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Psicologia de Massas e Análise do Zumbi: da sugestão ao contágio
Phillip Mahoney*
Tradução: Rodrigo Belinaso Guimarães
O espírito de massa cresce e se expande a partir de cada inclusão de um novo membro humano. Como um canibal, ele
se alimenta de seres humanos.
- Boris Sidis
A realização de uma Festa do Imaginário ocorre na formação – uma formação contagiosa – de um plano de coerência
onde amigos e inimigos podem livremente disporem de si mesmos e se fazerem inteligíveis uns aos outros.
- Tiqqun
Zumbis e Multidões
Na atualidade, a íntima conexão entre zumbis e multidões se manifesta tanto nos filmes de
zumbis quanto nos discursos populares da psicologia de massas. Uma vez que George Romero
pavimentou a associação até então inexistente entre hordas de zumbis com multidões ensandecidas,
se tornou comum nos filmes de zumbis a utilização de imagens de públicos hipnotizados, de fugas
em massa e de protestos políticos, muitas vezes até mesmo em suas cenas de abertura, tal como em
28 Days Later (2002)1
e na regravação de Dawn of the Dead2
(2004) de Zack Snyder. Além disso,
possivelmente como resultado da intervenção revolucionária de Romero nos filmes de zumbis,
críticos culturais em geral empregam uma retórica zumbificante quando descrevem multidões como
autômatos hipnotizados e como facilmente manipuladas por aqueles que estão no poder.3
Em outras
palavras, nos dias atuais, comparar massas e multidões com zumbis é uma prática massiva e não um
rito exclusivo da elite intelectual.
Dessa forma, a própria capilaridade deste entrelaçamento retórico por conta de sua lógica
aparentemente intuitiva ameaça naturalizá-lo, obscurecendo suas contingências históricas. Para
piorar, na atualidade, a comparação rápida e irrefletida entre zumbis e multidões é quase sempre
pejorativa. Assim, a releitura dos discursos da antiga psicologia das multidões nos permitirá revelar
aspectos cruciais do processo pelo qual estes dois personagens, zumbis e multidões, foram
unificados na consciência ocidental contemporânea. Esta retomada também nos ajudará a construir
*
Doutorando da Temple University, onde estuda representações sobre coletivos na literatura americana.
1
28 Days Later, DVD, dirigido por Danny Boyle (Londres: DNA Films, 2002).
2
Dawn of the Dead, DVD, dirigido por Zack Snyder (Universal City, CA: Universal Studios, 2004).
3
Uma simples pesquisa no Google é suficiente para ilustrar esse aspecto. Um artigo no site Kill Your Television fala da
criação de “zumbis das redes”, enquanto, em um debate com Bill O'Reilly, Glenn Beck fatidicamente refere-se aos seus
próprios espectadores como zumbis. No CSRwire, John Rooks diagnostica o “consumismo zumbi” e, finalmente, um
novo livro conservador alerta contra aquilo que o autor chama de “Zumbis do Obama”. Ver Ron Kaufman, “The
Creation of Network Zombies,” Kill Your Television, 1997, http://www.turnoffyourtv.com/
commentary/network.zombies.html; Foster Kamer, “Bill O'Reilly Calls Glenn Beck Insane, Glenn Beck Calls his
Viewers 'Zombies,'” Gawker, 25 de Agosto, 2009, http://gawker.com/5378821/bill-oreilly-calls-glenn-beck-insane-
glenn-beck-calls-his-viewers-zombies; John Rooks, “Zombie Consumerism,” CSRwrite, 29 de Setembro, 2009,
http://www.csrwire.com/csrlive/commentary_detail/1179-Zombie-Consumerism; Jason Mattera, Obama Zombies: How
the Liberal Machine Brainwashed My Generation (New York: Threshold, 2010).
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um vocabulário que explore os aspectos positivos desta identificação.
Sendo assim, eu começarei indicando alguns dos pontos mais visíveis da convergência entre
os mitos zumbis com a psicologia das multidões, para enfim, focar minha análise no uso de dois
conceitos centrais da antiga psicologia das multidões que também podem ser visualizados nos
filmes de zumbis: sugestão e contágio. Meu argumento é que no curso das mudanças históricas nos
filmes de zumbis, o zumbi sofreu uma transição de uma criatura sugestionável para uma contagiosa.
Ao ler o ambiente ficcional dos filmes de zumbis acompanhado do discurso “científico” da
psicologia das multidões prometo fazer mais do que simplesmente expandir nosso conhecimento
das trivialidades destes filmes. Assim, procurarei demonstrar como os filmes de zumbis podem
oferecer modos de se refletir sobre alguns dos impasses clássicos da psicologia das multidões e
sobre as teorias da ação coletiva. Minha argumentação não aponta simplesmente para o fato de que
os críticos de filmes de zumbis deveriam estudar melhor psicologia das multidões, mas ao contrário,
os psicólogos das multidões prestam a eles mesmos um grande desserviço ao ignorarem os mitos da
cinematografia zumbi.
Crucial a esse respeito é o meu argumento de que o deslocamento da lógica da sugestão para
a do contágio indica uma concomitante substituição da figura do líder tirânico em favor de uma
relação horizontal e coletiva entre membros iguais. Lido deste modo, a típica visão distópica da
coletividade zumbi passaria por uma reformulação utópica. O zumbi, eu argumento, é um poderoso
personagem das multitudes, uma vez que desafia o nosso imaginário sobre a vida coletiva, não
através de conceitos humanísticos e psicológicos de simpatia e identificação, mas através de termos
ligados àquilo que o coletivo radical francês Tiqqun chama de “formação contagiosa.”4
A psicologia das multidões não se tornou um discurso amplamente conhecido até a
publicação em 1895 de The Crowd do sociólogo conservador francês, Gustave Le Bon. Enquanto
outros escritores tinham refletido sobre as multidões desde o início daquele século, ironicamente, a
crítica mordaz de Le Bon às multidões foi a mais acessível à massa de leitores. Anunciando o
despertar de uma nova “era das multidões” na civilização ocidental,5
o trabalho de Le Bon
lastimava o inevitável deslocamento do “direito divino dos reis” para o “direito divino das massas”
e previa nada menos do que a completa destruição da sociedade.6
4
Tiqqun, Introduction to Civil War, trad. por Alexander R. Galloway and Jason E. Smith (Los Angeles: Semiotext(e),
2010), 179. O coletivo anônimo Tiqqun está muito provavelmente conectado aos autores do The Coming Insurrection
(2009), um livro atribuído ao igualmente obscuro Invisible Committee, que ganhou alguma atenção nos EUA depois de
ser negativamente criticado por Glenn Beck em seu programa. Para mais informações, ver Judith Rosen, “Glenn beck
Helps Turn Anarchist Book into Bestseller,” Publishers Weekly, 18 de Fevereiro, 2010, acessado em 8 de junho, 2010,
http://www.publishersweekly.com/pw/by-topic/industry-news/publisher-news/article/42133-glen-beck-helps-turn-
anarchist-book-into-bestseller.html; Alberto Toscano, “The Story of the Tarnac 9,” Organic Consumers Association, 11
de janeiro, 2009, acessado em 8 de junho, 2010, http://www.organic-consumers.org/articles/article_19366.cfm.
5
Gustave Le Bon, The Crowd: A Study of Popular Mind (Mineola, NY: Dover, 2002), x. Originalmente publicado em
1895 como Le psychologie des foules.
6
Ibid., xi.
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No ano seguinte, The Crowd foi traduzido para o inglês e se tornou disponível nos EUA,
onde influenciou uma série de sociólogos, tal como Franklin Giddings, Boris Sidis, James Mark
Baldwin e Edward Ross,7
muitos dos quais escreviam em publicações populares tais como The
Atlantic Monthly e The Popular Science Mouthly. Apesar do fin-de-siècle nos EUA ter sido
caracterizado por greves de trabalhadores, linchamentos e aglomerações urbanas, a “multidão” se
tornaria uma figura retórica para estes escritores, principalmente, porque ela oferecia a possibilidade
de um melhor entendimento das mais amplas e mais abstratas coletividades, particularmente o
público nacional de eleitores.8
Nesse sentido, o termo “psicologia das multidões” é de algum modo
impróprio, tal como o de “multidão”, pois na maioria das vezes é usado, não para um agregado de
corpos fisicamente próximos, mas para virtualmente toda e qualquer forma de coletividade humana
concebível: raça, classe, públicos, nações e telespectadores.
Em geral, por causa de sua inclinação conservadora, a antiga psicologia das multidões
assumiu muitas vezes um estilo apocalíptico e um tom que antecipou as representações de grandes
invasões zumbi. A maior parte dos escritores concordou com Le Bon, ou seja, a supremacia das
multidões representava uma terrível ameaça, senão como no caso de Le Bon, para a sociedade
aristocrática, ao menos para a sociedade democrática organizada. A psicologia das multidões
formulou a noção de multidão combinando os discursos da criminologia italiana, da psiquiatria
francesa e da biologia evolucionista. Nas palavras de Boris Sidis, tal qual um legítimo “demônio
dos demônios” capaz de arrastar “o corpo político em direção a convulsões de fúria demoníaca.”9
Ao fim, filmes de zumbis posteriores, particularmente, The Last Man on Earth (1964),10
tornariam
literárias as noções metafóricas de Sidis sobre o corpo político possuído por demônios.
Talvez seja este medo subjacente das multidões que inspirava os excessos discursivos
encontrados nos trabalhos dos antigos psicólogos das multidões. Em seus esforços para
compreender a multiplicidade caótica das multidões, não foi suficiente para Le Bon comparar a
multidão com “mulheres, selvagens e crianças”11
; ele precisa se valer também de metáforas com
células,12
animais,13
engrenagens14
e bactérias15
. Então, quando Le Bon atribui à multidão uma
tendência de associar “coisas dessemelhantes que possuem uma conexão meramente aparente,”16
ele
estaria simplesmente externando seus próprios pensamentos em relação ao fenômeno. O próprio
7
Ericka G. King, “Reconciling Democracy and the crowd in Turn-of-the- Centary American Social-Psychological
Thought,” Journal of the History of the Behavioral Sciences 26 (Fevereiro 1990): 334.
8
Ibid., 338.
9
Boris Sidis, The Psychology of Suggestion: A Research into the Nature of Man and Society (New York, Appleton,
1898), 313.
10
The Last Man on Earth, DVD, dirigido por Ubaldo Ragona (1964; Los Angeles: 2007).
11
Le Bon, The Crowd, 10.
12
Ibid., 4, 72.
13
Ibid., 78.
14
Ibid., 8.
15
Ibid., 78.
16
Ibid., 34.
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conceito de multitude parece encorajar uma superprodução retórica, como se nenhuma simples
metáfora, alusão ou definição pudesse representá-la.
A este respeito, não é incomum os antigos analistas das multidões invocarem o sublime
imaginário da natureza para ajudá-los a representar aos seus leitores a incipiente imagem da
multidão. Le Bon descreve o indivíduo na multidão como um “grão de areia entre outros grãos de
areia, que o vento agita a vontade.”17
Em seu ensaio de 1897 publicado na Popular Science Monthly,
intitulado “The Mob Mind,” Edward Ross recorre ao imaginário marítimo para ilustrar a volúvel
mentalidade das massas norte-americanas, as quais “estão à deriva sem leme ou âncora” em
“ondas” e em “correntes de opinião.”18
Enquanto isso, para Boris Sidis, “a turba é como uma
avalanche, quanto mais se movimenta, cresce e se torna mais ameaçadora e perigosa.”19
A ameaça
dos muitos pressiona as fronteiras da representação linguística, indeterminando o discurso
presumivelmente racional e científico da psicologia das multidões, revelando, em vez disso, ser
motivado por uma mistura complexa de fascinação e horror.
