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LABORATÓRIO DE PERÍCIAS                                                            1 /21
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I) HISTÓRICO

A Exma. Senadora CARMEN EVA GONZÁLEZ enviou a este Laboratório, uma solicitação por
escrito, datada de 08 de março de 2013, La Paz, na qual requer a elaboração de exames
e laudo pericial visando verificar se a voz no material de áudio remetido (ver item II)
pertence ao Fiscal MARCELO SOZA ALVAREZ. A referida carta está reproduzida na figura
14.

Após confirmar a viabilidade técnica da perícia solicitada, procedemos aos exames
necessários, cujos resultados serão relatados no presente Laudo Pericial.



II) MATERIAL QUESTIONADO
 I)

Ao perito foi apresentado o seguinte material:
                   entado

Dois arquivos contendo conversações ambientais, um com 44:02,677 de duração, em
                                    ambientais,
formato WAV, contendo apenas trilha de áudio. Esta gravação será denominada
doravante Q1.

Um segundo arquivo com 23:58,896 de duração, em formato AVI, contendo trilha de
           arquivo,
áudio e variadas imagens de vídeo (fotos), acompanhadas por legendas. Esta gravação
será denominada doravante Q2.

A voz questionada aparece nas duas gravações, sendo que em Q1 é nomeada como
"doctor Soza" pelo interlocutor e na segunda pode ser facilmente vinculado à imagem e
                 o
às legendas. Em outras palavras, em ambas gravações não dúvidas quanto à
determinação da voz questionada.

O CD ROM anexo contém cópias fiéis das gravações periciadas.
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III) OBJETIVOS PERICIAIS
                  ICIAIS

III.1) Verificar a autenticidade da gravações, no sentido de detectar eventuais indícios de
        erificar                 das         ,
manipulação fraudulenta do material originalmente gravado.

III.2) Realizar exames de confronto vocal de modo a verificar se a voz questionada, nas
   .2)
duas gravações apresentadas, pertence a MARCELO SOZA ALVAREZ.



IV) MATERIAL PADRÃO
  )

Ao perito signatário foram apresentadas diversas gravações de áudio e vídeo nas quais
aparecem, sem qualquer dúvida, a voz de MARCELO SOZA ALVAREZ. Tais gravações estão
também contidas no CD ROM anexo.



V) INSTRUMENTAL UTILIZADO
 )

- placa Audiophile 2496, da Midiman
- processador digital de sinal Ultracurve Pro mod. DSP 8024, da Behringer
- programa Sound Forge
- programa MultiSpeech da KAY Elemetrics
           MultiSpeech,
- programa PRAAT, by Paul Boersma and David Weenink



VI) EXAME DE AUTENTICIDADE DE GRAVAÇÃO
  )

Toda a extensão das gravações foi examinada espectrograficamente, com monitoração
                  s
auditiva, de modo a verificar a eventual existência de descontinuidades relacionadas com
efeitos de edição ou montagem, assim como qualquer outro efeito acústico que pudesse,
de forma geral, estar relacionado com alterações do conteúdo originalmente registrado.
                      relacionado

A aplicação de exames espectrográficos de banda estreita ao longo de uma gravação
                      espectrográficos
permite observar a eventual existência de falhas, interrupções e outras alterações. A
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figura 01 ilustra este procedimento, mostrando um trecho de gravação (após
                       procedimento,
digitalização) analisado através de espectrograma de banda estreita.

Não foi encontrado, ao longo d gravações periciadas, nenhum indício de manipulação
                             das                   ,
fraudulenta, podendo a mesma ser considerada autêntica para todos os fins periciais.
                                                       para




                                       Figura 01
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VII) EXAMES DE IDENTIFICAÇÃO DE VOZ

VII.1) INTRODUÇÃO

A voz questionada foi submetida a diversas abordagens analíticas, que vão desde uma
avaliação perceptualmente fundamentada até o exame detalhado e objetivo de aspectos
acústicos específicos, de ordem segmental e supra segmental. As conclusões
                                            supra-segmental.
concernentes à identidade são sempre resultado dessa abordagem múltipla, e nunca a
partir apenas de um aspecto particular isolado. Os exames de identificação s
                                                                           são
realizados com base em uma ampla amostragem de enunciados extraídos do material
questionado. Quando possível e necessário foram analisadas diferentes ocorrências de
um mesmo enunciado, de modo a melhor avaliar a variação intrasubjetiva.

