Este documento discute a história cultural como um campo de estudos das atividades humanas, manifestações e tradições de uma sociedade. Apresenta como a história cultural vem sendo estudada há mais de 200 anos na Europa e como ganhou destaque a partir da década de 1960, abordando tanto a cultura erudita quanto a popular. Também reflete sobre como a cultura não faz distinção de classe e inclui a população como um todo.
1. 1
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
PROGRAMA REDE UNEB 2000
CURSO DE PEDAGOGIA
Ivonice Josefa dos Santos
Renildo Lopes dos Santos
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS TRADICIONAIS DO
POVOADO BELA VISTA DE COVAS
Itiúba - Bahia
2012
2. 2
IVONICE JOSEFA DOS SANTOS
RENILDO LOPES DOS SANTOS
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS TRADICIONAIS DO POVOADO
BELA VISTA DE COVAS
Monografia apresentada ao Departamento de
Educação / Campus VII – Senhor do Bonfim, da
Universidade do Estado da Bahia, como parte dos
requisitos para obtenção de graduação no Curso
de Pedagogia com Habilitação em Séries Iniciais.
Linha de Pesquisa: Cultura
Orientadora: Profª Drª Maria Glória da Paz
Itiúba - Bahia
2012
3. 3
IVONICE JOSEFA DOS SANTOS
RENILDO LOPES DOS SANTOS
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS TRADICIONAIS DO POVOADO
BELA VISTA DE COVAS
Monografia apresentada ao Departamento de
Educação / Campus VII – Senhor do Bonfim, da
Universidade do Estado da Bahia, como parte dos
requisitos para obtenção de graduação no Curso
de Pedagogia com Habilitação em Séries Iniciais.
Aprovada em ____ de ________________ de 2012.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Profª Drª Maria Glória da Paz Universidade do Estado da Bahia –UNEB
Orientadora
_____________________________________________________________
Profª..................................................................................................
Examinadora
_____________________________________________________
Profª..................................................................................................
Examinadora
4. 4
“A Memória é a Imaginação do Povo,
mantida comunicável pela Tradição,
movimentando as Culturas, convergidas
para o Uso, através do Tempo. Essas
Culturas constituem quase a Civilização
nos grupos humanos”.
(Luís da Câmara Cascudo)
5. 5
Dedicamos este trabalho aos nossos familiares, em especial, pais, mães, filhos e
esposa, pelo apoio e incentivo nos estudos, assim desenvolvidos, para nossa
formação no curso.
AGRADECIMENTOS
6. 6
A Deus, pelo dom da vida, pela garra e determinação que nos tem concedido. Toda
a honra, toda glória e todo louvor sejam dados a Ele, por nos permitir chegar até
aqui;
Aos mestres, pela paciência e dedicação com a turma e seus ensinamentos
concedidos a nós;
À coordenadora da turma Alayde Ferreira, pela determinação em dar rumos aos
trabalhos dos professores e dos acadêmicos em torno do curso no município;
Às professoras orientadoras da turma Roseane Cíntia e Normaci Oliveira, pelo
carinho e dedicação com os acadêmicos, em nos apoiar nos trabalhos em classe e
extraclasse;
À professora orientadora da Monografia, Profª Drª Maria Glória da Paz, por nos
auxiliar e orientar nos trabalhos de conclusão do curso;
Aos colegas de caminhada, pelo companheirismo, apoio e incentivo para
realização dos estudos em prol do curso;
Aos colegas de trabalho, que, direta ou indiretamente, participaram e apoiaram a
nossa formação;
À comunidade pesquisada, que nos apoiou, sobretudo com as entrevistas,
requisitos essenciais para finalização dos trabalhos e conclusão do curso;
À prefeita municipal, Drª. Cecília Petrina de Carvalho, não só pela renovação do
curso no município, mas também pelo apoio dado aos acadêmicos em seus estudos,
principalmente por disponibilizar o transporte para muitos alunos deste povoado.
7. 7
RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso tem a finalidade de promover uma
reflexão sobre a cultura popular, especificamente as festividades católicas, do
povoado Bela Vista de Covas, no município de Itiúba-Bahia. Estudar esse tema nos
impulsiona a investigar um pequeno recorte da cultura popular deste povoado, uma
vez que a sua história cultural é marcada por diversas manifestações tradicionais,
entre elas, a Festa de Santo Antônio, uma das festividades do catolicismo,
prioritariamente voltada para a formação religiosa do povo. Para tanto, usamos
alguns conhecimentos de: Cascudo (2004), Burke (2008), Tinhorão (2001), Chartier
(1990), Fonseca (2009), Ortiz (2006) e muitos outros, em artigos, que nos auxiliaram
na fundamentação de tal estudo. O processo metodológico foi desenvolvido a partir
de estudos etnográficos, pesquisa de campo com entrevista participante e
semiestruturada. A partir desses instrumentos trabalhados, foi possível obter
resultados bastante significativos e reveladores quanto ao festejo do padroeiro Santo
Antônio e os aspectos memoriais da vivência popular, bem como a atuação das
escolas no processo cultural da comunidade em foco.
Palavras – chave: História cultural; Manifestações culturais; Festas religiosas.
8. 8
LISTA DE ABREVIATURAS
LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais
9. 9
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................11
CAPÍTULO I...............................................................................................................13
1.1. História Cultural: um campo de estudos das atividades humanas.......13
1.2. Manifestações Culturais: um aprendizado sociocultural.......................19
1.3. Festas Religiosas: um acontecimento de fé e congraçamento............24
CAPÍTULO II..............................................................................................................30
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...................................................................30
2.1. A pesquisa............................................................................................30
2.2. Os instrumentos....................................................................................30
2.2.1. Entrevista semiestruturada........................................................30
2.2.1.1. A organização da entrevista......................................30
2.3. Carta cessão.........................................................................................38
2.4. As fontes de pesquisa...........................................................................39
2.4.1. Fontes orais...............................................................................39
2.4.2. Fontes escritas...........................................................................39
2.4.3. Fontes iconográficas: fotografias...............................................40
2.4.4. O local da pesquisa....................................................................40
CAPÍTULO III.............................................................................................................41
3.1. A FESTA DE SANTO ANTÔNIO NA VISÃO DOS
ORGANIZADORES...............................................................................41
3.1.1. A Organização da festa na Igreja...............................................41
3.1.2. A mobilização da comunidade para realização das festas........41
3.1.3. O planejamento, as despesas e o financiamento da festa.........42
3.1.4. A programação da festa.............................................................44
3.1.5. Os festejos e a participação dos moradores da comunidade e
adjacências................................................................................45
3.2. A FESTA DE SANTO ANTÔNIO NA VISÃO DOS PARTICIPANTES..46
3.2.1. A realização das festas religiosas..............................................46
3.2.2. A participação das pessoas nos festejos religiosos e na festa
dançante.....................................................................................48
10. 10
3.2.3. A importância dos festejos do padroeiro Santo Antônio para o
povoado......................................................................................50
3.2.4. As festas com bandas organizadas pelo poder público e sua
importância para a comunidade.................................................51
3.2.5. O turismo e a participação das pessoas da comunidade: muitos
vêm pela boniteza da rua...........................................................53
3.2.6. A participação da escola na festa..............................................54
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................56
REFERÊNCIAS..........................................................................................................58
ANEXOS....................................................................................................................61
ANEXO I – FOTOGRAFIAS.......................................................................................62
ANEXO II – DOCUMENTOS......................................................................................70
11. 11
INTRODUÇÃO
Esse trabalho de conclusão de curso propõe uma reflexão sobre Cultura
Popular: as festividades católicas do povoado Bela Vista de Covas, no município de
Itiúba-Bahia. Estudar essa temática nos impulsiona a investigar a cultura popular
deste povoado, já que a sua história cultural é marcada por diversas manifestações
tradicionais; entre elas, algumas festividades que prioritariamente estão voltadas
para religiosidade e sob a orientação da Igreja Católica.
A maioria das festas do povoado desenvolveu-se a partir de atividades da
Igreja Católica, que, ao longo da história do povoado, foram se tornando tradição,
produzindo a cultura local. Das festas ali existentes, a que mais se destacou foi a
Festa de Santo Antônio, padroeiro do povoado, que é comemorado no dia 13 de
junho. No passado, tal festejo era promovido em 13 dias, com a realização das
trezenas, as quais eram denominadas pela população de trezenas de Santo Antônio,
estas rezas aconteciam à noite, sendo que cada uma delas homenageava um
segmento da comunidade: a noite dos lavradores, a noite dos oleiros, a noite dos
comerciantes, a noite dos casados, a noite dos jovens, a noite dos estudantes, entre
outros.
O dia 13 de junho, na localidade, foi sempre esperado com bastante
entusiasmo pelos moradores da comunidade e região, era uma festa que começava
ao amanhecer e só terminava no dia seguinte, nesse período, ocorria uma variedade
de atividades: as festas dançantes nos bares e na praça, as atividades religiosas, os
forrós pé-de-serra e folguedos.
O povoado era contemplado também com outras festas tradicionais, como
o reisado, uma comemoração que se realizava na virada de ano, outra manifestação
acontecia no Sábado de Aleluia, com a queima de Judas. Assim como a festa de
Santo Antônio, tais manifestações culturais tradicionais vêm deixando de ser
realizadas, o que acaba descaracterizando a história cultural do povoado.
12. 12
Atualmente, observa-se que outras festividades vêm ganhando força e
espaço na comunidade, percebe-se, com isso, a migração de público para estes
novos eventos, provocando um esvaziamento das antigas festas, manifestações que
tradicionalmente representam a memória cultural da população e que estão
desaparecendo em virtude da ausência de valorização, do desconhecimento da sua
importância para a história cultural do povoado e seus habitantes.
Esses são alguns dos motivos pelos quais pretendemos investigar as
festividades católicas do povoado de Bela Vista de Covas, localizado no município
de Itiúba-Bahia, bem como as suas origens e seus significados para a população.
