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REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS
A
REFORMAS E REALIDADE
o caso do ensino das ciências
palavra reforma, sempre presente no vocabulá-
rio educacional, é definida em âmbito interna-
cional como “uma iniciativa do Estado que es-
MYRIAM KRASILCHIK
Professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
tabelece objetivos e critérios claros e ambiciosos, recorre
a todas as instâncias políticas para apoiá-la, estimulando
iniciativas no nível das escolas e mobilizando recursos
humanos e financeiros para sustentar as mudanças pro-
postas” (Timpane e White, 1998).
Nossas escolas, como sempre, refletem as maiores
mudanças na sociedade – política, econômica, social e
culturalmente. A cada novo governo ocorre um surto re-
formista que atinge principalmente os ensinos básico e mé-
dio. O atual movimento de reforma da escola é um pro-
cesso de mudança nacional com uma forte tendência à
volta ao papel centralizador do Estado para emissão de
normas e regulamentos.
Tomando como marco inicial a década de 50, é pos-
sível reconhecer nestes últimos 50 anos movimentos que
refletem diferentes objetivos da educação modificados
evolutivamente em função de transformações no âm-
bito da política e economia, tanto nacional como inter-
nacional.
Na medida em que a Ciência e a Tecnologia foram reco-
nhecidas como essenciais no desenvolvimento econômi-
co, cultural e social, o ensino das Ciências em todos os
níveis foi também crescendo de importância, sendo obje-
to de inúmeros movimentos de transformação do ensino,
podendo servir de ilustração para tentativas e efeitos das
reformas educacionais.
Um episódio muito significativo ocorreu durante a
“guerra fria”, nos anos 60, quando os Estados Unidos,
para vencer a batalha espacial, fizeram investimentos de
recursos humanos e financeiros sem paralelo na história
da educação, para produzir os hoje chamados projetos de
1ª geração do ensino de Física, Química, Biologia e Ma-
temática para o ensino médio. A justificativa desse em-
preendimento baseava-se na idéia de que a formação de
uma elite que garantisse a hegemonia norte-americana na
conquista do espaço dependia, em boa parte, de uma es-
cola secundária em que os cursos das Ciências identifi-
cassem e incentivassem jovens talentos a seguir carreiras
científicas.
Esse movimento, que teve a participação intensa das so-
ciedades científicas, das Universidades e de acadêmicos
renomados, apoiados pelo governo, elaboraram o que tam-
bém é denominado na literatura especializada de “sopa al-
fabética”, uma vez que os projetos de Física (Physical Science
Study Commitee – PSSC), de Biologia (Biological Science
Curriculum Study – BSCS), de Química (Chemical Bond
Approach – CBA) e (Science Mathematics Study Group –
SMSG) são conhecidos universalmente pelas suas siglas.
Esse período marcante e crucial na história do ensino
de Ciências, que influi até hoje nas tendências curricula-
res das várias disciplinas tanto no ensino médio como no
Resumo: Este trabalho inclui uma revisão histórica das propostas de reforma do ensino de Ciências ao longo
dos últimos anos. O caso descrito ilustra alguns dos caminhos percorridos por vários projetos desde a sua
elaboração nos órgãos normativos como parte de políticas públicas até o dia-a-dia das salas de aula. A análise
do processo compreendendo aspectos legais, modalidades e recursos didáticos, temáticas dos programas, e
processos de avaliação contribui para o estudo de propostas de inovação.
Palavras-chave: reforma educacional; didática e ensino das ciências; avaliação e pesquisa.
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(1) 2000
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fundamental, foi dando lugar, ao longo dessas últimas
décadas, a outras modificações em função de fatores po-
líticos, econômicos e sociais que resultaram, por sua vez,
em transformações das políticas educacionais, cumulati-
vas em função das quais ocorreram mudanças no ensino
de Ciências (Quadro 1).
Como já foi mencionado, o movimento dos grandes
projetos visava a formação e a identificação de uma elite
refletindo não só a política governamental, mas também
uma concepção de escola e teve propagação ampla nas
regiões sob influência cultural norte-americana, que re-
percutiu de forma diferente em diversos países ecoando
as situações locais. Por exemplo, na Inglaterra, concor-
dou-se com os objetivos gerais do projeto de reforma do
ensino de Ciências, mas foi decidido que se devia produ-
zir seus próprios projetos consonantes com a organiza-
ção escolar de forma a preservar a influência acadêmica
e científica de instituições inglesas. Foram elaborados
também projetos de Física, Química e Biologia que fica-
ram conhecidos pelo nome da sua instituição patrocina-
dora, a Fundação Nuffield. Dada a importância da Ingla-
terra como núcleo cultural dos países da comunidade
britânica, esses projetos tiveram também grande influên-
cia.
No Brasil, a necessidade de preparação dos alunos mais
aptos era defendida em nome da demanda de investiga-
dores para impulsionar o progresso da ciência e tecnologia
nacionais das quais dependia o país em processo de in-
dustrialização. A sociedade brasileira, que se ressentia da
falta de matéria-prima e produtos industrializados duran-
te a 2ª Guerra Mundial e no período pós-guerra, buscava
superar a dependência e se tornar auto-suficiente, para o
que uma ciência autóctone era fundamental.
Paralelamente, à medida que o país foi passando por
transformações políticas em um breve período de eleições
livres, houve uma mudança na concepção do papel da
escola que passava a ser responsável pela formação de
todos os cidadãos e não mais apenas de um grupo privile-
giado. A Lei 4.024 – Diretrizes e Bases da Educação, de
21 de dezembro de 1961, ampliou bastante a participa-
ção das ciências no currículo escolar, que passaram a fi-
gurar desde o 1º ano do curso ginasial. No curso colegial,
houve também substancial aumento da carga horária de
Física, Química e Biologia.
Essas disciplinas passavam a ter a função de desen-
volver o espírito crítico com o exercício do método cien-
tífico. O cidadão seria preparado para pensar lógica e cri-
ticamente e assim capaz de tomar decisões com base em
informações e dados.
Quando de novo houve transformações políticas no país
pela imposição da ditadura militar em 1964, também o
papel da escola modificou-se, deixando de enfatizar a ci-
dadania para buscar a formação do trabalhador, conside-
rado agora peça importante para o desenvolvimento eco-
nômico do país. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
nº 5.692, promulgada em 1971, norteia claramente as
modificações educacionais e, conseqüentemente, as pro-
postas de reforma no ensino de Ciências ocorridas neste
QUADRO 1
Evolução da Situação Mundial, segundo Tendências no Ensino
1950-2000
Tendências no
Situação Mundial
Ensino
1950 1970 1990 2000
Guerra Fria Guerra Tecnológica Globalização
Objetivo do Ensino • Formar Elite • Formar Cidadão-trabalhador • Formar Cidadão-trabalhador-estudante
• Programas Rígidos • Propostas Curriculares Estaduais • Parâmetros Curriculares Federais
Concepção de Ciência • Atividade Neutra • Evolução Histórica • Atividade com Implicações Sociais
• Pensamento Lógico-crítico
Instituições Promotoras de Reforma • Projetos Curriculares • Centros de Ciências, Universidades • Universidades e Associações Profissionais
• Associações Profissionais
Modalidades Didáticas Recomendadas • Aulas Práticas • Projetos e Discussões • Jogos: Exercícios no Computador
Fonte: Elaboração da autora.
87
REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS
período. Mais uma vez as disciplinas científicas foram
afetadas, agora de forma adversa, pois passaram a ter ca-
ráter profissionalizante, descaracterizando sua função no
currículo. A nova legislação conturbou o sistema, mas as
escolas privadas continuaram a preparar seus alunos para
o curso superior e o sistema público também se reajustou
de modo a abandonar as pretensões irrealistas de forma-
ção profissional no 1º e 2º graus por meio de disciplinas
pretensamente preparatórias para o trabalho.
Em 1996, foi aprovada uma nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, nº 9.394/96, a qual estabelece, no
parágrafo 2o
do seu artigo 1o
, que a educação escolar de-
verá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
O artigo 26 estabelece que “os currículos do ensino fun-
damental e médio devem ter uma base nacional comum,
a ser complementada pelos demais conteúdos curricula-
res especificados nesta Lei e em cada sistema de ensino”.
A formação básica do cidadão na escola fundamental exige
o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, a com-
preensão do ambiente material e social, do sistema políti-
co, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fun-
damenta a sociedade. O ensino médio tem a função de
consolidação dos conhecimentos e a preparação para o
trabalho e a cidadania para continuar aprendendo.
Esse aprendizado inclui a formação ética, a autonomia
intelectual e a compreensão dos fundamentos científico-
tecnológicos dos processos produtivos. Embora a lei in-
dique precariamente os valores e objetivos da educação
nacional, espera-se que a escola forme o cidadão-traba-
lhador-estudante quando, por exemplo, determina em seu
artigo 80: “O Poder Público incentivará o desenvolvimento
e a veiculação de programas de ensino a distância, em
todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação
continuada.”
Tenta-se colocar em prática essas prescrições legais por
meio de políticas centralizadas no MEC e que são deta-
lhadas e especificadas em documentos oficias, abundan-
temente distribuídos com os nomes de “parâmetros” e
“diretrizes curriculares”. Fazem parte ainda desses “indi-
cativos políticos” diversos instrumentos de avaliação em
que se explicitam as reais intenções da reforma proposta
pelo governo.
