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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB
          DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
                    SENHOR DO BONFIM




              ELIANE MIRANDA DA SILVA




AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS QUE OS PROFESSORES TÊM DO
   SEU “PAPEL” ENQUANTO PROFESSORES DA EDUCAÇÃO
                      INFANTIL




                 SENHOR DO BONFIM
                       2010
ELIANE MIRANDA DA SILVA




AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS QUE OS PROFESSORES TÊM DO
   SEU “PAPEL” ENQUANTO PROFESSORES DA EDUCAÇÃO
                      INFANTIL




                          Monografia apresentada como pré-
                          requisito para conclusão do Curso de
                          Pedagogia: Docência e Gestão de
                          Processos Educativos, Departamento de
                          Educação Campus VII da Universidade
                          do Estado da Bahia.


                          Orientadora: Profª.   Maria   Elizabeth
                          Souza Gonçalves




                 SENHOR DO BONFIM
                       2010
ELIANE MIRANDA DA SILVA




AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS QUE OS PROFESSORES TÊM DO
   SEU “PAPEL” ENQUANTO PROFESSORES DA EDUCAÇÃO
                      INFANTIL




Aprovada em ______ de ______________ de 2010




Orientadora: __________________________________________
          Profª Maria Elizabeth Souza Gonçalves


Avaliador(a): __________________________________________




Avaliador(a): __________________________________________
AGRADECIMENTOS


Aos meus familiares, pai, irmãos, mas em especial minha mãe e minha irmã Jú, que
sempre se orgulharam em dizer que eu passei no vestibular da UNEB e sempre
torceram pelo meu sucesso.


Ao meu esposo por toda a paciência e companheirismo nos momentos mais difíceis
dessa jornada.


À minha amiga Patrícia por ter cuidado do meu bebê enquanto eu estudava, mas
acima de tudo, por ter me dado força e apoio para continuar na luta.


À professora Elizabeth por te aceitado me ajudar, mesmo sabendo que ultrapassaria
seu limite de orientandos. Meu muito obrigada.


Aos demais professores do curso de Pedagogia do Campus VII pelas discussões
que muito contribuíram para que essa pesquisa se consolidasse.


Aos funcionários da biblioteca que sempre nos auxiliavam com muita boa vontade.


Aos meus colegas de curso: Lidiana, Lidiane, Denizia, Viviane Braz, mas
especialmente às minhas amigas: Maria Elizângela, Odeane Camilla e Adriana de
Carvalho.


Aos funcionários da Creche Mãe Dedé em especial aos professores que tanto
contribuíram para que esse trabalho se realizasse.


A todos vocês, o meu eterno e muito obrigado! Que Deus os abençoe!
“Ninguém nega o valor da educação e que um bom
professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons
professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus
filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento
que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas
que permitimos que esses profissionais continuem sendo
desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo
prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da
educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo
seu trabalho.
Aos professores, fica o convite para que não descuidem de
sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios,
nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e
não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não
transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade
muda”. (Paulo Freire)
RESUMO



O presente trabalho monográfico, se constituiu em fazer uma reflexão sobre as
representações sociais que os professores da Creche Mãe Dedé têm do seu papel
na educação infantil, considerando que o estudo sobre educação infantil, permite
além de consolidar esta modalidade como uma etapa da educação que requer uma
prática que considere as crianças como sujeitos de direitos, permite que paradigmas
construídos historicamente sobre a educação infantil sejam cumpridos ou
desconstruídos. Diante desse contexto buscamos respaldo para as nossas
discussões nos seguintes autores: Oliveira (2008), Kramer (1992), Fazenda (1991),
Kishimoto (2002), Angotti (2006), Pablo Gentilli (2008), Hall (2001), Andrade (2000),
Dotta (2006), Anadon e Machado (2003), dentre outros. Os caminhos metodológicos
utilizados foram subsidiados na abordagem qualitativa, pautados nos seguintes
instrumentos de coleta de dados: questionário fechado, observação direta e
entrevista semi-estruturada. Finalmente identificamos através das falas das
professoras da Creche Mãe Dedé que estas representam socialmente o seu papel
na educação infantil de forma tradicional, concebendo esta etapa como base ou
alicerce que prepara os indivíduos para ingressarem nas séries seguintes e ainda
limitam o seu papel à levar a criança a ler e escrever. Nestas falas encontramos
discursos mais politizados, principalmente atrelados à formação profissional, todavia,
percebe-se uma representação limitada do papel do professor, visto que este tem
uma função determinante na construção de sujeitos ativos.

Palavras-chave: Representações Sociais. Educação Infantil e Professor.
LISTA DE FIGURAS




FIGURA 01: Percentual em relação ao Gênero
FIGURA 02: Percentual em relação à Formação
FIGURA 03: Percentual em relação à Formação Continuada
FIGURA 04: Percentual em relação ao Tempo de Atuação
FIGURA 05: Percentual em relação à Jornada de Trabalho
SUMÁRIO



INTRODUÇÃO ............................................................................................... 10
CAPÍTULO I ................................................................................................... 12
1. EDUCAÇÃO INFANTIL: TRILHANDO CANINHOS DIFERENTES ............ 12
  1.1 Professor da Educação Infantil: Representações Sociais do seu papel 15


CAPÍTULO II .................................................................................................. 20
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................. 20
   2.1 Representações Sociais: Relacionando com a postura dos
professores .................................................................................................... 20
   2.2 Educação Infantil .................................................................................. 24
   2.3 Professor: Qual a sua identidade? ....................................................... 29
      2.3.1 Professor de Educação Infantil: Que relação há entre a formação
e a construção de sua identidade? ................................................................ 32


CAPÍTULO III ................................................................................................. 35
3. METODOLOGIA: OS CAMINHOS TRILHADOS ...................................                                      35
    3.1 Tipo de Pesquisa: Qualitativa .............................................................. 36
    3.2 Lócus da Pesquisa .............................................................................. 37
    3.3 Sujeitos da Pesquisa ........................................................................... 38
    3.4 Instrumento de Coleta de Dados ......................................................... 39
       3.4.1 Questionário Fechado ................................................................... 40
       3.4.2 Observação Direta ......................................................................... 41
       3.4.3 Entrevista semi-estruturada .......................................................... 41


CAPÍTULO IV ................................................................................................. 43
4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS .............................................. 43
    4.1 Perfil dos Sujeitos ................................................................................ 43
       4.1.1 Gênero ........................................................................................... 44
       4.1.2 Formação ...................................................................................... 45
          4.1.2.1 Formação Continuada.............................................................. 45
       4.1.3 Tempo de Atuação ....................................................................... 47
4.1.4 Jornada de Trabalho...................................................................... 48
    4.2 Análise da Entrevista ........................................................................... 49
      4.2.1 Educação Infantil como alicerce .................................................... 49
      4.2.2 O Papel do Professor reduzido a leitura e escrita ......................... 52
      4.2.3 A importância da Formação do Professor ..................................... 55


CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 59


REFERÊNCIAS .............................................................................................. 61


APÊNDICES
10




                                  INTRODUÇÃO




      A educação infantil aqui no Brasil tem uma história recente, em comparação
com outros países, pois somente no século XIX é que foram criadas as primeiras
instituições de atendimento à educação infantil, a custo de muitas lutas sociais,
ainda assim tais instituições de ensino não traziam consigo propostas de educação
infantil que contemplassem as necessidades das crianças enquanto sujeitos
construtores e dotados de direitos, o que percebemos é que tais propostas estavam
voltadas para os aspectos assistencialistas e compensatório, é bem verdade que do
ponto de vista legal no que se refere ao direito a acessibilidade hoje temos
documentos que dão essa garantia, contudo é importante frisar que são muitos os
paradigmas que perpassam a educação infantil nos dias atuais. E dentro destes
paradigmas está inclusive a necessidade de uma proposta pedagógica que tenha
como foco a criança, considerando-a como indivíduo que produz cultura e ao mesmo
tempo é produzido por ela, no momento contemporâneo que vivemos não permite
mais que a criança seja concebida como o cidadão futuro.

      Assim entendemos que as representações sociais dos professores com
relação ao seu papel são imprescindíveis, pois são essas representações que
determinarão se o professor desempenhará seu papel de forma crítica reflexiva ou
de forma alienada. É a partir dessa compreensão que o trabalho objetiva identificar
as representações sociais que os professores têm do seu papel na educação infantil.

      Este trabalho está composto de quatro capítulos:

      O Capítulo I, problematizamos nossa temática, fazendo um histórico da
educação infantil, trazendo à tona paradigmas que se fizeram presentes durante
todo o processo e que ainda se encontram arraigados, assim como as conquistas
alcançadas, e, também discutimos a função do professor na educação infantil.

      No Capítulo II, aprofundamos o estudo acerca da função e da prática do
professor, apoiando nos em teóricos que trouxeram reflexões e conceitos sobre as
palavras-chave: representações sociais, educação infantil e professores.
11




      No Capítulo III, descrevemos os caminhos trilhados pela nossa pesquisa que
se pautou na abordagem qualitativa e ao mesmo tempo descrevemos os recursos
utilizados na coleta dos dados.

      No Capítulo IV, apresentamos os resultados da nossa pesquisa através da
análise das falas das professoras, onde confrontamos idéias e fizemos comparações
com o que os autores nos referenciam.

      A análise foi dividida em categorias construídas a partir dos discursos das
professoras.

      Finalmente fizemos nossas considerações finais em torno do trabalho
realizado, verificando se o objetivo proposto foi alcançado, demonstrando a
necessidade de se repensar a forma de direcionar a educação infantil.
12



                                  CAPÍTULO I



1. EDUCAÇÃO INFANTIL: TRILHANDO CAMINHOS DIFERENTES


      A educação é um processo que começa fazer parte da vida do homem desde
seus primeiros contatos com outros indivíduos, se configurando então de forma
assistemática. Enquanto processo formal percebe-se que a educação tem tomado
dimensões diferentes de acordo com o momento político e histórico em que os
sujeitos situam-se.

      No tocante a Educação Infantil, não aconteceu diferente, à medida em que os
cenários sócio-político e econômico tomam novas dimensões, o processo de
alfabetização infantil também vem exigindo um direcionamento e um olhar novo,
geralmente em consonância com o momento histórico em que se encontra.

      Essa situação fica em evidência quando analisamos a forma como as
instituições de educação infantil surgiram. Em meio ao processo de industrialização,
fez-se necessário o ingresso da mulher no mercado de trabalho, entretanto, tais
mulheres não tinham com quem deixar seus filhos no momento em que estivessem
fora de casa, assim buscavam um lugar “seguro” onde as crianças se sentissem
como se estivessem no seu próprio lar. É nesse momento de mudança na economia
que surgem as instituições de educação infantil com o objetivo meramente de
“guardar” as crianças provenientes das camadas menos favorecidas, sem a menor
preocupação com a função pedagógica.

      Nesta perspectiva, percebe-se que historicamente as políticas educacionais
voltadas para este segmento não estavam preocupadas com a criança enquanto ser
construtor de conhecimentos e cidadania, a criança não era percebida como cidadã
que estava inserida num contexto histórico e social e que conseqüentemente
sofreria influências deste meio. Sendo assim faz-se necessário compreender a visão
que a sociedade e especificamente as entidades governamentais tinham de
educação infantil, nas décadas de 30 e 40, pois como afirma Kramer (1992):
13


                            As políticas públicas federais dirigidas às crianças brasileiras têm se
                            revestido, durante todo o século, de um caráter assistencialista. Marcadas
                            pelo paternalismo, pelo clientelismo, pela manipulação ideológica e política-
                            eleitoral, a maioria das ações de cunho médico, assistencial, alimentar ou
                            educacional concebem a criança pelo que ela não é, discriminam a sua
                            cultura e sua linguagem, oferecem-lhe programas de baixa qualidade. (p.
                            124).


        Nesse contexto fica evidente que as políticas educacionais voltadas às
crianças de 0 a 6 anos não se revestiam de um caráter educativo, mas traziam
consigo um cunho meramente assistencialista no qual as crianças não eram
concebidas como seres sociais. Durante as décadas de 30 e 40 propostas como as
de Decroly¹ e Montessori elaboradas com objetivos de atender pedagogicamente
crianças advindas das camadas mais pobres eram adequadas e aperfeiçoadas por
profissionais que trabalhavam com crianças de classe rica, as crianças das famílias
pobres continuavam recebendo um atendimento precário de cunho assistencialista,
apenas para permitir que as mães trabalhassem fora, atendendo assim aos
interesses do mercado de trabalho. A classe dominante estava voltada para um tipo
de educação que contemplava domínios cognitivos e afetivos. Em relação a este
aspecto Oliveira (2001) destaca:


                            Assim, enquanto os filhos das camadas médias e dominantes eram vistos
                            como necessitando de um atendimento estimulador de seu
                            desenvolvimento afetivo e cognitivo, às crianças mais pobres eram
                            propostos um cuidado mais voltado para a satisfação de necessidades de
                            guarda e higiene. (p. 17).


        Logo, percebemos uma nítida diferenciação de objetivos na oferta da
educação infantil, tendo como fator determinante a classe social à qual a criança
pertencia. É pertinente ressaltar que para a elite desse momento histórico não era
interessante educar as crianças das camadas pobres, desse modo as instituições de
educação infantil continuaram apenas com a função de “depósitos” de crianças.




_________________________________
1. Estas propostas tiveram origem com o objetivo de atender às crianças de camadas ou grupos desprivilegiados
como: órfãos de guerras e crianças com deficiência.
14



       Segundo Oliveira (2008) apenas quando a classe média precisou buscar
atendimento para seus filhos na creche é que este segmento de educação infantil
recebeu respaldo para desenvolver uma proposta pedagógica. Entretanto constata-
se que somente a custo de muitas lutas e movimentos operários em busca de
melhorias educacionais e conseqüentemente sociais é que se conseguiu uma
conquista significativa na Constituição de 1988 que oficializa a educação em creches
e pré-escolas como um direito de todas as crianças e um dever do Estado. Porém,
apesar do avanço conquistado percebe-se que ainda perpassam nos dias atuais
vestígios de propostas anteriores com caráter assistencialista e compensatório,
basta que observemos a qualidade da educação oferecida às crianças oriundas das
famílias menos favorecidas. Outro progresso referente à educação infantil que
merece destaque é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB
9.394/96.

       A Lei 9.394/96 inaugura um novo olhar quando nos diz no artigo 29: “a
educação básica infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança
até seis anos de idade em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social”. Ai
percebe-se pela primeira vez, pelo menos legalmente, uma preocupação com a
criança enquanto cidadã construtora de conhecimento e ser que faz parte de um
contexto social.

       Para que o propósito da Lei 9.394/96 que é contemplar o desenvolvimento
integral da criança, muita coisa ainda precisa ser mudada no tocante às políticas
educacionais, pois estas deveriam contemplar aspectos que vão muito além das
questões de ordens burocráticas e tecnológicas, não querendo menospreza-las,
muito pelo contrário, esta última é uma iniciativa plausível, porém é necessário que
paralelo aos avanços tecnológicos estejam as melhorias no que se refere a questão
salarial do professor, infra-estrutura das salas de aula, material didático e merenda
escolar de qualidade, proporcionando dessas condições dignas de aprendizagem.


       O que se tem percebido nas últimas décadas é que os governantes tentam
camuflar a real situação de precariedade das escolas com investimentos
tecnológicos que por vezes não atendem às necessidades básicas da educação. Ao
refletir a esse respeito Gentilli (2008) destaca que:
15




                     O baixo investimento em educação resulta em péssimas condições de
                     infra-estrutura escolar, falta de material didático apropriado, ausência de
                     biblioteca e salas de aula superlotadas.Os governantes neoliberais
                     tentaram atenuar a situação mediante programas de modernização
                     periférica que fizeram da chamada “transformação educacional” uma
                     verdadeira caricatura do que deveria ser uma política democrática: compra
                     de alguns poucos computadores, instalação de antenas parabólicas e
                     aparelho de vídeo, fax e datashows em escolas com goteiras permanentes,
                     sem saneamento básico, com um único banheiro para meninos e meninas,
                     muitas vezes sem giz e até mesmo sem energia elétrica. (p. 46).




      A fala do autor retrata a realidade grande parte das escolas brasileiras,
evidenciando que as políticas educacionais não são elaboradas com objetivos de
melhorar a situação das escolas, mas para funcionar como “marketing”, onde
percebemos que a tecnologia chega, no entanto, não chega junto espaço físico para
comportá-la, muito menos pessoal devidamente treinado para dá a devida
manutenção, e como já sabemos, o resultado provável é o não aproveitamento
desses   recursos.   Acaba    então    tais   investimentos       não    trazendo     maiores
contribuições para a melhoria da situação educacional.


      Tal contexto nos faz refletir sobre a fragilidade das políticas educacionais no
nosso pais, desde questões voltadas , às melhorias de estrutura física e tecnológica
até propostas de valorização e efetivação de direitos garantidos legalmente para
educação infantil.




1.1 Professor da Educação Infantil: Representações sociais do seu papel



  No Brasil as políticas educacionais voltadas à infância como já foi mencionado
  anteriormente, têm sido ministradas de forma precária e insuficiente, além disso
  vem se configurando um cenário ambíguo no qual na maioria das vezes o
  discurso se distancia da prática. A esse respeito Campos (in MACHADO, 2005)
  nos diz:
16


                      O divórcio entre a legislação e a realidade, no Brasil, não é de hoje. Nossa
                      tradição cultural e política sempre foi marcada por esta distância e, até
                      mesmo pela oposição entre aquilo que gostamos de colocar no papel e o
                      que de fato fazemos na realidade. (p. 27).


      Neste sentido, observamos as disparidades existentes nas propostas
educacionais para a infância com relação ao que é colocado teoricamente e o que
na realidade é praticado. Outro impasse vivenciado por este segmento durante muito
tempo é a falta de fundos com recursos específicos, isto torna difícil o trabalho dos
municípios que se obrigam a usar de muitos artifícios para atender às crianças de 0
a 6 anos, utilizando na maioria das vezes locais inapropriados com estruturas físicas
precárias, profissionais sem a formação adequada. nesse sentido Gentili (2008) diz:



                      Assim, enquanto os pobres eram excluídos do acesso a escola, seu direito
                      à educação era negado por uma barreira difícil de transpor e herdada de
                      geração em geração. E quando finalmente conquistaram esse acesso, eles
                      foram confinados a instituições educacionais iguais a eles: pobres ou muito
                      pobres, enquanto os mais ricos mantinham seus privilégios, monopolizando
                      agora não mais o acesso à escola, mas às boas escolas. (p. 35).



