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        UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
          DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
        CAMPUS VII - SENHOR DO BONFIM – BA
   PEDAGOGIA: DOCÊNCIA E GESTÃO NOS PROCESSOS
                    EDUCATIVOS




RESIGNIFICANDO A CULTURA POPULAR




                   Por


         JEANE FERREIRA LOULA




          SENHOR DO BONFIM - BA
                  2010
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         JEANE FERREIRA LOULA




RESIGNIFICANDO A CULTURA POPULAR




           Trabalho Monográfico apresentado à Universidade
           do Estado da Bahia, Departamento de Educação,
           Campus VII como pré-requisito para a conclusão do
           Curso de Pedagogia: Docência e Gestão dos
           Processos Educativos.

           Orientadora: Profª. Msc. Maria Elizabeth Souza
           Gonçalves.




         SENHOR DO BONFIM - BA
                 2010
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         JEANE FERREIRA LOULA




RESIGNIFICANDO A CULTURA POPULAR




       Aprovada em: ____/____/_____




    __________________________________
                Orientadora


    __________________________________
                Avaliador(a)


    __________________________________
                Avaliador(a)
4




A Deus, meu melhor amigo em todos
os momentos.
À minha mãe Helena, meu exemplo de
coragem, luta e amor à vida.
Ao meu pai Delson, pela sua fé,
serenidade, e orações por mim.
Ao    meu   avô   Ademar      Loula   (em
memória) pelo exemplo de caráter e
uma rica história de vida.
Aos    meus    irmãos     Jorge,   Juçara,
Jacira, e meu sobrinho George por
todo apoio e incentivo.
Ao    meu   namorado      Wagner,     pelo
companheirismo e paciência nesse
período de elaboração da monografia.
E a todos os amigos pelo carinho e
atenção.
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                                 AGRADECIMENTOS


      À Universidade do Estado da Bahia – UNEB - Departamento de Educação -
Campus VII – Senhor do Bonfim – Ba, direção, funcionários e aos professores por
nos proporcionarem momentos de interação, aprendizado, contribuindo para o nosso
crescimento acadêmico.


      À professora, orientadora, Maria Elizabeth Souza Gonçalves, pelo exemplo de
profissionalismo, empenho, amizade, e ensinamentos compartilhados durante o
desenvolvimento dessa pesquisa.


      As professoras e direção do Centro Estudantil Fundame, pela colaboração, e
espaço cedido durante a elaboração deste trabalho.


      À minha turma de curso, pelo tempo que Deus nos concedeu de convívio, e
pelas amizades, aprendizado que permanecerão vivas em nossa mente e coração.


      A minha irmã e colega de turma Jacira Lôla, pelo compartilhar das angústias e
alegrias durante todo o curso.


      Minhas amigas e colegas: Amanda, Aurelina, Eliciene, Valci, Viviane, Maisa,
Célia, Jane, e Cristiane Pinto, entre outros pelo apoio e torcida.


      A todos que de alguma forma contribuíram para a conclusão desse trabalho.
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                                          RESUMO

Essa pesquisa tem como objetivo identificar os significados que os professores da Educação
Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental do Centro Estudantil Fundame dão a Cultura
Popular. Esse estudo teve como suporte teórico: Freire (1997), Fávero (1983), Aplle (1997),
Gadotti (2007), Minayo (1994), Nidelcoff (2004), dentre muitos outros que nos auxiliaram a
fundamentar nosso estudo. O paradigma metodológico foi qualitativo, por nos possibilitar
compreender melhor o espaço e a chegar mais próximos aos sujeitos. Os instrumentos de
coleta de dados foram: questionário fechado, observação participante, e a entrevista semi-
estruturada. A partir da utilização desses instrumentos foi possível obter algumas
considerações que indicam que a cultura popular ainda não tem espaço no currículo da
escola, e sim um modelo de cultura hegemônico legitimado pelos meios de comunicação de
massa e pelas políticas neoliberais distante da cultura vivenciada pelos educandos.



Palavras-chave: Cultura Popular. Significados. Professores.
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                              LISTA DE GRÁFICOS



Gráfico 4.1.1. Percentual quanto ao gênero.
Gráfico 4.1.2. Percentual quanto à formação acadêmica.
Gráfico 4.1.3. Percentual quanto à carga-horária de trabalho.
Gráfico 4.1.4. Percentual quanto à renda familiar.
Gráfico 4.1.5. Percentual quanto aos meios de comunicação.
Gráfico 4.1.6. Percentual quanto à definição de cultura popular.
Gráfico 4.1.7. Percentual quanto o trabalho com a cultura popular na escola.
Gráfico 4.1.8. Percentual quanto aos contos populares na escola.
Gráfico 4.1.9. Percentual quanto à utilização dos contos populares.
Gráfico 4.2.1. Percentual sobre os significados da cultura popular.
Gráfico 4.2.2. Percentual sobre a cultura popular na escola.
Gráfico 4.2.3. Percentual sobre os contos populares na escola.
Gráfico 4.2.4. Percentual sobre os significados atribuídos ao folclore.
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                                                    SUMÁRIO


INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
CAPÍTULO I...............................................................................................................12
CAPÍTULO II..............................................................................................................18
       CULTURA POPULAR........................................................................................18
                   2.1. Semelhanças e diferenças da Cultura Popular e Folclore.............21
                    2.2. Contos Populares..........................................................................24
                   2.3. Interpretando Significados.............................................................26
                   2.4. Professor: Formação e Prática......................................................29
                   2.5. Escola e Currículo..........................................................................31
CAPÍTULO III.............................................................................................................34
        METODOLOGIA...............................................................................................34
                   3.1. Tipo de Pesquisa...........................................................................34
                    3.2. Locus da Pesquisa........................................................................35
                   3.3. Sujeito de Pesquisa ......................................................................36
                    3.4. Instrumentos de Coleta de Dados................................................36
                                     3.4.1. Observação Participante.........................................36
                                    3.4.2. Questionário Fechado..............................................37
                                     3.4.3. Entrevista Semi-estruturada....................................37
CAPÍTULO IV.............................................................................................................39
        ANALISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS....................................................39
                    4.1. Perfil dos Sujeitos.........................................................................39
                                4.1.1. Gênero..........................................................................39
                               4.1. 2. Formação Acadêmica...................................................40
                               4.1. 3. Carga-horária de trabalho.............................................41
                                4.1. 4. Renda familiar..............................................................41
                               4.1. 5. Acesso aos meios de comunicação.............................42
                               4.1. 6. Definição de Cultura Popular........................................43
                               4.1. 7. O trabalho com a cultura popular na escola.................44
                               4.1. 8. Trabalho com os contos populares na escola..............44
                                4.1. 9. A utilização dos contos populares pelos professores..45
                    4. 2. Analise da entrevista semi-estrutura............................................45
9



                                4.2. 1. Significados de cultura popular....................................46
                                4.2. 2. Cultura popular na escola............................................48
                              4.2. 3. Contos populares na escola..........................................51
                              4.2. 4. Significados do folclore..................................................54
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................56
REFERÊNCIAS..........................................................................................................57
  ANEXOS..................................................................................................................61
10



                                   INTRODUÇÃO


      Quando falamos de cultura popular, primeiramente nos recordamos dos anos
60, onde se acentuou no Brasil um movimento ideológico contra uma classe
dominante. Nesse movimento, buscava-se o reconhecimento e o espaço para os
movimentos educacionais, sociais, políticos e culturais das classes menos
favorecidas do país. Toda herança cultural proveniente dos vários grupos como
negros, índios e portugueses, formaram assim um país multicultural, porém, ainda
permanece na sociedade um modelo hegemônico de cultura.


      A cultura popular dentro do contexto educacional visa integrar os
conhecimento e realidade dos alunos, sua vivencia local, valorizando as diferenças
tanto de raça, cor, gênero, como também as ações produzidas pelos grupos
culturais em diferentes épocas, buscando assim uma cultura onde o povo seja
protagonista de sua história.


      Dessa forma, no primeiro capítulo deste trabalho, abordamos sobre os
conceitos de cultura e cultura popular e a relação da mesma com os sujeitos das
instituições escolares.


      No segundo capítulo, apresentamos um referencial teórico enfocando a
cultura popular dentro da sociedade e do sistema educacional, como também as
disparidades entre cultura popular e folclore. Dando seqüência, discorremos sobre o
professor e sua prática e a escola e o currículo nela inserido, bem como a sua
relação com a cultura popular.


      O paradigma metodológico foi à discussão travada no terceiro capítulo, bem
como uma descrição dos sujeitos e do locus a serem pesquisados. Abordamos
também sobre os instrumentos de coleta de dados que foram utilizados e que
auxiliou a presente pesquisa.


      No quarto capitulo, apresentamos a analise e interpretação dos resultados,
refletindo sobre os significados que os professores atribuem à cultura popular, frente
11



aos discursos dos autores que nos deram suporte para chegarmos às considerações
apresentadas.


      Por fim, destacamos que é relevante se pensar a formação e a prática dos
professores, associado aos elementos da cultura popular, visto que a compreensão
e a significação dos mesmos sobre a cultura popular ainda se apresenta limitada.
12



                                    CAPITULO I


       Estamos inseridos numa aldeia global, numa época pós-moderna, que inventa
desejos, dita regras de comportamento, muitas vezes de forma mascarada utilizando
como alguns dos recursos os meios de comunicação de massa, impondo uma
cultura imperialista, de elite. Conforme a abordagem de Sevcenko (1999)
acompanhar o progresso significa somente uma coisa: Alinhar-se com os padrões e
o ritmo de desdobramento da economia européia. O autor ainda traz uma reflexão
sobre o modelo europeu de sociedade, sua economia capitalista que busca a
massificação e auxilia na dinâmica incontrolável do capitalismo e da hegemonia
cultural.


       Comungando com a abordagem de Sevcenko, Silva (1997) destaca:


                      Estamos       impregnados      no       cotidiano contemporâneo
                     pela maravilhosa comunicação e pela perigosa massificação,
                     referente à globalização que toma todo nosso planeta, impondo aos
                     mais “frágeis” a cultura dos mais “fortes”. (p.36)


       Apesar da palavra “globalização” ser aparentemente nova e moderna, já
vivíamos essa mesma globalização há séculos, as relações de dominação em que
nos colonizaram e nos mantiveram cativos durante décadas. O que se difere é a
maneira como essa nova “globalização” tem se apresentado, de forma atrativa, com
linguagens simbólicas e instrumentais, objetivado nos adestrar, impondo uma
“cultura” de conformidade e adequação aos padrões selecionados por este sistema
capitalista, em todas as esferas da sociedade desde as mais comuns até as mais
elevadas áreas.


       Apesar de todos os apelos e modismos referentes a essa cultura elitizada,
existem também criticas a esse modelo massificador. Desde os séculos XVII e inicio
do século XX, os discursos e debates buscando definições e compreensões sobre a
cultura foram bem acentuados em alguns países da Europa, principalmente na
França. Mesmo não existindo um conceito totalmente definido, o que conhecemos
13



em nossos dias foi apresentado pela primeira vez pelo francês Tylor (LARRAIA,
2000).
                       [...] No vocábulo inglês culture que tomando em seu amplo sentido
                       etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças,
                       arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos
                       adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
                       (LARRAIA, 2000 p. 25)



         Até se chegar a este primeiro conceito, Larraia (2000) discute que Tylor
sistematizou as questões que já vinham sendo discutidas por outros pesquisadores
e ganhando legitimidade durante suas pesquisas. Neste sentido, a cultura se
apresenta como sendo a capacidade de cada individuo se expressar, criar, recriar,
aprender e interagir uns com os outros.


         Sobre isso Brandão (1980) diz:


                       Cultura é um conjunto diverso, múltiplo de maneiras de produzir
                       sentido, uma infinidade de formas de ser, de viver, de pensar, de
                       sentir, de falar, de produzir e expressar saberes, não existindo, por
                       conta disso, uma só cultura, ou culturas mais ricas ou evoluídas que
                       outras tão pouco, gente ou povos sem cultura. (p.36)


         Assim, entende-se cultura como tudo aquilo que é feito pelo homem, ou seja,
há uma transformação do meio social, por cada ser humano, pois este se difere dos
demais animais pelo conhecimento e entendimento mental, capaz de modificar seu
ambiente.


         Para Fávero (1983) cultura é um:


                       [...] processo histórico (e, portanto de natureza dialética) pelo qual o
                       homem em relação ativa (conhecimento e ação) com o mundo e
                       com os outros homens, transforma a natureza e se transforma a si
                       mesmo, construindo um mundo qualitativamente novo de
                       significações, valores e obras humanas e realizando-se como
                       homem neste mundo humano. (p.16)


         Nesse sentido, o homem vive neste processo de desenvolvimento onde
transforma a sua comunidade, meio social, seu mundo. Por sua vez, Morin (1999)
14



aborda cultura como um conjunto de regras, normas, proibições, estratégias, idéias,
que se transmite de geração em geração, e em diferentes épocas e sociedades,
onde o homem é o responsável pela propagação de sua cultura.


      Compactuando com essa mesma opinião Arantes (1982):


                     Todas as ações humanas sejam na esfera do trabalho, das relações
                     conjugais, da produção econômica ou artística, do sexo, da religião,
                     das formas de dominação e de solidariedade, estão constituídas
                     segundo os códigos, as convenções simbólicas que denominamos
                     cultura. (p.34)


      Com isso, a cultura legitima todos os códigos, valores e regras produzidos em
uma sociedade, tornado-a conhecida e reconhecida pelos indivíduos de outras
culturas. Segundo Burke (1989), cultura é “um sistema de significados, atitudes e
valores compartilhados, e as formas simbólicas (apresentações e artefatos) nas
quais eles se expressam ou se incorporam” (p.21).


      Mesmo diante das várias concepções atribuídas a cultura, ela ainda é uma
questão bem complexa em nossos dias atuais. Mais de quinhentos anos após o
descobrimento do Brasil, ainda vivemos sob o julgo e os ranços das relações de
dominação, de poder, herdados da colonização; e atualmente estamos subordinados
ao “mundo” da tecnologia, pois ao passo que nos faz avançar enquanto povos
“modernos”, também nos mantêm presos e dependentes desse sistema dominante.


      Vivemos em constante deslocamento enquanto identidade nacional, enquanto
cidadãos, sujeitos e criadores de expressões e manifestações culturais, em meio a
uma pluralidade de diferenças, de toda ordem, que constituem o dissenso
característico da pós-modernidade. Não basta apenas ser receptores de uma
Indústria Cultural, e sim agentes que participam e produzem diuturnamente cultura,
se firmando como construtores de cultura popular.


      Para Arantes (1982):

                     [...] “cultura popular” surge como uma “outra” cultura que, por
                     contraste ao saber culto dominante, apresenta-se como “totalidade”
15



                     embora sendo, na verdade, construído através da justaposição de
                     elementos residuais e fragmentários, considerados resistentes a um
                     processo “natural” de deteriorização. (p18)


      Buscando entender a cultura popular, quase sempre atrelada a questões
políticas e de dominação, estudiosos discutiram, divergiram e trouxeram reflexões
sobre a cultura popular; porém, apesar de todos os estudos realizados com o
objetivo de conceituá-la, ela ainda está distante de ser um conceito bem definido
pelas ciências humanas e sociais. Alguns autores atribuem à cultura popular
também como sendo religiosidade ou folclore, porém ela é muito mais que isso, é a
vivencia, significado, atitudes e valores do povo. Entendemos, pois, cultura popular
como aquela produzida pelos vários sujeitos que compõem os tantos arranjos
sociais desse imenso Brasil, confrontando-se especialmente com aquele modelo de
cultura generalizante que caracteriza a cultura de massa.


      Os movimentos relacionados à cultura popular foram bem evidenciados em
países da América Latina, e veio ganhando força até chegar aqui em nosso país,
onde as primeiras reflexões e expressões sobre essa cultura, surgiram na década de
60. Este período foi marcado pelos questionamentos, pela criatividade, pela
inquietação de se entender como cidadão brasileiro, buscando compreender a
relação da cultura popular com os acontecimentos até então realizados, como a
revolução brasileira e outros movimentos que estavam surgindo nesse contexto.


      Fávero (1983) definiu a cultura popular neste período como:


                     [...] o que se denominou cultura popular, que se definiu e que se
                     defendeu ora como um instrumento de luta política em favor das
                     classes populares, surgiu fazendo a critica não apenas da maneira
                     como se pensava “folclórica”, “ingênua” a cultura do povo brasileiro,
                     mas também e principalmente os usos políticos de dominação e
                     alienação da consciência das classes populares, através de
                     símbolos e dos aparelhos de produção de “uma cultura brasileira”,
                     ela mesma colonizada, depois internamente colonialista. (p.9)


      Neste período, houve um despertar em prol do fortalecimento das lutas
populares, através da conscientização e participação do povo, no sentido de ter um
olhar, mais minucioso e questionador com relação às questões de organização das
16



classes populares. Aliado a isso, aconteceu denuncias quanto à elitização da
educação. A mesma ganhou apoio e força através das idéias de Paulo Freire e sua
busca por uma educação contextualizada. Fávero (1983) destaca o que se pretendia
com a cultura popular, “Transformar a cultura brasileira e, através dela, pelas mãos
do povo, transformar a ordem das relações de poder e a própria vida do país”. (p.9).
Assim, buscava-se um governo de fato democrático, onde todos pudessem
participar, de forma atuante, das ações em prol do reconhecimento dos movimentos
sociais realizados pelas classes menos favorecidas, denominada assim como
cultura popular. Como ressalta Gullar (1965):

                       A expressão “cultura popular” surge como uma denuncia dos
                      conceitos culturais em voga que buscam esconder o seu caráter de
                      classe. Quando se fala em cultura popular acentua-se a
                      necessidade de pôr a cultura a serviço do povo, isto é, dos
                      interesses efetivos do país. (p.1)



      Apesar de todas as investidas no sentido de transformar a cultura brasileira
nos anos 60, ainda vivemos hoje, numa busca constante de reconhecimento da
cultura popular. Percebemos que ela já tem se apresentado na sociedade de várias
formas, porém, a mesma ainda permanece em muitos ambientes educacionais e em
outras esferas da sociedade, camuflada por questões cientificas, sociais e políticas.
Ainda assim, é pertinente ressaltar que esta cultura se mantém rica, diversificada e
viva nas diferentes formas de saber e viver de cada indivíduo.

      Atualmente, vivemos nesse contexto cheio de todos os tipos de informações,
onde a cultura precisa ser bem compreendida, assumida, no sentido de estar a favor
do povo, e feita pelo povo. Deste modo, é pertinente pensar na escola enquanto
espaço privilegiado de pluralidade de saberes, de histórias, sentidos, capazes de
tornarem o aprendizado mais dinâmico, reforçando os instrumentos de valores para
se viver em grupo. Conforme Freire (1984):


                      [...] a educação ou ação cultural para a libertação, em lugar de ser
                      aquela alienante transferência de conhecimento, é o autentico ato
                      de conhecer, em que os educados – também educadores – como
                      consciências “intencionadas” ao mundo, ou como corpos
                      conscientes, se inserem com os educadores – educando também –
17



                     na busca de novos conhecimentos, como conseqüência do ato de
                     reconhecer o conhecimento existente. (p.99)


      Nesse contexto, a escola é esse ambiente onde existe uma infinidade de
linguagens, e a ação de educar deverá ser um instrumento sustentador de valores,
de forma humanizante e significativa, contribuindo para o fortalecimento das
relações sociais, onde a cultura popular pode se constitui esse veículo relevante na
construção de identidade nacional.