No exame dessa proposta e de suas conseqüências na
realidade da educação brasileira, é imprescindível anali-
sar em uma perspectiva histórica a evolução das concep-
ções curriculares preponderantes nesses últimos 50 anos,
por meio dos quais foram expressos os desígnios dos go-
vernos e seus resultados nos vários níveis dos sistemas
educacionais, desde o emissor das políticas até a realida-
de das salas de aula, que têm mudado muito mais em fun-
ção da deterioração das condições de trabalho do que por
injunções legais. Infelizmente, mantém-se um ensino pre-
cário com professores que enfrentam nas escolas proble-
mas de sobrecarga, de falta de recursos e de determina-
ções que deveriam seguir sobre as quais não foram
ouvidos.
As modificações promovidas por diferentes elemen-
tos ao longo dos diversos patamares de decisões que atu-
am nos componentes curriculares – temáticas e conteú-
do, modalidades didáticas e recursos e processos de
avaliação – confluem para um cenário que raramente é o
planejado pelos emissores do currículo teórico.
Na análise desse processo, tem papel fundamental a
pesquisa feita no âmbito do ensino das ciências no Brasil
e que já constitui um significativo acervo de informações
e conhecimentos sobre o que acontece desde a elabora-
ção de documentos normativos até a intimidade do ensi-
no das várias disciplinas científicas.
MODALIDADES DIDÁTICAS E RECURSOS
As modalidades didáticas usadas no ensino das disci-
plinas científicas dependem, fundamentalmente, da con-
cepção de aprendizagem de Ciência adotada. A tendên-
cia de currículos tradicionalistas ou racionalistas-
acadêmicos, apesar de todas as mudanças, ainda prevale-
cem não só no Brasil, mas também nos sistemas educa-
cionais de países em vários níveis de desenvolvimento.
Assumindo que o objetivo dos cursos é basicamente trans-
mitir informação, ao professor cabe apresentar a matéria
de forma atualizada e organizada, facilitando a aquisição
de conhecimentos. Nos anos 60, o processo ensino-apren-
dizagem era influenciado pelas idéias de educadores
comportamentalistas que recomendavam a apresentação
de objetivos do ensino na forma de comportamentos
observáveis, indicando formas de atingi-los e indicado-
res mínimos de desempenho aceitável. Foram elaboradas
classificações, das quais a mais conhecida, coordenada
por Benjamim Bloom, era a que dividia os objetivos edu-
cacionais em cognitivo-intelectuais, afetivo-emocionais
e psicomotores-habilidades, organizados em escalas hie-
rarquicamente mais complexas de comportamento.
Essa linha de trabalho teve papel significativo na edu-
cação brasileira e ainda hoje muitos dos processos de pla-
nejamento que ocorrem nas escolas constam apenas da
redação de objetivos e metas, que em geral são esqueci-
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(1) 2000
88
dos durante o ano por força da pressão das realidades do
dia-a-dia na classe.
No final dos anos 60, as idéias de Jean Piaget sobre
desenvolvimento intelectual começaram a ser conhecidas
e discutidas. Passa assim a ter papel central no processo
ensino-aprendizagem da ciência uma perspectiva cogni-
tivista, enfatizando o chamado construtivismo, usado nos
atuais documentos oficiais brasileiros de forma impositiva,
como um “slogan” que não chega a analisar o significado
da discussão sobre mudança conceitual como um proces-
so individual de responsabilidade do aluno ou um pro-
cesso social. “A primeira perspectiva vê concepções como
representações mentais (isto é, construções tangíveis na
cabeça dos alunos) enquanto a segunda perspectiva re-
presenta as concepções como sendo caracterizações de
categorias de descrições que refletem relações pessoa-
mundo” (Duit e Treagust, 1998).
Essas idéias conflitantes em vários aspectos não são
apresentadas aos professores como controvérsias que de-
vem ser discutidas e analisadas para orientar a escolha de
modalidades didáticas baseadas em uma fundamentação
sólida.
Embora o conceito de processo ensino-aprendizagem
tenha importância na escola em geral, no ensino das dis-
ciplinas científicas tem conseqüências específicas em
vários elementos curriculares. A solução de problemas é
um dos seus componentes essenciais, porque várias fases
das reformas propostas com nomes variados de “ciência
posta em prática”, “método da redescoberta”, “método de
projetos” trata-se de fazer questionamentos, encontrar
alternativas de resposta, planejar e organizar experimen-
tos que permitam optar por uma delas e daí produzir ou-
tros questionamentos. No período 1950-70, prevaleceu a
idéia da existência de uma seqüência fixa e básica de com-
portamentos, que caracterizaria o método científico na
identificação de problemas, elaboração de hipóteses e ve-
rificação experimental dessas hipóteses, o que permitiria
chegar a uma conclusão e levantar novas questões.
Com essas premissas, as aulas práticas no ensino de
Ciências servem a diferentes funções para diversas con-
cepções do papel da escola e da forma de aprendizagem.
No caso de um currículo que focaliza primordialmente a
transmissão de informações, o trabalho em laboratório é
motivador da aprendizagem, levando ao desenvolvimen-
to de habilidades técnicas e principalmente auxiliando a
fixação, o conhecimento sobre os fenômenos e fatos.
À medida que a influência cognitivista foi se amplian-
do em base dos estudos piagetianos considerando fases
de operações lógicas pelas quais o aluno passa em uma
ordem que vai do sensomotor (18 meses), pré-operacio-
nal (até 7 anos), concreta operacional (dos 7 aos 11 anos)
até o formal operacional (dos 11 até os 15 anos), passou-
se a encarar o laboratório como elemento de aferição do es-
tágio de desenvolvimento do aluno e de ativação do pro-
gresso ao longo desses estágios e do ciclo de aprendizado.
Na perspectiva construtivista, as pré-concepções dos
alunos sobre os fenômenos e sua atuação nas aulas práti-
cas são férteis fontes de investigação para os pesquisado-
res como elucidação do que pensam e como é possível
fazê-los progredir no raciocínio e análise dos fenômenos.
As prescrições oficiais da expectativa de reforma em curso
tratam do assunto superficialmente, havendo uma grande
distância entre uma “proposta construtivista” e recomen-
dações que permitam ao professor exercer plenamente o
seu papel de catalisador da aprendizagem. Faltam discus-
sões que permitam ao próprio docente nas atuais condi-
ções de trabalho criar um clima de liberdade intelectual,
que não limite a sua atividade a exposições, leitura ou
cópia de textos.
Por exemplo, a reação de alunos e professores ao uso
de perguntas em classe é uma área de pesquisa de ponta
para os que pretendem mudar a escola e o ensino de Ciên-
cias em que a função da interação social e da exposição a
diferentes idéias é elemento essencial. Como obstáculo a
essa transformação, é possível identificar as representa-
ções sociais que prevalecem entre professor e alunos. O
docente é autoridade que não corre o risco de ser questi-
onada, ou que se permita ouvir diferentes opiniões. Se,
por um lado, esse papel autoritário é prejudicial, o outro
extremo cada vez mais freqüente por força do refrão de
que o “aluno constrói seu próprio conhecimento” leva o
professor a abdicar da sua função de orientador do apren-
dizado. Nesses casos, o laboratório e as aulas práticas
podem até ser divertidas mas não levam à formulação ou
reformulação de conceitos.
Os novos recursos tecnológicos e, principalmente, o
uso do computador criam dilemas equivalentes, podendo
até ser uma fonte muito eficiente de fornecimento de in-
formações. No entanto, o seu potencial como desequi-
librador da vigente relação professor-aluno é ainda
subutilizado como instrumento que possa levar o aluno a
deixar o seu papel passivo de receptor de informações,
para ser o que busca, integra, cria novas informações. O
professor passa a ser o que auxilia o aprendiz a procurar
e coordenar o que aprende dentro de um esquema concei-
tual mais amplo. Qualquer reforma deveria suscitar essas
89
REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS
questões que são básicas para uma mudança real na qua-
lidade de ensino.
TEMÁTICAS
Os conteúdos e grandes temas incluídos no currículo
das disciplinas científicas refletem as idéias correntes
sobre a Ciência. Na fase dos projetos de 1ª geração, a
Ciência era considerada uma atividade neutra, isentando
os pesquisadores de julgamento de valores sobre o que
estavam fazendo. É necessário lembrar que os cientistas
tiveram uma atuação significativa na produção da bomba
atômica e, de alguma forma, procuravam não assumir sua
responsabilidade no conflito bélico. Pretendia-se desen-
volver a racionalidade, a capacidade de fazer observações
controladas, preparar e analisar estatísticas, respeitar a exi-
gência de replicabilidade dos experimentos.
À medida que se avolumaram os problemas sociais no
mundo, outros valores e outras temáticas foram incorpo-
radas aos currículos, sendo que mudanças substantivas
tiveram repercussões nos programas vigentes. Entre 1960
e 1980, as crises ambientais, o aumento da poluição, a
crise energética e a efervescência social manifestada em
movimentos como a revolta estudantil e as lutas anti-se-
gregação racial determinaram profundas transformações
nas propostas das disciplinas científicas em todos os ní-
veis do ensino.