      Sendo assim é necessário estarmos atentos às políticas educacionais
voltadas à Educação Infantil, pois apesar dos avanços, principalmente no sentido da
expansão ao atendimento de crianças de 0 a 6 anos, ainda estamos muito longe de
atingir uma meta satisfatória que englobe oferta e qualidade de ensino.

      É pertinente no entanto, pontuarmos os avanços, mesmo que tênues,
ocorridos mais recentemente neste segmento como no caso do FUNDEB (Fundo de
Manutenção     e   Desenvolvimento       da    Educação       Básica     e   Valorização       dos
Profissionais da Educação) que veio em substituição ao FUNDEF (Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério).

      Com a implantação do FUNDEB, a Educação Infantil recebeu uma atenção
até então negada pelas políticas educacionais, pois para estas, é como se esse
segmento de educação não existisse. As responsabilidades de ensino eram
delegadas a uma e a outra instância, e quase nada se fazia em prol das crianças de
0 a 6 anos. No entanto, apesar do olhar do FUNDEB voltado a essa categoria não
significa que os problemas foram sanados. Para isso a nossa preocupação no
17



presente estudo foca-se no professor que está nesse segmento educacional
referente à formação desses profissionais por exemplo, vivencia-se grande paradoxo
em que tanto as instâncias (Federal, Estadual e Municipal) como instituições de
ensino superior não têm claramente definidas as exigências tanto relacionadas à
formação inicial quanto à formação continuada, o que segundo Kramer (2005) torna-
se muito mais grave quando são feitas interpretações diferentes do que retrata a lei
com relação aos profissionais que atuam nesta área.

      Nesta perspectiva percebe-se que enquanto o que é determinado na
legislação relacionado à formação de profissionais da educação infantil deixa
“brechas”, entendimentos diferentes, as instituições de ensino que atendem crianças
de 0 a 6 anos funcionam com profissionais com formação mínima ou nenhuma. O
Ministério da Educação – MEC por sua vez não tem oferecido subsídios para que os
municípios invistam na formação inicial e continuada de professores, sendo esta
última oferecida esporadicamente pelos municípios e com objetivos que muito
provavelmente até se distanciem de uma proposta de melhoria de qualidade de
ensino, uma vez que os cursos de formação continuada são ministrados
normalmente em jornadas pedagógicas com duração de no máximo 40 horas,
inviabilizando assim maior aprofundamento teórico.


       Além disso não são trabalhadas temáticas específicas para educação infantil.
Um outro aspecto relevante relacionado aos cursos de formação continuada é o fato
de os professores participantes serem instigados a abandonar experiências
vivenciadas durante toda sua prática pedagógica. A própria nomenclatura usada
para designar o processo (capacitação, reciclagem, dentre outros) sugere que os
educadores comecem tudo de novo a partir da visão trabalhada no curso de
capacitação o que para Kramer (2005, p. ): “não deve acontecer, pois na formação
de profissionais sua trajetória deve estar presente para que se faça uma reflexão
sobre essa prática”.

      Dessa forma observamos que as propostas de cursos de formação
continuada que estão sendo oferecidas acabam não contribuindo significativamente
com o processo de ensino-aprendizagem das crianças de 0 a 6 anos por não
18



considerar as dimensões histórica e cultural dos profissionais da educação infantil.
Kramer (2005) enfatiza essas dimensões apontando o seguinte:



                       A formação de profissionais da educação infantil precisa ressaltar a
                       dimensão cultural da vida das crianças e dos adultos com os quais
                       convivem, apontando para a possibilidade de as crianças aprenderem com
                       a história vivida e narrada pelos mais velhos, do mesmo modo que os
                       adultos concebem a criança como sujeito histórico, social e cultural...
                       Observar as particularidades infantis, promovendo a construção coletiva de
                       espaços de discussão da prática exige embeber a formação na crença de
                       que não há “déficit” na criança nem que a ela de dedica, a ser
                       compensado; há saberes plurais e diferentes modos de pensar a realidade.
                       (p. 129).




      Partindo desse pressuposto faz-se necessário considerar a importância de
políticas educacionais de formação de profissionais com propostas que os levem a
dar um caráter reflexivo a sua prática e que tais políticas não venham torná-los
professores escravos de métodos e receituários pedagógicos, mas que acima de
tudo venham conscientizar-se da importância do seu papel no desenvolvimento e
formação da criança.

      Ao mesmo tempo é importante para que se entenda esse processo,
trazermos à tona o histórico da construção da imagem do professor da educação
infantil, que por ter sido durante muito tempo atrelado à função do cuidar passou a
ser uma atividade desenvolvida pela figura feminina o que subentende-se sob uma
visão preconceituosa que para desenvolver essa função não requer qualificação.

      Por conta destas questões, educar crianças de 0 a 6 anos foi se constituindo
numa profissão pautada na imagem da mulher, isto devido justamente ao fato de ter
sido delegado a educação infantil o papel de cuidar das crianças, contemplando
questões de caráter sanitaristas e atividades domésticas. Tal característica acaba
por discriminar socialmente a profissão contribuindo com as desigualdades sociais
até mesmo referente à remuneração e profissionalização.

      Segundo Kishimoto (2002):


                        Ao longo da constituição da Educação Infantil, o profissional enfrentou as
                       contradições entre o feminino e o profissional. Princípios como a
19


                      maternagem, que acompanhou a história da Educação Infantil desde seus
                      primórdios, segundo o qual bastava ser mulher para assumir a educação
                      da criança pequena, e a socialização apenas no âmbito doméstico,
                      impediram a profissionalização da área. (p. 07).




      Diante de tantos conflitos faz-se necessário buscarmos compreender as
raízes dos preconceitos que permeiam a função de educador/a infantil, presentes
tão fortemente na sociedade e porque não dizer nas instituições educacionais, o que
acaba afetando até mesmo os/as profissionais que atuam neste segmento, deixando
os/as desestimulados/as e consequentemente apáticos/as e acomodados/as,
encarando a educação infantil apenas como uma forma “mais fácil” de conseguir um
emprego, o que acaba trazendo sérias consequências na formação das crianças,
enquanto indivíduos sociais.

      Sendo assim, percebemos que toda essa problemática envolvendo desde a
forma como se deu o surgimento das instituições de educação infantil até a maneira
como são percebidos os profissionais que atuam nesta área, afeta significantemente
o contexto da educação infantil, principalmente em municípios de pequeno porte,
como é o caso de Filadélfia que fica situado no interior da Bahia.

      Diante do exposto e, acreditando que compreender como os profissionais se
percebem no processo de ensino aprendizagem pode contribuir significativamente
para mudanças nas políticas públicas educacionais e consequentemente melhorar a
qualidade da educação infantil, pretendemos buscar responder a seguinte questão
da pesquisa:

      Quais as representações sociais que os/as professores/as de educação
infantil da Creche Mãe Dedé, no município de Filadélfia - BA tem do seu papel na
educação infantil?

      Mediante a essa questão, a nossa pesquisa terá como objetivo central:

      Identificar as representações sociais que os/as professores/as da Creche Mãe
Dedé têm sobre seu papel na educação infantil.
20



                                   CAPÍTULO II




2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA



        Do ponto de vista legal a educação infantil já alcançou muitas conquistas, no
entanto, é notório que na prática muita coisa ainda não se concretiza. Falar de
educação infantil nos dias atuais não é tarefa fácil, compreender de que forma sanar
resquícios do passado que perpassam a educação infantil, é mais difícil ainda,
entretanto, é pertinente ressaltar que a maneira como o processo de ensino-
aprendizagem se faz presente na vida da criança faz toda uma diferença e esse
diferencial será concretizado por meio das ações do professor e consequentemente
estas serão fruto das representações que o professor tem de seu papel na educação
infantil.

        Partindo dessa compreensão é que a presente pesquisa objetiva identificar as
representações sociais que os professores da Creche Mãe Dedé tem do seu papel
na educação infantil.

        A partir do objetivo supracitado surgiram os seguintes conceitos norteadores:

        Representações sociais, Educação Infantil e Professor.




2.1 Representações Sociais: Relacionando com a postura dos professores.



        O trabalho com crianças de 0 a 6 anos no Brasil tem passado por “roupagens”
diferentes e até conquistado timidamente mudanças consideráveis, entretanto, sabe-
se que os avanços ocorridos nas legislações referentes à educação infantil, não
acontecem por acaso, todos os progressos se deram a custo de muitas lutas sociais,
podemos reafirmar tal idéia com as palavras de Oliveira (2001) quando nos diz:
21


                      O contexto econômico e político presente nas décadas de 70 e 80 –
                      movimentos operários e feministas ocorrendo no quadro da luta pela
                      democratização do país e pelo combate às desigualdades sociais nele
                      gritantes – e que propiciou um vibrante movimento em luta pela
                      democratização da educação pública brasileira possibilitou a conquista, na
                      constituição de 1988, do reconhecimento da educação em creches e pré-
                      escolar como um direito da criança e um dever do Estado. (p. 18).



      Nesse contexto fica evidente que os processos educacionais estão
intrinsecamente ligados aos movimentos sociais e para melhor entendermos como
se relacionam, é imprescindível que se faça um estudo acerca das representações
sociais, pois assim como teoricamente ocorreram mudanças, a prática do professor
se interliga com as representações sociais que ele tem de educação.

      Nas últimas décadas são muitos os olhares voltados para as representações
sociais, porém Émili Durkheim foi o pioneiro em desenvolver estudos sobre o
assunto, e mais que isso, a criar um conceito para as representações sociais. Para
Durkheim (1947):


                      O termo representação social se refere a representações coletivas, como
                      uma forma de ideação social à qual se opõe a representação individual, e
                      por ele, aplicado em relação à sociedades estabelecidas sem inovação.
                      Compreende também Durkheim como representação social diversos tipos
                      de produções mentais, como a ciência a religião, a ideologia, os mitos e
                      outros, produções essas que de um lado não são idênticas quanto à
                      constituição, formas e funções, e de outro lado se distanciam do que se
                      entende como senso comum. (apud ANADON E MACHADO, 2003, p. 10).



      Neste contexto percebemos que as representações sociais se referem às
relações vivenciadas pelos indivíduos em sociedade. Relações essas que envolvem
ideologias, concepções de mundo e significados construídos na vida cotidiana.

      Posteriormente Moscovici (1961) apoiou-se em Dukheim (1947), para agregar
elementos significativos ao conceito de representações coletivas, que a partir daí fez
um encaminhamento sob a perspectiva social, dando então nova dimensão ao
conceito de representações sociais.
      Segundo Moscovici (1978):


                      (...) a representação social é um corpus organizado de conhecimentos e
                      uma das atividades psíquicas graças às quais os homens tornam inteligível
                      a realidade física e social, inserem-se num grupo ou numa ligação
22


                     cotidiana de trocas e liberam os poderes de sua imaginação. (apud
                     DOTTA, 2006, p. 17).



      O Conceito de representações sociais não se constitui numa atividade
simples, pois esse termo refere-se a questões complexas que têm sua gênise nas
subjetividades humanas. De acordo com Dotta (2006, p. 18): “o próprio Moscovici
alerta para a dificuldade de apreensão do conceito de representação social, em
contrapartida à facilidade de apreensão de sua realidade.

      Partindo dessa compreensão é possível admitirmos que as representações
sociais dão suporte aos sujeitos para que eles compreendam melhor os processos
que os cercam.

       E ainda de acordo com Moscovici (1995, p. 09): “os fenômenos sociais que
nos permitem identificar de maneira concreta as representações e de trabalhar sobre
elas são, o sabemos, as conversações, dentro das quais se elaboram os saberes
populares e o senso comum”.

      Entretanto para o mesmo autor o conhecimento popular não deve ser
considerado fora do contexto de representações sociais, nem tampouco que
somente eles expressam representações sociais.

      Diante do que foi refletido, entendemos que os saberes populares são
indispensáveis para que se entenda representações sociais, no entanto somente tais
saberes não são suficientes, é preciso que se envolva outros processos como
ideologia, religião e linguagem dos indivíduos como podemos perceber na fala de
Strey (1998):


                     Estudar RS é buscar conhecer o modo como um grupo humano constrói
                     um conjunto de saberes que expressam a identidade de um grupo social,
                     as representações sociais que ele forma sobre uma diversidade de objetos
                     tanto próximos como remotos, e principalmente o conjunto dos códigos
                     culturais que definem, em cada momento histórico as regras de uma
                     comunidade. (p. 107).



      Neste sentido as representações sociais se fazem presentes em diversas
construções dos indivíduos, tanto no campo do coletivo, como nas demonstrações
23



individuais, pois, é justamente esta linguagem que dará sentido às identidades.
Woodword (2007) ao refletir a esse respeito destaca que:


                      A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos
                      por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como
                      sujeitos. É por meio dos significados produzidos pelas representações que
                      damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos... A representação
                      compreendida como um processo cultural, estabelece identidades
                      individuais e coletivas e os sistemas simbólicos nos quais ela se baseia,
                      fornecem possíveis respostas às questões: Quem eu sou? O que eu
                      poderia ser? Quem eu quero ser? (p. 17).



        Partindo desse pressuposto percebe-se que as representações sociais e a
identidade do indivíduo estão intimamente ligados, e tais representações se
manifestam tanto no âmbito do coletivo quanto no âmbito das atitudes individuais.
Nessa     relação   observa-se    nitidamente      uma     reciprocidade      de    influencias
indivíduo/sociedade, pois como afirma Farr (1995, p. 51): “o indivíduo tanto é um
agente de mudança na sociedade como um produto dessa sociedade”.

        Ainda sobre essa dialética em que o indivíduo interfere na sociedade e vice-
versa. Anadon e Machado (2003) vem enfatizando o papel interativo do indivíduo na
sociedade quando diz:


                      Não há nada real que não seja construído pelos sujeitos, apoiando-se em
                      sistemas de valores e implicados em um contexto social e ideológico. A
                      partir da herança social, o indivíduo desempenha um papel não
                      negligenciável em suas tomadas de decisão: ele é ao mesmo tempo
                      produto e produtor da sociedade. Está existe somente através de suas
                      práticas. (p. 12).



        Sendo assim podemos ressaltar que as representações sociais se
manifestam efetivamente nas interações dos indivíduos, considerando suas
individualidades, porém nunca sendo tomados como seres isolados, pois de acordo
com Jovchetovitch (1995):


                      As representações são uma estratégia desenvolvida por atores sociais para
                      enfrentar a diversidade e a mobilidade de um mundo que embora pertença
                      a todos, transcende a cada um individualmente.
                      Nesse sentido elas são um espaço potencial de fabricação comum, onde
                      cada sujeito vai além de sua própria individualidade para entrar em domínio
                      diferente ainda que fundamentalmente relacionado: o domínio da vida em
                      comum, o espaço público. (p. 18).
24




      Portanto, as representações sociais oferecem aos indivíduos respaldo para
que os mesmos interfiram nos fenômenos sociais, através de suas ações.

      De acordo com as discussões realizadas em torno dos conceitos de
representações sociais acreditamos que estas norteiam as ações dos indivíduos e
assim sendo com os professores não poderia ser diferente, pois como afirma Freire
(1996, p. 43): “ensinar exige uma reflexão crítica sobre a prática, pois uma prática
que intenciona ser crítica envolve um movimento dinâmico, entre o fazer e o pensar
sobre o fazer”.

      Conhecer quais as representações sociais que os professores da Creche Mãe
Dedé têm do seu papel, pressupõe na nossa compreensão em se fazer uma
reflexão sobre educação infantil.



2.2 Educação Infantil


      Atualmente considerada no artigo 29 da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional nº 9.394/96, como a primeira etapa Educação Básica, a
educação infantil tem sido foco de discussões no cenário educacional, revelando-se
como uma temática bastante preocupante, uma vez que a sociedade ainda hoje
(século XXI) não consegue concretizar por meio de políticas educacionais o conceito
de educação infantil.

      É pertinente ressaltar que nas últimas décadas aconteceram importantes
conquistas neste seguimento, no entanto insuficientes para garantir uma qualidade
significativa de educação, como vem enfatizando Angotti (2006):


                        As conquistas da área nas últimas décadas foram grandes e importantes,
                        porém as inovações conceituais, o entendimento reformulado do que seja o
                        atendimento educacional às crianças de 0 a 6 anos ainda não encontraram
                        repercussão nas agendas social, política e educacional do brasileiro. (p.
                        15)
25



      Nessa fala fica evidente que apesar dos avanços significativos ocorridos nas
leis, nos conceitos do que vem a ser criança e, nos objetivos propostos para a
educação infantil, ainda não se conseguiu consolidar na prática, de forma a
conceber a criança de 0 a 6 anos como um indivíduo de direitos e com capacidade
de ser protagonista da sua própria história.

      Os instrumentos legais vêm garantindo à criança o direito a ser reconhecida
como um ser social com sua própria identidade e por isso deve ser-lhe
proporcionada uma educação que permita seu desenvolvimento, contemplando seus
aspectos físicos, cognitivos e emocionais, pois, como nos relata Angotti (2006)
quando consideramos as crianças em sua inteireza existe uma necessidade de
entendê-las como produto de uma cultura, mas também devemos considerá-las
como produtora desta.

      Diante desse contexto, percebemos a necessidade da oferta de um tipo de
educação para crianças de 0 a 6 anos que contemple aspectos que estão além do
simples ato de “cuidar” visando o alimentar e o higienizar como uma função maternal
e, assim negligenciando uma prática pedagógica que favorece seu desenvolvimento
e aquisição de conhecimento para a vida em sociedade. A esse respeito Kramer
(2002) afirma:


                      Afim de que essa função se efetive na prática, o trabalho pedagógico
                      precisa se orientar por uma visão das crianças como seres sociais,
                      indivíduos que vivem em sociedade, cidadãs e cidadãos. Isso exige que
                      levemos em consideração suas diferentes características, não só em
                      termos de histórias de vida ou de região geográfica, mas também de classe
                      social, etnia e sexo. (p. 19).




