e 28% para Alckmin. Ou seja,
ambos os candidatos apresentaram aumento no número de textos negativos, mas o do petista foi
maior do que do tucano.
Eleições 2010:
Passa-se a analisar a cobertura individual dos dois candidatos presidenciais de 2010
(Dilma e Serra). Complementando o gráfico abaixo, foram realizados testes de regressão temporal
para três variáveis: número de citações, valência positiva e negativa, para ambos os
presidenciáveis. Os testes foram divididos nas três fases das eleições: período pré-eleitoral (até 3°
de julho), primeiro turno (do dia 3 de julho ao primeiro dia de votação, 3 de outubro) e segundo
turno (de 3 de outubro a 31 do mesmo mês)7.
Gráfico 4 – Número de citações de Serra e Dilma (eleições 2010)
7
b1 = é o coeficiente da regressão da série temporal. A equação da regressão temporal é: Y = Constant + (b1*t), onde
Y é a mudança na variável dependente; constant é o ponto de partida para a análise e t, é o tempo.
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Número de citações
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Os dados mostram que o comportamento atribuído pela FSP tanto para Serra quanto
Dilma, foi muito parecido no número de citações no jornal. Ambos cresceram um pouco tanto no
período pré-eleitoral, quanto no primeiro turno (b1 de 0,14 e 0,16 para Serra e 0,04 e 0,36,
respectivamente). Todavia, no segundo turno os coeficientes dos dois candidatos foram negativos,
isto é, apresentaram queda no período. O tucano apresentou índice de queda maior (-1,29) do
que a petista (-1,02) (ver tabela abaixo).
Tabela 3 – Coeficiente de Regressão Temporal (b1), para José Serra e Dilma Rousseff (eleições
2010)
José Serra Dilma Rousseff
Valência Valência Valência Valência
Período Citações Citações
Positiva Negativa Positiva Negativa
Pré-eleitoral 0,149 0,002 0,007 0,041 0,008 -0,0047
Primeiro
0,166 0,003 0,024 0,362 0,024 0,030
Turno
Segundo
-1,297 -0,138 -0,026 -1,026 -0,094 0,028
Turno
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública - UFPR
Analisando o comportamento das citações de valência positiva, nota-se que ele é
semelhante ao das citações, ao longo do período. Na pré-eleição e no primeiro turno há um
crescimento para os dois candidatos. Já no segundo turno, as valências positivas diminuem para
ambos. E Serra novamente apresenta a maior queda (-0,138), em relação à sua adversária (-
0,094). Isto pode ser demonstrado pelo gráfico abaixo:
Gráfico 5 – Número de citações positivas, para Serra e Dilma (eleições 2010)
ncia positiva
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Quanto às valências negativas, observa-se uma diferença do jornal no tratamento dos
presidenciáveis. Serra apresenta um crescimento desta valência no período pré-eleitoral e
também durante o primeiro turno. Todavia, no segundo turno, o candidato apresenta uma queda
(b1 de -0,026). Para Dilma o comportamento é diferente: ela apresenta uma queda no período
pré-eleitoral (-0,0047), e possui um aumento no primeiro e segundo turno do pleito (0,030 e 0,028,
respectivamente). As informações podem ser observadas no gráfico abaixo:
Gráfico 6 – Número de citações negativas, para Serra e Dilma (eleições 2010)
Citações com valência negativa
Desta forma, infere-se que o jornal em questão, a Folha de São Paulo, aumenta o número
de citações tanto para Dilma quanto para Serra, durante o período pré-eleitoral e no primeiro
turno. No segundo turno o número de citações para ambos presidenciáveis cai. Para as citações
de valência positiva, o comportamento é semelhante: crescem as citações positivas para Dilma e
Serra na pré-eleição e primeiro turno, e no segundo turno volta a cair. Para as citações negativas,
Dilma apresenta crescimento delas ao longo do primeiro e do segundo turno, enquanto para o
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candidato tucano, ocorre o inverso: o número citações negativas cai no segundo turno.
5. CONCLUSÃO:
É possível concluir que a Folha de São Paulo deu mais visibilidade as campanhas
eleitorais presidenciais em 2006, do que 2010, vide o número de matérias que referenciavam
algum dos dois principais presidenciáveis.
Lula apareceu mais ao longo da cobertura eleitoral realizada pelo jornal, evidenciando um
tratamento diferenciado na cobertura do jornal. No entanto, o candidato petista teve um aumento
do número de valências negativas, principalmente próximo ao primeiro turno, maior que Alckmin.
Já as valências positivas foram o oposto: mesmo tendo um número maior desta valência para
Lula, o crescimento delas para Alckmin , ao longo das eleições é maior. Isto só se inverte com a
chegada do segundo turno,
Já nas eleições de 2010, tanto Dilma quanto Serra apresentou um comportamento
semelhante no que diz respeito ao número de citação e variação deste ao longo da campanha
eleitoral. Quanto às valências positivas, a petista e o tucano apresentaram um crescimento no
período pré-eleitoral e no primeiro turno (sendo maior para Dilma), e já no segundo turno houve
uma queda para os dois, desta vez, maior para o Serra.
No que diz respeito à valência negativa, ela confirmará o tratamento diferenciado atribuído
pelo periódico aos candidatos. Serra apresentou um crescimento desta valência no período pré-
eleitoral e no primeiro turno, enquanto para Dilma, isto só foi ocorrer no primeiro turno. Já no
segundo turno, a petista mantém o aumento desta valência, ao passo que o tucano apresenta
uma redução dela.
No que diz respeito ao número de citações aos candidatos, a Folha de São Paulo mostrou-
se imparcial em 2010. Quando se observa as valências, nota-se as diferenças: os candidatos do
PT receberam um maior aumento das valências negativas ao longo da campanha. Já os
candidatos do PSDB, receberam um aumento das valências positivas em momentos mais
importantes do pleito, como o primeiro turno e já no segundo turno.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BAUER, Martin. Análise de Conteúdo Clássica: Uma Revisão. In: BAUER, M. &
GASKEL, George. Pesquisa Qualitativa Com Texto, Imagem e Som. Editora Vozes: Petrópolis –
RJ, 2003.
McCOMBS, M. E.; SHAW, D. The Agenda-Setting Function of Mass Media. Public Opinion
Quarterly, n º 36, 1972. pp 176-185.
12. XIV Seminário de Inverno de Estudos em Comunicação
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MIGUEL,L.F. Capital político e carreira eleitoral: algumas variáveis nas eleição para o
congresso brasileiro. Curitiba: Rev. Sociol. Polít., Ed.20, p. 115-134, jun. 2003.
SILVERSTONE, Roger. Mediação. In: Porque estudar a mídia? . São Paulo: Loyola, 2002.