13. 13
CAPÍTULO I
1.1. História Cultural: um campo de estudos das atividades humanas
A denominação história cultural tem sido abordada para diversas ações
do homem no tempo e no espaço em que esse está inserido. Desse modo, o tema
em pauta aborda as atividades humanas, revelando e até formando as
características de um determinado povo ou sociedade, conceituando os aspectos
sociais expostos ou produzidos pelo homem, enquanto espécie de razão e ação,
tanto que história cultural pode ser, muitas vezes, interpretada como história social,
política, econômica, habitacional, etc. Nesse sentido, deve ser considerado que
existe um campo de estudo muito grande para os escritores e acadêmicos no
mundo.
Os fatos que marcam ou criam a história cultural são geralmente aqueles
que, através do sentido obtido em suas ações periódicas ou anuais, enfatizados por
uma infinidade de realizações, a exemplo de festas, feiras, jogos, entre outros, quer
sejam em atividades coletivas, quer sejam pessoais. Conforme Burke (2008), a
história cultural já foi reconhecida em diversos países há mais de 200 anos, a
princípio na Alemanha. “A descoberta da história da cultura popular, na década de
1960 e a nova história cultural” (BURKE, 2008, p.15-16), propõe que os historiadores
e escritores, busquem uma compreensão maior a respeito da relação entre elas, já
que as demonstrações referidas eram da vivência da época.
Em se tratando de história cultural popular, há uma percepção para as
ações desenvolvidas pelo homem em qualquer que seja os pressupostos
intelectuais ou até artísticos. Foi entre os anos 1800 – 1950, que os historiadores
conceituaram tal período, na história da humanidade, como “história cultural
clássica”, para Burke (2008) foi um período que desenvolveu, em diversos países,
abordagens intelectuais das atividades humanas, principalmente na Europa com os
ideais artísticos e literários de intelectuais, comovidos pelas revoluções sociais,
14. 14
culturais e artísticas de todos os tempos, como o Renascimento e, por outro lado, os
ideais franceses, que tiveram grande repercussão nas sociedades ocidentais.
Os estudos até então realizados sobre a história cultural e popular têm
grande relevância para o conhecimento e sua compreensão no meio acadêmico e
educacional, diante da aceitação da mesma ou comparação entre diversas nações,
assimila-se significados diferentes do que seja história cultural de uma nação para
outra. Observa-se, dessa forma, que não há homogeneidade no conhecimento ou
conceitos abordados pelos historiadores de sociedades distintas, mas que tais
estudos foram e são promovidos em épocas semelhantes, principalmente a partir da
década de 1960, em muitas nações.
O trabalho dos escritores, com a história cultural e popular, possibilita
perceber que a cultura, difundida nas sociedades, não tem distinção de classe, ou
seja, abrange toda a população. Assim, muitas vezes, o estudo dos acadêmicos em
conceituar as elites dentro ou fora da cultura popular – já que essa é comum à
grande massa da população – não inclui, menos ainda exclui o direto do indivíduo,
pois todos vivem a cultura numa mesma sociedade. A esse respeito, Burke (2008)
afirma:
O que torna a exclusão problemática é o fato de que as pessoas
de status elevado, grande riqueza ou poder substancial não são
necessariamente diferentes, no que diz respeito à cultura, das
pessoas comuns. Na França do século XVII os leitores dos
livrinhos baratos tradicionalmente descritos como exemplos de
cultura popular incluíam mulheres, nobres e até mesmo uma
duquesa. Isso não é de surpreender, já que na época as
oportunidades educacionais das mulheres eram muito limitadas.
(BURKE, 2008, p. 42).
Como assevera o referido autor, o fato de as pessoas estarem inseridas
na sociedade “de status elevado”, não é essa posição social que determina o
processo cultural que devam fazer parte ou vivenciá-la, a cultura é a atividade
essencial do homem e abrange toda a população, independentemente de condições
sociais, econômicas e até mesmo educacionais, uma vez que todos são indivíduos
substancialmente comuns.
15. 15
No Brasil, foi entre os anos de 1960 e 1980 que as produções dos
intelectuais, abordando tematicamente a “cultura”, generalizando ou simplificando,
mas, criticando a atuação social vigente, que o termo “cultura” sofreu alteração e
pôde ser conceituado como cultura popular. Conforme Abib (s/d, p. 2): “algumas
poucas produções recentes envolvendo a temática, a noção de Cultura Popular
sofreu um esvaziamento, em parte talvez, em função de um predomínio de
abordagens que desestabilizaram as noções de identidade e cultura”.
Marilena Chauí (1989), com referência a tal assunto, observa que:
A perspectiva Romântica supõe a autonomia da Cultura Popular, a
idéia de que, para além da cultura ilustrada dominante, existiria
uma outra cultura, "autêntica", sem contaminação e sem contato
com a cultura oficial e suscetível de ser resgatada por um Estado
novo e por uma Nação nova. A perspectiva Ilustrada, por seu
turno, vê a cultura como resíduo morto, como museu e arquivo,
como o "tradicional" que será desfeito pela "modernidade", sem
interferir no próprio processo de "modernização". Românticos e
Ilustrados pensam a Cultura Popular como totalidade orgânica,
fechada sobre si mesma, e perdem o essencial: as diferenças
culturais postas pelo movimento histórico-social de uma sociedade
de classes. (p. 23, apud ABIB, s/d, p. 6).
De acordo com o postulado pela autora, a cultura popular seria
proveniente de conhecimentos e ações ou realizações independentes da cultura
oficial, isto é, a cultura popular sofre tendência a partir de indivíduos, grupos ou
classes sociais. Assim, conforme Abib (s/d, p. 6) interpretando Marilena Chauí:
A cultura popular seria aquela produzida por artistas e intelectuais
que "optaram por ser povo" e se dedicam à "conscientização do
povo". Existiam então, segundo a autora, dois povos ou duas
culturas populares: o povo atrasado, inconsciente, e sua cultura
trivial e inculta; e o "bom povo", consciente, culto, avançado, e a
cultura vanguardista que o fará realizar as "leis objetivas da
história”. (ABIB, s/d, p. 6).
O Brasil, como sendo um país grande e complexo com uma diversidade
cultural considerável, é importuno dizer que teria hegemonia entre as classes sociais
16. 16
no que diz respeito à ideologia política, social ou mesmo cultural. No tocante a essa
afirmação, Abib ( s/d, p.8) postula:
Não se trata de negar as relações de poder e hegemonia entre as
classes sociais, nem a ideologia que determina e sustenta essa
dominação, a partir de uma leitura sociológica desse processo,
mas entendemos que ao recuperarmos a discussão sobre cultura
popular no Brasil, necessitamos de um instrumental de análise
mais amplo que possa ter condições de estabelecer o diálogo e a
comunicação entre os vários campos do saber, a partir de uma
elaboração conceitual que possa abranger tanto o referencial
teórico advindo da Sociologia, como aquele proveniente da
Antropologia e da Filosofia.
Em se tratando do contexto cultural da sociedade brasileira e aqui das
revitalizações tradicionais das manifestações culturais, mais uma vez Abib (s/d, p.
10) argumenta que:
No contexto atual da sociedade brasileira, ao analisarmos no
âmbito da cultura popular, o significado da revitalização de
diversas tradições, manifestações e ritmos, podemos reconhecer
nesse processo, possibilidades concretas de surgimento de uma
nova relação a ser estabelecida entre os segmentos da sociedade
brasileira - que ainda buscam construir um projeto histórico social
com esse saber dinâmico, contraditório, ambíguo e extremamente
rico que vem das tradições de nosso povo. (ABIB, s/d, p. 10).
A colocação do citado autor chama a atenção para a necessidade de se
resgatar a cultura do povo, manifestada a partir dos processos culturais tradicionais
da sociedade, que por si só, refletem na população, na comunidade e no próprio
povo, que por si, vive sem a mínima atenção para com o passado e sem uma
perspectiva de futuro. (ABIB, s/d, p. 12). Talvez, esse seja um assunto que esteja
relacionado ao povoado de Bela Vista de Covas, onde a cultura local ou história
cultural do povo, ali existente, bem como a memória da população e suas festas
tradicionais, estejam deixando de ser realizadas, mesmo tendo na escola um
incentivador do ressurgimento das suas manifestações através de suas
apresentações culturais.
17. 17
A abordagem sobre cultura ou história cultural vem se tornando
importante, cada vez mais, dentro do campo educacional, onde há uma
preocupação das instituições de ensino em reconhecer o ser como indivíduo passivo
de determinada cultura ou inserido numa comunidade naturalmente cultural. Burke
(2008) afirma que, a partir das décadas de 1980-90, vem crescendo a importância
dada a tais estudos, os quais são significativos, porém distintos entre as disciplinas e
seus estudiosos: os antropólogos, os historiadores e os sociólogos.
Duarte (2008) interpretando Bakhtin (2008) acerca da “Cultura Popular na
Idade Média e no Renascimento”, afirma que estas áreas de estudo prestam um
suporte relevante para os estudantes de diversas disciplinas, entre elas, história e
literatura, “transcendendo as influências estritamente literárias que uma exerce
sobre outras, a obra de Bakhtin nos leva a repensar a literatura como elemento
dinâmico da cultura como um todo” (p. 7). Para ele, a cultura popular e história
cultural estão direcionadas não apenas a um campo de estudo, mas também a uma
totalidade, dependendo do objeto de estudo a ser realizado.