      É necessário portanto, compreender que a educação infantil necessita romper
paradigmas que se fizeram presentes no cenário educacional em décadas anteriores
e que ainda se perpassam nos dias atuais quando levamos em consideração a
efetivação de direitos que são garantidos por Lei, pois como ressalta Kramer (1992,
p. 32): “assistência à infância tem se constituído no Brasil, num objetivo não
concretizado na prática durante todo o século”. As divergências existentes entre o
discurso e a prática são nítidas, porém esses paradigmas precisam ser rompidos
26



para que tenhamos efetivamente um atendimento de qualidade à criança de 0 a 6
anos. Nesse sentido Angotti (2006) ressalta:


                      A Educação Infantil enquanto etapa da Educação Básica, parte pertencente
                      ao sistema educacional brasileiro não pode mais aceitar a manutenção de
                      paradigmas que ofereçam apenas atendimento assistencial às crianças;
                      que cuidem no sentido da mera proteção, higiene, alimentação, sem
                      educá-las, que acreditem que o fortalecimento da coordenação motora fina
                      e a pretensão de antecipação do processo de alfabetizar no sentido estrito
                      da leitura e da escrita seja o papel suficiente e adequado do atendimento
                      proposto; nem tampouco pode desconsiderar e abrir mão de conquistas
                      alcançadas até aqui, sobretudo do ponto de vista da legislação existente.
                      (p. 28).



      Sendo assim percebe-se a necessidade urgente de uma mudança de postura
no sentido de compreender a educação infantil como processo que traz valiosas
contribuições na formação dos indivíduos para construção da vida em sociedade de
forma autônoma.

      Segundo Angotti (2006) a criança já não pode mais ser compreendida como
um adulto em miniatura, como um bibelô com quem passamos parte do tempo e
logo em seguida providenciamos um lugar para guardá-la. É importante fazermos
uma reflexão sobre a forma como a sociedade sempre encarou a criança e nesse
sentido redimensionar os conceitos sobre a criança, pois de acordo com Moss
(2002, p. 240) a reconceitualização sobre a infância deve ser:


                      Construída sobre a noção de criança como um ator educativo e criativo,
                      como um sujeito e cidadão com potenciais, direitos e responsabilidades,
                      uma criança com quem vale a pena ouvir e dialogar e que tem a coragem
                      de pensar e agir por si mesma... a criança como um ator ativo, um
                      construtor, na construção de seu próprio conhecimento e da cultura de
                      seus companheiros... uma criança com sua própria inclinação e poder para
                      aprender, investigar e desenvolver como ser humano em uma relação ativa
                      com outras pessoas... uma criança que quer ter parte ativa no processo de
                      criação do conhecimento, uma criança que em interação com o mundo ao
                      redor é também ativa na construção, na criação de si mesma, de sua
                      personalidade e de seus talentos. Essa criança é vista como tendo “poder
                      sobre seu próprio processo de aprendizagem” e tendo direito de interpretar
                      o mundo. (Apud DARLBERG, 1997, p. 243).



      Nesse contexto em que a criança é a autora do seu próprio conhecimento,
percebemos que já não há mais lugar para um tipo de educação com fins
meramente assistencialistas que desconsidera o potencial da criança enquanto
27



indivíduo social. O que para Kramer (1991, o. 53): “Dizer que a criança é um ser
social significa considerar que ela tem uma história, que vive uma geografia, que
pertence a uma classe social determinada, que estabelece relações”.

      Percebemos que atrelado à educação infantil está uma visão preconceituosa
construída socialmente ao longo da história a respeito da função do professor de
educação infantil. Talvez deva-se ao fato de as instituições de ensino infantil
voltarem-se na maioria das vezes para o cuidar sem a preocupação pedagógica.
Entretanto essa visão preconceituosa vem ganhando uma ressignificação à medida
que o educador se percebe enquanto indivíduo formador de opiniões e capaz de
provocar mudanças no sentido de romper paradigmas que perpassam a educação
infantil. Sobre o educar o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
(1988) ressalta:


                     Educar significa portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e
                     aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para
                     o desenvolvimento das capacidades infantis de relação inter pessoal, de
                     ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e
                     confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da
                     realidade social e cultural. (p. 23).



      Dentro dessa perspectiva o “cuidar” é compreendido como parte da educação
infantil, no entanto, tomando uma nova dimensão em que esse cuidar se integra com
os vários aspectos, compondo e articulando conhecimentos que proporcionam à
criança competências que permitam a convivência em sociedade. Segundo Palhares
(2004, p. 52): “(...) para educar, cuidar e permitir que nossas crianças cresçam como
sujeitos é preciso, também construir educadores sujeitos”. Ainda a esse respeito
Dahlberg (2003) enfatiza que:


                     (...) a instituição didática a primeira infância, proporciona um espaço para
                     atividades e relacionamentos, permitindo a construção de conhecimento e
                     identidade. Proporcionam as crianças ferramentas e recursos para explorar
                     e resolver problemas, negociar e construir significados. (p. 105.



      Partindo dessa compreensão entendemos que as instituições de educação
infantil devem proporcionar à criança uma educação significativa em que a criança
seja percebida no processo como construtora do seu conhecimento.
28




      Diante de todas as discussões realizadas percebemos que o campo da
educação infantil passou por momentos distintos com objetivos também variados,
nos quais na maioria das vezes não atenderam ou não atendem às necessidades
pedagógicas das crianças.

      Crianças são atores sociais e na medida em que são trabalhadas nesta
perspectiva são capazes de construir sua própria história de vida, daí a importância
da educação infantil estar encaminhando a criança em busca dessa autonomia, pois
Angotti (2001) afirma:


                         Estudos científicos, principalmente da psicologia, têm apontado a
                         importância dos primeiros anos de vida para a construção do sujeito.
                         Devemos ter como meta, na educação pré-escolar, a criança com seu
                         desenvolvimento enquanto ser cognitivo e cognoscível, para que possamos
                         garantir a construção de sua pessoa. (p. 55).



      Evidentemente, em pleno século XXI não mais é admissível uma concepção
de educação infantil que não tome a criança enquanto ser construtor de
conhecimentos e que não contemple seus aspectos físicos e cognitivos, assim como
já não faz mais sentido instituições de educação infantil com mero propósito
assistencialista. É importante redimensionar efetivamente a educação de crianças
de 0 a 6 anos.

      Nessa perspectiva o trabalho com crianças de 0 a 6 anos fundamenta-se na
construção de significados que se fará nas relações sociais, originando assim as
identidades profissionais e sociais, o que para Cerisara (1996) no momento atual
vive uma crise, a qual tem como causa principal o fato de os profissionais da
educação infantil se depararem com situações em que necessitem desenvolver
atividades que se assemelham às da família. Ainda segundo Cerisara (1996) é
necessário que haja um aprofundamento na discussão sobre as características dos
profissionais que atuam no educação infantil, pois de acordo com estudos realizados
sobre o tema, as profissionais da educação infantil trazem dimensões pessoais para
uma prática que tradicionalmente não foi reconhecida como prática profissional.

      Diante do que foi exposto percebe-se que a prática pedagógica na educação
infantil está intrinsecamente relacionada à construção de identidade do profissional,
29



o que demanda uma atenção maior e urgente, pois corre-se o risco de as
profissionais de educação infantil desconsiderarem os cuidados físicos por estarem
atrelados à maternagem e se dedicarem exclusivamente à educação de “conteúdos”
o que seria tão perigoso quanto à educação com o mero propósito de “cuidar”, pois
com adverte Kishimoto (2002):


                          Em uma época em que se prioriza o desenvolvimento infantil da criança na
                          faixa de 0 a 6 anos, não se podem produzir práticas de maternagem e
                          escolarização precoce. É necessário respeitar a especificidade infantil,
                          valorizando seus saberes, criando espaços de autonomia de expressão de
                          linguagens e de iniciativa para a exploração e compreensão do mundo. (p.
                          08).



         Portanto, o trabalho do professor será verdadeiramente significativo na
medida em que ele não se detém a priorizar aspectos como cuidar no sentido do
físico, nem tampouco voltar sua atenção exclusiva para os conteúdos, mas trabalhar
no sentido de ajudar as crianças a se tornarem indivíduos autônomos capazes de se
perceberem enquanto seres sociais capazes de construir sua própria história.


2.3 Professor: Qual a sua identidade?

         O trabalho com crianças de 0 a 6 anos fundamenta-se na construção de
significados que se fará nas relações sociais, originando dessa forma as identidades
profissionais e sociais, o que para Cerisara (1996) no momento atual vive uma crise,
a qual tem como causa principal o fato de as profissionais da educação infantil se
depararem com situações em que necessitem desenvolver atividades que se
assemelham às da família. De acordo com a autora é necessário que haja um
aprofundamento nas discussões sobre as características dos profissionais que
atuam na educação infantil, pois de acordo com estudos realizados sobre o tema,
estas     profissionais    trazem     dimensões      pessoais      para   uma      prática   que
tradicionalmente não foi reconhecida como prática profissional.

         Numa visão simplista o professor é um profissional que desenvolve suas
atividades diariamente, contribuindo significativamente ou não para a formação dos
alunos     enquanto       seres   críticos.   Entretanto     tam    definição    pode     mudar
consideravelmente, a depender da postura assumida pelo professor.
30




       Numa abordagem sócio-cultural Mizukami (1986) enfatiza que:


                      O professor nessa abordagem assume a função de facilitador da
                      aprendizagem, e nesse clima o estudante entrará em contato com os
                      problemas vitais que tenha repercussão na existência. Daí o professor a
                      ser compreendido como um facilitador da aprendizagem devendo para
                      isso, ser autêntico (aberto as experiências e congruente), ou seja
                      integrado. (p. 52).



       Diante do que foi exposto percebe-se a necessidade do professor fazer uma
reflexão acerca de sua prática educativa, pois deste modo estará avaliando as
contribuições que seu trabalho traz na formação do aluno, uma vez que o professor
tem papel determinante na formação crítica do educando, o que dará respaldo para
desenvolver a vida em sociedade, pois sendo o professor um sujeito reflexivo, será
um formador de opiniões. E, segundo Libâneo (1994):


                      É preciso que o professor tenha claro em mente suas representações
                      políticas pedagógicas para pautar o seu trabalho no sentido de direcionar o
                      aluno a conquistar sua autonomia e ser capaz de se engajar nas lutas
                      sociais que consequentemente permitirá uma melhoria de qualidade de
                      vida em sociedade. (p. 123).



       Evidenciamos pois que a atuação do professor se configura a partir das suas
representações sociais, o que está intimamente ligado à construção de sua
identidade, pois como nos afirma Nóvoa (1992, p. 17): “a consciência profissional
encontra-se integrada à pessoal, estão juntas, se constroem concomitantemente ao
processo identitário, uma vez que é indissociável pensar a relação ação/pensamento
entre o “eu” pessoal e o profissional”.

       Diante disso percebemos a relação entre as ações e os significados que os
professores trazem para as coisas. Para Woodword (2007, p. 39): “as identidades
são fabricadas por meio da marcação da diferença. Essa marcação da diferença
ocorre tanto por meio de sistemas simbólicos de representação quanto por meio de
formas de exclusão social”. Sendo assim, entendemos que a identidade também é
uma construção social ligada às vivências. Andrade (2000) afirma que:


                      Cada grupo social tem sua forma específica de representação de mundo.
                      Isto significa que podem ser estabelecidas clivagens entre os grupos
31


                        sociais segundo as suas representações. Indivíduos e grupos expressam
                        sua identidade através das representações. (p. 144).



          Por isso é importante que se trabalhe o processo de construção da identidade
levando em consideração o contexto em que se encontra o professor, pois como
referencia Nóvoa (1992):


                        A identidade não é um produto adquirido, não é uma propriedade, não é
                        um produto. A identidade é um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de
                        construção de maneiras de ser e de estar na profissão. Por isso, é mais
                        adequado falar em processo identitário, realçando a mescla dinâmica que
                        caracteriza a maneira como cada um se sente e se diz professor. (p. 35).



          Sendo assim compreendemos que a função do professor vai muito além do
transmitir mecanicamente e a esse respeito Sacristan e Gómez (1998, p. 121)
enfatizam que: “O professor/a, de acordo com isso, devia perder seu papel de
transmissor e fonte de informação e do saber. Mais do que uma fonte de conteúdo
da aprendizagem, com seu ensino, teria que ser o mediador da comunicação cultural
(...)”.

          A partir desse pressuposto, o professor será entendido como um facilitador
que ajudará os educandos na construção dos conhecimentos, isso se dá na medida
em que ele socializa saberes, ao invés de se colocar no pedestal considerando-se o
detentor do conhecimento, e o aluno o mero receptor.

          É importante salientar, no entanto, que numa sociedade em que paralelo às
condições precárias de educação estão os avanços tecnológicos, já não há mais
espaço para o professor que desconsidera as vivências dos educandos como
valiosa forma de construção do conhecimento.

          Weisz (2009) discute a importância do professor valorizar a produção do
educando quando diz:


                        O salto importante que se deu do conhecimento produzido sobre questões
                        do ensino e da aprendizagem já permite que o professor olhe para aquilo
                        que o aluno produziu, enxergue ai o que ele já sabe e identifique que tipo
                        de informação é necessária para que seu conhecimento avance. (p. 22).
32



      Desta forma o processo de ensino-aprendizagem se constituirá de maneira
significativa, sendo capaz de provocar rupturas de paradigmas, e, mais ainda causar
transformações sociais, pois de acordo com Gentili (2008, p. 149) “a educação
torna-se uma prática de liberdade quando nos ajuda a construir os sentidos sobre os
quais uma sociedade justa deve ser estruturada.



2.3.1 Professor da Educação Infantil: Que relação há entre a formação e a
construção de sua identidade?


      Entende-se que o período de 0 a 6 anos na vida da criança é um momento
grandioso para a formação de um indivíduo independente e crítico, capaz de
modificar o meio que o cerca, e é nesse contexto que o tipo de educação que está
sendo oferecida faz toda a diferença, pois a respeito do papel da educação infantil
Vaz (1992) salienta o seguinte:


                      Descobri ai um novo papel para o ensino pré-escolar, que é oferecer
                      condições, propiciar oportunidades e estímulos dos mais variados para a
                      criança educar-se, socializar-se, formar-se independente e autônoma para
                      enfrentar situações de conflito dos mais diversos, apropriando-se do
                      processo de aprendizagem como sujeito de sua história. (p. 23-24).



      De acordo com a fala da autora é a partir da educação infantil que a criança já
começa a delinear caminhos que deverão permear suas vivências posteriores em
sociedade, e é nesse momento que o professor entra como mediador e desempenha
seu papel político social, mas para isso é necessário que ele tenha consciência do
seu fazer pedagógico e entenda o seu papel, como o de formador de opiniões e
indivíduos sociais. Dentro desse contexto Gadotti (1991) enfatiza:


                      O educador mede-se, portanto, pelo grau de consciência de classe que
                      tiver, pois “educador”, no sentido que desejo empregar significa para mim o
                      intelectual capaz de transmitir uma ideologia que organize e cimente os
                      homens entre si, um grupo, uma pequena comunidade, uma categoria
                      social, etc. (p. 75).



      Assim, a forma como o professor lida com os conflitos envolvendo as crianças
na sala de aula envolve questões principalmente do ponto de vista dos seus valores.
É importante que na sua formação o professor traga conhecimentos sobre os
33



processos históricos e seja capaz de relacioná-los ao contexto em que as crianças
encontram-se inseridas, pois de acordo com Furter (1981) o educador torna-se
sujeito importante na sociedade quanto ele é capaz de fazer das contradições
elemento reflexivo e isso somente será possível, na medida em que o professor se
percebe enquanto elemento fundamental no processo educacional entretanto é
importante ressaltar que a postura do professor está atrelado a seus valores às suas
significações, o que consequentemente se relacionam com suas identidades.

       Tais aspectos implicam também no tipo de formação do professor, pois à
medida que este aumenta o seu nível de conhecimento, ocorre alteração na
construção ou reconstrução das identidades, uma vez que estas são elaboradas a
partir das vivências do indivíduo.

       Diante do exposto percebemos que o trabalho do professor da educação
infantil, necessariamente está atrelado às suas representações sociais, o que
implicará na construção de sua identidade. Tais aspectos se relacionam também
com a formação do professor, pois à medida que este aumenta seu nível de
conhecimento, consequentemente suas representações sociais sobre educação
infantil se alteram, assim como seu processo de construção de identidade, uma vez
que a identidade é construída a partir das vivências do indivíduo. Dota (2006):


                      A identidade profissional do professor é composta de diversos elementos,
                      passando pela formação inicial e pelos diversos espaços, onde a profissão
                      acontece. Configura-se por meio de saberes científicos e pedagógicos, de
                      referências morais e éticas, sendo marcada pelas experiências, opções
                      feitas, práticas desenvolvidas, continuidades e descontinuidades, quer ao
                      nível das representações, quer ao nível do concreto. (p. 82).



       Por outra perspectiva os sujeitos são dotados de identidades e não de uma
única identidade imutável como até então se acreditava.

       De acordo com Hall (2001) esse tipo de indivíduo entendido como tendo uma
única identidade tem se dividido e assumindo outras identidades que chegam as
vezes a serem contraditórias.

       Nessa perspectiva percebemos que os processos de construção de
identidade também é uma construção social. Hall (2001) relata que:
34




                     A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada
                     continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou
                     interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam.
                     É definida historicamente, e não biologicamente.
                     O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos,
                     identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. (p. 12-
                     13).



        Se as identidades são entendidas como uma constrição social, passível de
mudanças, acreditamos, pois que as atitudes dos professores dependem
necessariamente dos seus valores e suas ideologias. Daí o papel importante que o
professor de educação infantil exerce, visto que a criança toma o educador como
referência, para suas ações. Oliveira (2008) afirma que:


                     O professor deve ter bastante claro que os princípios que regem seu fazer
                     estão diretamente relacionados com os princípios de cidadania que estão
                     sendo construídos pelas crianças. Desta maneira é fundamental a busca, a
                     coerência, entre o ideal de formação que se quer alcançar e os
                     procedimentos assumidos pelo docente enquanto individual, social,
                     profissional e político na efetivação de seus objetivos, seus valores e seus
                     ideais, para que possamos almejar uma sociedade mais humana,
                     igualitária e justa, preservando o que a sociedade tem de melhor, seu
                     potencial humano. (p. 67).