Na avaliação da identidade, tanto qualitativa, quanto quantitativamente, foram
considerados diversos indicadores, sendo os mais importantes: (a) características da
fonte glotal, representadas pelo comportamento da freqüência fundamental, tanto no que
diz respeito às tendências globais da distribuição, quanto ao que se relaciona com
                tendências
aspectos configurativos de ordem entoacional; (b) características da qualidade de voz de
longo termo (“timbre”); (c) traços articulatórios idiossincráticos, especialmente fenômenos
de coarticulação; (d) comparações espectrográficas diretas de fonemas, palavras e
             ção;
expressões encontrados nos materiais padrão e questionado, envolvendo diversos
aspectos (formantes, distribuição de energia espectral etc.); (e) características de ordem
                                                           );
macro-duracional, relacionadas com padrões rítmicos no nível frasal (mais no plano
perceptual).

Gráficos ilustrativos foram incluídos, de modo a materializar algumas análises acústicas
realizadas. Cabe frisar que os espectrogramas e gráficos analíticos apresentados devem
ser entendidos antes como exemplos de procedimentos, não se esgotando a análise nos
 er
exames espectrográficos apresentados. Como já comentado anteriormente, a formação
da convicção pericial vai além da dimensão estritamente instrumental, embora esta sirva
para confirmar objetivamente traços idiossincráticos perceptualmente observados ou, por
   a
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outro lado, detalhar aspectos acústicos mais locais cuja quantificação seria impossível
sem o auxílio de equipamento específico.

Cabe ressaltar que o exame da voz suspei a, no caso em tela, apresenta alguns
                                  suspeita,
facilitadores. Há uma quantidade razoável de material questionado, com boa qualidade
de áudio, permitindo a apreensão das características vocais estáveis nos dois materiais
(questionado e padrão).

Assim, temos atendidas as duas condições necessárias em análises desta natureza,
quais sejam a Consistência, no sentido de serem os traços vocais estáveis e a
              Consistência,
Distintividade, no sentido de tais traços não serem encontrados em larga faixa da
              ,
população. Há, portanto, que se observar, mesmo em traços dialetais partilhados por um
                                observar,
grupo relativamente grande, se a realização particular confere distintividade suficiente
para poder considerar tal traço como indicador de identidade.



VII.2) TRAÇOS DIALETAIS

O exame dos aspectos dialetais é de fundamental importância nas análises de
                     dialetais
identificação de falante. A convergência dos traços dialetais é premissa necessária,
embora não suficiente, para que não se exclua o suspeito. Em outras palavras, se houver
incompatibilidade dialetal, podemos seguramente afirmar uma não identidade entre as
falas confrontadas.

Por outro lado, a verificação de compatibilidade dialetal não poder ser           a priori
considerada como fator exclusivo de identidade, visto que, por sua própria definição, o
dialeto é partilhado por um grupo. Cabe ressaltar, entretanto, que o que é partilhado é um
traço abstrato, o qual se realizará, de fato, na cadeia de fala com caracter
                                                                    características
acústicas muito particulares, as quais só podem ser adequadamente observadas por via
instrumental (espectrogramas são o melhor método de análise).

No caso em tela foi detectada uma série de traços dialetais convergentes, isto é,
presentes tanto nas amostras padrão quanto nas amostras questionadas. São eles:
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- fusão (merge) dos fonemas /s/ e />/, realizados como [s]

- ausência da fusão dos fonemas / e /Y/ (ou seja, ambos são produzidos)
                                /G/   /

- ausência de aspiração no fonema /s/

- articulação da vibrant simples como fricativa /S/
                 vibrante

- elisão de vogais não tônicas

O conjunto de traços observado aponta para variantes de dialetos do altiplano boliviano
(Coloma 2012; Lipski 1990), compatíveis com o perfil do falante estudado.