      A cidade de Senhor do Bonfim é um cenário rico da cultura popular. Aqui há
um patrimônio cultural diverso que caracteriza sua origem e história. Neste sentido,
as escolas deverão ser aliadas nesta busca significativa das manifestações
populares da nossa cidade, a partir das relações de convivência em grupos, nas
danças, contos populares, artes, músicas, enfim, nos modos de resistência em que
surgiram as relações em sociedade.

      Diante disso, procurou-se fazer uma reflexão sobre a cultura popular, através
dos discursos dos professores e os significados que os mesmos atribuem a ela.
Surge, portanto, a questão de pesquisa: Quais os significados que os professores da
Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental do Centro Estudantil
Fundame dão à cultura popular?


      Tendo como objetivo identificar os significados que os professores da
Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental do Centro Estudantil
Fundame dão à cultura popular.
18



                                    CAPITULO II


                                CULTURA POPULAR


       A cultura popular surge no Brasil como um movimento ideológico contra uma
classe dominante, buscando espaço para os movimentos sociais, políticos,
educacionais e culturais das classes menos favorecidas da sociedade brasileira.
Como pontua Gullar (1965) “A cultura popular é, em suma, a tomada de consciência
da realidade brasileira”.


       Essa cultura “prega”, de certo modo, a libertação do sistema opressor,
buscando espaço e respeito pelas manifestações e pelas reivindicações do povo,
enquanto cidadão, que deve gozar dos mesmos direitos e deveres referentes ao
convívio em comunidade.


       Conforme Fávero (1983):


                       Todos os tipos de comunidade que o homem possa construir serão
                       considerados comunidades naturais, num sentido amplo, dado que o
                       homem também é um ser de natureza. Mas, não é enquanto
                       comunidade de seres da natureza que uma comunidade torna-se
                       realmente uma comunidade humana, formada por pessoas, e não
                       simplesmente uma associação natural forçada pelas necessidades
                       exclusivamente vitais. Uma comunidade humana só se faz sentir em
                       razão da capacidade que o homem tem, através do conhecimento e
                       da ação, de transformar o mundo natural em mundo de cultura.
                       (p15)



       Neste sentido, percebem-se como os humanos são capazes de modificar o
ambiente. Essa capacidade é possível pelo conhecimento, e pela ação de
mobilização em favor dos interesses.


       O Brasil é um país marcado pela diversidade cultural, herdada dos africanos,
índios e portugueses, que contribuíram para fazer desse país uma terra de culturas
variadas, onde cada grupo ou raça deixou suas marcas, nas diversas áreas, tanto
com seus costumes, manifestações artísticas, culturais, na culinária, religiosidade e
crendices que nos fizeram ser um povo plural e heterogêneo.
19



      Como afirma Freire (2003):


                      Somos no plural, temos várias culturas populares, um universo tão
                     rico que, mesmo submetido ao mundo globalizado que impõe uma
                     cultura de massa, como uma colonização cultural, podemos
                     observar que estamos vivendo um re-viver de nossas raízes.(p.65)


      Essa mistura de raça e cultura, que faz parte da sociedade, enriquecida
enquanto nação “plural” foi durante muito tempo à causa de muitas injustiças, como
a escravidão dos negros e exploração dos índios pelos brancos, pois alguns povos
se achavam superiores a outros, usando como critério a cor da pele e outros
artifícios sem justificativas plausíveis e desumanos. Por serem produtores das
narrativas, o grupo que fazia parte da cultura que domina, escreveu a história pelos
olhos colonizadores de dominação, passando a versão da história como verdade
absoluta. Nesse aspecto, Novaes (1984), faz uma crítica a essa cultura e os meios
de comunicação que sempre buscaram impor sua ideologia.


                      [...] a ideologia dominante – mesmo não sendo a única em, um
                     sistema capitalista – é a que se impõe, através dos mecanismos de
                     dominação (educação, religião, costumes, meios de comunicação).
                     Assim, a maneira como a classe dominante age será a maneira
                     como todos os membros da sociedade irão agir e pensar.
                     (NOVAES, 1984, p. 183)



      Com isso, percebemos que ainda existe uma tradição, onde se seleciona o
conhecimento específico apenas de pequenos grupos, tornando-se assim, o
conhecimento oficial, característico das relações de poder, que envolvem as
políticas de controle do conhecimento público de maneira simbólica.


      Contrapondo todas as formas de dominação imposta pela ideologia da cultura
dominante, a cultura popular provocou mudanças em várias áreas, fazendo surgir
discussões   e   reflexões,   objetivando   reconhecer   essa    cultura,   até   então
desvalorizada pelos que detinham o poder e pelas elites. A mesma não se moldava
a “cultura de elite”, mas sim, propagava-se como cultura popular, a que nasce do
modo de vida do povo, dos seus costumes, dos princípios e das tradições.
20



       Buscando compreender a cultura popular, Brandão (2002) destaca que:


                       Cultura popular, como cultura dinâmica, presente no meio rural e
                       urbano, que junta tradição e atualidade sempre em transformação,
                       um encontro entre tempos e espaços, com essência de brasilidade,
                       juntando o local com o global, o velho e o novo, completando um
                       com o poder do outro. (p.29)



       Assim, precisa compreender que a cultura popular se faz presente nas ações
diárias, no modo como lidamos com os semelhantes, os códigos e regras que regem
o sistema de conduta, das mais simples ações, como correr, andar, expressar,
enfim, nas várias formas de ser e agir. Ainda, explicando sobre a cultura popular,
Fávero (1983) diz:


                       É popular a cultura quando é comunicável ao povo, isto é,
                       quando suas significações, valores, idéias, obras, são destinadas
                       efetivamente ao povo e respondem às exigências de realização
                       humana em determinada época; em suma, à sua consciência
                       histórica real. (p.23)


       Contudo, a cultura será popular, a partir do momento que o sujeito se
entender como autor da sua própria criação cultural e da sua história, de forma que
traga significado pra sua vida, através das ações produzidas pelos indivíduos. Isso
favorece recursos para o reconhecimento da identidade, enquanto etnia, língua e
grupo social.


       A cultura, e em especial a cultura popular, dá sentido à vida, na medida em
que o homem é capaz de se comunicar e interagir com o seu grupo, pela própria
maneira de ser, de forma que venha reconhecer sua origem e valorizar a noção de
pertencimento. Por conseguinte, muitos discursos surgiram em defesa da cultura
popular, ou contra ela, porém é pertinente salientar que ela não veio substituir a
cultura já existente, mas ressignificá-la.


       Estevam (1963) pontua que:


                       A cultura popular não é mais que uma reforma, mas uma reforma
                       de sentido revolucionário porque sabe unir dialeticamente a
                       possibilidade imediata ao objetivo final e porque assume como
21



                       objetivo final a transformação material da sociedade. Ela não é o
                       que será a nossa cultura, não é a solução ideal da questão cultural
                       brasileira, mais um encaminhamento de resolução mais estratégico
                       que qualquer outro. (p. 37)


      O autor, ainda defende a cultura popular, ressaltando o seu valor por saber
unir vários elementos que podem encaminhar um processo de amadurecimento e
fortalecimento das relações em sociedade. Como esclarece Canclini (1983) “Cultura
popular são práticas e formas de pensamento que os setores populares criam por
sim próprios, mediante as quais concebem e expressam sua realidade”. (p.41).

      Era fácil reconhecer a cultura popular, antes da revolução urbanística, pois
representava todas as formas espontâneas mantidas pelo povo, em consonância
com a tradição oral, livre e participativa. Porém, depois do novo modelo de
sociedade, esses tipos de manifestações acabaram entrando no esquecimento por
alguns setores e também passou a ser descriminada pela cultura de massa.
Surgiram assim, novos discursos em defesa dessa cultura. Todavia, mesmo com
essas ações em prol da cultura popular, ela ainda se apresentou e permaneceu
fragilizada durante muito tempo, e ainda em nossos dias, alguns a atribuem somente
ao folclore e manifestações admiráveis, expectantes, limitando o seu real significado.


      Assim, muitos debates têm acontecido em vários setores da sociedade em
favor do reconhecimento da cultura popular, sobre o seu papel na educação e
formação dos alunos.


2.1. Semelhanças e diferenças da Cultura Popular e Folclore


      O folclore é um dos instrumentos da cultura popular, talvez um dos mais
aceitos no espaço escolar, porém com algumas ressalvas, haja vista, que alguns
acabam atribuindo a cultura popular somente ao folclore. Os estudos e discussões
sobre o folclore surgiram dos movimentos em todos os países da Europa, reunido
pensadores, desde o século XVII, onde eram observados os costumes, a oralidade
do povo, se colecionavam objetos e outras fontes de história para que se pudesse
compreender o significado do folclore. Como pontua Romero (1954), um dos
grandes folcloristas brasileiro, a palavra folclore é de origem inglesa, folk-lore que
22



significa (saber do povo), ou seja, é o conjunto de tradições e crenças dos indivíduos
que vivem em cultura.


      Com isso, o folclore representa as formas de conhecimento do povo, suas
expressões e as manifestações artísticas, obras confeccionadas pelo povo em uma
sociedade e comunidade e que faz parte e enriquece a cultura popular.


      Nesse sentido, a cultura popular é por alguns, confundida com o folclore,
como reforça Arantes (1982), um grande número de autores pensa a “cultura
popular” como “folclore”, ou seja, como um conjunto de objetos, práticas e
concepções (sobretudo religiosas e estéticas) consideradas “tradicionais”. Essa
visão é compartilhada por muitos, por estar muita vezes, presentes em livros
didáticos e nos discursos de muitos intelectuais dessa área. É necessário, portanto,
a revisão desse olhar fragmentário e generalizante, porém não neutro.


      Cavalcanti (1978) compreender o folclore como:


                      [...] a idéia de folclore designa muito simplesmente as formas de
                      conhecimento expressas nas criações culturais dos diversos grupos
                      da sociedade. Difícil dizer onde começa e onde termina o folclore, e
                      muita tinta já correu na busca de definir os limites de uma idéia tão
                      extensa. (p.21)



      Por conseguinte, a trajetória de estudos sobre o folclore no Brasil, teve, além
de Sílvio Romero (1851-1914), outro grande nome como: Mario de Andrade (1893-
1945) que atribuía ao folclore, à expressão da nossa brasilidade, ocupando um lugar
decisivo na formação de um ideal de cultura popular. Na década de 50, intensificou o
movimento do folclore, com outros grandes nomes como: Gilberto Freire (1900 –
1987), Cecília Meireles (1901-1964) Câmara Cascudo (1898 - 1986), que
contribuíram com uma nova perspectiva em torno dos estudos sobre o folclore.


      Cascudo (2002) dividiu seu estudo sobre o folclore em três fases: Colheita,
confronto e pesquisa de origem. Com o objetivo de reunir e registrar as fontes do
folclore tanto nas cidades quanto na zona rural. O próprio ator pontua o que mais lhe
chamou atenção no folclore: “Apaixonou, maiormente o folclore musical, a literatura
23



oral. Usos, costumes, gestos, modismos, indumentárias, os complexos sociais, têm
despertado atenção muito pobre”. (p.11).


      Cavalcanti (1978) contribui dizendo que:


                      [...] a noção de folclore não está dada na realidade das coisas. Ela é
                     construída historicamente e, portanto, a compreensão do que é ou
                     não folclore varia ao longo do tempo... No Brasil, os estudos de
                     folclore incidiam basicamente sobre a literatura oral, depois veio o
                     interesse pela música, e mais tarde ainda... O campo se amplia com
                     a abordagem dos folguedos populares. (p.21)


      Houve no período pós-guerra, uma movimentação em torno do folclore.
Existia assim, uma comissão nacional do folclore que tinha total apoio da UNESCO
(Organização das Nações Unidas), pois entendia o folclore como sendo um veiculo
em favor da paz mundial, por promover e incentivar o respeito às diferenças entre as
nações.


      Percebe-se, o quanto o folclore é importante, e o quanto muitos autores
assemelha o entendimento de cultura popular a folclore. Pontuamos, no entanto, que
os aspectos do folclore são relevantes para a construção da identidade, enquanto
indivíduos e cidadãos brasileiros, quando vivenciados neste universo colorido que é
a cultura popular, onde a mesma conta com este rico recurso que é o folclore, para
abrilhantar ainda mais esse espetáculo de cor e beleza, que fazem parte do grande
cenário da cultura popular brasileira e por não dizer mundial. No entanto, o mesmo
não pode ser confundido com cultura popular, mas como elemento integrante desta,
uma vez que, essa “confusão” de significados, acaba por legitimar os interesses
hegemônicos que apresentam a cultura de massa como algo sempre novo, vivo e
dinâmico, em contrapartida à cultura popular como saberes ultrapassados, a ser
lembrados superficialmente pelos setores da sociedade em datas comemorativas.
24



2.2. Contos Populares


      Percebemos o quanto à cultura popular é diversificada em seus estilos e
dimensões, que está presente tanto no campo como nas cidades, juntando o
tradicional e o atual, sempre se modificando. Somando assim, o local e o global, a
escrita e a oralidade. Neste aspecto, a tradição oral está bem presente com seu
encanto e a criatividade do povo, que tem chagado até os nossos dias através da
tradução em livros de muitos contos e também pela forma de contar os contos
populares.


      Refletindo com Freire (2003):


                     Quando falamos de cultura popular estamos nos referindo não
                     apenas às manifestações festivas e as tradições orais e religiosas
                     do povo brasileiro, mas ao conjunto de suas criações, às maneiras
                     como se organiza e se expressa aos significados e valores que
                     atribui ao que faz. (p.53)


      Para Freire, somos agentes de cultura. Ouvimos, contamos nossas histórias,
saberes, versos, expressões, criações artísticas, e isso não nos foram ensinado
especialmente pela TV, internet ou outro tipo de tecnologia. Esse conhecimento nos
foi possível pela vivencia com diferentes saberes, durante os anos de nossas vidas e
que são passados de geração a geração, através da tradição oral, presente nos
contos populares e em todas as formas e recursos presentes na cultura popular.


      Conforme Sousa e Souza (2008):


                     A tradição oral pode ser vista como uma cacimba de ensinamentos,
                     saberes que veiculam e auxiliam homens e mulheres, crianças,
                     adultos, / velhos/ a se integrarem no campo e nas tradições. Sem
                     poder ser esquecida ou desconsiderada, a oralidade é uma forma
                     encarnada de registro, tão complexa quanto à escrita, que se utiliza
                     de gestos, da retórica, de improvisações, de canções épicas e líricas
                     e de danças como modos de expressão. (p.155)


      Os contos populares são cercados de todo um encantamento capaz de
provocar nos seus ouvintes um momento de prazer e envolvimento, onde a sua
mente será um palco de personagens com seus vários significados.
25



      Conforme Sousa e Souza (2008):


                     As narrativas orais expressam hábitos e valores cujo
                     compartilhamento se dá no ambiente familiar, religioso, comunitário,
                     escolar. Todo este patrimônio está no corpo e na mente das
                     pessoas, onde quer que elas estejam. (p.156)


      A tradição de contar história vem desde os nossos antepassados, e nos
acompanha até os dias atuais. Mesmo com todos os recursos áudios visuais, as
crianças ainda são estimuladas por alguns adultos, a quererem ouvir e viajar através
da beleza das narrativas, se identificando aos diferentes tipos de personagens, e
despertando para vários sentimentos.


      Como afirma Abramovich (1995) “É ouvindo histórias que se pode sentir
emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a
alegria a insegurança, a tranqüilidade e tantas outras mais”. (p.42). Assim, os
ouvintes se identificam com os personagens, e buscam interpretar as ações
ocorridas nas histórias, dando vida aos mesmos, através da imaginação.


      Já para Cascudo (2002):


                     Conto popular é a estória de trancoso, conto de fadas,
                     da carochinha, etc. É de importância capital como expressão de
                     psicologia coletiva no quadro da literatura oral de um país. As várias
                     modalidades do conto, os processos de transmissão, adaptação,
                     narração, os auxílios da mímica, entonação, o nível intelectual do
                     auditório, sua recepção, reação e projeção determinam o valor
                     supremo como um dos mais expressivos índices intelectuais
                     populares. (p.303)



      As narrativas orais vêm desde muito antes das narrativas escritas, e
permanecem vivas em nossos dias, principalmente em algumas tribos indígenas,
que perpetuam essa forma de transmissão oral, onde a história de seus
antepassados e outras histórias criadas com personagens de bichos, como formas
de entreter os membros de suas comunidades são transmitidas às novas gerações.
26



       Conforme Sousa e Souza (2008):


                       [...] Os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam
                       um sistema de escrita, mas garantiram a conservação e
                       continuidade dos conhecimentos acumulados, das histórias
                       passadas e, também, das narrativas que sua tradição criou, através
                       da tradição oral. (p.90)


       As histórias, oriundas da tradição oral indígena, africanas e européias, e
também das manifestações culturais, estão presentes nas músicas, danças,
brincadeiras, festas populares. O Brasil tornou-se um país cultural, rico e criativo
artisticamente, onde muitas dessas manifestações se mantiveram firmes mesmo em
meio à desvalorização e descrédito por alguns integrantes da elite.


2.3. Interpretando os Significados


       Através dos estudos e aprendizagem sobre a cultura popular, o homem se
percebe como sujeito crítico e ativo da própria criação cultural, através da
conscientização sobre os valores éticos e morais da sociedade, de forma
significativa. Conforme Bueno (1985), Significado ou significar tem a seguinte
tradução “significação, equivalente de uma palavra, sinônimo, ter o sentido de,
exprimir, querer dizer, ser sinal de, denotar, dar a entender, mostrar, se constituir,
traduzir-se, notificar, expressar, participar” (p.1052)


       Saussure (2006, apud JAPIASSÚ e MARCONDES, 1990) conceitua
significado como sinônimo de conceito. Com efeito, o signo lingüístico, tal como ele
o concebe é o resultado da combinação de um significante e significado, ou numa
outra formulação de uma imagem acústica de um conceito. Para ele signo é o
mesmo que conceito e significado.


       Em filosofia da linguagem, a teoria do significado examina os vários aspectos
de compreensão das palavras e expressões lingüísticas e dos signos, em geral
essas compreensões estão expressas em Japiassú e Marcondes (1990): “um
desses aspectos centrais é a relação de referencia, que é um dos elementos
constitutivos do significado”. (p.37).
27



      Outros autores, como Quine (1996), ressaltou sobre a relevância do
significado não só a partir de uma sentença ou expressão lingüística de forma solta
ou isolada, mas de significação da linguagem de forma total.