As implicações sociais da Ciência incorporam-se às
propostas curriculares nos cursos ginasiais da época e, em
seguida, nos cursos primários. Simultaneamente às trans-
formações políticas ocorreu a expansão do ensino públi-
co que não mais pretendia formar cientistas, mas também
fornecer ao cidadão elementos para viver melhor e parti-
cipar do breve processo de redemocratização ocorrido no
período. A admissão das conexões entre a ciência e a so-
ciedade implica que o ensino não se limite aos aspectos
internos à investigação científica, mas à correlação des-
tes com aspectos políticos, econômicos e culturais. Os
alunos passam a estudar conteúdos científicos relevantes
para sua vida, no sentido de identificar os problemas e
buscar soluções para os mesmos. Surgem projetos que
incluem temáticas como poluição, lixo, fontes de ener-
gia, economia de recursos naturais, crescimento popula-
cional, demandando tratamento interdisciplinar. Essas
demandas dependiam tanto dos temas abordados como da
organização escolar. É do período de 1950-70 o movi-
mento de Ciência Integrada, que teve apoio de organis-
mos internacionais, principalmente a Unesco, e provocou
reações adversas dos que defendiam a identidade das dis-
ciplinas tradicionais, mantendo segmentação de conteú-
dos mesmo nos anos iniciais da escolaridade.
Concomitantemente aos processos que ocorriam nas
escolas – o fim da “guerra fria” e o agravamento dos pro-
blemas sociais e econômicos – foi incorporada a compe-
tição tecnológica, levando a exigir que os estudantes ti-
vessem preparo para compreender a natureza, o significado
e a importância da tecnologia para sua vida como indiví-
duos e como membros responsáveis da sociedade. Para
tanto, os cursos deveriam incluir temas relevantes que
tornassem os alunos conscientes de suas responsabilida-
des como cidadãos, pudessem participar de forma inteli-
gente e informada de decisões que iriam afetar não só sua
comunidade mais próxima, mas que também teriam efei-
tos de amplo alcance.
A preocupação com a qualidade da “escola para todos”
incluiu um novo componente no vocabulário e nas preo-
cupações dos educadores, “a alfabetização científica”. A
relação ciência e sociedade provocou a intensificação de
estudos da história e filosofia da ciência, componentes
sempre presentes nos programas com maior ou menor
intensidade servindo em fases diferentes a objetivos di-
versos. O crescimento da influência construtivista como
geradora de diretrizes para o ensino levou à maior inclu-
são de tópicos de história e filosofia da Ciência nos pro-
gramas, principalmente para comparar linhas de raciocí-
nio historicamente desenvolvidas pelos cientistas e as
concepções dos alunos.
Fortalece essa linha o já mencionado movimento de-
nominado “Ciência para todos”, que relaciona o ensino
das Ciências à vida diária e experiência dos estudantes,
trazendo, por sua vez, novas exigências para compreen-
são da interação estreita e complexa com problemas éticos,
religiosos, ideológicos, culturais, étnicos e as relações com
o mundo interligado por sistemas de comunicação e
tecnologias cada vez mais eficientes com benefícios e ris-
cos no globalizado mundo atual. A exclusão social, a luta
pelos direitos humanos e a conquista da melhora da qua-
lidade de vida não podem ficar à margem dos currículos
e, no momento, assumem uma importância cada vez mais
evidente. Pela demanda de justiça social nos atuais parâ-
metros curriculares, muitas das temáticas vinculadas no
ensino de Ciências são hoje consideradas “temas trans-
versais”: educação ambiental, saúde, educação sexual. No
entanto, a tradição escolar ainda determina que a respon-
sabilidade do seu ensino recaia basicamente nas discipli-
nas científicas, principalmente a Biologia.
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(1) 2000
90
A reforma brasileira reforça um movimento equiva-
lente ao da “Ciência para todos”, sem, no entanto, incluir
cuidados para que excessos nessa postura tornem o currí-
culo pouco rigoroso, em nome da necessidade que se tor-
nou um estribilho nas publicações e avaliações oficiais
de desenvolver “competências e habilidades”.
O risco grave é de que se percam de vista os objetivos
maiores do ensino de Ciências, que deve incluir a aquisi-
ção do conhecimento científico por uma população que
compreenda e valorize a Ciência como empreendimento
social. Os alunos não serão adequadamente formados se
não correlacionarem as disciplinas escolares com a ativi-
dade científica e tecnológica e os problemas sociais con-
temporâneos. Paralelamente aos movimentos nas instân-
cias normativas dos sistemas escolares, os livros didáticos
continuaram a servir de apoio e orientação aos professo-
res para a apresentação dos conteúdos. Uma reforma que
tenha pleno êxito depende da existência de bons materiais,
incluindo livros, manuais de laboratórios e guias de profes-
sores, docentes que sejam capazes de usá-los, bem como
condições na escola para o seu pleno desenvolvimento.
Avaliação
A avaliação sempre teve um papel central na escola
brasileira. Uma das influências preeminentes, com uma
função normativa mais poderosa do que os programas
oficiais, livros didáticos, propostas curriculares ou os
atuais parâmetros, sempre foi o exame vestibular. Assim,
essas provas, mais do que cumprir a função classificatória
para decidir quais os alunos que podem entrar nas esco-
las superiores, têm grande influência nos ensinos funda-
mental e médio. No entanto, os exames podem fornecer
dados sobre a população escolar cumprindo a maior fun-
ção da avaliação, ou seja, a de informar à sociedade, às
escolas, aos alunos, aos professores e aos pais sobre o
aprendizado dos estudantes, da eficiência da escola em
função das políticas públicas e das relações contextuais
entre os estabelecimentos de ensino e a comunidade nas
quais se situam.
Com a democratização do país e a disputa por verbas
para manutenção dos sistemas escolares, aumenta a pres-
são por dados que possam servir de indicadores que orien-
tem decisões dos sistemas em todos o níveis de ensino.
A competição internacional na guerra tecnológica pro-
duziu programas internacionais de avaliação que levaram
à comparação do resultado obtido pelos alunos em algu-
mas disciplinas, incluindo as Ciências. Assim como o
Sputnik provocou movimento de reforma dos anos 60, o
desempenho dos alunos norte-americanos nos testes in-
ternacionais produziu em 1985 um documento de grande
impacto “A Nation at Risk” que serviu de epicentro para
uma onda de críticas ao sistema educacional norte-ame-
ricano e tentativas de reformas que acabaram tendo re-
percussões no mundo inteiro (Gross e Gross, 1985).
No Brasil, é parte das políticas governamentais no plano
federal ou estaduais um conjunto de exames que se desti-
nam a descrever a situação nas várias unidades da federa-
ção, no sentido de subsidiar decisões de políticas públi-
cas. Instituições internacionais como o Banco Mundial,
Banco Interamericano e a Unesco valem-se desses indi-
cadores para fomentar e financiar projetos que imple-
mentem tendências que apóiam.
O resultado e a validade desses exames para avaliar o
aprendizado em Ciências são bastante contestados em
função dos instrumentos que os constituem. Discute-se
se as tradicionais questões de múltipla escolha são ade-
quadas para aferir o que se pretende produzir dos alunos
nas aulas de Ciências. A capacidade de resolver proble-
mas e de demonstrar a compreensão conceitual e forma-
ção exige que se busquem também outras formas de veri-
ficar o aprendizado. Assim, provas dissertativas e redações
teriam como função maior fazer com que os alunos es-
crevam, demonstrando capacidade de organização lógica
e de expressão temática.
O reconhecimento das limitações dos instrumentos de
avaliação mais freqüentemente usados não impede, no
entanto, que os dados numéricos sejam divulgados como
resultados confiáveis, exercendo considerável influência
na opinião que a sociedade tem da escola. Os meios de
comunicação de massa divulgam esses números com in-
terpretações que, muitas vezes, exigem análises mais de-
tidas, mas são aceitos sem discussão pela população em
geral, tornando premente a necessidade de uma coleta sis-
temática de informações coerentes das variáveis que agem
no aprendizado de Ciências e que refletiram os objetivos
do currículo. Busca-se, assim, distinguir as diferenças
entre o currículo proposto, ideal, teórico e o seu resulta-
do, ou seja, o currículo real ou obtido.
Por exemplo, na avaliação dos concluintes do ensino
médio feita em 1997 em nove estados brasileiros, verifi-
ca-se que em Biologia os alunos do período da manhã
acertaram menos de 47% das questões, os da tarde, 35,5%,
e os da noite, 29%. Em Física, foram 33% de acertos para
os alunos da manhã, 28% para os da tarde e 27,5% para
os da noite. Química evidenciou problemas com relação
91
REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS
a todos os conteúdos e habilidades. Os alunos da manhã
tiveram 33% de acertos, os da tarde, 27,5%, e os da noite,
25%. Apesar das pequenas variações e diferenças nos tur-
nos examinados, o desempenho dos alunos deixa muito a
desejar.
O Sistema Nacional de Educação Básica – Saeb (1997)
e o Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacio-
nais – Inep (1999) indicam que, nas séries iniciais, em
Ciências, os alunos até a 4ª série saem-se bem. Nos ou-
tros níveis, o desempenho esperado de alunos de 6ª série
chega a ser atingido por 48% dos alunos, na 8ª série por
10% e, no fim do ensino médio, apenas 3% alcançam o
nível desejado. Como se pode verificar por esses dados,
há uma grande distância entre as propostas de reforma e
o resultado efetivo no aprendizado dos alunos.
Pesquisa
As discussões sobre o ensino de Ciências e tentativa
de transformá-lo foram promovidas e mantidas por inú-
meras e diversas instituições a partir dos “projetos curri-
culares” organizados nos anos 60. Na época, o Brasil já
tinha uma história de promoção do ensino de Ciências –
o IBECC (Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cul-
tura) em São Paulo, em que eram produzidos manuais de
laboratórios e textos, além de equipamentos para a expe-
rimentação.
