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1. Introdução: ampliações, infiltrações<br />Parece haver um consenso, após duas ou três décadas de especulações e estudos sobre a intensificação das comunicações pelo uso de tecnologias cada vez mais sofisticadas, que se aumentou exponencialmente a habilidade para se interagir e expandir fronteiras pessoais e coletivas no espaço urbano. As relações intangíveis entre o espaço concreto ou físico e o que Manovich (1) chama de dataspace e Castells (2) de espaço de fluxos – dados, informações e todos os tipos de fluxos que, de maneira invisível, povoam lugares e espaços – contribuem para o que pode ser chamado de realidade ampliada, ou analogamente, espaço ampliado (3). Essa ampliação está sempre pautada pelo fenômeno de incorporação crescente e imperceptível das tecnologias da informação e comunicação (TICs) em vários sistemas e estruturas da vida urbana, chamado por Duarte (4) de cidade infiltrada.<br />Essa expansão de nossas capacidades de comunicação tem sido associada a possibilidades de extensão ilimitadas de nossos corpos, fronteiras (5) e maneiras de perceber e experimentar o espaço. Especificamente no campo dos estudos urbanos, conceitos, idéias, previsões, modelos e metáforas têm se multiplicado na medida em que pesquisadores tentam redefinir a cidade como suporte supremo para as trocas materiais e imateriais que caracterizam nosso modo de vida contemporâneo.<br />Realidades e espaços ampliados poderiam não parecer ser novidades na história da humanidade. A religião, a magia, a metafísica e a arte, por exemplo, sempre proveram de meios para a ampliação dos mundos materiais. O que são os momentos sagrados de reza e meditação senão uma ampliação imaterial da realidade cotidiana? O que são os usos de símbolos ao longo da história humana e as representações pictóricas de lugares e fatos históricos desde o Renascimento, ou mesmo as abstrações da arte moderna, senão, também, tentativas de criar extensões do tempo e do espaço?<br />“A janela de Alberti [um dos três elementos de sua visão de perspectiva], outrora apenas um objeto artístico, tornou-se desde então um ‘estilo de pensamento, uma percepção cultural, uma maneira de imaginar o mundo’ (Romanyshyn 1992).” (6)<br />O que parecem fatos novos são a quantidade e a velocidade de informações trocadas nos dias de hoje, assim como novas e ubíquas maneiras de interação. Parece que estamos vivenciando, de fato, uma intensificação de um fenômeno já existente, ou em outras palavras, uma ampliação do espaço ampliado. Mas não só isso. A ampliação do espaço e das vivências contemporâneas não se dá somente no volume de aparatos e técnicas que utilizamos para alcançá-la. A cidade e o espaço ampliados pelas TICs ganham novas dimensões qualitativas e coletivas. A ampliação, hoje, não depende da vontade e das crenças de indivíduos ou grupos (como ocorre com os transes); acontece em todos os meios, a todo instante, independente de nossa vontade, ou até mesmo independente de nossa própria percepção de que este fenômeno esteja ocorrendo. É a essa ‘invisibilidade’ e caráter indistinto às vontades individuais que Duarte (7) chama de cidade infiltrada; infiltrada por tecnologias que ampliam nossas capacidades comunicativas e interativas, sem nos darmos conta das proporções dessa ‘infiltração’. Hoje, e por isso considera-se o espaço ampliado, justamente por ser infiltrado, não importa o que crêem ou não os indivíduos – vivemos em um espaço ampliado tal sua infiltração.<br />Assim, pode-se dizer que as TICs têm força catalisadora de transformações espaciais e vivenciais das cidades, e sua influência será aqui vista a partir de três situações: primeiro, quando imagens fragmentárias de um imaginário urbano global são decalcadas sobre a cidade edificada constituindo um excesso de visualidade que, paradoxalmente, tende a cegar os seus habitantes à dinâmica urbana cotidiana; segundo, quando os fluxos de informação são estruturantes de um território cujas dimensões e lógicas não podem ser pensadas a partir de representações disponíveis; e terceiro, quando as TICs, matriciais da sociedade contemporânea, infiltram-se nas cidades alterando suas especialidades e vivências de maneira total – mesmo que não estejam explícitas.<br />Para discutir essas três situações tem-se por princípio que o acesso a um fenômeno se dá exclusivamente por suas representações. Como escreveu Lucrécia Ferrara (8),<br />“o pensamento se constrói na construção da linguagem. Nosso exercício de conhecimento está ligado às linguagens de que dispomos para o exercício do jogo reflexivo da razão, ou seja, linguagem é outro nome para a mediação indispensável ao conhecimento do mundo.”<br />Em um momento instável como é o atual, pensar as transformações urbanas ligadas às TICs depende da construção de instrumentos analíticos (conceituais, metodológicos e tecnológicos) que assumam o risco de serem conscientemente impactados por essas inovações. Assim, refletir sobre as TICs e os fenômenos urbanos passa, necessariamente, por uma reflexão sobre o espaço, paisagem, a percepção dessas categorias, e as novas relações entre a tecnologia e as ações sobre o espaço.<br />A reflexão sobre a vivência e representação do espaço urbano e as TICs pode ser vista no trabalho de diversos autores, como Lucrecia Ferrara e Nelson Brissac Peixoto, dois pensadores brasileiros que têm discutido exaustivamente a proposição de métodos para capturar a multiplicidade das vivências urbanas e de estímulos a representações da cidade contemporânea. Peixoto apresenta uma situação regional sob influência direta das tecnologias de informação que alteram a sua lógica territorial (socioeconômica, cultural, política) e que carece de formas de representação que dêem conta da complexidade do fenômeno. Ferrara parte de uma situação local articulada com um imaginário global onde as formas de representação estão todas dadas, todas prontas, todas explícitas – como se dissessem: por favor, não mexa, contente-se com a imagem – e que podem, com essa ilusão, impedir o acesso à complexidade do fenômeno.<br />De um lado, o pleno intangível, aquela situação que de tão complexa inibe iniciativas arriscadas de abordá-lo; de outro, o pleno absoluto, que apresenta uma imagem tão ‘bem acabada’ do que é, que desestimula outras iniciativas de abordá-lo. Nem intangível, nem absoluto – e também, não pleno: as situações urbanas atuais que se reconfiguram influenciadas pelas inovações das tecnologias de informação e comunicação fazem que isto, que chamamos fenômeno, seja ao mesmo tempo múltiplo e incompleto (pois mutante). Aceito o princípio inicialmente exposto, de que o acesso a um objeto se dá exclusivamente por suas representações, e que as representações influenciam no próprio comportamento do objeto, tem-se que a cada nova forma possível de representá-lo ele é transformado em outro, que já não o é, e que demanda outra forma de representação. É neste estado crítico entre fenômeno e representação que colocamos nossa discussão.<br />2. Múltiplas escalas, imagens aderentes, cidade decalcada<br />A escala corporal não é mais a escala da cidade. Há muito que os limites físicos da cidade não compreendem todas as dinâmicas políticas, sociais, econômicas e culturais que resultavam na conformação urbana. Mas tem pouco mais de duas décadas que fenômenos distantes têm influência direta sobre a hierarquia de lugares internos a uma cidade, onde as distâncias geográficas perdem seus valores: é o mercado globalizado com interdependência de ações baseadas em tecnologias de informação e comunicação que ocorrem em tempo real que fazem com que os laços entre centros urbanos em diferentes continentes sejam mais fortes que com localidades geograficamente vizinhas. São as cidades globais, as quais Saskia Sassen (9) coloca como sendo referenciais Tóquio, Londres e Nova York – que, não coincidentemente, são sede das mais importantes bolsas de valores e sede das 500 maiores empresas do mundo, fechando um círculo diário quase ininterrupto do mercado global de ações.<br />Isso causa o aparecimento de diferentes configurações espaciais segundo o grau de desenvolvimento econômico, político e técnico-científico de determinadas localidades, seja em escala regional, nacional ou mundial. É o que Santos (10) classifica como zonas luminosas e zonas opacas. As primeiras são as que apresentam alto grau de desenvolvimento e se articulam facilmente com outras zonas em nível global. Já as zonas opacas são lugares onde o desenvolvimento e a própria comunicação com outras regiões é dificultada. Existiriam ainda, certas zonas intermediárias cujo desenvolvimento é variado dependendo das articulações da sociedade em questão.