      Burke (2003) Pontua:


                     O significado de alguma coisa para o individuo é sempre a
                     assimilação dessa coisa, às estruturas que formam seu universo
                     mental. A rigor, portanto, há tantos significados para um mesmo
                     objeto quanto são os indivíduos que tiveram tido contato com ele, e
                     os significados serão, também, sempre mais ou menos móveis para
                     cada individuo. (p.31)



      Assim, cada educador e cada educando, tem seu significado, de forma
singular. Todos têm sua própria compreensão sobre diferentes realidades. Deste
modo, a cultura popular se apresenta através da contextualização desses saberes
em sala de aula, que surgirão então, conhecimentos significativos para a vida de
cada aluno e da sua comunidade, respeitando a diversidade e promovendo um
respeito pelas diferenças, enriquecendo as relações sociais.


      Como destaca Silva (1995):


                     [...] É através dos significados contidos nos diferentes discursos, que
                     o mundo social é representado e conhecido de certa forma, de uma
                     bastante particular, é que o eu é produzido. E essa ‘forma particular’
                     é determinada precisamente por relação de poder [...] Os
                     significados carregam a marca do poder que os produziu. (p.199)


      Deste modo, percebemos o quanto é importante que o professor se perceba
enquanto sujeito responsável em transmitir e vivenciar valores culturais, de forma
que venha contribuir para formação crítica e reflexiva de seus alunos, por
conseguinte, possa atribuir significado a todas as ações e discursos que venham a
ocorrer em sua sociedade.


      Sacristan e Gomes (1990) abordam o tipo de aprendizagem que é
fundamentalmente significativa, ou seja, não é algo por acaso. Tem um propósito,
uma finalidade que é despertar nos discentes a descoberta do novo, de forma
28



consciente, criativa e crítica, buscando novos significados ou sentidos de valores
para a vida em sociedade. Conforme os mesmos autores:


                     A essência da aprendizagem significativa reside em que às idéias
                     expressas simbolicamente são relacionadas de modo não-arbitrário,
                     mas substancial com que o aluno já sabe. O material que aprende é
                     potencialmente    significativo para   ele.   (SACRISTAN       E
                     GOMES,1990, p.57).


      Desta forma, para que o professor possa desenvolver em seus discentes uma
aprendizagem significativa, é necessária uma vinculação de novas idéias, formas,
conceitos, troca de conhecimentos, dinamismo, onde o mesmo possa promover um
intercambio de saberes com a turma, sobre a cultura popular e seus reais
significados, de maneira que cada um se perceba enquanto agente e participante de
sua cultura, através do respeito entre esses sujeitos. “Somente uma relação que
respeite a pessoa, ou seja, uma relação de pessoa a pessoa, pode salvar dois dos
extremos opostos” (GADOTTI, 2007, p.66). Neste aspecto, o professor é o mediador
dessa relação. Cabe, pois, a ele provocar a construção de uma educação mais
participativa e transformadora, onde os alunos se vejam como protagonistas de suas
histórias, através das produções e saberes vivenciados em seu dia-a-dia.


      Como afirma Vygotsky (1985):


                     É no significado que se encontra a unidade das suas funções
                     básicas da linguagem: o intercâmbio social e o pensamento
                     generalizante. São os significados que vão propiciar a medição
                     simbólica entre o individuo e o mundo real, constituindo-se no “filtro”
                     através do qual o individuo é capaz de compreender o mundo e agir
                     sobre ele. (p.81)


      Percebemos que os significados são estabelecidos pelo uso, pelos costumes
e assimilações, e neste sentido se faz necessário que o professor se perceba
enquanto individuo que compreenda seu papel em face à diversidade cultural
existente na escola e nos demais seguimentos da sociedade.
29



2.4. O professor: Formação e Prática



      A função do professor vai além de sua formação acadêmica. Não se limita
apenas a formar seus alunos nas séries exigidas no currículo, mas perpassa por
uma ação que vai além das disciplinas. Busca provocar em cada individuo um
despertar para a escola da vida, através de uma prática crítica e reflexiva. Como
pontua Alves (1989) sobre a função do professor, “É aquele que educa que realiza
seu trabalho com intuito de mudar a sociedade, pois possui ideologia e se torna
insubstituível, fazendo diferença na sociedade” (p.54). Com isso, é necessário que o
professor perceba seu papel em meio à diversidade cultural, presente no contexto
escolar, buscando realizar um aprendizado, através dos saberes e vivência de cada
aluno, num intercâmbio de conhecimento, num ensino - aprender.


      Como destaca Freire (1997)


                     É preciso que, desde o começo do processo, vá ficando bem claro
                     que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao
                     formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É nesse
                     sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem
                     formar é a ação pela qual um sujeito criador dar forma, estilo ou
                     alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem
                     discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das
                     diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto,
                     um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende
                     ensina ao aprender. (p.25)



      Neste sentido, para que a prática do professor em sala de aula promova esse
intercâmbio de ensinar e aprender, é preciso que o mesmo busque investir em sua
formação, no sentido de estar sempre refletindo sobre as suas ações. Conforme
Freire (1997, p.47) “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se
pode melhorar a próxima prática”. Deste modo, o professor deve sempre melhorar e
aprimorar sua prática, uma vez que, a educação e a sociedade estão em constante
transformação. Comungando com este mesmo pensamento Nóvoa (1999) afirma:


                     Há uma diferença fundamental entre se formar e formar-se. Até hoje
                     os professores tem sido formados por grupos profissionais diversos,
                     sem que as suas próprias experiências tenham alguma vez sido
                     valorizadas. É tempo de os professores pensarem em formar-se,
30



                      assinalando-se as dimensões pessoais (o eu individuo) e as
                      dimensões profissionais (o eu coletivo) nos quais este processo
                      deve alicerçar-se. (p.39)



      O autor, busca despertar no professor uma reflexão sobre sua real formação,
sua profissão, sua cultura, suas experiências tanto individuais, quanto coletiva, seus
valores de solidariedade, ética, enfim, todas as áreas da sensibilidade, uma vez que,
este profissional está lidando com seres humanos, com sentimentos, tão reais
quanto os seus. Para que haja uma transformação em sua prática pedagógica, é
preciso trabalhar com seus alunos, despertando para a valorização das diferenças e
manifestações presente na sua comunidade, através do reconhecimento da cultura
popular.


      Conforme Vasconcelos (2002):


                      Uma educação mobilizadora deve ter em conta as condições
                      concretas de existências. O primeiro passo, portanto, do educador,
                      enquanto articulador do processo de ensino-aprendizagem deverá
                      ser no sentido de conhecer a realidade com a qual vai trabalhar
                      (alunos, escola, comunidade), além, é claro, do imprescindível
                      conhecimento do objeto de estudo e da realidade mais ampla que
                      todo educador deve ter. Para isso, de início o professor tem que
                      aprender com seus alunos. (p.56)



      O professor que, busca melhorar sua prática trabalha com o conhecimento do
aluno, objetivando uma melhor compreensão dos seus anseios, limitações e sua
realidade. É estudar com os alunos, a sua cultura, o que Nidelcoff (2004), se refere à
totalidade daquilo que os indivíduos aprendem, enquanto membros de uma
sociedade; é um modo de vida, de pensamento, de ação e de sentimento. É interagir
e utilizar os recursos do meio social desses indivíduos, suas manifestações culturais,
sua linguagem, seus costumes, fortalecendo a cultura local presente na cultura
popular.


      Nascimento (1997) debate que:


                      A formação de professores deve ser compreendida como um
                      processo global e precisa assegurar a formação integral da pessoa,
                      do cidadão e do profissional. No entanto, é possível verificar que as
31



                     estratégias de formação, que tem sido utilizada com mais
                     freqüências em nosso país, tem estado voltadas preferencialmente,
                     de uma forma praticamente amputada da formação da pessoa e do
                     cidadão. (p.76)



      É preciso, questionar o tipo de “formação” que não ver o todo, o ser
profissional e principalmente o ser humano, sua afetividade, seus questionamentos,
suas crenças, seus paradigmas, enfim, valorizar o professor e seu ofício como ser
importante que influenciará na formação de outros indivíduos.


2.4.1. Escola e Currículo


      A escola é entendida como um dos grandes setores responsáveis pela
formação da identidade. É necessário, que os alunos sejam entendidos numa
perspectiva que “permita a construção de um olhar mais alargado sobre a educação,
como processo de humanização, que inclua e incorpore os processos educativos
não-escolares” (GOMES, 2000 p.1).


      Neste sentido, a escola deve sair para a comunidade, à rua, a zona rural, e
estes, devem entrar ou mesmo “invadir” esse espaço escolar, para que o saber
popular, sua fala, seus contos, ritmos, sejam compartilhados, deixando de ser de
certa forma, um lugar de exclusão, para ser um lugar de promoção do conhecimento
popular. Pois, a escola, como esse espaço de difusão do conhecimento sistemático,
não tem reconhecido esses saberes e sim, tem os negado dentro do seu espaço,
vez, que está perdendo a oportunidade de contextualizar conhecimentos
significativos pra a vida do aluno, como também para a sociedade como um todo.


      Como afirma Apple (1997) “A educação torna-se um conjunto de instituições
através da qual o estado tenta ‘produzir, reproduzir, distribuir e mudar’ os recursos
simbólicos, a própria consciência da sociedade”. (p.102) Com isso, é preciso rever o
currículo que rege as ações educativas.


      A discussão em torno do currículo não é nova. Desde muito tempo, sugiram
críticas a este modelo, porém, muitos grupos se levantaram em defesa, para que o
estado apoiasse apenas o saber da cultura dominante. Se opondo a este
32



pensamento, Apple (1997) continua afirmando que “O conteúdo do currículo e o
processo de tomada de decisões que o cerca, não podem ser simplesmente
resultados de um ato de dominação”. (p.104)


       A escola não pode mais fechar os olhos para a cultura popular, seus
instrumentos, linguagens, conflitos, preconceitos, artes, ensinamentos, leitura e
releitura da história da colonização dos povos, a outra versão, o outro olhar, menos
fragmentado, mais vivido, mais sentido. Através desse leque de possibilidades que a
cultura popular se apresenta, cabe, portanto, a escola, conceber esse espaço onde
viceje essa multiplicidade de linguagens, para que floresça também, uma pluralidade
de sentido, de novos sentidos para o ser “humano”.


       Como afirma Gentilli (2005):


                       A escola deve contribuir para tornar visível o seu olhar normalizador
                      oculto... Deve ajudar a interrogar, a questionar, a compreender os
                      fatos que historicamente contribuíram na produção da barbárie que
                      supõe negar os maiores elementos dos direitos humanos e sociais,
                      às grandes maiorias. (p.42)



       Precisamos de uma escola que prive pela solidariedade e respeito às
diferenças, tanto locais, culturais e sociais. Que contribua para que os seus alunos
se reconheçam enquanto indivíduos, participantes de sua cultura. Conforme Silva
(2008, p.86), “Uma escola apta pra fazer do ensino um instrumento sustentador de
valores e não mais pura e simplesmente reprodutora de um ensino técnico”. Dessa
forma a escola poderá levar os discentes a despertarem para ações que promovam
transformação, através de suas atitudes, consolidadas no seu contexto escolar,
familiar e social.


       Nidelcoff (2004) discorre que:


                      [...] Não se pode fazer uma mudança profunda na escola enquanto
                      não se faça uma mudança social também profunda, que proponha
                      novos ideais comunitários e pessoais com uma nova maneira de ver
                      a realidade e a História e que valorize de forma diferente a
                      educação do povo e a cultura popular. (p.19)
33



      Sabemos que a escola sozinha não mudará a sociedade. Mas, ela pode ser
um veículo muito rico para propagação de novas atitudes e valores, desde que, não
venha a se adequar ou se acomodar com esta realidade excludente presente na
sociedade. Gentilli (2005) pressupõe que “Em nossas sociedades fragmentadas, os
excluídos devem se acostumar à exclusão. Os não excluídos também”. (p.30). Neste
sentido, a situação de exclusão cai no esquecimento e no silêncio, fazendo com que
as partes envolvidas neste processo permaneçam na mesma situação.


      A partir do momento que a escola, se inserir no contexto de sua clientela e
começar a dialogar com outros saberes e outras culturas, se tornará mais
democrática e justa. As escolas, e principalmente as públicas, estão lotadas de uma
diversidade cultural. Elas só precisam avançar em prol de uma sociedade mais
humana, sem ignorar as diferenças e o potencial dos alunos como produtores de
diversos saberes populares.
34



                                    CAPITULO III


                                    METODOLOGIA



      Com consonância com Minayo (1994), Compreendemos que “a metodologia
inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilita a
construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do investigador”.
(p.16). Tendo em vista o nosso objetivo nesta pesquisa, que é identificar os
significados que os professores da Educação Infantil e Ensino Fundamental do
Centro Estudantil Fundame, dão à cultura popular, escolhemos para tanto, aporte
teórico na pesquisa qualitativa, por considerar que a mesma propicia um contato
mais direto do pesquisador com os sujeitos pesquisados.


3.1. Tipo de Pesquisa


      Optamos por este paradigma qualitativo, por entender que é através das
respostas dos indivíduos que se pode perceber a subjetividade, o universo de
significados, de motivações, de valores que fazem parte da pesquisa de cunho
social, que não pode ser quantificados, e que, portanto, merecem atenção da
pesquisa qualitativa.


      Neste aspecto Barbosa (2002) contribui sobre a pesquisa qualitativa, por
entenderem que a mesma possibilita ao pesquisador:


                        [...] compreender o comportamento e a experiência humana. Eles
                        procuram entender os processos pelos quais as pessoas constroem
                        significados e descrevem o que são aqueles significados. Usam
                        observações empíricas, porque é com os eventos concretos do
                        comportamento humano que os investigadores podem pensar mais
                        claro e aprofundarem sobre a condição humana. (p.18)


      Essa abordagem possibilita o contato mais próximo com os sujeitos e com o
ambiente no qual se dará à pesquisa, promovendo ao pesquisador o conhecimento
da aprendizagem produzida nesses espaços. Buscando perceber as compreensões
35



que estes indivíduos têm quanto às questões levantadas, como forma de possibilitar
e favorecer respostas mais claras e significativas.

        Para Minayo (1994):


                            A pesquisa qualitativa responde a questões particulares. Ela se
                           preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não
                           pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de
                           significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que
                           correspondem a um espaço mais profundo das relações dos
                           processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
                           operacionalização de variáveis. (p.22)
                           .
        A pesquisa qualitativa permite ao pesquisador um contato mais próximo com
os sujeitos, permitindo perceber ações, sentimentos, reações, e todos os tipos de
mudança que possa ocorrer, sendo analisadas de forma significativa, buscando se
chegar ao objetivo da pesquisa.


3.2 Locus da Pesquisa


        O Locus onde se desenvolveu a pesquisa foi o Centro Estudantil Fundame,
localizado no Bairro Casas Populares, na cidade de Senhor do Bonfim – BA. Seu
espaço físico é composto de 5 salas, 1 secretaria, 1 diretoria, 1 brinquedoteca, 1
refeitório, 3 banheiros, parque infantil e um espaço amplo e arborizado onde as
professoras realizam várias atividades com as crianças ao ar livre. A escola tem
uma clientela de 120 alunos, distribuídos entre maternal, educação infantil I e II e
uma turma de ensino fundamental, funcionando no turno matutino, no turno
vespertino acontece o trabalho com os adolescentes no projeto chamado MQV1
(Mais que Vencedores), que tem como objetivo acompanhar os adolescentes em
situação de risco, através de oficinas de arte, brincadeiras, jogos, que já deixaram à
escola nas séries normais de ensino. Acontecem também, as terças e quintas
oficinas de artesanato com as mães.


        O fator relevante, para a escolha por este locus de pesquisa foi por já ter
trabalhado nesta escola e ter tido a oportunidade de conhecer um pouco do trabalho

1
 MQV – Mais que Vencedores é um projeto social da escola, que busca integrar os alunos que não pertencem
mais a referida instituição. São desenvolvidas oficinas de arte e atividades lúdicas.
36



que vem sendo desenvolvido com as crianças e adolescentes de bairros periféricos
da cidade de Senhor do Bonfim-Ba, porém dotados de uma vasta cultura popular.


3.3. Sujeitos da Pesquisa


      A amostra foi constituída por cinco professores, sendo três da educação
infantil, e dois do ensino fundamental, que lecionam no turno matutino do Centro
Estudantil Fundame, no município de Senhor do Bonfim – Bahia. Dessas
professoras três possuem graduação completa em pedagogia e as outras duas
também estão cursando pedagogia. A escolha pelas professoras se deu de forma
aleatória dentre aquelas que trabalham no universo pesquisado. Vale destacar, a
contribuição das mesmas para o levantamento de dados necessários ao
desenvolvimento da pesquisa.


3.4. Instrumentos de Coletas de Dados


      Procurando conhecer e interpretar a problemática apresentada, foi utilizado
como instrumento de coleta de dados: Observação participante, questionário
fechado e entrevista semi-estruturada.


3.4.1. Observação Participante


      O uso da observação participante na pesquisa é relevante, pois valoriza a
experiência, percebe de perto o trabalho desenvolvido pelos sujeitos, permitindo
assim, um melhor direcionamento do trabalho. Sobre esse instrumento de coleta de
dados Cruz Neto (1994) pontua:


                      A técnica de observação participante se realiza através do contato
                     direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter
                     informações sobre a realidade dos atores sociais em seu próprio
                     contexto. O observador, enquanto parte do contexto de observação,
                     estabelece uma relação face a face com os obstáculos. (p.29)


      O contato com estes sujeitos, se deu de forma harmoniosa e dinâmica, haja
vista ter trabalhado nesta unidade escolar, em anos anteriores e conhecer o trabalho
de perto.
37



3.4.2. Questionário Fechado


      Sobre a importância do questionário fechado como instrumento de coleta de
dados. Barros (2000) contribui dizendo:


                      Questionário é um dos principais instrumentos de trabalho utilizado
                      em quase todos os tipos de pesquisa. Ele é constituído de uma série
                      de perguntas organizadas, com o objetivo de levantar dados para
                      uma pesquisa. (p.58)


      A escolha, deste instrumento se deu pela necessidade de se obter os dados
que possibilitem chegar aos objetivos da pesquisa, além, de traçar o perfil dos
sujeitos pesquisados de forma objetiva, organizada.




3.4.3. Entrevista semi-estruturada


      A entrevista é um recurso que nos permite reforçar os elementos pontuados
no questionário, pois permite que os sujeitos se expressem oralmente, permitindo ao
entrevistador aprofundar, questionar e recolher uma diversidade de informações.
Como pontuam Good e Hatt (1968):


                      [...] a entrevista permite correções, esclarecimentos, e adaptações
                      que a tornem sobremaneira eficaz na obtenção das informações
                      desejadas. Enquanto outros instrumentos têm seu destino selado no
                      momento em que saem das mãos do pesquisador que os elaborou,
                      a entrevista ganha vida ao se iniciar o diálogo entre o entrevistador e
                      o entrevistado. (p.137)



      O uso da entrevista, além das muitas vantagens, também possibilita
informações claras por parte do entrevistado, possibilitando um dialogo e interação
entre entrevistador e entrevistado.