Esta discursividade excessiva da antiga psicologia das multidões se tornaria, posteriormente,
o próprio substrato e ponto focal dos filmes de zumbis, os quais muitas vezes retratam hordas
fluindo em massivas e incontáveis marés na paisagem urbana. Conforme Christian Thorne observa:
“Filmes de zumbis estão sempre narrando multidões.”20
Zumbis cinematográficos são criaturas
grupais, inexpressivas individualmente, mas perigosas em grande número. Dessa forma, é
relativamente fácil para um não infectado rechaçar um único zumbi, mas por causa de sua
persistência lenta e arrastada, uma multidão de zumbis é normalmente fatal. Em geral, o zumbi
cinematográfico permanece perdido no anonimato da multitude, assim, nós raramente nos
identificamos com algum ou mesmo lembramo-nos de algum em particular. Esta é talvez uma das
mais óbvias e mais importantes diferenças entre os zumbis e outros monstros clássicos do horror. Os
zumbis individuais/protagonistas de filmes como Deathdream (1972)21
e I, Zombie: The Chronicles
of Pain (1998)22
são, neste aspecto, meras exceções que confirmam a regra. Muito mais comum na
atualidade são as hordas vastas e pulsantes, cujo número frustra qualquer tentativa dos expectadores
em perceberem uma totalidade reconhecível por fervilharem para além das bordas da tela do
cinema.
Entretanto, como outros críticos têm notado, o zumbi cinematográfico é literal e
figurativamente múltiplo, significando números stricto sensu e um conjunto de ansiedades
17
Ibid., 8.
18
Edward A. Ross, “The Mob Mind,” Popular Science Monthly 51 (1897): 397.
19
Boris Sidis, The Psychology of Suggestion, 303.
20
Christian Thorne, “The Running of the Dead,” Commonplace Book, 24 de julho, 2010, http://people.williams.edu/
cthorne/articles/the-running-of-the-dead-part-1/.
21
Deathdream, DVD, dirigido por Bob Clark (1972; West Hollywood: 2004).
22
I, Zombie: The Chronicles of Pain, DVD, dirigido por Andrew Parkinson (Miami: 1998).
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politicamente carregadas.23
Kyle Bishop vê o ressurgimento recente do zumbi nos cinemas como
uma expressão do medo largamente difundido de ataques terroristas.24
Em relação aos primeiros
filmes de zumbis, Bishop argumenta que referem-se a ansiedades culturais profundamente
segmentadas, tal como: “a dominação patriarcal dos brancos, a misógina ameaça da mulher, o
colapso da família nuclear e a violência não controlada da Guerra do Vietnã.”25
Adiciona-se a esta
lista dificilmente exaurida de metáforas relacionadas aos zumbis: ameaças ambientais e nucleares,
doenças (particularmente a AIDS) e, obviamente, revoltas de massa. Estas ameaças, apesar de
apresentarem inconsistências lógicas e contradições, são capazes de descrever uma vastidão de
perigos.
Tal sobredeterminação metafórica dos zumbis a das multidões gera uma confusão
considerável quando se trata de definir o objeto em questão. Desse modo, nos discursos que
envolvem estas figuras encontra-se a preocupação com distinções classificatórias que raramente
fazem mais do que realçar a futilidade de tal esforço.26
Em vez de adentrar em tais debates, talvez
seja mais proveitoso determinar o que a falta de um esquema classificatório inflexível poderia nos
dizer sobre zumbis e multidões. É possível, em outras palavras, ver a própria ausência de uma única
característica determinante como o aspecto mais saliente, positivo, dos zumbis e das multidões.27
O excesso que se encontra em referência aos zumbis e coletivos, aos quais metáforas e
figuras de linguagem são empilhadas desordenadamente umas sobre as outras, constitui somente um
dos lados de uma aparentemente contraditória estratégia de representação. Embora o primeiro
aspecto que os escritores tendem a perceberem sobre as multidões e os zumbis seja esta sublime
qualidade de receberem diferentes interpretações. Eu argumentaria que tal sobredeterminação é, de
fato, o efeito de uma primordial ausência de conteúdo ou o efeito de um vazio constitutivo. Como
figuras do múltiplo, zumbis e multidões, confrontam-nos primeiramente com uma sinistra ausência
de características essenciais, sobre a qual nós somos então compelidos a preencher com conteúdos.
23
Kyle William Bishop, American Zombie Gothic: The Rise and Fall (and Rise) of the Walking Dead in Popular
Culture (Jefferson: McFarland, 2010), 95.
24
Ibid., 11.
25
Ibid., 95.
26
Embora admita que a “substancial sobreposição entre os vários monstros do cinema evita a possibilidade de uma
completa e abrangente definição de um zumbi,” Peter Dendle decide “limitar (sua) cobertura para os filmes em que as
criaturas são, na verdade, corpos revividos ou são explicitamente nomeadas como zumbis.” Peter Dendle, The Zombie
Movie Encyclopedia (Jefferson, NC: McFarland, 2001), 13. Infelizmente, como o próprio Dendle salienta, isto
desqualifica muitos filmes com criaturas que “exibem grande parte dos traços familiares, mas não são, verdadeiramente,
corpos reanimados.” Ibid., 13. No caso da literatura sobre multidão, encontra-se um esforço similar para se distinguir
entre plebe, desordeiros, massas, públicos, etc. Canetti segue o impulso classificatório o mais longe possível,
distinguindo entre “massas de acossamento,” “massas de fuga,” “massas de proibição,” “massas de inversão,” e “massas
festivas.” Elias Canetti, Crowds and Power, trad. Carol Stewart (New York: Farrar, Straus and Giroux, 1962), 48.
Talvez, a definição arbitrária de Mills seja mais reveladora: “Como uma regra, quando eu descrevo uma multidão eu
quero dizer um amontoado que não cabe em uma sala, mas pode, de outro modo, estar agrupado em uma praça.”
Nicolaus Mills, The Crowd in American Literature (Baton Rouge: Louisiana State University Press, 1986), 9.
27
Em relação a ideia de que a indeterminação pode ser uma característica positiva para a organização coletiva, estou em
débito para com a concepção pós-estruturalista de “populismo” de Ernesto Laclau. Ernesto Laclau, On Populist Reason
(Londres: Verso, 2005). Ver, em particular, o capítulo 4, “The 'People' and the Discursive Production of Emptiness.”
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No caso da multidão, é o psicólogo social James Mark Baldwin, na virada para o século XX,
que nos oferece a versão mais extrema desta característica radical de não possuir qualidades
definidoras. No capítulo, “Theory of Mob Action,” de sua ambiciosa obra Social and Ethical
Interpretations in Mental Development (1897), Baldwin pergunta: “O homem no interior de um
coletivo não pensa? Não tem senso de valores? Não delibera? Não tem autocontrole? Não tem
responsabilidade? Não tem consciência? Não tem desejo? Não tem motivos? Não tem
propósitos?”28
Obviamente, a resposta imediatamente dada foi: “Não, ele não tem nada.”29
“A
consciência sugestionável,” ele continua, empilhando negações sobre negações, “é a consciência
que não tem passado, não tem futuro, não tem limites, não tem profundidade, não tem
desenvolvimento, não tem referência para com nada; ela é apenas uma engrenagem.”30
O homem na
multidão é, muito simplesmente, um homem sem qualidades, um desnaturado, um não-corpo
desnudo. Similarmente, as características clássicas do zumbi são normalmente expressas em
registros negativos; o zumbi é representado como sem alma, sem consciência, sem vontade,
insensível à dor e como indestrutível, então, a própria imortalidade do zumbi (ela mesma uma
característica negativa) deve ser entendida negativamente, como “não-morte.”
A imortalidade negativamente representada do zumbi e a indeterminação constitutiva da
multidão os permitem ocupar um “espaço vazio” dentro da consciência ocidental, onde eles
funcionam, nas palavras de Slavoj Zizek, como “contêineres” ideais para hospedarem “medos
divergentes, flutuantes, inconsistentes.”31
Fundamentalmente, zumbis e multidões podem de alguma
forma ser representantes do que Giorgio Agamben em The Coming Community (1993) chama “vida
nua”: uma forma-de-vida conectada, não “por qualquer característica em comum, [ou]
identidade,”32
mas através da própria falta de características positivas. Assim, em vez de tentar
determinar suas próprias características, modelar suas verdadeiras identidades ou preenchê-los com
conteúdos, eu olho atentamente para esta negatividade dos zumbis e das multidões, observando a
própria negatividade como um modo de se constituir um novo entendimento sobre a vida coletiva.
Da sugestão…
A indeterminação do zumbi e da multidão deriva de dois conceitos que tiveram a sua mais
detalhada elaboração nos discursos da psicologia das multidões: sugestão e contágio. Depois de
listar os três atributos básicos da mente das multidões em conformidade com Le Bon - “um
28
James Mark Baldwin, Social and Ethical Interpretations in Mental Development, 5.ed. (1897; rept. New York:
Macmillan, 1913), 246.
29
Ibid.
30
Ibid.
31
Slavoj Zizek, Tarrying with the Negative: Kant, Hegel, and the Critique of ideology (Durham: Duke University Press,
1993), iii.
32
Giorgio Agamben, The Coming Community, trad. Michael Hardt (Minneapolis: University of Minnesota Press, 1993),
iii.
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sentimento de invencível poder,” “contágio” mental e “sugestibilidade” - Mikkel Borch Jacobsen
indica que “o segundo e o terceiro (os mais decisivos na argumentação [de Le Bon]) seriam
manifestadamente não-características ou características não especificadas.”33
“Nenhum substrato ou
subestrutura,” argumenta Borch-Jacobesen, “porém uma substância muito leve, maleável, plástica,
infinitamente receptiva, sem vontade ou desejo ou qualquer instinto específico de si própria,”34
Sobretudo, à multidão de Le Bon não pode nem mesmo ser atribuída qualquer posse de um espírito
ou de um caráter. As duas “características” predominantes da multidão, contágio mental e
sugestibilidade, representam pouco mais do que a habilidade da multidão em absorver, do exterior,
aquilo que seria adequadamente chamado de conteúdos.
Embora distintos em suas aplicações, como eu mostrarei em breve, sugestão e contágio são
similares no sentido de que ambos possuem algo como “anti-propriedades,” o que conota uma inata
e constitutiva “abertura” para influências externas. Desse modo, a multidão é nada mais do que o
seu potencial de se tornar alguma coisa. Este é o tom dominante da antiga teoria das multidões.
Consequentemente, nós percebemos os antigos psicólogos das multidões agrupando
sugestionabilidade e contágio com várias outras definições, tal como a de gregarismo inato,
simpatia orgânica e imitação. Todas elas enfatizam a tendência dos membros de uma multidão de
absorverem as características e os aspectos “sugestionados” a eles por algum estímulo externo.