        Portanto é necessário que o professor da educação infantil esteja
constantemente refletindo sobre suas ações, avaliando de que maneira sua prática
está influenciando na vida dos seus educandos, e a partir desta avaliação ele poderá
buscar subsídios para modificar suas representações sociais acerca da educação
infantil.
35



                                    CAPÍTULO III




3. METODOLOGIA: OS CAMINHOS TRILHADOS


       A realização de uma pesquisa se dá a partir de uma inquietação do indivíduo
em relação a um determinado problema, sendo ele de ordem social ou não. A
pesquisa objetiva conhecer e evidenciar subjetividades dos sujeitos.

       Do ponto de vista de Minayo (1994, p. 17) a pesquisa é entendida como: “(...)
a atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade”.

       Através da pesquisa tem-se a oportunidade de fazer o confronto de idéias e
considerar os dados sobre uma determinada problemática. Nas últimas décadas a
pesquisa vem se fazendo necessária e de suma importância para responder
indagações nas mais diversificadas áreas e principalmente no contexto educacional
tem alcançado significativa relevância. Neste sentido, Ludke (1995, p. 111) ressalta:
”O reconhecimento da pesquisa como aliada importante é no trabalho e na formação
de professores, está se fazendo de maneira cada vez mais clara, tanto na literatura
especializada nacional, quanto na internacional”.

       Daí a importância da pesquisa como forma de validar conhecimentos. Na
busca de atingir os objetivos propostos, a utilização da metodologia faz-se
imprescindível, pois esta é entendida como o processo pelo qual os resultados da
pesquisa são alcançados. É através dela que os pesquisadores explicitam de forma
mais precisa as ações desenvolvidas para como os sujeitos em busca de alcançar
os objetivos.

       Sobre a metodologia Demo (1985) vem trazendo a seguinte definição:


                      A metodologia é uma preocupação instrumental. Trata das formas de se
                      fazer ciências. Cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos.
                      A finalidade das ciências é tratar a realidade teórica e praticamente. Para
                      atingirmos tal finalidade, colocam-se vários caminhos. Disto trata a
                      metodologia. (p. 19).
36



      Diante do exposto, percebemos que a metodologia é traçada pelos caminhos
trilhados para se alcançar os objetivos almejados perante o problema exposto.



3.1 Tipo de pesquisa: qualitativa


      Diante da proposta de estudo que é conhecer as representações sociais que
os professores têm sobre o seu papel na educação infantil optou-se por utilizar
abordagem qualitativa, entendendo que esta proporciona ao pesquisador uma maior
aproximação dos sujeitos pesquisados e melhor corresponde na busca de
compreender fenômenos que envolve o social. A respeito Minayo (1994) diz:


                      A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se
                      preocupa nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser
                      quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,
                      crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo
                      das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
                      reduzidos à operacionalização de variáveis. (p. 21-22).



      Nesta visão percebe-se que a pesquisa qualitativa se adequa perfeitamente à
temática das representações sociais, uma vez que, está pautada nos significados,
nos valores e nas atitudes dos indivíduos sociais, sendo que esse tipo de pesquisa
permite ao pesquisador o contato direto com os sujeitos envolvidos, pois de acordo
com Dotta (2006):


                      A pesquisa que envolve representação social, estando comprometida com
                      situações naturais e inegavelmente complexa, é necessariamente uma
                      pesquisa qualitativa, entendendo-se qualitativa, segundo o que Kirk e Miller
                      (1986 apud Spink, 1995, p. 105) postulam como uma tradição específica
                      dentro das ciências sociais dependente da observação de pessoas em
                      seus próprios espaços de interação com estas por meio de sua própria
                      linguagem e em seus termos. (p. 44-45).



      Sendo assim justifica-se a utilização da pesquisa qualitativa neste trabalho,
uma vez que essa abordagem norteia estudos e dá suporte para que se faça uma
análise dos dados de forma descritiva, tomando como referencial o contexto no qual
o objeto de estudo está inserido. A esse respeito Triviños (1987) ressalta:
37


                      A pesquisa qualitativa com apoio teórico na fenomenológica é
                      essencialmente descritiva. E como a descrição dos fenômenos estão
                      impregnados dos significadas que o ambiente lhes outorga, e como
                      aquelas são produto de uma visão subjetiva, rejeita toda expressão
                      quantitativa, numérica, toda medida. Desta maneira a interpretação dos
                      resultados surge com a totalidade de uma especulação que tem como base
                      a percepção de um fenômeno num contexto. Por isso, não é vazia, mas
                      coerente, lógica e consistente. (p. 128).



      Assim a pesquisa qualitativa proporciona ao pesquisador oportunidade de
analisar   os   resultados   levando    em    consideração      todo    um    contexto.    Os
pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê dos
fenômenos não quantificando-os e não submetendo-os à prova de fatos. como vem
afirmando Michalizyn (2005):


                      A pesquisa qualitativa responde questões muito particulares, preocupando-
                      se com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Trabalha
                      como o universo dos significados, motivos, aspirações, contrário da
                      quantitativa, aprofunda-se no mundo dos significados, das ações e
                      relações humanas. (p. 57).



      Para tanto, fica explicito o significado da pesquisa qualitativa e sua relação
com questões de natureza social, oferecendo possibilidades de o pesquisador
interagir com o objeto pesquisado.




3.2 Lócus da pesquisa


      O lócus da pesquisa é de fundamental importância para o pesquisador, pois é
nele que ocorre a interação pesquisador/objeto de pesquisa, proporcionando as
observações de processos pertinentes para a pesquisa, pois de acordo com Cruz
(1994):


                      (...) o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de
                      conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que desejamos
                      conhecer e estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo da
                      realidade presente no campo. (p. 51).
38



       Tendo em vista que a Creche Mãe Dedé é um espaço educativo sem foco de
interesse pelas profissionais de educação infantil, e conduzida por inquietações em
tentar compreender porque este ambiente é tão renegado, foi que nos interessamos
em realizar esta pesquisa no referido lócus que fica situado à Rua Cantídio Pereira
Maia, S/Nº, Centro, Filadélfia-Bahia. Esse é um espaço educativo filantrópico que
funciona com o apoio parcial da Prefeitura, que arca com as despesas de
funcionários (professores e pessoal de apoio), e fornece a merenda escolar.

       Com relação a material didático no inicio do ano letivo os pais fornecem parte
do material, que dura até o final do semestre. A partir desse período a entidade
realiza eventos (bingos, brechós, rifas, etc.) a fim de suprir obter recursos financeiros
para sua manutenção.

       No que se refere a estrutura física a escola dispõe de um ambiente com salas
arejadas e coloridas, uma sala de vídeo, uma cantina, uma diretoria, um espaço
para recreação, quatro banheiros com chuveiro e um banheiro para professores.
Quanto à estrutura funcional a entidade oferece educação infantil nos dois turnos
(matutino e vespertino) para crianças oriundas das classes menos favorecidas na
faixa etária de 03 a 06 anos, funcionando da seguinte forma: período matutino – 02
(duas) turmas de maternal, 02 (duas) turmas de 1º período, 02 (duas) turmas de 2º
período e 01 (uma) turma de 3º período. E, no turno vespertino - 01 (uma) turma de
maternal, 02 (duas) turmas de 1º período, 01 (uma) turma de 2º período e 01 (uma)
turma de 3º período. O horário de funcionamento da Creche é das 07:30 às 11:30 e
das 13:00 às 16:30 horas.


3.3 Sujeitos da Pesquisa


       Os sujeitos são elementos indispensáveis à pesquisa, assim como o lócus
eles propiciam ao pesquisador informações imprescindíveis que subsidiarão na
pesquisa. Para Cruz (1994, p. 52): “a relação do pesquisador com os sujeitos a
serem estudados é de extrema importância”.

       Nessa relação com os sujeitos o pesquisador terá oportunidade de observar
detalhes, indagar e dialogar, e comparar enriquecendo então seu trabalho. De
acordo com Triviños (1987, p. 146): “os sujeitos individualmente, poderão ser
39



submetidos à várias entrevistas, não só com o intuito de obter o máximo de
informações, mas também para avaliar as variações das respostas em diferentes
momentos”.

       A partir desse pressuposto fica claro a importância do contato direto do
pesquisador com o sujeito. Partindo desse princípio escolhemos os professores da
Creche Mãe Dedé por apresentarem características sociais que correspondem às
nossas inquietações, como por exemplo: trabalhar com crianças de 0 a 6 anos
oriundas das camadas pobres e principalmente atuar numa instituição renegada por
parte dos professores municipais. Por acreditar que as representações sociais dos
professores estão diretamente relacionadas com a sua prática é que elegemos tais
sujeitos para conhecer as representações sociais que os mesmos têm do seu papel
na educação infantil.

       As representações sociais dos professores estão diretamente relacionadas à
sua prática. Acreditando nesse pressuposto é que elegemos tais sujeitos para
conhecer suas representações sociais do seu papel na educação infantil.



3.4 Instrumentos de coleta de dados


       Através dos instrumentos de coleta de dados o pesquisador obtém
informações necessárias para realizar uma análise mais detalhada, pois de acordo
com Gressler (1989, p. 83): “os resultados de uma pesquisa dependem dos dados
obtidos”.

       Ampliando o debate acerca dessa mesma questão Rudio (1986) ressalta que:


                        Chama-se de “instrumentos de pesquisa” o que é utilizado para a coleta de
                        dados. (...) Para que se possa ter confiança em aceitar as informações de
                        um instrumento de pesquisa, este precisa ter as qualidades de validade e
                        fidedignidade. Diz-se que um instrumento é válido quando mede o que
                        pretende medir e é fidedigno quando aplicado à mesma amostra, oferece
                        consistentemente os mesmos resultados. (p. 114).
40



          Assim, afim de obtermos os resultados almejados, utilizamos como
instrumentos de coleta de dados os seguintes: questionário fechado, entrevista
semi-estruturada e a observação direta.


3.4.1 Questionário fechado


          Por questionário fechado entende-se que é um instrumento de coleta de
dados que traz perguntas elaboradas intencionando captar informações sobre os
sujeitos pesquisados, visto que tem o propósito de enriquecer a pesquisa
possibilitando-nos principalmente traçar o perfil sócio-econômico dos sujeitos.
Marconi e Lakatos (1996) ressalta:


                        Questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma
                        série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem
                        a presença do entrevistados. Em geral, o pesquisador envia o questionário
                        ao informante, pelo correio ou por um portador, depois de preenchido, o
                        pesquisador, devolve-o do mesmo modo. (p. 88).


          O questionário se constitui de perguntas fechadas ou perguntas abertas,
nessa pesquisa optamos pelo questionário fechado, pois nos possibilitou levantar
informações importantes sobre os sujeitos. Para Barros (2000, p. 90): “perguntas
fechadas são aquelas que apresentam categorias ou alternativas de respostas
fixas”.

          Triviños (1987) acrescenta que:


                        Sem dúvida alguma, o questionário fechado, de emprego usual no trabalho
                        positivista, também o podemos utilizar na pesquisa qualitativa.
                        Às vezes, o pesquisador desta última linha de estudo precisa caracterizar
                        um grupo de acordo com seus traços gerais (atividades ocupacionais)
                        exercem na comunidade, nível de escolaridade, estado civil, função que
                        desempenha nas associações de mães e vilas, etc. (p. 67).



          O questionário fechado propicia ao pesquisador informações importantes
relacionadas à idade, gênero, estado civil, religião, renda mensal, etc. foi dentro
deste contexto que nos propomos a utilizar este instrumento.
41



3.4.2 Observação direta


      A observação direta e sistemática, foi utilizada neste trabalho por
entendermos que esta permite um contato direto do pesquisador com o objeto de
pesquisa. Partindo desse princípio é que aplicamos tal instrumento de coleta de
dados objetivando presenciar vivências diárias dos professores na sala de aula, pois
Cruz (1994) enfatiza o seguinte sobre a observação:


                     A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma
                     variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de
                     perguntas, uma vez que, observamos diretamente na própria realidade,
                     transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real. (p. 56-
                     60)



      A   observação    direta   nos    permitiu    perceber      elementos     até    então
imprescindíveis em outras técnicas de coleta de dados. O contato direto com os
sujeitos nos fez partir do campo do ouvir para o olhar e “sentir”, pois segundo Ludke
e André (1986, p. 26): “a experiência direta é sem dúvida o melhor teste de
verificação da ocorrência de um determinado fato”.

      Concordando com essa afirmação Triviños (1987) retrata:


                     Observar um “fenômeno social” significa, em primeiro lugar, que
                     determinado evento social, simples ou complexo, tenha sido abstratamente
                     separado do seu contexto para que em sua dimensão singular seja
                     estudado em seus atos, atividades, significados, relações, etc. (p. 153).



      Partindo dessa compreensão se deu a escolha da observação para respaldar
nossa pesquisa.




3.4.3 – Entrevista semi-estruturada


      A escolha da entrevista semi-estruturada se deu pelo fato de essa técnica de
coleta de dados se configurar num instrumento valioso na aquisição de informações
para a pesquisa qualitativa, uma vez que esta permite além do contato direto com os
42



sujeitos a percepção dos sentimentos expressados por estes. Nesse contexto
Marconi e Lakatos (1996) dizem:


                     A entrevista é o encontro entre duas pessoas, afim de que uma delas
                     obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma
                     conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na
                     investigação social, para coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou
                     no tratamento de um problema social. (p. 84).



      A entrevista semi-estruturada é uma das técnicas de coleta de dados mais
adequadas para o enfoque qualitativo, isso porque ela de acordo com Triviños
(1987) além de privilegiar a presença do pesquisador, ela permite que o sujeito se
expresse de forma espontânea e com maior liberdade.

      André e Ludke (1986):


                     A grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a
                     captação imediata e coerente da informação desejada, praticamente com
                     qualquer tipo de informe e sobre os mais variados tópicos. Uma entrevista
                     bem feita pode permitir o tratamento de assuntos de natureza complexa e
                     de escolhas nitidamente individuais. A entrevista permite correções,
                     esclarecimentos e adaptações que a tornam sobremaneira eficaz na
                     obtenção das informações desejadas. (p. 34).



      A entrevista semi-estruturada é também chamada de semi-padronizada, pois
o entrevistador elabora perguntas específicas de acordo com a temática pesquisada,
o entrevistado segue uma linha de raciocínio naturalmente, entretanto sem fugir do
foco. A entrevista semi-estruturada foi de grande valia na realização da nossa
pesquisa, permitindo a aquisição de elementos significativos para a nossa análise de
dados.
43



                                    CAPÍTULO IV



4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS


        Neste capítulo faremos a análise e interpretação dos dados coletados, e
assim apresentaremos o resultado da pesquisa, que teve como objetivo identificar as
representações sociais que os professores da Creche Mãe Dedé têm do seu papel
na educação infantil, visto que o tratamento dos dados é elemento fundamental para
identificar as subjetividades dos sujeitos envolvidos no processo de pesquisa. De
acordo com Barros e Lehfeld (1990):


                      O objetivo dessa fase é sumariar, classificar e codificar as observações
                      feitas e os dados obtidos. O pesquisador deve, em seu planejamento;
                      explicar as principais operações a serem desenvolvidas para confrontar
                      seus dados com os objetivos e questões propostas para estudo. (p. 86).



        Para tanto, utilizamos como instrumentos de coleta de dados o questionário
fechado, a entrevista semi-estruturada e a observação direta, associando e
comparando os resultados obtidos, através de cada um dos instrumentos na
tentativa de alcançar o objetivo de pesquisa. Conforme aponta Madeira (2001, p.
138):


                      O conhecimento não se produz só pelo que se afirma, pois não representa
                      uma cadeia de verificações, mas que se legitima pela produção mesma em
                      sua capacidade de manter sua continuidade e conseqüência através das
                      contradições dos erros, e das negações. (Macedo, p. 72).



        Inicialmente analisaremos o questionário fechado buscando traçar o perfil dos
sujeitos da pesquisa o que trará subsídios para as análises. Posteriormente
analisaremos o resultado das entrevistas e observações diretas.



4.1 Perfil dos Sujeitos


        Aqui serão apresentados os resultados traçando o perfil dos sujeitos da
pesquisa, os dados que possibilitaram traçar o perfil dos sujeitos foram obtidos
44



através do questionário fechado no qual os sujeitos foram submetidos contribuindo
de forma significativa com a nossa pesquisa.



4.1.1 Gênero


           Analisando os resultados do questionário fechado identificamos no tocante ao
gênero que 100% dos professores da Creche Mãe Dedé são do sexo feminino. O
gráfico a seguir faz uma demonstração de tais resultados:




                                      0%


                                                               Masculino




                                                               Fem inino


                                     100%

                      Figura 01: Gênero
                      Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa


           Esse dado demonstra com nitidez que a figura feminina ainda predomina na
atuação da educação infantil. Isso se deve à forma como a educação infantil foi
implantada no Brasil, pois sabemos que teve toda uma conotação de “cuidar”
aspecto assistencialista que desde então vem se pautando na figura feminina por
atrelar preconceituosamente a função do professor de educação infantil à
maternagem. De acordo com Kramer (2005, p. 125): “As atividades do magistério
infantil     estão   associadas      ao     papel    sexual,     reprodutivo,   desempenhado
tradicionalmente pelas mulheres, caracterizando situações que reproduzem o
cotidiano, o trabalho doméstico de cuidados e socialização infantil...”. Entretanto é
importante que se tenha claro que o professor de educação infantil não se confunde
com a mãe, pois seu papel vai muito além do “cuidar”.
45



        Sendo assim acreditamos que é necessário haver uma política de
desconstrução dos paradigmas da maternidade que ainda persistem na educação
infantil.


4.1.2 Formação




                                           22%          Magistério



                                                        Superior Incom pleto



                  56%                             11%   Pós Graduação



                                            11%         Graduação em
                                                        Pedagogia


                  Figura 02: Formação
                  Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa


        O gráfico acima vem demonstrando a formação dos nossos pesquisados,
identificamos que 22% tem formação em magistério, 11% têm formação superior
incompleto, 11% têm pós graduação em gestão escolar e 56% têm graduação em
pedagogia. No que se refere a formação percebemos que a grande maioria traz uma
formação acadêmica, o que implica uma modificação no conhecimento destas
professoras e consequentemente uma mudança de postura quanto suas
representações de educação infantil.