      Compactuando com essa mesma opinião Trivinos (1995) destaca:


                      Entende-se por entrevista semi-estruturada de uma maneira geral,
                      aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em
38



                     teorias e hipóteses que, interessam à pesquisa e que, em seguida,
                     oferece amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses
                     que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do
                     informante. (p.146)


      Acreditamos que através desse instrumento de pesquisa, será possível obter
maior aquisição de informações, de maneira que o entrevistado tenha liberdade para
se expressar sobre o tema proposto e expor sua compreensão sobre a temática
desenvolvida, além de, fornecer mais subsídios para responder a questão que
norteou este trabalho de conclusão de curso.
39



                                     CAPÍTULO IV


                   ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS


      Neste capitulo, apresentaremos analise e interpretação de dados, a fim de
alcançar o objetivo da presente pesquisa que é identificar os significados que os
professores da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental do Centro
Estudantil Fundame dão à cultura popular.


      Conforme Gil (1991):


                      Está é a última fase de um levantamento. Logicamente coletados e
                      analisados. Entretanto, é de toda conveniência durante o
                      planejamento definir-se a cerca da forma como serão apresentados
                      os dados. (p.103)


      Iniciamos, traçando o perfil dos nossos sujeitos, tendo como suporte as
informações contidas no questionário fechado. E, conseguinte discutiremos e
apresentaremos as respostas coletadas dos professores sobre a cultura popular,
através da observação participante e da entrevista semi-estruturada.


4.1 Perfil dos Sujeitos


      Tivemos como sujeitos da pesquisa cinco professoras, sendo três de
educação infantil e duas do ensino fundamental. Com o objetivo de traçar o perfil
dos entrevistados utilizaremos gráficos com porcentagens


4.1.1 Gênero




                                  0%                 FEMININO

                                                     MASCULINO


                                  100%




                 Gráfico 4.1.1. Percentual quanto ao gênero dos sujeitos.
40



      Conforme o gráfico 4.1.1, observamos que 100% dos educadores
entrevistados são do sexo feminino. Conforme Kramer (1992) a grande quantidade
de mulheres na educação, vem de um processo histórico, onde traz alguns ranços
que de certa forma desqualifica essa atividade, por caracterizá-la a uma ação
apenas materna, por outro lado, percebemos que a mulher vem alcançando o seu
espaço na área educacional e também em vários setores da sociedade.


4.1.2. Formação Acadêmica




                                                        Graduação completa
                    40%
                                                        Graduação incompleta
                                              60%




                   Gráfico 4.1.2. Percentual quanto à formação acadêmica.




      Sobre a formação acadêmica percebemos que 60% das professoras,
possuem nível superior completo em Pedagogia e 40% tem nível superior
incompleto na mesma área de estudo. Nota-se um interesse na formação
acadêmica, impulsionada por alguns incentivos, como melhoria salarial, e mais
conhecimento para o trabalho pedagógico. Conforme Freire (1997) a formação dos
professores deve ser permanente e o momento fundamental da reflexão crítica
sobre a prática.
41




4.1.3 Carga-horária de trabalho




                        20%
                                                       40%           20 horas


                                                                     40 horas


                        40%                                          60 horas




               Gráfico 4.1.3. Percentual quanto carga-horária de trabalho.




      A partir da análise deste gráfico, percebemos que a jornada de trabalho das
professoras variam entre 20 e 60 horas. Compreendemos que uma menor carga
horária de trabalho possibilita um melhor desempenho deste profissional, já que o
mesmo tem mais tempo para planejar e aprimorar suas atividades. No entanto, a
precarização do trabalho docente empurra o/a professor/a a ocupar seu tempo livre
na realização de outras atividades que complemente sua remuneração. Vale
destacar que com uma carga-horária mais extensa poderão ter que se desdobrar
para atender todas as demandas do processo ensino-aprendizagem.


4.1.4 Renda Familiar




                        20%                                  2 SALÁRIOS MÍNIMOS
                                                40%

                                                             3 SALÁRIOS MÍNIMOS


                      40%                                    MAIS DE 3 SALÁRIOS
                                                             MÍNIMOS




              Gráfico 4.1.4. Percentual quanto à renda familiar dos sujeitos.
42




       Segundo as informações obtidas e representadas no gráfico, 40% das
professoras têm uma renda familiar de mais três salários mínimos, 20% recebem
dois salários mínimos e 40% da renda familiar das outras professoras é de mais de
três salários mínimos. A questão salarial, ainda é um forte entrave na questão
educacional do nosso país. O professor não é bem remunerado, isso traz outras
conseqüências, como a falta de estimulo desses profissionais para atuarem com
maior vigor e empenho no desenvolvimento educacional e cultural dos seus alunos,
como também o desejo de migrarem para outras profissões mais bem remuneradas
e valorizadas pelo sistema político e social.




4.1.5. Acesso aos meios de comunicação




                         20%
                                                        RÁDIO, TV, JORNAL,
                                                        REVISTA E INTERNET


                                                        RÁDIO, TV, JORNAL E
                                                        REVISTA
                                          80%




               Gráfico 4.1.5. Percentual ao acesso aos meios de comunicação.



       Quanto ao acesso aos meios de comunicação, notou-se que 80% das
professoras utilizam como meio de comunicação: rádio, TV, jornal, revistas e
internet, no entanto, observa-se que 20% das professoras optam por rádio, TV,
jornal, e revistas, o que denota que as mesmas ainda estão apegadas, apenas aos
livros didáticos.
43




4.1.6. Definições de Cultura Popular


      A questão da cultura popular é hoje definida e empregada por uma grande
quantidade de pessoas, tanto nos setores governamentais como na educação.



                                                            MANIFESTAÇÕES
                                                            ARTÍSTICAS E CULTURA
                                                            DO POVO
                             20%
                                                            FESTAS RURAIS


                       20%                      60%

                                                            FOLCLORE




                 Gráfico 4.1.6. Percentual sobre a definição de cultura popular.


      Visualizamos no gráfico que 60% atribuem o significado de cultura popular, a
manifestações artistas, cultura de um povo, 20% atribuem a festas rurais, e 20%
atribuem à cultura popular ao folclore. Isto denota a distorção que ainda há quanto à
compreensão da cultura popular e seus significados na vida social e cultura dos
entrevistados.


      É importante salientar sobre os 20% que atribui a cultura popular a festas
rurais, isso demonstra uma visão ainda influenciada pelo modelo de cultura
dominante que despreza ignora as classes menos favorecidas da sociedade.


      A cultura popular é vista por muitos autores como uma cultura subalterna,
diferenciando a cultura popular da cultura hegemônica, ou de elite onde a popular
estava sujeita a de elite. (MELLO 1988).


      Pontuamos também, que a cultura popular tem sido atribuída ao folclore,
como vimos no gráfico 20% acreditam ser a cultura popular o mesmo que o folclore.
Quando na verdade ele é um rico instrumento da cultura popular.
44



      Cavalcanti (1978) compreende o folclore como a idéia que designa muito
simplesmente a formas de conhecimento, expressas nas criações culturais dos
diversos grupos da sociedade.


4.1.7. O trabalho com a cultura popular na escola




                                                            TRABALHA
                         20%
                                                            RARAMENTE

                                                            NÃO TRABALHA
                   20%                            60%




         Gráfico 4.1.7. Percentual sobre trabalho com a cultura popular na escola.



      Observamos que 60% das professoras consideram trabalhar com a cultura
popular na escola, 20% responderam que não trabalharam e mais 20%
responderam trabalhar raramente.


4.1.8. O trabalho com os contos populares na escola.




                                                          TRABALHA
                         20%
                                                          RARAMENTE

                                                          NÃO TRABALHA
                   20%                          60%




           Gráfico 4.1.8. Percentual sobre os contos populares em sala de aula.


      O gráfico apresenta o mesmo percentual que o gráfico anterior, os sujeitos
responderam da mesma forma, ou seja, a utilização dos contos populares em sala
45



de aula, segundo as respostas do questionário, tem acontecido de forma
significativa.


4.1.9. A utilização dos contos populares pelos professores




                        20%

                                                   40%       LITERATURA DE CORDEL


                                                             CONTOS REGIONAIS


                        40%
                                                             NENHUM




  Gráfico 4.1.9. Percentual sobre os contos populares que são utilizados pelas professoras.


       Segundo o gráfico, 40% das professoras trabalham com a literatura de cordel,
40% com os contos, e 20% reconhecem que não utilizam os contos populares na
escola. Salientamos ainda, que o mesmo percentual de 20% que demonstra não
trabalhar com os contos populares, permanecem em consonância desde os gráficos
anteriores.


4.2. Analise da Entrevista Semi-Estruturada


       Alguns dos dados coletados pela entrevista semi-estruturada, associadas a
observação       participante,   serão   também    representados      por   gráficos,   onde
observaremos algumas contradições que por ventura possam aparecer no discurso
dos sujeitos. Utilizamos nesta entrevista o gravador, e em seguida transcrevemos
as falas dos entrevistados na íntegra. O discurso de cada professora será
representado pela letra P seguida de algarismos arábicos (1, 2, 3, 4, 5) para manter
o anonimato e a identidade dos sujeitos.


       A entrevista é um grande recurso utilizado. A mesma ganha sentido e
significado. Como diz Ludke e André (1986) “Enquanto outros instrumentos têm seu
46



destino selado no momento em que saem das mãos do pesquisador que os
elaborou, a entrevista ganha vida ao se iniciar o dialoga entre o entrevistador e o
entrevistado” (p.34).


      A partir do conceito de Ludke e André (1986), ao qual reafirmamos a
importância da entrevista, dividimos os discursos das professoras em categorias a
fim de delimitar nosso objeto de estudo.


4.2.1. Significados de cultura popular.




                         20%
                                                              MANIFESTAÇÕES


                                                              CULTURA DO POVO

                  20%                                 60%
                                                              CULTURA TRAZIDA




              Gráfico 4.21. Percentual sobre os significados da cultura popular


      Pelas respostas obtidas na entrevista semi-estruturada e representadas neste
gráfico, percebemos algumas contradições quanto às respostas obtidas no
questionário fechado representado também em gráfico.


                        Pra mim, cultura popular, são manifestações culturais, festas rurais,
                        folclore, cultura de um povo, dança. Tudo que de certa forma, é...
                        Retrata a história da nossa cultura popular e de um povo. (P1)

                        São manifestações, é... Que vem diretamente do povo, passando de
                        pessoa para pessoa, que faz parte da cultura local. (P2)

                        Manifestações artísticas, cultura de um povo. Costumes. (P4)

                        Manifestações do povo. Tudo que o pessoal traz. (P5)

      Ao analisarmos a fala dos professores, percebemos que 60% das professoras
entrevistados atribuem a cultura popular a manifestações. Isso nos chamou a
atenção por perceber um discurso um tanto quanto automático, ou seja, a palavra
47



toma um lugar comum, já incorporada, sem que dimensionasse o verdadeiro
significado da mesma. O que de fato a palavra representa não foi demonstrado no
discurso.


      Sobre manifestações Aurélio (1975) define como: Ato ou efeito de manifesta-
se; expressão. Revelação, esclarecimentos, demonstração. (p.88).


      Destacamos ainda, que das professoras que atribuem à cultura popular a
manifestações, apenas a P1 dilata um pouco mais a discussão, tendo uma visão
mais ampla, conseguindo demonstrar de certa forma como a cultura popular se
apresenta. As demais, falam de forma vaga, sem explicitar, não interpretam de fato o
que a cultura popular é ou representa. Como na fala do P5 que explica de forma
superficial, não explorando a questão. Fávero (1983) destaca que “a significação da
cultura popular é precisamente entrar em tensão ideológica contra uma cultura de
dominação.” (p.34)


      Fávero ainda (1983) descreve que cultura popular é a cultura do povo, isto é,
quando seus significados, idéias, são destinadas ao povo, respondem as exigências
humanas em determinado tempo e contexto, levando o homem a se assumir como
sujeito de sua própria criação cultural de forma reflexiva e consciente.


      Acreditamos que ainda não é compreendido pelos que estão de certo modo
“responsáveis” pela ação de educar, o significado da cultura popular, suas
manifestações e seu papel de reconhecimento de uma educação, que venha
responder de fato a necessidade do povo, onde estes devem ser ouvidos, onde sua
cultura respeitada e valorizada na escola, de modo a contribuir para a formação da
identidade dos alunos.
48



4.2.2. Cultura popular na escola




                      20%                        20%

                                                                     TRABALHA
                                                                     RARAMENTE
                                                                     NÃO TRABALHA


                                    60%




         Gráfico 4.2.2. Percentual sobre o trabalho com a cultura popular na escola.


      Notamos uma contradição, quanto às respostas do questionário fechado com
as respostas dadas pelas professoras na entrevista.            Se voltarmos nos gráficos
anteriores, veremos uma troca nas porcentagens, pois, 60% diziam trabalhar com a
cultura popular, porém, na entrevista, apenas 20% confessam realmente trabalhar,
60% dizem trabalhar raramente e os 20% continuam confirmando que não trabalham
a cultura popular na escola.


                       Na maioria das vezes acontecem como contos populares, festas e
                       danças e algumas brincadeiras, peças teatrais nem sempre são
                       feitas e quando são feitas, na maioria das vezes é feita pelos
                       professores e esporadicamente. (P1)

                       Não trabalho com a cultura popular na escola. (P3)


                       A depender do projeto, trabalho brincadeiras, músicas, festas, ás
                       vezes trazendo até algo da comunidade pra cá. Como o samba de
                       lata, por exemplo, que é uma manifestação aqui da região de
                       Bonfim. Não conseguimos, mas mostramos pra crianças de alguma
                       forma. (P2)

                       Trabalho com brincadeiras, contos e também..., assim... Danças,
                       coreografias, mas assim, não é constantemente não. É raro. É raro
                       a gente trabalhar com a cultura popular. (P4)


      Analisando a segunda categoria, notamos que a professora P1 reconhece a
importância de trabalhar com a cultura popular na escola. Porém, ela já exclui
49



quando diz que é feito “esporadicamente”. Percebe-se então, uma distorção do que
se pretende pra o que se propõe a fazer. Discurso e prática não estão acentuados.


      A professora P3, por sua vez, assume claramente que não trabalha com a
cultura popular na escola. De certa forma, admiramos a coragem da professora em
admitir, porém, lamentamos profundamente por perceber que a escola, as
professoras e os alunos estão perdendo por não utilizarem o universo tão rico da
cultura popular. Isso denota que ainda estamos impregnados num contexto de
cultura hegemônico, onde o saber elitizado, herdado do modelo europeu ainda
permanece em evidência em nossos dias e na prática de muitos professores,
quando estes devem responder de forma crítica esse modelo.


      Conforme Gadotti (2007): O professor pode fazer:


                      [...] de seu discurso, que é a sua arma, dê respostas ou tente
                      responder aos problemas que a sociedade lhe coloca, que se
                      posicione e se pronuncie, não seja omisso. É isso que seus alunos
                      querem ver nele e é nisso que eles podem reconhecer um mestre.
                      (p.75)



      É isso que se pretende do professor, uma atitude que dê atenção às
necessidades, diferenças dos seus alunos e que a cultura local destes, seja levada
em consideração, pois, até então, não se percebe uma contextualização dos
saberes regionais presente no cenário da cidade de Senhor do Bonfim.


      O discurso da professora P4 é enfático quando diz que é raro o trabalho com
a cultura popular. Ela também se exclui dessa “culpa” atribuindo a responsabilidade
para a escola, quando diz: é raro a gente trabalhar.

      Na fala da professora P2, demonstra-se que não tem espaço no currículo pra
se trabalhar com a cultura popular na escola, quando a mesma diz que “a depender
do projeto”. O discurso em prol de uma educação que leve em conta a realidade
local e cultural dos alunos, ainda é utopia em muitas escolas. O currículo não tem
sido voltado para a realidade dos discentes, ainda é algo que vem imposto como
regra, que vem sendo perpassado por uma visão tradicional, instrumentalista onde o
50



conhecimento promovido na escola, está sujeito às relações de poder, pois desde
muito tempo se discute sobre o currículo, visto que o mesmo tem favorecido apenas
a cultura dos grupos dominantes.


      Trazendo a discussão sobre o currículo, Apple (1997) traz a visão de muitas
pessoas que se posicionaram a favor do estado, em que o mesmo deveria legitimar
o conhecimento dos grupos dominantes. “Numa economia capitalista, apenas o
conhecimento demandado pelos grupos economicamente poderosos deveria ser
legitimado nas escolas sustentadas pelo poder público.” (p103).


      Diante dessa discussão, nos surge então a seguinte pergunta: Como
trabalhar com a cultura popular na escola, uma vez que este modelo de currículo só
favorece a legitimação da cultura dominante?


      O mesmo autor nos ajuda a responder esta questão quando afirma: “O
conteúdo do currículo e o processo de tomada de decisões que o cerca não podem
ser simplesmente resultados de um ato de dominação”. Apple (1997, p104)


      Através dos dados analisados nessa pesquisa, vê-se que a escola não tem
em seu projeto político pedagógico e na própria estrutura curricular, espaço para a
cultura popular, e que não há alusão desse tema. Porém, ela se faz presente na
escola, através das relações entre os alunos, mas se torna algo distante do
processo de ensino-aprendizagem. Ela não está incluída nas metodologias utilizadas
na transmissão do conhecimento aos alunos. Há uma dicotomia entre discurso e
prática educativa.


      É preciso destacar que, a passos lentos, algumas escolas e professores, já
têm procurado se posicionar contra este modelo hegemônico, buscando através das
suas ações, mudar a sua prática e, através dela, a escola. Não conservá - la como
ela se encontra, ou seja, revê o currículo. E não só isso. É necessário ousar,
trabalhar com a cultura popular de forma humanizante com o objetivo e missão de
educar pessoas.
51



4.2.3. Contos populares




                       20%

                                                          40%
                                                                      SIM
                                                                      RARAMENTE
                                                                      NÃO


                       40%




              Gráfico 4.2.3. Percentual sobre os contos populares na escola.


      Os contos populares são alguns dos instrumentos da cultura popular.
Conforme o gráfico da entrevista semi-estrutura, já podemos perceber algumas
diferenças com relação ao mesmo gráfico no questionário fechado. Houve
mudanças nas porcentagens. Agora, o que se demonstra é que 40% trabalham 40%
raramente e os 20% continuam afirmando não trabalhar com os contos populares.
Compreendemos, porém, que o trabalho desenvolvido com os contos na escola,
pode possibilitar um aprendizado mais dinâmico, além de desenvolver várias
habilidades, desde a Educação Infantil até o Ensino Fundamental. Algumas dessas
habilidades são: poetizar, narrar, cantar, enfim, vários tipos de manifestações
culturais que podem ser estimuladas na escola.