Le Bon identifica a raiz desta sugestibilidade nas estruturas primitivas do cérebro. Em uma
multidão, Le Bon argumenta, pensamentos próprios e conscientes são inibidos, permitindo ao
comportamento inconsciente da “raça” se expandir e chegar à superfície. Conforme o autor, os atos
da multidão “estão muito mais sobre a influência da medula óssea do que do cérebro,” fazendo com
que a multidão “se torne muito parecida com os seres primitivos.”35
Esta tentativa de localizar a
sugestionabilidade na parte “primitiva” do cérebro pode, de algum modo, explicar a prevalência do
racismo nos antigos filmes de zumbis e, também, a convenção desenvolvida pós Romero de se
mirar na cabeça quando se tenta destruir um zumbi.
Embora muitos dos norte-americanos seguidores de Le Bon leram sugestão e contágio como
sinônimos, eu acompanho Freud quando ele estabelece uma cuidadosa distinção entre os dois
termos.36
De acordo com a leitura de Freud, sugestão descreveria a maneira pela qual o líder
33
Mikkel Borch-Jacobsen, The Freudian Subject, trad. Catherine Porter (Stanford, CA: Stanford University Press,
1988), 139.
34
Ibid.
35
Le Bon, The Crowd, 11.
36
“Não temos intenção de contradizer Le Bon, mas queremos apenas dar ênfase ao fato de que as duas últimas causas
pelas quais um indivíduo se modifica no interior da massa, nomeadamente o contágio e a alta sugestionabilidade, não
são evidentemente a mesma coisa… Possivelmente o melhor meio de interpretar o que ele afirma seja relacionando o
contágio aos efeitos que os membros da massa, tomados individualmente, têm uns sobre os outros, enquanto para as
manifestações da sugestão na massa, estas são semelhantes ao fenômeno da influência hipnótica, apresentando, assim,
uma diferente fonte.” Sigmund Freud, “Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” Mass Psychology and Other Writings,
trad. J. A. Underwood (London: Penguin, 2004), 24. Originalmente publicado como Massenpsychologie Und Ich-
Analyse (Zurich: Internationaler Psychoanalytischer Verlag, 1921).
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influenciaria a multidão impressionável, por sua vez, o contágio indicaria os efeitos que cada
membro da multidão teria sobre os demais. Embora, os dois fenômenos pressuponham a
impressionabilidade e instabilidade como componentes básicos das multidões, eles se expandiriam
em direções divergentes. A sugestão pode ser descrita como um fenômeno vertical, expressando a
relação do líder para com a multidão, enquanto o contágio representa o movimento horizontal
através do qual a sugestão original do líder se espalharia, como uma doença, por todo o corpo da
multidão. Desse modo, tal como se presume das observações acima, sugestão e contágio designam
uma clara sequência temporal: primeiro, o líder planta “sugestões” na multidão, depois a sugestão
original é intensificada pela interação contagiosa entre os membros individuais da multidão.
O conceito de sugestão germinou de um interesse por hipnose entre os psiquiatras franceses
do século XIX. Assim, lê-se na obra The Crowd de Le Bon que: “um indivíduo imerso por alguma
extensão de tempo em uma multidão em movimento logo se encontra (..) em um estado especial, o
qual muito se assemelha com a fascinação que o indivíduo hipnotizado encontra-se nas mãos do
hipnotizador.”37
O ensaio de Freud “Mass Psychology and Analysis of the 'I'” (1921), do qual este
artigo emprestou seu título, apresenta a mais elaborada aplicação desta analogia, claramente
associando o “duplo” cenário, de um lado o hipnotizador e o hipnotizado, do outro a relação entre o
líder e a multidão.38
Com o fenômeno hipnótico da sugestão, o discurso da psicologia das multidões começaria a
ganhar um colorido sentimental que o transformaria numa fonte ideal para os primeiros filmes de
zumbis. Isto está bastante claro no reacionário e apocalíptico tons dos escritos de Sidis sobre
“sugestibilidade social.”39
Aproveitando-se das analogias esboçadas por Le Bon entre o sujeito
hipnotizado e o membro da multidão, Sidis descreve o “ego semiacordado” que emerge na vida
coletiva:
A multidão contem dentro de si todos os elementos e condições favoráveis para a desagregação da consciência.
O que é requerido é apenas que um objeto interessante, ou que qualquer impressão inesperada, fixe fortemente a
atenção da multidão e, assim, imerso em um estado em que a personalidade consciente está desprovida de sua
dignidade e poder, um ego desnudo e semiacordado permanece sozinho cara a cara com o ambiente externo.40
O membro de uma multidão, segundo Sidis, é essencialmente um sujeito hipnotizado, cuja
vontade própria está asfixiada pela força da sugestão do hipnotizador. O conteúdo particular da
multidão, de acordo com este entendimento, permanece para ser esboçado, assim, a multidão é o
mero efeito de um “exterior.” Além disso, o complexo sugestão-hipnose seria, por este
37
Le Bon, The Crowd, 7.
38
Ver, em particular, o capítulo intitulado “Being in Love and Hypnosis,” no qual Freud escreve, “A relação hipnótica é
(se a expressão for permitida) uma formação de uma massa de dois. A hipnose fornece uma boa comparação com a
formação da massa, sendo na verdade idêntica com esta última. Da relação hipnótica isola-se para nós um dos
elementos do comportamento da massa, a saber, o comportamento do indivíduo da massa em direção ao líder.” Freud,
“Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” Mass Psychology and Other Writings, 68.
39
Sidis, The Psychology of Suggestion, 297.
40
Ibid., 300.
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entendimento, responsável pela visão distópica do zumbi enquanto um personagem metafórico das
instáveis e impressionáveis massas.
White Zombie (1932)41
oferece o exemplo mais memorável de um líder hipnotizador no
gênero de filmes de zumbis, a saber, o personagem de “Murder Legendre,” interpretado por Bela
Lugosi. No início, entretanto, o filme parece incapaz de decidir se o poder de Legendre sobre os
outros é resultado de rituais vodu ou daquilo que Le Bon chama de “prestígio” do líder carismático:
uma “misteriosa força” que justifica a influência deste sobre a multidão.42
Esta misteriosa força, Le
Bon argumenta, em uma rara passagem em primeira pessoa, “paralisa nossa faculdade crítica e
preenche nossa alma com espanto e respeito.”43
Então, em White Zombie, nós vemos Legendre
esculpindo e queimando bonecas vodus, através das quais ele conquista o controle de Madeline e
Beaumont, mas nós também vemos ele controlar um serviçal de Beaumont com um mero aceno de
mão. Talvez o mais marcante seja o prolongado enquadramento de câmera nos olhos de Legendre,
que se movimentam sobre um pano de fundo negro e, dessa forma, sugerem que a verdadeira fonte
de seu poder está na manipulação de um olhar hipnótico.
Em seu exaustivo estudo do filme, White Zombie: Anatomy of a Horror Film, Gary D.
Rhodes relata a forma como a “história do hipnotismo e mesmerismo (…) estão na base de White
Zombie, particularmente no poder de controle dos olhos de Legendre.”44
Rhodes não faz conexões
entre o uso de noções populares do hipnotismo com as sugestões do líder da multidão, assim como,
há pouca razão para supor que Halperin tivesse em mente alguma destas noções quando fez este
filme. Jennifer Cooke também observa a hipnose como um elemento central dos filmes de zumbis
em geral, mas ela faz uma distinção entre os primeiros filmes, tal como White Zombie, que
apresentam um “mestre hipnotizador” com filmes posteriores, como Nigth of the Living Dead, que
retrata uma “multidão (sem líderes) (…) suscetível à sugestão e ao contágio.”45
Na verdade, como
em muitos dos antigos filmes de zumbis, há poucas cenas em White Zombie em que nós somos
ameaçados por uma “multidão” de zumbis. (A cena no engenho de açúcar, em que vários escravos
nativos estão entediados em seu trabalho forçado, é uma das mais arrepiantes a este respeito.) O
41
White Zombie, DVD, dirigido por Victor Halperin (1932; Marina Del Ray, CA: RCF, 2008).
42
Le Bon, The Crowd, 81.
43
Ibid.
44
Gary D. Rhodes, White Zombie: Anatomy of a Horror Film (Jefferson, NC: McFarland, 2006), 30.
45
Jennifer Cooke, Legacies of Plague in Literature, Theory and Film (New York: Palgrave Macmillan, 2009), 167. É
imperativo que eu faça uma melhor distinção entre as observações do estudo de Cooke e as minhas próprias. Porque ela
vê a hipnose como uma característica perene dos filmes de zumbi, desde White Zombie até Night of the Living Dead.
Para a autora, o desaparecimento da antiga figura do “mestre hipnotizador” em Night of the Living Dead
paradoxalmente significa a emergência de uma perfeita multidão e a continuação por outros meios do fenômeno da
hipnose (167). Em outras palavras, atribuindo à hipnose como seu princípio organizador, Cooke vê a multidão como
uma característica, apenas, dos mais recentes filmes de zumbi. Por contraste, ao atribuir à multidão como meu princípio
organizador do gênero de filmes de zumbi, eu vejo a hipnose como uma característica revelante somente para os mais
antigos filmes de zumbi. Eu penso que apenas estudos futuros podem determinar a relativa produtividade destas
distinções conflitantes.
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drama central do filme, de fato, foca-se no título “zumbi branco,” Madeline é uma exceção à regra,
precisamente, por ser uma “pessoa” branca separada da multidão de zumbis nativos.
Halperin não produziria nenhuma associação entre as crenças populares em zumbis e a
psicologia das multidões até seu menos conhecido Revolt of the Zombies46
de 1936. Aqui, nós temos
o padrão do filme de zumbi com história de amor que se tornou famoso com White Zombie, com a
diferença importante que agora a ação começa na I Guerra Mundial, com uma tropa de hipnotizados
zumbis cambodianos que estão sendo levados ao campo de batalha. O filme envolve a busca pelo
“segredo dos zumbis” localizado na cidade perdida de Angkor. Armand é o principal ator do filme,
um apaixonado que perdeu sua noiva, Clara, para o novo amor dela, Cliff. Obviamente, Armand se
apropria do segredo dos zumbis, que, como em White Zumbie, envolve uma estranha mistura de
vodu hollywoodiano e hipnose. Fascinado por seu inacreditável poder, Armand começa criando seu
próprio exército zumbi. Seus soldados, entretanto, não são zumbis tradicionais, pois não são
ressuscitados da morte, mas homens vivos postos sob o controle de um feitiço hipnótico.
Embora muitos dos temas de White Zombie reapareçam aqui, eles assumem decididamente
um molde mais político, nos encorajando a interpretar retroativamente algumas das ambiguidades
do antigo filme que alcançou maior sucesso. Assim como “Mass Psychology and Analysis of the 'I'”
de Freud é muitas vezes lido como um relato presciente da psicologia de massa do fascismo,47
Revolt of the Zombies, intuitivamente, apresenta um exército que constitui uma multidão “artificial”
tal como a expressão paradigmática da psicologia das multidões.48
Freud foca nas multidões
artificiais porque, de acordo com ele, Le Bon não enfatizou ampla e suficientemente a influência do
líder em relação ao fenômeno da multidão.49
Como se seguisse esta pista de Freud, Revolt of the
Zombies reformula o olhar hipnótico e fixo do sacerdote vodu como se fosse o de um líder militar
fascista. Isto pode ser observado, claramente, quando a imagem dos olhos de Legendre retorna
sobreposta às tropas de catatônicos, mas indestrutíveis soldados.