4.1.2.1 Formação continuada

        Em relação a formação continuada os dados levantados explicitam que 11%
não participam de cursos de formação continuada, 56% participam de cursos de
formação continuada por iniciativa municipal e 33% raramente participam de cursos
de formação continuada. O gráfico apresenta claramente tais resultados.
46



                                                 11%
                                                                          Não
                                                                          participa de
                                                                          cursos
                    33%
                                                                          Participa de
                                                                          cursos de
                                                                          Iniciativa
                                                                          Municipal
                                                                          Raram ente
                                                                          participa de
                                                                          cursos




                                                       56%


                  Figura 03: Formação continuada
                  Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa




        Destacamos que o fato de 56% dos sujeitos da nossa pesquisa participarem
de cursos de formação continuada está intimamente relacionado à formação inicial,
que como foi evidenciado à grande maioria tem nível superior. Vale ressaltar que a
medida que o professor ingressa na universidade e cursa um nível superior, suas
representações sociais são alteradas e consequentemente ocorrem modificações
em sua prática pedagógica.

        É plausível a iniciativa das professoras da nossa pesquisa em participar de
cursos de formação continuada, pois estes são de grande valia para o
aperfeiçoamento dos conhecimentos e permite uma maior reflexão sobre a ação
educativa na modalidade infantil.

        É importante frisar que mudanças ocorreram nas legislações sobre educação
infantil, contudo não se tem percebido avanços concretos no tocante às políticas de
formação continuada contemplando a educação infantil. Isto tem grande relação com
o fato de a educação infantil ter se constituído na figura feminina, pautando-se na
função de maternagem o que acaba por entender-se preconceituosamente que para
exercer essa função requer pouca qualificação. Sobre esse aspecto Kramer (2005)
traz:
47


                      Considera-se que o trabalho do profissional da educação infantil necessita
                      de pouca qualificação e tem menor valor. A ideologia ai presente camufla
                      as precárias condições de trabalho, esvazia o conteúdo profissional da
                      carreira, desmobiliza os profissionais quanto às reivindicações salariais e
                      não os leva a perceber o poder da profissão. (p. 125).



      O que a autora vem expondo mostra que a visão preconceituosa que
perpassa a educação infantil, o que acaba por desvalorizar o segmento, além de
desmotivar o professor e este além de não buscar formação continuada por iniciativa
própria acaba não conseguindo construir uma representação social positiva dessa
etapa da educação.

      Então é necessário que se repense a forma como a educação infantil tem
sido tratada no nosso país.


4.1.3 Tempo de atuação




                                             11%                       Um ano



                                                                       Mais de
                                                                       três anos


                                                                       Mais de
                  55%                                   34%            quatro anos




              Figura 04: Tempo de atuação
              Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa




      Notamos que 34% dos professores atuam na educação infantil há mais de
três anos, enquanto que 55% exercem a função há mais de quatro anos e apenas
11% atuam há um ano. Esses resultados nos revela que a grande maioria dos
sujeitos trabalham com educação infantil há mais de quatro anos, isso implica em
uma maior experiência, fato que se relaciona com a visão que se teve durante muito
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Representações dos professores sobre seu papel na Educação Infantil