      Neste aspecto, Andrade (apud COELHO, 1999) defende as manifestações
artísticas, culturais e populares tendo como base:


                       O principio da utilidade e não só como arte com “preocupação
                      exclusiva com beleza”, baseada de modo mecânico e servil na
                      estética universal, e sim uma arte que reconheça o contexto
                      histórico como elemento de produção. Uma arte comprometida com
                      seu tempo, servindo-se de tudo que lhe pudesse ser útil como
                      “instrumento de afirmação cultural. (p.45, 46).


      O autor nos direciona a assumir uma postura crítica, ou seja, que se perceba
e analise as dimensões e contexto histórico onde se deu aquela obra ou
manifestação artística, favorecendo aos alunos momentos de prazer, de cultura,
52



além de favorecer um aprendizado rico, onde se trabalhe com o contexto social e
cultural desses discentes.


      Através dos discursos das professoras, poderemos compreender sobre os
trabalhos desenvolvidos com os contos no espaço escolar.

                       Eu trabalho muito com contos. No geral na minha sala. Eu sou muito
                       apaixonada pela literatura. Agora, com essa entrevista, veio
                       despertar em mim esse lado. Eu parei agora pra pensar que eu não
                       tenho trabalhado muito. Eu trabalho raramente. É mais isolado, na
                       época mais do folclore é que tende a lembrar mais da cultura
                       popular e dos contos populares, pois acho que ela fica esquecida
                       durante todo o ano. P2

                       Nunca trabalhei com os contos populares. Sinto falta, mas nunca
                       trabalhei. Trabalho com o folclore na data comemorativa. P3

                       Trabalho com os contos. Mas é pouco. A escola usa mais os contos
                       tradicionais. Os contos populares, não tenho costume de trabalhar
                       não. Trabalho pouco. P4



      Percebemos nos discursos algumas contradições. Isso é possível pela
utilização da pesquisa qualitativa, pois através dela é possível perceber a
subjetividade.


      Como Afirma Minayo (1994) a pesquisa qualitativa responde a questões
particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade, ou
seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes. (p.22)


      Analisando a fala da P2, notamos contradições. A mesma fala que trabalha
com os contos e da sua paixão pela literatura, mas no seu discurso percebendo que
ela realmente não trabalha e depois, retoma dizendo que trabalha raramente. A
mesma reconhece que cultura popular fica esquecida.


      Assim, mesmo com todas as contradições presentes na fala dessa
professora, percebemos o quanto à cultura popular e seus instrumentos não têm
ocupado espaço no currículo da escola, e o quanto tem sido esquecida, uma vez
que se universaliza a cultura “burguesa” e deixa de lado as tradições, valores,
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Resignificando a cultura popular na escola