De acordo com as aparências, Halperin simplesmente reciclou a cena dos olhos usada em
White Zombie, mas talvez seja precipitado considerar esta repetição como uma simples economia na
produção. Eu leio esta repetição como a apresentação tardia da parte de Halperin de um significado
político inexplorado em White Zombie, diferenciando-se do olhar hipnótico apolítico encontrado
neste filme. Este tom político aparece desde o início de Revolt, quando Armand fala ao seu amigo
Cliff sobre os antigos “reis sacerdotes” que “mentalmente” controlavam e dirigiam seus seguidores
como se eles fossem meros “robôs.” Sobre isto, o individualista convicto, Cliff, responde, “Eu não
acredito que você pode transformar homens em autômatos (…) ou, como você os chama, zumbis.”
46
Revolt of the Zombies, DVD, dirigido por Victor Halperin (1936; Philadelphia: Alpha Video, 2003).
47
André E. Haynal, “Groups and Fanaticism,” On Freud's “Group Psychology and the Analysis of the Ego,” ed. Ethel
Spector Person (Hillsdale, NJ: The Analytic Press, 2001), 112.
48
Freud, “Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” 45.
49
Ibid., 27.
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O movimento dos olhos, obviamente, se torna a prova final do quanto Cliff (que Armand ao final
transforma em um zumbi) está errado. No fim do filme, a mesma cena dos olhos fixos ameaçadores,
que primeiramente dirigiram as ações de personagens individuais como Madeline e Beaumont em
White Zombie, é usada aqui para ilustrar o comando de Armand sobre milhares de inconscientes
“semiacordados” soldados.
Embora encontra-se no filme muitos dos clichês vodu – com um ligeiro viés “oriental” - esta
mitologia é deslocada por uma estrutura explicativa que se parece muito mais com aquilo que
Wilhelm Reich chama de “psicologia de massa do fascismo.”50
Em sua primeira vítima, a
empregada desafortunada Buna, Armand mistura e queima um misterioso pó branco, o vapor deste
pó deixa Buna em um catatônico transe.51
Porém quando Armand dá ordens, Buna simplesmente
permanece congelada em sua pose rígida. Assim, os olhos de White Zombie reaparecem de repente
sobrepostos a uma superfície negra, quando Armand repete seu comando para “abaixar seus
braços,” Buna finalmente obedece. A partir desse momento, os olhos se tornam a fonte central do
estranho e inexplicado poder de Armand. Através deles, ele é capaz de acumular um imenso
exército e controlar as ações militares de inacreditáveis distâncias, desse modo, exercendo o que o
sociólogo francês Gabriel Tarde chama de “sugestões remotas.”52
Tais “sugestões remotas” do líder
simbolizam a passagem nos filmes de zumbis da preocupação com invasões locais de zumbis para
as globais. Então, o que em White Zombie envolve, simplesmente, um relacionamento entre “duas
partes,” o hipnotizador e o hipnotizado, nos filmes de zumbis posteriores é transposto para um
campo político mais amplo e reescrito como um relacionamento entre o líder carismático e sua
horda de seguidores.
O filme termina com um irônico giro temático, apresentando os zumbis não apenas como
um paradigma para as formações fascistas, mas também para as revolucionárias. Depois dos
soldados serem libertos de seu encanto, eles dirigem-se contra Armand. Neste momento, a
empregada Buna lidera as massas em sua “revolta” contra o líder tirânico. Certamente, nós
estávamos esperando que Armand fosse abandonado e, assim, somos levados a nos identificarmos
com esse novo coletivo. O filme faz outro uso inventivo de cenas recicladas, narrando a revolta dos
soldados emancipados através das mesmas imagens das tropas de “zumbis”. Então, o que
novamente parece ser o efeito de uma mera conveniência ou da preguiça dos produtores, na
verdade, funciona como uma comparação injusta entre os zumbis militares sem alma com os
conscientes e esclarecidos rebeldes. Esta ironia temática é diretamente Freudiana, pois segundo o
50
Wilhelm Reich, The Mass Psychology of Fascism, ed. Mary Higgins and Chester M. Raphael (New York: Farrar,
1970).
51
A ironia é que Buna já obedece a qualquer comando de Armand, fazendo o estímulo do transe hipnótico um tanto
quanto supérfluo.
52
Ver Mary Esteve, The Aesthetics and Politics of the Crowd in American Literature (Cambridge: Cambridge University
Press, 2003), 84.
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autor uma patologia semelhante está por trás tanto das formas de comportamento coletivo
“artificial” e institucionalizado quanto das suas manifestações mais espontâneas e revolucionárias.
Embora White Zombie seja a mais bem-sucedida produção de Halperin, Revolt of the
Zombies tem sua importância ao pressagiar a posterior massa de zumbis cinematográficos,
particularmente através de sua repetição complacente com a espetacularização fetichizada da massa
de incontáveis zumbis. Assim, os soldados zumbis hipnotizados e sem emoções de Revolt formam
aquilo que Freud chama de uma “organizada” ou “artificial” multidão,53
uma temática que se
tornaria comum nos filmes de zumbis dos anos de 1950. Creature with the Atom Brain (1955),54
por
exemplo, desfaz dos clichês vodu dos anos de 1930 para a reformulação do zumbi como um
“homem da massa” ou “homem de organização,” vivendo no interior dos “normais” subúrbios
norte-americanos.55
Os filmes de zumbi dos anos de 1950 são também dignos de nota por
oferecerem uma versão zumbi antiga daquilo que Tarde chama de “coletividade espiritual,” um
termo que reflete o modo como a sugestão pode operar, não somente em um aglomerado localizado
de corpos fisicamente próximos, mas através da imprensa e de publicações de massa, em uma
escala nacional ou global.56
Nesta fase de transição, os elementos da psicologia das multidões são esporádicos. Mesmo
em um filme pioneiro tal como The Zombies of Mora Tau (1957),57
“o primeiro filme em que os
zumbis claramente existem sem um mestre zumbi ou líder controlando-os e o primeiro em que a
condição zumbi é contagiosa,”58
há pouco avanço em relação aos temas da psicologia das multidões
presentes em Revolt of the Zombies. Ao lado de algumas cenas exemplares de um grupo pequeno de
quinze ou dezoito zumbis levantando-se de seus túmulos em templos Africanos pré-históricos, há
relativamente poucas indicações, neste filme, de que os zumbis sejam um fenômeno de massa.
Durante esta transição, mais relevante para a relação da psicologia das multidões com os
mitos zumbis é o advento dos especialistas em zumbis. Dos filmes pré Romero até os pós Romero,
o zumbi passa de um simples fato material a ser controlado e reprimido, até um objeto de
“biopoder”, algo para se exercer uma “forma de governo”59
mais sutil, “combinando poder militar
com controle social, econômico, político, psicológico e ideológico.”60
Se anteriormente o zumbi não
era mais do que uma ameaça a ser destruída, nos anos de 1950 e 1960 os zumbis se tornariam um
“objeto” da curiosidade genuína de doutores, cientistas e oficiais governamentais. De modo
53
Freud, “Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” 45.
54
Creature with the Atom Brain, DVD, dirigido por Edward L. Cahn (1955; Culver City, CA: Sony Pictures, 2007).
55
Ver Dendle, The Zombie Movie Encyclopedia, 38.
56
Gabriel Tarde, “The Public and the Crowd,” On Communication and Social Influence, ed. Terry N. Clark (Chicago:
University of Chicago Press, 1969), 277. Originalmente publicado em 1901, como uma parte de L'Opinion et la foule.
57
The Zombies of Mora Tau, VHS, dirigido por Edward L. Cahn (1957; Culver City, CA: Sony Pictures, 1986).
58
Dendle, The Zombie Movie Encyclopedia, 212.
59
Michael Hardt e Antonio Negri, Multitude: War and Democracy in the Age of Empire (New York: Penguin, 2004), 13.
60
Ibid., 53.
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semelhante, a própria psicologia das multidões parece ter seu início relacionado com a ideia de que
ninguém mais aniquilaria uma multidão através do poder militar. “O conhecimento sobre a
psicologia das multidões,” Le Bon escreve “é hoje o último recurso do homem de estado que deseja
não governá-las – o que tem se tornou uma questão muito complicada – mas de algum modo não ser
governado por elas.”61
Esta nova consciência da necessidade de não simplesmente aniquilar, mas de
entender a coletividade zumbi é dramatizada de um modo memorável no conflito, apresentado por
Romero em Day of the Dead (1985)62
entre os soldados, que querem exterminar os zumbis, e os
cientistas, que insistem em aprender mais sobre eles. Porém, mesmo em 1966, nós vemos um
exemplo quase presciente do interesse médico nos zumbis em Plague of the Zombies (1966)63
de
John Gilling. Contraposto aos regimes militar e governamental do biopoder, o zumbi, durante esta
fase, começa a ganhar um status ambivalente da perspectiva dos observadores humanos. De um
lado, ameaçando a identidade e a racionalidade individuais, mas de outro, assumindo um papel na
luta revolucionária contra os abusos do Estado. Assim, o zumbi ocupa uma tênue zona límbica, na
qual se disponibiliza um espaço potencial de emancipação e de revolta coletiva.
… para o Contágio
É de certa forma natural que a emergência de uma lógica do contágio nos filmes de zumbi
conduza a um aumento do interesse, por parte dos regimes de biopoder, em entender o fenômeno
zumbi. Nos tempos em que a sugestão cumpria um papel principal, o zumbi se encaixava
perfeitamente em uma hierarquia predominantemente racista e colonialista que privilegiava o
indivíduo racional e branco sobre as irracionais e influenciáveis “tribos.” Multidões de zumbis eram
ameaçadoras na medida em que eram controladas pelos indivíduos errados, assim, a verdadeira
ameaça, nestes filmes, não era a multidão zumbi enquanto tal, mas muito mais o indivíduo maligno
que a mantinha como “sua” cativa.
Com o aparecimento da inovação de Romero, Night of the Living Dead (1968),64
tudo isto
começa a mudar. Romero não faz somente uma associação metafórica explícita entre zumbis e
multidões, ele também transforma a estrutura básica da horda zumbi, ao apagar todos os traços das
crenças vodu e inscrever o contágio como o aspecto primário do fenômeno de massa zumbi.65
Respeitando a lógica do contágio consoante com a antiga psicologia das multidões, Night of the
Living Dead também afasta o típico líder carismático,66
permitindo que a horda zumbi apareça como
61
Le Bon, The Crowd, xiv.
62
Day of the Dead, DVD, dirigido por George Romero (1985; Campbell, CA: Anchor Bay, 1998).
63
The Plague of the Zombies, DVD, dirigido por John Gilling (1966; Campbell, CA: Anchor Bay, 1999).
64
Night of the Living Dead, DVD, dirigido por George Romero (1968: Fort Mill, SC: Sterling Entertainment).
65
Para um proveitoso sumário das inovações temáticas de Night of the Living Dead, ver Dendle, The Zombie Movie
Encyclopedia, 6-7.
66
Gregory A. Walter, The Living and the Undead: From Stoker's Dracula to Romero's Dawn of the Dead (Chicago:
University of Illinois Press, 1986). Embora ele compare Night of the Living Dead com as antigas representações de
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o objeto central da fascinação espectral e um ameaça por si própria.