  • 1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII SENHOR DO BONFIM ELIANE MIRANDA DA SILVA AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS QUE OS PROFESSORES TÊM DO SEU “PAPEL” ENQUANTO PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL SENHOR DO BONFIM 2010
  • 2. ELIANE MIRANDA DA SILVA AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS QUE OS PROFESSORES TÊM DO SEU “PAPEL” ENQUANTO PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL Monografia apresentada como pré- requisito para conclusão do Curso de Pedagogia: Docência e Gestão de Processos Educativos, Departamento de Educação Campus VII da Universidade do Estado da Bahia. Orientadora: Profª. Maria Elizabeth Souza Gonçalves SENHOR DO BONFIM 2010
  • 3. ELIANE MIRANDA DA SILVA AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS QUE OS PROFESSORES TÊM DO SEU “PAPEL” ENQUANTO PROFESSORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL Aprovada em ______ de ______________ de 2010 Orientadora: __________________________________________ Profª Maria Elizabeth Souza Gonçalves Avaliador(a): __________________________________________ Avaliador(a): __________________________________________
  • 4. AGRADECIMENTOS Aos meus familiares, pai, irmãos, mas em especial minha mãe e minha irmã Jú, que sempre se orgulharam em dizer que eu passei no vestibular da UNEB e sempre torceram pelo meu sucesso. Ao meu esposo por toda a paciência e companheirismo nos momentos mais difíceis dessa jornada. À minha amiga Patrícia por ter cuidado do meu bebê enquanto eu estudava, mas acima de tudo, por ter me dado força e apoio para continuar na luta. À professora Elizabeth por te aceitado me ajudar, mesmo sabendo que ultrapassaria seu limite de orientandos. Meu muito obrigada. Aos demais professores do curso de Pedagogia do Campus VII pelas discussões que muito contribuíram para que essa pesquisa se consolidasse. Aos funcionários da biblioteca que sempre nos auxiliavam com muita boa vontade. Aos meus colegas de curso: Lidiana, Lidiane, Denizia, Viviane Braz, mas especialmente às minhas amigas: Maria Elizângela, Odeane Camilla e Adriana de Carvalho. Aos funcionários da Creche Mãe Dedé em especial aos professores que tanto contribuíram para que esse trabalho se realizasse. A todos vocês, o meu eterno e muito obrigado! Que Deus os abençoe!
  • 5. “Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”. (Paulo Freire)
  • 6. RESUMO O presente trabalho monográfico, se constituiu em fazer uma reflexão sobre as representações sociais que os professores da Creche Mãe Dedé têm do seu papel na educação infantil, considerando que o estudo sobre educação infantil, permite além de consolidar esta modalidade como uma etapa da educação que requer uma prática que considere as crianças como sujeitos de direitos, permite que paradigmas construídos historicamente sobre a educação infantil sejam cumpridos ou desconstruídos. Diante desse contexto buscamos respaldo para as nossas discussões nos seguintes autores: Oliveira (2008), Kramer (1992), Fazenda (1991), Kishimoto (2002), Angotti (2006), Pablo Gentilli (2008), Hall (2001), Andrade (2000), Dotta (2006), Anadon e Machado (2003), dentre outros. Os caminhos metodológicos utilizados foram subsidiados na abordagem qualitativa, pautados nos seguintes instrumentos de coleta de dados: questionário fechado, observação direta e entrevista semi-estruturada. Finalmente identificamos através das falas das professoras da Creche Mãe Dedé que estas representam socialmente o seu papel na educação infantil de forma tradicional, concebendo esta etapa como base ou alicerce que prepara os indivíduos para ingressarem nas séries seguintes e ainda limitam o seu papel à levar a criança a ler e escrever. Nestas falas encontramos discursos mais politizados, principalmente atrelados à formação profissional, todavia, percebe-se uma representação limitada do papel do professor, visto que este tem uma função determinante na construção de sujeitos ativos. Palavras-chave: Representações Sociais. Educação Infantil e Professor.
  • 7. LISTA DE FIGURAS FIGURA 01: Percentual em relação ao Gênero FIGURA 02: Percentual em relação à Formação FIGURA 03: Percentual em relação à Formação Continuada FIGURA 04: Percentual em relação ao Tempo de Atuação FIGURA 05: Percentual em relação à Jornada de Trabalho
  • 8. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................... 10 CAPÍTULO I ................................................................................................... 12 1. EDUCAÇÃO INFANTIL: TRILHANDO CANINHOS DIFERENTES ............ 12 1.1 Professor da Educação Infantil: Representações Sociais do seu papel 15 CAPÍTULO II .................................................................................................. 20 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................. 20 2.1 Representações Sociais: Relacionando com a postura dos professores .................................................................................................... 20 2.2 Educação Infantil .................................................................................. 24 2.3 Professor: Qual a sua identidade? ....................................................... 29 2.3.1 Professor de Educação Infantil: Que relação há entre a formação e a construção de sua identidade? ................................................................ 32 CAPÍTULO III ................................................................................................. 35 3. METODOLOGIA: OS CAMINHOS TRILHADOS ................................... 35 3.1 Tipo de Pesquisa: Qualitativa .............................................................. 36 3.2 Lócus da Pesquisa .............................................................................. 37 3.3 Sujeitos da Pesquisa ........................................................................... 38 3.4 Instrumento de Coleta de Dados ......................................................... 39 3.4.1 Questionário Fechado ................................................................... 40 3.4.2 Observação Direta ......................................................................... 41 3.4.3 Entrevista semi-estruturada .......................................................... 41 CAPÍTULO IV ................................................................................................. 43 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS .............................................. 43 4.1 Perfil dos Sujeitos ................................................................................ 43 4.1.1 Gênero ........................................................................................... 44 4.1.2 Formação ...................................................................................... 45 4.1.2.1 Formação Continuada.............................................................. 45 4.1.3 Tempo de Atuação ....................................................................... 47
  • 9. 4.1.4 Jornada de Trabalho...................................................................... 48 4.2 Análise da Entrevista ........................................................................... 49 4.2.1 Educação Infantil como alicerce .................................................... 49 4.2.2 O Papel do Professor reduzido a leitura e escrita ......................... 52 4.2.3 A importância da Formação do Professor ..................................... 55 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 59 REFERÊNCIAS .............................................................................................. 61 APÊNDICES
  • 10. 10 INTRODUÇÃO A educação infantil aqui no Brasil tem uma história recente, em comparação com outros países, pois somente no século XIX é que foram criadas as primeiras instituições de atendimento à educação infantil, a custo de muitas lutas sociais, ainda assim tais instituições de ensino não traziam consigo propostas de educação infantil que contemplassem as necessidades das crianças enquanto sujeitos construtores e dotados de direitos, o que percebemos é que tais propostas estavam voltadas para os aspectos assistencialistas e compensatório, é bem verdade que do ponto de vista legal no que se refere ao direito a acessibilidade hoje temos documentos que dão essa garantia, contudo é importante frisar que são muitos os paradigmas que perpassam a educação infantil nos dias atuais. E dentro destes paradigmas está inclusive a necessidade de uma proposta pedagógica que tenha como foco a criança, considerando-a como indivíduo que produz cultura e ao mesmo tempo é produzido por ela, no momento contemporâneo que vivemos não permite mais que a criança seja concebida como o cidadão futuro. Assim entendemos que as representações sociais dos professores com relação ao seu papel são imprescindíveis, pois são essas representações que determinarão se o professor desempenhará seu papel de forma crítica reflexiva ou de forma alienada. É a partir dessa compreensão que o trabalho objetiva identificar as representações sociais que os professores têm do seu papel na educação infantil. Este trabalho está composto de quatro capítulos: O Capítulo I, problematizamos nossa temática, fazendo um histórico da educação infantil, trazendo à tona paradigmas que se fizeram presentes durante todo o processo e que ainda se encontram arraigados, assim como as conquistas alcançadas, e, também discutimos a função do professor na educação infantil. No Capítulo II, aprofundamos o estudo acerca da função e da prática do professor, apoiando nos em teóricos que trouxeram reflexões e conceitos sobre as palavras-chave: representações sociais, educação infantil e professores.
  • 11. 11 No Capítulo III, descrevemos os caminhos trilhados pela nossa pesquisa que se pautou na abordagem qualitativa e ao mesmo tempo descrevemos os recursos utilizados na coleta dos dados. No Capítulo IV, apresentamos os resultados da nossa pesquisa através da análise das falas das professoras, onde confrontamos idéias e fizemos comparações com o que os autores nos referenciam. A análise foi dividida em categorias construídas a partir dos discursos das professoras. Finalmente fizemos nossas considerações finais em torno do trabalho realizado, verificando se o objetivo proposto foi alcançado, demonstrando a necessidade de se repensar a forma de direcionar a educação infantil.
  • 12. 12 CAPÍTULO I 1. EDUCAÇÃO INFANTIL: TRILHANDO CAMINHOS DIFERENTES A educação é um processo que começa fazer parte da vida do homem desde seus primeiros contatos com outros indivíduos, se configurando então de forma assistemática. Enquanto processo formal percebe-se que a educação tem tomado dimensões diferentes de acordo com o momento político e histórico em que os sujeitos situam-se. No tocante a Educação Infantil, não aconteceu diferente, à medida em que os cenários sócio-político e econômico tomam novas dimensões, o processo de alfabetização infantil também vem exigindo um direcionamento e um olhar novo, geralmente em consonância com o momento histórico em que se encontra. Essa situação fica em evidência quando analisamos a forma como as instituições de educação infantil surgiram. Em meio ao processo de industrialização, fez-se necessário o ingresso da mulher no mercado de trabalho, entretanto, tais mulheres não tinham com quem deixar seus filhos no momento em que estivessem fora de casa, assim buscavam um lugar “seguro” onde as crianças se sentissem como se estivessem no seu próprio lar. É nesse momento de mudança na economia que surgem as instituições de educação infantil com o objetivo meramente de “guardar” as crianças provenientes das camadas menos favorecidas, sem a menor preocupação com a função pedagógica. Nesta perspectiva, percebe-se que historicamente as políticas educacionais voltadas para este segmento não estavam preocupadas com a criança enquanto ser construtor de conhecimentos e cidadania, a criança não era percebida como cidadã que estava inserida num contexto histórico e social e que conseqüentemente sofreria influências deste meio. Sendo assim faz-se necessário compreender a visão que a sociedade e especificamente as entidades governamentais tinham de educação infantil, nas décadas de 30 e 40, pois como afirma Kramer (1992):
  • 13. 13 As políticas públicas federais dirigidas às crianças brasileiras têm se revestido, durante todo o século, de um caráter assistencialista. Marcadas pelo paternalismo, pelo clientelismo, pela manipulação ideológica e política- eleitoral, a maioria das ações de cunho médico, assistencial, alimentar ou educacional concebem a criança pelo que ela não é, discriminam a sua cultura e sua linguagem, oferecem-lhe programas de baixa qualidade. (p. 124). Nesse contexto fica evidente que as políticas educacionais voltadas às crianças de 0 a 6 anos não se revestiam de um caráter educativo, mas traziam consigo um cunho meramente assistencialista no qual as crianças não eram concebidas como seres sociais. Durante as décadas de 30 e 40 propostas como as de Decroly¹ e Montessori elaboradas com objetivos de atender pedagogicamente crianças advindas das camadas mais pobres eram adequadas e aperfeiçoadas por profissionais que trabalhavam com crianças de classe rica, as crianças das famílias pobres continuavam recebendo um atendimento precário de cunho assistencialista, apenas para permitir que as mães trabalhassem fora, atendendo assim aos interesses do mercado de trabalho. A classe dominante estava voltada para um tipo de educação que contemplava domínios cognitivos e afetivos. Em relação a este aspecto Oliveira (2001) destaca: Assim, enquanto os filhos das camadas médias e dominantes eram vistos como necessitando de um atendimento estimulador de seu desenvolvimento afetivo e cognitivo, às crianças mais pobres eram propostos um cuidado mais voltado para a satisfação de necessidades de guarda e higiene. (p. 17). Logo, percebemos uma nítida diferenciação de objetivos na oferta da educação infantil, tendo como fator determinante a classe social à qual a criança pertencia. É pertinente ressaltar que para a elite desse momento histórico não era interessante educar as crianças das camadas pobres, desse modo as instituições de educação infantil continuaram apenas com a função de “depósitos” de crianças. _________________________________ 1. Estas propostas tiveram origem com o objetivo de atender às crianças de camadas ou grupos desprivilegiados como: órfãos de guerras e crianças com deficiência.
  • 14. 14 Segundo Oliveira (2008) apenas quando a classe média precisou buscar atendimento para seus filhos na creche é que este segmento de educação infantil recebeu respaldo para desenvolver uma proposta pedagógica. Entretanto constata- se que somente a custo de muitas lutas e movimentos operários em busca de melhorias educacionais e conseqüentemente sociais é que se conseguiu uma conquista significativa na Constituição de 1988 que oficializa a educação em creches e pré-escolas como um direito de todas as crianças e um dever do Estado. Porém, apesar do avanço conquistado percebe-se que ainda perpassam nos dias atuais vestígios de propostas anteriores com caráter assistencialista e compensatório, basta que observemos a qualidade da educação oferecida às crianças oriundas das famílias menos favorecidas. Outro progresso referente à educação infantil que merece destaque é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB 9.394/96. A Lei 9.394/96 inaugura um novo olhar quando nos diz no artigo 29: “a educação básica infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social”. Ai percebe-se pela primeira vez, pelo menos legalmente, uma preocupação com a criança enquanto cidadã construtora de conhecimento e ser que faz parte de um contexto social. Para que o propósito da Lei 9.394/96 que é contemplar o desenvolvimento integral da criança, muita coisa ainda precisa ser mudada no tocante às políticas educacionais, pois estas deveriam contemplar aspectos que vão muito além das questões de ordens burocráticas e tecnológicas, não querendo menospreza-las, muito pelo contrário, esta última é uma iniciativa plausível, porém é necessário que paralelo aos avanços tecnológicos estejam as melhorias no que se refere a questão salarial do professor, infra-estrutura das salas de aula, material didático e merenda escolar de qualidade, proporcionando dessas condições dignas de aprendizagem. O que se tem percebido nas últimas décadas é que os governantes tentam camuflar a real situação de precariedade das escolas com investimentos tecnológicos que por vezes não atendem às necessidades básicas da educação. Ao refletir a esse respeito Gentilli (2008) destaca que:
  • 15. 15 O baixo investimento em educação resulta em péssimas condições de infra-estrutura escolar, falta de material didático apropriado, ausência de biblioteca e salas de aula superlotadas.Os governantes neoliberais tentaram atenuar a situação mediante programas de modernização periférica que fizeram da chamada “transformação educacional” uma verdadeira caricatura do que deveria ser uma política democrática: compra de alguns poucos computadores, instalação de antenas parabólicas e aparelho de vídeo, fax e datashows em escolas com goteiras permanentes, sem saneamento básico, com um único banheiro para meninos e meninas, muitas vezes sem giz e até mesmo sem energia elétrica. (p. 46). A fala do autor retrata a realidade grande parte das escolas brasileiras, evidenciando que as políticas educacionais não são elaboradas com objetivos de melhorar a situação das escolas, mas para funcionar como “marketing”, onde percebemos que a tecnologia chega, no entanto, não chega junto espaço físico para comportá-la, muito menos pessoal devidamente treinado para dá a devida manutenção, e como já sabemos, o resultado provável é o não aproveitamento desses recursos. Acaba então tais investimentos não trazendo maiores contribuições para a melhoria da situação educacional. Tal contexto nos faz refletir sobre a fragilidade das políticas educacionais no nosso pais, desde questões voltadas , às melhorias de estrutura física e tecnológica até propostas de valorização e efetivação de direitos garantidos legalmente para educação infantil. 1.1 Professor da Educação Infantil: Representações sociais do seu papel No Brasil as políticas educacionais voltadas à infância como já foi mencionado anteriormente, têm sido ministradas de forma precária e insuficiente, além disso vem se configurando um cenário ambíguo no qual na maioria das vezes o discurso se distancia da prática. A esse respeito Campos (in MACHADO, 2005) nos diz:
  • 16. 16 O divórcio entre a legislação e a realidade, no Brasil, não é de hoje. Nossa tradição cultural e política sempre foi marcada por esta distância e, até mesmo pela oposição entre aquilo que gostamos de colocar no papel e o que de fato fazemos na realidade. (p. 27). Neste sentido, observamos as disparidades existentes nas propostas educacionais para a infância com relação ao que é colocado teoricamente e o que na realidade é praticado. Outro impasse vivenciado por este segmento durante muito tempo é a falta de fundos com recursos específicos, isto torna difícil o trabalho dos municípios que se obrigam a usar de muitos artifícios para atender às crianças de 0 a 6 anos, utilizando na maioria das vezes locais inapropriados com estruturas físicas precárias, profissionais sem a formação adequada. nesse sentido Gentili (2008) diz: Assim, enquanto os pobres eram excluídos do acesso a escola, seu direito à educação era negado por uma barreira difícil de transpor e herdada de geração em geração. E quando finalmente conquistaram esse acesso, eles foram confinados a instituições educacionais iguais a eles: pobres ou muito pobres, enquanto os mais ricos mantinham seus privilégios, monopolizando agora não mais o acesso à escola, mas às boas escolas. (p. 35). Sendo assim é necessário estarmos atentos às políticas educacionais voltadas à Educação Infantil, pois apesar dos avanços, principalmente no sentido da expansão ao atendimento de crianças de 0 a 6 anos, ainda estamos muito longe de atingir uma meta satisfatória que englobe oferta e qualidade de ensino. É pertinente no entanto, pontuarmos os avanços, mesmo que tênues, ocorridos mais recentemente neste segmento como no caso do FUNDEB (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação) que veio em substituição ao FUNDEF (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério). Com a implantação do FUNDEB, a Educação Infantil recebeu uma atenção até então negada pelas políticas educacionais, pois para estas, é como se esse segmento de educação não existisse. As responsabilidades de ensino eram delegadas a uma e a outra instância, e quase nada se fazia em prol das crianças de 0 a 6 anos. No entanto, apesar do olhar do FUNDEB voltado a essa categoria não significa que os problemas foram sanados. Para isso a nossa preocupação no
  • 17. 17 presente estudo foca-se no professor que está nesse segmento educacional referente à formação desses profissionais por exemplo, vivencia-se grande paradoxo em que tanto as instâncias (Federal, Estadual e Municipal) como instituições de ensino superior não têm claramente definidas as exigências tanto relacionadas à formação inicial quanto à formação continuada, o que segundo Kramer (2005) torna- se muito mais grave quando são feitas interpretações diferentes do que retrata a lei com relação aos profissionais que atuam nesta área. Nesta perspectiva percebe-se que enquanto o que é determinado na legislação relacionado à formação de profissionais da educação infantil deixa “brechas”, entendimentos diferentes, as instituições de ensino que atendem crianças de 0 a 6 anos funcionam com profissionais com formação mínima ou nenhuma. O Ministério da Educação – MEC por sua vez não tem oferecido subsídios para que os municípios invistam na formação inicial e continuada de professores, sendo esta última oferecida esporadicamente pelos municípios e com objetivos que muito provavelmente até se distanciem de uma proposta de melhoria de qualidade de ensino, uma vez que os cursos de formação continuada são ministrados normalmente em jornadas pedagógicas com duração de no máximo 40 horas, inviabilizando assim maior aprofundamento teórico. Além disso não são trabalhadas temáticas específicas para educação infantil. Um outro aspecto relevante relacionado aos cursos de formação continuada é o fato de os professores participantes serem instigados a abandonar experiências vivenciadas durante toda sua prática pedagógica. A própria nomenclatura usada para designar o processo (capacitação, reciclagem, dentre outros) sugere que os educadores comecem tudo de novo a partir da visão trabalhada no curso de capacitação o que para Kramer (2005, p. ): “não deve acontecer, pois na formação de profissionais sua trajetória deve estar presente para que se faça uma reflexão sobre essa prática”. Dessa forma observamos que as propostas de cursos de formação continuada que estão sendo oferecidas acabam não contribuindo significativamente com o processo de ensino-aprendizagem das crianças de 0 a 6 anos por não
  • 18. 18 considerar as dimensões histórica e cultural dos profissionais da educação infantil. Kramer (2005) enfatiza essas dimensões apontando o seguinte: A formação de profissionais da educação infantil precisa ressaltar a dimensão cultural da vida das crianças e dos adultos com os quais convivem, apontando para a possibilidade de as crianças aprenderem com a história vivida e narrada pelos mais velhos, do mesmo modo que os adultos concebem a criança como sujeito histórico, social e cultural... Observar as particularidades infantis, promovendo a construção coletiva de espaços de discussão da prática exige embeber a formação na crença de que não há “déficit” na criança nem que a ela de dedica, a ser compensado; há saberes plurais e diferentes modos de pensar a realidade. (p. 129). Partindo desse pressuposto faz-se necessário considerar a importância de políticas educacionais de formação de profissionais com propostas que os levem a dar um caráter reflexivo a sua prática e que tais políticas não venham torná-los professores escravos de métodos e receituários pedagógicos, mas que acima de tudo venham conscientizar-se da importância do seu papel no desenvolvimento e formação da criança. Ao mesmo tempo é importante para que se entenda esse processo, trazermos à tona o histórico da construção da imagem do professor da educação infantil, que por ter sido durante muito tempo atrelado à função do cuidar passou a ser uma atividade desenvolvida pela figura feminina o que subentende-se sob uma visão preconceituosa que para desenvolver essa função não requer qualificação. Por conta destas questões, educar crianças de 0 a 6 anos foi se constituindo numa profissão pautada na imagem da mulher, isto devido justamente ao fato de ter sido delegado a educação infantil o papel de cuidar das crianças, contemplando questões de caráter sanitaristas e atividades domésticas. Tal característica acaba por discriminar socialmente a profissão contribuindo com as desigualdades sociais até mesmo referente à remuneração e profissionalização. Segundo Kishimoto (2002): Ao longo da constituição da Educação Infantil, o profissional enfrentou as contradições entre o feminino e o profissional. Princípios como a
  • 19. 19 maternagem, que acompanhou a história da Educação Infantil desde seus primórdios, segundo o qual bastava ser mulher para assumir a educação da criança pequena, e a socialização apenas no âmbito doméstico, impediram a profissionalização da área. (p. 07). Diante de tantos conflitos faz-se necessário buscarmos compreender as raízes dos preconceitos que permeiam a função de educador/a infantil, presentes tão fortemente na sociedade e porque não dizer nas instituições educacionais, o que acaba afetando até mesmo os/as profissionais que atuam neste segmento, deixando os/as desestimulados/as e consequentemente apáticos/as e acomodados/as, encarando a educação infantil apenas como uma forma “mais fácil” de conseguir um emprego, o que acaba trazendo sérias consequências na formação das crianças, enquanto indivíduos sociais. Sendo assim, percebemos que toda essa problemática envolvendo desde a forma como se deu o surgimento das instituições de educação infantil até a maneira como são percebidos os profissionais que atuam nesta área, afeta significantemente o contexto da educação infantil, principalmente em municípios de pequeno porte, como é o caso de Filadélfia que fica situado no interior da Bahia. Diante do exposto e, acreditando que compreender como os profissionais se percebem no processo de ensino aprendizagem pode contribuir significativamente para mudanças nas políticas públicas educacionais e consequentemente melhorar a qualidade da educação infantil, pretendemos buscar responder a seguinte questão da pesquisa: Quais as representações sociais que os/as professores/as de educação infantil da Creche Mãe Dedé, no município de Filadélfia - BA tem do seu papel na educação infantil? Mediante a essa questão, a nossa pesquisa terá como objetivo central: Identificar as representações sociais que os/as professores/as da Creche Mãe Dedé têm sobre seu papel na educação infantil.