VII.3) ANÁLISES INSTRUMENTAIS

A melhor ferramenta para a análise acústica de fala é o espectrograma no tempo. Este
tipo de gráfico apresenta três dimensões acústicas simultâneas: tempo (eixo horizontal),
frequência (eixo vertical) e intensidade (grau de cinza). As figuras 02-13 mostram
diversos espectrogramas, aqui empregados para fins de confronto vocal. O
espectrograma pode ser considerado, metaforicamente, uma espécie de "radiografia" da
fala, revelando detalhes fonéticos e articulatórios indicadores de identidade, alguns deles
não diretamente perceptíveis para a audição.
     iretamente

Ressalte-se que a abordagem espectrográfica aqui adotada em nada se assemelha
         se
àquela inicialmente proposta em Kersta (1962), que, muito equivocadamente, quis dar ao
espectrograma o mesmo status da impressão digital - daí o nome, inventado por Kersta,
de "voiceprint" (em analogia a "fingerprint"). Kersta, e outros depois dele (Cf. Tosi et al.
1972) defendiam ser válida a "inspeção visual" de espectrogramas como método de
identificação, inclusive por não especialistas. Diversos estudos posteriores revelaram a
falha básica da hipótese de Kersta e Tosi (Hollien 1974, 1990; Lindh 2004), visto que,
cada enunciado é uma ação humana irrepetivel. A fala não depende exclusivamente de
fatores anatômicos (como a impressão digital) e não pode, pois, ser representada por um
gráfico único. A eventual semelhança "visual" de espectrogramas não pode ser o critério
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de decisão, ou seja, o espectrograma deve ser interpretado, à luz de sólido conhecimento
                                                          ,
fonético/fonológico. A fala é bem mais do que uma mera sequência de sons. É uma
                                  mais
sequência de sons articulados e veiculadores de sentido. Todos os espectrogramas
                                                sentido.
apresentados no presente estudo foram assim considerados: não como imagens mas sim
como representações de fenômenos fonéticos/fonológicos do Espanhol Boliviano.
                                 fonéticos/fonológicos

Os espectrogramas nas figuras 02-13 demonstram todos os aspectos fonéticos e
fonológicos pericialmente relevantes, alguns deles já comentados acima. Os aspectos
destacados nos espectrogramas estão devidamente explicados nas le
                                                               legendas associadas
aos espectrogramas



VIII) CONCLUSÕES

Diante de tudo o que foi descrito e analisado, conclui o perito signatário, acima de
qualquer dúvida razoável, que a voz questionada nos dois arquivos apresentados (Q1 e
Q2) pertencem a MARCELO SOZA ALVAREZ.



                           Campinas, 24 de março de 2013




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REFERÊNCIAS

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Kersta, L.G., 1962, "Voiceprint Identification", Nature, 196, 1253
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XXV

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Figura 02. "evidentemente" (Q1 x P1). Convergência na estrutura de formantes e timing
articulatório.
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Figura 03. "evidentemente" (Q x P1). Convergência na estrutura de formantes e timing
                               (Q1b
articulatório. A importância da análise de formantes para identificação de falantes já foi avaliada
em diversos estudos (Nolan 1983; Nolan e Grigora 2005; Molina de Figu Figueiredo 1994; McDougall
2004)
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Figura 04. "Santa Cruz" (Q1 x P1). Convergência na estrutura de formantes e timing articulatório.
Observe-se a qualidade da fricativa final (retângulo amarelo) e o processo de início do dumping
         se
nasal (elipse vermelha). A importância das fricativas para a identificação de falantes já foi
abordada em diversos estudos (La Riviere 1974; Molina de Figueiredo 1995a; 1995b; 1996)
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Figura 05. "Santa Cruz" (Q x P1). Observe-se nessa comparação (com uma nova amostra
                         (Q1b                se
questionada diferente da empregada na figura anterior) como se repete a qualidade muito alta,
bem característica, da pós tônica em "Santa". Observe se também o burst consonantal na
                                               Observe-se
plosiva alveolar /t/.
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Figura 06. "Ministerio de Gobierno" (Q1 x P1). Centro de energia acústica da fricativa /s/ (elipse
vermelha). Relação F2/F3 da tônica / / (retângulo amarelo). Transição de F2 no ditongo /ie/ (seta
                                    /”/
verde).
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Figura 07. "declaración" (Q1 x P1). Estrutura de formantes na sequência /ara/ (retângulo
         .
amarelo). Movimento de F2 no ditongo final (tracejado verde).
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Figura 08. "declaración" (Q1 x P2). Observe
         .                          Observe-se o cluster /kl/ formando uma breve epêntese
(retângulo amarelo).
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Figura 09. "mandamien(to)" (Q2 x P1). F2 e F3 no movimento transicional do ditongo "ien" (linha
amarela para F3 e tracejado azul para F2).
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Figura 10. "solamente" (Q2 x P1). Compatibilidade no padrão de formantes (pontos marcados no
         .
espectrograma).
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Figura 1'. "solament(te)" (Q2 x P2). Equivalência exata de F1 e F2 da pré
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Figura 12. "prueba" (Q1 x P1). Similaridade na estrutura de formantes e movimentos
         .
transicionais no ditongo /ue/.
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Figura 13. "prue(ba)" (Q1 x P2). Mais um confronto baseado na palavra "prueba", agora com
         .
uma nova amostra padrão, diferente da usada na análise imediatamente anterior. Observa
                                                                                Observa-se
novamente equivalência plena nos formantes e movimento de transição no diton
                                                                       ditongo.
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 Figura 14. Carta da Senadora Carmen Eva González solicitando a perícia
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Análisis del audio del Fiscal Marcelo Sosa

