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Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp 
O “Raio que o parta” em Belém: um estudo sobre a valorização da 
423 
arquitetura popular paraense 
Laura Caroline de Carvalho da Costa248 
Cybelle Salvador Miranda249 
Resumo 
O artigo é um estudo sobre a pesquisa realizada pelos alunos de graduação em Arquitetura e 
Urbanismo da Universidade Federal do Pará para a Disciplina Estética das Artes Plásticas sobre o 
fenômeno da arquitetura modernista popular conhecido como “Raio que o parta” (RQP) em cinco 
bairros de Belém: Guamá, Pedreira, Telégrafo, Jurunas e Cremação. Utilizando o método etnográfico, os 
discentes fizeram levantamento fotográfico de edificações que apresentam características do RQP, além 
de entrevistas com os moradores, através das quais puderam observar como eles reagem frente à 
estética dos raios formados por cacos de azulejos nas fachadas e porque muitos optam pelo seu 
apagamento. 
Palavras-chave: Arquitetura popular, raio que o parta, memória, valor afetivo, valor de 
novidade. 
Introdução 
É sabido que a chamada arquitetura brasileira possui vários matizes, resultado de 
nossa formação cultural híbrida. Muitos estudos tem se debruçado na tentativa de 
classificação de exemplares “representativos” de nosso território, embora corram o risco de 
incorrer no processo de seleção e apagamento de memórias, segundo Bispo (2004), quando 
enquadram na memória nacional apenas edificações inseridas no contexto da arquitetura 
erudita ou de autor. 
Por outro lado, pesquisas recentes tem procurado preencher esta lacuna, de maneira a 
abranger os exemplares arquitetônicos populares. Cabe aqui esclarecer que adotamos o termo 
“popular” para designar uma arquitetura feita por indivíduos de renda média e baixa que se 
identificam com a modernidade assimilada, geralmente sem acompanhamento profissional. 
Nesse âmbito, também podemos encontrar estudos de classificação, como a obra “Arquitetura 
popular brasileira”, de Günter Weiner (2005), que encontrou argumentação crítica no campo 
antropológico (MIGUEL, 2011) por apresentar discrepâncias no método e nos conceitos de 
“erudito” e “popular”, que ora se cruzam, ora caminham paralelamente. 
Os estudos de Guimaraes e Cavalcanti (1982) e Fernando Lara (2005) apontam a 
existência de uma arquitetura kitsch e “modernosa”, respectivamente, quando falam das 
edificações de caráter popular que se apropriaram da linguagem moderna à sua maneira, 
entre as décadas de 40 e 60 do século XX. Sobre esse capítulo da arquitetura brasileira, Lara 
(2005) diz que 
[A] apropriação popular do modernismo brasileiro é descartada da historiografia por 
uma série de razões, como simplificação formal, consumo de elementos e ausência de 
unidade, que, se aplicadas às obras dos anos de 1960 e 1970, condenariam boa parte do 
trabalho dos melhores arquitetos do país. (LARA, 2005, p. 173) 
248 Designer, Arquiteta e Urbanista, Mestranda em Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-graduação 
em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Pará, laura_carol17@yahoo.com.br. 
249 Arquiteta e Urbanista, Doutora em Antropologia, Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo 
e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Pará, cybelle@ufpa.br.
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Acredita-se que essa manifestação surgiu como um anseio das classes média e baixa 
de participar das tendências que o movimento moderno trazia no campo das artes e da 
arquitetura, encontrando reflexos em algumas regiões do país, como Rio de Janeiro, São Paulo 
e Minas Gerais. No Pará (tanto na capital quanto no interior), o modernismo popular 
encontrou sua expressão através da aplicação, nas platibandas e muros, de cacos de azulejos 
formando raios ou figuras geométricas variadas, além da adoção de elementos estético-formais 
de linguagem moderna, como marquises e colunas inclinadas. Para nomear essa 
manifestação e expressar sua opinião de que aquilo lhes parecia de gosto duvidoso, alguns 
arquitetos passaram a chamar de “Raio que o parta” (CARVALHO; MIRANDA, 2009). 
A análise dessa arquitetura popular começou a ser feita há pouco tempo, por meio dos 
estudos de Braga (1995), Carvalho e Miranda (2009) e Cardoso (2012), numa tentativa de fazer 
a catalogação de alguns exemplares e sua caracterização, bem como compreender o 
surgimento e gosto através de entrevistas com os proprietários. 
Atualmente, a preocupação em estudar o raio que o parta está voltada não apenas 
para delinear sua origem, mas também compreender o motivo pelo qual muitos desses 
exemplares estão desaparecendo da paisagem urbana; dessa forma, realizou-se, durante o 
estágio docente do Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará, 
um trabalho de pesquisa junto aos alunos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, na 
Disciplina Estética das Artes Plásticas, visando a coleta de dados sobre o “Raio que o parta” em 
cinco bairros de Belém (Guamá, Pedreira, Telégrafo, Jurunas e Cremação), para serem 
apresentados como avaliação final no Workshop “O Raio que o parta na arquitetura 
modernista paraense”. Pretendeu-se relacionar a manifestação do raio que o parta em Belém 
com as referências da arquitetura contemporânea estudadas em sala de aula, bem como 
identificar autoconstruções e projetos feitos por profissionais e compreender as motivações 
que levaram à criação do estilo, o que inclui sua manutenção ou modificação por parte dos 
proprietários. 