Para Bogdan Suchodolski, conforme Wojnar (2010, p. 24) “a cultura
constitui, ao mesmo tempo, o conteúdo e o resultado da educação; além disso, se a
educação é o veículo da cultura, em compensação, a cultura constitui sua
inspiração, o sentido e o método da atividade educativa”. Essa é mais uma
afirmação que dar a entender que a cultura está acima das limitações do homem,
pois ele a produz e ele próprio a transmite caracterizando a sociedade da qual faz
parte, formando a identidade social do grupo. A esse respeito, Ortiz (2006) pontua:
Toda identidade é uma construção simbólica […] o que elimina
portanto as dúvidas sobre a veracidade ou falsidade do que é
produzido. Dito de outra forma, não existe uma identidade
autêntica, mas uma pluralidade de identidades, construídas por
diferentes grupos sociais em diferentes momentos históricos.
(ORTIZ, 2006, p. 8).
As mudanças ideológicas e políticas na constituição do Estado,
principalmente com o Golpe Militar de 1964, reprimiram a divulgação de muitos
eventos artísticos e culturais, por outro lado, os artistas desempenharam um papel
18. 18
fundamental em transmitir culturalmente o sentimento ideológico, forjado pela
autoridade estatal. Depois desse acontecimento, o país buscou reparar ou recuperar
a repreensão cultural dos velhos tempos, enfatizando as novas, criando ministérios e
secretarias de valorização ao meio cultural, usando para isso o sistema educacional
como espaço divulgador da cultura nacional. Para Ortiz (2006, p. 117): “[...] vários
documentos oficiais insistem na necessidade de se vincular o sistema de ensino ao
desenvolvimento cultural; a escola é vista como um espaço importante de formação
de hábitos e de experiências culturais, o que possibilita uma extensão de consumo”.
Conforme a citação de Ortiz sobre a preocupação que o Estado tem em
divulgar a cultura nacional, observa-se que há supremacia de autoridade, quando se
esquece que a cultural nacional é construída pelo povo, em sua diversidade social e
cultural, o que constitui a história popular ou história cultural do país. Para Chartier
(1990) a história cultural é a historicidade de como se cria esta realidade. “A história
cultural, tal como entendemos, tem por principal objeto identificar o modo como em
diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída,
pensada, dada a ler” (p. 16-17).
A cultura de um povo é construída a partir da interiorização de conceitos e
valores, juntando-se à memória histórica e a produção de eventos históricos e
artísticos, esta, formalizando a história popular de uma determinada sociedade ou
comunidade, abrange supostamente a vida social de um povo. Para Burke (2008, p.
167), “A história cultural das nações é um exemplo do que poderia ser chamado de
“história cultural das idéias”. A história intelectual e a história cultural desenvolveram-
se em direções bastante diferentes, mas a fronteira entre elas é cada vez mais
violada”. Afirma o autor, que dentro de uma determinada sociedade, o que venha a
ser defendido pelo Estado, esteve primeiro idealizado e produzido pelos membros
da sociedade, independentemente de sua classe social, assim, a história cultural ou
intelectual tem caminhos diferentes, no entanto, ambas são promovedoras das
manifestações culturais na sociedade.
19. 19
1.2. Manifestações Culturais: um aprendizado sociocultural
O Brasil é um país da diversidade quando se trata das manifestações
culturais, todavia, assegurado pela Constituição Federal de 1988, capítulo III que
trata da educação, da cultura e do desporto, seção II da cultura, conforme o Art. 215
– “o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às
fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais” – assim, assegurados pela Lei, todos os brasileiros têm o
direito de praticar sua cultura, seja esta, de vínculo intelectual, religiosa ou social.
Um dos veículos de propagação da cultura está centrado na escola, nela
a criança, o adolescente ou o estudante em geral pode praticar ou triunfar sua
cultura. A Lei 9394/96 LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional)
assegura à instituição educacional o compromisso de promover o desenvolvimento
socioeducativo e cultural. Segundo esta Lei, em seu Art. 1º – “a educação abrange
os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais
e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”.
Há que se ressaltar também que os PCNs – Parâmetros Curriculares
Nacionais abordam, de certa forma, metodologias para o trabalho da escola no que
tange à questão das manifestações culturais. Assim, conforme esses parâmetros:
É fundamental que a escola assuma a valorização da cultura de
seu próprio grupo e, ao mesmo tempo, busque ultrapassar seus
limites, propiciando às crianças e aos jovens pertencentes aos
diferentes grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz
respeito aos conhecimentos socialmente relevantes da cultura
brasileira no âmbito nacional e regional como no que faz parte do
patrimônio universal da humanidade, (BRASIL, 1998, p. 44).
Diante do exposto, os documentos oficiais asseguram ao cidadão
brasileiro à prática de sua cultura e a educação cria possibilidades para tal
realizações, cabem à escola e a comunidade promover meios de festejar e resgatar
a cultura local, a qual, representa a identidade e a memória de sua civilização.
20. 20
As manifestações culturais tradicionais do povoado Bela Vista de Covas
ocorrem, principalmente, com os festejos ligados à religião Católica, como a Festa
do padroeiro Santo Antônio, que se tornou o centro dos eventos anuais, o mais
conhecido e apreciado pelos moradores e comunidades regionais. Com referência a
isso, é válido destacar a colocação de Trigueiro (2005):
O homem comemora há centenas de anos os seus ritos de
passagem, relembra as suas datas festivas sagradas, profanas e
de agradecimento. São essas evoluções e evocações que chegam
até os dias atuais, que já estão incorporadas aos nossos
calendários de tradição religiosa e festiva. Ao longo do tempo
essas práticas sempre fizeram parte dos processos das
transformações culturais e religiosas da sociedade humana e das
suas relações simbólicas entre a realidade e a ficção, dando
origem aos diversos protagonistas e suas performances nos
festejos populares. (2005, p. 1).
Como afirma o autor, a cultura popular vivencia épocas, muitas vezes,
impregnadas pelas comemorações festivas, a partir das divindades religiosas, que
são transmitidas, assim, de geração para geração.
O desenvolvimento cultural tradicional de uma determinada localidade
não ocorre por acaso. O processo de cultura popular é produzido a partir da
coletividade ou individualidade, outorgada de fatos pelas analogias intelectuais dos
que ali estão inseridos (GOMIDE, 2011). Esse é um processo bastante elementar
para a luta em prol da manutenção das culturas populares locais e tradicionais, que,
para a localidade e o conceito de cultura, significa um estabelecimento folclórico da
comunidade, na qual luta para que não se acabe.
A posição popular, diante de sua tradição, é sempre lutar por sua
manutenção ou resgate. Assim, na preservação e resgate é preciso manter as
origens da cultura nas diversas formas possíveis, através dos tempos e no espaço,
mantendo sua origem e identidade pelos grupos humanos que a criaram (GOMIDE,
2011). Nessa luta perpétua, pela preservação e valorização das festividades
tradicionais, é preciso que haja política pública em consonância com a população,
que se propõe a interagir na tradição cultural das manifestações festivas locais,
21. 21
instituídas, muitas vezes, como folclóricas. No que se refere a tal registro, cabe
ressaltar o que assegura Ferreira (2001):
A área de atuação e de estudos de folclore e cultura popular no
Brasil estruturou-se há algumas décadas, como resultado de
ampla movimentação nacional e internacional. Um impulso
decisivo foi a recomendação da Unesco, no pós-guerra, no sentido
de que seus países membros criassem organismos voltados para
o conhecimento das culturas populares. Foi instituída então, em
1947, a Comissão Nacional de Folclore, ligada ao Instituto
Brasileiro de Educação Ciência e Cultura – Ibecc – do Ministério
das Relações Exteriores. A partir dos trabalhos dessa Comissão
Nacional e das comissões estaduais, bem como da mobilização
decorrente dos congressos realizados em todo o país, foi criada,
em 1958, a Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro,
subordinada ao Ministério da Educação e Cultura. (FERREIRA,
2001, p. 1).
Retornando ao comentado pela autora, há muito tempo, foram fundados
órgãos responsáveis na esfera política administrativa, que tratam da manutenção e
preservação cultural do país, seja nas grandes ou pequenas localidades, tais
órgãos, ligados diretamente à instituição escolar, colocando a escola como meio
viável para divulgação dos patrimônios culturais locais, enfatizados principalmente
dentro do estudo da História, na qual há pressupostos definidos para essa produção
e transmissão cultural em seu campo de conhecimento. Como cita Fonseca (2009),
a cultura é a memória do povo e constitui nossa história, deve ser passada para as
novas gerações, e a escola tem esse papel fundamental no que tange ao
conhecimento cultural e sua transmissão. A autora ainda afirma:
[...] o ensino e a aprendizagem de História estão voltados,
inicialmente, para atividades em que os alunos possam
compreender as semelhanças e as diferenças, as permanências e
as transformações no modo de vida social, cultural e econômico
de sua localidade, no presente e no passado, mediante a leitura
de diferentes obras humanas. (PCNs, 1997, p. 49 apud
FONSECA, 2009, p. 30).
Conforme o postulado e os estudos realizados, nos regimentos que visam
o trabalho da educação, com referência às manifestações culturais de um povo,
22. 22
comunidade ou nação, observa-se um grande estímulo em lidar com tais aspectos
culturais, sociais e humanos.
No Brasil, em especial na região Nordeste, há diversas festas ou
festanças populares, que dão origem ao que está se chamando de manifestações
culturais, muitas delas tradicionais, o que acaba se tornando folclóricas, dessa
forma, muitas comunidades, por toda a Região, realizam festejos à base dos
folguedos, em que o público participativo deixa de ser apenas a comunidade local,
mas abrange um público maior, o que caracteriza o turismo nas cidades ou
comunidades produtoras dos eventos.
Ortiz (2006) afirma que folclore é uma denominação dada às
manifestações culturais, que ocorrem nas localidades numa perspectiva tradicional,
o que difere da cultura popular, que é entendida pela transformação e inovação que
sofre. Esse é um aspecto um tanto observável no povoado Bela Vista de Covas,
onde, com o surgimento de alguns eventos festivos, profanos, à base de som
eletrônico, as festas tradicionais do povoado, que representam a cultura local,
perdem público ou até mesmo deixaram de existir. “O folclore precisa ser preservado
da contaminação profana do mundo moderno” (ORTIZ, 2006, p. 105).