Tem-se tornado lugar-comum identificar Night of the Living Dead como um ponto de
inflexão nos mitos dos filmes de zumbi; entretanto, em termos da transição de uma lógica da
sugestão para a do contágio, Night of The Living Dead não representa uma ruptura radical, mas sim
uma mudança crucial de ênfase. Como nós temos já observado, na antiga psicologia das multidões,
o complexo sugestão/contágio implica uma sequência temporal relativamente curta: primeiro, o
líder “sugere” uma ideia à multidão e, então, a ideia sugestionada espalha-se de um membro ao
outro, crescendo mais e mais em poder através de um processo de reforço mútuo. Dessa forma, eu
estou simplesmente estendendo esta sequência temporal para os trinta e seis anos que separam
White Zombie de Night of the Living Dead. Mesmo com a mudança representada pelo contágio
neste último filme, nós podemos ainda perceber um traço formal do papel sugestivo do líder por
causa da necessidade de um fator primordial, geralmente um vírus ou um desastre radioativo. Deste
modo, a causa original do fenômeno zumbi ocupa o espaço estrutural previamente preenchido pelo
líder hipnótico. Talvez até mais impressionante, neste contexto, seja a curiosa adesão demonstrada
por Night of the Living Dead para com a velha tropa de hipnotizados e sugestionados, por conta do
uso de zumbis lentos e desengonçados. É quase como se os zumbis de Romero experimentassem
algo como vestígios da hipnose sem se darem conta de que não há mais um líder controlando-os
com sugestões.
Assim não fica claro, no inovador filme de Romero, até que ponto nós realmente
transitamos de uma lógica da sugestão organizada verticalmente para uma lógica do contágio
organizada horizontalmente. Em muitos filmes de zumbis – e Night of the Living Dead não é uma
exceção – a causa primeira é quase sempre descrita superficialmente, como se fosse uma mera
consideração a posteriori.67
Do ponto de vista de um coletivo político radical, o desafio para os
filmes de zumbis contemporâneos é encontrar um meio de eliminar completamente esta causa
transcendente, para assim localizar a fonte do fenômeno do contágio no corpo político por si só.
Nos momentos finais desse ensaio, eu até proponho uma interpretação alternativa sobre a
obrigatoriedade de alguma causa primeva, assim, tento posicioná-la mais diretamente no interior de
uma descentralizada e não hierárquica lógica do contágio.
No capítulo intitulado, “The Leaders of Crowds and the Means of Their Persuasion,” Le
vampiros, Waller traça uma evolução que é estruturalmente similar àquela que eu tracei aqui entre os filmes de zumbis
pré e pós Romero. Para ele, a “horda primitiva” encontrada em Dracula de Stoker é “governada por um líder superior”
(277), enquanto os zumbis em Night of The Living Dead são “doentes, autômatos dirigidos por seus instintos [que]
caminham pela terra sem um líder” (280).
67
Sobre Night of the Living Dead, Dendle escreve, “Os distribuidores não lançariam o filme até que a equipe de
produção apresentasse algum tipo de explicação para o fenômeno (…) consequentemente, as referências ao satélite
exploratório enviado à Vênus que voltou trazendo um misterioso alto nível de radiação.” Dendle, The Zombie Movie
Encyclopedia, 121. Como Waller salienta, “Afirmar que uma ‘radiação misteriosa’ provoca de alguma forma
inexplicável que os mortos vagem pela terra em busca de carne humana é, afinal, um pouco melhor do que nenhuma
explicação.” Waller, The Living and the Undead, 275.
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Bon identifica três maneiras para que a sugestão do líder possa ser propagada com sucesso através
de uma multidão: afirmação, repetição e contágio.68
Na verdade, neste último termo, o líder não está
mais envolvido de uma forma significativa, uma vez que ele tenha afirmado uma noção e, então, a
repetido várias e várias vezes, ela escapa de suas mãos e o controle é assumido pelo automático e
determinístico processo do contágio. O significado dos termos afirmação e repetição seria
autoevidente e Le Bon perde pouco tempo explicando-os. No entanto, sua discussão sobre o
contágio vale a pena transcrevê-la em detalhes, pois ele rapidamente desliza para uma linguagem
microbiológica que se assemelha fortemente com os mitos zumbis:
Quando uma afirmação foi suficientemente repetida e há unanimidade nesta repetição (…) se forma aquilo que
é chamado de uma corrente de opinião e intervém o poderoso mecanismo do contágio. Ideias, sentimentos,
emoções, crenças possuem na multidão um poder de contágio tão intenso quanto o dos micróbios. Este
fenômeno é bastante natural, sendo até mesmo observado em animais quando eles formam um conjunto (…).
Um pânico que tenha dominado um punhado de ovelhas logo se estenderá para todo o rebanho. No caso de
homens reunidos em uma multidão, todas as emoções são muito rapidamente contagiadas, o que explicaria ondas
repentinas de pânico.69
Quando nós desvinculamos a sugestão do contágio, ou os efeitos do líder dos efeitos dos
membros da multidão uns sobre os outros, nós vemos que, tal como é o caso das multidões de
zumbis cinematográficos, o contágio passa a ser um fenômeno quase antipsicológico, algo que está
presente num nível elementar da biologia animal, ou até mesmo num nível, ainda mais fundamental,
dos micróbios.
A ligação de multidões com micróbios ou células é comum nas antigas teorias sobre as
multidões. Em seu resumo do livro de Wilfred Trotter sobre o “instinto de horda,” Freud escreve,
por exemplo, que o conceito de instinto de horda é, na realidade, uma “extensão dos organismos
multicelulares … uma expressão da inclinação … de todas as criaturas vivas similares a se unirem
em unidades mais amplas.”70
Em um artigo para o The Atlantic Monthly de 1895, Boris Sidis expõe
sobre a organização celular das multidões, argumentando que, como todo “organismo inferior, as
multidões possuem um enorme poder de propagação.”71
“Sob condições favoráveis,” ele continua,
“as multidões se multiplicam, crescem e se propagam com uma fúria incrível.”72
Mesmo um escritor
recente tal como Aaron Lynche usa uma linguagem que ressoa com a inclinação viral e
bacteriológica dos filmes de zumbis, assim, ele compara o “contágio (social) de uma ideia” com um
“vírus em uma rede de computadores ou um vírus gripal em uma cidade.”73
Como estes outros
vírus, ele escreve, “pensamentos contagiosos proliferam por serem efetivamente ‘programados’ para
sua retransmissão.”74
68
Le Bon, The Crowd, 78.
69
Ibid.
70
Freud, “Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” 72.
71
Boris Sidis, “A Study of the Mob,” The Atlantic Monthly, Fevereiro de 1895, 192.
72
Ibid.
73
Aaron Lynch, Thought Contagion: How Beliefs Spreads Through Society (New York: Basic Books, 1996), 2
74
Ibid.
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Apesar de o contágio, nos exemplos acima, ainda ser representado negativamente, enquanto
uma força que precisa ser limitada e contida, trabalhos mais recentes tais como The Wisdom of
Crowds75
de James Surowieck e Smart Mobs76
de Howard Rheingold, para nomear apenas alguns,
propõem que as redes sociais interligadas tecnologicamente seriam em essência um campo de
contágio e um meio possível para a cooperação descentralizada e coletiva. Em seu ensaio
“Networks, Swarms, Multitudes,” Eugene Thacker nos previne contra o ingênuo “utopismo tecno,”
enquanto sua noção de “vida em rede” descreve um espaço descentralizado, dinâmico e intensivo de
entrelaçamento que pode atuar de forma concatenada com aquela outra, potencialmente radical,
rede de “não-vivos:” o enxame zumbi.77
Enquanto a lógica da sugestão nos oferece o “eu semiacordado,” representado nos filmes de
zumbis por olhos fixos e mortos, além de um caminhar desengonçado e sonâmbulo. O contágio, por
sua vez, nos proporciona um meio de representação da rápida propagação e contaminação de um
vírus. Assim, com a desconexão destas duas lógicas, o zumbi perde a aparência de sonâmbulo
hipnotizado e pode adquirir movimentos rápidos, tal como em Zombieland (2009),78
e às vezes até
mesmo inteligência. (Em Burial Ground [1980]79
um dos zumbis usa uma foice para decepar uma
cabeça, por exemplo.) Esta parece ser uma tendência progressiva, como se, conforme suas
implicações, o zumbi cinematográfico estivesse se tornando mais apto mental e fisicamente.
Particularmente, nós encontramos zumbis rápidos e sofisticados em Nightmare City (1980)80
de Umberto Lenzi. Neste filme, um desastre radioativo provoca uma invasão massiva daquilo que
talvez seja melhor chamar de “seres” contagiosos. Fiel à tradição pós Romero, o desastre radioativo
causa a perda de células vermelhas nos infectados, por conta de precisarem ser reabastecidos, eles
procuram sangue fresco. Naturalmente, quando um zumbi morde o pescoço de um humano para se
alimentar, este se torna também um infectado. Lenzi afirma na entrevista incluída no DVD que ele
estava preocupado em mostrar um vírus se espalhando de forma verossímil. Nightmare City
apresenta zumbis em todos os estágios da contaminação e, em geral, enquanto o filme progride,
mais e mais zumbis são adicionados à tela. Esta tendência culmina em uma das cenas finais, na qual
um grupo de uma centena ou mais de zumbis corre por um campo e é enquadrado de uma posição
privilegiada, do alto de um helicóptero. Assim, o contágio parece ter se espalhado tão amplamente
que a câmera deve buscar alturas extremas para abarcar uma multidão inteira de zumbis num só
quadro.
75
James Surowiecki, The Wisdom of Crowds (New York: Anchor, 2004).
76
Howard Rheingold, Smart Mobs: The Next Social Revolution (Cambridge: Perseus 2009).
77
Eugene Thacker, “Networks, Swarms, Multitudes” CTheory.net, 18 de maio, 2004, acessado em: 28 de nov. de 2010,
http://www.ctheory.net/articles.aspx?id=422.
78
Zombieland, DVD, dirigido por Ruben Fleischer (Culver City, CA: Sony Pictures, 2009).
79
Burial Ground, DVD, dirigido por Andrea Bianchi (1980; New York, NY: Shriek Show, 2002).
80
Nightmare City, DVD, dirigido por Umberto Lenzi (1980; West Hollywood, CA: Blue Underground , 2008).
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Porém as semelhanças entre os seres contagiosos de Lenzi e os zumbis típicos acabam aqui.
Conforme Lenzi salienta na entrevista, suas criaturas não são zumbis tradicionais; ele até mesmo
hesita em dar a eles um nome explícito, afirmando para simplesmente “chamá-los do que vocês
quiserem.” Tal como os soldados de Revolt of the Zombies, os seres de Lenzi não se levantaram da
morte, sendo meros humanos infectados. Em uma cena central, o protagonista Miller e sua esposa,
Anna, não percebem que seus amigos são zumbis, porque eles ainda se parecem com os humanos.
Neste contexto, Dendle criticou o filme por sua maquiagem barata (a qual geralmente consistia em
pouco mais do que manchas aleatórias de um óleo),81
mas tal crítica parece não ter tanto sentido,
pois se baseia numa ideia que o próprio filme de Lenzi aparenta desafiar – a saber, que zumbis e
humanos são seres ontologicamente distintos. Os zumbis de Lenzi movimentam-se como humanos,
usam ferramentas e improvisam armas como humanos e até trabalham juntos para realizarem
tarefas complexas, muitas vezes, tal como veremos, melhor do que humanos. De fato, em seus
ataques cuidadosamente orquestrados contra estabelecimentos fundamentais para o poder, como
emissoras de TV, redes de abastecimento da cidade, hospitais e, até mesmo, uma base militar, as
criaturas de Lenzi se parecem muito mais com sabotadores políticos ou membros de uma
organização esquerdista radical, como a Weathermen, do que com zumbis tradicionais.