424 
Metodologia 
Antes do início da pesquisa, foi apresentado aos alunos da Disciplina Estética 
das Artes Plásticas o objeto de estudo – o Raio que o parta (RQP). Nesse momento, identificou-se 
o desconhecimento por parte dos mesmos acerca do uso do termo para designar as casas 
com cacos de azulejos coloridos, embora afirmassem que já haviam observado tais exemplares 
quando viram algumas fotografias. A apresentação também visou orientá-los sobre as 
características do RQP para auxiliar na identificação das obras. 
Após a apresentação, a turma foi dividida em cinco equipes, sendo cada uma 
responsável por um bairro da cidade de Belém: Guamá, Pedreira, Telégrafo, Jurunas e 
Cremação. A escolha desses bairros justifica-se pelo número considerável de exemplares que 
ainda podem ser encontrados, e sua composição populacional é feita por indivíduos de classe 
média e baixa. A proposta era realizar um trabalho de campo, em que cada grupo ficaria 
responsável por, pelo menos, quatro casas em cada bairro, fazendo uso do método 
etnográfico: diário de campo, levantamento fotográfico e entrevistas (GEERTZ, 1978; 
OLIVEIRA, 2000). O roteiro de pesquisa foi o seguinte: 
1) Primeira visita: reconhecimento da área, identificando no mapa os trajetos realizados; 
2) Diário de campo; 
3) Identificação dos exemplares e seu contexto (pré-seleção das casas); 
4) Segunda visita: contato com o morador. Roteiro de entrevista a ser definido pelo 
grupo.
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Foi solicitado aos discentes que priorizassem entrevistas250 com moradores que fossem 
proprietários das residências, em virtude da possibilidade de conseguirem mais informações 
sobre a construção da casa. As perguntas poderiam ser formuladas conforme a necessidade da 
pesquisa, embora os grupos devessem responder algumas questões pré-definidas: 
a) O morador construiu? 
b) Qual a época da construção? 
c) Houve acompanhamento profissional/projeto? 
d) Gosta do estilo? 
e) Foi modificada? Se sim, por quê? 
O estudo foi realizado nos meses de junho a agosto de 2013 e os resultados foram 
apresentados como avaliação final no Workshop “O Raio que o parta na arquitetura 
modernista paraense”. 
425 
Resultados e discussão 
Bairro: Guamá 
A equipe buscou realizar uma pesquisa bibliográfica que investiga as origens 
do modernismo no Pará, e como os engenheiros absorveram essa tendência em suas obras – 
tendo em vista que, no período em que o Movimento Moderno encontrou seu auge no Brasil, 
ainda não havia curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo no Pará, fundado apenas em 
1964 e cuja primeira turma dividiu-se em alunos regulares e engenheiros civis que pretendiam 
complementar sua formação (CARVALHO; MIRANDA, 2009, apud OLIVEIRA et al., 2013). 
Durante a pesquisa de campo, os alunos fizeram o reconhecimento do bairro 
(itinerários feitos a pé e de ônibus) e identificaram as residências com traços do RQP, 
registrando por meio de fotografias. No momento do contato com os moradores foi solicitada 
a autorização destes para o levantamento fotográfico do interior das residências (o que foi 
concedido em apenas uma delas). 
Na primeira delas, observaram que o interior possuía piso em tacos de madeira e 
cerâmica do tipo “São Caetano” e azulejos nas paredes. A moradora afirma não gostar da casa 
por motivos familiares, mas que acharia linda se estivesse bem conservada e não faria 
alterações. 
FIGURA 1 – Casa “Raio que o Parta” no bairro do Guamá 
Fonte: OLIVEIRA et al., 2013 
250 Para a entrevista, os alunos levaram consigo um Termo de Cessão de Direitos Autorais (em caso de 
utilização de fotografias dos proprietários), de Livre Consentimento (para autorização de entrevista) e um Ofício 
apresentando cada equipe e seus objetivos de pesquisa, assinado pela Prof. Dra. Cybelle Salvador Miranda, que 
ministrou a Disciplina.
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Na segunda e terceira residências não encontraram os proprietários, sendo que a 
segunda está à venda. Na casa da Sra. Risodália, descobriram que se tratava de uma edificação 
projetada por um engenheiro e um arquiteto, tendo sido feita apenas uma modificação na 
fachada para abrir uma garagem. A moradora tem conhecimento do RQP e afirma que 
construiu dessa forma porque “estava na moda”. Nessa casa também encontraram, além da 
platibanda com raios e cores vibrantes nos azulejos e cobogós, outro elemento frequente no 
RQP: o azulejo de registro, ilustrando uma figura religiosa. Ao final do estudo, os docentes 
concluíram que 
Claramente o desgaste e a redução dos exemplares do estilo “raio-que-o-parta” não se 
devem somente as novas concepções de moderno vigentes, mas sim a falta de conscientização 
da sociedade da importância e também por não existir uma politica ou ação para tentar 
conscientizar da importância não somente histórica do estilo “raio-que-o-parta”, mas também 
da importância cultural local. (OLIVEIRA et al, 2013) 
426 
Bairro: Pedreira 
Os estudantes também apontaram que a causa das modificações da estética 
dos raios deve-se ao desconhecimento do valor histórico e arquitetônico, o que leva os 
moradores a desvalorização do RQP para “modernizar” a fachada. Foram encontradas 19 casas 
RQP, das quais 4 foram selecionadas para entrevista. 