As manifestações culturais existentes no povoado de Bela Vista de Covas
também sobrevivem, na base, de certa forma do turismo regional ou de época assim
chamado, por receber visitantes, além das comunidades adjacentes, de algumas
cidades de nossa região e do Brasil, nos meses de junho e dezembro, muitos
desses, descendentes da comunidade. Assim, tais festejos trazem consigo os
pressupostos folclóricos, por suas realizações tradicionais, fato esse muito
observado, sobretudo nas pequenas cidades.
As festas tradicionais existentes nas cidades ou em pequenas
comunidades, que trazem intrínseco o caráter folclórico por suas peculiares
realizações e significações para os habitantes locais, no mundo atual, movido de
tanta tecnologia, tendem a estimular inovações em suas comemorações, como diz
Castro (2009, p. 2): “as festas populares se constituem em uma importante
manifestação cultural que pode ter sua origem em um evento sagrado, social,
23. 23
econômico ou mesmo político do passado e que constantemente passam por
processos de recriações e atualizações”. Como disse o autor, seja qual for a origem
cultural das manifestações sociais, na sociedade atual, imbuída de tanta tecnologia,
essas festas tendem a passar por intervenções na sua forma de realização, no
entanto, o que deve ser levado em conta é a valorização dos festejos culturais e sua
importância para a comunidade local.
A manifestação cultural, como sendo as expressões populares em suas
realizações, trazem assim a identificação e a memória de uma comunidade ou até a
sociedade tem sua revelação, na maioria das vezes, nos festejos locais e
principalmente aqueles tradicionais, os quais se caracterizam por folguedos
essencialmente folclóricos.
Os festejos culturais, em muitas localidades, têm por objetivo festejar uma
cultura tradicional, entretanto deve também considerar que a cultura ali existente faz
parte da identidade e memória de um povo. No tocante a essa afirmação, Batista
(2005) assevera:
A identidade cultural e a memória reforçam-se mutuamente.
Conhecemos as nossas raízes, distinguimos o que nos une e o
que nos divide. Estamos aptos a entender que a cultura e a
memória são faces de uma mesma moeda e que a atitude cultural
por excelência e com o que nos rodeia, desde os testemunhos
construídos ou das expressões da natureza aos testemunhos
vivos aos quais são imprescindíveis para a construção desta
identidade. (BATISTA, 2005, p. 3).
Como base no ponto de vista citado, pode-se sustentar que a identidade e
a memória de uma população são os meios pelos quais sobrevive historicamente
uma determinada comunidade em seus aspectos culturais. As localidades, que
trazem como identidade as comemorações tradicionais, sejam essas de caráter
religioso ou não, dando ênfase à memória histórica de sua gente, propiciam o
turismo regional, que vai garantir a preservação da cultura local. “A memória é
essencial para uma cultura que deseja preservar suas características e como ela é
intimamente ligada a identidade, fornece subsídios para que a identidade se
construa e se fortaleça a partir de elos comuns”(BATISTA, 2005, p. 5).
24. 24
Dessa forma, tudo o que já foi expresso, anteriormente, traz algumas
características que ocorrem em muitas localidades onde se festejam não só a
história tradicional de sua comunidade, como também a de seus habitantes
principalmente, em especial aqueles que primeiro construíram e participaram de tais
manifestações culturais, seja de caráter religioso ou histórico, cultural e social, como
foi já salientado.
1.3. Festas Religiosas: um acontecimento de fé e congraçamento
O Brasil é um país tipicamente católico, onde se verifica que a maioria de
suas festas tradicionais é de cunho religioso, o que constitui a cultura popular da
sociedade, principalmente quando se trata das pequenas cidades e seus povoados.
Toda essa estrutura religiosa do país se deu sobretudo durante a colonização
portuguesa, contando, antes de tudo, com o trabalho dos padres jesuítas. Assim, as
pequenas ou grandes comunidades, centralizadas pela religião católica, tem um
padroeiro que representa não somente a religião, mas, há em torno desse, um
período de comemoração e festa, constituindo a cultura local e tradicional, que se
realiza anualmente.
As festas tradicionais do povoado de Bela Vista de Covas se manifestam
também, a maioria delas, a partir das atividades religiosas da Igreja Católica, como
já foi mencionado. Tais festejos se caracterizam pela demonstração da fé que os
moradores da comunidade e adjacências demonstram em participar das
comemorações ali promovidas pela igreja, os quais buscam, no período de festa,
momentos de reverência aos Santos como também de diversão e descanso.
Para D’Abadia & Almeida (2010), o Brasil tem em suas festas tradicionais
um cunho religioso herdado do período colonial, inserido no território pelos
colonizadores portugueses.
25. 25
De maneira geral, as festas religiosas são concebidas como forma
de celebrações, ritos religiosos, renovação dos compromissos
com a divindade homenageada. Para alguns, elas são um
momento de contrição, seriedade, respeito; para outros, um
momento de alegria, prazer, risos, desvirtuadas da idéia de
ruptura. No que diz respeito à festa religiosa, ela reforça e mantém
a tradição, embora em alguns casos seja levada a uma
(re)significação. (D’ABADIA & ALMEIDA, 2010, p. 75).
Como afirmaram as autoras, nas festas de cunho religioso, as pessoas ali
se encontram na situação de festejar com reverências, outras, no entanto, buscam
além de praticar a religião o sentido comemorativo de diversão e prazer, tornando-se
efervescente ao acontecimento tradicional proposto enquanto festa. Ainda a esse
respeito Durkheim (1996) afirma que:
Toda festa, mesmo quando puramente laica em suas origens, tem
certas características de cerimônias religiosas, pois, em todos os
casos ela tem por efeito aproximar os indivíduos, colocar em
movimento as massas e suscitar assim um estado de
efervescência, às vezes mesmo de delírio, que não é desprovido
de parentesco com o estado religioso. [...] pode-se observar,
também, tanto num caso como no outro, as mesmas
manifestações: gritos, cantos, música, movimentos violentos,
danças, procura de excitantes que elevem o nível vital, etc.
enfatiza-se freqüentemente que as festas populares conduzem ao
excesso, fazem perder de vista o limite que separa o lícito do
ilícito. [...] Mas é preciso observar que talvez não exista
divertimento onde a vida séria não tenha qualquer eco. No fundo a
diferença está mais na proporção desigual segundo a qual esses
dois elementos estão combinados. (DURKHEIM, 1996, p. 417/8,
apud D’ABADIA & ALMEIDA, 2010, p. 62).
Diante do que foi afirmado, observa-se que o autor aponta que as festas
de caráter religioso ou não, criam espaço para o indivíduo se auto-promover ao
usufruir da diversidade proveniente dos estabelecimentos das festas, criando para si
o estado de transgressão, direcionando-se ao ilícito em detrimento do lícito.
As festas religiosas do povoado Bela Vista de Covas propiciam não só as
atividades da crença, como também há, em seu entorno, uma difusão de lazer e
humanização, também estimulam o desenvolvimento econômico do povoado. Dessa
forma, as festas caracterizam-se por cultura popular da comunidade, em que:
26. 26
Exprimem-se, ao mesmo tempo e de uma só vez, toda espécie de
instituições: religiosas, jurídicas e morais - estas políticas e
famílias ao mesmo tempo; econômicas - supondo formas
particulares de produção e de consumo, ou antes, de prestação e
de distribuição, sem contar os fenômenos estéticos nos quais
desembocam tais fatos e os fenômenos morfológicos que
manifestam essas instituições. (MAUSS, 1974, p. 41, apud
FERRETTI, 2009, p. 7).
O autor trata das festas como uma formalidade proposta a partir de
diversas instituições sociais, nas quais se estruturam nas produções coletivas em
torno delas, no entanto, para Bakhtin (1987 apud FERRETI, 2009):
As festividades (qualquer que seja o seu tipo) são uma forma
primordial, marcante, da civilização humana. Não é preciso
considerá-las nem explicá-las como um produto das condições e
finalidades práticas do trabalho coletivo nem, interpretação mais
vulgar ainda, da necessidade biológica (fisiológica) de descanso
periódico. As festividades tiveram sempre um conteúdo essencial,
um sentido profundo, exprimem sempre uma concepção do
mundo... (BAKHTIN, 1987, p.7-8, apud FERRETTI, 2009, p.7).
Com isso, para Ferreira (2001), manifestação cultural, como sendo o
conjunto característico das produções artísticas e intelectuais inativas ou criadas
coletivamente dentro da sociedade, assim demonstradas e transmitidas entre os
indivíduos acena para a perspectiva de preservá-las. No povoado de Bela Vista de
Covas é percebido a preocupação das pessoas, aquelas devotas da religião
católica, pela manutenção das festas tradicionais ligadas à religião, principalmente a
festa de Santo Antônio, padroeiro da comunidade, as quais dão importância e
reconhecimento da tradição ali existente. Para D’Abadia & Almeida (2010, p. 61)
interpretando Brandão (1989), “a festa está intimamente relacionada às únicas, raras
e repetidas situações da vida”. Contudo, as autoras afirmam que:
As comemorações são enfatizadas pelas sociedades em menor
ou maior grau dependendo das situações. Nas cidades médias e
grandes as comemorações ou festas cívicas, históricas e profanas
são mais relevantes, enquanto, no interior, ou seja, nos povoados
e pequenas cidades, as festas locais e religiosas são as mais
importantes. (2010, p. 61).