Muitos trabalhos esparsos de iniciativas de docentes
isolados ou em grupos passaram a se concentrar no IBECC
e depois em instituições dele derivadas – Funbec e Cecisp –,
que, com o apoio do Ministério da Educação, das Funda-
ções Ford e Rockfeller e da União Panamericana, promo-
veram intensos programas para a renovação do ensino de
Ciências. Especialmente significativa foi a iniciativa do
MEC, que criou em 1963 seis centros de ciências nas
maiores capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro,
Salvador, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte. A es-
trutura institucional desses centros era variada. Alguns,
como o de Porto Alegre e Rio de Janeiro, tinham víncu-
los com Secretarias de Governo da Educação e de Ciên-
cia e Tecnologia, enquanto os de São Paulo, Pernambuco,
Bahia e Minas Gerais eram ligados às Universidades. Essas
instituições tiveram vidas e vocações diferentes, sendo que
algumas persistem até hoje, como a de Belo Horizonte,
estreitamente associada à Faculdade de Educação da
UFMG, e o centro do Rio, que hoje é mantido pela Secre-
taria da Ciência e Tecnologia. Os outros ou desaparece-
ram ou foram incorporados pelas universidades onde pas-
saram a se estruturar grupos de professores para preparar
materiais e realizar pesquisas sobre o ensino de ciências.
Com a expansão dos programas de pós-graduação e deli-
neamento de uma área específica de pesquisa – Ensino
de Ciências –, as organizações acadêmicas assumiram a
responsabilidade de investigar e procurar fatores e situa-
ções que melhorassem os processos de ensino-aprendi-
zado.
Esse movimento ocorre agora nos Centros de Ciências
ou nas Universidades e ganha atenção das autoridades
federais e instituições internacionais, estabelecendo pro-
gramas como o Premem (Projeto de Melhoria do Ensino
de Ciências e Matemática) e o SPEC (Subprograma de
Educação para a Ciência), vinculado à Capes (Fundação
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su-
perior) e mais recentemente o pró-Ciências e os programas
de educação científica e ambiental do CNPq (Conselho Na-
cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
No plano internacional o processo foi equivalente. Os
núcleos catalisadores dos movimentos dos anos 60 foram
incorporados pelas universidades. Alguns centros perma-
necem como o Biological Science Curriculum Study, que
até hoje está produzindo inovações no ensino de Biologia.
Nos Estados Unidos foram importantes as sociedades cien-
tíficas ao longo das décadas consideradas neste trabalho,
especialmente a American Association for the Advancement
of Science – AAAS, que teve persistente preocupação com
o ensino elaborando seus próprios projetos curriculares. Nos
anos 70, influenciada pelas tendências comportamentalistas
proeminentes na época, preparou material para ensino de
Ciências para crianças de escola primária. Hoje está condu-
zindo o chamado Project 2061, que reúne cientistas e edu-
cadores no sentido de estabelecer o que “todos os estudan-
tes devem saber ou fazer em ciência, matemática e tecnologia
desde os primeiros anos de estudo até o final do curso mé-
dio, de modo a promover a sua ‘alfabetização científica’”
(AAAS, 1989). Outras associações científicas, como a
Unesco e a International Council of Scientific Unions – ICSU,
além das sociedades internacionais de Física, Química e Ma-
temática, realizam reuniões e promovem atividades visando
o desenvolvimento do ensino de Ciências.
No Brasil, sociedades como a SBF (Sociedade Brasi-
leira de Física), a SBQ (Sociedade Brasileira de Quími-
ca) e a SBG (Sociedade Brasileira de Genética) têm ativi-
dades relacionadas ao ensino. A Associação Brasileira para
Pesquisa em Ensino de Ciências e a Sociedade Brasileira
para o Ensino de Biologia reúnem juntam centenas de
professores dos ensinos fundamental, médio e superior
SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(1) 2000
92
para discutir problemas, apresentar trabalhos e atualizar
informações.
Incorporam-se também ao movimento de renovação
instituições como museus de ciências que estabelecem
pontes com um público preponderantemente, mas não
exclusivamente, escolar a quem apresentam a ciência por
meio de exposições e outras instalações interativas.
Há intensa atividade de investigação nos cursos de pós-
graduação, acumulando um considerável acervo de co-
nhecimento. Investigações sobre as relações professor-
alunos, enfatizando vários aspectos do trabalho em
laboratório, discussão de problemas e o papel das pergun-
tas em classe, efeito de atividades para aperfeiçoamento
de professores na mudança de atitude e aquisição de co-
nhecimentos e o papel dos centros e museus da Ciência
são algumas das questões em que os mestrandos e douto-
randos vêm trabalhando.
A pesquisa em ensino de Ciências levou também à for-
mação de grupos interdisciplinares, congregando profes-
sores de institutos de Física, Química, Biologia e das Fa-
culdades e Centros de Educação. O primeiro programa
de mestrado em ensino de Ciências interunidades que
subsiste até hoje foi instalado na Universidade de São Pau-
lo, em que a partir dessa iniciativa formaram-se grupos
de ensino nos Institutos de Física e Química, além do de-
senvolvimento de uma área temática de Ensino de Ciên-
cias e Matemática para mestrado e doutorado na Facul-
dade de Educação.
Assim como ocorreram mudanças nos objetivos e ên-
fase das propostas curriculares, também a pesquisa foi
evoluindo no transcorrer do período considerado neste
trabalho. No início do período, foi dada ênfase para ava-
liação dos resultados dos projetos curriculares. O cresci-
mento das críticas ao modelo experimental, quantitativo,
influenciado pela linha psicometrista, gradualmente le-
vou à adoção de novos paradigmas de pesquisa. Passou-
se a obter dados com observação direta, estudo de docu-
mentos, entrevistas com os componentes e usuários dos
projetos curriculares, alunos, professores, administrado-
res em projetos de pesquisa quantitativa. Dentro dessa li-
nha básica, foram usadas medidas qualitativo-fenomeno-
lógicas, processos etnográficos, naturalísticos, pesquisa
participante, estudos de caso, entre outros.
O debate entre os que defendem a linha por muitos cha-
mada experimental, que exige dados quantitativos, e os
que preferem uma linha naturalística, que apresenta o
processo educacional em toda a sua complexidade de
intrincadas relações, está longe de ser encerrado. Apesar
desse esforço que levou à criação de grupos de pesquisa
em vários pontos do país, a maioria deles gerada pelos
pesquisadores formados nos núcleos iniciais, os resulta-
dos das pesquisas ainda não atingiram os centros de deci-
são, nos âmbitos federal, estadual e municipal, para in-
fluir decisivamente na preparação e avaliação de
currículos, nos projetos de aperfeiçoamento de docentes
e nas relações entre os elementos que interagem nas es-
colas. Os professores em classe ficam cada vez mais afas-
tados tanto do centro de decisões políticas como dos cen-
tros de pesquisa.
Sem usar as informações de pesquisas prospectivas que
coletem dados para evitar esforços e desperdícios, as pro-
postas de reforma têm sido irrealistas ou inaceitáveis pe-
los professores que finalmente são os responsáveis pelas
ocorrências em sala de aula. É tarefa urgente encontrar
um meio termo adequado entre os dois extremos: um das
organizações centrais trabalhando de forma isolada e ou-
tro que deixa a responsabilidade sobre as decisões curri-
culares exclusivamente à escola e aos docentes. Se, por
um lado, é imprescindível a intensificação das relações
entre a escola e a comunidade para a formação de cida-
dãos atuantes, por outro, é absurdo ignorar o que têm a
dizer os cientistas e pesquisadores e o que se conhece hoje
sobre os processos de reforma curricular.
Os parâmetros curriculares fartamente distribuídos, na
tentativa de produzir mudanças, usaram muito pouco o
considerável montante de informações existentes sobre
mudanças do ensino de Ciências. Os cientistas e pesqui-
sadores foram alijados da produção de documentos que
vêm levantando controvérsias entre os especialistas e di-
ficuldades para os docentes. Caberá aos cientistas influir
colaborando para formular propostas curriculares atua-
lizadas, relevantes e realistas, não só indicando as impro-
priedades, omissões e propostas discutíveis, mas também
propondo linhas de trabalho, sugestões para reformula-
ção, mudanças e substituição. Merecem também uma aná-
lise detida para uso mais profundo e abrangente dos da-
dos obtidos nos inúmeros processos de avaliação
empreendidos pelo Inep e pelos sistemas de várias unida-
des da federação para que sejam identificados os pontos
necessitados de intervenção como orientação para melho-
rar o processo educativo em todos os níveis e a confec-
ção dos planos nacional e estaduais de educação. Não cabe
mais um trabalho isolado, de gabinete dos legisladores
oficiais. Ao contrário, será necessário angariar a participa-
ção e adesão da sociedade em seus múltiplos segmentos, para
que as declarações de intenção propostas não soneguem a
93
REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS
liberdade de ação das instituições, deixando o sistema à mercê
dos slogans em voga que refletem as políticas vigentes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Science for all americans. Washington, 1989.