  • 1. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 1 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo I) HISTÓRICO A Exma. Senadora CARMEN EVA GONZÁLEZ enviou a este Laboratório, uma solicitação por escrito, datada de 08 de março de 2013, La Paz, na qual requer a elaboração de exames e laudo pericial visando verificar se a voz no material de áudio remetido (ver item II) pertence ao Fiscal MARCELO SOZA ALVAREZ. A referida carta está reproduzida na figura 14. Após confirmar a viabilidade técnica da perícia solicitada, procedemos aos exames necessários, cujos resultados serão relatados no presente Laudo Pericial. II) MATERIAL QUESTIONADO I) Ao perito foi apresentado o seguinte material: entado Dois arquivos contendo conversações ambientais, um com 44:02,677 de duração, em ambientais, formato WAV, contendo apenas trilha de áudio. Esta gravação será denominada doravante Q1. Um segundo arquivo com 23:58,896 de duração, em formato AVI, contendo trilha de arquivo, áudio e variadas imagens de vídeo (fotos), acompanhadas por legendas. Esta gravação será denominada doravante Q2. A voz questionada aparece nas duas gravações, sendo que em Q1 é nomeada como "doctor Soza" pelo interlocutor e na segunda pode ser facilmente vinculado à imagem e o às legendas. Em outras palavras, em ambas gravações não dúvidas quanto à determinação da voz questionada. O CD ROM anexo contém cópias fiéis das gravações periciadas.
  • 2. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 2 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo III) OBJETIVOS PERICIAIS ICIAIS III.1) Verificar a autenticidade da gravações, no sentido de detectar eventuais indícios de erificar das , manipulação fraudulenta do material originalmente gravado. III.2) Realizar exames de confronto vocal de modo a verificar se a voz questionada, nas .2) duas gravações apresentadas, pertence a MARCELO SOZA ALVAREZ. IV) MATERIAL PADRÃO ) Ao perito signatário foram apresentadas diversas gravações de áudio e vídeo nas quais aparecem, sem qualquer dúvida, a voz de MARCELO SOZA ALVAREZ. Tais gravações estão também contidas no CD ROM anexo. V) INSTRUMENTAL UTILIZADO ) - placa Audiophile 2496, da Midiman - processador digital de sinal Ultracurve Pro mod. DSP 8024, da Behringer - programa Sound Forge - programa MultiSpeech da KAY Elemetrics MultiSpeech, - programa PRAAT, by Paul Boersma and David Weenink VI) EXAME DE AUTENTICIDADE DE GRAVAÇÃO ) Toda a extensão das gravações foi examinada espectrograficamente, com monitoração s auditiva, de modo a verificar a eventual existência de descontinuidades relacionadas com efeitos de edição ou montagem, assim como qualquer outro efeito acústico que pudesse, de forma geral, estar relacionado com alterações do conteúdo originalmente registrado. relacionado A aplicação de exames espectrográficos de banda estreita ao longo de uma gravação espectrográficos permite observar a eventual existência de falhas, interrupções e outras alterações. A
  • 3. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 3 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo figura 01 ilustra este procedimento, mostrando um trecho de gravação (após procedimento, digitalização) analisado através de espectrograma de banda estreita. Não foi encontrado, ao longo d gravações periciadas, nenhum indício de manipulação das , fraudulenta, podendo a mesma ser considerada autêntica para todos os fins periciais. para Figura 01
  • 4. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 4 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo VII) EXAMES DE IDENTIFICAÇÃO DE VOZ VII.1) INTRODUÇÃO A voz questionada foi submetida a diversas abordagens analíticas, que vão desde uma avaliação perceptualmente fundamentada até o exame detalhado e objetivo de aspectos acústicos específicos, de ordem segmental e supra segmental. As conclusões supra-segmental. concernentes à identidade são sempre resultado dessa abordagem múltipla, e nunca a partir apenas de um aspecto particular isolado. Os exames de identificação s são realizados com base em uma ampla amostragem de enunciados extraídos do material questionado. Quando possível e necessário foram