Neste bairro, encontrou-se uma casa onde se vê a tentativa de apagamento 
das características do RQP, por meio de pintura encobrindo os azulejos; interrogada sobre o 
motivo dessa ação, a moradora respondeu que não gostava do padrão de mosaicos adotado 
na fachada. Atitude diferente foi sentida em outro proprietário no mesmo bairro, que além de 
afirmar que gosta da aparência, conhece sobre o RQP e já foi entrevistado por um canal de TV 
sobre o assunto. Na casa, houve alteração na planta (para eliminar uma área que servia como 
comércio) e na fachada (apagamento de um desenho em forma de canoa, feito pelo pai do 
morador). 
FIGURA 2 – Casa “Raio que o Parta” no bairro da Pedreira 
Fonte: ALVES; REIS, 2013
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Os discentes também conseguiram encontrar obras que tiveram 
acompanhamento profissional, e nestas os moradores demonstram afeição à casa, embora 
também tenham empregado reformas para acréscimo de garagem, sem contudo intervir nos 
painéis de azulejos. 
427 
Bairro: Telégrafo 
A equipe identificou oito casas que apresentam traços do RQP, localizadas 
principalmente em áreas afastadas de bairros fronteiriços a este e que possuem padrão social 
mais elevado. 
Houve dificuldade em realizar as entrevistas em virtude de encontrarem casas 
desocupadas ou moradores que não se dispuseram a conversar com os alunos. Apenas dois 
moradores mostraram-se favoráveis pela permanência do raio por um gosto pessoal, mesmo 
sem nunca terem ouvido falar em “Raio que o parta”; os demais (que concederam entrevista) 
afirmaram interesse na eliminação dos raios, tendo alguns proprietários inclusive realizado tal 
ato, por meio de aplicação de reboco sobre os painéis. 
FIGURA 3 – Casa “Raio que o Parta” no bairro do Telégrafo 
Fonte: MODESTO et al., 2013
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Bairro: Jurunas 
Nesta área, os alunos encontraram sete casas RQP, e durante as entrevistas puderam 
identificar que os proprietários não sabiam informar a respeito da execução da casa ou estas 
não tiveram acompanhamento profissional. A maioria dos entrevistados gosta dos raios, 
mostrando interesse em mantê-los, embora houvessem dois casos particulares – um de venda 
e outro de demolição do imóvel, para resolver um imbróglio familiar. 
428 
FIGURA 4 – Casa “Raio que o Parta” no bairro do Jurunas 
Fonte: CLEMENTE et al., 2013 
Bairro: Cremação 
Um aspecto interessante a ser destacado pela pesquisa do grupo se refere ao 
momento em que investigam as origens do Raio que o parta, quando traçam uma relação 
entre ele e o movimento Desconstrutivista: 
A relação da arquitetura regional Raio Que O Parta com desconstrutivismo se dá 
principalmente pelos mosaicos, formatos e demais detalhes encontrados nas platibandas das 
casas. Mesmo que a maioria dos mosaicos encontrados nas fachadas das casas tenha uma
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ortogonalidade, geralmente são figuras espontâneas e que não seguem um padrão lógico 
geométrico. Da mesma forma, algumas platibandas apresentam “desconstrução” nos seus 
formatos geométricos. (RODRIGUES et al., 2013, p. 7). 
Quanto às casas, os alunos encontraram moradores que constituem a terceira 
geração dos que habitam os locais, e muitas vezes demonstram apreço pela aparência da casa 
em virtude da relação com a memória familiar, embora também tivessem entrevistado 
proprietários que classificam o raio que o parta como “ultrapassado”. 
429 
FIGURA 5 – Casa “Raio que o Parta” no bairro da Cremação 
Fonte: RODRIGUES et al., 2013 
Por meio da pesquisa dos alunos, notamos algumas posturas que se 
reproduzem entre os moradores dos bairros acima descritos: 
1) Nas casas cuja fachada se manteve por gosto, o morador optou pela permanência 
em respeito à memória de seus familiares que foram responsáveis pela sua construção, por 
reconhecer o valor da estética dos raios ou por ter sido a casa fruto de um projeto 
acompanhado por profissional (engenheiro ou arquiteto) 
2) Nas obras que não foram alteradas por gosto, o morador não empregou as 
mudanças pretendidas por falta de recursos financeiros. Nesses casos, geralmente a família é 
de classe baixa, o morador desconhece o termo “Raio que o parta” para designar essas 
edificações e a casa foi construída sem projeto arquitetônico. 
3) A desvalorização do RQP é justificada pelos proprietários pelo anseio de 
“modernizar” a residência – algo curioso, visto que o Raio foi empregado com a mesma 
finalidade nas décadas de 40 a 60 do século XX. 
Analisando esses comportamentos, os discentes fizeram reflexões pertinentes 
a respeito do valor relativo atribuído às edificações: 
O ideal de modernidade que as construções do estilo “raio-que-o-parta” tinham foi 
durante os anos sendo perdidos e modificados por novos sensos de moderno, onde fica 
notável pelo fato de hoje existem poucos exemplares do estilo “raio-que-o-parta” [...] 