  • 20. 20 CAPÍTULO II 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Do ponto de vista legal a educação infantil já alcançou muitas conquistas, no entanto, é notório que na prática muita coisa ainda não se concretiza. Falar de educação infantil nos dias atuais não é tarefa fácil, compreender de que forma sanar resquícios do passado que perpassam a educação infantil, é mais difícil ainda, entretanto, é pertinente ressaltar que a maneira como o processo de ensino- aprendizagem se faz presente na vida da criança faz toda uma diferença e esse diferencial será concretizado por meio das ações do professor e consequentemente estas serão fruto das representações que o professor tem de seu papel na educação infantil. Partindo dessa compreensão é que a presente pesquisa objetiva identificar as representações sociais que os professores da Creche Mãe Dedé tem do seu papel na educação infantil. A partir do objetivo supracitado surgiram os seguintes conceitos norteadores: Representações sociais, Educação Infantil e Professor. 2.1 Representações Sociais: Relacionando com a postura dos professores. O trabalho com crianças de 0 a 6 anos no Brasil tem passado por “roupagens” diferentes e até conquistado timidamente mudanças consideráveis, entretanto, sabe- se que os avanços ocorridos nas legislações referentes à educação infantil, não acontecem por acaso, todos os progressos se deram a custo de muitas lutas sociais, podemos reafirmar tal idéia com as palavras de Oliveira (2001) quando nos diz:
  • 21. 21 O contexto econômico e político presente nas décadas de 70 e 80 – movimentos operários e feministas ocorrendo no quadro da luta pela democratização do país e pelo combate às desigualdades sociais nele gritantes – e que propiciou um vibrante movimento em luta pela democratização da educação pública brasileira possibilitou a conquista, na constituição de 1988, do reconhecimento da educação em creches e pré- escolar como um direito da criança e um dever do Estado. (p. 18). Nesse contexto fica evidente que os processos educacionais estão intrinsecamente ligados aos movimentos sociais e para melhor entendermos como se relacionam, é imprescindível que se faça um estudo acerca das representações sociais, pois assim como teoricamente ocorreram mudanças, a prática do professor se interliga com as representações sociais que ele tem de educação. Nas últimas décadas são muitos os olhares voltados para as representações sociais, porém Émili Durkheim foi o pioneiro em desenvolver estudos sobre o assunto, e mais que isso, a criar um conceito para as representações sociais. Para Durkheim (1947): O termo representação social se refere a representações coletivas, como uma forma de ideação social à qual se opõe a representação individual, e por ele, aplicado em relação à sociedades estabelecidas sem inovação. Compreende também Durkheim como representação social diversos tipos de produções mentais, como a ciência a religião, a ideologia, os mitos e outros, produções essas que de um lado não são idênticas quanto à constituição, formas e funções, e de outro lado se distanciam do que se entende como senso comum. (apud ANADON E MACHADO, 2003, p. 10). Neste contexto percebemos que as representações sociais se referem às relações vivenciadas pelos indivíduos em sociedade. Relações essas que envolvem ideologias, concepções de mundo e significados construídos na vida cotidiana. Posteriormente Moscovici (1961) apoiou-se em Dukheim (1947), para agregar elementos significativos ao conceito de representações coletivas, que a partir daí fez um encaminhamento sob a perspectiva social, dando então nova dimensão ao conceito de representações sociais. Segundo Moscovici (1978): (...) a representação social é um corpus organizado de conhecimentos e uma das atividades psíquicas graças às quais os homens tornam inteligível a realidade física e social, inserem-se num grupo ou numa ligação
  • 22. 22 cotidiana de trocas e liberam os poderes de sua imaginação. (apud DOTTA, 2006, p. 17). O Conceito de representações sociais não se constitui numa atividade simples, pois esse termo refere-se a questões complexas que têm sua gênise nas subjetividades humanas. De acordo com Dotta (2006, p. 18): “o próprio Moscovici alerta para a dificuldade de apreensão do conceito de representação social, em contrapartida à facilidade de apreensão de sua realidade. Partindo dessa compreensão é possível admitirmos que as representações sociais dão suporte aos sujeitos para que eles compreendam melhor os processos que os cercam. E ainda de acordo com Moscovici (1995, p. 09): “os fenômenos sociais que nos permitem identificar de maneira concreta as representações e de trabalhar sobre elas são, o sabemos, as conversações, dentro das quais se elaboram os saberes populares e o senso comum”. Entretanto para o mesmo autor o conhecimento popular não deve ser considerado fora do contexto de representações sociais, nem tampouco que somente eles expressam representações sociais. Diante do que foi refletido, entendemos que os saberes populares são indispensáveis para que se entenda representações sociais, no entanto somente tais saberes não são suficientes, é preciso que se envolva outros processos como ideologia, religião e linguagem dos indivíduos como podemos perceber na fala de Strey (1998): Estudar RS é buscar conhecer o modo como um grupo humano constrói um conjunto de saberes que expressam a identidade de um grupo social, as representações sociais que ele forma sobre uma diversidade de objetos tanto próximos como remotos, e principalmente o conjunto dos códigos culturais que definem, em cada momento histórico as regras de uma comunidade. (p. 107). Neste sentido as representações sociais se fazem presentes em diversas construções dos indivíduos, tanto no campo do coletivo, como nas demonstrações
  • 23. 23 individuais, pois, é justamente esta linguagem que dará sentido às identidades. Woodword (2007) ao refletir a esse respeito destaca que: A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeitos. É por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos... A representação compreendida como um processo cultural, estabelece identidades individuais e coletivas e os sistemas simbólicos nos quais ela se baseia, fornecem possíveis respostas às questões: Quem eu sou? O que eu poderia ser? Quem eu quero ser? (p. 17). Partindo desse pressuposto percebe-se que as representações sociais e a identidade do indivíduo estão intimamente ligados, e tais representações se manifestam tanto no âmbito do coletivo quanto no âmbito das atitudes individuais. Nessa relação observa-se nitidamente uma reciprocidade de influencias indivíduo/sociedade, pois como afirma Farr (1995, p. 51): “o indivíduo tanto é um agente de mudança na sociedade como um produto dessa sociedade”. Ainda sobre essa dialética em que o indivíduo interfere na sociedade e vice- versa. Anadon e Machado (2003) vem enfatizando o papel interativo do indivíduo na sociedade quando diz: Não há nada real que não seja construído pelos sujeitos, apoiando-se em sistemas de valores e implicados em um contexto social e ideológico. A partir da herança social, o indivíduo desempenha um papel não negligenciável em suas tomadas de decisão: ele é ao mesmo tempo produto e produtor da sociedade. Está existe somente através de suas práticas. (p. 12). Sendo assim podemos ressaltar que as representações sociais se manifestam efetivamente nas interações dos indivíduos, considerando suas individualidades, porém nunca sendo tomados como seres isolados, pois de acordo com Jovchetovitch (1995): As representações são uma estratégia desenvolvida por atores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de um mundo que embora pertença a todos, transcende a cada um individualmente. Nesse sentido elas são um espaço potencial de fabricação comum, onde cada sujeito vai além de sua própria individualidade para entrar em domínio diferente ainda que fundamentalmente relacionado: o domínio da vida em comum, o espaço público. (p. 18).
  • 24. 24 Portanto, as representações sociais oferecem aos indivíduos respaldo para que os mesmos interfiram nos fenômenos sociais, através de suas ações. De acordo com as discussões realizadas em torno dos conceitos de representações sociais acreditamos que estas norteiam as ações dos indivíduos e assim sendo com os professores não poderia ser diferente, pois como afirma Freire (1996, p. 43): “ensinar exige uma reflexão crítica sobre a prática, pois uma prática que intenciona ser crítica envolve um movimento dinâmico, entre o fazer e o pensar sobre o fazer”. Conhecer quais as representações sociais que os professores da Creche Mãe Dedé têm do seu papel, pressupõe na nossa compreensão em se fazer uma reflexão sobre educação infantil. 2.2 Educação Infantil Atualmente considerada no artigo 29 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, como a primeira etapa Educação Básica, a educação infantil tem sido foco de discussões no cenário educacional, revelando-se como uma temática bastante preocupante, uma vez que a sociedade ainda hoje (século XXI) não consegue concretizar por meio de políticas educacionais o conceito de educação infantil. É pertinente ressaltar que nas últimas décadas aconteceram importantes conquistas neste seguimento, no entanto insuficientes para garantir uma qualidade significativa de educação, como vem enfatizando Angotti (2006): As conquistas da área nas últimas décadas foram grandes e importantes, porém as inovações conceituais, o entendimento reformulado do que seja o atendimento educacional às crianças de 0 a 6 anos ainda não encontraram repercussão nas agendas social, política e educacional do brasileiro. (p. 15)
  • 25. 25 Nessa fala fica evidente que apesar dos avanços significativos ocorridos nas leis, nos conceitos do que vem a ser criança e, nos objetivos propostos para a educação infantil, ainda não se conseguiu consolidar na prática, de forma a conceber a criança de 0 a 6 anos como um indivíduo de direitos e com capacidade de ser protagonista da sua própria história. Os instrumentos legais vêm garantindo à criança o direito a ser reconhecida como um ser social com sua própria identidade e por isso deve ser-lhe proporcionada uma educação que permita seu desenvolvimento, contemplando seus aspectos físicos, cognitivos e emocionais, pois, como nos relata Angotti (2006) quando consideramos as crianças em sua inteireza existe uma necessidade de entendê-las como produto de uma cultura, mas também devemos considerá-las como produtora desta. Diante desse contexto, percebemos a necessidade da oferta de um tipo de educação para crianças de 0 a 6 anos que contemple aspectos que estão além do simples ato de “cuidar” visando o alimentar e o higienizar como uma função maternal e, assim negligenciando uma prática pedagógica que favorece seu desenvolvimento e aquisição de conhecimento para a vida em sociedade. A esse respeito Kramer (2002) afirma: Afim de que essa função se efetive na prática, o trabalho pedagógico precisa se orientar por uma visão das crianças como seres sociais, indivíduos que vivem em sociedade, cidadãs e cidadãos. Isso exige que levemos em consideração suas diferentes características, não só em termos de histórias de vida ou de região geográfica, mas também de classe social, etnia e sexo. (p. 19). É necessário portanto, compreender que a educação infantil necessita romper paradigmas que se fizeram presentes no cenário educacional em décadas anteriores e que ainda se perpassam nos dias atuais quando levamos em consideração a efetivação de direitos que são garantidos por Lei, pois como ressalta Kramer (1992, p. 32): “assistência à infância tem se constituído no Brasil, num objetivo não concretizado na prática durante todo o século”. As divergências existentes entre o discurso e a prática são nítidas, porém esses paradigmas precisam ser rompidos
  • 26. 26 para que tenhamos efetivamente um atendimento de qualidade à criança de 0 a 6 anos. Nesse sentido Angotti (2006) ressalta: A Educação Infantil enquanto etapa da Educação Básica, parte pertencente ao sistema educacional brasileiro não pode mais aceitar a manutenção de paradigmas que ofereçam apenas atendimento assistencial às crianças; que cuidem no sentido da mera proteção, higiene, alimentação, sem educá-las, que acreditem que o fortalecimento da coordenação motora fina e a pretensão de antecipação do processo de alfabetizar no sentido estrito da leitura e da escrita seja o papel suficiente e adequado do atendimento proposto; nem tampouco pode desconsiderar e abrir mão de conquistas alcançadas até aqui, sobretudo do ponto de vista da legislação existente. (p. 28). Sendo assim percebe-se a necessidade urgente de uma mudança de postura no sentido de compreender a educação infantil como processo que traz valiosas contribuições na formação dos indivíduos para construção da vida em sociedade de forma autônoma. Segundo Angotti (2006) a criança já não pode mais ser compreendida como um adulto em miniatura, como um bibelô com quem passamos parte do tempo e logo em seguida providenciamos um lugar para guardá-la. É importante fazermos uma reflexão sobre a forma como a sociedade sempre encarou a criança e nesse sentido redimensionar os conceitos sobre a criança, pois de acordo com Moss (2002, p. 240) a reconceitualização sobre a infância deve ser: Construída sobre a noção de criança como um ator educativo e criativo, como um sujeito e cidadão com potenciais, direitos e responsabilidades, uma criança com quem vale a pena ouvir e dialogar e que tem a coragem de pensar e agir por si mesma... a criança como um ator ativo, um construtor, na construção de seu próprio conhecimento e da cultura de seus companheiros... uma criança com sua própria inclinação e poder para aprender, investigar e desenvolver como ser humano em uma relação ativa com outras pessoas... uma criança que quer ter parte ativa no processo de criação do conhecimento, uma criança que em interação com o mundo ao redor é também ativa na construção, na criação de si mesma, de sua personalidade e de seus talentos. Essa criança é vista como tendo “poder sobre seu próprio processo de aprendizagem” e tendo direito de interpretar o mundo. (Apud DARLBERG, 1997, p. 243). Nesse contexto em que a criança é a autora do seu próprio conhecimento, percebemos que já não há mais lugar para um tipo de educação com fins meramente assistencialistas que desconsidera o potencial da criança enquanto
  • 27. 27 indivíduo social. O que para Kramer (1991, o. 53): “Dizer que a criança é um ser social significa considerar que ela tem uma história, que vive uma geografia, que pertence a uma classe social determinada, que estabelece relações”. Percebemos que atrelado à educação infantil está uma visão preconceituosa construída socialmente ao longo da história a respeito da função do professor de educação infantil. Talvez deva-se ao fato de as instituições de ensino infantil voltarem-se na maioria das vezes para o cuidar sem a preocupação pedagógica. Entretanto essa visão preconceituosa vem ganhando uma ressignificação à medida que o educador se percebe enquanto indivíduo formador de opiniões e capaz de provocar mudanças no sentido de romper paradigmas que perpassam a educação infantil. Sobre o educar o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1988) ressalta: Educar significa portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação inter pessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. (p. 23). Dentro dessa perspectiva o “cuidar” é compreendido como parte da educação infantil, no entanto, tomando uma nova dimensão em que esse cuidar se integra com os vários aspectos, compondo e articulando conhecimentos que proporcionam à criança competências que permitam a convivência em sociedade. Segundo Palhares (2004, p. 52): “(...) para educar, cuidar e permitir que nossas crianças cresçam como sujeitos é preciso, também construir educadores sujeitos”. Ainda a esse respeito Dahlberg (2003) enfatiza que: (...) a instituição didática a primeira infância, proporciona um espaço para atividades e relacionamentos, permitindo a construção de conhecimento e identidade. Proporcionam as crianças ferramentas e recursos para explorar e resolver problemas, negociar e construir significados. (p. 105. Partindo dessa compreensão entendemos que as instituições de educação infantil devem proporcionar à criança uma educação significativa em que a criança seja percebida no processo como construtora do seu conhecimento.
  • 28. 28 Diante de todas as discussões realizadas percebemos que o campo da educação infantil passou por momentos distintos com objetivos também variados, nos quais na maioria das vezes não atenderam ou não atendem às necessidades pedagógicas das crianças. Crianças são atores sociais e na medida em que são trabalhadas nesta perspectiva são capazes de construir sua própria história de vida, daí a importância da educação infantil estar encaminhando a criança em busca dessa autonomia, pois Angotti (2001) afirma: Estudos científicos, principalmente da psicologia, têm apontado a importância dos primeiros anos de vida para a construção do sujeito. Devemos ter como meta, na educação pré-escolar, a criança com seu desenvolvimento enquanto ser cognitivo e cognoscível, para que possamos garantir a construção de sua pessoa. (p. 55). Evidentemente, em pleno século XXI não mais é admissível uma concepção de educação infantil que não tome a criança enquanto ser construtor de conhecimentos e que não contemple seus aspectos físicos e cognitivos, assim como já não faz mais sentido instituições de educação infantil com mero propósito assistencialista. É importante redimensionar efetivamente a educação de crianças de 0 a 6 anos. Nessa perspectiva o trabalho com crianças de 0 a 6 anos fundamenta-se na construção de significados que se fará nas relações sociais, originando assim as identidades profissionais e sociais, o que para Cerisara (1996) no momento atual vive uma crise, a qual tem como causa principal o fato de os profissionais da educação infantil se depararem com situações em que necessitem desenvolver atividades que se assemelham às da família. Ainda segundo Cerisara (1996) é necessário que haja um aprofundamento na discussão sobre as características dos profissionais que atuam no educação infantil, pois de acordo com estudos realizados sobre o tema, as profissionais da educação infantil trazem dimensões pessoais para uma prática que tradicionalmente não foi reconhecida como prática profissional. Diante do que foi exposto percebe-se que a prática pedagógica na educação infantil está intrinsecamente relacionada à construção de identidade do profissional,
  • 29. 29 o que demanda uma atenção maior e urgente, pois corre-se o risco de as profissionais de educação infantil desconsiderarem os cuidados físicos por estarem atrelados à maternagem e se dedicarem exclusivamente à educação de “conteúdos” o que seria tão perigoso quanto à educação com o mero propósito de “cuidar”, pois com adverte Kishimoto (2002): Em uma época em que se prioriza o desenvolvimento infantil da criança na faixa de 0 a 6 anos, não se podem produzir práticas de maternagem e escolarização precoce. É necessário respeitar a especificidade infantil, valorizando seus saberes, criando espaços de autonomia de expressão de linguagens e de iniciativa para a exploração e compreensão do mundo. (p. 08). Portanto, o trabalho do professor será verdadeiramente significativo na medida em que ele não se detém a priorizar aspectos como cuidar no sentido do físico, nem tampouco voltar sua atenção exclusiva para os conteúdos, mas trabalhar no sentido de ajudar as crianças a se tornarem indivíduos autônomos capazes de se perceberem enquanto seres sociais capazes de construir sua própria história. 2.3 Professor: Qual a sua identidade? O trabalho com crianças de 0 a 6 anos fundamenta-se na construção de significados que se fará nas relações sociais, originando dessa forma as identidades profissionais e sociais, o que para Cerisara (1996) no momento atual vive uma crise, a qual tem como causa principal o fato de as profissionais da educação infantil se depararem com situações em que necessitem desenvolver atividades que se assemelham às da família. De acordo com a autora é necessário que haja um aprofundamento nas discussões sobre as características dos profissionais que atuam na educação infantil, pois de acordo com estudos realizados sobre o tema, estas profissionais trazem dimensões pessoais para uma prática que tradicionalmente não foi reconhecida como prática profissional. Numa visão simplista o professor é um profissional que desenvolve suas atividades diariamente, contribuindo significativamente ou não para a formação dos alunos enquanto seres críticos. Entretanto tam definição pode mudar consideravelmente, a depender da postura assumida pelo professor.
  • 30. 30 Numa abordagem sócio-cultural Mizukami (1986) enfatiza que: O professor nessa abordagem assume a função de facilitador da aprendizagem, e nesse clima o estudante entrará em contato com os problemas vitais que tenha repercussão na existência. Daí o professor a ser compreendido como um facilitador da aprendizagem devendo para isso, ser autêntico (aberto as experiências e congruente), ou seja integrado. (p. 52). Diante do que foi exposto percebe-se a necessidade do professor fazer uma reflexão acerca de sua prática educativa, pois deste modo estará avaliando as contribuições que seu trabalho traz na formação do aluno, uma vez que o professor tem papel determinante na formação crítica do educando, o que dará respaldo para desenvolver a vida em sociedade, pois sendo o professor um sujeito reflexivo, será um formador de opiniões. E, segundo Libâneo (1994): É preciso que o professor tenha claro em mente suas representações políticas pedagógicas para pautar o seu trabalho no sentido de direcionar o aluno a conquistar sua autonomia e ser capaz de se engajar nas lutas sociais que consequentemente permitirá uma melhoria de qualidade de vida em sociedade. (p. 123). Evidenciamos pois que a atuação do professor se configura a partir das suas representações sociais, o que está intimamente ligado à construção de sua identidade, pois como nos afirma Nóvoa (1992, p. 17): “a consciência profissional encontra-se integrada à pessoal, estão juntas, se constroem concomitantemente ao processo identitário, uma vez que é indissociável pensar a relação ação/pensamento entre o “eu” pessoal e o profissional”. Diante disso percebemos a relação entre as ações e os significados que os professores trazem para as coisas. Para Woodword (2007, p. 39): “as identidades são fabricadas por meio da marcação da diferença. Essa marcação da diferença ocorre tanto por meio de sistemas simbólicos de representação quanto por meio de formas de exclusão social”. Sendo assim, entendemos que a identidade também é uma construção social ligada às vivências. Andrade (2000) afirma que: Cada grupo social tem sua forma específica de representação de mundo. Isto significa que podem ser estabelecidas clivagens entre os grupos
  • 31. 31 sociais segundo as suas representações. Indivíduos e grupos expressam sua identidade através das representações. (p. 144). Por isso é importante que se trabalhe o processo de construção da identidade levando em consideração o contexto em que se encontra o professor, pois como referencia Nóvoa (1992): A identidade não é um produto adquirido, não é uma propriedade, não é um produto. A identidade é um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de construção de maneiras de ser e de estar na profissão. Por isso, é mais adequado falar em processo identitário, realçando a mescla dinâmica que caracteriza a maneira como cada um se sente e se diz professor. (p. 35). Sendo assim compreendemos que a função do professor vai muito além do transmitir mecanicamente e a esse respeito Sacristan e Gómez (1998, p. 121) enfatizam que: “O professor/a, de acordo com isso, devia perder seu papel de transmissor e fonte de informação e do saber. Mais do que uma fonte de conteúdo da aprendizagem, com seu ensino, teria que ser o mediador da comunicação cultural (...)”. A partir desse pressuposto, o professor será entendido como um facilitador que ajudará os educandos na construção dos conhecimentos, isso se dá na medida em que ele socializa saberes, ao invés de se colocar no pedestal considerando-se o detentor do conhecimento, e o aluno o mero receptor. É importante salientar, no entanto, que numa sociedade em que paralelo às condições precárias de educação estão os avanços tecnológicos, já não há mais espaço para o professor que desconsidera as vivências dos educandos como valiosa forma de construção do conhecimento. Weisz (2009) discute a importância do professor valorizar a produção do educando quando diz: O salto importante que se deu do conhecimento produzido sobre questões do ensino e da aprendizagem já permite que o professor olhe para aquilo que o aluno produziu, enxergue ai o que ele já sabe e identifique que tipo de informação é necessária para que seu conhecimento avance. (p. 22).