27. 27
Conforme o grifo anterior, são nas comunidades urbanas menores que as
festas religiosas tradicionais, as quais caracterizam e identificam a memória e a
cultura local, têm uma maior atuação das pessoas como fiéis ou participantes, no
entanto, tais festejos, a princípio de caráter religioso, acabam lado a lado com o
caráter profano, o que é impulsionado pela dimensão festiva e coletiva que
assumem, atraindo um público grande proveniente do turismo regional. Diante do
exposto, Ribeiro (2004) pontua:
O interesse de exploração turística de determinada manifestação
cultural se deve a fatores como o potencial, a originalidade do
evento e de uma divulgação consistente da mesma através da
imagem que se queira projetar. No caso das festas religiosas a
sua concepção está centrada nos devotos e nos grupos de atores
sociais que permeiam o universo sacro e ao mesmo tempo
profano de tais manifestações. (RIBEIRO, 2004, p. 48).
Como é citado pelo autor, o turismo propício das festas religiosas é
característico dos eventos de todo ensejo ali existente, não somente das atividades
sacras desenvolvidas pela igreja. Esse fato também se observa no povoado Bela
Vista de Covas, onde o público maior se acentua nas atividades derivadas da
festividade profana, ou seja, a parte efervescente da rua, que é caracterizado
através de bailes, bandas, bebidas, entre outros.
Ribeiro (2010, p. 48) interpretando Paiva Moura (2001) afirma que: “as
manifestações populares, sejam de cunho religioso ou não, possuem um caráter
ideológico uma vez que comemorar é, antes de tudo, conservar algo que ficou na
memória coletiva”. Para o autor, esse é um pressuposto característico e de
coexistência das festas, por muitos anos, o público participativo era sempre assíduo
ao evento, que pelo seu desenvolvimento tradicional, mantinha a tradição intangível
e caracteristicamente religiosa. Atualmente, entretanto, muitas das festas populares
de cunho religioso estão sofrendo modificações, ou melhor, inovações, sofrendo
assédio ou mudanças, principalmente com a inserção das tecnologias, o que resulta
em comemorações profanas, as quais invadem o espaço religioso das festas
populares na comunidade. Com referência ao fato em alusão, para Tinhorão (2001):
28. 28
Apesar da solenidade da celebração da missa de festa e da
eucaristia e da pregação do eloqüente sermão, a festa
gastronômica, com a ingestão de manjares próprios e abundante
vinho, por entre toques de músicas, cantares, dichotes, e
brincadeiras, é de longe muito mais participada, até porque se
prolonga na antecipação do arraial do fim do dia e da noite.
(TINHORÃO, 2001, p. 19).
Do que foi abordado anteriormente, pode-se observar que a população
participa das festas religiosas, porém a grande massa da população festeja não a
atividade sacra, e sim a festança da rua, com músicas, bailes, bebidas, etc., mas,
nem por isso, deixa de representar a cultura tradicional de uma comunidade. Para
Saraiva (2010, p. 151): “O momento da festa religiosa é efetivamente um espaço
religioso que não separa o mundo em sagrado e profano, nela tudo é potencialmente
sagrado, ainda que não seja equitativamente”. Esse é também um fato característico
do povoado Bela Vista de Covas em suas Festas tradicionais religiosas, na verdade,
hoje, tais festas resumem-se, praticamente, ao festejo do padroeiro Santo Antônio,
comemorado no dia 13 de junho.
As festas tradicionais, religiosas ou não, representam a identidade e a
memória de um povo, como já citamos anteriormente, essas proporcionam
momentos de diversão, crença ou humanização, também criam elementos
importantíssimos para comunidade, quando se trata de comemoração, e marcam na
vida social da comunidade. Outra vez, Tinhorão (2001) argumenta:
Um dos aspectos da vida que mais tem interessado aos
estudiosos da cultura popular nos últimos anos, é o problema da
participação dos moradores das cidades nos eventos, que coberta
pela palavra “festa”, os dicionários definem como “o conjunto das
cerimônias com que se celebra qualquer acontecimento,
solenidade, comemoração”. (TINHORÃO, 2001, p. 17).
Tomando como referência essa citação, por se tratar de participação,
comemoração e festa, deve ser lembrado que os festejos culturais e religiosos do
povoado Bela Vista de Covas tem boa participação do público local(moradores da
comunidade e adjacência), porém, é percebido um processo de mudança ou de
aculturação, por assim dizer, vivenciado em tais festejos, as atividades religiosas
acontecem bem, no entanto, o que chamam a atenção do público mesmo são outros
29. 29
elementos que caracterizam ou contemplam os dias de festa do padroeiro local,
como show de bandas, blocos, bebidas, etc., como já foi observado anteriormente.
Para Ferretti (2009, p. 8): “as festas da cultura popular geralmente são
organizadas como forma de reciprocidade, de retribuição ou de agradecimento por
uma graça alcançada e que necessita ser retribuída”. Como afirma o autor, essas
características conduzem o ser humano ao elemento fundamental de uma festa
religiosa, que tradicionalmente representa a identidade moral e cultural de uma
determinada comunidade. Assim, festejar é manifestar culturalmente aquilo que
caracteriza a vivência humana dentro da sociedade na qual o indivíduo está inserido.
30. 30
CAPÍTULO II
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
2.1. A pesquisa
A pesquisa utilizada para construção de estudo foi a abordagem de
caráter etnográfico, escolhida por se tratar da cultura de uma comunidade, herdada
socialmente através da religião e que mantém a memória da comunidade local.
Como salienta Cascudo (2004, p. 18): “a etnografia é realmente o estudo da origem,
desenvolvimento e permanência social das culturas”. Desse modo, este trabalho
visa estudar como é que acontecem as atividades culturais em torno da festa do
padroeiro Santo Antônio, no povoado de bela Vista de Covas.
2.2. Os instrumentos
2.2.1. Entrevista semiestruturada
Os instrumentos de pesquisas são os meios que propiciam elementos
para a realização de estudos sobre um tema escolhido; tal proposta desenvolverá
partindo da entrevista semiestruturada. Como diz Triviños (1987), a entrevista semi
estruturada é [...] aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em
teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, [...] (TRIVIÑOS, 1987, p. 146).
2.2.1.1. A organização da entrevista:
Bloco I – identificação dos entrevistados
Por: Ivonice Josefa dos Santos e Renildo Lopes dos Santos
31. 31
ORIENTADORA: Maria Glória da Paz
Assunto: Manifestações culturais tradicionais do povoado Bela Vista de Covas
1° BLOCO: Identificação do (a) entrevistado (a)
Data:.............de …................................ de ...................... horário: ….................horas
Local: ….........................................................................................................................
Nome: …........................................................................................................................
Cor..................................................................................................................................
Idade: ….......................ou data de nascimento: ….......................................................
Posição no grupo familiar:..............................................................................................
Filiação: …......................................... e ….....................................................................
Local de nascimento:......................................................................................................
Estado Civil:....................................................................................................................
N° de filhos: …............ (feminino) …................ (masculino) …......................................
Religião: ….....................................................................................................................
Escolaridade:..................................................................................................................
Ocupação: …..................................................................................................................
Tempo de docência na Educação................................................................................
Carga horária ( ) 20 horas ( ) 40 horas ( ) 60 horas
Renda salarial: até um salário mínimo ( ) até dois salários mínimos ( )
mais de dois salários mínimos ( )
32. 32
Bloco II – Roteiro da entrevista
Por: Ivonice Josefa dos Santos e Renildo Lopes dos Santos
ORIENTADORA: Maria Glória da Paz
Assunto: Manifestações culturais tradicionais do povoado Bela Vista de Covas
Questões para o (a) organizador (a) da festa no passado/presente, responsável
pela administração da Igreja Católica local.
Introdução: Sabemos que o povoado Bela Vista de Covas festeja o padroeiro Santo
Antônio a mais de meio século.
1 – Para o (a) senhor (a), como é participar, estando à frente da organização dos
festejos na Igreja?
2 – Como se dar a mobilização da comunidade para realização das festas?
3 – Como é elaborado o planejamento das despesas para realizar a festa?
4 – Como se divide o período de programação?
5 – A população local ou os fiéis contribuem de alguma forma com a programação
da festa?
6 – De que maneira o poder público contribui para realização da festa?
7 – Como é a participação dos moradores da comunidade e adjacências nos festejos
da Igreja?
33. 33
Bloco II – Roteiro da entrevista
Por: Ivonice Josefa dos Santos e Renildo Lopes dos Santos
ORIENTADORA: Maria Glória da Paz
Assunto: Manifestações culturais tradicionais do povoado Bela Vista de Covas
Questões para os adultos que participam da festa
Introdução: O povoado Bela Vista de Covas tem em suas festas tradicionais como
principal, o festejo do padroeiro Santo Antônio.
1 – Como o (a) senhor (a) analisa a realização das festas religiosas?
2 – Como é a participação do (a) senhor (a) nos festejos pela Igreja?
3 – Qual é a importância dos festejos tradicionais do padroeiro Santo Antônio para o
(a) senhor (a) e para o povoado?
4 – O que o senhor (a) acha das festas com bandas organizadas pelo poder
público?
5 – Qual a importância destas festas para a comunidade?
6 – O senhor (a) participa das festas dançantes?
7 – Como é que o (a) senhor (a) analisa a atuação das pessoas da comunidade nas
festas?
8 – O que atrai o turismo para localidade: a festa religiosa ou a festa dançante?
34. 34
Bloco II – Roteiro da entrevista
Por: Ivonice Josefa dos Santos e Renildo Lopes dos Santos
ORIENTADORA: Maria Glória da Paz
Assunto: Manifestações culturais tradicionais do povoado Bela Vista de Covas
Questões para os professores que participam da festa
Introdução: O povoado Bela Vista de Covas tem em suas festas tradicionais como
principal, o festejo do padroeiro Santo Antônio.
1 – Como o (a) senhor (a) analisa a realização das festas religiosas?
2 – Como é a participação do (a) senhor (a) nos festejos pela Igreja?
3 – Qual é a importância dos festejos tradicionais do padroeiro Santo Antônio para o
(a) senhor (a) e para o povoado?
4 – O que o senhor (a) acha das festas com bandas organizadas pelo poder
público?