  • 1. 1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS VII - SENHOR DO BONFIM – BA PEDAGOGIA: DOCÊNCIA E GESTÃO NOS PROCESSOS EDUCATIVOS RESIGNIFICANDO A CULTURA POPULAR Por JEANE FERREIRA LOULA SENHOR DO BONFIM - BA 2010
  • 2. 2 JEANE FERREIRA LOULA RESIGNIFICANDO A CULTURA POPULAR Trabalho Monográfico apresentado à Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, Campus VII como pré-requisito para a conclusão do Curso de Pedagogia: Docência e Gestão dos Processos Educativos. Orientadora: Profª. Msc. Maria Elizabeth Souza Gonçalves. SENHOR DO BONFIM - BA 2010
  • 3. 3 JEANE FERREIRA LOULA RESIGNIFICANDO A CULTURA POPULAR Aprovada em: ____/____/_____ __________________________________ Orientadora __________________________________ Avaliador(a) __________________________________ Avaliador(a)
  • 4. 4 A Deus, meu melhor amigo em todos os momentos. À minha mãe Helena, meu exemplo de coragem, luta e amor à vida. Ao meu pai Delson, pela sua fé, serenidade, e orações por mim. Ao meu avô Ademar Loula (em memória) pelo exemplo de caráter e uma rica história de vida. Aos meus irmãos Jorge, Juçara, Jacira, e meu sobrinho George por todo apoio e incentivo. Ao meu namorado Wagner, pelo companheirismo e paciência nesse período de elaboração da monografia. E a todos os amigos pelo carinho e atenção.
  • 5. 5 AGRADECIMENTOS À Universidade do Estado da Bahia – UNEB - Departamento de Educação - Campus VII – Senhor do Bonfim – Ba, direção, funcionários e aos professores por nos proporcionarem momentos de interação, aprendizado, contribuindo para o nosso crescimento acadêmico. À professora, orientadora, Maria Elizabeth Souza Gonçalves, pelo exemplo de profissionalismo, empenho, amizade, e ensinamentos compartilhados durante o desenvolvimento dessa pesquisa. As professoras e direção do Centro Estudantil Fundame, pela colaboração, e espaço cedido durante a elaboração deste trabalho. À minha turma de curso, pelo tempo que Deus nos concedeu de convívio, e pelas amizades, aprendizado que permanecerão vivas em nossa mente e coração. A minha irmã e colega de turma Jacira Lôla, pelo compartilhar das angústias e alegrias durante todo o curso. Minhas amigas e colegas: Amanda, Aurelina, Eliciene, Valci, Viviane, Maisa, Célia, Jane, e Cristiane Pinto, entre outros pelo apoio e torcida. A todos que de alguma forma contribuíram para a conclusão desse trabalho.
  • 6. 6 RESUMO Essa pesquisa tem como objetivo identificar os significados que os professores da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental do Centro Estudantil Fundame dão a Cultura Popular. Esse estudo teve como suporte teórico: Freire (1997), Fávero (1983), Aplle (1997), Gadotti (2007), Minayo (1994), Nidelcoff (2004), dentre muitos outros que nos auxiliaram a fundamentar nosso estudo. O paradigma metodológico foi qualitativo, por nos possibilitar compreender melhor o espaço e a chegar mais próximos aos sujeitos. Os instrumentos de coleta de dados foram: questionário fechado, observação participante, e a entrevista semi- estruturada. A partir da utilização desses instrumentos foi possível obter algumas considerações que indicam que a cultura popular ainda não tem espaço no currículo da escola, e sim um modelo de cultura hegemônico legitimado pelos meios de comunicação de massa e pelas políticas neoliberais distante da cultura vivenciada pelos educandos. Palavras-chave: Cultura Popular. Significados. Professores.
  • 7. 7 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 4.1.1. Percentual quanto ao gênero. Gráfico 4.1.2. Percentual quanto à formação acadêmica. Gráfico 4.1.3. Percentual quanto à carga-horária de trabalho. Gráfico 4.1.4. Percentual quanto à renda familiar. Gráfico 4.1.5. Percentual quanto aos meios de comunicação. Gráfico 4.1.6. Percentual quanto à definição de cultura popular. Gráfico 4.1.7. Percentual quanto o trabalho com a cultura popular na escola. Gráfico 4.1.8. Percentual quanto aos contos populares na escola. Gráfico 4.1.9. Percentual quanto à utilização dos contos populares. Gráfico 4.2.1. Percentual sobre os significados da cultura popular. Gráfico 4.2.2. Percentual sobre a cultura popular na escola. Gráfico 4.2.3. Percentual sobre os contos populares na escola. Gráfico 4.2.4. Percentual sobre os significados atribuídos ao folclore.
  • 8. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...........................................................................................................10 CAPÍTULO I...............................................................................................................12 CAPÍTULO II..............................................................................................................18 CULTURA POPULAR........................................................................................18 2.1. Semelhanças e diferenças da Cultura Popular e Folclore.............21 2.2. Contos Populares..........................................................................24 2.3. Interpretando Significados.............................................................26 2.4. Professor: Formação e Prática......................................................29 2.5. Escola e Currículo..........................................................................31 CAPÍTULO III.............................................................................................................34 METODOLOGIA...............................................................................................34 3.1. Tipo de Pesquisa...........................................................................34 3.2. Locus da Pesquisa........................................................................35 3.3. Sujeito de Pesquisa ......................................................................36 3.4. Instrumentos de Coleta de Dados................................................36 3.4.1. Observação Participante.........................................36 3.4.2. Questionário Fechado..............................................37 3.4.3. Entrevista Semi-estruturada....................................37 CAPÍTULO IV.............................................................................................................39 ANALISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS....................................................39 4.1. Perfil dos Sujeitos.........................................................................39 4.1.1. Gênero..........................................................................39 4.1. 2. Formação Acadêmica...................................................40 4.1. 3. Carga-horária de trabalho.............................................41 4.1. 4. Renda familiar..............................................................41 4.1. 5. Acesso aos meios de comunicação.............................42 4.1. 6. Definição de Cultura Popular........................................43 4.1. 7. O trabalho com a cultura popular na escola.................44 4.1. 8. Trabalho com os contos populares na escola..............44 4.1. 9. A utilização dos contos populares pelos professores..45 4. 2. Analise da entrevista semi-estrutura............................................45
  • 9. 9 4.2. 1. Significados de cultura popular....................................46 4.2. 2. Cultura popular na escola............................................48 4.2. 3. Contos populares na escola..........................................51 4.2. 4. Significados do folclore..................................................54 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................56 REFERÊNCIAS..........................................................................................................57 ANEXOS..................................................................................................................61
  • 10. 10 INTRODUÇÃO Quando falamos de cultura popular, primeiramente nos recordamos dos anos 60, onde se acentuou no Brasil um movimento ideológico contra uma classe dominante. Nesse movimento, buscava-se o reconhecimento e o espaço para os movimentos educacionais, sociais, políticos e culturais das classes menos favorecidas do país. Toda herança cultural proveniente dos vários grupos como negros, índios e portugueses, formaram assim um país multicultural, porém, ainda permanece na sociedade um modelo hegemônico de cultura. A cultura popular dentro do contexto educacional visa integrar os conhecimento e realidade dos alunos, sua vivencia local, valorizando as diferenças tanto de raça, cor, gênero, como também as ações produzidas pelos grupos culturais em diferentes épocas, buscando assim uma cultura onde o povo seja protagonista de sua história. Dessa forma, no primeiro capítulo deste trabalho, abordamos sobre os conceitos de cultura e cultura popular e a relação da mesma com os sujeitos das instituições escolares. No segundo capítulo, apresentamos um referencial teórico enfocando a cultura popular dentro da sociedade e do sistema educacional, como também as disparidades entre cultura popular e folclore. Dando seqüência, discorremos sobre o professor e sua prática e a escola e o currículo nela inserido, bem como a sua relação com a cultura popular. O paradigma metodológico foi à discussão travada no terceiro capítulo, bem como uma descrição dos sujeitos e do locus a serem pesquisados. Abordamos também sobre os instrumentos de coleta de dados que foram utilizados e que auxiliou a presente pesquisa. No quarto capitulo, apresentamos a analise e interpretação dos resultados, refletindo sobre os significados que os professores atribuem à cultura popular, frente
  • 11. 11 aos discursos dos autores que nos deram suporte para chegarmos às considerações apresentadas. Por fim, destacamos que é relevante se pensar a formação e a prática dos professores, associado aos elementos da cultura popular, visto que a compreensão e a significação dos mesmos sobre a cultura popular ainda se apresenta limitada.
  • 12. 12 CAPITULO I Estamos inseridos numa aldeia global, numa época pós-moderna, que inventa desejos, dita regras de comportamento, muitas vezes de forma mascarada utilizando como alguns dos recursos os meios de comunicação de massa, impondo uma cultura imperialista, de elite. Conforme a abordagem de Sevcenko (1999) acompanhar o progresso significa somente uma coisa: Alinhar-se com os padrões e o ritmo de desdobramento da economia européia. O autor ainda traz uma reflexão sobre o modelo europeu de sociedade, sua economia capitalista que busca a massificação e auxilia na dinâmica incontrolável do capitalismo e da hegemonia cultural. Comungando com a abordagem de Sevcenko, Silva (1997) destaca: Estamos impregnados no cotidiano contemporâneo pela maravilhosa comunicação e pela perigosa massificação, referente à globalização que toma todo nosso planeta, impondo aos mais “frágeis” a cultura dos mais “fortes”. (p.36) Apesar da palavra “globalização” ser aparentemente nova e moderna, já vivíamos essa mesma globalização há séculos, as relações de dominação em que nos colonizaram e nos mantiveram cativos durante décadas. O que se difere é a maneira como essa nova “globalização” tem se apresentado, de forma atrativa, com linguagens simbólicas e instrumentais, objetivado nos adestrar, impondo uma “cultura” de conformidade e adequação aos padrões selecionados por este sistema capitalista, em todas as esferas da sociedade desde as mais comuns até as mais elevadas áreas. Apesar de todos os apelos e modismos referentes a essa cultura elitizada, existem também criticas a esse modelo massificador. Desde os séculos XVII e inicio do século XX, os discursos e debates buscando definições e compreensões sobre a cultura foram bem acentuados em alguns países da Europa, principalmente na França. Mesmo não existindo um conceito totalmente definido, o que conhecemos
  • 13. 13 em nossos dias foi apresentado pela primeira vez pelo francês Tylor (LARRAIA, 2000). [...] No vocábulo inglês culture que tomando em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. (LARRAIA, 2000 p. 25) Até se chegar a este primeiro conceito, Larraia (2000) discute que Tylor sistematizou as questões que já vinham sendo discutidas por outros pesquisadores e ganhando legitimidade durante suas pesquisas. Neste sentido, a cultura se apresenta como sendo a capacidade de cada individuo se expressar, criar, recriar, aprender e interagir uns com os outros. Sobre isso Brandão (1980) diz: Cultura é um conjunto diverso, múltiplo de maneiras de produzir sentido, uma infinidade de formas de ser, de viver, de pensar, de sentir, de falar, de produzir e expressar saberes, não existindo, por conta disso, uma só cultura, ou culturas mais ricas ou evoluídas que outras tão pouco, gente ou povos sem cultura. (p.36) Assim, entende-se cultura como tudo aquilo que é feito pelo homem, ou seja, há uma transformação do meio social, por cada ser humano, pois este se difere dos demais animais pelo conhecimento e entendimento mental, capaz de modificar seu ambiente. Para Fávero (1983) cultura é um: [...] processo histórico (e, portanto de natureza dialética) pelo qual o homem em relação ativa (conhecimento e ação) com o mundo e com os outros homens, transforma a natureza e se transforma a si mesmo, construindo um mundo qualitativamente novo de significações, valores e obras humanas e realizando-se como homem neste mundo humano. (p.16) Nesse sentido, o homem vive neste processo de desenvolvimento onde transforma a sua comunidade, meio social, seu mundo. Por sua vez, Morin (1999)
  • 14. 14 aborda cultura como um conjunto de regras, normas, proibições, estratégias, idéias, que se transmite de geração em geração, e em diferentes épocas e sociedades, onde o homem é o responsável pela propagação de sua cultura. Compactuando com essa mesma opinião Arantes (1982): Todas as ações humanas sejam na esfera do trabalho, das relações conjugais, da produção econômica ou artística, do sexo, da religião, das formas de dominação e de solidariedade, estão constituídas segundo os códigos, as convenções simbólicas que denominamos cultura. (p.34) Com isso, a cultura legitima todos os códigos, valores e regras produzidos em uma sociedade, tornado-a conhecida e reconhecida pelos indivíduos de outras culturas. Segundo Burke (1989), cultura é “um sistema de significados, atitudes e valores compartilhados, e as formas simbólicas (apresentações e artefatos) nas quais eles se expressam ou se incorporam” (p.21). Mesmo diante das várias concepções atribuídas a cultura, ela ainda é uma questão bem complexa em nossos dias atuais. Mais de quinhentos anos após o descobrimento do Brasil, ainda vivemos sob o julgo e os ranços das relações de dominação, de poder, herdados da colonização; e atualmente estamos subordinados ao “mundo” da tecnologia, pois ao passo que nos faz avançar enquanto povos “modernos”, também nos mantêm presos e dependentes desse sistema dominante. Vivemos em constante deslocamento enquanto identidade nacional, enquanto cidadãos, sujeitos e criadores de expressões e manifestações culturais, em meio a uma pluralidade de diferenças, de toda ordem, que constituem o dissenso característico da pós-modernidade. Não basta apenas ser receptores de uma Indústria Cultural, e sim agentes que participam e produzem diuturnamente cultura, se firmando como construtores de cultura popular. Para Arantes (1982): [...] “cultura popular” surge como uma “outra” cultura que, por contraste ao saber culto dominante, apresenta-se como “totalidade”
  • 15. 15 embora sendo, na verdade, construído através da justaposição de elementos residuais e fragmentários, considerados resistentes a um processo “natural” de deteriorização. (p18) Buscando entender a cultura popular, quase sempre atrelada a questões políticas e de dominação, estudiosos discutiram, divergiram e trouxeram reflexões sobre a cultura popular; porém, apesar de todos os estudos realizados com o objetivo de conceituá-la, ela ainda está distante de ser um conceito bem definido pelas ciências humanas e sociais. Alguns autores atribuem à cultura popular também como sendo religiosidade ou folclore, porém ela é muito mais que isso, é a vivencia, significado, atitudes e valores do povo. Entendemos, pois, cultura popular como aquela produzida pelos vários sujeitos que compõem os tantos arranjos sociais desse imenso Brasil, confrontando-se especialmente com aquele modelo de cultura generalizante que caracteriza a cultura de massa. Os movimentos relacionados à cultura popular foram bem evidenciados em países da América Latina, e veio ganhando força até chegar aqui em nosso país, onde as primeiras reflexões e expressões sobre essa cultura, surgiram na década de 60. Este período foi marcado pelos questionamentos, pela criatividade, pela inquietação de se entender como cidadão brasileiro, buscando compreender a relação da cultura popular com os acontecimentos até então realizados, como a revolução brasileira e outros movimentos que estavam surgindo nesse contexto. Fávero (1983) definiu a cultura popular neste período como: [...] o que se denominou cultura popular, que se definiu e que se defendeu ora como um instrumento de luta política em favor das classes populares, surgiu fazendo a critica não apenas da maneira como se pensava “folclórica”, “ingênua” a cultura do povo brasileiro, mas também e principalmente os usos políticos de dominação e alienação da consciência das classes populares, através de símbolos e dos aparelhos de produção de “uma cultura brasileira”, ela mesma colonizada, depois internamente colonialista. (p.9) Neste período, houve um despertar em prol do fortalecimento das lutas populares, através da conscientização e participação do povo, no sentido de ter um olhar, mais minucioso e questionador com relação às questões de organização das
  • 16. 16 classes populares. Aliado a isso, aconteceu denuncias quanto à elitização da educação. A mesma ganhou apoio e força através das idéias de Paulo Freire e sua busca por uma educação contextualizada. Fávero (1983) destaca o que se pretendia com a cultura popular, “Transformar a cultura brasileira e, através dela, pelas mãos do povo, transformar a ordem das relações de poder e a própria vida do país”. (p.9). Assim, buscava-se um governo de fato democrático, onde todos pudessem participar, de forma atuante, das ações em prol do reconhecimento dos movimentos sociais realizados pelas classes menos favorecidas, denominada assim como cultura popular. Como ressalta Gullar (1965): A expressão “cultura popular” surge como uma denuncia dos conceitos culturais em voga que buscam esconder o seu caráter de classe. Quando se fala em cultura popular acentua-se a necessidade de pôr a cultura a serviço do povo, isto é, dos interesses efetivos do país. (p.1) Apesar de todas as investidas no sentido de transformar a cultura brasileira nos anos 60, ainda vivemos hoje, numa busca constante de reconhecimento da cultura popular. Percebemos que ela já tem se apresentado na sociedade de várias formas, porém, a mesma ainda permanece em muitos ambientes educacionais e em outras esferas da sociedade, camuflada por questões cientificas, sociais e políticas. Ainda assim, é pertinente ressaltar que esta cultura se mantém rica, diversificada e viva nas diferentes formas de saber e viver de cada indivíduo. Atualmente, vivemos nesse contexto cheio de todos os tipos de informações, onde a cultura precisa ser bem compreendida, assumida, no sentido de estar a favor do povo, e feita pelo povo. Deste modo, é pertinente pensar na escola enquanto espaço privilegiado de pluralidade de saberes, de histórias, sentidos, capazes de tornarem o aprendizado mais dinâmico, reforçando os instrumentos de valores para se viver em grupo. Conforme Freire (1984): [...] a educação ou ação cultural para a libertação, em lugar de ser aquela alienante transferência de conhecimento, é o autentico ato de conhecer, em que os educados – também educadores – como consciências “intencionadas” ao mundo, ou como corpos conscientes, se inserem com os educadores – educando também –
  • 17. 17 na busca de novos conhecimentos, como conseqüência do ato de reconhecer o conhecimento existente. (p.99) Nesse contexto, a escola é esse ambiente onde existe uma infinidade de linguagens, e a ação de educar deverá ser um instrumento sustentador de valores, de forma humanizante e significativa, contribuindo para o fortalecimento das relações sociais, onde a cultura popular pode se constitui esse veículo relevante na construção de identidade nacional. A cidade de Senhor do Bonfim é um cenário rico da cultura popular. Aqui há um patrimônio cultural diverso que caracteriza sua origem e história. Neste sentido, as escolas deverão ser aliadas nesta busca significativa das manifestações populares da nossa cidade, a partir das relações de convivência em grupos, nas danças, contos populares, artes, músicas, enfim, nos modos de resistência em que surgiram as relações em sociedade. Diante disso, procurou-se fazer uma reflexão sobre a cultura popular, através dos discursos dos professores e os significados que os mesmos atribuem a ela. Surge, portanto, a questão de pesquisa: Quais os significados que os professores da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental do Centro Estudantil Fundame dão à cultura popular? Tendo como objetivo identificar os significados que os professores da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental do Centro Estudantil Fundame dão à cultura popular.
  • 18. 18 CAPITULO II CULTURA POPULAR A cultura popular surge no Brasil como um movimento ideológico contra uma classe dominante, buscando espaço para os movimentos sociais, políticos, educacionais e culturais das classes menos favorecidas da sociedade brasileira. Como pontua Gullar (1965) “A cultura popular é, em suma, a tomada de consciência da realidade brasileira”. Essa cultura “prega”, de certo modo, a libertação do sistema opressor, buscando espaço e respeito pelas manifestações e pelas reivindicações do povo, enquanto cidadão, que deve gozar dos mesmos direitos e deveres referentes ao convívio em comunidade. Conforme Fávero (1983): Todos os tipos de comunidade que o homem possa construir serão considerados comunidades naturais, num sentido amplo, dado que o homem também é um ser de natureza. Mas, não é enquanto comunidade de seres da natureza que uma comunidade torna-se realmente uma comunidade humana, formada por pessoas, e não simplesmente uma associação natural forçada pelas necessidades exclusivamente vitais. Uma comunidade humana só se faz sentir em razão da capacidade que o homem tem, através do conhecimento e da ação, de transformar o mundo natural em mundo de cultura. (p15) Neste sentido, percebem-se como os humanos são capazes de modificar o ambiente. Essa capacidade é possível pelo conhecimento, e pela ação de mobilização em favor dos interesses. O Brasil é um país marcado pela diversidade cultural, herdada dos africanos, índios e portugueses, que contribuíram para fazer desse país uma terra de culturas variadas, onde cada grupo ou raça deixou suas marcas, nas diversas áreas, tanto com seus costumes, manifestações artísticas, culturais, na culinária, religiosidade e crendices que nos fizeram ser um povo plural e heterogêneo.
  • 19. 19 Como afirma Freire (2003): Somos no plural, temos várias culturas populares, um universo tão rico que, mesmo submetido ao mundo globalizado que impõe uma cultura de massa, como uma colonização cultural, podemos observar que estamos vivendo um re-viver de nossas raízes.(p.65) Essa mistura de raça e cultura, que faz parte da sociedade, enriquecida enquanto nação “plural” foi durante muito tempo à causa de muitas injustiças, como a escravidão dos negros e exploração dos índios pelos brancos, pois alguns povos se achavam superiores a outros, usando como critério a cor da pele e outros artifícios sem justificativas plausíveis e desumanos. Por serem produtores das narrativas, o grupo que fazia parte da cultura que domina, escreveu a história pelos olhos colonizadores de dominação, passando a versão da história como verdade absoluta. Nesse aspecto, Novaes (1984), faz uma crítica a essa cultura e os meios de comunicação que sempre buscaram impor sua ideologia. [...] a ideologia dominante – mesmo não sendo a única em, um sistema capitalista – é a que se impõe, através dos mecanismos de dominação (educação, religião, costumes, meios de comunicação). Assim, a maneira como a classe dominante age será a maneira como todos os membros da sociedade irão agir e pensar. (NOVAES, 1984, p. 183) Com isso, percebemos que ainda existe uma tradição, onde se seleciona o conhecimento específico apenas de pequenos grupos, tornando-se assim, o conhecimento oficial, característico das relações de poder, que envolvem as políticas de controle do conhecimento público de maneira simbólica. Contrapondo todas as formas de dominação imposta pela ideologia da cultura dominante, a cultura popular provocou mudanças em várias áreas, fazendo surgir discussões e reflexões, objetivando reconhecer essa cultura, até então desvalorizada pelos que detinham o poder e pelas elites. A mesma não se moldava a “cultura de elite”, mas sim, propagava-se como cultura popular, a que nasce do modo de vida do povo, dos seus costumes, dos princípios e das tradições.