<br />Outros dois conceitos importantes referem-se aos níveis diferenciados das relações globais e locais entre os lugares, as horizontalidades e verticalidades (11). Podemos interpretar estes dois conceitos em diferentes escalas, mas de modo geral, as horizontalidades caracterizam-se pelas relações em nível local mais próximo, sem grandes modelos de dominação, acontecendo mais nas articulações. Já as verticalidades tratam de relações de dominação e influência em nível regional ou global. São Paulo, por exemplo, relaciona-se horizontalmente com cidades como Campinas, São José dos Campos ou Rio de Janeiro, mas mantém relações de verticalidade com cidades globais como Londres ou Nova York. Em alguns casos, o que acontece em São Paulo e no país depende mais de suas articulações verticais do que das relações horizontais, contíguas, locais ou regionais.<br />Uma questão emergente é se não é contraditório haver apenas algumas cidadesglobais. Por um lado, o que Sassen e Santos exploram é que são mesmo cidades específicas aquelas catalisadoras da articulação dos mercados que funcionam em escala global (e, mais ainda, determinados contextos internos a essas cidades); por outro lado, está na própria idéia da sociedade global que mesmo os recantos mais remotos estão sob influência dessa dinâmica global, ainda que não tenha consciência disto – o efeito estufa como exemplo talvez o mais dramático de um fenômeno global e sem fronteiras (12).<br />Isso abre a possibilidade para as discussões no intrigante tema de uma possível artificialização da natureza, a partir da idéia central de que, ao mapear e conhecer o planeta, o homem se apropria econômica, política, cultural ou socialmente de todos os recantos da Terra, invalidando a noção da existência de lugares virgens ou intocados. Isso se explica na medida em que, no princípio dos tempos, a natureza era formada essencialmente por coisas (formas naturais). Mas hoje, e cada vez mais, os objetos (formas artificiais, intencionais) tomam o lugar das coisas. A cada obra ou a cada intenção social, mesmo que influindo sobre coisas, o espaço torna-se mais repleto de objetos, um sistema de objetos.<br />Ao lado dessa dinâmica global que se infiltra em todo o espaço de modo invisível, há uma produção incessante de signos que promovem intencionalmente a idéia de uma sociedade global, com o intuito por vezes não escancarado de criar uma identificação que salvaguarde a dinâmica dos mercados globais de repulsas ou questionamentos. Como se houvesse um plano de comunicação que dissesse a todo instante e em qualquer situação: ‘você também faz parte da sociedade global’. Um plano de aderência que busca evitar qualquer atrito – fazendo parte da sociedade global: ‘sinta-se privilegiado, não questione, compre’.<br />Calos Garcías Vázquez, partindo de Jean Baudrillard para falar da visão distópica das cidades, diz que há uma produção de “signos que não fazem referência a nada, que não criam uma rede simbólica de marcos ou monumentos [...] elementos cuja função é emitir e receber sinais que transmitem o código, impondo um modelo de comportamento” (13). Usando este preâmbulo para falar da emergente cibercidade, Vázquez continua dizendo da influência da lógica das imagens televisivas, que<br />“transforma a cidade em um fluxo de imagens sem relação espacial ou temporal entre elas, já que todas são emitidas de uma vez. Os limites desaparecem e os espaços urbanos se submergem em umcontinuum, enquanto o tempo se reduz a repetições compulsivas”<br />e que, finalmente,<br />“[...] estes novos modos de percepção iniciam um processo de desmaterialização que conduz à desaparição da cidade. A realidade urbana é captada de uma maneira cada vez mais instável, cada vez menos definida pela arquitetura e mais pelo efêmero das imagens a que reduzimos os fatos urbanos.”.<br />Essa caracterização da distopia apresentada por Vázquez parece em um primeiro momento tentar propor uma resistência, um atrito à política de aderência à sociedade global; porém, em um segundo momento é uma crítica que se faz sem nenhum instrumento conceitual novo. Não é o caso de solicitar o novo pelo novo; mas de fato, uma vez que os críticos da sociedade global extremamente midiatizada concordam que a situação é nova, não há como pensá-la criticamente sem tentar instrumentos conceituais ou metodológicos inovadores. O que parece soar como crítica (“os limites desaparecem”, “o tempo se reduz a repetições compulsivas” ou a “desaparição da cidade”) – e que nos lembram o ruído causado por inúmeras abordagens distópicas e deterministas clamando o fim da geografia ou o fim das cidades (14) – é apenas uma constatação de que é, é isto mesmo, este é o terreno onde a dinâmica da sociedade global age com mais liberdade. E o que se propõe para criar o atrito necessário para desestabilizar o sistema? Bem, propõe-se a queixa de que a cidade é “cada vez menos definida pela arquitetura”. O que soa um saudosismo de algo inexistente, ou um saudosismo de algo que, na verdade, nunca deixou de existir. Quando se fala que a cidade era definida pela arquitetura, o que unicamente se pode querer dizer por arquitetura são edificações específicas com qualidades especiais que marcam a paisagem – o resto das cidades sempre foi uma massa edificada sem caráter que foi construída, destruída e reconstruída na maioria das vezes sem que deixasse rastros ou lembranças. Isto é, a cidade sempre foi esse reconstruir indefinido, incansável, de estruturas e arquiteturas. De fato, a cidade é a arquitetura, sempre foi, e não deixará de ser. A pergunta que nos resta é: qual arquitetura ou quais arquiteturas?<br />Tentar provocar atrito à política de aderência homogênea veiculada pelos meios de comunicação sobre uma sociedade globalizada igualmente homogênea é salutar e necessário.<br />No sentido de caracterização dessas transformações, o fenômeno possibilitado pelo avanço das telecomunicações e das TICs conhecido como “diminuição das distâncias” (distance-shrinking) tem importante papel no desafio aos paradigmas clássicos do espaço, como esclarecem Gillespie e Williams, destacando a diferença dessas tecnologias com relação a outros tipos de avaços nos transportes e comunicações:<br />“A idéia das telecomunicações enquanto ‘diminuidoras da distância’ é análoga a outros aperfeiçoamentos em transporte e comunicações. Entretanto, dessa forma, a idéia não consegue capturar a essência das tecnologias avançadas, que não é reduzir a ‘fricção da distância’ mas torná-la totalmente sem sentido. Quando o tempo necessário para comunicação a mais de 10.000 milhas é irrelevante comparado ao tempo necessário para comunicação em mais de 1 milha, então a convergência ‘tempo-espaço’ já aconteceu em uma escala profunda. Pelo fato de todos os modelos geográficos e nossa compreensão contemporânea de relacionamentos geográficos estarem baseadas, implícita ou explicitamente, na existência da fricção imposta pela distância, isso implica que a negação à essa fricção questiona a própria base da geografia a qual tomamos como certa.” (15)<br />Essas noções de espaço e tempo caminham para a mesma direção, isto é, representam um desafio à idéia ‘Euclidiana’ de espaço linear, de conceitos cartesianos de racionalidade territorial. Segundo estes conceitos, o espaço não é mais que um ‘palco’ para as interações humanas e a vida urbana. Mas estes conceitos falham em não considerar que o ‘palco’ interage com a vida urbana e com o tempo, em um processo dialético complexo de auto-reconstrução segundo diferentes aspectos econômicos, sociais e culturais.<br />De qualquer modo, há efetivamente uma massa de imagens decalcadas sobre as cidades contemporâneas com a intenção de estabelecer uma ligação imediata com um imaginário global. Essas imagens são sobrepostas à cidade, seja através de outdoors, frases, luminosos; seja, e principalmente, através de estilos arquitetônicos e configurações urbanas que são máscaras de um imaginário global.<br />Um primeiro impulso para revelar as intenções dessa sobreposição de signos aderentes seria arrancar esta máscara para trazer à luz o que está embaixo. Mas o que há sob essa máscara? Há efetivamente uma cidade com identidade autônoma e independente que está sendo sufocada? Sinceramente, não.<br />Não há como pensar as grandes cidades contemporâneas sem entendê-las no contexto econômico e cultural global – as empresas agem globalmente, e assim as pessoas consomem, algumas trabalham e as informações circulam e agem. Sobre o prolongamento da avenida Faria Lima e da região da avenida Luís Carlos Berrini, junto ao rio Pinheiros, em São Paulo, que se tornariam dos principais eixos empresariais da cidade, Lucrecia Ferrara (16) escreveu que “há momentos na vida de uma cidade nos quais as imagens parecem captar momentos sociais e se apresentam prenhes de indicações urbanas não totalmente delineadas, mas prestes a eclodir”. A partir de um conjunto de fotos tomadas por usuários da região, sinais dessas mudanças se delineavam.