analisadas diferentes ocorrências de um mesmo enunciado, de modo a melhor avaliar a variação intrasubjetiva. Na avaliação da identidade, tanto qualitativa, quanto quantitativamente, foram considerados diversos indicadores, sendo os mais importantes: (a) características da fonte glotal, representadas pelo comportamento da freqüência fundamental, tanto no que diz respeito às tendências globais da distribuição, quanto ao que se relaciona com tendências aspectos configurativos de ordem entoacional; (b) características da qualidade de voz de longo termo (“timbre”); (c) traços articulatórios idiossincráticos, especialmente fenômenos de coarticulação; (d) comparações espectrográficas diretas de fonemas, palavras e ção; expressões encontrados nos materiais padrão e questionado, envolvendo diversos aspectos (formantes, distribuição de energia espectral etc.); (e) características de ordem ); macro-duracional, relacionadas com padrões rítmicos no nível frasal (mais no plano perceptual). Gráficos ilustrativos foram incluídos, de modo a materializar algumas análises acústicas realizadas. Cabe frisar que os espectrogramas e gráficos analíticos apresentados devem ser entendidos antes como exemplos de procedimentos, não se esgotando a análise nos er exames espectrográficos apresentados. Como já comentado anteriormente, a formação da convicção pericial vai além da dimensão estritamente instrumental, embora esta sirva para confirmar objetivamente traços idiossincráticos perceptualmente observados ou, por a
  • 5. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 5 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo outro lado, detalhar aspectos acústicos mais locais cuja quantificação seria impossível sem o auxílio de equipamento específico. Cabe ressaltar que o exame da voz suspei a, no caso em tela, apresenta alguns suspeita, facilitadores. Há uma quantidade razoável de material questionado, com boa qualidade de áudio, permitindo a apreensão das características vocais estáveis nos dois materiais (questionado e padrão). Assim, temos atendidas as duas condições necessárias em análises desta natureza, quais sejam a Consistência, no sentido de serem os traços vocais estáveis e a Consistência, Distintividade, no sentido de tais traços não serem encontrados em larga faixa da , população. Há, portanto, que se observar, mesmo em traços dialetais partilhados por um observar, grupo relativamente grande, se a realização particular confere distintividade suficiente para poder considerar tal traço como indicador de identidade. VII.2) TRAÇOS DIALETAIS O exame dos aspectos dialetais é de fundamental importância nas análises de dialetais identificação de falante. A convergência dos traços dialetais é premissa necessária, embora não suficiente, para que não se exclua o suspeito. Em outras palavras, se houver incompatibilidade dialetal, podemos seguramente afirmar uma não identidade entre as falas confrontadas. Por outro lado, a verificação de compatibilidade dialetal não poder ser a priori considerada como fator exclusivo de identidade, visto que, por sua própria definição, o dialeto é partilhado por um grupo. Cabe ressaltar, entretanto, que o que é partilhado é um traço abstrato, o qual se realizará, de fato, na cadeia de fala com caracter características acústicas muito particulares, as quais só podem ser adequadamente observadas por via instrumental (espectrogramas são o melhor método de análise). No caso em tela foi detectada uma série de traços dialetais convergentes, isto é, presentes tanto nas amostras padrão quanto nas amostras questionadas. São eles:
  • 6. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 6 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo - fusão (merge) dos fonemas /s/ e />/, realizados como [s] - ausência da fusão dos fonemas / e /Y/ (ou seja, ambos são produzidos) /G/ / - ausência de aspiração no fonema /s/ - articulação da vibrant simples como fricativa /S/ vibrante - elisão de vogais não tônicas O conjunto de traços observado aponta para variantes de dialetos do altiplano boliviano (Coloma 2012; Lipski 1990), compatíveis com o perfil do falante estudado. VII.3) ANÁLISES INSTRUMENTAIS A melhor ferramenta para a análise acústica de fala é o espectrograma no tempo. Este tipo de gráfico apresenta três dimensões acústicas simultâneas: tempo (eixo horizontal), frequência (eixo vertical) e intensidade (grau de cinza). As figuras 02-13 mostram diversos espectrogramas, aqui empregados para fins de confronto vocal. O espectrograma pode ser considerado, metaforicamente, uma espécie de "radiografia" da fala, revelando detalhes fonéticos e articulatórios indicadores de identidade, alguns deles não diretamente perceptíveis para a audição. iretamente Ressalte-se que a abordagem espectrográfica aqui adotada em nada se assemelha se àquela inicialmente proposta em Kersta (1962), que, muito equivocadamente, quis dar ao espectrograma o mesmo status da impressão digital - daí o nome, inventado por Kersta, de "voiceprint" (em analogia a "fingerprint"). Kersta, e outros depois dele (Cf. Tosi et al. 1972) defendiam ser válida a "inspeção visual" de espectrogramas como método de identificação, inclusive por não especialistas. Diversos estudos posteriores revelaram a falha básica da hipótese de Kersta e Tosi (Hollien 1974, 1990; Lindh 2004), visto que, cada enunciado é uma ação humana irrepetivel. A fala não depende exclusivamente de fatores anatômicos (como a impressão digital) e não pode, pois, ser representada por um gráfico único. A eventual semelhança "visual" de espectrogramas não pode ser o critério
  • 7. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 7 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo de decisão, ou seja, o espectrograma deve ser interpretado, à luz de sólido conhecimento , fonético/fonológico. A fala é bem mais do que uma mera sequência de sons. É uma mais sequência de sons articulados e veiculadores de sentido. Todos os espectrogramas sentido. apresentados no presente estudo foram assim considerados: não como imagens mas sim como representações de fenômenos fonéticos/fonológicos do Espanhol Boliviano. fonéticos/fonológicos Os espectrogramas nas figuras 02-13 demonstram todos os aspectos fonéticos e fonológicos pericialmente relevantes, alguns deles já comentados acima. Os aspectos destacados nos espectrogramas estão devidamente explicados nas le legendas associadas aos espectrogramas VIII) CONCLUSÕES Diante de tudo o que foi descrito e analisado, conclui o perito signatário, acima de qualquer dúvida razoável, que a voz questionada nos dois arquivos apresentados (Q1 e Q2) pertencem a MARCELO SOZA ALVAREZ. Campinas, 24 de março de 2013 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo
  • 8. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 8 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo REFERÊNCIAS Coloma, G., 2012, "The importance of ten phonetic characteristics to define dialect areas in Spanish", Dialectologia 9: 1-26 Dialectologia, Hollien, H., 1974, "Peculiar case of 'voiceprints', JASA 56, 210-3 Hollien, H., 1990, The Acoustics of Crime: The New Science of Forensic Phonetics, Plenum Press, NY-London London Kersta, L.G., 1962, "Voiceprint Identification", Nature, 196, 1253 1253-7 "Speaker Identification from Turbulent Portions of Fricatives", La Riviere C., 1974, " n Phonetica 1974;29 Lindh, J., 2004, "Handling the 'Voiceprint' Issue", Proc. PHONETIKA, Dep. Ling. Univ. Estocolmo Lipski, J., 1990, "Aspects of Equatorian vowel reduction", Spanic Linguistics 4, 1 Linguistics, McDougall, K., 2004, "Speaker specific formant dynamics: An experiment on Australian "Speaker-specific English /a/", JSLL, 11,1 Molina de Figueiredo, R. , 1994, Identificação de Falantes: Aspectos Teóricos e Metodológicos, Tese de Doutorado em Ciências, IEL IEL-Unicamp Molina de Figueiredo, R. , 1995a, "Análise estatística de fricativas não não-sonoras através de uma métrica baseada nos quatro primeiros momentos espectrais", Estudos Lingüísticos XXV Molina de Figueiredo, R., 1995b, "Speaker identification using a spectral moments metrica with the voiceless fricative /s/" Proceedings International Congress of Phonetic Sciences, Estocolmo Molina de Figueiredo, R., 1996, “The effects of fast speech rate on some selected speech parameters”, Proceedings. 14th Meeting of the International Association of Forensic Sciences, V.4, pp. 288 288-291, Tokyo Nolan, F. e Grigora, C., 2005, "A case for formant analysis in forensic speaker identification", JSLL, 12, 2 Nolan, F., 1983, The Phonetic Bases of Speaker Recognition, Cambridge U. P. Tosi, O., H. Oyer, W. Lashbrook, C. Pedrey, J. Nicol e E. Nash, 1972, "Experiment on voice identification", JASA 51, 2030 2030-4