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__________ . Lei n. 9.394 Diretrizes e bases da educação nacional: promulga-
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Reformas do ensino de ciências: um caso ilustrativo

  • 1. 85 REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS A REFORMAS E REALIDADE o caso do ensino das ciências palavra reforma, sempre presente no vocabulá- rio educacional, é definida em âmbito interna- cional como “uma iniciativa do Estado que es- MYRIAM KRASILCHIK Professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo tabelece objetivos e critérios claros e ambiciosos, recorre a todas as instâncias políticas para apoiá-la, estimulando iniciativas no nível das escolas e mobilizando recursos humanos e financeiros para sustentar as mudanças pro- postas” (Timpane e White, 1998). Nossas escolas, como sempre, refletem as maiores mudanças na sociedade – política, econômica, social e culturalmente. A cada novo governo ocorre um surto re- formista que atinge principalmente os ensinos básico e mé- dio. O atual movimento de reforma da escola é um pro- cesso de mudança nacional com uma forte tendência à volta ao papel centralizador do Estado para emissão de normas e regulamentos. Tomando como marco inicial a década de 50, é pos- sível reconhecer nestes últimos 50 anos movimentos que refletem diferentes objetivos da educação modificados evolutivamente em função de transformações no âm- bito da política e economia, tanto nacional como inter- nacional. Na medida em que a Ciência e a Tecnologia foram reco- nhecidas como essenciais no desenvolvimento econômi- co, cultural e social, o ensino das Ciências em todos os níveis foi também crescendo de importância, sendo obje- to de inúmeros movimentos de transformação do ensino, podendo servir de ilustração para tentativas e efeitos das reformas educacionais. Um episódio muito significativo ocorreu durante a “guerra fria”, nos anos 60, quando os Estados Unidos, para vencer a batalha espacial, fizeram investimentos de recursos humanos e financeiros sem paralelo na história da educação, para produzir os hoje chamados projetos de 1ª geração do ensino de Física, Química, Biologia e Ma- temática para o ensino médio. A justificativa desse em- preendimento baseava-se na idéia de que a formação de uma elite que garantisse a hegemonia norte-americana na conquista do espaço dependia, em boa parte, de uma es- cola secundária em que os cursos das Ciências identifi- cassem e incentivassem jovens talentos a seguir carreiras científicas. Esse movimento, que teve a participação intensa das so- ciedades científicas, das Universidades e de acadêmicos renomados, apoiados pelo governo, elaboraram o que tam- bém é denominado na literatura especializada de “sopa al- fabética”, uma vez que os projetos de Física (Physical Science Study Commitee – PSSC), de Biologia (Biological Science Curriculum Study – BSCS), de Química (Chemical Bond Approach – CBA) e (Science Mathematics Study Group – SMSG) são conhecidos universalmente pelas suas siglas. Esse período marcante e crucial na história do ensino de Ciências, que influi até hoje nas tendências curricula- res das várias disciplinas tanto no ensino médio como no Resumo: Este trabalho inclui uma revisão histórica das propostas de reforma do ensino de Ciências ao longo dos últimos anos. O caso descrito ilustra alguns dos caminhos percorridos por vários projetos desde a sua elaboração nos órgãos normativos como parte de políticas públicas até o dia-a-dia das salas de aula. A análise do processo compreendendo aspectos legais, modalidades e recursos didáticos, temáticas dos programas, e processos de avaliação contribui para o estudo de propostas de inovação. Palavras-chave: reforma educacional; didática e ensino das ciências; avaliação e pesquisa.
  • 2. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(1) 2000 86 fundamental, foi dando lugar, ao longo dessas últimas décadas, a outras modificações em função de fatores po- líticos, econômicos e sociais que resultaram, por sua vez, em transformações das políticas educacionais, cumulati- vas em função das quais ocorreram mudanças no ensino de Ciências (Quadro 1). Como já foi mencionado, o movimento dos grandes projetos visava a formação e a identificação de uma elite refletindo não só a política governamental, mas também uma concepção de escola e teve propagação ampla nas regiões sob influência cultural norte-americana, que re- percutiu de forma diferente em diversos países ecoando as situações locais. Por exemplo, na Inglaterra, concor- dou-se com os objetivos gerais do projeto de reforma do ensino de Ciências, mas foi decidido que se devia produ- zir seus próprios projetos consonantes com a organiza- ção escolar de forma a preservar a influência acadêmica e científica de instituições inglesas. Foram elaborados também projetos de Física, Química e Biologia que fica- ram conhecidos pelo nome da sua instituição patrocina- dora, a Fundação Nuffield. Dada a importância da Ingla- terra como núcleo cultural dos países da comunidade britânica, esses projetos tiveram também grande influên- cia. No Brasil, a necessidade de preparação dos alunos mais aptos era defendida em nome da demanda de investiga- dores para impulsionar o progresso da ciência e tecnologia nacionais das quais dependia o país em processo de in- dustrialização. A sociedade brasileira, que se ressentia da falta de matéria-prima e produtos industrializados duran- te a 2ª Guerra Mundial e no período pós-guerra, buscava superar a dependência e se tornar auto-suficiente, para o que uma ciência autóctone era fundamental. Paralelamente, à medida que o país foi passando por transformações políticas em um breve período de eleições livres, houve uma mudança na concepção do papel da escola que passava a ser responsável pela formação de todos os cidadãos e não mais apenas de um grupo privile- giado. A Lei 4.024 – Diretrizes e Bases da Educação, de 21 de dezembro de 1961, ampliou bastante a participa- ção das ciências no currículo escolar, que passaram a fi- gurar desde o 1º ano do curso ginasial. No curso colegial, houve também substancial aumento da carga horária de Física, Química e Biologia. Essas disciplinas passavam a ter a função de desen- volver o espírito crítico com o exercício do método cien- tífico. O cidadão seria preparado para pensar lógica e cri- ticamente e assim capaz de tomar decisões com base em informações e dados. Quando de novo houve transformações políticas no país pela imposição da ditadura militar em 1964, também o papel da escola modificou-se, deixando de enfatizar a ci- dadania para buscar a formação do trabalhador, conside- rado agora peça importante para o desenvolvimento eco- nômico do país. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 5.692, promulgada em 1971, norteia claramente as modificações educacionais e, conseqüentemente, as pro- postas de reforma no ensino de Ciências ocorridas neste QUADRO 1 Evolução da Situação Mundial, segundo Tendências no Ensino 1950-2000 Tendências no Situação Mundial Ensino 1950 1970 1990 2000 Guerra Fria Guerra Tecnológica Globalização Objetivo do Ensino • Formar Elite • Formar Cidadão-trabalhador • Formar Cidadão-trabalhador-estudante • Programas Rígidos • Propostas Curriculares Estaduais • Parâmetros Curriculares Federais Concepção de Ciência • Atividade Neutra • Evolução Histórica • Atividade com Implicações Sociais • Pensamento Lógico-crítico Instituições Promotoras de Reforma • Projetos Curriculares • Centros de Ciências, Universidades • Universidades e Associações Profissionais • Associações Profissionais Modalidades Didáticas Recomendadas • Aulas Práticas • Projetos e Discussões • Jogos: Exercícios no Computador Fonte: Elaboração da autora.