Conforme eu argumentarei, a atitude de Lenzi em relação a estas criaturas contagiosas,
“chame-os como você quiser,” é significativa enquanto um modelo para a ação coletiva. Agamben
escreve que “a comunidade que vem” não será baseada em propriedades ou predicados
compartilhados (no caso dos zumbis: não-mortos, lentos e sem alma), mas antes, por um simples
efeito de nomeação, do “ser-dito.”82
O coletivo francês radical, Tiqqun, desenvolve detalhadamente
em sua obra Introduction to Civil War (2010) os postulados de Agamben em relação à coletividade
futura, um trabalho que aparecerá nos comentários finais deste ensaio.83
Aqui, eu somente quero
salientar que por nos dizer “chame-os como você quiser,” Lenzi revela uma falta geral de interesse
por distinções classificatórias e, então, identifica o zumbi, não como uma criatura com esta ou
aquela característica essencial, mas como aquilo que Tiqqun, seguindo Wittgenstein, chama de
“forma-de-vida.”84
A ideia de que os zumbis de Lenzi não são seres ontologicamente distintos – que eles não
estão interligados com base em um conjunto de qualidades compartilhadas – se torna mais
importante quando nós examinamos suas relações com os protagonistas humanos, de um lado, e
com os regimes de biopoder, de outro. Como outros filmes dos anos de 1970 e 1980,
particularmente aqueles com óbvias conotações políticas, Nightmare City posiciona os zumbis no
81
Dendle, The Zombie Movie Encyclopedia, 36.
82
Agamben, The Coming Commnity, iii.
83
Tiqqun, Introduction to Civil War.
84
Ibid., 16.
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mesmo lado dos protagonistas humanos, pois ambos, zumbis e humanos, estão engajados em um
conflito mais amplo contra a mídia, os militares, o governo e o complexo médico/científico. A
maior dificuldade, como nós veremos, é que os humanos não encontram uma posição própria nesta
nova distribuição de seres.
Em uma cena inicial, logo após a invasão zumbi ter começado, o protagonista, um repórter
de TV chamado Miller, se envolve em uma calorosa discussão com seu chefe e com o general
Hutchison, do departamento de defesa. Os dois últimos concordam que o surto deve ser mantido em
sigilo do público. Com um tom explosivo, o liberal Miller argumenta que é seu dever como repórter
“manter o público informado.” O general responde com uma questão retórica: “Você está consciente
dos protestos que aconteceriam após esta notícia?” Esta resposta é significativa porque ela revela
que, da perspectiva liberal de Miller, trata-se de uma injustiça comparar as massas de influenciáveis
telespectadores com os zumbis contagiosos. Porém, se o público descobrir sobre a crise, de acordo
com o pensamento do general, um pânico massivo se espalhará no corpo político e o Estado será
forçado a conter dois separados, mas estruturalmente análogos surtos “virais:” o dos humanos
histéricos e dos zumbis infectados. Portanto, o Estado se encontra agora posicionado contra dois
potenciais inimigos.
Eu penso que para entender o significado deste novo contexto político, nós deveríamos nos
concentrar na causa do fenômeno zumbi. Como em Night of the Living Dead, o advento do vírus
radioativo ocorre fora da tela, antes da própria ação da narrativa. O vírus, o ímpeto inicial do surto e
o momento de fundação do filme por si mesmo, parece ser uma relutante concessão à lógica de
causa e efeito que o diretor preferiria não ser obrigado a realizar. O interesse real está nos zumbis e
naqueles que se importam com os motivos por eles terem ficado daquele modo. Assim, aquilo que
está relacionado ao causador específico do surto viral (uma droga elaborada cientificamente, um
componente químico de um meteoro, um ritual vodu) é imaterial em um sentido bastante específico
e formal. O que o vírus radioativo representa, o que ele cria materialmente, é uma clara divisão
entre “amigos” e “inimigos.” O vírus radioativo não tem sentido por si mesmo, parecendo tão
superficial neste e em tantos outros filmes de zumbi porque, nas palavras de Agamben, trata-se
“daquilo que é mais difícil de pensar: a absoluta falta de experiência para com a pura
exterioridade.”85
Então, em Nightmare City, o vírus radioativo simplesmente tornou manifesta a guerra civil
que estava sempre presente, embora em estado de latência. Com o despertar do vírus, Miller, o
repórter, já não pode negar que ele está numa posição diametralmente oposta ao do proprietário da
TV para a qual trabalha. Além disso, o relacionamento obscuro entre a mídia e os militares se torna
terrivelmente evidente com ambas as partes em conluio para confundir o público. Então, o vírus ao
85
Agamben, The Coming Community, vxi.
Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 19
separar a multidão dos regimes de biopoder torna legível aquilo que Jacques Rancière chama de
nova “distribuição do sensível”86
. Esta nova distribuição do sensível, este puro evento do exterior,
opera como um “chamado” que estabelece uma fronteira vibrante “entre o Estado e o não-Estado.”87
A grande incapacidade por parte dos humanos, a este respeito, é sua dependência para com a lógica
dos essencialismos que separa os seres de acordo com suas “condiç[ões] de pertencimento (ser
ruivo, ser italiano, ser comunista).”88
Por isso, nós vemos uma justiça poética nas manchas desleixadas de óleo de motor que
indicam a mínima diferença formal entre os supostamente vivos e os paradoxalmente mortos
animados. Como um puro evento do exterior, o vírus não faz nada mais do que indicar, nomear ou
designar uma divisão entre os que estão no poder dos que são seus antagonistas. Conforme Ernesto
Laclau argumenta, “o povo” não expressa uma realidade sociológica já constituída (uma classe
particular, uma raça, uma nação, mas “na verdade constitui o que se expressa no próprio processo
de enunciação.”89
Nós estamos imensamente enganados se insistirmos, tal como os protagonistas
humanos de Nightmare City, em ver os zumbis como um grupo previamente constituído ao qual
alguém poderia pertencer com base em determinadas propriedades. “Zumbi” aqui é nada mais ou
nada menos do que o nome de uma nova conceituação para “o povo,” “a multitude” - chame eles
como você quiser.
De acordo com sua entrevista, Lenzi não permitiu, contrariamente às especificações do
roteiro original, que os protagonistas humanos alcançassem alguma segurança no final do filme.
Depois do helicóptero o resgatar, Miller acorda como se tivesse tido um pesadelo e o drama
completo reinicia com a repetição da invasão inicial de zumbis. De um lado, esta decisão de Lenzi é
puramente prática: se os humanos falharam em conter o vírus, não haveria mais nenhum lugar
possível para escapar. De outro lado, a improvisação de Lenzi é política e tematicamente sensata: o
drama pode se repetir mais e mais vezes até os humanos reconhecerem sua solidariedade intrínseca
com os “zumbis” infectados. Miller será forçado a reviver este cenário até ele fazer a escolha
correta – até, em outras palavras, ele perceber que ele está no mesmo lado dos zumbis contra o
Estado.
Freud nunca duvidou da eficácia dos agrupamentos humanos, mas ele via claramente que os
grupos humanos eram fundados em uma identificação enraizada em algo mais primitivo como a
rivalidade, o ciúme e a inveja.90
Tal identificação humana baseada na rivalidade é construída sobre
um a priori, ou seja, uma lógica que elabora propriedades de pertencimento com as quais alguém
pode se incluir. Por contraste, os “seres” de Lenzi não são mais do que uma resposta ao apelo vazio
86
Jacques Ranciere, Dissensus: On Politics and Aesthetics, ed. e trad. Steven Corcoran (London: Continuum, 2010), 36.
87
Agamben, The Coming Community, xix.
88
Ibid.
89
Laclau, On Populist Reason, 99.
90
Freud, “Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” 75.
Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 20
do exterior, representado aqui por um vírus radioativo que cria uma divisão entre o Nós e o Eles.
Este parece ser o único modo apropriado para interpretar todas as falhas na ação dos coletivos
humanos: desde os dançarinos coreografados com suas roupas padronizadas que são aniquilados ao
vivo na TV, passando pelos médicos e enfermeiras mortos no meio de uma cirurgia, até o grupo de
humanos histéricos presos em um elevador. Todos estes grupos humanos falham, precisamente
porque eles não conseguem ver que a distinção real não é entre humanos e zumbis, mas entre Nós e
Eles.
Lenzi insiste que o vírus radioativo é para ser visto como um presságio, uma visão ficcional
da epidemia de AIDS. Não importa se aceitamos como verdade ou não a reivindicação de prenúncio
de Lenzi, mais produtiva para nosso entendimento sobre as possibilidades de ação dos coletivos
humanos é a ideia de que zumbis não são entidades ontologicamente diferentes, mas meros
humanos afligidos por um vírus que alterou sua existência. Nós deveríamos vê-los, em outras
palavras, como tocados ou animados por uma nova “forma-de-vida,” que Tiqqun designa como a
“união humana elementar.”91
Os zumbis de Nightmare City não se identificam uns com os outros,
nem possuem a experiência da rivalidade ciumenta que é a fonte necessária para tal identificação.
Ao contrário, os “zumbis” de Nightmare City são, nas palavras de Tiqqun, “mais fiéis à [suas]
predisposições do que aos [seus] predicados.”92
O fato desta predisposição ser uma predisposição
por sangue fresco não nos impede de aprendermos com eles uma lição sobre o futuro da ação
coletiva. As criaturas de Lenzi, por assumirem sua “desubjetivação”93
viral, por se tornarem
“anônimos,”94
por se tornarem “uma singularidade qualquer,”95
demonstram que o ato de apresentar
uma nova forma-de-vida “espontaneamente manifesta … sua comunidade de pertencimento,”96
transformando a obscura relação de hostilidade em uma inimizade genuína.97
Os zumbis ao
apresentarem esta nova forma-de-vida constroem um vibrante campo de “guerra civil” entre amigos
e inimigos, enquanto os humanos permanecem presos, no meio do caminho, entre serem hostis ao
governo ou aos infectados que o poder quer erradicar.
Os zumbis de Lenzi representam para nós a “formação contagiosa” que é a organização
coletiva ideal do programa anarquista de Tiqqun.98
Tal formação contagiosa, em que “amigos e
inimigos” ganham vida e “se fazem inteligíveis uns aos outros,”99
pode emergir por causa da
indeterminação constitutiva dos zumbis. Isso os deixa abertos para um puro evento da
91
Tiqqum, Introduction to Civil War, 16.
92
Ibid., 23.
93
Ibid., 204.
94
Ibid., 206.
95
Ibid., 205.
96
Ibid., 181.
97
Ibid., 31.
98
Tiqqum, Introduction to Civil War, 179.
99
Ibid.
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“exterioridade” que possibilita o rompimento com os limites da lógica humana da “identidade”
coletiva baseada em propriedades.
Eu quero encerrar esta discussão dos zumbis enquanto um modelo para a organização
coletiva com uma breve consideração sobre as “paradas zumbis,” uma prática que pôs este modelo
em ação de uma forma bastante literal e dramática. De acordo com o ensaio de Simone do Vale
“Trash Mob: Zombie Walk and the Positivity of Monsters in Western Popular Culture,” a primeira
parada zumbi ocorreu em Toronto em 2003 e incluiu somente seis participantes que se vestiram de
acordo com seus filmes de zumbi favoritos e vagaram pelas ruas, primeiramente, para satisfazer seu
desejo de entretenimento.100
Desde então, graças às novas tecnologias sociais, o fenômeno tem se
espalhado, com paradas zumbi sendo sediadas em todo o mundo.101
Embora ela distingua as paradas zumbis das “aglomerações rápidas,” Vale ainda as vê como
uma celebração do “poder enquanto massa”102
dos participantes. Apesar do fato de que muitas
vezes, em anos recentes, as paradas zumbis ocorreram como ações de caridade, parece que é a
própria indeterminação ao redor do fenômeno que permite que ele assuma vários significados
políticos. Como uma típica aglomeração rápida, em outras palavras, a parada zumbi poder ser
analisada como a manifestação do significado vazio do social por sí mesmo, demonstrando,
essencialmente, nada mais do que a habilidade das pessoas em organizarem-se em massa.
