Este documento apresenta poemas lidos por alunos do 11o ano durante a Semana da Leitura de 2013. Os poemas abordam temas como o mar, a praia, a viagem e o amor. Muitos destacam a beleza, a força e o mistério do mar.
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Antologia de Poesia
1. SEMANA DA LEITURA
2013
Poemas lidos pelos alunos do 11º A 12 de março de 2013
Atividade desenvolvida pela professora
estagiária, Ana Vieira
2. Ler e dizer poesia
1. Compreensão:
Fazer uma primeira leitura silenciosa
Compreender o significado de todas as palavras
Compreender o sentido do poema
2. Articulação:
Treinar a correta articulação de todas as palavras
Obrigada pela tua participação!
Acentuar as repetições, as aliterações e as rimas
3. Entoação:
Respeitar a pontuação
Acentuar as exclamações, as interrogações, as reticências para,
expressivamente, transmitir a emoção, o sentimento, o espanto, a ironia
4. Ritmo:
Respeitar as pausas
Respeitar o ritmo lento ou rápido, de acordo com o texto
3. Sophia de Mello Breyner Andresen Fiama Hasse Pais Brandão
Mar
Viver na Beira-Mar
Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Nunca o mar foi tão ávido
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
quanto a minha boca. Era eu
Que há no vasto clamor da maré cheia, quem o bebia. Quando o mar
Praia no horizonte desaparecia e a areia férvida
Que nunca nenhum bem me satisfez. não tinha fim sob as passadas,
Na luz oscilam os múltiplos e o caos se harmonizava enfim
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia navios com a ordem, eu
Caminho ao longo dos oceanos havia convulsamente
Mais fortes se levantam outra vez, e tão serena bebido o mar.
frios
Que após cada queda caminho para a vida,
As ondas desenrolam os seus
Por uma nova ilusão entontecida.
braços Epístola para Dédalo
E brancas tombam de bruços
Porque deste a teu filho asas de plumagem e cera
E se vou dizendo aos astros o meu mal A praia é longa e lisa sob o se o sol todo-poderoso no alto as desfaria?
vento Não me ouviu, de tão longe, porém pensei que disse:
É porque também tu revoltado e teatral
Saturada de espaços e maresia todos os filhos são Ícaros que vão morrer no mar.
Mar sonoro
Fazes soar a tua dor pelas alturas. Depois regressam, pródigos, ao amor entre o sangue
E para trás de mim fica o dos que eram e dos que são agora, filhos dos filhos.
E se antes de tudo odeio e fujo
murmúrio
Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
O que é impuro, profano e sujo, Das ondas enroladas como
A tua beleza aumenta quando estamos sós
búzios.
ÉEsó porque as tuas ondas a tua voz
tão fundo intimamente são puras.
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
4. António Ramos Rosa Fernando Pessoa
Respiração do mar
Olhando o mar, sonho sem ter de quê
Errantes as palavras, as janelas,
respiração à flor do mar no côncavo da arca Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
ombro imenso que não encerra, todo o espaço Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
como um só corpo onde o vento começa. Mas de se nada ver quanto a alma
sonha!
De que me servem a verdade e a fé? Mar Português
O mar
Ver claro! Quantos, que fatais erramos, Ó mar salgado, quanto do teu sal
Ondas que descansam no seu gesto nupcial Em ruas ou em estradas ou sob ramos, São lágrimas de Portugal!
Temos esta certeza e sempre e em tudo
abrem-se caem Por te cruzarmos, quantas mães
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.
amorosamente sobre os próprios lábios choraram,
e a areia As árvores longínquas da floresta Quantos filhos em vão rezaram!
ancas verdes violetas na violência viva Parecem, por longínquas, 'star em festa.
rumor do ilimite na gravidez da água Quanto acontece porque se não vê! Quantas noivas ficaram por casar
sussurros gritos minerais inércia magnífica Mas do que há pouco ou não há o Para que fosses nosso, ó mar!
volúpia de agonia movimentos de amor mesmo resta. Valeu a pena? Tudo vale a pena
morte em cada onda sublevação inaugural Se a alma não é pequena.
abre-se o corpo que ama na consciência nua Se tive amores? Já não sei se os tive.
e o corpo é o instante nunca mais e sempre Quem ontem fui já hoje em mim não Quem quere passar além do Bojador
ó seios e nuvens que na areia se despenham vive. Tem que passar além da dor.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
ó vento anterior ao vento ó cabeças espumosas Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
E a vida morre enquanto o ser revive.
ó silêncio sobre o estrépito de amorosas explosões Mas nele é que espelhou o céu.
ó eternidade do mar ensimesmado unânime Colhes rosas? Que colhes, se hão de ser
em amor e desamor de anónimos amplexos Motivos coloridos de morrer?
múltiplo e uno nas suas baixelas cintilantes Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
ó mar ó presença ondulada do infinito Se te agrada e tudo é deixar de o haver?