(OLIVEIRA et al., 2013) 
[O] que se percebe é que os ideais de beleza, de moderno se alteram com o passar do 
tempo, e varia de individuo para individuo, o que em outra época era o ideal de modernidade,
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hoje se torna retrogrado e ultrapassado. Partindo desse pressuposto como valorizar o 
patrimônio se os ideais de belo são dinâmicos e voláteis [?] (ALVES; REIS, 2013) 
Essas conclusões reforçam as idéias propostas por Riegl (2006), quando fala do valor 
absoluto e valor relativo: para ele o termo “valor” é tratado como um evento histórico, não 
permanente: 
De um ponto de vista moderno, que nega a existência do cânone artístico 
objetivamente válido, um monumento não pode evidentemente apresentar um valor artístico 
para as gerações ulteriores[...]. A experiência, entretanto, mostra que locamos 
constantemente obras datadas de muitos séculos acima de certas obras modernas [...] (RIEGL, 
2006, p. 108) 
Também encontramos paralelo com este autor quando ele se refere ao “Valor de 
Novidade”: para a vontade artística, quanto mais degradada a obra estiver, menos valor lhe é 
atribuído, da mesma forma como alguns moradores se sentem ao afirmar que, se a casa RQP 
estivesse em melhores condições, sentiriam mais apreço: 
A multidão sempre foi seduzida pelas obras cujo aspecto novo estava claramente 
afirmado; [...] Ao olhar da multidão, só o que é novo e intacto é belo. O velho, o desbotado, os 
fragmentos de objetos são feios. (Idem, p. 98) 
O valor do Raio que o parta se mostra mais efêmero quando comparado à arquitetura 
eclética ou neoclássica, vistas como patrimônio cultural, ideia construída e consolidada por 
muitos anos através de órgãos de defesa do mesmo. Será que os moradores teriam a mesma 
opinião se residissem num exemplar da arquitetura erudita? 
430 
Considerações finais 
A realização da pesquisa sobre a estética do raio que o parta em Belém 
revelou-se fundamental para despertar nos alunos o interesse pela arquitetura popular, em 
especial o Raio que o parta, percebendo-o como elemento formador de identidade cultural do 
Pará e de uma manifestação criativa que criou um modernismo popular de baixo custo, cuja 
disseminação pelos quatro cantos do Estado também alerta para a necessidade de sua 
preservação e conscientização junto aos moradores a respeito de sua importância para a 
memória arquitetônica paraense, buscando reduzir os apagamentos. 
Da mesma forma, pretendemos com esse estudo criar o estímulo de 
aprofundar a pesquisa sobre o RQP nos demais bairros de Belém e no interior, reconhecendo-o 
como um exemplo da arquitetura brasileira, junto com as obras já consagradas da 
arquitetura erudita ou de autor. 
Agradecimentos 
À CAPES pela concessão da Bolsa Auxílio para mestrando do Programa de Pós-graduação 
em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da UFPA.
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REFERÊNCIAS 
ALVES, Sâmia; REIS, Carlos A. ‘Arquitetura do Raio que o parta’, do esquecimento a 
valoração do estilo, Bairro da Pedreira, Belém do Pará. Trabalho final de avaliação da Disciplina 
Estética das Artes Plásticas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal 
do Pará. Belém, 2013. 
BISPO, Raphael. Selecionar, disputar e conservar: práticas de comunicação social e 
constituição da memória nacional pelo Iphan. In: Revista CPC. São Paulo, n. 11, p. 33-59, 
nov.2010/abr.2011. 
CARDOSO, Andréia L. A valoração como patrimônio cultural do “Raio que o parta”: 
expressão do modernismo popular, em Belém/PA. Dissertação (Mestrado). Instituto do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, 2012. 
CARVALHO, Ronaldo Marques de; MIRANDA, Cybelle Salvador. Dos mosaicos às curvas: 
a estética modernista na Arquitetura residencial de Belém. In: Arquitextos, São Paulo, 10.112, 
Vitruvius, set 2009. Disponível em <http://vitruvius.es/revistas/read/arquitextos/10.112/25>. 
Acesso em 15 out. 2012. 
CLEMENTE, Herickson et al. “Raio-que-o-parta” – Bairro do Jurunas. Trabalho final de 
avaliação da Disciplina Estética das Artes Plásticas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo 
da Universidade Federal do Pará. Belém, 2013. 
GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. 
GUIMARAES, Dinah; CAVALCANTI, Lauro. Arquitetura kitsch, suburbana e rural. Rio de 
431 
Janeiro: Paz e Terra, 1982. 
LARA, Fernando L. C. Modernismo Popular: Elogio ou imitação? In: Cadernos de 
Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 12, n. 13, p. 171-184, dez. 2005. 
MODESTO, Abílio et al. O Raio que o parta na arquitetura modernista paraense e a 
estética contemporânea – pesquisa no bairro do Telégrafo – Belém/Pa. Trabalho final de 
avaliação da Disciplina Estética das Artes Plásticas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo 
da Universidade Federal do Pará. Belém, 2013. 
MIGUEL, Francisco P. Arquitetura popular brasileira: um enfoque etnográfico. In: 
Revista Habitus. Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, 2011. 
OLIVEIRA, Roberto C. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: O trabalho 
do antropólogo. São Paulo: Unesp, 2000. 
OLIVEIRA, Edirfran et al. Estilo Raio que o parta – estudo de caso no bairro do Guamá. 
Trabalho final de avaliação da Disciplina Estética das Artes Plásticas da Faculdade de 
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará. Belém, 2013. 
RIEGL, Aloïs. O Culto dos monumentos: sua essência e sua gênese. Goiânia: Editora da 
Universidade Católica de Goiás, 2006. 