  • 32. 32 Desta forma o processo de ensino-aprendizagem se constituirá de maneira significativa, sendo capaz de provocar rupturas de paradigmas, e, mais ainda causar transformações sociais, pois de acordo com Gentili (2008, p. 149) “a educação torna-se uma prática de liberdade quando nos ajuda a construir os sentidos sobre os quais uma sociedade justa deve ser estruturada. 2.3.1 Professor da Educação Infantil: Que relação há entre a formação e a construção de sua identidade? Entende-se que o período de 0 a 6 anos na vida da criança é um momento grandioso para a formação de um indivíduo independente e crítico, capaz de modificar o meio que o cerca, e é nesse contexto que o tipo de educação que está sendo oferecida faz toda a diferença, pois a respeito do papel da educação infantil Vaz (1992) salienta o seguinte: Descobri ai um novo papel para o ensino pré-escolar, que é oferecer condições, propiciar oportunidades e estímulos dos mais variados para a criança educar-se, socializar-se, formar-se independente e autônoma para enfrentar situações de conflito dos mais diversos, apropriando-se do processo de aprendizagem como sujeito de sua história. (p. 23-24). De acordo com a fala da autora é a partir da educação infantil que a criança já começa a delinear caminhos que deverão permear suas vivências posteriores em sociedade, e é nesse momento que o professor entra como mediador e desempenha seu papel político social, mas para isso é necessário que ele tenha consciência do seu fazer pedagógico e entenda o seu papel, como o de formador de opiniões e indivíduos sociais. Dentro desse contexto Gadotti (1991) enfatiza: O educador mede-se, portanto, pelo grau de consciência de classe que tiver, pois “educador”, no sentido que desejo empregar significa para mim o intelectual capaz de transmitir uma ideologia que organize e cimente os homens entre si, um grupo, uma pequena comunidade, uma categoria social, etc. (p. 75). Assim, a forma como o professor lida com os conflitos envolvendo as crianças na sala de aula envolve questões principalmente do ponto de vista dos seus valores. É importante que na sua formação o professor traga conhecimentos sobre os
  • 33. 33 processos históricos e seja capaz de relacioná-los ao contexto em que as crianças encontram-se inseridas, pois de acordo com Furter (1981) o educador torna-se sujeito importante na sociedade quanto ele é capaz de fazer das contradições elemento reflexivo e isso somente será possível, na medida em que o professor se percebe enquanto elemento fundamental no processo educacional entretanto é importante ressaltar que a postura do professor está atrelado a seus valores às suas significações, o que consequentemente se relacionam com suas identidades. Tais aspectos implicam também no tipo de formação do professor, pois à medida que este aumenta o seu nível de conhecimento, ocorre alteração na construção ou reconstrução das identidades, uma vez que estas são elaboradas a partir das vivências do indivíduo. Diante do exposto percebemos que o trabalho do professor da educação infantil, necessariamente está atrelado às suas representações sociais, o que implicará na construção de sua identidade. Tais aspectos se relacionam também com a formação do professor, pois à medida que este aumenta seu nível de conhecimento, consequentemente suas representações sociais sobre educação infantil se alteram, assim como seu processo de construção de identidade, uma vez que a identidade é construída a partir das vivências do indivíduo. Dota (2006): A identidade profissional do professor é composta de diversos elementos, passando pela formação inicial e pelos diversos espaços, onde a profissão acontece. Configura-se por meio de saberes científicos e pedagógicos, de referências morais e éticas, sendo marcada pelas experiências, opções feitas, práticas desenvolvidas, continuidades e descontinuidades, quer ao nível das representações, quer ao nível do concreto. (p. 82). Por outra perspectiva os sujeitos são dotados de identidades e não de uma única identidade imutável como até então se acreditava. De acordo com Hall (2001) esse tipo de indivíduo entendido como tendo uma única identidade tem se dividido e assumindo outras identidades que chegam as vezes a serem contraditórias. Nessa perspectiva percebemos que os processos de construção de identidade também é uma construção social. Hall (2001) relata que:
  • 34. 34 A identidade torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam. É definida historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume identidades diferentes em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. (p. 12- 13). Se as identidades são entendidas como uma constrição social, passível de mudanças, acreditamos, pois que as atitudes dos professores dependem necessariamente dos seus valores e suas ideologias. Daí o papel importante que o professor de educação infantil exerce, visto que a criança toma o educador como referência, para suas ações. Oliveira (2008) afirma que: O professor deve ter bastante claro que os princípios que regem seu fazer estão diretamente relacionados com os princípios de cidadania que estão sendo construídos pelas crianças. Desta maneira é fundamental a busca, a coerência, entre o ideal de formação que se quer alcançar e os procedimentos assumidos pelo docente enquanto individual, social, profissional e político na efetivação de seus objetivos, seus valores e seus ideais, para que possamos almejar uma sociedade mais humana, igualitária e justa, preservando o que a sociedade tem de melhor, seu potencial humano. (p. 67). Portanto é necessário que o professor da educação infantil esteja constantemente refletindo sobre suas ações, avaliando de que maneira sua prática está influenciando na vida dos seus educandos, e a partir desta avaliação ele poderá buscar subsídios para modificar suas representações sociais acerca da educação infantil.
  • 35. 35 CAPÍTULO III 3. METODOLOGIA: OS CAMINHOS TRILHADOS A realização de uma pesquisa se dá a partir de uma inquietação do indivíduo em relação a um determinado problema, sendo ele de ordem social ou não. A pesquisa objetiva conhecer e evidenciar subjetividades dos sujeitos. Do ponto de vista de Minayo (1994, p. 17) a pesquisa é entendida como: “(...) a atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade”. Através da pesquisa tem-se a oportunidade de fazer o confronto de idéias e considerar os dados sobre uma determinada problemática. Nas últimas décadas a pesquisa vem se fazendo necessária e de suma importância para responder indagações nas mais diversificadas áreas e principalmente no contexto educacional tem alcançado significativa relevância. Neste sentido, Ludke (1995, p. 111) ressalta: ”O reconhecimento da pesquisa como aliada importante é no trabalho e na formação de professores, está se fazendo de maneira cada vez mais clara, tanto na literatura especializada nacional, quanto na internacional”. Daí a importância da pesquisa como forma de validar conhecimentos. Na busca de atingir os objetivos propostos, a utilização da metodologia faz-se imprescindível, pois esta é entendida como o processo pelo qual os resultados da pesquisa são alcançados. É através dela que os pesquisadores explicitam de forma mais precisa as ações desenvolvidas para como os sujeitos em busca de alcançar os objetivos. Sobre a metodologia Demo (1985) vem trazendo a seguinte definição: A metodologia é uma preocupação instrumental. Trata das formas de se fazer ciências. Cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos. A finalidade das ciências é tratar a realidade teórica e praticamente. Para atingirmos tal finalidade, colocam-se vários caminhos. Disto trata a metodologia. (p. 19).
  • 36. 36 Diante do exposto, percebemos que a metodologia é traçada pelos caminhos trilhados para se alcançar os objetivos almejados perante o problema exposto. 3.1 Tipo de pesquisa: qualitativa Diante da proposta de estudo que é conhecer as representações sociais que os professores têm sobre o seu papel na educação infantil optou-se por utilizar abordagem qualitativa, entendendo que esta proporciona ao pesquisador uma maior aproximação dos sujeitos pesquisados e melhor corresponde na busca de compreender fenômenos que envolve o social. A respeito Minayo (1994) diz: A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (p. 21-22). Nesta visão percebe-se que a pesquisa qualitativa se adequa perfeitamente à temática das representações sociais, uma vez que, está pautada nos significados, nos valores e nas atitudes dos indivíduos sociais, sendo que esse tipo de pesquisa permite ao pesquisador o contato direto com os sujeitos envolvidos, pois de acordo com Dotta (2006): A pesquisa que envolve representação social, estando comprometida com situações naturais e inegavelmente complexa, é necessariamente uma pesquisa qualitativa, entendendo-se qualitativa, segundo o que Kirk e Miller (1986 apud Spink, 1995, p. 105) postulam como uma tradição específica dentro das ciências sociais dependente da observação de pessoas em seus próprios espaços de interação com estas por meio de sua própria linguagem e em seus termos. (p. 44-45). Sendo assim justifica-se a utilização da pesquisa qualitativa neste trabalho, uma vez que essa abordagem norteia estudos e dá suporte para que se faça uma análise dos dados de forma descritiva, tomando como referencial o contexto no qual o objeto de estudo está inserido. A esse respeito Triviños (1987) ressalta:
  • 37. 37 A pesquisa qualitativa com apoio teórico na fenomenológica é essencialmente descritiva. E como a descrição dos fenômenos estão impregnados dos significadas que o ambiente lhes outorga, e como aquelas são produto de uma visão subjetiva, rejeita toda expressão quantitativa, numérica, toda medida. Desta maneira a interpretação dos resultados surge com a totalidade de uma especulação que tem como base a percepção de um fenômeno num contexto. Por isso, não é vazia, mas coerente, lógica e consistente. (p. 128). Assim a pesquisa qualitativa proporciona ao pesquisador oportunidade de analisar os resultados levando em consideração todo um contexto. Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o porquê dos fenômenos não quantificando-os e não submetendo-os à prova de fatos. como vem afirmando Michalizyn (2005): A pesquisa qualitativa responde questões muito particulares, preocupando- se com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Trabalha como o universo dos significados, motivos, aspirações, contrário da quantitativa, aprofunda-se no mundo dos significados, das ações e relações humanas. (p. 57). Para tanto, fica explicito o significado da pesquisa qualitativa e sua relação com questões de natureza social, oferecendo possibilidades de o pesquisador interagir com o objeto pesquisado. 3.2 Lócus da pesquisa O lócus da pesquisa é de fundamental importância para o pesquisador, pois é nele que ocorre a interação pesquisador/objeto de pesquisa, proporcionando as observações de processos pertinentes para a pesquisa, pois de acordo com Cruz (1994): (...) o trabalho de campo se apresenta como uma possibilidade de conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo da realidade presente no campo. (p. 51).
  • 38. 38 Tendo em vista que a Creche Mãe Dedé é um espaço educativo sem foco de interesse pelas profissionais de educação infantil, e conduzida por inquietações em tentar compreender porque este ambiente é tão renegado, foi que nos interessamos em realizar esta pesquisa no referido lócus que fica situado à Rua Cantídio Pereira Maia, S/Nº, Centro, Filadélfia-Bahia. Esse é um espaço educativo filantrópico que funciona com o apoio parcial da Prefeitura, que arca com as despesas de funcionários (professores e pessoal de apoio), e fornece a merenda escolar. Com relação a material didático no inicio do ano letivo os pais fornecem parte do material, que dura até o final do semestre. A partir desse período a entidade realiza eventos (bingos, brechós, rifas, etc.) a fim de suprir obter recursos financeiros para sua manutenção. No que se refere a estrutura física a escola dispõe de um ambiente com salas arejadas e coloridas, uma sala de vídeo, uma cantina, uma diretoria, um espaço para recreação, quatro banheiros com chuveiro e um banheiro para professores. Quanto à estrutura funcional a entidade oferece educação infantil nos dois turnos (matutino e vespertino) para crianças oriundas das classes menos favorecidas na faixa etária de 03 a 06 anos, funcionando da seguinte forma: período matutino – 02 (duas) turmas de maternal, 02 (duas) turmas de 1º período, 02 (duas) turmas de 2º período e 01 (uma) turma de 3º período. E, no turno vespertino - 01 (uma) turma de maternal, 02 (duas) turmas de 1º período, 01 (uma) turma de 2º período e 01 (uma) turma de 3º período. O horário de funcionamento da Creche é das 07:30 às 11:30 e das 13:00 às 16:30 horas. 3.3 Sujeitos da Pesquisa Os sujeitos são elementos indispensáveis à pesquisa, assim como o lócus eles propiciam ao pesquisador informações imprescindíveis que subsidiarão na pesquisa. Para Cruz (1994, p. 52): “a relação do pesquisador com os sujeitos a serem estudados é de extrema importância”. Nessa relação com os sujeitos o pesquisador terá oportunidade de observar detalhes, indagar e dialogar, e comparar enriquecendo então seu trabalho. De acordo com Triviños (1987, p. 146): “os sujeitos individualmente, poderão ser
  • 39. 39 submetidos à várias entrevistas, não só com o intuito de obter o máximo de informações, mas também para avaliar as variações das respostas em diferentes momentos”. A partir desse pressuposto fica claro a importância do contato direto do pesquisador com o sujeito. Partindo desse princípio escolhemos os professores da Creche Mãe Dedé por apresentarem características sociais que correspondem às nossas inquietações, como por exemplo: trabalhar com crianças de 0 a 6 anos oriundas das camadas pobres e principalmente atuar numa instituição renegada por parte dos professores municipais. Por acreditar que as representações sociais dos professores estão diretamente relacionadas com a sua prática é que elegemos tais sujeitos para conhecer as representações sociais que os mesmos têm do seu papel na educação infantil. As representações sociais dos professores estão diretamente relacionadas à sua prática. Acreditando nesse pressuposto é que elegemos tais sujeitos para conhecer suas representações sociais do seu papel na educação infantil. 3.4 Instrumentos de coleta de dados Através dos instrumentos de coleta de dados o pesquisador obtém informações necessárias para realizar uma análise mais detalhada, pois de acordo com Gressler (1989, p. 83): “os resultados de uma pesquisa dependem dos dados obtidos”. Ampliando o debate acerca dessa mesma questão Rudio (1986) ressalta que: Chama-se de “instrumentos de pesquisa” o que é utilizado para a coleta de dados. (...) Para que se possa ter confiança em aceitar as informações de um instrumento de pesquisa, este precisa ter as qualidades de validade e fidedignidade. Diz-se que um instrumento é válido quando mede o que pretende medir e é fidedigno quando aplicado à mesma amostra, oferece consistentemente os mesmos resultados. (p. 114).
  • 40. 40 Assim, afim de obtermos os resultados almejados, utilizamos como instrumentos de coleta de dados os seguintes: questionário fechado, entrevista semi-estruturada e a observação direta. 3.4.1 Questionário fechado Por questionário fechado entende-se que é um instrumento de coleta de dados que traz perguntas elaboradas intencionando captar informações sobre os sujeitos pesquisados, visto que tem o propósito de enriquecer a pesquisa possibilitando-nos principalmente traçar o perfil sócio-econômico dos sujeitos. Marconi e Lakatos (1996) ressalta: Questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistados. Em geral, o pesquisador envia o questionário ao informante, pelo correio ou por um portador, depois de preenchido, o pesquisador, devolve-o do mesmo modo. (p. 88). O questionário se constitui de perguntas fechadas ou perguntas abertas, nessa pesquisa optamos pelo questionário fechado, pois nos possibilitou levantar informações importantes sobre os sujeitos. Para Barros (2000, p. 90): “perguntas fechadas são aquelas que apresentam categorias ou alternativas de respostas fixas”. Triviños (1987) acrescenta que: Sem dúvida alguma, o questionário fechado, de emprego usual no trabalho positivista, também o podemos utilizar na pesquisa qualitativa. Às vezes, o pesquisador desta última linha de estudo precisa caracterizar um grupo de acordo com seus traços gerais (atividades ocupacionais) exercem na comunidade, nível de escolaridade, estado civil, função que desempenha nas associações de mães e vilas, etc. (p. 67). O questionário fechado propicia ao pesquisador informações importantes relacionadas à idade, gênero, estado civil, religião, renda mensal, etc. foi dentro deste contexto que nos propomos a utilizar este instrumento.
  • 41. 41 3.4.2 Observação direta A observação direta e sistemática, foi utilizada neste trabalho por entendermos que esta permite um contato direto do pesquisador com o objeto de pesquisa. Partindo desse princípio é que aplicamos tal instrumento de coleta de dados objetivando presenciar vivências diárias dos professores na sala de aula, pois Cruz (1994) enfatiza o seguinte sobre a observação: A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observamos diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real. (p. 56- 60) A observação direta nos permitiu perceber elementos até então imprescindíveis em outras técnicas de coleta de dados. O contato direto com os sujeitos nos fez partir do campo do ouvir para o olhar e “sentir”, pois segundo Ludke e André (1986, p. 26): “a experiência direta é sem dúvida o melhor teste de verificação da ocorrência de um determinado fato”. Concordando com essa afirmação Triviños (1987) retrata: Observar um “fenômeno social” significa, em primeiro lugar, que determinado evento social, simples ou complexo, tenha sido abstratamente separado do seu contexto para que em sua dimensão singular seja estudado em seus atos, atividades, significados, relações, etc. (p. 153). Partindo dessa compreensão se deu a escolha da observação para respaldar nossa pesquisa. 3.4.3 – Entrevista semi-estruturada A escolha da entrevista semi-estruturada se deu pelo fato de essa técnica de coleta de dados se configurar num instrumento valioso na aquisição de informações para a pesquisa qualitativa, uma vez que esta permite além do contato direto com os
  • 42. 42 sujeitos a percepção dos sentimentos expressados por estes. Nesse contexto Marconi e Lakatos (1996) dizem: A entrevista é o encontro entre duas pessoas, afim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social. (p. 84). A entrevista semi-estruturada é uma das técnicas de coleta de dados mais adequadas para o enfoque qualitativo, isso porque ela de acordo com Triviños (1987) além de privilegiar a presença do pesquisador, ela permite que o sujeito se expresse de forma espontânea e com maior liberdade. André e Ludke (1986): A grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e coerente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informe e sobre os mais variados tópicos. Uma entrevista bem feita pode permitir o tratamento de assuntos de natureza complexa e de escolhas nitidamente individuais. A entrevista permite correções, esclarecimentos e adaptações que a tornam sobremaneira eficaz na obtenção das informações desejadas. (p. 34). A entrevista semi-estruturada é também chamada de semi-padronizada, pois o entrevistador elabora perguntas específicas de acordo com a temática pesquisada, o entrevistado segue uma linha de raciocínio naturalmente, entretanto sem fugir do foco. A entrevista semi-estruturada foi de grande valia na realização da nossa pesquisa, permitindo a aquisição de elementos significativos para a nossa análise de dados.
  • 43. 43 CAPÍTULO IV 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS Neste capítulo faremos a análise e interpretação dos dados coletados, e assim apresentaremos o resultado da pesquisa, que teve como objetivo identificar as representações sociais que os professores da Creche Mãe Dedé têm do seu papel na educação infantil, visto que o tratamento dos dados é elemento fundamental para identificar as subjetividades dos sujeitos envolvidos no processo de pesquisa. De acordo com Barros e Lehfeld (1990): O objetivo dessa fase é sumariar, classificar e codificar as observações feitas e os dados obtidos. O pesquisador deve, em seu planejamento; explicar as principais operações a serem desenvolvidas para confrontar seus dados com os objetivos e questões propostas para estudo. (p. 86). Para tanto, utilizamos como instrumentos de coleta de dados o questionário fechado, a entrevista semi-estruturada e a observação direta, associando e comparando os resultados obtidos, através de cada um dos instrumentos na tentativa de alcançar o objetivo de pesquisa. Conforme aponta Madeira (2001, p. 138): O conhecimento não se produz só pelo que se afirma, pois não representa uma cadeia de verificações, mas que se legitima pela produção mesma em sua capacidade de manter sua continuidade e conseqüência através das contradições dos erros, e das negações. (Macedo, p. 72). Inicialmente analisaremos o questionário fechado buscando traçar o perfil dos sujeitos da pesquisa o que trará subsídios para as análises. Posteriormente analisaremos o resultado das entrevistas e observações diretas. 4.1 Perfil dos Sujeitos Aqui serão apresentados os resultados traçando o perfil dos sujeitos da pesquisa, os dados que possibilitaram traçar o perfil dos sujeitos foram obtidos
  • 44. 44 através do questionário fechado no qual os sujeitos foram submetidos contribuindo de forma significativa com a nossa pesquisa. 4.1.1 Gênero Analisando os resultados do questionário fechado identificamos no tocante ao gênero que 100% dos professores da Creche Mãe Dedé são do sexo feminino. O gráfico a seguir faz uma demonstração de tais resultados: 0% Masculino Fem inino 100% Figura 01: Gênero Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa Esse dado demonstra com nitidez que a figura feminina ainda predomina na atuação da educação infantil. Isso se deve à forma como a educação infantil foi implantada no Brasil, pois sabemos que teve toda uma conotação de “cuidar” aspecto assistencialista que desde então vem se pautando na figura feminina por atrelar preconceituosamente a função do professor de educação infantil à maternagem. De acordo com Kramer (2005, p. 125): “As atividades do magistério infantil estão associadas ao papel sexual, reprodutivo, desempenhado tradicionalmente pelas mulheres, caracterizando situações que reproduzem o cotidiano, o trabalho doméstico de cuidados e socialização infantil...”. Entretanto é importante que se tenha claro que o professor de educação infantil não se confunde com a mãe, pois seu papel vai muito além do “cuidar”.
  • 45. 45 Sendo assim acreditamos que é necessário haver uma política de desconstrução dos paradigmas da maternidade que ainda persistem na educação infantil. 4.1.2 Formação 22% Magistério Superior Incom pleto 56% 11% Pós Graduação 11% Graduação em Pedagogia Figura 02: Formação Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa O gráfico acima vem demonstrando a formação dos nossos pesquisados, identificamos que 22% tem formação em magistério, 11% têm formação superior incompleto, 11% têm pós graduação em gestão escolar e 56% têm graduação em pedagogia. No que se refere a formação percebemos que a grande maioria traz uma formação acadêmica, o que implica uma modificação no conhecimento destas professoras e consequentemente uma mudança de postura quanto suas representações de educação infantil. 4.1.2.1 Formação continuada Em relação a formação continuada os dados levantados explicitam que 11% não participam de cursos de formação continuada, 56% participam de cursos de formação continuada por iniciativa municipal e 33% raramente participam de cursos de formação continuada. O gráfico apresenta claramente tais resultados.
  • 46. 46 11% Não participa de cursos 33% Participa de cursos de Iniciativa Municipal Raram ente participa de cursos 56% Figura 03: Formação continuada Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa Destacamos que o fato de 56% dos sujeitos da nossa pesquisa participarem de cursos de formação continuada está intimamente relacionado à formação inicial, que como foi evidenciado à grande maioria tem nível superior. Vale ressaltar que a medida que o professor ingressa na universidade e cursa um nível superior, suas representações sociais são alteradas e consequentemente ocorrem modificações em sua prática pedagógica. É plausível a iniciativa das professoras da nossa pesquisa em participar de cursos de formação continuada, pois estes são de grande valia para o aperfeiçoamento dos conhecimentos e permite uma maior reflexão sobre a ação educativa na modalidade infantil. É importante frisar que mudanças ocorreram nas legislações sobre educação infantil, contudo não se tem percebido avanços concretos no tocante às políticas de formação continuada contemplando a educação infantil. Isto tem grande relação com o fato de a educação infantil ter se constituído na figura feminina, pautando-se na função de maternagem o que acaba por entender-se preconceituosamente que para exercer essa função requer pouca qualificação. Sobre esse aspecto Kramer (2005) traz:
  • 47. 47 Considera-se que o trabalho do profissional da educação infantil necessita de pouca qualificação e tem menor valor. A ideologia ai presente camufla as precárias condições de trabalho, esvazia o conteúdo profissional da carreira, desmobiliza os profissionais quanto às reivindicações salariais e não os leva a perceber o poder da profissão. (p. 125). O que a autora vem expondo mostra que a visão preconceituosa que perpassa a educação infantil, o que acaba por desvalorizar o segmento, além de desmotivar o professor e este além de não buscar formação continuada por iniciativa própria acaba não conseguindo construir uma representação social positiva dessa etapa da educação. Então é necessário que se repense a forma como a educação infantil tem sido tratada no nosso país. 4.1.3 Tempo de atuação 11% Um ano Mais de três anos Mais de 55% 34% quatro anos Figura 04: Tempo de atuação Fonte: Questionário aplicado aos sujeitos da pesquisa Notamos que 34% dos professores atuam na educação infantil há mais de três anos, enquanto que 55% exercem a função há mais de quatro anos e apenas 11% atuam há um ano. Esses resultados nos revela que a grande maioria dos sujeitos trabalham com educação infantil há mais de quatro anos, isso implica em uma maior experiência, fato que se relaciona com a visão que se teve durante muito