No convite aos zumbis são divulgadas listas de discussão e sites da internet devotados às
paradas zumbis. Neles, o termo “zumbi” opera como aquilo que Ernesto Laclau, em seu livro sobre
o populismo, chama de um “significante vazio,” um termo que “pode ser anexado aos mais diversos
conteúdos sociais,” precisamente porque ele não tem “o seu próprio conteúdo”103
particular. Na
página da internet da Toronto Zombie Walk, por exemplo, nenhuma orientação específica é dada a
respeito de fantasias e maquiagem.104
Em uma típica parada zumbi, “[c]ada zumbi,” nas palavras de
um escritor, deve decidir “por ele ou ela mesma qual 'tipo' de zumbi interpretar.”105
Aqui, predicados
particulares (zumbi caipira, zumbi rainha de formatura, zumbi que escapou do hospital) são muito
menos importantes do que o mero fato de “ser-dito.”106
Desta maneira, a parada zumbi constrói um
campo de guerra civil, que divide o supostamente “vivo” e isolado, espectador individual, do
coletivo de não-mortos. Esta multitude zumbi, finalmente, é ela mesma “animada” peculiarmente
100
Simone do Vale, “Trash Mob: Zombie Walk and the Positivity of Monsters in Western Popular Culture,” There Be
Dragons Out There: Confronting Fear, Horror, and Terror, editado por Shona Hill and Shilinka Smith (Oxford: Inter-
Disciplinary Press, 2009), 131, acessado Agosto 27, 2010, http://inter-disciplinary.net/wp-
content/uploads/2009/11/FHT-2-Final.pdf#page=143.
101
Ibid.
102
Ibid., 136
103
Laclau, On Populist Reason, 76.
104
Toronto Zombie Walk, http://www.torontozombiewalk.ca/index.html.
105
Dan Linehan, “Zombie Walk: Death Imitates Art,” The Mankato Free Press, Julho 6, 2009, acessado Agosto 27,
2010, http://mankatofreepress.com/local/x1048527008/Zombie-walk-Death-imitates-art.
106
Agamben, The Coming Community, iii.
Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 22
por um puro chamado linguístico para celebrar o significado vazio da sociabilidade.
A parada zumbi é uma última prova física da substituição dentro dos mitos zumbis, de uma
lógica da sugestão para uma lógica do contágio. As próprias páginas da internet e listas de discussão
que “convidam” as multidões zumbis são elas mesmas múltiplas e fugazes. Seus organizadores
permanecem em grande parte anônimos, preferindo negar suas funções óbvias de promotores para
se misturarem na horda indiferenciada. Nós precisamos entender que o termo “zumbi” não tem
importância por si mesmo. O importante é que, por agora, “zumbi” efetivamente opera como um
“significante vazio,” capaz de pôr em circulação um campo ativo e global, dividindo aqueles que
respondem ao chamado – em “qualquer” estilo – e aqueles que não.

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Psicologia de Massas e Análise do Zumbi: da sugestão ao contágio

  • 1. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 1 Psicologia de Massas e Análise do Zumbi: da sugestão ao contágio Phillip Mahoney* Tradução: Rodrigo Belinaso Guimarães O espírito de massa cresce e se expande a partir de cada inclusão de um novo membro humano. Como um canibal, ele se alimenta de seres humanos. - Boris Sidis A realização de uma Festa do Imaginário ocorre na formação – uma formação contagiosa – de um plano de coerência onde amigos e inimigos podem livremente disporem de si mesmos e se fazerem inteligíveis uns aos outros. - Tiqqun Zumbis e Multidões Na atualidade, a íntima conexão entre zumbis e multidões se manifesta tanto nos filmes de zumbis quanto nos discursos populares da psicologia de massas. Uma vez que George Romero pavimentou a associação até então inexistente entre hordas de zumbis com multidões ensandecidas, se tornou comum nos filmes de zumbis a utilização de imagens de públicos hipnotizados, de fugas em massa e de protestos políticos, muitas vezes até mesmo em suas cenas de abertura, tal como em 28 Days Later (2002)1 e na regravação de Dawn of the Dead2 (2004) de Zack Snyder. Além disso, possivelmente como resultado da intervenção revolucionária de Romero nos filmes de zumbis, críticos culturais em geral empregam uma retórica zumbificante quando descrevem multidões como autômatos hipnotizados e como facilmente manipuladas por aqueles que estão no poder.3 Em outras palavras, nos dias atuais, comparar massas e multidões com zumbis é uma prática massiva e não um rito exclusivo da elite intelectual. Dessa forma, a própria capilaridade deste entrelaçamento retórico por conta de sua lógica aparentemente intuitiva ameaça naturalizá-lo, obscurecendo suas contingências históricas. Para piorar, na atualidade, a comparação rápida e irrefletida entre zumbis e multidões é quase sempre pejorativa. Assim, a releitura dos discursos da antiga psicologia das multidões nos permitirá revelar aspectos cruciais do processo pelo qual estes dois personagens, zumbis e multidões, foram unificados na consciência ocidental contemporânea. Esta retomada também nos ajudará a construir * Doutorando da Temple University, onde estuda representações sobre coletivos na literatura americana. 1 28 Days Later, DVD, dirigido por Danny Boyle (Londres: DNA Films, 2002). 2 Dawn of the Dead, DVD, dirigido por Zack Snyder (Universal City, CA: Universal Studios, 2004). 3 Uma simples pesquisa no Google é suficiente para ilustrar esse aspecto. Um artigo no site Kill Your Television fala da criação de “zumbis das redes”, enquanto, em um debate com Bill O'Reilly, Glenn Beck fatidicamente refere-se aos seus próprios espectadores como zumbis. No CSRwire, John Rooks diagnostica o “consumismo zumbi” e, finalmente, um novo livro conservador alerta contra aquilo que o autor chama de “Zumbis do Obama”. Ver Ron Kaufman, “The Creation of Network Zombies,” Kill Your Television, 1997, http://www.turnoffyourtv.com/ commentary/network.zombies.html; Foster Kamer, “Bill O'Reilly Calls Glenn Beck Insane, Glenn Beck Calls his Viewers 'Zombies,'” Gawker, 25 de Agosto, 2009, http://gawker.com/5378821/bill-oreilly-calls-glenn-beck-insane- glenn-beck-calls-his-viewers-zombies; John Rooks, “Zombie Consumerism,” CSRwrite, 29 de Setembro, 2009, http://www.csrwire.com/csrlive/commentary_detail/1179-Zombie-Consumerism; Jason Mattera, Obama Zombies: How the Liberal Machine Brainwashed My Generation (New York: Threshold, 2010).
  • 2. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 2 um vocabulário que explore os aspectos positivos desta identificação. Sendo assim, eu começarei indicando alguns dos pontos mais visíveis da convergência entre os mitos zumbis com a psicologia das multidões, para enfim, focar minha análise no uso de dois conceitos centrais da antiga psicologia das multidões que também podem ser visualizados nos filmes de zumbis: sugestão e contágio. Meu argumento é que no curso das mudanças históricas nos filmes de zumbis, o zumbi sofreu uma transição de uma criatura sugestionável para uma contagiosa. Ao ler o ambiente ficcional dos filmes de zumbis acompanhado do discurso “científico” da psicologia das multidões prometo fazer mais do que simplesmente expandir nosso conhecimento das trivialidades destes filmes. Assim, procurarei demonstrar como os filmes de zumbis podem oferecer modos de se refletir sobre alguns dos impasses clássicos da psicologia das multidões e sobre as teorias da ação coletiva. Minha argumentação não aponta simplesmente para o fato de que os críticos de filmes de zumbis deveriam estudar melhor psicologia das multidões, mas ao contrário, os psicólogos das multidões prestam a eles mesmos um grande desserviço ao ignorarem os mitos da cinematografia zumbi. Crucial a esse respeito é o meu argumento de que o deslocamento da lógica da sugestão para a do contágio indica uma concomitante substituição da figura do líder tirânico em favor de uma relação horizontal e coletiva entre membros iguais. Lido deste modo, a típica visão distópica da coletividade zumbi passaria por uma reformulação utópica. O zumbi, eu argumento, é um poderoso personagem das multitudes, uma vez que desafia o nosso imaginário sobre a vida coletiva, não através de conceitos humanísticos e psicológicos de simpatia e identificação, mas através de termos ligados àquilo que o coletivo radical francês Tiqqun chama de “formação contagiosa.”4 A psicologia das multidões não se tornou um discurso amplamente conhecido até a publicação em 1895 de The Crowd do sociólogo conservador francês, Gustave Le Bon. Enquanto outros escritores tinham refletido sobre as multidões desde o início daquele século, ironicamente, a crítica mordaz de Le Bon às multidões foi a mais acessível à massa de leitores. Anunciando o despertar de uma nova “era das multidões” na civilização ocidental,5 o trabalho de Le Bon lastimava o inevitável deslocamento do “direito divino dos reis” para o “direito divino das massas” e previa nada menos do que a completa destruição da sociedade.6 4 Tiqqun, Introduction to Civil War, trad. por Alexander R. Galloway and Jason E. Smith (Los Angeles: Semiotext(e), 2010), 179. O coletivo anônimo Tiqqun está muito provavelmente conectado aos autores do The Coming Insurrection (2009), um livro atribuído ao igualmente obscuro Invisible Committee, que ganhou alguma atenção nos EUA depois de ser negativamente criticado por Glenn Beck em seu programa. Para mais informações, ver Judith Rosen, “Glenn beck Helps Turn Anarchist Book into Bestseller,” Publishers Weekly, 18 de Fevereiro, 2010, acessado em 8 de junho, 2010, http://www.publishersweekly.com/pw/by-topic/industry-news/publisher-news/article/42133-glen-beck-helps-turn- anarchist-book-into-bestseller.html; Alberto Toscano, “The Story of the Tarnac 9,” Organic Consumers Association, 11 de janeiro, 2009, acessado em 8 de junho, 2010, http://www.organic-consumers.org/articles/article_19366.cfm. 5 Gustave Le Bon, The Crowd: A Study of Popular Mind (Mineola, NY: Dover, 2002), x. Originalmente publicado em 1895 como Le psychologie des foules. 6 Ibid., xi.