RODRIGUES, Divan et al. Um paralelo da arquitetura desconstrutivista com o 
regionalismo do estilo Raio que o parta em Belém do Pará. Trabalho final de avaliação da 
Disciplina Estética das Artes Plásticas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da 
Universidade Federal do Pará. Belém, 2013. 
SANTOS, Ivana B. T. Raio-que-o-parta – Um fragmento entre cultura e sociedade. 
Monografia (Especialização). Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do 
Pará. Belém, 1995.

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O “Raio que o parta” em Belém: um estudo sobre a valorização da arquitetura popular paraense

  • 1. ANAIS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp O “Raio que o parta” em Belém: um estudo sobre a valorização da 423 arquitetura popular paraense Laura Caroline de Carvalho da Costa248 Cybelle Salvador Miranda249 Resumo O artigo é um estudo sobre a pesquisa realizada pelos alunos de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará para a Disciplina Estética das Artes Plásticas sobre o fenômeno da arquitetura modernista popular conhecido como “Raio que o parta” (RQP) em cinco bairros de Belém: Guamá, Pedreira, Telégrafo, Jurunas e Cremação. Utilizando o método etnográfico, os discentes fizeram levantamento fotográfico de edificações que apresentam características do RQP, além de entrevistas com os moradores, através das quais puderam observar como eles reagem frente à estética dos raios formados por cacos de azulejos nas fachadas e porque muitos optam pelo seu apagamento. Palavras-chave: Arquitetura popular, raio que o parta, memória, valor afetivo, valor de novidade. Introdução É sabido que a chamada arquitetura brasileira possui vários matizes, resultado de nossa formação cultural híbrida. Muitos estudos tem se debruçado na tentativa de classificação de exemplares “representativos” de nosso território, embora corram o risco de incorrer no processo de seleção e apagamento de memórias, segundo Bispo (2004), quando enquadram na memória nacional apenas edificações inseridas no contexto da arquitetura erudita ou de autor. Por outro lado, pesquisas recentes tem procurado preencher esta lacuna, de maneira a abranger os exemplares arquitetônicos populares. Cabe aqui esclarecer que adotamos o termo “popular” para designar uma arquitetura feita por indivíduos de renda média e baixa que se identificam com a modernidade assimilada, geralmente sem acompanhamento profissional. Nesse âmbito, também podemos encontrar estudos de classificação, como a obra “Arquitetura popular brasileira”, de Günter Weiner (2005), que encontrou argumentação crítica no campo antropológico (MIGUEL, 2011) por apresentar discrepâncias no método e nos conceitos de “erudito” e “popular”, que ora se cruzam, ora caminham paralelamente. Os estudos de Guimaraes e Cavalcanti (1982) e Fernando Lara (2005) apontam a existência de uma arquitetura kitsch e “modernosa”, respectivamente, quando falam das edificações de caráter popular que se apropriaram da linguagem moderna à sua maneira, entre as décadas de 40 e 60 do século XX. Sobre esse capítulo da arquitetura brasileira, Lara (2005) diz que [A] apropriação popular do modernismo brasileiro é descartada da historiografia por uma série de razões, como simplificação formal, consumo de elementos e ausência de unidade, que, se aplicadas às obras dos anos de 1960 e 1970, condenariam boa parte do trabalho dos melhores arquitetos do país. (LARA, 2005, p. 173) 248 Designer, Arquiteta e Urbanista, Mestranda em Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Pará, laura_carol17@yahoo.com.br. 249 Arquiteta e Urbanista, Doutora em Antropologia, Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Pará, cybelle@ufpa.br.
  • 2. ANAIS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp Acredita-se que essa manifestação surgiu como um anseio das classes média e baixa de participar das tendências que o movimento moderno trazia no campo das artes e da arquitetura, encontrando reflexos em algumas regiões do país, como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. No Pará (tanto na capital quanto no interior), o modernismo popular encontrou sua expressão através da aplicação, nas platibandas e muros, de cacos de azulejos formando raios ou figuras geométricas variadas, além da adoção de elementos estético-formais de linguagem moderna, como marquises e colunas inclinadas. Para nomear essa manifestação e expressar sua opinião de que aquilo lhes parecia de gosto duvidoso, alguns arquitetos passaram a chamar de “Raio que o parta” (CARVALHO; MIRANDA, 2009). A análise dessa arquitetura popular começou a ser feita há pouco tempo, por meio dos estudos de Braga (1995), Carvalho e Miranda (2009) e Cardoso (2012), numa tentativa de fazer a catalogação de alguns exemplares e sua caracterização, bem como compreender o surgimento e gosto através de entrevistas com os