<br />Neste sentido, é importante um parênteses, onde se insere a distinção entre paisagem e espaço, derivada da geografia, que assume a paisagem como cristalização de um momento específico do espaço, em constante formação e transformação. A paisagem é a fotografia do espaço e denuncia seus processos ininterruptos de formação. Enquanto o espaço é algo sempre acontecendo, incessantemente, a paisagem é algo que já aconteceu, mas que carrega em sua estrutura, mais evidente em determinados momentos, as características espaciais específicas que as deram origem e que contém elementos do espaço que está por vir (17).<br />Assim, antes de lamentações ou imprecações pelo retorno a uma realidade inexistente, talvez seja o momento de afiar os instrumentos interpretativos, com conceitos e metodologias de análise afeitos à contemporaneidade das cidades que, sim, vivenciam o processo crescente de globalização e, sim, estão inundadas de imagens que dizem menos respeito a uma presumível realidade local e mais a essa dinâmica global. Ou como escreveu Pieter Versteegh, “a auto-identificação com referência direta a um contexto geográfico é gradualmente substituída por inserções em redes de interações globais e seletivas. O resultado é uma nova condição social” (18).<br />Aqui então se encaixam os termos visualidade e visibilidade, propostos por Lucrécia Ferrara, ao falar da exacerbação do uso visual da cidade na segunda metade do século 20, descolando-a de sua base sensível e levando para imagens compostas por “amorfos dados numéricos”.<br />A visualidade designa “a imagem que frouxamente se insinua na constatação receptiva do visual físico e concreto das marcas fixas que referenciam a cidade e a identificam entre cidades”, e a visibilidade corresponde<br />“à elaboração perceptiva e reflexiva das marcas visuais que ultrapassam o recorte icônico para serem flagradas em sutis indícios que, ao se tornarem visíveis, cobram a taxa de uma reação ativa adequada à sua complexa e cambiante materialidade.” (19)<br />Não se trata de propor o retorno à pretensa segurança cultural da arquitetura, mas sim de um questionamento: “se a construção se desmaterializa e a informação passa a ser seu signo, como se escreverá a semiótica visual da cidade virtual?” (20). O primeiro argumento vem ao colocar que a cidade é composta por elementos heterogêneos – os seus lugares; a partir disso, temos que se a cidade pode-se dar à leitura por referentes emblemáticos (os lugares) que para serem entendidos exigem um embate com a dinâmica do cotidiano, onde ocorrem “cisões e imprevistos que indiciam o jeito de ser de uma cidade [...] Os lugares da cidade não são passíveis de construção, mas produzem-se, sem planos ou previsões” (21).<br />Carregados de imprevisibilidade, esses lugares se apresentam como “cenas inusitadas surpreendidas pela objetiva do fotógrafo, pela atenção do transeunte curioso ou pela estupefação do jornalista, para os quais o cotidiano precisa ser eterna novidade” (22). Neste sentido, completando a citação, “a percepção do lugar não depende da forma da cidade, mas do olhar do leitor capaz de superar o hábito e perceber as diferenças”.<br />Tal estratégia mostra-se consciente de que a dinâmica urbana não tem a escala restrita da cidade, mas que esta é uma de suas formalizações que se alteram ao longo da história – como se altera a própria dinâmica urbana; e neste sentido, não há repúdio à sobreposição de imagens que circulam e aderem à cidade tentando ligá-la a um imaginário de valores simbólicos globais, tomando como única alternativa o resgate de uma cidade “autêntica”. Atitude crítica como esta seria como se se quisesse arrancar as máscaras impostas sobre a cidade para então revelar um ser íntegro, desprovido de fantasias. Ora, a imprevisibilidade de significações do lugar não abre mão de quaisquer informações que constituam a cidade ou, e principalmente, de quaisquer interpretações possíveis. Se o lugar é a porção do espaço identitário à qual atribuo signos com os quais me identifico no espaço (23), sua singularidade e imprevisibilidade são inerentes – e daí que qualquer descarte de possibilidades interpretativas seria um ato restritivo de sua total potencialidade sígnica. Portanto, a discussão apresentada por Lucrécia Ferrara traz estratégias metodológicas que nos permitem escapar de atitudes condenatórias e substituição de entendimento do problema pelo seu julgamento prévio; e, claro, não é o caso de se aceitar impassível as imagens veiculadas e sobrespostas à cidade, mas explorar sob as máscaras, entre as máscaras – todas as possíveis. E por isso, a substituição do espetáculo do visual para a experimentação da visibilidade (24).<br />Trata-se, quase, de uma substituição de estratégias metodológicas que privilegiam ou buscam a extração da essência do espaço – ou jocosamente, do espaço-tipo – por outras que dêem conta da heterogeneidade das formações espaciais, dos lugares, e de seus complexos processos de formação. Lebbeus Woods (25) costuma relacionar esse ‘império’ das complexidades e heterogeneidades ao espaço e à arquitetura através do que chama heterarquitetura (heterarchitecture), para contrapor qualquer tipo de homogeneizações.<br />3. Provocações: representações da cidade infiltrada<br />A realidade só se apresenta quando mediada por signos. A questão não é que só é possível se acessar a realidade através de signos, mas que a realidade só se torna quando mediada por signos. Ou seja, não é apenas dizer que preciso da palavra “cidade” para falar de um objeto que estaria lá independente desta minha palavra, posto que poderia chamá-lo “ville” ou “stadt” e ele continuaria ser o que é. Vilém Flusser (26) propõe que o objeto apenas é o que é dentro de um sistema específico de representação, podendo ter outro significado (e, portanto, tornando-se outro) dentro de outro sistema específico. Considerando tal argumentação podemos ter claro que a atribuição de signos (representação) a um objeto modifica a percepção deste objeto e revela-o de forma distinta de acordo com o sistema de representação escolhido.<br />Uma das possibilidades de leitura do fenômeno urbano, então, seria o de provocar representações múltiplas da cidade para revelá-la, não em sua totalidade impossível, mas em sua multiplicidade provocadora – de outras leituras, outras representações, outras (da mesma) cidade.<br />Esta foi a estratégia adotada por Nelson Brissac Peixoto em uma série de intervenções urbanas e artísticas (27). É a leitura pela provocação sígnica. Uma porção do espaço urbano é selecionada – eis o objeto. Artistas das mais diferentes áreas são chamados para expressar sua leitura urbana agindo diretamente sobre o objeto, atribuindo-lhe signos, modificando-o de tal modo que um novo objeto emirja. Este objeto-signo (termo usado por falta completa de melhor definição e para que o encadeamento de idéias seja claro) é evidenciado à cidade do qual faz parte. O público é chamado para visitar esta cidade-objeto-signo e reagir, provocada pelo que não conhece de uma cidade-objeto que faz parte de seu cotidiano. Tem-se como material para reflexão uma cidade provocada e estimulada que revela múltiplas faces.<br />Vive-se hoje um momento de angústia da representação: as dinâmicas territoriais estão mudando, e muito pela infiltração dos fluxos informacionais nos diferentes níveis da vida (pessoal, empresarial, política), vivencia-se essas mudanças, consegue-se vislumbrar alguns conceitos que servem como guias nesses territórios alterados, mas ainda não se tem domínio de um sistema de representação que, através dele, se consiga entender o objeto. Fecha-se, portanto, a cadeia entre signo e objeto quando se coloca que a representação que se tem de um objeto é sempre, portanto, uma projeção cultural que se faz sobre ele, representação possível apenas pelo repertório adquirido; todavia, ao ser representado, o objeto se volta ao intérprete, revelando propriedades não contidas na primeira representação, estimulando alterações de repertório e, conseqüentemente, outras representações, constituindo uma cadeia sígnica em mutação.<br />Quando se chega a uma situação limite de representação (e consideramos os territórios alterados pelas tecnologias de informação uma situação limite), uma das primeiras tentativas é a sobreposição excessiva de representações de um objeto, buscando atribuir signos a cada nuança percebida deste objeto. Como se se quisesse aceder ao fenômeno pela sua descrição absoluta – como no conto de Jorge Luís Borges, onde o colégio de cartógrafos buscava um mapa cada vez mais detalhado que ele chegou a se sobrepor integralmente ao território, em seus mínimos detalhes – e tornou-se inútil.