  • 20. 20 Buscando compreender a cultura popular, Brandão (2002) destaca que: Cultura popular, como cultura dinâmica, presente no meio rural e urbano, que junta tradição e atualidade sempre em transformação, um encontro entre tempos e espaços, com essência de brasilidade, juntando o local com o global, o velho e o novo, completando um com o poder do outro. (p.29) Assim, precisa compreender que a cultura popular se faz presente nas ações diárias, no modo como lidamos com os semelhantes, os códigos e regras que regem o sistema de conduta, das mais simples ações, como correr, andar, expressar, enfim, nas várias formas de ser e agir. Ainda, explicando sobre a cultura popular, Fávero (1983) diz: É popular a cultura quando é comunicável ao povo, isto é, quando suas significações, valores, idéias, obras, são destinadas efetivamente ao povo e respondem às exigências de realização humana em determinada época; em suma, à sua consciência histórica real. (p.23) Contudo, a cultura será popular, a partir do momento que o sujeito se entender como autor da sua própria criação cultural e da sua história, de forma que traga significado pra sua vida, através das ações produzidas pelos indivíduos. Isso favorece recursos para o reconhecimento da identidade, enquanto etnia, língua e grupo social. A cultura, e em especial a cultura popular, dá sentido à vida, na medida em que o homem é capaz de se comunicar e interagir com o seu grupo, pela própria maneira de ser, de forma que venha reconhecer sua origem e valorizar a noção de pertencimento. Por conseguinte, muitos discursos surgiram em defesa da cultura popular, ou contra ela, porém é pertinente salientar que ela não veio substituir a cultura já existente, mas ressignificá-la. Estevam (1963) pontua que: A cultura popular não é mais que uma reforma, mas uma reforma de sentido revolucionário porque sabe unir dialeticamente a possibilidade imediata ao objetivo final e porque assume como
  • 21. 21 objetivo final a transformação material da sociedade. Ela não é o que será a nossa cultura, não é a solução ideal da questão cultural brasileira, mais um encaminhamento de resolução mais estratégico que qualquer outro. (p. 37) O autor, ainda defende a cultura popular, ressaltando o seu valor por saber unir vários elementos que podem encaminhar um processo de amadurecimento e fortalecimento das relações em sociedade. Como esclarece Canclini (1983) “Cultura popular são práticas e formas de pensamento que os setores populares criam por sim próprios, mediante as quais concebem e expressam sua realidade”. (p.41). Era fácil reconhecer a cultura popular, antes da revolução urbanística, pois representava todas as formas espontâneas mantidas pelo povo, em consonância com a tradição oral, livre e participativa. Porém, depois do novo modelo de sociedade, esses tipos de manifestações acabaram entrando no esquecimento por alguns setores e também passou a ser descriminada pela cultura de massa. Surgiram assim, novos discursos em defesa dessa cultura. Todavia, mesmo com essas ações em prol da cultura popular, ela ainda se apresentou e permaneceu fragilizada durante muito tempo, e ainda em nossos dias, alguns a atribuem somente ao folclore e manifestações admiráveis, expectantes, limitando o seu real significado. Assim, muitos debates têm acontecido em vários setores da sociedade em favor do reconhecimento da cultura popular, sobre o seu papel na educação e formação dos alunos. 2.1. Semelhanças e diferenças da Cultura Popular e Folclore O folclore é um dos instrumentos da cultura popular, talvez um dos mais aceitos no espaço escolar, porém com algumas ressalvas, haja vista, que alguns acabam atribuindo a cultura popular somente ao folclore. Os estudos e discussões sobre o folclore surgiram dos movimentos em todos os países da Europa, reunido pensadores, desde o século XVII, onde eram observados os costumes, a oralidade do povo, se colecionavam objetos e outras fontes de história para que se pudesse compreender o significado do folclore. Como pontua Romero (1954), um dos grandes folcloristas brasileiro, a palavra folclore é de origem inglesa, folk-lore que
  • 22. 22 significa (saber do povo), ou seja, é o conjunto de tradições e crenças dos indivíduos que vivem em cultura. Com isso, o folclore representa as formas de conhecimento do povo, suas expressões e as manifestações artísticas, obras confeccionadas pelo povo em uma sociedade e comunidade e que faz parte e enriquece a cultura popular. Nesse sentido, a cultura popular é por alguns, confundida com o folclore, como reforça Arantes (1982), um grande número de autores pensa a “cultura popular” como “folclore”, ou seja, como um conjunto de objetos, práticas e concepções (sobretudo religiosas e estéticas) consideradas “tradicionais”. Essa visão é compartilhada por muitos, por estar muita vezes, presentes em livros didáticos e nos discursos de muitos intelectuais dessa área. É necessário, portanto, a revisão desse olhar fragmentário e generalizante, porém não neutro. Cavalcanti (1978) compreender o folclore como: [...] a idéia de folclore designa muito simplesmente as formas de conhecimento expressas nas criações culturais dos diversos grupos da sociedade. Difícil dizer onde começa e onde termina o folclore, e muita tinta já correu na busca de definir os limites de uma idéia tão extensa. (p.21) Por conseguinte, a trajetória de estudos sobre o folclore no Brasil, teve, além de Sílvio Romero (1851-1914), outro grande nome como: Mario de Andrade (1893- 1945) que atribuía ao folclore, à expressão da nossa brasilidade, ocupando um lugar decisivo na formação de um ideal de cultura popular. Na década de 50, intensificou o movimento do folclore, com outros grandes nomes como: Gilberto Freire (1900 – 1987), Cecília Meireles (1901-1964) Câmara Cascudo (1898 - 1986), que contribuíram com uma nova perspectiva em torno dos estudos sobre o folclore. Cascudo (2002) dividiu seu estudo sobre o folclore em três fases: Colheita, confronto e pesquisa de origem. Com o objetivo de reunir e registrar as fontes do folclore tanto nas cidades quanto na zona rural. O próprio ator pontua o que mais lhe chamou atenção no folclore: “Apaixonou, maiormente o folclore musical, a literatura
  • 23. 23 oral. Usos, costumes, gestos, modismos, indumentárias, os complexos sociais, têm despertado atenção muito pobre”. (p.11). Cavalcanti (1978) contribui dizendo que: [...] a noção de folclore não está dada na realidade das coisas. Ela é construída historicamente e, portanto, a compreensão do que é ou não folclore varia ao longo do tempo... No Brasil, os estudos de folclore incidiam basicamente sobre a literatura oral, depois veio o interesse pela música, e mais tarde ainda... O campo se amplia com a abordagem dos folguedos populares. (p.21) Houve no período pós-guerra, uma movimentação em torno do folclore. Existia assim, uma comissão nacional do folclore que tinha total apoio da UNESCO (Organização das Nações Unidas), pois entendia o folclore como sendo um veiculo em favor da paz mundial, por promover e incentivar o respeito às diferenças entre as nações. Percebe-se, o quanto o folclore é importante, e o quanto muitos autores assemelha o entendimento de cultura popular a folclore. Pontuamos, no entanto, que os aspectos do folclore são relevantes para a construção da identidade, enquanto indivíduos e cidadãos brasileiros, quando vivenciados neste universo colorido que é a cultura popular, onde a mesma conta com este rico recurso que é o folclore, para abrilhantar ainda mais esse espetáculo de cor e beleza, que fazem parte do grande cenário da cultura popular brasileira e por não dizer mundial. No entanto, o mesmo não pode ser confundido com cultura popular, mas como elemento integrante desta, uma vez que, essa “confusão” de significados, acaba por legitimar os interesses hegemônicos que apresentam a cultura de massa como algo sempre novo, vivo e dinâmico, em contrapartida à cultura popular como saberes ultrapassados, a ser lembrados superficialmente pelos setores da sociedade em datas comemorativas.
  • 24. 24 2.2. Contos Populares Percebemos o quanto à cultura popular é diversificada em seus estilos e dimensões, que está presente tanto no campo como nas cidades, juntando o tradicional e o atual, sempre se modificando. Somando assim, o local e o global, a escrita e a oralidade. Neste aspecto, a tradição oral está bem presente com seu encanto e a criatividade do povo, que tem chagado até os nossos dias através da tradução em livros de muitos contos e também pela forma de contar os contos populares. Refletindo com Freire (2003): Quando falamos de cultura popular estamos nos referindo não apenas às manifestações festivas e as tradições orais e religiosas do povo brasileiro, mas ao conjunto de suas criações, às maneiras como se organiza e se expressa aos significados e valores que atribui ao que faz. (p.53) Para Freire, somos agentes de cultura. Ouvimos, contamos nossas histórias, saberes, versos, expressões, criações artísticas, e isso não nos foram ensinado especialmente pela TV, internet ou outro tipo de tecnologia. Esse conhecimento nos foi possível pela vivencia com diferentes saberes, durante os anos de nossas vidas e que são passados de geração a geração, através da tradição oral, presente nos contos populares e em todas as formas e recursos presentes na cultura popular. Conforme Sousa e Souza (2008): A tradição oral pode ser vista como uma cacimba de ensinamentos, saberes que veiculam e auxiliam homens e mulheres, crianças, adultos, / velhos/ a se integrarem no campo e nas tradições. Sem poder ser esquecida ou desconsiderada, a oralidade é uma forma encarnada de registro, tão complexa quanto à escrita, que se utiliza de gestos, da retórica, de improvisações, de canções épicas e líricas e de danças como modos de expressão. (p.155) Os contos populares são cercados de todo um encantamento capaz de provocar nos seus ouvintes um momento de prazer e envolvimento, onde a sua mente será um palco de personagens com seus vários significados.
  • 25. 25 Conforme Sousa e Souza (2008): As narrativas orais expressam hábitos e valores cujo compartilhamento se dá no ambiente familiar, religioso, comunitário, escolar. Todo este patrimônio está no corpo e na mente das pessoas, onde quer que elas estejam. (p.156) A tradição de contar história vem desde os nossos antepassados, e nos acompanha até os dias atuais. Mesmo com todos os recursos áudios visuais, as crianças ainda são estimuladas por alguns adultos, a quererem ouvir e viajar através da beleza das narrativas, se identificando aos diferentes tipos de personagens, e despertando para vários sentimentos. Como afirma Abramovich (1995) “É ouvindo histórias que se pode sentir emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-estar, o medo, a alegria a insegurança, a tranqüilidade e tantas outras mais”. (p.42). Assim, os ouvintes se identificam com os personagens, e buscam interpretar as ações ocorridas nas histórias, dando vida aos mesmos, através da imaginação. Já para Cascudo (2002): Conto popular é a estória de trancoso, conto de fadas, da carochinha, etc. É de importância capital como expressão de psicologia coletiva no quadro da literatura oral de um país. As várias modalidades do conto, os processos de transmissão, adaptação, narração, os auxílios da mímica, entonação, o nível intelectual do auditório, sua recepção, reação e projeção determinam o valor supremo como um dos mais expressivos índices intelectuais populares. (p.303) As narrativas orais vêm desde muito antes das narrativas escritas, e permanecem vivas em nossos dias, principalmente em algumas tribos indígenas, que perpetuam essa forma de transmissão oral, onde a história de seus antepassados e outras histórias criadas com personagens de bichos, como formas de entreter os membros de suas comunidades são transmitidas às novas gerações.
  • 26. 26 Conforme Sousa e Souza (2008): [...] Os povos indígenas no Brasil, por exemplo, não empregavam um sistema de escrita, mas garantiram a conservação e continuidade dos conhecimentos acumulados, das histórias passadas e, também, das narrativas que sua tradição criou, através da tradição oral. (p.90) As histórias, oriundas da tradição oral indígena, africanas e européias, e também das manifestações culturais, estão presentes nas músicas, danças, brincadeiras, festas populares. O Brasil tornou-se um país cultural, rico e criativo artisticamente, onde muitas dessas manifestações se mantiveram firmes mesmo em meio à desvalorização e descrédito por alguns integrantes da elite. 2.3. Interpretando os Significados Através dos estudos e aprendizagem sobre a cultura popular, o homem se percebe como sujeito crítico e ativo da própria criação cultural, através da conscientização sobre os valores éticos e morais da sociedade, de forma significativa. Conforme Bueno (1985), Significado ou significar tem a seguinte tradução “significação, equivalente de uma palavra, sinônimo, ter o sentido de, exprimir, querer dizer, ser sinal de, denotar, dar a entender, mostrar, se constituir, traduzir-se, notificar, expressar, participar” (p.1052) Saussure (2006, apud JAPIASSÚ e MARCONDES, 1990) conceitua significado como sinônimo de conceito. Com efeito, o signo lingüístico, tal como ele o concebe é o resultado da combinação de um significante e significado, ou numa outra formulação de uma imagem acústica de um conceito. Para ele signo é o mesmo que conceito e significado. Em filosofia da linguagem, a teoria do significado examina os vários aspectos de compreensão das palavras e expressões lingüísticas e dos signos, em geral essas compreensões estão expressas em Japiassú e Marcondes (1990): “um desses aspectos centrais é a relação de referencia, que é um dos elementos constitutivos do significado”. (p.37).
  • 27. 27 Outros autores, como Quine (1996), ressaltou sobre a relevância do significado não só a partir de uma sentença ou expressão lingüística de forma solta ou isolada, mas de significação da linguagem de forma total. Burke (2003) Pontua: O significado de alguma coisa para o individuo é sempre a assimilação dessa coisa, às estruturas que formam seu universo mental. A rigor, portanto, há tantos significados para um mesmo objeto quanto são os indivíduos que tiveram tido contato com ele, e os significados serão, também, sempre mais ou menos móveis para cada individuo. (p.31) Assim, cada educador e cada educando, tem seu significado, de forma singular. Todos têm sua própria compreensão sobre diferentes realidades. Deste modo, a cultura popular se apresenta através da contextualização desses saberes em sala de aula, que surgirão então, conhecimentos significativos para a vida de cada aluno e da sua comunidade, respeitando a diversidade e promovendo um respeito pelas diferenças, enriquecendo as relações sociais. Como destaca Silva (1995): [...] É através dos significados contidos nos diferentes discursos, que o mundo social é representado e conhecido de certa forma, de uma bastante particular, é que o eu é produzido. E essa ‘forma particular’ é determinada precisamente por relação de poder [...] Os significados carregam a marca do poder que os produziu. (p.199) Deste modo, percebemos o quanto é importante que o professor se perceba enquanto sujeito responsável em transmitir e vivenciar valores culturais, de forma que venha contribuir para formação crítica e reflexiva de seus alunos, por conseguinte, possa atribuir significado a todas as ações e discursos que venham a ocorrer em sua sociedade. Sacristan e Gomes (1990) abordam o tipo de aprendizagem que é fundamentalmente significativa, ou seja, não é algo por acaso. Tem um propósito, uma finalidade que é despertar nos discentes a descoberta do novo, de forma
  • 28. 28 consciente, criativa e crítica, buscando novos significados ou sentidos de valores para a vida em sociedade. Conforme os mesmos autores: A essência da aprendizagem significativa reside em que às idéias expressas simbolicamente são relacionadas de modo não-arbitrário, mas substancial com que o aluno já sabe. O material que aprende é potencialmente significativo para ele. (SACRISTAN E GOMES,1990, p.57). Desta forma, para que o professor possa desenvolver em seus discentes uma aprendizagem significativa, é necessária uma vinculação de novas idéias, formas, conceitos, troca de conhecimentos, dinamismo, onde o mesmo possa promover um intercambio de saberes com a turma, sobre a cultura popular e seus reais significados, de maneira que cada um se perceba enquanto agente e participante de sua cultura, através do respeito entre esses sujeitos. “Somente uma relação que respeite a pessoa, ou seja, uma relação de pessoa a pessoa, pode salvar dois dos extremos opostos” (GADOTTI, 2007, p.66). Neste aspecto, o professor é o mediador dessa relação. Cabe, pois, a ele provocar a construção de uma educação mais participativa e transformadora, onde os alunos se vejam como protagonistas de suas histórias, através das produções e saberes vivenciados em seu dia-a-dia. Como afirma Vygotsky (1985): É no significado que se encontra a unidade das suas funções básicas da linguagem: o intercâmbio social e o pensamento generalizante. São os significados que vão propiciar a medição simbólica entre o individuo e o mundo real, constituindo-se no “filtro” através do qual o individuo é capaz de compreender o mundo e agir sobre ele. (p.81) Percebemos que os significados são estabelecidos pelo uso, pelos costumes e assimilações, e neste sentido se faz necessário que o professor se perceba enquanto individuo que compreenda seu papel em face à diversidade cultural existente na escola e nos demais seguimentos da sociedade.
  • 29. 29 2.4. O professor: Formação e Prática A função do professor vai além de sua formação acadêmica. Não se limita apenas a formar seus alunos nas séries exigidas no currículo, mas perpassa por uma ação que vai além das disciplinas. Busca provocar em cada individuo um despertar para a escola da vida, através de uma prática crítica e reflexiva. Como pontua Alves (1989) sobre a função do professor, “É aquele que educa que realiza seu trabalho com intuito de mudar a sociedade, pois possui ideologia e se torna insubstituível, fazendo diferença na sociedade” (p.54). Com isso, é necessário que o professor perceba seu papel em meio à diversidade cultural, presente no contexto escolar, buscando realizar um aprendizado, através dos saberes e vivência de cada aluno, num intercâmbio de conhecimento, num ensino - aprender. Como destaca Freire (1997) É preciso que, desde o começo do processo, vá ficando bem claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É nesse sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é a ação pela qual um sujeito criador dar forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (p.25) Neste sentido, para que a prática do professor em sala de aula promova esse intercâmbio de ensinar e aprender, é preciso que o mesmo busque investir em sua formação, no sentido de estar sempre refletindo sobre as suas ações. Conforme Freire (1997, p.47) “É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática”. Deste modo, o professor deve sempre melhorar e aprimorar sua prática, uma vez que, a educação e a sociedade estão em constante transformação. Comungando com este mesmo pensamento Nóvoa (1999) afirma: Há uma diferença fundamental entre se formar e formar-se. Até hoje os professores tem sido formados por grupos profissionais diversos, sem que as suas próprias experiências tenham alguma vez sido valorizadas. É tempo de os professores pensarem em formar-se,
  • 30. 30 assinalando-se as dimensões pessoais (o eu individuo) e as dimensões profissionais (o eu coletivo) nos quais este processo deve alicerçar-se. (p.39) O autor, busca despertar no professor uma reflexão sobre sua real formação, sua profissão, sua cultura, suas experiências tanto individuais, quanto coletiva, seus valores de solidariedade, ética, enfim, todas as áreas da sensibilidade, uma vez que, este profissional está lidando com seres humanos, com sentimentos, tão reais quanto os seus. Para que haja uma transformação em sua prática pedagógica, é preciso trabalhar com seus alunos, despertando para a valorização das diferenças e manifestações presente na sua comunidade, através do reconhecimento da cultura popular. Conforme Vasconcelos (2002): Uma educação mobilizadora deve ter em conta as condições concretas de existências. O primeiro passo, portanto, do educador, enquanto articulador do processo de ensino-aprendizagem deverá ser no sentido de conhecer a realidade com a qual vai trabalhar (alunos, escola, comunidade), além, é claro, do imprescindível conhecimento do objeto de estudo e da realidade mais ampla que todo educador deve ter. Para isso, de início o professor tem que aprender com seus alunos. (p.56) O professor que, busca melhorar sua prática trabalha com o conhecimento do aluno, objetivando uma melhor compreensão dos seus anseios, limitações e sua realidade. É estudar com os alunos, a sua cultura, o que Nidelcoff (2004), se refere à totalidade daquilo que os indivíduos aprendem, enquanto membros de uma sociedade; é um modo de vida, de pensamento, de ação e de sentimento. É interagir e utilizar os recursos do meio social desses indivíduos, suas manifestações culturais, sua linguagem, seus costumes, fortalecendo a cultura local presente na cultura popular. Nascimento (1997) debate que: A formação de professores deve ser compreendida como um processo global e precisa assegurar a formação integral da pessoa, do cidadão e do profissional. No entanto, é possível verificar que as
  • 31. 31 estratégias de formação, que tem sido utilizada com mais freqüências em nosso país, tem estado voltadas preferencialmente, de uma forma praticamente amputada da formação da pessoa e do cidadão. (p.76) É preciso, questionar o tipo de “formação” que não ver o todo, o ser profissional e principalmente o ser humano, sua afetividade, seus questionamentos, suas crenças, seus paradigmas, enfim, valorizar o professor e seu ofício como ser importante que influenciará na formação de outros indivíduos. 2.4.1. Escola e Currículo A escola é entendida como um dos grandes setores responsáveis pela formação da identidade. É necessário, que os alunos sejam entendidos numa perspectiva que “permita a construção de um olhar mais alargado sobre a educação, como processo de humanização, que inclua e incorpore os processos educativos não-escolares” (GOMES, 2000 p.1). Neste sentido, a escola deve sair para a comunidade, à rua, a zona rural, e estes, devem entrar ou mesmo “invadir” esse espaço escolar, para que o saber popular, sua fala, seus contos, ritmos, sejam compartilhados, deixando de ser de certa forma, um lugar de exclusão, para ser um lugar de promoção do conhecimento popular. Pois, a escola, como esse espaço de difusão do conhecimento sistemático, não tem reconhecido esses saberes e sim, tem os negado dentro do seu espaço, vez, que está perdendo a oportunidade de contextualizar conhecimentos significativos pra a vida do aluno, como também para a sociedade como um todo. Como afirma Apple (1997) “A educação torna-se um conjunto de instituições através da qual o estado tenta ‘produzir, reproduzir, distribuir e mudar’ os recursos simbólicos, a própria consciência da sociedade”. (p.102) Com isso, é preciso rever o currículo que rege as ações educativas. A discussão em torno do currículo não é nova. Desde muito tempo, sugiram críticas a este modelo, porém, muitos grupos se levantaram em defesa, para que o estado apoiasse apenas o saber da cultura dominante. Se opondo a este
  • 32. 32 pensamento, Apple (1997) continua afirmando que “O conteúdo do currículo e o processo de tomada de decisões que o cerca, não podem ser simplesmente resultados de um ato de dominação”. (p.104) A escola não pode mais fechar os olhos para a cultura popular, seus instrumentos, linguagens, conflitos, preconceitos, artes, ensinamentos, leitura e releitura da história da colonização dos povos, a outra versão, o outro olhar, menos fragmentado, mais vivido, mais sentido. Através desse leque de possibilidades que a cultura popular se apresenta, cabe, portanto, a escola, conceber esse espaço onde viceje essa multiplicidade de linguagens, para que floresça também, uma pluralidade de sentido, de novos sentidos para o ser “humano”. Como afirma Gentilli (2005): A escola deve contribuir para tornar visível o seu olhar normalizador oculto... Deve ajudar a interrogar, a questionar, a compreender os fatos que historicamente contribuíram na produção da barbárie que supõe negar os maiores elementos dos direitos humanos e sociais, às grandes maiorias. (p.42) Precisamos de uma escola que prive pela solidariedade e respeito às diferenças, tanto locais, culturais e sociais. Que contribua para que os seus alunos se reconheçam enquanto indivíduos, participantes de sua cultura. Conforme Silva (2008, p.86), “Uma escola apta pra fazer do ensino um instrumento sustentador de valores e não mais pura e simplesmente reprodutora de um ensino técnico”. Dessa forma a escola poderá levar os discentes a despertarem para ações que promovam transformação, através de suas atitudes, consolidadas no seu contexto escolar, familiar e social. Nidelcoff (2004) discorre que: [...] Não se pode fazer uma mudança profunda na escola enquanto não se faça uma mudança social também profunda, que proponha novos ideais comunitários e pessoais com uma nova maneira de ver a realidade e a História e que valorize de forma diferente a educação do povo e a cultura popular. (p.19)
  • 33. 33 Sabemos que a escola sozinha não mudará a sociedade. Mas, ela pode ser um veículo muito rico para propagação de novas atitudes e valores, desde que, não venha a se adequar ou se acomodar com esta realidade excludente presente na sociedade. Gentilli (2005) pressupõe que “Em nossas sociedades fragmentadas, os excluídos devem se acostumar à exclusão. Os não excluídos também”. (p.30). Neste sentido, a situação de exclusão cai no esquecimento e no silêncio, fazendo com que as partes envolvidas neste processo permaneçam na mesma situação. A partir do momento que a escola, se inserir no contexto de sua clientela e começar a dialogar com outros saberes e outras culturas, se tornará mais democrática e justa. As escolas, e principalmente as públicas, estão lotadas de uma diversidade cultural. Elas só precisam avançar em prol de uma sociedade mais humana, sem ignorar as diferenças e o potencial dos alunos como produtores de diversos saberes populares.