5 – Qual a importância destas festas para a comunidade?
6 – O senhor (a) participa das festas dançantes?
7 – Como é que o (a) senhor (a) analisa a atuação das pessoas da comunidade nas
festas?
8 – O que atrai o turismo para localidade: a festa religiosa ou a festa dançante?
9 – Como é a participação da escola nas festas da comunidade?
35. 35
Bloco II – Roteiro da entrevista
Por: Ivonice Josefa dos Santos e Renildo Lopes dos Santos
ORIENTADORA: Maria Glória da Paz
Assunto: Manifestações culturais tradicionais do povoado Bela Vista de Covas
Questões para os (as) adolescentes participantes
Introdução: O povoado Bela Vista de Covas tem, em suas festas tradicionais, como
principal o festejo do padroeiro Santo Antônio.
1 – Como você analisa a realização das festas religiosas?
2 – Como é a participação sua nos festejos pela Igreja?
3 – Qual é a importância dos festejos tradicionais do padroeiro Santo Antônio para o
você e para o povoado?
4 – O que o você acha das festas com bandas organizadas pelo poder público?
5 – Qual a importância destas festas para a comunidade?
6 – Você participa das festas dançantes?
7 – Como é que você analisa a atuação das pessoas da comunidade nas festas?
8 – O que atrai o turismo para localidade: a festa religiosa ou a festa dançante?
9 – Como é a participação da escola nas festas da comunidade?
36. 36
Bloco II – Roteiro da entrevista
Por: Ivonice Josefa dos Santos e Renildo Lopes dos Santos
ORIENTADORA: Maria Glória da Paz
Assunto: Manifestações culturais tradicionais do povoado Bela Vista de Covas
Questões para os (as) idosos (as) participantes da festa
Introdução: O povoado Bela Vista de Covas tem, em suas festas tradicionais, como
principal o festejo do padroeiro Santo Antônio.
1 – Como o (a) senhor (a) analisa a realização das festas religiosas?
2 – Como é a participação do (a) senhor (a) nos festejos pela Igreja?
3 – Qual é a importância dos festejos tradicionais do padroeiro Santo Antônio para o
(a) senhor (a) e para o povoado?
4 – O que o senhor (a) acha das festas com bandas organizadas pelo poder
público?
5 – Qual a importância destas festas para a comunidade?
6 – O senhor (a) participa das festas dançantes?
7 – Como é que o (a) senhor (a) analisa a atuação das pessoas da comunidade nas
festas?
8 – O que atrai o turismo para localidade: a festa religiosa ou a festa dançante?
37. 37
Bloco II – Roteiro da entrevista
Por: Ivonice Josefa dos Santos e Renildo Lopes dos Santos
ORIENTADORA: Maria Glória da Paz
Assunto: Manifestações culturais tradicionais do povoado Bela Vista de Covas
Questões para as crianças participantes da festa
Introdução: O povoado Bela Vista de Covas tem, em suas festas tradicionais, como
principal o festejo do padroeiro Santo Antônio.
1 – Como você analisa a realização das festas religiosas?
2 – Como é sua participação nos festejos pela Igreja?
3 – Qual é a importância dos festejos tradicionais do padroeiro Santo Antônio para o
você e para o povoado?
4 – O que você acha das festas com bandas organizadas pelo poder público?
5 – Qual a importância destas festas para a comunidade?
6 – Você participa das festas dançantes?
7 – Como é que você analisa a atuação das pessoas da comunidade nas festas?
8 – O que atrai o turismo para localidade: a festa religiosa ou a festa dançante?
9 – Como é que a escola participa da festa?
38. 38
2.3. Carta cessão
CESSÃO DE DIREITOS SOBRE DEPOIMENTO ORAL PARA UNEB
1 – Pelo presente documento..................................................................... brasileira,
estado civil) ...................... (profissão) ................ carteira de identidade nº..................,
emitida por.................................... CPF nº ....................., residente e domiciliada
em ................................................., Município .................... cede e transfere nesse
ato, gratuitamente, em caráter universal e definitivo ao Campus VII da Universidade
Estadual da Bahia (UNEB) a totalidade dos seus direitos patrimoniais de autor sobre
o depoimento prestado no dia ............. de ....................... de ................., perante o
pesquisador ................................................................................................................
2 – Na forma preconizada pela legislação nacional e pelas convenções
internacionais de que o Brasil é signatário, o DEPOENTE, proprietário originário do
depoimento de que trata este termo, terá, indefinidamente, o direito ao exercício
pleno dos seus direitos morais sobre o referido depoimento, de sorte que sempre
terá seu nome citado por ocasião de qualquer utilização.
3 – Fica pois o Campus VII da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) plenamente
autorizado a utilizar o referido depoimento, no todo ou em parte, editado ou integral,
inclusive cedendo seus direitos a terceiros, Brasil e/ou no exterior.
Sendo esta forma legitima e eficaz que representa legalmente os nossos interesses,
assinam o presente documento em 02 (duas) vias de igual teor e para um só efeito.
...............[ assinatura do (a) entrevistado (a) ]............
TESTEMUNHAS:
_____________________________________
_____________________________________
39. 39
2.4. As fontes de pesquisa
2.4.1. Fontes orais
Para a realização do nosso trabalho, foram colhidas informações junto
aos moradores e moradoras do povoado, crianças, adolescentes, professores,
idosos e aqueles que estiveram e estão à frente da Igreja Católica e promovem os
festejos do padroeiro Santo Antônio.
2.4.2. Fontes escritas
Para este estudo, obras de alguns autores foram pesquisadas, entre
outros, podem ser destacados:
– Peter Burke (2008) que faz um estudo sobre a compreensão do processo cultural
historicamente vivido e produzido pelos povos de diversas sociedades.
– Luiz da Câmara Cascudo (2004), em seu livro Civilização e cultura: pesquisa e
notas de etnografia geral: – aborda aspectos brasileiros da cultura popular.
– Convites, ofícios e copias de contratos...
Foram utilizadas fontes, como: convites e cartazes, que através de
imagens e cores convidam as pessoas a participarem do evento. Também foram
enviados ofícios aos poderes públicos, judiciais e de segurança publica; esse
procedimento é comum, quando se realiza algum tipo de festa, com ou sem vínculo
da igreja, pedindo autorização para tal feito. Do mesmo modo, os contratos,
documentos que estabelecem um acordo entre duas ou mais pessoas para locação
de imóveis no período da festa, como garantia de atuação dos comerciantes, que
vêm ao povoado, para usufruir dos movimentos comerciais em torno da festa,
regulamentando o pagamento de taxa à prefeitura municipal, para colocar seu trailer
ou barracas durante o período das festas.
40. 40
2.4.3. Fontes iconográficas: fotografias
As fontes iconográficas são os registros da festa através de fotografias
que destacam geralmente os momentos mais importantes, como as novenas, a
Santa Missa, a procissão e os leilões, também as festas dançantes, que
caracterizam e contemplam a cultura da festa e do povoado.
2.4.4. O local da pesquisa
Nosso lócus da pesquisa é um povoado denominado Bela Vista de
Covas, localizado a 30 km da sede do município de Itiúba-Ba. Tem
aproximadamente uma população de 1000 (um mil) moradores. Boa parte da
população vive das atividades de olarias (da produção de tijolos “alvenaria”, blocos e
telhas), localizadas na várzea, próximo ao rio Itapicuru Açu; outros têm suas fontes
de renda nas atividades agropecuárias, comércio e serviço público.
O povoado teve seu desenvolvimento urbano no início do século XX,
conforme o conhecimento transmitido pela população local. A princípio, seu nome
era apenas Covas, nome que tem origem, devido aos buracos feitos para as
plantações de cana-de-açúcar, na várzea da antiga fazenda de D. Florinda Maria do
Amor Divino, a primeira moradora da localidade, local que propicia o acesso ao rio,
onde se encontra o limite entre o território itiubense e o município de Queimadas.
Na década de 1980, o desenvolvimento urbano da localidade, levou os
políticos da época a elaborarem um projeto de lei que mudava o nome do povoado
de Covas para Bela Vista de Santo Antônio, o que fora aprovado pela então Câmara
Municipal. A alteração do nome se justifica pelo desejo de relacionar o nome ao
padroeiro da comunidade, e a festa mais tradicional da região adjacente, no entanto,
o nome que se firmou, popularmente, a partir dessa época foi Bela Vista de Covas,
assim, observado nas diversas correspondências que circulam no país e na região,
no entanto a popular “Covas”, ainda hoje é nome da linguagem do povo, é também o
nome identificado no mapa da Bahia, por ser um dos maiores povoados do
município de Itiúba, e de fato o nome Bela Vista de Covas tem mais haver com a
história de sua fundação.
41. 41
CAPITULO III
3.1. A FESTA DE SANTO ANTONIO NA VISÃO DOS ORGANIZADORES
3.1.1. A organização da festa na Igreja
Os depoimentos dos organizadores da festa estão naturalmente divididos
em dois discursos, um mais preocupado com a gestão da festa e o outro mais
voltado para a contemplação. Na primeira vertente encontram-se os que observam
alguns problemas no momento da divisão das tarefas para a arrumação da festa; a
causa encontrada para justificar os entraves, é a diversidade de opiniões por parte
da administração, como fala um entrevistado “[...] Foi preocupante, acarretado... tem
sido difícil para dividir os trabalhos no interior da igreja, devido as opiniões diferentes
na administração.”, outros dizem que a causa é a participação certamente de muitas
pessoas neste momento inicial “Muito bom, porém complicado, devido a participação
das pessoas em ajudar a organizar os festejos.”
A vertente contemplativa se detém nas práticas litúrgicas, na organização
do será lido, do que servirá como ponto de reflexão para os fiéis durante os festejos
religiosos. “Ficar à frente da organização é fazer as leituras bíblicas e reflexões das
palavras sagradas”. Certamente esta vertente cuida das orações, cânticos e leituras
que servirão de conteúdos para as trezenas – treze dias de louvor e orações ao
santo padroeiro festejado.