<br />“[...] Naquele Império a Arte da Cartografia chegou a tal perfeição que o Mapa de uma Província ocupava toda uma Cidade, o Mapa do Império toda uma Província. Com o tempo, esses Mapas desmesurados já não bastavam mais. Os Colégios de Cartógrafos elaboraram um Mapa do Império que tinha a imensidão do próprio Império e coincidia perfeitamente com ele. Mas as gerações seguintes, menos afeitas ao estudo da cartografia, pensaram que este Mapa enorme era inútil e, não sem Impiedade, abandonaram-no às inclemências do sol e dos invernos. Nos Desertos do Ocidente ainda sobrevivem ruínas dilaceradas do Mapa, habitadas por animais e mendigos; em todo o País, não existe nenhuma outra relíquia das Disciplinas Geográficas.” (28)<br />Talvez as leituras diagramáticas sobrepostas a mapas ainda não sustentem um necessário novo sistema de representação para lidar com essas novas territorialidades. Certamente a ânsia de que esses diagramas se convertam também em esquemas de intervenção de “políticas públicas ou utilizados por diferentes grupos sociais” ainda é prematura. O que importa é que este trabalho traz à tona a premência de se questionar as formas de representação atuais e da necessidade de se construir inovadoras formas de representação como a única possibilidade de nos aproximarmos da recomposição dinâmica dos territórios articulados pelas tecnologias de informação em múltiplas escalas.<br />4. Infiltrações: cidade e tecnologias<br />A base da discussão deste artigo é que as tecnologias de informação e comunicação alteram as territorialidades urbanas contemporâneas; e neste sentido podemos dizer que a tecnologia faz política, não de modo “aplicado”, como se a construção de uma ponte ou a instalação de antenas celulares refletissem sempre e tão-somente um esquema político pré-estabelecido. Isso seria esvaziar a tecnologia de qualquer sentido para torná-la neutra e, portanto, aplicável a qualquer princípio – como escreve Bruno Latour (29). Em um exemplo simples e caseiro, o aparelho de televisão na sala alterou muito mais a vida doméstica do que teorias sociais ou projetos arquitetônicos. Não havia essa intencionalidade na televisão, mas seu papel foi transformador.<br />Hoje o que temos é uma cidade infiltrada por tecnologias de informação e comunicação que trazem mudanças epistemológicas e sensoriais à vivência urbana e apontam para uma mudança radical no que entendemos por cidade. As TICs têm sido interpretadas como o conjunto de tecnologias mais invasivas e ubíquas que já existiu. Hoje, tudo tende a ter um microchip como parte de sua estrutura (desde aviões e computadores, até geladeiras – com Internet – e o próprio corpo humano). Para nomear esta ‘simbiose’ entre elementos tradicionais e eletrônicos – ou, analogamente, a própria cidade infiltrada – Mark Weiser (30) usa os termos ‘computação ubíqua’ (ubiquitous computing) e ‘virtualidade incorporada’ (embodied virtuality).<br />Não são nichos virtuais, densamente informados e precisamente localizados, e nem a discussão pode ser sobre a falta de acesso a esses nichos – daquele tipo que diz que tal grupo de pessoas não tem acesso a esses lugares densamente informados, onde só privilegiados circulam enquanto os outros transitam em um ambiente pré-informacional. Não há adendos informacionais ao espaço “concreto”, mas um espaço-total informado, malhado com ondas eletromagnéticas de múltiplas freqüências que atravessam o espaço, que nos atravessam; não são alguns lugares com privilégio informacional na cidade contemporânea. Não há como mudar de canal, separar os momentos de pensar um universo urbano e outro informacional. O desafio é assumir como terreno de reflexão e ação o terreno híbrido entre os dois universos, assumir que um está no outro, que ambos são cada vez mais indissociáveis, e só assim podemos pensar os desafios contemporâneos do que é o espaço urbano. Contra os nichos virtuais, o que temos é a cidade infiltrada.<br />Mais do que substituindo qualquer coisa, esse espaço ampliado e híbrido da cidade infiltrada, é visto como uma conseqüência da coexistência de espaços físicos e virtuais, ou de elementos urbanos tradicionais e eletrônicos. Deriva, portanto, deste fato, a aplicação dos termos cidade infiltrada, cidade ampliada, tecnologias infiltradas, etc., na busca de um conceito que considere a adição de novos elementos ao espaço, e não a idéia de substituição. O espaço, um produto social, deve agora incorporar a complexidade das interações virtuais, remotas e distantes.<br />As relações entre espaço e tempo têm sido dramaticamente desafiadas pelas recentes inovações tecnológicas, especialmente em termos da organização territorial e da relativa interdependência atual dos efeitos limitadores da distância. Mobilidade e interdependência tornam-se, assim, palavras-chave para a compreensão da realidade contemporânea.<br />O arquiteto Peter Eisenman se coloca entre aqueles que acham que vivenciamos novas relações materiais e imateriais do espaço:<br />“Tradicionalmente arquitetura foi dependente do lugar, ligada à condição da experiência. Hoje, ambientes midiatizados desafiam os dados do tempo clássico, o tempo da experiência [...] Arquitetura não pode mais continuar limitada pelas condições estáticas de espaço e lugar, aqui e ali (Peter Eisenman, 1991).” (31)<br />Os lugares talvez apresentem diferentes configurações inter- e intra-cidades, mas pesquisas recentes apontam que grande parte dos urbanistas insiste na utilização de métodos, conceitos e instrumentos ultrapassados, desenvolvidos durante e para o período das cidades industriais e do modernismo, em grande parte por desconhecimento dos novos fenômenos que moldam o espaço contemporâneo. Temos uma nova cidade, mas não temos novos métodos para intervir nessa cidade. Temos, igualmente, novos elementos e fluxos da cidade, invisíveis, infiltrados e mais rápidos, combinados a tradicionais formas de planejar, projetar, construir e gerir o espaço urbano (32).<br />Em certo sentido, vivemos o paradoxo de habitarmos ao mesmo tempo o espaço de fluxos informacionais globais, instantâneos e imateriais e os lugares materializados nas cidades, acessíveis em percursos lentos (frente à velocidade instantânea dos meios de comunicação). Essa dicotomia entre os espaços instantâneos e lentos tem sua visão crítica expressas em autores como Arthur e Marilouise Kroker, em seu Digital Delirium, quando escrevem: “Economia rápida, mas trabalhos lentos. Imagens rápidas, mas olhos lentos. [...] Mídia rápida, mas comunicação lenta. Conversa rápida, mas sem pensamento” (33).<br />Mas esse mundo informacional está atrelado ao nosso cotidiano: da TV a cabo na sala à Internet no quarto; da transferência bancária internacional aos ambientes Wi-Fi em aeroportos e cafés. E é justamente esse paradoxo entre a instantaneidade global e a aparente lentidão (ou imobilismo?) local que apresenta o mundo contemporâneo – e assim, essa é, também, uma característica do mundo urbano.<br />Neste espaço híbrido Peter Weibel (34) enxergava a época que então se inaugurava como aquela que seria marcada pelo “trauma do demônico de Maxwell”, quando seres e/ou objetos inteligentes interfeririam no mundo concreto – sendo esses seres partículas virtuais da arquitetura, responsáveis pelos momentos críticos nas relações entre o humano, o ambiente e as tecnologias. Mas, como Selim Koder (35) ressaltou, essas partículas do virtual inseridas no mundo concreto não nos levaria ao caos, mas sim abrem possibilidades de novas organizações dos sistemas de informação e das cidades. Se lembrarmos que a definição de virtualidade, em sua origem grega, virtus, significa força, potência, a ressalva de Koder ganha relevo.<br />Esqueçamos de aparatos tecnológicos. Pensar a cidade infiltrada a partir dos objetos tecnológicos seria aprisioná-los dentro de si mesmo, imobilizá-los e considerá-los apenas como um elemento portador de transformações que estão além dele. Os objetos tecnológicos não são o que são em si mesmos, e sim as relações que propiciam com o contexto do qual fazem parte (contexto que, por sua, também não é uma paisagem receptora, mas uma paisagem que apenas é por que em relação com tais objetos tecnológicos); e não são exclusivamente emissários de transformações imaginadas alhures, mas agentes que possibilitam transformações derivadas de suas relações com contexto. Isto é, não há como compreender os aparatos tecnológicos e, conseqüentemente, suas influências na maneira com que compreendemos e usamos o espaço, fora do contexto de suas apropriações pela sociedade, sem considerá-los como frutos de relações social e historicamente construídas.<br />Quando pensamos nas TICs, então, o objeto tecnológico em si faz ainda menos sentido. O que podemos tomar para análise são os signos de transformações urbanas decorrentes dessa cidade infiltrada – sejam estes signos comportamento das pessoas, lógica de ordenamento e gestão territorial, mudança na hierarquia dos lugares da cidade ou alteração na paisagem urbana. Novamente, a análise da cidade contemporânea na sociedade da informação, esta cidade infiltrada, ampliada, de tecnologias infiltradas, necessita de instrumentos conceituais e metodológicos que assumam o risco de se posicionar frente a uma situação nova<br />