  • 3. 87 REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS período. Mais uma vez as disciplinas científicas foram afetadas, agora de forma adversa, pois passaram a ter ca- ráter profissionalizante, descaracterizando sua função no currículo. A nova legislação conturbou o sistema, mas as escolas privadas continuaram a preparar seus alunos para o curso superior e o sistema público também se reajustou de modo a abandonar as pretensões irrealistas de forma- ção profissional no 1º e 2º graus por meio de disciplinas pretensamente preparatórias para o trabalho. Em 1996, foi aprovada uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, nº 9.394/96, a qual estabelece, no parágrafo 2o do seu artigo 1o , que a educação escolar de- verá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. O artigo 26 estabelece que “os currículos do ensino fun- damental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada pelos demais conteúdos curricula- res especificados nesta Lei e em cada sistema de ensino”. A formação básica do cidadão na escola fundamental exige o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo, a com- preensão do ambiente material e social, do sistema políti- co, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fun- damenta a sociedade. O ensino médio tem a função de consolidação dos conhecimentos e a preparação para o trabalho e a cidadania para continuar aprendendo. Esse aprendizado inclui a formação ética, a autonomia intelectual e a compreensão dos fundamentos científico- tecnológicos dos processos produtivos. Embora a lei in- dique precariamente os valores e objetivos da educação nacional, espera-se que a escola forme o cidadão-traba- lhador-estudante quando, por exemplo, determina em seu artigo 80: “O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.” Tenta-se colocar em prática essas prescrições legais por meio de políticas centralizadas no MEC e que são deta- lhadas e especificadas em documentos oficias, abundan- temente distribuídos com os nomes de “parâmetros” e “diretrizes curriculares”. Fazem parte ainda desses “indi- cativos políticos” diversos instrumentos de avaliação em que se explicitam as reais intenções da reforma proposta pelo governo. No exame dessa proposta e de suas conseqüências na realidade da educação brasileira, é imprescindível anali- sar em uma perspectiva histórica a evolução das concep- ções curriculares preponderantes nesses últimos 50 anos, por meio dos quais foram expressos os desígnios dos go- vernos e seus resultados nos vários níveis dos sistemas educacionais, desde o emissor das políticas até a realida- de das salas de aula, que têm mudado muito mais em fun- ção da deterioração das condições de trabalho do que por injunções legais. Infelizmente, mantém-se um ensino pre- cário com professores que enfrentam nas escolas proble- mas de sobrecarga, de falta de recursos e de determina- ções que deveriam seguir sobre as quais não foram ouvidos. As modificações promovidas por diferentes elemen- tos ao longo dos diversos patamares de decisões que atu- am nos componentes curriculares – temáticas e conteú- do, modalidades didáticas e recursos e processos de avaliação – confluem para um cenário que raramente é o planejado pelos emissores do currículo teórico. Na análise desse processo, tem papel fundamental a pesquisa feita no âmbito do ensino das ciências no Brasil e que já constitui um significativo acervo de informações e conhecimentos sobre o que acontece desde a elabora- ção de documentos normativos até a intimidade do ensi- no das várias disciplinas científicas. MODALIDADES DIDÁTICAS E RECURSOS As modalidades didáticas usadas no ensino das disci- plinas científicas dependem, fundamentalmente, da con- cepção de aprendizagem de Ciência adotada. A tendên- cia de currículos tradicionalistas ou racionalistas- acadêmicos, apesar de todas as mudanças, ainda prevale- cem não só no Brasil, mas também nos sistemas educa- cionais de países em vários níveis de desenvolvimento. Assumindo que o objetivo dos cursos é basicamente trans- mitir informação, ao professor cabe apresentar a matéria de forma atualizada e organizada, facilitando a aquisição de conhecimentos. Nos anos 60, o processo ensino-apren- dizagem era influenciado pelas idéias de educadores comportamentalistas que recomendavam a apresentação de objetivos do ensino na forma de comportamentos observáveis, indicando formas de atingi-los e indicado- res mínimos de desempenho aceitável. Foram elaboradas classificações, das quais a mais conhecida, coordenada por Benjamim Bloom, era a que dividia os objetivos edu- cacionais em cognitivo-intelectuais, afetivo-emocionais e psicomotores-habilidades, organizados em escalas hie- rarquicamente mais complexas de comportamento. Essa linha de trabalho teve papel significativo na edu- cação brasileira e ainda hoje muitos dos processos de pla- nejamento que ocorrem nas escolas constam apenas da redação de objetivos e metas, que em geral são esqueci-
  • 4. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(1) 2000 88 dos durante o ano por força da pressão das realidades do dia-a-dia na classe. No final dos anos 60, as idéias de Jean Piaget sobre desenvolvimento intelectual começaram a ser conhecidas e discutidas. Passa assim a ter papel central no processo ensino-aprendizagem da ciência uma perspectiva cogni- tivista, enfatizando o chamado construtivismo, usado nos atuais documentos oficiais brasileiros de forma impositiva, como um “slogan” que não chega a analisar o significado da discussão sobre mudança conceitual como um proces- so individual de responsabilidade do aluno ou um pro- cesso social. “A primeira perspectiva vê concepções como representações mentais (isto é, construções tangíveis na cabeça dos alunos) enquanto a segunda perspectiva re- presenta as concepções como sendo caracterizações de categorias de descrições que refletem relações pessoa- mundo” (Duit e Treagust, 1998). Essas idéias conflitantes em vários aspectos não são apresentadas aos professores como controvérsias que de- vem ser discutidas e analisadas para orientar a escolha de modalidades didáticas baseadas em uma fundamentação sólida. Embora o conceito de processo ensino-aprendizagem tenha importância na escola em geral, no ensino das dis- ciplinas científicas tem conseqüências específicas em vários elementos curriculares. A solução de problemas é um dos seus componentes essenciais, porque várias fases das reformas propostas com nomes variados de “ciência posta em prática”, “método da redescoberta”, “método de projetos” trata-se de fazer questionamentos, encontrar alternativas de resposta, planejar e organizar experimen- tos que permitam optar por uma delas e daí produzir ou- tros questionamentos. No período 1950-70, prevaleceu a idéia da existência de uma seqüência fixa e básica de com- portamentos, que caracterizaria o método científico na identificação de problemas, elaboração de hipóteses e ve- rificação experimental dessas hipóteses, o que permitiria chegar a uma conclusão e levantar novas questões. Com essas premissas, as aulas práticas no ensino de Ciências servem a diferentes funções para diversas con- cepções do papel da escola e da forma de aprendizagem. No caso de um currículo que focaliza primordialmente a transmissão de informações, o trabalho em laboratório é motivador da aprendizagem, levando ao desenvolvimen- to de habilidades técnicas e principalmente auxiliando a fixação, o conhecimento sobre os fenômenos e fatos. À medida que a influência cognitivista foi se amplian- do em base dos estudos piagetianos considerando fases de operações lógicas pelas quais o aluno passa em uma ordem que vai do sensomotor (18 meses), pré-operacio- nal (até 7 anos), concreta operacional (dos 7 aos 11 anos) até o formal operacional (dos 11 até os 15 anos), passou- se a encarar o laboratório como elemento de aferição do es- tágio de desenvolvimento do aluno e de ativação do pro- gresso ao longo desses estágios e do ciclo de aprendizado. Na perspectiva construtivista, as pré-concepções dos alunos sobre os fenômenos e sua atuação nas aulas práti- cas são férteis fontes de investigação para os pesquisado- res como elucidação do que pensam e como é possível fazê-los progredir no raciocínio e análise dos fenômenos. As prescrições oficiais da expectativa de reforma em curso tratam do assunto superficialmente, havendo uma grande distância entre uma “proposta construtivista” e recomen- dações que permitam ao professor exercer plenamente o seu papel de catalisador da aprendizagem. Faltam discus- sões que permitam ao próprio docente nas atuais condi- ções de trabalho criar um clima de liberdade intelectual, que não limite a sua atividade a exposições, leitura ou cópia de textos. Por exemplo, a reação de alunos e professores ao uso de perguntas em classe é uma área de pesquisa de ponta para os que pretendem mudar a escola e o ensino de Ciên- cias em que a função da interação social e da exposição a diferentes idéias é elemento essencial. Como obstáculo a essa transformação, é possível identificar as representa- ções sociais que prevalecem entre professor e alunos. O docente é autoridade que não corre o risco de ser questi- onada, ou que se permita ouvir diferentes opiniões. Se, por um lado, esse papel autoritário é prejudicial, o outro extremo cada vez mais freqüente por força do refrão de que o “aluno constrói seu próprio conhecimento” leva o professor a abdicar da sua função de orientador do apren- dizado. Nesses casos, o laboratório e as aulas práticas podem até ser divertidas mas não levam à formulação ou reformulação de conceitos. Os novos recursos tecnológicos e, principalmente, o uso do computador criam dilemas equivalentes, podendo até ser uma fonte muito eficiente de fornecimento de in- formações. No entanto, o seu potencial como desequi- librador da vigente relação professor-aluno é ainda subutilizado como instrumento que possa levar o aluno a deixar o seu papel passivo de receptor de informações, para ser o que busca, integra, cria novas informações. O professor passa a ser o que auxilia o aprendiz a procurar e coordenar o que aprende dentro de um esquema concei- tual mais amplo. Qualquer reforma deveria suscitar essas
  • 5. 89 REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS questões que são básicas para uma mudança real na qua- lidade de ensino. TEMÁTICAS Os conteúdos e grandes temas incluídos no currículo das disciplinas científicas refletem as idéias correntes sobre a Ciência. Na fase dos projetos de 1ª geração, a Ciência era considerada uma atividade neutra, isentando os pesquisadores de julgamento de valores sobre o que estavam fazendo. É necessário lembrar que os cientistas tiveram uma atuação significativa na produção da bomba atômica e, de alguma forma, procuravam não assumir sua responsabilidade no conflito bélico. Pretendia-se desen- volver a racionalidade, a capacidade de fazer observações controladas, preparar e analisar estatísticas, respeitar a exi- gência de replicabilidade dos experimentos. À medida que se avolumaram os problemas sociais no mundo, outros valores e outras temáticas foram incorpo- radas aos currículos, sendo que mudanças substantivas tiveram repercussões nos programas vigentes. Entre 1960 e 1980, as crises ambientais, o aumento da poluição, a crise energética e a efervescência social manifestada em movimentos como a revolta estudantil e as lutas anti-se- gregação racial determinaram profundas transformações nas propostas das disciplinas científicas em todos os ní- veis do ensino. As implicações sociais da Ciência incorporam-se às propostas curriculares nos cursos ginasiais da época e, em seguida, nos cursos primários. Simultaneamente às trans- formações políticas ocorreu a expansão do ensino públi- co que não mais pretendia formar cientistas, mas também fornecer ao cidadão elementos para viver melhor e parti- cipar do breve processo de redemocratização ocorrido no período. A admissão das conexões entre a ciência e a so- ciedade implica que o ensino não se limite aos aspectos internos à investigação científica, mas à correlação des- tes com aspectos políticos, econômicos e culturais. Os alunos passam a estudar conteúdos científicos relevantes para sua vida, no sentido de identificar os problemas e buscar soluções para os mesmos. Surgem projetos que incluem temáticas como poluição, lixo, fontes de ener- gia, economia de recursos naturais, crescimento popula- cional, demandando tratamento interdisciplinar. Essas demandas dependiam tanto dos temas abordados como da organização escolar. É do período de 1950-70 o movi- mento de Ciência Integrada, que teve apoio de organis- mos internacionais, principalmente a Unesco, e provocou reações adversas dos que defendiam a identidade das dis- ciplinas tradicionais, mantendo segmentação de conteú- dos mesmo nos anos iniciais da escolaridade. Concomitantemente aos processos que ocorriam nas escolas – o fim da “guerra fria” e o agravamento dos pro- blemas sociais e econômicos – foi incorporada a compe- tição tecnológica, levando a exigir que os estudantes ti- vessem preparo para compreender a natureza, o significado e a importância da tecnologia para sua vida como indiví- duos e como membros responsáveis da sociedade. Para tanto, os cursos deveriam incluir temas relevantes que tornassem os alunos conscientes de suas responsabilida- des como cidadãos, pudessem participar de forma inteli- gente e informada de decisões que iriam afetar não só sua comunidade mais próxima, mas que também teriam efei- tos de amplo alcance. A preocupação com a qualidade da “escola para todos” incluiu um novo componente no vocabulário e nas preo- cupações dos educadores, “a alfabetização científica”. A relação ciência e sociedade provocou a intensificação de estudos da história e filosofia da ciência, componentes sempre presentes nos programas com maior ou menor intensidade servindo em fases diferentes a objetivos di- versos. O crescimento da influência construtivista como geradora de diretrizes para o ensino levou à maior inclu- são de tópicos de história e filosofia da Ciência nos pro- gramas, principalmente para comparar linhas de raciocí- nio historicamente desenvolvidas pelos cientistas e as concepções dos alunos. Fortalece essa linha o já mencionado movimento de- nominado “Ciência para todos”, que relaciona o ensino das Ciências à vida diária e experiência dos estudantes, trazendo, por sua vez, novas exigências para compreen- são da interação estreita e complexa com problemas éticos, religiosos, ideológicos, culturais, étnicos e as relações com o mundo interligado por sistemas de comunicação e tecnologias cada vez mais eficientes com benefícios e ris- cos no globalizado mundo atual. A exclusão social, a luta pelos direitos humanos e a conquista da melhora da qua- lidade de vida não podem ficar à margem dos currículos e, no momento, assumem uma importância cada vez mais evidente. Pela demanda de justiça social nos atuais parâ- metros curriculares, muitas das temáticas vinculadas no ensino de Ciências são hoje consideradas “temas trans- versais”: educação ambiental, saúde, educação sexual. No entanto, a tradição escolar ainda determina que a respon- sabilidade do seu ensino recaia basicamente nas discipli- nas científicas, principalmente a Biologia.