proprietários. Atualmente, a preocupação em estudar o raio que o parta está voltada não apenas para delinear sua origem, mas também compreender o motivo pelo qual muitos desses exemplares estão desaparecendo da paisagem urbana; dessa forma, realizou-se, durante o estágio docente do Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará, um trabalho de pesquisa junto aos alunos de graduação em Arquitetura e Urbanismo, na Disciplina Estética das Artes Plásticas, visando a coleta de dados sobre o “Raio que o parta” em cinco bairros de Belém (Guamá, Pedreira, Telégrafo, Jurunas e Cremação), para serem apresentados como avaliação final no Workshop “O Raio que o parta na arquitetura modernista paraense”. Pretendeu-se relacionar a manifestação do raio que o parta em Belém com as referências da arquitetura contemporânea estudadas em sala de aula, bem como identificar autoconstruções e projetos feitos por profissionais e compreender as motivações que levaram à criação do estilo, o que inclui sua manutenção ou modificação por parte dos proprietários. 424 Metodologia Antes do início da pesquisa, foi apresentado aos alunos da Disciplina Estética das Artes Plásticas o objeto de estudo – o Raio que o parta (RQP). Nesse momento, identificou-se o desconhecimento por parte dos mesmos acerca do uso do termo para designar as casas com cacos de azulejos coloridos, embora afirmassem que já haviam observado tais exemplares quando viram algumas fotografias. A apresentação também visou orientá-los sobre as características do RQP para auxiliar na identificação das obras. Após a apresentação, a turma foi dividida em cinco equipes, sendo cada uma responsável por um bairro da cidade de Belém: Guamá, Pedreira, Telégrafo, Jurunas e Cremação. A escolha desses bairros justifica-se pelo número considerável de exemplares que ainda podem ser encontrados, e sua composição populacional é feita por indivíduos de classe média e baixa. A proposta era realizar um trabalho de campo, em que cada grupo ficaria responsável por, pelo menos, quatro casas em cada bairro, fazendo uso do método etnográfico: diário de campo, levantamento fotográfico e entrevistas (GEERTZ, 1978; OLIVEIRA, 2000). O roteiro de pesquisa foi o seguinte: 1) Primeira visita: reconhecimento da área, identificando no mapa os trajetos realizados; 2) Diário de campo; 3) Identificação dos exemplares e seu contexto (pré-seleção das casas); 4) Segunda visita: contato com o morador. Roteiro de entrevista a ser definido pelo grupo.
  • 3. ANAIS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp Foi solicitado aos discentes que priorizassem entrevistas250 com moradores que fossem proprietários das residências, em virtude da possibilidade de conseguirem mais informações sobre a construção da casa. As perguntas poderiam ser formuladas conforme a necessidade da pesquisa, embora os grupos devessem responder algumas questões pré-definidas: a) O morador construiu? b) Qual a época da construção? c) Houve acompanhamento profissional/projeto? d) Gosta do estilo? e) Foi modificada? Se sim, por quê? O estudo foi realizado nos meses de junho a agosto de 2013 e os resultados foram apresentados como avaliação final no Workshop “O Raio que o parta na arquitetura modernista paraense”. 425 Resultados e discussão Bairro: Guamá A equipe buscou realizar uma pesquisa bibliográfica que investiga as origens do modernismo no Pará, e como os engenheiros absorveram essa tendência em suas obras – tendo em vista que, no período em que o Movimento Moderno encontrou seu auge no Brasil, ainda não havia curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo no Pará, fundado apenas em 1964 e cuja primeira turma dividiu-se em alunos regulares e engenheiros civis que pretendiam complementar sua formação (CARVALHO; MIRANDA, 2009, apud OLIVEIRA et al., 2013). Durante a pesquisa de campo, os alunos fizeram o reconhecimento do bairro (itinerários feitos a pé e de ônibus) e identificaram as residências com traços do RQP, registrando por meio de fotografias. No momento do contato com os moradores foi solicitada a autorização destes para o levantamento fotográfico do interior das residências (o que foi concedido em apenas uma delas). Na primeira delas, observaram que o interior possuía piso em tacos de madeira e cerâmica do tipo “São Caetano” e azulejos nas paredes. A moradora afirma não gostar da casa por motivos familiares, mas que acharia linda se estivesse bem conservada e não faria alterações. FIGURA 1 – Casa “Raio que o Parta” no bairro do Guamá Fonte: OLIVEIRA et al., 2013 250 Para a entrevista, os alunos levaram consigo um Termo de Cessão de Direitos Autorais (em caso de utilização de fotografias dos proprietários), de Livre Consentimento (para autorização de entrevista) e um Ofício apresentando cada equipe e seus objetivos de pesquisa, assinado pela Prof. Dra. Cybelle Salvador Miranda, que ministrou a Disciplina.