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  • 1. 1. Introdução: ampliações, infiltrações<br />Parece haver um consenso, após duas ou três décadas de especulações e estudos sobre a intensificação das comunicações pelo uso de tecnologias cada vez mais sofisticadas, que se aumentou exponencialmente a habilidade para se interagir e expandir fronteiras pessoais e coletivas no espaço urbano. As relações intangíveis entre o espaço concreto ou físico e o que Manovich (1) chama de dataspace e Castells (2) de espaço de fluxos – dados, informações e todos os tipos de fluxos que, de maneira invisível, povoam lugares e espaços – contribuem para o que pode ser chamado de realidade ampliada, ou analogamente, espaço ampliado (3). Essa ampliação está sempre pautada pelo fenômeno de incorporação crescente e imperceptível das tecnologias da informação e comunicação (TICs) em vários sistemas e estruturas da vida urbana, chamado por Duarte (4) de cidade infiltrada.<br />Essa expansão de nossas capacidades de comunicação tem sido associada a possibilidades de extensão ilimitadas de nossos corpos, fronteiras (5) e maneiras de perceber e experimentar o espaço. Especificamente no campo dos estudos urbanos, conceitos, idéias, previsões, modelos e metáforas têm se multiplicado na medida em que pesquisadores tentam redefinir a cidade como suporte supremo para as trocas materiais e imateriais que caracterizam nosso modo de vida contemporâneo.<br />Realidades e espaços ampliados poderiam não parecer ser novidades na história da humanidade. A religião, a magia, a metafísica e a arte, por exemplo, sempre proveram de meios para a ampliação dos mundos materiais. O que são os momentos sagrados de reza e meditação senão uma ampliação imaterial da realidade cotidiana? O que são os usos de símbolos ao longo da história humana e as representações pictóricas de lugares e fatos históricos desde o Renascimento, ou mesmo as abstrações da arte moderna, senão, também, tentativas de criar extensões do tempo e do espaço?<br />“A janela de Alberti [um dos três elementos de sua visão de perspectiva], outrora apenas um objeto artístico, tornou-se desde então um ‘estilo de pensamento, uma percepção cultural, uma maneira de imaginar o mundo’ (Romanyshyn 1992).” (6)<br />O que parecem fatos novos são a quantidade e a velocidade de informações trocadas nos dias de hoje, assim como novas e ubíquas maneiras de interação. Parece que estamos vivenciando, de fato, uma intensificação de um fenômeno já existente, ou em outras palavras, uma ampliação do espaço ampliado. Mas não só isso. A ampliação do espaço e das vivências contemporâneas não se dá somente no volume de aparatos e técnicas que utilizamos para alcançá-la. A cidade e o espaço ampliados pelas TICs ganham novas dimensões qualitativas e coletivas. A ampliação, hoje, não depende da vontade e das crenças de indivíduos ou grupos (como ocorre com os transes); acontece em todos os meios, a todo instante, independente de nossa vontade, ou até mesmo independente de nossa própria percepção de que este fenômeno esteja ocorrendo. É a essa ‘invisibilidade’ e caráter indistinto às vontades individuais que Duarte (7) chama de cidade infiltrada; infiltrada por tecnologias que ampliam nossas capacidades comunicativas e interativas, sem nos darmos conta das proporções dessa ‘infiltração’. Hoje, e por isso considera-se o espaço ampliado, justamente por ser infiltrado, não importa o que crêem ou não os indivíduos – vivemos em um espaço ampliado tal sua infiltração.<br />Assim, pode-se dizer que as TICs têm força catalisadora de transformações espaciais e vivenciais das cidades, e sua influência será aqui vista a partir de três situações: primeiro, quando imagens fragmentárias de um imaginário urbano global são decalcadas sobre a cidade edificada constituindo um excesso de visualidade que, paradoxalmente, tende a cegar os seus habitantes à dinâmica urbana cotidiana; segundo, quando os fluxos de informação são estruturantes de um território cujas dimensões e lógicas não podem ser pensadas a partir de representações disponíveis; e terceiro, quando as TICs, matriciais da sociedade contemporânea, infiltram-se nas cidades alterando suas especialidades e vivências de maneira total – mesmo que não estejam explícitas.<br />Para discutir essas três situações tem-se por princípio que o acesso a um fenômeno se dá exclusivamente por suas representações. Como escreveu Lucrécia Ferrara (8),<br />“o pensamento se constrói na construção da linguagem. Nosso exercício de conhecimento está ligado às linguagens de que dispomos para o exercício do jogo reflexivo da razão, ou seja, linguagem é outro nome para a mediação indispensável ao conhecimento do mundo.”<br />Em um momento instável como é o atual, pensar as transformações urbanas ligadas às TICs depende da construção de instrumentos analíticos (conceituais, metodológicos e tecnológicos) que assumam o risco de serem conscientemente impactados por essas inovações. Assim, refletir sobre as TICs e os fenômenos urbanos passa, necessariamente, por uma reflexão sobre o espaço, paisagem, a percepção dessas categorias, e as novas relações entre a tecnologia e as ações sobre o espaço.<br />A reflexão sobre a vivência e representação do espaço urbano e as TICs pode ser vista no trabalho de diversos autores, como Lucrecia Ferrara e Nelson Brissac Peixoto, dois pensadores brasileiros que têm discutido exaustivamente a proposição de métodos para capturar a multiplicidade das vivências urbanas e de estímulos a representações da cidade contemporânea. Peixoto apresenta uma situação regional sob influência direta das tecnologias de informação que alteram a sua lógica territorial (socioeconômica, cultural, política) e que carece de formas de representação que dêem conta da complexidade do fenômeno. Ferrara parte de uma situação local articulada com um imaginário global onde as formas de representação estão todas dadas, todas prontas, todas explícitas – como se dissessem: por favor, não mexa, contente-se com a imagem – e que podem, com essa ilusão, impedir o acesso à complexidade do fenômeno.<br />De um lado, o pleno intangível, aquela situação que de tão complexa inibe iniciativas arriscadas de abordá-lo; de outro, o pleno absoluto, que apresenta uma imagem tão ‘bem acabada’ do que é, que desestimula outras iniciativas de abordá-lo. Nem intangível, nem absoluto – e também, não pleno: as situações urbanas atuais que se reconfiguram influenciadas pelas inovações das tecnologias de informação e comunicação fazem que isto, que chamamos fenômeno, seja ao mesmo tempo múltiplo e incompleto (pois mutante). Aceito o princípio inicialmente exposto, de que o acesso a um objeto se dá exclusivamente por suas representações, e que as representações influenciam no próprio comportamento do objeto, tem-se que a cada nova forma possível de representá-lo ele é transformado em outro, que já não o é, e que demanda outra forma de representação. É neste estado crítico entre fenômeno e representação que colocamos nossa discussão.<br />2. Múltiplas escalas, imagens aderentes, cidade decalcada<br />A escala corporal não é mais a escala da cidade. Há muito que os limites físicos da cidade não compreendem todas as dinâmicas políticas, sociais, econômicas e culturais que resultavam na conformação urbana. Mas tem pouco mais de duas décadas que fenômenos distantes têm influência direta sobre a hierarquia de lugares internos a uma cidade, onde as distâncias geográficas perdem seus valores: é o mercado globalizado com interdependência de ações baseadas em tecnologias de informação e comunicação que ocorrem em tempo real que fazem com que os laços entre centros urbanos em diferentes continentes sejam mais fortes que com localidades geograficamente vizinhas. São as cidades globais, as quais Saskia Sassen (9) coloca como sendo referenciais Tóquio, Londres e Nova York – que, não coincidentemente, são sede das mais importantes bolsas de valores e sede das 500 maiores empresas do mundo, fechando um círculo diário quase ininterrupto do mercado global de ações.<br />Isso causa o aparecimento de diferentes configurações espaciais segundo o grau de desenvolvimento econômico, político e técnico-científico de determinadas localidades, seja em escala regional, nacional ou mundial. É o que Santos (10) classifica como zonas luminosas e zonas opacas. As primeiras são as que apresentam alto grau de desenvolvimento e se articulam facilmente com outras zonas em nível global. Já as zonas opacas são lugares onde o desenvolvimento e a própria comunicação com outras regiões é dificultada. Existiriam ainda, certas zonas intermediárias cujo desenvolvimento é variado dependendo das articulações da sociedade em questão.