3.1.2. A mobilização da comunidade para realização das festas
A mobilização da comunidade para realizar os festejos do padroeiro Santo
Antônio ao longo do tempo aconteceu de maneiras diferentes. No passado, o povo
da comunidade se reunia em uma espécie de assembléia para opinar sobre a festa,
42. 42
como demonstra o discurso de um (a) entrevistado (a). “Era feito uma assembléia na
comunidade e o povo dava opiniões para a organização das festas, não havia uma
administração própria da igreja para tomar decisões”.
Na atualidade, os dirigentes da igreja são os responsáveis pela
mobilização em pró da festa, como foi dito por um colaborador, “o grupo religioso à
frente da igreja se senta para planejar dando opiniões, ouvindo as pessoas sobre os
eventos” e a partir deste levantamento de idéias o planejamento toma corpo, a
organização do evento vai se delineando com a divisão de grupos como lembra um
entrevistado: “se divide por grupos e cada grupo fica responsável pela administração
de parte dos eventos festivos”.
Diante do exposto, observa-se que houve uma mudança no aspecto
administrativo da igreja, principalmente no que diz respeito à organização dos
festejos do padroeiro Santo Antônio, no passado uma assembléia constituída pela
comunidade era o elemento propulsor, provavelmente esse coletivo se sentia mais
próximo e responsável para que tudo corresse como o que fora planejado; quando
se trata da organização atual, os discursos deixam transparecer que a comunidade
está afastada da construção do evento, está perdendo a oportunidade de participar e
opinar, o que causa certa indiferença sobre a realização das festas religiosas.
3.1.3. O planejamento, as despesas e o financiamento da festa
Para realizar os festejos de Santo Antônio, há despesas de grande porte
com a infra estrutura do evento, como, por exemplo, pintura da igreja,
ornamentações, fogos entre outros, para tais despesas observa-se entre os
depoimentos que há uma estreita relação com o povo da comunidade no que tange
a contribuição financeira para que aconteça a festa, isto fica registrado nos
depoimentos que se seguem: a) “O povo da comunidade faziam doações, o poder
público também contribuía e arrecadavam também através de bingos, feira-chique e
no comércio”; b) “Através de leilões ou até bingos e também as ofertas das novenas
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e cultos”; c) “O grupo organizador pede contribuição aos comerciantes e realiza
bingos e sorteios para os gastos com os festejos”.
Entre os três depoimentos destaca-se o discurso da letra “a”, quando se
refere ao passado, nele o colaborador observa que o poder público era quem
contribuía para realização da festa, enquanto que na atualidade, os depoimentos “b”
e “c”, revelam que não há contribuição por parte de órgãos públicos, tornando-se
mais freqüente as doações através de populares, das ofertas e dos bingos.
O festejo de Santo Antônio no povoado de Bela Veja de Covas Itiúba-Ba,
no mês de junho, ocorre de 01 a 13, dia do padroeiro, em tal comemoração, há
diversos gastos e uma diversidade de acontecimentos. Para realizar essa festa,
busca-se assim, por contribuições ao comércio local, ao povo da comunidade
católica e devotos do santo. Como afirma os depoimentos: a) “Sim, com doações de
fogos e bens para os leilões além de prêmios para bingos”. Trata aqui da
contribuição dos fiéis para os eventos que acontecem dentro da festa. Outros dois
depoimentos confirmam a versão do primeiro; b) “Algumas pessoas, principalmente
os fiéis devotos do padroeiro Santo Antônio” e c) “Contribuem com doações”.
É nesse aspecto que a festa religiosa acontece com o apoio da
comunidade em participação e contribuição, como já salientamos anteriormente,
realizar a festa no povoado sempre foi dispendioso, como se pôde observar nos
depoimentos anteriormente lidos, daí a participação econômica do poder público.
Quanto ao apoio dado pelo poder público para a festa religiosa, observa-
se uma modificação de atitude; na administração passada, segundo afirmação de
um (a) entrevistado (a) a prefeitura “Contribuía com a banda Filarmônica ou
Bolachinha para tocar na procissão, pintura da igreja, além de bandas para festa
dançante na rua”. Nesse depoimento, percebe-se que há uma preocupação com a
contribuição do poder público, no sentido de preservação da cultural tradicional. Na
atualidade, conforme um segundo depoimento o depoente aponta a participação do
poder publico somente na parte profana do evento, “O poder público não contribui
para a festa religiosa, apenas para a festa dançante de rua com bandas”, esta
posição se fortalece ainda mais pelo terceiro depoimento quando afirma: “Em minha
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administração, o poder público não contribuiu, porém, certamente foi falta de pedido,
observo que em anos anteriores já havia contribuído”.
A partir dos depoimentos descritos nas vertentes, afirma-se que a
preocupação do poder público é em realizar a festa dançante, uma vez que, a igreja
juntamente com a comunidade cuida dos festejos religiosos, mantendo em conjunto
a tradição cultural do povoado.
3.1.4. A programação da festa
A programação da festa do padroeiro Santo Antônio é dividida entre dois
tempos, um período preparatório que antecede o dia da festa chamado de trezenas,
que compreende treze dias de orações e uma segunda parte que compreende o
evento principal o dia do padroeiro, bastante relevante para os entrevistados, como
revelam os depoimentos: “Se dividia em trezenas (treze novenas) o dia do padroeiro
com alvorada, missa com batizados e casamentos, procissão, reza do terço de
Santo Antônio à noite e concluía com os leilões”. Um segundo depoimento revela a
participação dos fiéis e as atividades oferecidas pelo evento, “O grupo a frente da
igreja se divide para participar das novenas, da procissão, dos leilões. A festa se
divide em trezenas, Santa Missa, procissão e reza com leilões”, e o terceiro
entrevistado divide a o evento em algumas partes (a): “A gente divide pelo terço, que
são as trezenas, e, no dia do padroeiro ocorre a Santa Missa, procissão, reza
noturna e leilões”.
Há de fato, o primeiro depoimento, é mais elucidativo do que representou
esta festa no passado, trata-se de uma festa religiosa completa, mais participativa,
levada em conta atribuições dentro e no ocorrer dos festejos, como os batizados e
os casamentos, por exemplo, trazendo assim, o sinal da fé religiosa e devoção ao
santo padroeiro. Já o segundo e terceiro depoimentos, relatam apenas a
preocupação com as tarefas a serem divididas entre os organizadores pelas fases
da festa.
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De qualquer modo observamos que a festa ainda envolve boa parte da
comunidade, apenas tomou outros rumos, seguindo os acontecimentos da
modernização.
3.1.5. Os festejos e a participação dos moradores da comunidade e
adjacências
O ofício dos moradores do povoado e região em promover os festejos
tradicionais do padroeiro Santo Antônio, é bastante convincente entre os
depoimentos prestados, porém, um destes observa algumas alterações, sobre a
participação mais consistente dos moradores e adjacência. Segundo um (a)
entrevistado (a), “No passado, todos os povos, tanto da localidade como das
comunidades vizinhas participavam de todos os festejos de Santo Antônio, hoje,
observo que o povo se preocupa mais em participar das festas dançantes da rua
que da igreja”.
Conforme o depoimento acima há uma mudança de foco do que seja
tradicional para o povo de hoje que não apenas o festejo religioso, o que não é
confirmado no depoimento do segundo entrevistado (a) “O povo local e adjacente
tem boa participação nos eventos religiosos, desde as trezenas, até o dia do
padroeiro com as fases da festa de Santo Antônio”. Para ele, uma demonstração de
fé e religiosidade fortalecida.
Outro entrevistado destaca a participação efetiva da comunidade em
todos os momentos da festa, ele diz que os moradores: “São bem participativos, a
comunidade local participa de todos os eventos, desde as trezenas até o dia do
padroeiro Santo Antônio [...]” e ressalta a participação dos moradores do entorno
como algo mais específico ao dia principal “[...] já as comunidades vizinhas sempre
participam, principalmente no dia de Santo Antônio”. Com isso percebemos que o
festejo do padroeiro Santo Antônio ainda se mantém resistente no povoado, o que
demonstra a força da participação da Igreja no processo formativo da comunidade,
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pois, embora tenha avançado muito no que diz respeito á parte profana, o evento
religioso ainda se encontra pleno.
3.2. A FESTA DE SANTO ANTONIO NA VISÃO DOS PARTICIPANTES
3.2.1. A realização das festas religiosas
Os participantes da festa também observam que há um envolvimento
muito grande por parte dos visitantes, não importando a idade ou sexo, eles se
integram ao evento “vejo o povo rezando, gritando leilão, o povo se anima nos
encontros das festas”, tal colocação aponta a fé das pessoas com relação ao
momento religioso. Para outro entrevistado a festa já foi melhor: “já foram melhores,
o povo anos anteriores se prontificavam para esperar os festejos”. Há dois tempos
nas versões, um passado cheio de atividades como leilões, encontros e orações e
um tempo presente, que apresenta uma redução nas atividades religiosas e uma
expansão do lado profano da festa.
Os professores em suas versões sobre a festa relatam pontos que os
deixam incomodados em alguns momentos: “[...] as realizações das festas
religiosas, seus horários, não são convenientes para a participação de todos da
comunidade”, o professor “A” ressalta a questão do horário dos festejos; para ele a
festa está acontecendo em horários inoportunos para as pessoas, já o professor B,
trata da participação das pessoas num passado recente “eu vejo que a cada dia que
passa a festa vem caindo sua popularidade, o gosto da população de participar, em
meus tempos de criança, as pessoas eram mais participativas em respeito à
religião”.