  • 4. ANAIS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp Na segunda e terceira residências não encontraram os proprietários, sendo que a segunda está à venda. Na casa da Sra. Risodália, descobriram que se tratava de uma edificação projetada por um engenheiro e um arquiteto, tendo sido feita apenas uma modificação na fachada para abrir uma garagem. A moradora tem conhecimento do RQP e afirma que construiu dessa forma porque “estava na moda”. Nessa casa também encontraram, além da platibanda com raios e cores vibrantes nos azulejos e cobogós, outro elemento frequente no RQP: o azulejo de registro, ilustrando uma figura religiosa. Ao final do estudo, os docentes concluíram que Claramente o desgaste e a redução dos exemplares do estilo “raio-que-o-parta” não se devem somente as novas concepções de moderno vigentes, mas sim a falta de conscientização da sociedade da importância e também por não existir uma politica ou ação para tentar conscientizar da importância não somente histórica do estilo “raio-que-o-parta”, mas também da importância cultural local. (OLIVEIRA et al, 2013) 426 Bairro: Pedreira Os estudantes também apontaram que a causa das modificações da estética dos raios deve-se ao desconhecimento do valor histórico e arquitetônico, o que leva os moradores a desvalorização do RQP para “modernizar” a fachada. Foram encontradas 19 casas RQP, das quais 4 foram selecionadas para entrevista. Neste bairro, encontrou-se uma casa onde se vê a tentativa de apagamento das características do RQP, por meio de pintura encobrindo os azulejos; interrogada sobre o motivo dessa ação, a moradora respondeu que não gostava do padrão de mosaicos adotado na fachada. Atitude diferente foi sentida em outro proprietário no mesmo bairro, que além de afirmar que gosta da aparência, conhece sobre o RQP e já foi entrevistado por um canal de TV sobre o assunto. Na casa, houve alteração na planta (para eliminar uma área que servia como comércio) e na fachada (apagamento de um desenho em forma de canoa, feito pelo pai do morador). FIGURA 2 – Casa “Raio que o Parta” no bairro da Pedreira Fonte: ALVES; REIS, 2013
  • 5. ANAIS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp Os discentes também conseguiram encontrar obras que tiveram acompanhamento profissional, e nestas os moradores demonstram afeição à casa, embora também tenham empregado reformas para acréscimo de garagem, sem contudo intervir nos painéis de azulejos. 427 Bairro: Telégrafo A equipe identificou oito casas que apresentam traços do RQP, localizadas principalmente em áreas afastadas de bairros fronteiriços a este e que possuem padrão social mais elevado. Houve dificuldade em realizar as entrevistas em virtude de encontrarem casas desocupadas ou moradores que não se dispuseram a conversar com os alunos. Apenas dois moradores mostraram-se favoráveis pela permanência do raio por um gosto pessoal, mesmo sem nunca terem ouvido falar em “Raio que o parta”; os demais (que concederam entrevista) afirmaram interesse na eliminação dos raios, tendo alguns proprietários inclusive realizado tal ato, por meio de aplicação de reboco sobre os painéis. FIGURA 3 – Casa “Raio que o Parta” no bairro do Telégrafo Fonte: MODESTO et al., 2013
  • 6. ANAIS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp Bairro: Jurunas Nesta área, os alunos encontraram sete casas RQP, e durante as entrevistas puderam identificar que os proprietários não sabiam informar a respeito da execução da casa ou estas não tiveram acompanhamento profissional. A maioria dos entrevistados gosta dos raios, mostrando interesse em mantê-los, embora houvessem dois casos particulares – um de venda e outro de demolição do imóvel, para resolver um imbróglio familiar. 428 FIGURA 4 – Casa “Raio que o Parta” no bairro do Jurunas Fonte: CLEMENTE et al., 2013 Bairro: Cremação Um aspecto interessante a ser destacado pela pesquisa do grupo se refere ao momento em que investigam as origens do Raio que o parta, quando traçam uma relação entre ele e o movimento Desconstrutivista: A relação da arquitetura regional Raio Que O Parta com desconstrutivismo se dá principalmente pelos mosaicos, formatos e demais detalhes encontrados nas platibandas das casas. Mesmo que a maioria dos mosaicos encontrados nas fachadas das casas tenha uma
  • 7. ANAIS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp ortogonalidade, geralmente são figuras espontâneas e que não seguem um padrão lógico geométrico. Da mesma forma, algumas platibandas apresentam “desconstrução” nos seus formatos geométricos. (RODRIGUES et al., 2013, p. 7). Quanto às casas, os alunos encontraram moradores que constituem a terceira geração dos que habitam os locais, e muitas vezes demonstram apreço pela aparência da casa em virtude da relação com a memória familiar, embora também tivessem entrevistado proprietários que classificam o raio que o parta como “ultrapassado”. 429 FIGURA 5 – Casa “Raio que o Parta” no bairro da Cremação Fonte: RODRIGUES et al., 2013 Por meio da pesquisa dos alunos, notamos algumas posturas que se reproduzem entre os moradores dos bairros acima descritos: 1) Nas casas cuja fachada se manteve por gosto, o morador optou pela permanência em respeito à memória de seus familiares que foram responsáveis pela sua construção, por reconhecer o valor da estética dos raios ou por ter sido a casa fruto de um projeto acompanhado por profissional (engenheiro ou arquiteto) 2) Nas obras que não foram alteradas por gosto, o morador não empregou as mudanças pretendidas por falta de recursos financeiros. Nesses casos, geralmente a família é de classe baixa, o morador desconhece o termo “Raio que o parta” para designar essas edificações e a casa foi construída sem projeto arquitetônico. 3) A desvalorização do RQP é justificada pelos proprietários pelo anseio de “modernizar” a residência – algo curioso, visto que o Raio foi empregado com a mesma finalidade nas décadas de 40 a 60 do século XX. Analisando esses comportamentos, os discentes fizeram reflexões pertinentes a respeito do valor relativo atribuído às edificações: O ideal de modernidade que as construções do estilo “raio-que-o-parta” tinham foi durante os anos sendo perdidos e modificados por novos sensos de moderno, onde fica notável pelo fato de hoje existem poucos exemplares do estilo “raio-que-o-parta” [...] (OLIVEIRA et al., 2013) [O] que se percebe é que os ideais de beleza, de moderno se alteram com o passar do tempo, e varia de individuo para individuo, o que em outra época era o ideal de modernidade,