<br />Outros dois conceitos importantes referem-se aos níveis diferenciados das relações globais e locais entre os lugares, as horizontalidades e verticalidades (11). Podemos interpretar estes dois conceitos em diferentes escalas, mas de modo geral, as horizontalidades caracterizam-se pelas relações em nível local mais próximo, sem grandes modelos de dominação, acontecendo mais nas articulações. Já as verticalidades tratam de relações de dominação e influência em nível regional ou global. São Paulo, por exemplo, relaciona-se horizontalmente com cidades como Campinas, São José dos Campos ou Rio de Janeiro, mas mantém relações de verticalidade com cidades globais como Londres ou Nova York. Em alguns casos, o que acontece em São Paulo e no país depende mais de suas articulações verticais do que das relações horizontais, contíguas, locais ou regionais.<br />Uma questão emergente é se não é contraditório haver apenas algumas cidadesglobais. Por um lado, o que Sassen e Santos exploram é que são mesmo cidades específicas aquelas catalisadoras da articulação dos mercados que funcionam em escala global (e, mais ainda, determinados contextos internos a essas cidades); por outro lado, está na própria idéia da sociedade global que mesmo os recantos mais remotos estão sob influência dessa dinâmica global, ainda que não tenha consciência disto – o efeito estufa como exemplo talvez o mais dramático de um fenômeno global e sem fronteiras (12).<br />Isso abre a possibilidade para as discussões no intrigante tema de uma possível artificialização da natureza, a partir da idéia central de que, ao mapear e conhecer o planeta, o homem se apropria econômica, política, cultural ou socialmente de todos os recantos da Terra, invalidando a noção da existência de lugares virgens ou intocados. Isso se explica na medida em que, no princípio dos tempos, a natureza era formada essencialmente por coisas (formas naturais). Mas hoje, e cada vez mais, os objetos (formas artificiais, intencionais) tomam o lugar das coisas. A cada obra ou a cada intenção social, mesmo que influindo sobre coisas, o espaço torna-se mais repleto de objetos, um sistema de objetos.<br />Ao lado dessa dinâmica global que se infiltra em todo o espaço de modo invisível, há uma produção incessante de signos que promovem intencionalmente a idéia de uma sociedade global, com o intuito por vezes não escancarado de criar uma identificação que salvaguarde a dinâmica dos mercados globais de repulsas ou questionamentos. Como se houvesse um plano de comunicação que dissesse a todo instante e em qualquer situação: ‘você também faz parte da sociedade global’. Um plano de aderência que busca evitar qualquer atrito – fazendo parte da sociedade global: ‘sinta-se privilegiado, não questione, compre’.<br />Calos Garcías Vázquez, partindo de Jean Baudrillard para falar da visão distópica das cidades, diz que há uma produção de “signos que não fazem referência a nada, que não criam uma rede simbólica de marcos ou monumentos [...] elementos cuja função é emitir e receber sinais que transmitem o código, impondo um modelo de comportamento” (13). Usando este preâmbulo para falar da emergente cibercidade, Vázquez continua dizendo da influência da lógica das imagens televisivas, que<br />“transforma a cidade em um fluxo de imagens sem relação espacial ou temporal entre elas, já que todas são emitidas de uma vez. Os limites desaparecem e os espaços urbanos se submergem em umcontinuum, enquanto o tempo se reduz a repetições compulsivas”<br />e que, finalmente,<br />“[...] estes novos modos de percepção iniciam um processo de desmaterialização que conduz à desaparição da cidade. A realidade urbana é captada de uma maneira cada vez mais instável, cada vez menos definida pela arquitetura e mais pelo efêmero das imagens a que reduzimos os fatos urbanos.”.<br />Essa caracterização da distopia apresentada por Vázquez parece em um primeiro momento tentar propor uma resistência, um atrito à política de aderência à sociedade global; porém, em um segundo momento é uma crítica que se faz sem nenhum instrumento conceitual novo. Não é o caso de solicitar o novo pelo novo; mas de fato, uma vez que os críticos da sociedade global extremamente midiatizada concordam que a situação é nova, não há como pensá-la criticamente sem tentar instrumentos conceituais ou metodológicos inovadores. O que parece soar como crítica (“os limites desaparecem”, “o tempo se reduz a repetições compulsivas” ou a “desaparição da cidade”) – e que nos lembram o ruído causado por inúmeras abordagens distópicas e deterministas clamando o fim da geografia ou o fim das cidades (14) – é apenas uma constatação de que é, é isto mesmo, este é o terreno onde a dinâmica da sociedade global age com mais liberdade. E o que se propõe para criar o atrito necessário para desestabilizar o sistema? Bem, propõe-se a queixa de que a cidade é “cada vez menos definida pela arquitetura”. O que soa um saudosismo de algo inexistente, ou um saudosismo de algo que, na verdade, nunca deixou de existir. Quando se fala que a cidade era definida pela arquitetura, o que unicamente se pode querer dizer por arquitetura são edificações específicas com qualidades especiais que marcam a paisagem – o resto das cidades sempre foi uma massa edificada sem caráter que foi construída, destruída e reconstruída na maioria das vezes sem que deixasse rastros ou lembranças. Isto é, a cidade sempre foi esse reconstruir indefinido, incansável, de estruturas e arquiteturas. De fato, a cidade é a arquitetura, sempre foi, e não deixará de ser. A pergunta que nos resta é: qual arquitetura ou quais arquiteturas?<br />Tentar provocar atrito à política de aderência homogênea veiculada pelos meios de comunicação sobre uma sociedade globalizada igualmente homogênea é salutar e necessário.<br />No sentido de caracterização dessas transformações, o fenômeno possibilitado pelo avanço das telecomunicações e das TICs conhecido como “diminuição das distâncias” (distance-shrinking) tem importante papel no desafio aos paradigmas clássicos do espaço, como esclarecem Gillespie e Williams, destacando a diferença dessas tecnologias com relação a outros tipos de avaços nos transportes e comunicações:<br />“A idéia das telecomunicações enquanto ‘diminuidoras da distância’ é análoga a outros aperfeiçoamentos em transporte e comunicações. Entretanto, dessa forma, a idéia não consegue capturar a essência das tecnologias avançadas, que não é reduzir a ‘fricção da distância’ mas torná-la totalmente sem sentido. Quando o tempo necessário para comunicação a mais de 10.000 milhas é irrelevante comparado ao tempo necessário para comunicação em mais de 1 milha, então a convergência ‘tempo-espaço’ já aconteceu em uma escala profunda. Pelo fato de todos os modelos geográficos e nossa compreensão contemporânea de relacionamentos geográficos estarem baseadas, implícita ou explicitamente, na existência da fricção imposta pela distância, isso implica que a negação à essa fricção questiona a própria base da geografia a qual tomamos como certa.” (15)<br />Essas noções de espaço e tempo caminham para a mesma direção, isto é, representam um desafio à idéia ‘Euclidiana’ de espaço linear, de conceitos cartesianos de racionalidade territorial. Segundo estes conceitos, o espaço não é mais que um ‘palco’ para as interações humanas e a vida urbana. Mas estes conceitos falham em não considerar que o ‘palco’ interage com a vida urbana e com o tempo, em um processo dialético complexo de auto-reconstrução segundo diferentes aspectos econômicos, sociais e culturais.<br />De qualquer modo, há efetivamente uma massa de imagens decalcadas sobre as cidades contemporâneas com a intenção de estabelecer uma ligação imediata com um imaginário global. Essas imagens são sobrepostas à cidade, seja através de outdoors, frases, luminosos; seja, e principalmente, através de estilos arquitetônicos e configurações urbanas que são máscaras de um imaginário global.<br />Um primeiro impulso para revelar as intenções dessa sobreposição de signos aderentes seria arrancar esta máscara para trazer à luz o que está embaixo. Mas o que há sob essa máscara? Há efetivamente uma cidade com identidade autônoma e independente que está sendo sufocada? Sinceramente, não.<br />Não há como pensar as grandes cidades contemporâneas sem entendê-las no contexto econômico e cultural global – as empresas agem globalmente, e assim as pessoas consomem, algumas trabalham e as informações circulam e agem. Sobre o prolongamento da avenida Faria Lima e da região da avenida Luís Carlos Berrini, junto ao rio Pinheiros, em São Paulo, que se tornariam dos principais eixos empresariais da cidade, Lucrecia Ferrara (16) escreveu que “há momentos na vida de uma cidade nos quais as imagens parecem captar momentos sociais e se apresentam prenhes de indicações urbanas não totalmente delineadas, mas prestes a eclodir”. A partir de um conjunto de fotos tomadas por usuários da região, sinais dessas mudanças se delineavam.