ó retorno incessante da paixão frigidíssima
ó violenta indolência sempre longínqua sempre ausente
ó catedral profunda que desmoronando-se permanece!
5. Ricardo Reis Eugénio de Andrade
Inutilmente Parecemos Grandes Passo e amo e ardo
O mar jaz; gemem em segredo os Passo e amo e ardo.
ventos É urgente o amor
Em Eolo cativos; Água? Brisa? Luz?
Só com as pontas do tridente as É urgente o amor.
Não sei. E tenho pressa:
vastas É urgente um barco no mar.
Águas franze Netuno; Uma Após Uma as Ondas Apressadas levo comigo uma criança
E a praia é alva e cheia de pequenos É urgente destruir certas
Brilhos sob o sol claro. Uma Após Uma que nunca viu o mar. palavras,
Inutilmente parecemos grandes. Uma após uma as ondas apressadas ódio, solidão e crueldade,
Nada, no alheio mundo, Enrolam o seu verde movimento
Nossa vista grandeza reconhece alguns lamentos,
E chiam a alva 'spuma
Ou com razão nos serve. muitas espadas.
No moreno das praias. Na orla do mar
Se aqui de um manso mar meu fundo
indício Uma após uma as nuvens vagarosas Na orla do mar, É urgente inventar alegria,
Três ondas o apagam, Rasgam o seu redondo movimento no rumor do vento, multiplicar os beijos, as searas,
Que me fará o mar que na atra praia E o sol aquece o 'spaço onde esteve a linha é urgente descobrir rosas e rios
Ecoa de Saturno? Do ar entre as nuvens 'scassas. pura do teu rosto e manhãs claras.
ou só pensamento
Indiferente a mim e eu a ela,
- e mora, secreto, Cai o silêncio nos ombros e a luz
A natureza deste dia calmo
Furta pouco ao meu senso intenso, solar, impura, até doer.
De se esvair o tempo. todo o meu desejo - É urgente o amor, é urgente
aí vou colher permanecer.
Só uma vaga pena inconsequente a rosa e a palma.
Pára um momento à porta da minha Onde a pedra é flor,
alma onde o corpo é alma.
E após fitar-me um pouco
Passa, a sorrir de nada.
6. Manuel Alegre José Saramago
Coisa Amar
Contar-te longamente as perigosas Lá no centro do mar
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente. Lá no centro do mar, lá nos confins
Amor ardente. Amor ardente. E mar. onde nascem os ventos, onde o sol
Contar-te longamente as misteriosas sobre as águas doiradas se demora;
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas. Lá no espaço das fontes e verduras,
dos brandos animais, da terra virgem,
Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar. onde cantam as aves naturais:
Contar-te longamente como dói
Meu amor, minha ilha descoberta,
desembarcar nas ilhas misteriosas.
é de longe, da vida naufragada,
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas. Coração polar Aqui a pedra cai com outro som
que descanso nas praias do teu ventre,
Não sei de que cor são os navios enquanto lentamente as mãos do vento,
Quando naufragam no meio dos teus braços
ao passar sobre o peito e as colinas, Aqui a pedra cai com outro som
Sei que há um corpo nunca encontrado algures
no mar porque a água é mais densa, porque o fundo
erguem ondas de fogo em movimento.
E que esse corpo vivo é teu corpo imaterial
tem assento e firmeza sobre os arcos
A tua promessa nos mastros de todos os veleiros
A ilha perfumada das tuas pernas da fornalha da terra.
O teu ventre e conchas e corais
A gruta onde me esperas Aqui reflete o sol, e tange à superfície
Com teus lábios de espuma e de salsugem
uma ruiva canção que o vento espalha.
Os teus naufrágios
E a grande equação do vento e da viagem Nus, na margem, acendemos convulsos
Onde o acaso floresce com seus espelhos
Seus indícios de rosa e descoberta. a fogueira mais alta.
7. Antero de Quental Miguel Torga
Viagem
Oceano Nox
Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro
Junto do mar, que erguia gravemente
Era longe o meu sonho e traiçoeiro
A trágica voz rouca, enquanto o vento
O mar...
Passava como o vôo do pensamento
(Só nos é concedida
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,
Esta vida
Que temos;
Junto do mar sentei-me tristemente,
E é nela que é preciso
Olhando o céu pesado e nevoento,
Procurar
E interroguei, cismando, esse lamento
O velho paraíso
Que saía das coisas, vagamente...
Que perdemos.)
Que inquieto desejo vos tortura,
Prestes, larguei a vela
Seres elementares, força obscura?
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Em volta de que idéia gravitais?
Desmedida,
A revolta imensidão
Mas na imensa extensão, onde se esconde
Transforma dia a dia a embarcação
O Inconsciente imortal, só me responde
Numa errante e alada sepultura...
Um bramido, um queixume, e nada mais...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.