  • 8. ANAIS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp hoje se torna retrogrado e ultrapassado. Partindo desse pressuposto como valorizar o patrimônio se os ideais de belo são dinâmicos e voláteis [?] (ALVES; REIS, 2013) Essas conclusões reforçam as idéias propostas por Riegl (2006), quando fala do valor absoluto e valor relativo: para ele o termo “valor” é tratado como um evento histórico, não permanente: De um ponto de vista moderno, que nega a existência do cânone artístico objetivamente válido, um monumento não pode evidentemente apresentar um valor artístico para as gerações ulteriores[...]. A experiência, entretanto, mostra que locamos constantemente obras datadas de muitos séculos acima de certas obras modernas [...] (RIEGL, 2006, p. 108) Também encontramos paralelo com este autor quando ele se refere ao “Valor de Novidade”: para a vontade artística, quanto mais degradada a obra estiver, menos valor lhe é atribuído, da mesma forma como alguns moradores se sentem ao afirmar que, se a casa RQP estivesse em melhores condições, sentiriam mais apreço: A multidão sempre foi seduzida pelas obras cujo aspecto novo estava claramente afirmado; [...] Ao olhar da multidão, só o que é novo e intacto é belo. O velho, o desbotado, os fragmentos de objetos são feios. (Idem, p. 98) O valor do Raio que o parta se mostra mais efêmero quando comparado à arquitetura eclética ou neoclássica, vistas como patrimônio cultural, ideia construída e consolidada por muitos anos através de órgãos de defesa do mesmo. Será que os moradores teriam a mesma opinião se residissem num exemplar da arquitetura erudita? 430 Considerações finais A realização da pesquisa sobre a estética do raio que o parta em Belém revelou-se fundamental para despertar nos alunos o interesse pela arquitetura popular, em especial o Raio que o parta, percebendo-o como elemento formador de identidade cultural do Pará e de uma manifestação criativa que criou um modernismo popular de baixo custo, cuja disseminação pelos quatro cantos do Estado também alerta para a necessidade de sua preservação e conscientização junto aos moradores a respeito de sua importância para a memória arquitetônica paraense, buscando reduzir os apagamentos. Da mesma forma, pretendemos com esse estudo criar o estímulo de aprofundar a pesquisa sobre o RQP nos demais bairros de Belém e no interior, reconhecendo-o como um exemplo da arquitetura brasileira, junto com as obras já consagradas da arquitetura erudita ou de autor. Agradecimentos À CAPES pela concessão da Bolsa Auxílio para mestrando do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da UFPA.
  • 9. ANAIS - 7º SIMP - Semniário Internacional em Memória e Patrimônio - http://simp.ufpel.edu.br Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural- PPGMP – UFPel - http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp REFERÊNCIAS ALVES, Sâmia; REIS, Carlos A. ‘Arquitetura do Raio que o parta’, do esquecimento a valoração do estilo, Bairro da Pedreira, Belém do Pará. Trabalho final de avaliação da Disciplina Estética das Artes Plásticas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará. Belém, 2013. BISPO, Raphael. Selecionar, disputar e conservar: práticas de comunicação social e constituição da memória nacional pelo Iphan. In: Revista CPC. São Paulo, n. 11, p. 33-59, nov.2010/abr.2011. CARDOSO, Andréia L. A valoração como patrimônio cultural do “Raio que o parta”: expressão do modernismo popular, em Belém/PA. Dissertação (Mestrado). Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, 2012. CARVALHO, Ronaldo Marques de; MIRANDA, Cybelle Salvador. Dos mosaicos às curvas: a estética modernista na Arquitetura residencial de Belém. In: Arquitextos, São Paulo, 10.112, Vitruvius, set 2009. Disponível em <http://vitruvius.es/revistas/read/arquitextos/10.112/25>. Acesso em 15 out. 2012. CLEMENTE, Herickson et al. “Raio-que-o-parta” – Bairro do Jurunas. Trabalho final de avaliação da Disciplina Estética das Artes Plásticas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará. Belém, 2013. GEERTZ, Clifford. A interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. GUIMARAES, Dinah; CAVALCANTI, Lauro. Arquitetura kitsch, suburbana e rural. Rio de 431 Janeiro: Paz e Terra, 1982. LARA, Fernando L. C. Modernismo Popular: Elogio ou imitação? In: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 12, n. 13, p. 171-184, dez. 2005. MODESTO, Abílio et al. O Raio que o parta na arquitetura modernista paraense e a estética contemporânea – pesquisa no bairro do Telégrafo – Belém/Pa. Trabalho final de avaliação da Disciplina Estética das Artes Plásticas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará. Belém, 2013. MIGUEL, Francisco P. Arquitetura popular brasileira: um enfoque etnográfico. In: Revista Habitus. Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, 2011. OLIVEIRA, Roberto C. O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir, escrever. In: O trabalho do antropólogo. São Paulo: Unesp, 2000. OLIVEIRA, Edirfran et al. Estilo Raio que o parta – estudo de caso no bairro do Guamá. Trabalho final de avaliação da Disciplina Estética das Artes Plásticas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará. Belém, 2013. RIEGL, Aloïs. O Culto dos monumentos: sua essência e sua gênese. Goiânia: Editora da Universidade Católica de Goiás, 2006. RODRIGUES, Divan et al. Um paralelo da arquitetura desconstrutivista com o regionalismo do estilo Raio que o parta em Belém do Pará. Trabalho final de avaliação da Disciplina Estética das Artes Plásticas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará. Belém, 2013. SANTOS, Ivana B. T. Raio-que-o-parta – Um fragmento entre cultura e sociedade. Monografia (Especialização). Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Universidade Federal do Pará. Belém, 1995.