  • 6. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(1) 2000 90 A reforma brasileira reforça um movimento equiva- lente ao da “Ciência para todos”, sem, no entanto, incluir cuidados para que excessos nessa postura tornem o currí- culo pouco rigoroso, em nome da necessidade que se tor- nou um estribilho nas publicações e avaliações oficiais de desenvolver “competências e habilidades”. O risco grave é de que se percam de vista os objetivos maiores do ensino de Ciências, que deve incluir a aquisi- ção do conhecimento científico por uma população que compreenda e valorize a Ciência como empreendimento social. Os alunos não serão adequadamente formados se não correlacionarem as disciplinas escolares com a ativi- dade científica e tecnológica e os problemas sociais con- temporâneos. Paralelamente aos movimentos nas instân- cias normativas dos sistemas escolares, os livros didáticos continuaram a servir de apoio e orientação aos professo- res para a apresentação dos conteúdos. Uma reforma que tenha pleno êxito depende da existência de bons materiais, incluindo livros, manuais de laboratórios e guias de profes- sores, docentes que sejam capazes de usá-los, bem como condições na escola para o seu pleno desenvolvimento. Avaliação A avaliação sempre teve um papel central na escola brasileira. Uma das influências preeminentes, com uma função normativa mais poderosa do que os programas oficiais, livros didáticos, propostas curriculares ou os atuais parâmetros, sempre foi o exame vestibular. Assim, essas provas, mais do que cumprir a função classificatória para decidir quais os alunos que podem entrar nas esco- las superiores, têm grande influência nos ensinos funda- mental e médio. No entanto, os exames podem fornecer dados sobre a população escolar cumprindo a maior fun- ção da avaliação, ou seja, a de informar à sociedade, às escolas, aos alunos, aos professores e aos pais sobre o aprendizado dos estudantes, da eficiência da escola em função das políticas públicas e das relações contextuais entre os estabelecimentos de ensino e a comunidade nas quais se situam. Com a democratização do país e a disputa por verbas para manutenção dos sistemas escolares, aumenta a pres- são por dados que possam servir de indicadores que orien- tem decisões dos sistemas em todos o níveis de ensino. A competição internacional na guerra tecnológica pro- duziu programas internacionais de avaliação que levaram à comparação do resultado obtido pelos alunos em algu- mas disciplinas, incluindo as Ciências. Assim como o Sputnik provocou movimento de reforma dos anos 60, o desempenho dos alunos norte-americanos nos testes in- ternacionais produziu em 1985 um documento de grande impacto “A Nation at Risk” que serviu de epicentro para uma onda de críticas ao sistema educacional norte-ame- ricano e tentativas de reformas que acabaram tendo re- percussões no mundo inteiro (Gross e Gross, 1985). No Brasil, é parte das políticas governamentais no plano federal ou estaduais um conjunto de exames que se desti- nam a descrever a situação nas várias unidades da federa- ção, no sentido de subsidiar decisões de políticas públi- cas. Instituições internacionais como o Banco Mundial, Banco Interamericano e a Unesco valem-se desses indi- cadores para fomentar e financiar projetos que imple- mentem tendências que apóiam. O resultado e a validade desses exames para avaliar o aprendizado em Ciências são bastante contestados em função dos instrumentos que os constituem. Discute-se se as tradicionais questões de múltipla escolha são ade- quadas para aferir o que se pretende produzir dos alunos nas aulas de Ciências. A capacidade de resolver proble- mas e de demonstrar a compreensão conceitual e forma- ção exige que se busquem também outras formas de veri- ficar o aprendizado. Assim, provas dissertativas e redações teriam como função maior fazer com que os alunos es- crevam, demonstrando capacidade de organização lógica e de expressão temática. O reconhecimento das limitações dos instrumentos de avaliação mais freqüentemente usados não impede, no entanto, que os dados numéricos sejam divulgados como resultados confiáveis, exercendo considerável influência na opinião que a sociedade tem da escola. Os meios de comunicação de massa divulgam esses números com in- terpretações que, muitas vezes, exigem análises mais de- tidas, mas são aceitos sem discussão pela população em geral, tornando premente a necessidade de uma coleta sis- temática de informações coerentes das variáveis que agem no aprendizado de Ciências e que refletiram os objetivos do currículo. Busca-se, assim, distinguir as diferenças entre o currículo proposto, ideal, teórico e o seu resulta- do, ou seja, o currículo real ou obtido. Por exemplo, na avaliação dos concluintes do ensino médio feita em 1997 em nove estados brasileiros, verifi- ca-se que em Biologia os alunos do período da manhã acertaram menos de 47% das questões, os da tarde, 35,5%, e os da noite, 29%. Em Física, foram 33% de acertos para os alunos da manhã, 28% para os da tarde e 27,5% para os da noite. Química evidenciou problemas com relação
  • 7. 91 REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS a todos os conteúdos e habilidades. Os alunos da manhã tiveram 33% de acertos, os da tarde, 27,5%, e os da noite, 25%. Apesar das pequenas variações e diferenças nos tur- nos examinados, o desempenho dos alunos deixa muito a desejar. O Sistema Nacional de Educação Básica – Saeb (1997) e o Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacio- nais – Inep (1999) indicam que, nas séries iniciais, em Ciências, os alunos até a 4ª série saem-se bem. Nos ou- tros níveis, o desempenho esperado de alunos de 6ª série chega a ser atingido por 48% dos alunos, na 8ª série por 10% e, no fim do ensino médio, apenas 3% alcançam o nível desejado. Como se pode verificar por esses dados, há uma grande distância entre as propostas de reforma e o resultado efetivo no aprendizado dos alunos. Pesquisa As discussões sobre o ensino de Ciências e tentativa de transformá-lo foram promovidas e mantidas por inú- meras e diversas instituições a partir dos “projetos curri- culares” organizados nos anos 60. Na época, o Brasil já tinha uma história de promoção do ensino de Ciências – o IBECC (Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cul- tura) em São Paulo, em que eram produzidos manuais de laboratórios e textos, além de equipamentos para a expe- rimentação. Muitos trabalhos esparsos de iniciativas de docentes isolados ou em grupos passaram a se concentrar no IBECC e depois em instituições dele derivadas – Funbec e Cecisp –, que, com o apoio do Ministério da Educação, das Funda- ções Ford e Rockfeller e da União Panamericana, promo- veram intensos programas para a renovação do ensino de Ciências. Especialmente significativa foi a iniciativa do MEC, que criou em 1963 seis centros de ciências nas maiores capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte. A es- trutura institucional desses centros era variada. Alguns, como o de Porto Alegre e Rio de Janeiro, tinham víncu- los com Secretarias de Governo da Educação e de Ciên- cia e Tecnologia, enquanto os de São Paulo, Pernambuco, Bahia e Minas Gerais eram ligados às Universidades. Essas instituições tiveram vidas e vocações diferentes, sendo que algumas persistem até hoje, como a de Belo Horizonte, estreitamente associada à Faculdade de Educação da UFMG, e o centro do Rio, que hoje é mantido pela Secre- taria da Ciência e Tecnologia. Os outros ou desaparece- ram ou foram incorporados pelas universidades onde pas- saram a se estruturar grupos de professores para preparar materiais e realizar pesquisas sobre o ensino de ciências. Com a expansão dos programas de pós-graduação e deli- neamento de uma área específica de pesquisa – Ensino de Ciências –, as organizações acadêmicas assumiram a responsabilidade de investigar e procurar fatores e situa- ções que melhorassem os processos de ensino-aprendi- zado. Esse movimento ocorre agora nos Centros de Ciências ou nas Universidades e ganha atenção das autoridades federais e instituições internacionais, estabelecendo pro- gramas como o Premem (Projeto de Melhoria do Ensino de Ciências e Matemática) e o SPEC (Subprograma de Educação para a Ciência), vinculado à Capes (Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su- perior) e mais recentemente o pró-Ciências e os programas de educação científica e ambiental do CNPq (Conselho Na- cional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). No plano internacional o processo foi equivalente. Os núcleos catalisadores dos movimentos dos anos 60 foram incorporados pelas universidades. Alguns centros perma- necem como o Biological Science Curriculum Study, que até hoje está produzindo inovações no ensino de Biologia. Nos Estados Unidos foram importantes as sociedades cien- tíficas ao longo das décadas consideradas