  • 9. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 9 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 02. "evidentemente" (Q1 x P1). Convergência na estrutura de formantes e timing articulatório.
  • 10. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 10 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 03. "evidentemente" (Q x P1). Convergência na estrutura de formantes e timing (Q1b articulatório. A importância da análise de formantes para identificação de falantes já foi avaliada em diversos estudos (Nolan 1983; Nolan e Grigora 2005; Molina de Figu Figueiredo 1994; McDougall 2004)
  • 11. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 11 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 04. "Santa Cruz" (Q1 x P1). Convergência na estrutura de formantes e timing articulatório. Observe-se a qualidade da fricativa final (retângulo amarelo) e o processo de início do dumping se nasal (elipse vermelha). A importância das fricativas para a identificação de falantes já foi abordada em diversos estudos (La Riviere 1974; Molina de Figueiredo 1995a; 1995b; 1996)
  • 12. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 12 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 05. "Santa Cruz" (Q x P1). Observe-se nessa comparação (com uma nova amostra (Q1b se questionada diferente da empregada na figura anterior) como se repete a qualidade muito alta, bem característica, da pós tônica em "Santa". Observe se também o burst consonantal na Observe-se plosiva alveolar /t/.
  • 13. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 13 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 06. "Ministerio de Gobierno" (Q1 x P1). Centro de energia acústica da fricativa /s/ (elipse vermelha). Relação F2/F3 da tônica / / (retângulo amarelo). Transição de F2 no ditongo /ie/ (seta /”/ verde).
  • 14. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 14 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 07. "declaración" (Q1 x P1). Estrutura de formantes na sequência /ara/ (retângulo . amarelo). Movimento de F2 no ditongo final (tracejado verde).
  • 15. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 15 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 08. "declaración" (Q1 x P2). Observe . Observe-se o cluster /kl/ formando uma breve epêntese (retângulo amarelo).
  • 16. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 16 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 09. "mandamien(to)" (Q2 x P1). F2 e F3 no movimento transicional do ditongo "ien" (linha amarela para F3 e tracejado azul para F2).
  • 17. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 17 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 10. "solamente" (Q2 x P1). Compatibilidade no padrão de formantes (pontos marcados no . espectrograma).
  • 18. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 18 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 1'. "solament(te)" (Q2 x P2). Equivalência exata de F1 e F2 da pré pré-tônica /a/.
  • 19. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 19 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 12. "prueba" (Q1 x P1). Similaridade na estrutura de formantes e movimentos . transicionais no ditongo /ue/.
  • 20. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 20 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 13. "prue(ba)" (Q1 x P2). Mais um confronto baseado na palavra "prueba", agora com . uma nova amostra padrão, diferente da usada na análise imediatamente anterior. Observa Observa-se novamente equivalência plena nos formantes e movimento de transição no diton ditongo.
  • 21. LABORATÓRIO DE PERÍCIAS 21 /21 Prof. Dr. Ricardo Molina de Figueiredo Figura 14. Carta da Senadora Carmen Eva González solicitando a perícia .