<br />Neste sentido, é importante um parênteses, onde se insere a distinção entre paisagem e espaço, derivada da geografia, que assume a paisagem como cristalização de um momento específico do espaço, em constante formação e transformação. A paisagem é a fotografia do espaço e denuncia seus processos ininterruptos de formação. Enquanto o espaço é algo sempre acontecendo, incessantemente, a paisagem é algo que já aconteceu, mas que carrega em sua estrutura, mais evidente em determinados momentos, as características espaciais específicas que as deram origem e que contém elementos do espaço que está por vir (17).<br />Assim, antes de lamentações ou imprecações pelo retorno a uma realidade inexistente, talvez seja o momento de afiar os instrumentos interpretativos, com conceitos e metodologias de análise afeitos à contemporaneidade das cidades que, sim, vivenciam o processo crescente de globalização e, sim, estão inundadas de imagens que dizem menos respeito a uma presumível realidade local e mais a essa dinâmica global. Ou como escreveu Pieter Versteegh, “a auto-identificação com referência direta a um contexto geográfico é gradualmente substituída por inserções em redes de interações globais e seletivas. O resultado é uma nova condição social” (18).<br />Aqui então se encaixam os termos visualidade e visibilidade, propostos por Lucrécia Ferrara, ao falar da exacerbação do uso visual da cidade na segunda metade do século 20, descolando-a de sua base sensível e levando para imagens compostas por “amorfos dados numéricos”.<br />A visualidade designa “a imagem que frouxamente se insinua na constatação receptiva do visual físico e concreto das marcas fixas que referenciam a cidade e a identificam entre cidades”, e a visibilidade corresponde<br />“à elaboração perceptiva e reflexiva das marcas visuais que ultrapassam o recorte icônico para serem flagradas em sutis indícios que, ao se tornarem visíveis, cobram a taxa de uma reação ativa adequada à sua complexa e cambiante materialidade.” (19)<br />Não se trata de propor o retorno à pretensa segurança cultural da arquitetura, mas sim de um questionamento: “se a construção se desmaterializa e a informação passa a ser seu signo, como se escreverá a semiótica visual da cidade virtual?” (20). O primeiro argumento vem ao colocar que a cidade é composta por elementos heterogêneos – os seus lugares; a partir disso, temos que se a cidade pode-se dar à leitura por referentes emblemáticos (os lugares) que para serem entendidos exigem um embate com a dinâmica do cotidiano, onde ocorrem “cisões e imprevistos que indiciam o jeito de ser de uma cidade [...] Os lugares da cidade não são passíveis de construção, mas produzem-se, sem planos ou previsões” (21).<br />Carregados de imprevisibilidade, esses lugares se apresentam como “cenas inusitadas surpreendidas pela objetiva do fotógrafo, pela atenção do transeunte curioso ou pela estupefação do jornalista, para os quais o cotidiano precisa ser eterna novidade” (22). Neste sentido, completando a citação, “a percepção do lugar não depende da forma da cidade, mas do olhar do leitor capaz de superar o hábito e perceber as diferenças”.<br />Tal estratégia mostra-se consciente de que a dinâmica urbana não tem a escala restrita da cidade, mas que esta é uma de suas formalizações que se alteram ao longo da história – como se altera a própria dinâmica urbana; e neste sentido, não há repúdio à sobreposição de imagens que circulam e aderem à cidade tentando ligá-la a um imaginário de valores simbólicos globais, tomando como única alternativa o resgate de uma cidade “autêntica”. Atitude crítica como esta seria como se se quisesse arrancar as máscaras impostas sobre a cidade para então revelar um ser íntegro, desprovido de fantasias. Ora, a imprevisibilidade de significações do lugar não abre mão de quaisquer informações que constituam a cidade ou, e principalmente, de quaisquer interpretações possíveis. Se o lugar é a porção do espaço identitário à qual atribuo signos com os quais me identifico no espaço (23), sua singularidade e imprevisibilidade são inerentes – e daí que qualquer descarte de possibilidades interpretativas seria um ato restritivo de sua total potencialidade sígnica. Portanto, a discussão apresentada por Lucrécia Ferrara traz estratégias metodológicas que nos permitem escapar de atitudes condenatórias e substituição de entendimento do problema pelo seu julgamento prévio; e, claro, não é o caso de se aceitar impassível as imagens veiculadas e sobrespostas à cidade, mas explorar sob as máscaras, entre as máscaras – todas as possíveis. E por isso, a substituição do espetáculo do visual para a experimentação da visibilidade (24).<br />Trata-se, quase, de uma substituição de estratégias metodológicas que privilegiam ou buscam a extração da essência do espaço – ou jocosamente, do espaço-tipo – por outras que dêem conta da heterogeneidade das formações espaciais, dos lugares, e de seus complexos processos de formação. Lebbeus Woods (25) costuma relacionar esse ‘império’ das complexidades e heterogeneidades ao espaço e à arquitetura através do que chama heterarquitetura (heterarchitecture), para contrapor qualquer tipo de homogeneizações.<br />3. Provocações: representações da cidade infiltrada<br />A realidade só se apresenta quando mediada por signos. A questão não é que só é possível se acessar a realidade através de signos, mas que a realidade só se torna quando mediada por signos. Ou seja, não é apenas dizer que preciso da palavra “cidade” para falar de um objeto que estaria lá independente desta minha palavra, posto que poderia chamá-lo “ville” ou “stadt” e ele continuaria ser o que é. Vilém Flusser (26) propõe que o objeto apenas é o que é dentro de um sistema específico de representação, podendo ter outro significado (e, portanto, tornando-se outro) dentro de outro sistema específico. Considerando tal argumentação podemos ter claro que a atribuição de signos (representação) a um objeto modifica a percepção deste objeto e revela-o de forma distinta de acordo com o sistema de representação escolhido.<br />Uma das possibilidades de leitura do fenômeno urbano, então, seria o de provocar representações múltiplas da cidade para revelá-la, não em sua totalidade impossível, mas em sua multiplicidade provocadora – de outras leituras, outras representações, outras (da mesma) cidade.<br />Esta foi a estratégia adotada por Nelson Brissac Peixoto em uma série de intervenções urbanas e artísticas (27). É a leitura pela provocação sígnica. Uma porção do espaço urbano é selecionada – eis o objeto. Artistas das mais diferentes áreas são chamados para expressar sua leitura urbana agindo diretamente sobre o objeto, atribuindo-lhe signos, modificando-o de tal modo que um novo objeto emirja. Este objeto-signo (termo usado por falta completa de melhor definição e para que o encadeamento de idéias seja claro) é evidenciado à cidade do qual faz parte. O público é chamado para visitar esta cidade-objeto-signo e reagir, provocada pelo que não conhece de uma cidade-objeto que faz parte de seu cotidiano. Tem-se como material para reflexão uma cidade provocada e estimulada que revela múltiplas faces.<br />Vive-se hoje um momento de angústia da representação: as dinâmicas territoriais estão mudando, e muito pela infiltração dos fluxos informacionais nos diferentes níveis da vida (pessoal, empresarial, política), vivencia-se essas mudanças, consegue-se vislumbrar alguns conceitos que servem como guias nesses territórios alterados, mas ainda não se tem domínio de um sistema de representação que, através dele, se consiga entender o objeto. Fecha-se, portanto, a cadeia entre signo e objeto quando se coloca que a representação que se tem de um objeto é sempre, portanto, uma projeção cultural que se faz sobre ele, representação possível apenas pelo repertório adquirido; todavia, ao ser representado, o objeto se volta ao intérprete, revelando propriedades não contidas na primeira representação, estimulando alterações de repertório e, conseqüentemente, outras representações, constituindo uma cadeia sígnica em mutação.<br />Quando se chega a uma situação limite de representação (e consideramos os territórios alterados pelas tecnologias de informação uma situação limite), uma das primeiras tentativas é a sobreposição excessiva de representações de um objeto, buscando atribuir signos a cada nuança percebida deste objeto. Como se se quisesse aceder ao fenômeno pela sua descrição absoluta – como no conto de Jorge Luís Borges, onde o colégio de cartógrafos buscava um mapa cada vez mais detalhado que ele chegou a se sobrepor integralmente ao território, em seus mínimos detalhes – e tornou-se inútil.