Os adolescentes fazem uma observação interessante quanto à realização
das festas religiosas e as suas participações. Para o adolescente A, as festas são
“Boas, são bem organizadas e é tradição na comunidade”; outro ressalta o incentivo
a preservação religiosa e cultural da festa: “Muito bom, pelo incentivo à religião e à
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tradição no povoado”. Um adolescente entrevistado destaca o empenho da
comunidade para realização da festa “Vejo que o povo da comunidade se empenha
para fazer e acontecer essa festa”; na verdade esta é uma das características das
comunidades rurais, haja vista que as festas que celebram os padroeiros são as
únicas manifestações festivas destas localidades, o que provavelmente sejam
originárias dos festejos de colheita.
Outras opiniões entre os jovens também se manifestam, “Acho meia
fraca, as pessoas que mais freqüentam são as pessoas da comunidade...”. Neste
caso percebe-se que o jovem vê a participação de pessoas de fora, ainda muito
tímida ou inexistente e isto justificaria a inexpressividade da festa; uma visão
condizente com a faixa etária, e com as suas vivencias no presente.
Para os idosos, as festas religiosas não são mais como as de
antigamente, ”Vejo [as festas] como boas, porque é tradicional, porém mudada. No
passado era mais religiosa, enquanto hoje, há um povão, mas pela festa dançante
da rua”. Nesta fala observamos que o entrevistado chama atenção para o
enfraquecimento do culto religioso em detrimento da festa profana, do mesmo modo,
em outro depoimento, o entrevistado deixa bem claro o seu sentimento de
desagrado quanto ao novo formato da festa. “Vejo diferente em sentido negativo, no
passado, o povo era mais participativo e acreditava mais na religião, hoje as
pessoas são mais voltadas para a vaidade e festa dançante, um tanto sem respeito
às festas religiosas”.
Na opinião do entrevistado C, as modificações começam a aparecer a
partir dos anos 60.
A igreja vem mantendo os festejos, porém, dos anos 60 para cá,
mudou muita coisa, várias novenas mudaram, como por exemplo,
a noite mais bonita era a noite do Sr. Domingos, também não
existe mais todas da trezena de Santo Antônio, como dos
casados, dos solteiros, etc. Antigamente também não tinha
protestantes (evangélicos) na comunidade, assim, reduziu o
número de participantes na igreja.
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Para este entrevistado o aparecimento de outras congregações religiosas
também contribuíram para o enfraquecimento da festa, ressalta ainda as
modificações na estrutura religiosa, se referindo ao novenário modificado; para ele, a
festa religiosa caiu no descrédito, “[...] o povo mais jovem, somente busca a
diversão, a vaidade e as inovações que o mundo atual oferece além da divisão da
comunidade em religiões diversas”.
Diante de tantos comentários que mostram aspectos mais negativos que
positivos, aparecem algumas crianças filhos de católicos, que colocam tudo de bom
e positivo nos festejos. “Boa, porque é animado e todo mundo curte os festejos”.
Outro depoimento dá mais ênfase a questão religiosa: “[...] com muita animação
pelas pessoas que participam dos festejos, elas vão para a igreja durante as festas e
participam com muito gosto nos cantos e alegria”.
Diante de tantos comentários e análise feitos pelos entrevistados,
observa-se que realmente os festejos por parte da igreja na festa do santo padroeiro
do povoado, já não tem mais o mesmo publico, ao longo dos anos, alguns aspectos
foram se modificando alavancados pela dinâmica da vida das pessoas e pelas
modificações sociais, na administração religiosa, no comportamento das pessoas,
na estrutura organizacional da festa, possivelmente todas estas coisas têm
interferido no pensamento e na participação do povo.
3.2.2. A participação das pessoas nos festejos religiosos e na festa dançante
Para os entrevistados a participação das pessoas nos festejos religiosos,
difere uma das outras, em virtude de ser levado em conta, a idade, o tempo
disponível, a religião e a própria fé.
Um dos adultos relata que participa dos eventos que ocorrem no período
dos festejos, e observa o clima dos fiéis durante estas atividades “vou para a igreja
rezar nas novenas, na missa, na procissão e assim vê a animação do povo nos
festejos”. Outros participam com menos intensidade, pois os afazeres com o
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trabalho os deixam com pouco tempo: “[participo] pouco, devido à função de
trabalho”. Observamos que mesmo os católicos e adultos, não se entregam aos
festejos intensamente, participam de maneira mais restrita, pois não querem deixar
as coisas pessoais para outro momento.
Para os professores, a sua participação na igreja, depende dos fatores
tempo e trabalho, como afirma um dos entrevistados: “não participo, devido aos
horários e ao trabalho”, enquanto que outro professor assiste parcialmente a todos
os eventos realizados na igreja, como relata. “Minha participação não é em todas as
festas da igreja, mas sempre participo nas novenas e na Santa Missa”.
A participação da juventude ainda reafirma a preferência pelas
comemorações religiosas; o adolescente A diz que participa “[...], ajudando nos
cantos e assistindo a Santa Missa”; já o adolescente B e C, somente participam da
missa, e somente um deles prefere a festa da rua, como afirma em seu depoimento
“Não participo, pouca vontade, à noite estou na festa da rua”.
O grupo que tem uma participação mais efetiva nos eventos religiosos
desta festa são os idosos, como demonstram em seus depoimentos: “Minha
participação sempre foi presente. No passado, participava de todos os eventos
religiosos, desde as novenas até o dia do padroeiro com a missa, procissão e
leilões, hoje participo basicamente da missa e da procissão”.
Outro depoimento demonstra que no passado havia mais efetividade:
“Participo sempre, mas no passado, eu participava de tudo, até porque, era
responsável pela organização dos festejos, hoje participo, mas não à frente da
organização dos eventos”; outro entrevistado reafirma a sua participação efetiva nos
festejos. “Sempre acompanhei ajudando em alguma coisa, o necessário, nas rezas
do padroeiro, desde as trezenas até a missa e os festejos do dia 13 de junho, dia do
padroeiro Santo Antônio”.
Os idosos relembram que viveram e participaram da festa desde a
juventude, no entanto, demonstram algumas restrições, “[...] hoje participo
basicamente da missa e da procissão”. Esse depoimento mostra não a perda da fé,
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mas os limites impostos pela idade. De qualquer forma, são os que mais se
importam com a cultura festiva e religiosa do padroeiro Santo Antônio no povoado.
As crianças assim como os jovens, também têm a sua participação nas
atividades religiosas da festa, umas participam somente da missa, outras participam
intensamente como mostra este relato: “Eu participo nas festas religiosas cantando
hinos, no coral das crianças, na hora da missa fazendo as leituras litúrgicas e
também no novenário”. A participação das pessoas nos festejos de Santo Antonio,
ainda demonstra vigor, algumas mudanças são observadas, provavelmente deve-se
à dinâmica da vida com seus novos hábitos, o que certamente termina influenciando,
mas nada que comprometa a questão da fé.
3.2.3. A importância dos festejos do padroeiro Santo Antônio para o povoado
A festa do padroeiro para o povoado, é vista pela maioria dos
entrevistados como elemento de preservação da cultura religiosa do lugar e como
impulsionador da geração de renda.
O depoimento dos adultos traz pontos comuns, quando trata sobre o
divertimento e a geração de renda. “A importância para mim é porque é um tempo
animado e para o povoado a importância é o desenvolvimento comercial e traz a
diversão pra a comunidade”; em outro relato são afirmados estes dois pontos “É
ótimo, pois gera renda para o povoado e traz divertimento para as pessoas”.
Para os professores a tradição da festa tem perdido a força, há pouca
integração entre a Igreja e a comunidade no que tange a preservação dos festejos,
mesmo assim eles apontam a festa como algo importante para a comunidade, “Acho
importante, porém, vejo que está perdendo a tradição, tanto para mim como para o
povoado, faltando assim, integração entre igreja e comunidade local e adjacente”;
para o outro entrevistado há um ponto positivo para o catolicismo “[...] ponto positivo
para o católico, por ser uma tradição e para a comunidade há importância tanto no
ponto religioso, cultural como meio de geração de renda”.
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Para o público mais jovem, a importância da festa encontra-se no
fortalecimento da religião. E mesmo não participando intensamente das atividades
religiosas os adolescentes, observam que a festa de Santo Antônio tem pontos
positivos, para a religião e para a cultura do lugar. “Por que incentiva a cultura do
povoado que está se perdendo, para o povoado a importância é para as pessoas
que seguem a religião e a geração de renda para os comerciantes”.
Os idosos evidenciam a alegria vivida durante os festejos, “As festas são
[...] o meio em que as pessoas tanto dos festejos da igreja como da festa dançante
da rua, tem o prazer de participar, [...]”; em outro depoimento o entrevistado registra
a como momentos alegres “[...] os leilões, o zabumba, a Bolachinha que animava
muito, [...]”, outros acham que a festa anualmente traz alegria para a comunidade:
“Acho bom, porque todo ano tem e é mais uma alegria e divertimento para o lugar”;
há também os saudosistas que lembram de um tempo em que as festas eram
melhores: “Bom, mas já foram melhores”. São opiniões que também incidem sobre a
organização da festa por parte do poder público.
3.2.4. As festas com bandas organizadas pelo poder público e sua importância
para a comunidade
A festa de rua de certa maneira está mais voltada para um publico jovem,
que vê nas bandas um espaço de diversão, alegria e socialização. E, se tratando de
festa dançante, os adolescentes revelam as suas impressões sobre o lado profano
da festa, até porque é deste evento que mais participam.
Alguns depoimentos enfatizam a organização e outros o fluxo de turistas
que acorrem ao lugar a fim da participar da festa dançante. Nos primeiros
encontramos algumas opiniões que tratam diretamente da organização da festa e da
diversão para a comunidade; “[...] também são bem organizadas, além, da diversão
para o povo”; outro depoimento faz lembrar a interação dos vizinhos, “Traz muitas
pessoas para a festa, reúne encontro de pessoas no povoado”; outros apontam a