  • 34. 34 CAPITULO III METODOLOGIA Com consonância com Minayo (1994), Compreendemos que “a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilita a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do investigador”. (p.16). Tendo em vista o nosso objetivo nesta pesquisa, que é identificar os significados que os professores da Educação Infantil e Ensino Fundamental do Centro Estudantil Fundame, dão à cultura popular, escolhemos para tanto, aporte teórico na pesquisa qualitativa, por considerar que a mesma propicia um contato mais direto do pesquisador com os sujeitos pesquisados. 3.1. Tipo de Pesquisa Optamos por este paradigma qualitativo, por entender que é através das respostas dos indivíduos que se pode perceber a subjetividade, o universo de significados, de motivações, de valores que fazem parte da pesquisa de cunho social, que não pode ser quantificados, e que, portanto, merecem atenção da pesquisa qualitativa. Neste aspecto Barbosa (2002) contribui sobre a pesquisa qualitativa, por entenderem que a mesma possibilita ao pesquisador: [...] compreender o comportamento e a experiência humana. Eles procuram entender os processos pelos quais as pessoas constroem significados e descrevem o que são aqueles significados. Usam observações empíricas, porque é com os eventos concretos do comportamento humano que os investigadores podem pensar mais claro e aprofundarem sobre a condição humana. (p.18) Essa abordagem possibilita o contato mais próximo com os sujeitos e com o ambiente no qual se dará à pesquisa, promovendo ao pesquisador o conhecimento da aprendizagem produzida nesses espaços. Buscando perceber as compreensões
  • 35. 35 que estes indivíduos têm quanto às questões levantadas, como forma de possibilitar e favorecer respostas mais claras e significativas. Para Minayo (1994): A pesquisa qualitativa responde a questões particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que correspondem a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (p.22) . A pesquisa qualitativa permite ao pesquisador um contato mais próximo com os sujeitos, permitindo perceber ações, sentimentos, reações, e todos os tipos de mudança que possa ocorrer, sendo analisadas de forma significativa, buscando se chegar ao objetivo da pesquisa. 3.2 Locus da Pesquisa O Locus onde se desenvolveu a pesquisa foi o Centro Estudantil Fundame, localizado no Bairro Casas Populares, na cidade de Senhor do Bonfim – BA. Seu espaço físico é composto de 5 salas, 1 secretaria, 1 diretoria, 1 brinquedoteca, 1 refeitório, 3 banheiros, parque infantil e um espaço amplo e arborizado onde as professoras realizam várias atividades com as crianças ao ar livre. A escola tem uma clientela de 120 alunos, distribuídos entre maternal, educação infantil I e II e uma turma de ensino fundamental, funcionando no turno matutino, no turno vespertino acontece o trabalho com os adolescentes no projeto chamado MQV1 (Mais que Vencedores), que tem como objetivo acompanhar os adolescentes em situação de risco, através de oficinas de arte, brincadeiras, jogos, que já deixaram à escola nas séries normais de ensino. Acontecem também, as terças e quintas oficinas de artesanato com as mães. O fator relevante, para a escolha por este locus de pesquisa foi por já ter trabalhado nesta escola e ter tido a oportunidade de conhecer um pouco do trabalho 1 MQV – Mais que Vencedores é um projeto social da escola, que busca integrar os alunos que não pertencem mais a referida instituição. São desenvolvidas oficinas de arte e atividades lúdicas.
  • 36. 36 que vem sendo desenvolvido com as crianças e adolescentes de bairros periféricos da cidade de Senhor do Bonfim-Ba, porém dotados de uma vasta cultura popular. 3.3. Sujeitos da Pesquisa A amostra foi constituída por cinco professores, sendo três da educação infantil, e dois do ensino fundamental, que lecionam no turno matutino do Centro Estudantil Fundame, no município de Senhor do Bonfim – Bahia. Dessas professoras três possuem graduação completa em pedagogia e as outras duas também estão cursando pedagogia. A escolha pelas professoras se deu de forma aleatória dentre aquelas que trabalham no universo pesquisado. Vale destacar, a contribuição das mesmas para o levantamento de dados necessários ao desenvolvimento da pesquisa. 3.4. Instrumentos de Coletas de Dados Procurando conhecer e interpretar a problemática apresentada, foi utilizado como instrumento de coleta de dados: Observação participante, questionário fechado e entrevista semi-estruturada. 3.4.1. Observação Participante O uso da observação participante na pesquisa é relevante, pois valoriza a experiência, percebe de perto o trabalho desenvolvido pelos sujeitos, permitindo assim, um melhor direcionamento do trabalho. Sobre esse instrumento de coleta de dados Cruz Neto (1994) pontua: A técnica de observação participante se realiza através do contato direto do pesquisador com o fenômeno observado para obter informações sobre a realidade dos atores sociais em seu próprio contexto. O observador, enquanto parte do contexto de observação, estabelece uma relação face a face com os obstáculos. (p.29) O contato com estes sujeitos, se deu de forma harmoniosa e dinâmica, haja vista ter trabalhado nesta unidade escolar, em anos anteriores e conhecer o trabalho de perto.
  • 37. 37 3.4.2. Questionário Fechado Sobre a importância do questionário fechado como instrumento de coleta de dados. Barros (2000) contribui dizendo: Questionário é um dos principais instrumentos de trabalho utilizado em quase todos os tipos de pesquisa. Ele é constituído de uma série de perguntas organizadas, com o objetivo de levantar dados para uma pesquisa. (p.58) A escolha, deste instrumento se deu pela necessidade de se obter os dados que possibilitem chegar aos objetivos da pesquisa, além, de traçar o perfil dos sujeitos pesquisados de forma objetiva, organizada. 3.4.3. Entrevista semi-estruturada A entrevista é um recurso que nos permite reforçar os elementos pontuados no questionário, pois permite que os sujeitos se expressem oralmente, permitindo ao entrevistador aprofundar, questionar e recolher uma diversidade de informações. Como pontuam Good e Hatt (1968): [...] a entrevista permite correções, esclarecimentos, e adaptações que a tornem sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejadas. Enquanto outros instrumentos têm seu destino selado no momento em que saem das mãos do pesquisador que os elaborou, a entrevista ganha vida ao se iniciar o diálogo entre o entrevistador e o entrevistado. (p.137) O uso da entrevista, além das muitas vantagens, também possibilita informações claras por parte do entrevistado, possibilitando um dialogo e interação entre entrevistador e entrevistado. Compactuando com essa mesma opinião Trivinos (1995) destaca: Entende-se por entrevista semi-estruturada de uma maneira geral, aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em
  • 38. 38 teorias e hipóteses que, interessam à pesquisa e que, em seguida, oferece amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. (p.146) Acreditamos que através desse instrumento de pesquisa, será possível obter maior aquisição de informações, de maneira que o entrevistado tenha liberdade para se expressar sobre o tema proposto e expor sua compreensão sobre a temática desenvolvida, além de, fornecer mais subsídios para responder a questão que norteou este trabalho de conclusão de curso.
  • 39. 39 CAPÍTULO IV ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Neste capitulo, apresentaremos analise e interpretação de dados, a fim de alcançar o objetivo da presente pesquisa que é identificar os significados que os professores da Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental do Centro Estudantil Fundame dão à cultura popular. Conforme Gil (1991): Está é a última fase de um levantamento. Logicamente coletados e analisados. Entretanto, é de toda conveniência durante o planejamento definir-se a cerca da forma como serão apresentados os dados. (p.103) Iniciamos, traçando o perfil dos nossos sujeitos, tendo como suporte as informações contidas no questionário fechado. E, conseguinte discutiremos e apresentaremos as respostas coletadas dos professores sobre a cultura popular, através da observação participante e da entrevista semi-estruturada. 4.1 Perfil dos Sujeitos Tivemos como sujeitos da pesquisa cinco professoras, sendo três de educação infantil e duas do ensino fundamental. Com o objetivo de traçar o perfil dos entrevistados utilizaremos gráficos com porcentagens 4.1.1 Gênero 0% FEMININO MASCULINO 100% Gráfico 4.1.1. Percentual quanto ao gênero dos sujeitos.
  • 40. 40 Conforme o gráfico 4.1.1, observamos que 100% dos educadores entrevistados são do sexo feminino. Conforme Kramer (1992) a grande quantidade de mulheres na educação, vem de um processo histórico, onde traz alguns ranços que de certa forma desqualifica essa atividade, por caracterizá-la a uma ação apenas materna, por outro lado, percebemos que a mulher vem alcançando o seu espaço na área educacional e também em vários setores da sociedade. 4.1.2. Formação Acadêmica Graduação completa 40% Graduação incompleta 60% Gráfico 4.1.2. Percentual quanto à formação acadêmica. Sobre a formação acadêmica percebemos que 60% das professoras, possuem nível superior completo em Pedagogia e 40% tem nível superior incompleto na mesma área de estudo. Nota-se um interesse na formação acadêmica, impulsionada por alguns incentivos, como melhoria salarial, e mais conhecimento para o trabalho pedagógico. Conforme Freire (1997) a formação dos professores deve ser permanente e o momento fundamental da reflexão crítica sobre a prática.
  • 41. 41 4.1.3 Carga-horária de trabalho 20% 40% 20 horas 40 horas 40% 60 horas Gráfico 4.1.3. Percentual quanto carga-horária de trabalho. A partir da análise deste gráfico, percebemos que a jornada de trabalho das professoras variam entre 20 e 60 horas. Compreendemos que uma menor carga horária de trabalho possibilita um melhor desempenho deste profissional, já que o mesmo tem mais tempo para planejar e aprimorar suas atividades. No entanto, a precarização do trabalho docente empurra o/a professor/a a ocupar seu tempo livre na realização de outras atividades que complemente sua remuneração. Vale destacar que com uma carga-horária mais extensa poderão ter que se desdobrar para atender todas as demandas do processo ensino-aprendizagem. 4.1.4 Renda Familiar 20% 2 SALÁRIOS MÍNIMOS 40% 3 SALÁRIOS MÍNIMOS 40% MAIS DE 3 SALÁRIOS MÍNIMOS Gráfico 4.1.4. Percentual quanto à renda familiar dos sujeitos.
  • 42. 42 Segundo as informações obtidas e representadas no gráfico, 40% das professoras têm uma renda familiar de mais três salários mínimos, 20% recebem dois salários mínimos e 40% da renda familiar das outras professoras é de mais de três salários mínimos. A questão salarial, ainda é um forte entrave na questão educacional do nosso país. O professor não é bem remunerado, isso traz outras conseqüências, como a falta de estimulo desses profissionais para atuarem com maior vigor e empenho no desenvolvimento educacional e cultural dos seus alunos, como também o desejo de migrarem para outras profissões mais bem remuneradas e valorizadas pelo sistema político e social. 4.1.5. Acesso aos meios de comunicação 20% RÁDIO, TV, JORNAL, REVISTA E INTERNET RÁDIO, TV, JORNAL E REVISTA 80% Gráfico 4.1.5. Percentual ao acesso aos meios de comunicação. Quanto ao acesso aos meios de comunicação, notou-se que 80% das professoras utilizam como meio de comunicação: rádio, TV, jornal, revistas e internet, no entanto, observa-se que 20% das professoras optam por rádio, TV, jornal, e revistas, o que denota que as mesmas ainda estão apegadas, apenas aos livros didáticos.
  • 43. 43 4.1.6. Definições de Cultura Popular A questão da cultura popular é hoje definida e empregada por uma grande quantidade de pessoas, tanto nos setores governamentais como na educação. MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS E CULTURA DO POVO 20% FESTAS RURAIS 20% 60% FOLCLORE Gráfico 4.1.6. Percentual sobre a definição de cultura popular. Visualizamos no gráfico que 60% atribuem o significado de cultura popular, a manifestações artistas, cultura de um povo, 20% atribuem a festas rurais, e 20% atribuem à cultura popular ao folclore. Isto denota a distorção que ainda há quanto à compreensão da cultura popular e seus significados na vida social e cultura dos entrevistados. É importante salientar sobre os 20% que atribui a cultura popular a festas rurais, isso demonstra uma visão ainda influenciada pelo modelo de cultura dominante que despreza ignora as classes menos favorecidas da sociedade. A cultura popular é vista por muitos autores como uma cultura subalterna, diferenciando a cultura popular da cultura hegemônica, ou de elite onde a popular estava sujeita a de elite. (MELLO 1988). Pontuamos também, que a cultura popular tem sido atribuída ao folclore, como vimos no gráfico 20% acreditam ser a cultura popular o mesmo que o folclore. Quando na verdade ele é um rico instrumento da cultura popular.
  • 44. 44 Cavalcanti (1978) compreende o folclore como a idéia que designa muito simplesmente a formas de conhecimento, expressas nas criações culturais dos diversos grupos da sociedade. 4.1.7. O trabalho com a cultura popular na escola TRABALHA 20% RARAMENTE NÃO TRABALHA 20% 60% Gráfico 4.1.7. Percentual sobre trabalho com a cultura popular na escola. Observamos que 60% das professoras consideram trabalhar com a cultura popular na escola, 20% responderam que não trabalharam e mais 20% responderam trabalhar raramente. 4.1.8. O trabalho com os contos populares na escola. TRABALHA 20% RARAMENTE NÃO TRABALHA 20% 60% Gráfico 4.1.8. Percentual sobre os contos populares em sala de aula. O gráfico apresenta o mesmo percentual que o gráfico anterior, os sujeitos responderam da mesma forma, ou seja, a utilização dos contos populares em sala
  • 45. 45 de aula, segundo as respostas do questionário, tem acontecido de forma significativa. 4.1.9. A utilização dos contos populares pelos professores 20% 40% LITERATURA DE CORDEL CONTOS REGIONAIS 40% NENHUM Gráfico 4.1.9. Percentual sobre os contos populares que são utilizados pelas professoras. Segundo o gráfico, 40% das professoras trabalham com a literatura de cordel, 40% com os contos, e 20% reconhecem que não utilizam os contos populares na escola. Salientamos ainda, que o mesmo percentual de 20% que demonstra não trabalhar com os contos populares, permanecem em consonância desde os gráficos anteriores. 4.2. Analise da Entrevista Semi-Estruturada Alguns dos dados coletados pela entrevista semi-estruturada, associadas a observação participante, serão também representados por gráficos, onde observaremos algumas contradições que por ventura possam aparecer no discurso dos sujeitos. Utilizamos nesta entrevista o gravador, e em seguida transcrevemos as falas dos entrevistados na íntegra. O discurso de cada professora será representado pela letra P seguida de algarismos arábicos (1, 2, 3, 4, 5) para manter o anonimato e a identidade dos sujeitos. A entrevista é um grande recurso utilizado. A mesma ganha sentido e significado. Como diz Ludke e André (1986) “Enquanto outros instrumentos têm seu
  • 46. 46 destino selado no momento em que saem das mãos do pesquisador que os elaborou, a entrevista ganha vida ao se iniciar o dialoga entre o entrevistador e o entrevistado” (p.34). A partir do conceito de Ludke e André (1986), ao qual reafirmamos a importância da entrevista, dividimos os discursos das professoras em categorias a fim de delimitar nosso objeto de estudo. 4.2.1. Significados de cultura popular. 20% MANIFESTAÇÕES CULTURA DO POVO 20% 60% CULTURA TRAZIDA Gráfico 4.21. Percentual sobre os significados da cultura popular Pelas respostas obtidas na entrevista semi-estruturada e representadas neste gráfico, percebemos algumas contradições quanto às respostas obtidas no questionário fechado representado também em gráfico. Pra mim, cultura popular, são manifestações culturais, festas rurais, folclore, cultura de um povo, dança. Tudo que de certa forma, é... Retrata a história da nossa cultura popular e de um povo. (P1) São manifestações, é... Que vem diretamente do povo, passando de pessoa para pessoa, que faz parte da cultura local. (P2) Manifestações artísticas, cultura de um povo. Costumes. (P4) Manifestações do povo. Tudo que o pessoal traz. (P5) Ao analisarmos a fala dos professores, percebemos que 60% das professoras entrevistados atribuem a cultura popular a manifestações. Isso nos chamou a atenção por perceber um discurso um tanto quanto automático, ou seja, a palavra
  • 47. 47 toma um lugar comum, já incorporada, sem que dimensionasse o verdadeiro significado da mesma. O que de fato a palavra representa não foi demonstrado no discurso. Sobre manifestações Aurélio (1975) define como: Ato ou efeito de manifesta- se; expressão. Revelação, esclarecimentos, demonstração. (p.88). Destacamos ainda, que das professoras que atribuem à cultura popular a manifestações, apenas a P1 dilata um pouco mais a discussão, tendo uma visão mais ampla, conseguindo demonstrar de certa forma como a cultura popular se apresenta. As demais, falam de forma vaga, sem explicitar, não interpretam de fato o que a cultura popular é ou representa. Como na fala do P5 que explica de forma superficial, não explorando a questão. Fávero (1983) destaca que “a significação da cultura popular é precisamente entrar em tensão ideológica contra uma cultura de dominação.” (p.34) Fávero ainda (1983) descreve que cultura popular é a cultura do povo, isto é, quando seus significados, idéias, são destinadas ao povo, respondem as exigências humanas em determinado tempo e contexto, levando o homem a se assumir como sujeito de sua própria criação cultural de forma reflexiva e consciente. Acreditamos que ainda não é compreendido pelos que estão de certo modo “responsáveis” pela ação de educar, o significado da cultura popular, suas manifestações e seu papel de reconhecimento de uma educação, que venha responder de fato a necessidade do povo, onde estes devem ser ouvidos, onde sua cultura respeitada e valorizada na escola, de modo a contribuir para a formação da identidade dos alunos.
  • 48. 48 4.2.2. Cultura popular na escola 20% 20% TRABALHA RARAMENTE NÃO TRABALHA 60% Gráfico 4.2.2. Percentual sobre o trabalho com a cultura popular na escola. Notamos uma contradição, quanto às respostas do questionário fechado com as respostas dadas pelas professoras na entrevista. Se voltarmos nos gráficos anteriores, veremos uma troca nas porcentagens, pois, 60% diziam trabalhar com a cultura popular, porém, na entrevista, apenas 20% confessam realmente trabalhar, 60% dizem trabalhar raramente e os 20% continuam confirmando que não trabalham a cultura popular na escola. Na maioria das vezes acontecem como contos populares, festas e danças e algumas brincadeiras, peças teatrais nem sempre são feitas e quando são feitas, na maioria das vezes é feita pelos professores e esporadicamente. (P1) Não trabalho com a cultura popular na escola. (P3) A depender do projeto, trabalho brincadeiras, músicas, festas, ás vezes trazendo até algo da comunidade pra cá. Como o samba de lata, por exemplo, que é uma manifestação aqui da região de Bonfim. Não conseguimos, mas mostramos pra crianças de alguma forma. (P2) Trabalho com brincadeiras, contos e também..., assim... Danças, coreografias, mas assim, não é constantemente não. É raro. É raro a gente trabalhar com a cultura popular. (P4) Analisando a segunda categoria, notamos que a professora P1 reconhece a importância de trabalhar com a cultura popular na escola. Porém, ela já exclui
  • 49. 49 quando diz que é feito “esporadicamente”. Percebe-se então, uma distorção do que se pretende pra o que se propõe a fazer. Discurso e prática não estão acentuados. A professora P3, por sua vez, assume claramente que não trabalha com a cultura popular na escola. De certa forma, admiramos a coragem da professora em admitir, porém, lamentamos profundamente por perceber que a escola, as professoras e os alunos estão perdendo por não utilizarem o universo tão rico da cultura popular. Isso denota que ainda estamos impregnados num contexto de cultura hegemônico, onde o saber elitizado, herdado do modelo europeu ainda permanece em evidência em nossos dias e na prática de muitos professores, quando estes devem responder de forma crítica esse modelo. Conforme Gadotti (2007): O professor pode fazer: [...] de seu discurso, que é a sua arma, dê respostas ou tente responder aos problemas que a sociedade lhe coloca, que se posicione e se pronuncie, não seja omisso. É isso que seus alunos querem ver nele e é nisso que eles podem reconhecer um mestre. (p.75) É isso que se pretende do professor, uma atitude que dê atenção às necessidades, diferenças dos seus alunos e que a cultura local destes, seja levada em consideração, pois, até então, não se percebe uma contextualização dos saberes regionais presente no cenário da cidade de Senhor do Bonfim. O discurso da professora P4 é enfático quando diz que é raro o trabalho com a cultura popular. Ela também se exclui dessa “culpa” atribuindo a responsabilidade para a escola, quando diz: é raro a gente trabalhar. Na fala da professora P2, demonstra-se que não tem espaço no currículo pra se trabalhar com a cultura popular na escola, quando a mesma diz que “a depender do projeto”. O discurso em prol de uma educação que leve em conta a realidade local e cultural dos alunos, ainda é utopia em muitas escolas. O currículo não tem sido voltado para a realidade dos discentes, ainda é algo que vem imposto como regra, que vem sendo perpassado por uma visão tradicional, instrumentalista onde o
  • 50. 50 conhecimento promovido na escola, está sujeito às relações de poder, pois desde muito tempo se discute sobre o currículo, visto que o mesmo tem favorecido apenas a cultura dos grupos dominantes. Trazendo a discussão sobre o currículo, Apple (1997) traz a visão de muitas pessoas que se posicionaram a favor do estado, em que o mesmo deveria legitimar o conhecimento dos grupos dominantes. “Numa economia capitalista, apenas o conhecimento demandado pelos grupos economicamente poderosos deveria ser legitimado nas escolas sustentadas pelo poder público.” (p103). Diante dessa discussão, nos surge então a seguinte pergunta: Como trabalhar com a cultura popular na escola, uma vez que este modelo de currículo só favorece a legitimação da cultura dominante? O mesmo autor nos ajuda a responder esta questão quando afirma: “O conteúdo do currículo e o processo de tomada de decisões que o cerca não podem ser simplesmente resultados de um ato de dominação”. Apple (1997, p104) Através dos dados analisados nessa pesquisa, vê-se que a escola não tem em seu projeto político pedagógico e na própria estrutura curricular, espaço para a cultura popular, e que não há alusão desse tema. Porém, ela se faz presente na escola, através das relações entre os alunos, mas se torna algo distante do processo de ensino-aprendizagem. Ela não está incluída nas metodologias utilizadas na transmissão do conhecimento aos alunos. Há uma dicotomia entre discurso e prática educativa. É preciso destacar que, a passos lentos, algumas escolas e professores, já têm procurado se posicionar contra este modelo hegemônico, buscando através das suas ações, mudar a sua prática e, através dela, a escola. Não conservá - la como ela se encontra, ou seja, revê o currículo. E não só isso. É necessário ousar, trabalhar com a cultura popular de forma humanizante com o objetivo e missão de educar pessoas.
  • 51. 51 4.2.3. Contos populares 20% 40% SIM RARAMENTE NÃO 40% Gráfico 4.2.3. Percentual sobre os contos populares na escola. Os contos populares são alguns dos instrumentos da cultura popular. Conforme o gráfico da entrevista semi-estrutura, já podemos perceber algumas diferenças com relação ao mesmo gráfico no questionário fechado. Houve mudanças nas porcentagens. Agora, o que se demonstra é que 40% trabalham 40% raramente e os 20% continuam afirmando não trabalhar com os contos populares. Compreendemos, porém, que o trabalho desenvolvido com os contos na escola, pode possibilitar um aprendizado mais dinâmico, além de desenvolver várias habilidades, desde a Educação Infantil até o Ensino Fundamental. Algumas dessas habilidades são: poetizar, narrar, cantar, enfim, vários tipos de manifestações culturais que podem ser estimuladas na escola. Neste aspecto, Andrade (apud COELHO, 1999) defende as manifestações artísticas, culturais e populares tendo como base: O principio da utilidade e não só como arte com “preocupação exclusiva com beleza”, baseada de modo mecânico e servil na estética universal, e sim uma arte que reconheça o contexto histórico como elemento de produção. Uma arte comprometida com seu tempo, servindo-se de tudo que lhe pudesse ser útil como “instrumento de afirmação cultural. (p.45, 46). O autor nos direciona a assumir uma postura crítica, ou seja, que se perceba e analise as dimensões e contexto histórico onde se deu aquela obra ou manifestação artística, favorecendo aos alunos momentos de prazer, de cultura,
  • 52. 52 além de favorecer um aprendizado rico, onde se trabalhe com o contexto social e cultural desses discentes. Através dos discursos das professoras, poderemos compreender sobre os trabalhos desenvolvidos com os contos no espaço escolar. Eu trabalho muito com contos. No geral na minha sala. Eu sou muito apaixonada pela literatura. Agora, com essa entrevista, veio despertar em mim esse lado. Eu parei agora pra pensar que eu não tenho trabalhado muito. Eu trabalho raramente. É mais isolado, na época mais do folclore é que tende a lembrar mais da cultura popular e dos contos populares, pois acho que ela fica esquecida durante todo o ano. P2 Nunca trabalhei com os contos populares. Sinto falta, mas nunca trabalhei. Trabalho com o folclore na data comemorativa. P3 Trabalho com os contos. Mas é pouco. A escola usa mais os contos tradicionais. Os contos populares, não tenho costume de trabalhar não. Trabalho pouco. P4 Percebemos nos discursos algumas contradições. Isso é possível pela utilização da pesquisa qualitativa, pois através dela é possível perceber a subjetividade. Como Afirma Minayo (1994) a pesquisa qualitativa responde a questões particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. (p.22) Analisando a fala da P2, notamos contradições. A mesma fala que trabalha com os contos e da sua paixão pela literatura, mas no seu discurso percebendo que ela realmente não trabalha e depois, retoma dizendo que trabalha raramente. A mesma reconhece que cultura popular fica esquecida. Assim, mesmo com todas as contradições presentes na fala dessa professora, percebemos o quanto à cultura popular e seus instrumentos não têm ocupado espaço no currículo da escola, e o quanto tem sido esquecida, uma vez que se universaliza a cultura “burguesa” e deixa de lado as tradições, valores,