neste trabalho, especialmente a American Association for the Advancement of Science – AAAS, que teve persistente preocupação com o ensino elaborando seus próprios projetos curriculares. Nos anos 70, influenciada pelas tendências comportamentalistas proeminentes na época, preparou material para ensino de Ciências para crianças de escola primária. Hoje está condu- zindo o chamado Project 2061, que reúne cientistas e edu- cadores no sentido de estabelecer o que “todos os estudan- tes devem saber ou fazer em ciência, matemática e tecnologia desde os primeiros anos de estudo até o final do curso mé- dio, de modo a promover a sua ‘alfabetização científica’” (AAAS, 1989). Outras associações científicas, como a Unesco e a International Council of Scientific Unions – ICSU, além das sociedades internacionais de Física, Química e Ma- temática, realizam reuniões e promovem atividades visando o desenvolvimento do ensino de Ciências. No Brasil, sociedades como a SBF (Sociedade Brasi- leira de Física), a SBQ (Sociedade Brasileira de Quími- ca) e a SBG (Sociedade Brasileira de Genética) têm ativi- dades relacionadas ao ensino. A Associação Brasileira para Pesquisa em Ensino de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Ensino de Biologia reúnem juntam centenas de professores dos ensinos fundamental, médio e superior
  • 8. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(1) 2000 92 para discutir problemas, apresentar trabalhos e atualizar informações. Incorporam-se também ao movimento de renovação instituições como museus de ciências que estabelecem pontes com um público preponderantemente, mas não exclusivamente, escolar a quem apresentam a ciência por meio de exposições e outras instalações interativas. Há intensa atividade de investigação nos cursos de pós- graduação, acumulando um considerável acervo de co- nhecimento. Investigações sobre as relações professor- alunos, enfatizando vários aspectos do trabalho em laboratório, discussão de problemas e o papel das pergun- tas em classe, efeito de atividades para aperfeiçoamento de professores na mudança de atitude e aquisição de co- nhecimentos e o papel dos centros e museus da Ciência são algumas das questões em que os mestrandos e douto- randos vêm trabalhando. A pesquisa em ensino de Ciências levou também à for- mação de grupos interdisciplinares, congregando profes- sores de institutos de Física, Química, Biologia e das Fa- culdades e Centros de Educação. O primeiro programa de mestrado em ensino de Ciências interunidades que subsiste até hoje foi instalado na Universidade de São Pau- lo, em que a partir dessa iniciativa formaram-se grupos de ensino nos Institutos de Física e Química, além do de- senvolvimento de uma área temática de Ensino de Ciên- cias e Matemática para mestrado e doutorado na Facul- dade de Educação. Assim como ocorreram mudanças nos objetivos e ên- fase das propostas curriculares, também a pesquisa foi evoluindo no transcorrer do período considerado neste trabalho. No início do período, foi dada ênfase para ava- liação dos resultados dos projetos curriculares. O cresci- mento das críticas ao modelo experimental, quantitativo, influenciado pela linha psicometrista, gradualmente le- vou à adoção de novos paradigmas de pesquisa. Passou- se a obter dados com observação direta, estudo de docu- mentos, entrevistas com os componentes e usuários dos projetos curriculares, alunos, professores, administrado- res em projetos de pesquisa quantitativa. Dentro dessa li- nha básica, foram usadas medidas qualitativo-fenomeno- lógicas, processos etnográficos, naturalísticos, pesquisa participante, estudos de caso, entre outros. O debate entre os que defendem a linha por muitos cha- mada experimental, que exige dados quantitativos, e os que preferem uma linha naturalística, que apresenta o processo educacional em toda a sua complexidade de intrincadas relações, está longe de ser encerrado. Apesar desse esforço que levou à criação de grupos de pesquisa em vários pontos do país, a maioria deles gerada pelos pesquisadores formados nos núcleos iniciais, os resulta- dos das pesquisas ainda não atingiram os centros de deci- são, nos âmbitos federal, estadual e municipal, para in- fluir decisivamente na preparação e avaliação de currículos, nos projetos de aperfeiçoamento de docentes e nas relações entre os elementos que interagem nas es- colas. Os professores em classe ficam cada vez mais afas- tados tanto do centro de decisões políticas como dos cen- tros de pesquisa. Sem usar as informações de pesquisas prospectivas que coletem dados para evitar esforços e desperdícios, as pro- postas de reforma têm sido irrealistas ou inaceitáveis pe- los professores que finalmente são os responsáveis pelas ocorrências em sala de aula. É tarefa urgente encontrar um meio termo adequado entre os dois extremos: um das organizações centrais trabalhando de forma isolada e ou- tro que deixa a responsabilidade sobre as decisões curri- culares exclusivamente à escola e aos docentes. Se, por um lado, é imprescindível a intensificação das relações entre a escola e a comunidade para a formação de cida- dãos atuantes, por outro, é absurdo ignorar o que têm a dizer os cientistas e pesquisadores e o que se conhece hoje sobre os processos de reforma curricular. Os parâmetros curriculares fartamente distribuídos, na tentativa de produzir mudanças, usaram muito pouco o considerável montante de informações existentes sobre mudanças do ensino de Ciências. Os cientistas e pesqui- sadores foram alijados da produção de documentos que vêm levantando controvérsias entre os especialistas e di- ficuldades para os docentes. Caberá aos cientistas influir colaborando para formular propostas curriculares atua- lizadas, relevantes e realistas, não só indicando as impro- priedades, omissões e propostas discutíveis, mas também propondo linhas de trabalho, sugestões para reformula- ção, mudanças e substituição. Merecem também uma aná- lise detida para uso mais profundo e abrangente dos da- dos obtidos nos inúmeros processos de avaliação empreendidos pelo Inep e pelos sistemas de várias unida- des da federação para que sejam identificados os pontos necessitados de intervenção como orientação para melho- rar o processo educativo em todos os níveis e a confec- ção dos planos nacional e estaduais de educação. Não cabe mais um trabalho isolado, de gabinete dos legisladores oficiais. Ao contrário, será necessário angariar a participa- ção e adesão da sociedade em seus múltiplos segmentos, para que as declarações de intenção propostas não soneguem a
  • 9. 93 REFORMAS E REALIDADE: O CASO DO ENSINO DAS CIÊNCIAS liberdade de ação das instituições, deixando o sistema à mercê dos slogans em voga que refletem as políticas vigentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AAAS – American Association for the Advancement of Science. Project 2061 – Science for all americans. Washington, 1989. ALVES, N. (org.). Múltiplas leituras da nova LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96). Rio de Janeiro, Quality Mark, 1997. BRASIL. Lei n. 4.024 de 20/12/1961: fixa as diretrizes e bases da Educação Nacional. São Paulo, FFCL, 1963. __________ . Diretrizes e bases da educação nacional: Lei n. 5.692, de 11/8/1971, Lei n. 4.024, de 20/12/1961. São Paulo, Imesp, 1981. __________ . Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria do Ensino Fun- damental. Parâmetros curriculares nacionais para o ensino fundamental: documento introdutório. Brasília, MEC, 1995. __________ . Lei n. 9.394 Diretrizes e bases da educação nacional: promulga- da em 20/12/1996. Brasília, Editora do Brasil, 1996. __________ . Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros curriculares na- cionais. Brasília, MEC, v.10, 1997. DUIT, R. e TREAGUST, D. “Learning in science: from behaviourism towards social constructivism and beyond”. International Handbook of Science Education. Boston, Kluwer Academic Publisher, 1998. GROSS, B. e GROSS, R. (eds.). The great schools debate. New York, Simon & Schuster Inc., 1985. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS. Avaliação de concluintes do ensino médio em nove estados, 1997: relató- rio final. Brasília, 1998 (Anexo 2). __________ . Avaliação de concluintes do ensino médio em nove estados, 1997: relatório síntese. Brasília, 1998. KNAPP, M.S. “Between systemic reform and the mathematics and science classroom: the dynamics of innovation, implementation and professional learning”. Review of Educational Research. New York, v.67, n.2, 1997, p.227-226. KRASILCHIK, M. O professor e o currículo das ciências. São Paulo, EPU/Edusp, 1987. PESTANA, M.I. de S. et alii. SAEB 97: primeiros resultados. Brasília, Inep, 1999. TIMPANE, M. e WHITE, L.S. (eds.). “Reforming science, mathematics and technology education”. Higher education and school reform. San Francis- co, Jossey – Bass publishers, 1998.