<br />“[...] Naquele Império a Arte da Cartografia chegou a tal perfeição que o Mapa de uma Província ocupava toda uma Cidade, o Mapa do Império toda uma Província. Com o tempo, esses Mapas desmesurados já não bastavam mais. Os Colégios de Cartógrafos elaboraram um Mapa do Império que tinha a imensidão do próprio Império e coincidia perfeitamente com ele. Mas as gerações seguintes, menos afeitas ao estudo da cartografia, pensaram que este Mapa enorme era inútil e, não sem Impiedade, abandonaram-no às inclemências do sol e dos invernos. Nos Desertos do Ocidente ainda sobrevivem ruínas dilaceradas do Mapa, habitadas por animais e mendigos; em todo o País, não existe nenhuma outra relíquia das Disciplinas Geográficas.” (28)<br />Talvez as leituras diagramáticas sobrepostas a mapas ainda não sustentem um necessário novo sistema de representação para lidar com essas novas territorialidades. Certamente a ânsia de que esses diagramas se convertam também em esquemas de intervenção de “políticas públicas ou utilizados por diferentes grupos sociais” ainda é prematura. O que importa é que este trabalho traz à tona a premência de se questionar as formas de representação atuais e da necessidade de se construir inovadoras formas de representação como a única possibilidade de nos aproximarmos da recomposição dinâmica dos territórios articulados pelas tecnologias de informação em múltiplas escalas.<br />4. Infiltrações: cidade e tecnologias<br />A base da discussão deste artigo é que as tecnologias de informação e comunicação alteram as territorialidades urbanas contemporâneas; e neste sentido podemos dizer que a tecnologia faz política, não de modo “aplicado”, como se a construção de uma ponte ou a instalação de antenas celulares refletissem sempre e tão-somente um esquema político pré-estabelecido. Isso seria esvaziar a tecnologia de qualquer sentido para torná-la neutra e, portanto, aplicável a qualquer princípio – como escreve Bruno Latour (29). Em um exemplo simples e caseiro, o aparelho de televisão na sala alterou muito mais a vida doméstica do que teorias sociais ou projetos arquitetônicos. Não havia essa intencionalidade na televisão, mas seu papel foi transformador.<br />Hoje o que temos é uma cidade infiltrada por tecnologias de informação e comunicação que trazem mudanças epistemológicas e sensoriais à vivência urbana e apontam para uma mudança radical no que entendemos por cidade. As TICs têm sido interpretadas como o conjunto de tecnologias mais invasivas e ubíquas que já existiu. Hoje, tudo tende a ter um microchip como parte de sua estrutura (desde aviões e computadores, até geladeiras – com Internet – e o próprio corpo humano). Para nomear esta ‘simbiose’ entre elementos tradicionais e eletrônicos – ou, analogamente, a própria cidade infiltrada – Mark Weiser (30) usa os termos ‘computação ubíqua’ (ubiquitous computing) e ‘virtualidade incorporada’ (embodied virtuality).<br />Não são nichos virtuais, densamente informados e precisamente localizados, e nem a discussão pode ser sobre a falta de acesso a esses nichos – daquele tipo que diz que tal grupo de pessoas não tem acesso a esses lugares densamente informados, onde só privilegiados circulam enquanto os outros transitam em um ambiente pré-informacional. Não há adendos informacionais ao espaço “concreto”, mas um espaço-total informado, malhado com ondas eletromagnéticas de múltiplas freqüências que atravessam o espaço, que nos atravessam; não são alguns lugares com privilégio informacional na cidade contemporânea. Não há como mudar de canal, separar os momentos de pensar um universo urbano e outro informacional. O desafio é assumir como terreno de reflexão e ação o terreno híbrido entre os dois universos, assumir que um está no outro, que ambos são cada vez mais indissociáveis, e só assim podemos pensar os desafios contemporâneos do que é o espaço urbano. Contra os nichos virtuais, o que temos é a cidade infiltrada.<br />Mais do que substituindo qualquer coisa, esse espaço ampliado e híbrido da cidade infiltrada, é visto como uma conseqüência da coexistência de espaços físicos e virtuais, ou de elementos urbanos tradicionais e eletrônicos. Deriva, portanto, deste fato, a aplicação dos termos cidade infiltrada, cidade ampliada, tecnologias infiltradas, etc., na busca de um conceito que considere a adição de novos elementos ao espaço, e não a idéia de substituição. O espaço, um produto social, deve agora incorporar a complexidade das interações virtuais, remotas e distantes.<br />As relações entre espaço e tempo têm sido dramaticamente desafiadas pelas recentes inovações tecnológicas, especialmente em termos da organização territorial e da relativa interdependência atual dos efeitos limitadores da distância. Mobilidade e interdependência tornam-se, assim, palavras-chave para a compreensão da realidade contemporânea.<br />O arquiteto Peter Eisenman se coloca entre aqueles que acham que vivenciamos novas relações materiais e imateriais do espaço:<br />“Tradicionalmente arquitetura foi dependente do lugar, ligada à condição da experiência. Hoje, ambientes midiatizados desafiam os dados do tempo clássico, o tempo da experiência [...] Arquitetura não pode mais continuar limitada pelas condições estáticas de espaço e lugar, aqui e ali (Peter Eisenman, 1991).” (31)<br />Os lugares talvez apresentem diferentes configurações inter- e intra-cidades, mas pesquisas recentes apontam que grande parte dos urbanistas insiste na utilização de métodos, conceitos e instrumentos ultrapassados, desenvolvidos durante e para o período das cidades industriais e do modernismo, em grande parte por desconhecimento dos novos fenômenos que moldam o espaço contemporâneo. Temos uma nova cidade, mas não temos novos métodos para intervir nessa cidade. Temos, igualmente, novos elementos e fluxos da cidade, invisíveis, infiltrados e mais rápidos, combinados a tradicionais formas de planejar, projetar, construir e gerir o espaço urbano (32).<br />Em certo sentido, vivemos o paradoxo de habitarmos ao mesmo tempo o espaço de fluxos informacionais globais, instantâneos e imateriais e os lugares materializados nas cidades, acessíveis em percursos lentos (frente à velocidade instantânea dos meios de comunicação). Essa dicotomia entre os espaços instantâneos e lentos tem sua visão crítica expressas em autores como Arthur e Marilouise Kroker, em seu Digital Delirium, quando escrevem: “Economia rápida, mas trabalhos lentos. Imagens rápidas, mas olhos lentos. [...] Mídia rápida, mas comunicação lenta. Conversa rápida, mas sem pensamento” (33).<br />Mas esse mundo informacional está atrelado ao nosso cotidiano: da TV a cabo na sala à Internet no quarto; da transferência bancária internacional aos ambientes Wi-Fi em aeroportos e cafés. E é justamente esse paradoxo entre a instantaneidade global e a aparente lentidão (ou imobilismo?) local que apresenta o mundo contemporâneo – e assim, essa é, também, uma característica do mundo urbano.<br />Neste espaço híbrido Peter Weibel (34) enxergava a época que então se inaugurava como aquela que seria marcada pelo “trauma do demônico de Maxwell”, quando seres e/ou objetos inteligentes interfeririam no mundo concreto – sendo esses seres partículas virtuais da arquitetura, responsáveis pelos momentos críticos nas relações entre o humano, o ambiente e as tecnologias. Mas, como Selim Koder (35) ressaltou, essas partículas do virtual inseridas no mundo concreto não nos levaria ao caos, mas sim abrem possibilidades de novas organizações dos sistemas de informação e das cidades. Se lembrarmos que a definição de virtualidade, em sua origem grega, virtus, significa força, potência, a ressalva de Koder ganha relevo.<br />Esqueçamos de aparatos tecnológicos. Pensar a cidade infiltrada a partir dos objetos tecnológicos seria aprisioná-los dentro de si mesmo, imobilizá-los e considerá-los apenas como um elemento portador de transformações que estão além dele. Os objetos tecnológicos não são o que são em si mesmos, e sim as relações que propiciam com o contexto do qual fazem parte (contexto que, por sua, também não é uma paisagem receptora, mas uma paisagem que apenas é por que em relação com tais objetos tecnológicos); e não são exclusivamente emissários de transformações imaginadas alhures, mas agentes que possibilitam transformações derivadas de suas relações com contexto. Isto é, não há como compreender os aparatos tecnológicos e, conseqüentemente, suas influências na maneira com que compreendemos e usamos o espaço, fora do contexto de suas apropriações pela sociedade, sem considerá-los como frutos de relações social e historicamente construídas.<br />Quando pensamos nas TICs, então, o objeto tecnológico em si faz ainda menos sentido. O que podemos tomar para análise são os signos de transformações urbanas decorrentes dessa cidade infiltrada – sejam estes signos comportamento das pessoas, lógica de ordenamento e gestão territorial, mudança na hierarquia dos lugares da cidade ou alteração na paisagem urbana. Novamente, a análise da cidade contemporânea na sociedade da informação, esta cidade infiltrada, ampliada, de tecnologias infiltradas, necessita de instrumentos conceituais e metodológicos que assumam o risco de se posicionar frente a uma situação nova<br />