  • 3. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 3 No ano seguinte, The Crowd foi traduzido para o inglês e se tornou disponível nos EUA, onde influenciou uma série de sociólogos, tal como Franklin Giddings, Boris Sidis, James Mark Baldwin e Edward Ross,7 muitos dos quais escreviam em publicações populares tais como The Atlantic Monthly e The Popular Science Mouthly. Apesar do fin-de-siècle nos EUA ter sido caracterizado por greves de trabalhadores, linchamentos e aglomerações urbanas, a “multidão” se tornaria uma figura retórica para estes escritores, principalmente, porque ela oferecia a possibilidade de um melhor entendimento das mais amplas e mais abstratas coletividades, particularmente o público nacional de eleitores.8 Nesse sentido, o termo “psicologia das multidões” é de algum modo impróprio, tal como o de “multidão”, pois na maioria das vezes é usado, não para um agregado de corpos fisicamente próximos, mas para virtualmente toda e qualquer forma de coletividade humana concebível: raça, classe, públicos, nações e telespectadores. Em geral, por causa de sua inclinação conservadora, a antiga psicologia das multidões assumiu muitas vezes um estilo apocalíptico e um tom que antecipou as representações de grandes invasões zumbi. A maior parte dos escritores concordou com Le Bon, ou seja, a supremacia das multidões representava uma terrível ameaça, senão como no caso de Le Bon, para a sociedade aristocrática, ao menos para a sociedade democrática organizada. A psicologia das multidões formulou a noção de multidão combinando os discursos da criminologia italiana, da psiquiatria francesa e da biologia evolucionista. Nas palavras de Boris Sidis, tal qual um legítimo “demônio dos demônios” capaz de arrastar “o corpo político em direção a convulsões de fúria demoníaca.”9 Ao fim, filmes de zumbis posteriores, particularmente, The Last Man on Earth (1964),10 tornariam literárias as noções metafóricas de Sidis sobre o corpo político possuído por demônios. Talvez seja este medo subjacente das multidões que inspirava os excessos discursivos encontrados nos trabalhos dos antigos psicólogos das multidões. Em seus esforços para compreender a multiplicidade caótica das multidões, não foi suficiente para Le Bon comparar a multidão com “mulheres, selvagens e crianças”11 ; ele precisa se valer também de metáforas com células,12 animais,13 engrenagens14 e bactérias15 . Então, quando Le Bon atribui à multidão uma tendência de associar “coisas dessemelhantes que possuem uma conexão meramente aparente,”16 ele estaria simplesmente externando seus próprios pensamentos em relação ao fenômeno. O próprio 7 Ericka G. King, “Reconciling Democracy and the crowd in Turn-of-the- Centary American Social-Psychological Thought,” Journal of the History of the Behavioral Sciences 26 (Fevereiro 1990): 334. 8 Ibid., 338. 9 Boris Sidis, The Psychology of Suggestion: A Research into the Nature of Man and Society (New York, Appleton, 1898), 313. 10 The Last Man on Earth, DVD, dirigido por Ubaldo Ragona (1964; Los Angeles: 2007). 11 Le Bon, The Crowd, 10. 12 Ibid., 4, 72. 13 Ibid., 78. 14 Ibid., 8. 15 Ibid., 78. 16 Ibid., 34.
  • 4. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 4 conceito de multitude parece encorajar uma superprodução retórica, como se nenhuma simples metáfora, alusão ou definição pudesse representá-la. A este respeito, não é incomum os antigos analistas das multidões invocarem o sublime imaginário da natureza para ajudá-los a representar aos seus leitores a incipiente imagem da multidão. Le Bon descreve o indivíduo na multidão como um “grão de areia entre outros grãos de areia, que o vento agita a vontade.”17 Em seu ensaio de 1897 publicado na Popular Science Monthly, intitulado “The Mob Mind,” Edward Ross recorre ao imaginário marítimo para ilustrar a volúvel mentalidade das massas norte-americanas, as quais “estão à deriva sem leme ou âncora” em “ondas” e em “correntes de opinião.”18 Enquanto isso, para Boris Sidis, “a turba é como uma avalanche, quanto mais se movimenta, cresce e se torna mais ameaçadora e perigosa.”19 A ameaça dos muitos pressiona as fronteiras da representação linguística, indeterminando o discurso presumivelmente racional e científico da psicologia das multidões, revelando, em vez disso, ser motivado por uma mistura complexa de fascinação e horror. Esta discursividade excessiva da antiga psicologia das multidões se tornaria, posteriormente, o próprio substrato e ponto focal dos filmes de zumbis, os quais muitas vezes retratam hordas fluindo em massivas e incontáveis marés na paisagem urbana. Conforme Christian Thorne observa: “Filmes de zumbis estão sempre narrando multidões.”20 Zumbis cinematográficos são criaturas grupais, inexpressivas individualmente, mas perigosas em grande número. Dessa forma, é relativamente fácil para um não infectado rechaçar um único zumbi, mas por causa de sua persistência lenta e arrastada, uma multidão de zumbis é normalmente fatal. Em geral, o zumbi cinematográfico permanece perdido no anonimato da multitude, assim, nós raramente nos identificamos com algum ou mesmo lembramo-nos de algum em particular. Esta é talvez uma das mais óbvias e mais importantes diferenças entre os zumbis e outros monstros clássicos do horror. Os zumbis individuais/protagonistas de filmes como Deathdream (1972)21 e I, Zombie: The Chronicles of Pain (1998)22 são, neste aspecto, meras exceções que confirmam a regra. Muito mais comum na atualidade são as hordas vastas e pulsantes, cujo número frustra qualquer tentativa dos expectadores em perceberem uma totalidade reconhecível por fervilharem para além das bordas da tela do cinema. Entretanto, como outros críticos têm notado, o zumbi cinematográfico é literal e figurativamente múltiplo, significando números stricto sensu e um conjunto de ansiedades 17 Ibid., 8. 18 Edward A. Ross, “The Mob Mind,” Popular Science Monthly 51 (1897): 397. 19 Boris Sidis, The Psychology of Suggestion, 303. 20 Christian Thorne, “The Running of the Dead,” Commonplace Book, 24 de julho, 2010, http://people.williams.edu/ cthorne/articles/the-running-of-the-dead-part-1/. 21 Deathdream, DVD, dirigido por Bob Clark (1972; West Hollywood: 2004). 22 I, Zombie: The Chronicles of Pain, DVD, dirigido por Andrew Parkinson (Miami: 1998).
  • 5. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 5 politicamente carregadas.23 Kyle Bishop vê o ressurgimento recente do zumbi nos cinemas como uma expressão do medo largamente difundido de ataques terroristas.24 Em relação aos primeiros filmes de zumbis, Bishop argumenta que referem-se a ansiedades culturais profundamente segmentadas, tal como: “a dominação patriarcal dos brancos, a misógina ameaça da mulher, o colapso da família nuclear e a violência não controlada da Guerra do Vietnã.”25 Adiciona-se a esta lista dificilmente exaurida de metáforas relacionadas aos zumbis: ameaças ambientais e nucleares, doenças (particularmente a AIDS) e, obviamente, revoltas de massa. Estas ameaças, apesar de apresentarem inconsistências lógicas e contradições, são capazes de descrever uma vastidão de perigos. Tal sobredeterminação metafórica dos zumbis a das multidões gera uma confusão considerável quando se trata de definir o objeto em questão. Desse modo, nos discursos que envolvem estas figuras encontra-se a preocupação com distinções classificatórias que raramente fazem mais do que realçar a futilidade de tal esforço.26 Em vez de adentrar em tais debates, talvez seja mais proveitoso determinar o que a falta de um esquema classificatório inflexível poderia nos dizer sobre zumbis e multidões. É possível, em outras palavras, ver a própria ausência de uma única característica determinante como o aspecto mais saliente, positivo, dos zumbis e das multidões.27 O excesso que se encontra em referência aos zumbis e coletivos, aos quais metáforas e figuras de linguagem são empilhadas desordenadamente umas sobre as outras, constitui somente um dos lados de uma aparentemente contraditória estratégia de representação. Embora o primeiro aspecto que os escritores tendem a perceberem sobre as multidões e os zumbis seja esta sublime qualidade de receberem diferentes interpretações. Eu argumentaria que tal sobredeterminação é, de fato, o efeito de uma primordial ausência de conteúdo ou o efeito de um vazio constitutivo. Como figuras do múltiplo, zumbis e multidões, confrontam-nos primeiramente com uma sinistra ausência de características essenciais, sobre a qual nós somos então compelidos a preencher com conteúdos. 23 Kyle William Bishop, American Zombie Gothic: The Rise and Fall (and Rise) of the Walking Dead in Popular Culture (Jefferson: McFarland, 2010), 95. 24 Ibid., 11. 25 Ibid., 95. 26 Embora admita que a “substancial sobreposição entre os vários monstros do cinema evita a possibilidade de uma completa e abrangente definição de um zumbi,” Peter Dendle decide “limitar (sua) cobertura para os filmes em que as criaturas são, na verdade, corpos revividos ou são explicitamente nomeadas como zumbis.” Peter Dendle, The Zombie Movie Encyclopedia (Jefferson, NC: McFarland, 2001), 13. Infelizmente, como o próprio Dendle salienta, isto desqualifica muitos filmes com criaturas que “exibem grande parte dos traços familiares, mas não são, verdadeiramente, corpos reanimados.” Ibid., 13. No caso da literatura sobre multidão, encontra-se um esforço similar para se distinguir entre plebe, desordeiros, massas, públicos, etc. Canetti segue o impulso classificatório o mais longe possível, distinguindo entre “massas de acossamento,” “massas de fuga,” “massas de proibição,” “massas de inversão,” e “massas festivas.” Elias Canetti, Crowds and Power, trad. Carol Stewart (New York: Farrar, Straus and Giroux, 1962), 48. Talvez, a definição arbitrária de Mills seja mais reveladora: “Como uma regra, quando eu descrevo uma multidão eu quero dizer um amontoado que não cabe em uma sala, mas pode, de outro modo, estar agrupado em uma praça.” Nicolaus Mills, The Crowd in American Literature (Baton Rouge: Louisiana State University Press, 1986), 9. 27 Em relação a ideia de que a indeterminação pode ser uma característica positiva para a organização coletiva, estou em débito para com a concepção pós-estruturalista de “populismo” de Ernesto Laclau. Ernesto Laclau, On Populist Reason (Londres: Verso, 2005). Ver, em particular, o capítulo 4, “The 'People' and the Discursive Production of Emptiness.”
  • 6. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 6 No caso da multidão, é o psicólogo social James Mark Baldwin, na virada para o século XX, que nos oferece a versão mais extrema desta característica radical de não possuir qualidades definidoras. No capítulo, “Theory of Mob Action,” de sua ambiciosa obra Social and Ethical Interpretations in Mental Development (1897), Baldwin pergunta: “O homem no interior de um coletivo não pensa? Não tem senso de valores? Não delibera? Não tem autocontrole? Não tem responsabilidade? Não tem consciência? Não tem desejo? Não tem motivos? Não tem propósitos?”28 Obviamente, a resposta imediatamente dada foi: “Não, ele não tem nada.”29 “A consciência sugestionável,” ele continua, empilhando negações sobre negações, “é a consciência que não tem passado, não tem futuro, não tem limites, não tem profundidade, não tem desenvolvimento, não tem referência para com nada; ela é apenas uma engrenagem.”30 O homem na multidão é, muito simplesmente, um homem sem qualidades, um desnaturado, um não-corpo desnudo. Similarmente, as características clássicas do zumbi são normalmente expressas em registros negativos; o zumbi é representado como sem alma, sem consciência, sem vontade, insensível à dor e como indestrutível, então, a própria imortalidade do zumbi (ela mesma uma característica negativa) deve ser entendida negativamente, como “não-morte.” A imortalidade negativamente representada do zumbi e a indeterminação constitutiva da multidão os permitem ocupar um “espaço vazio” dentro da consciência ocidental, onde eles funcionam, nas palavras de Slavoj Zizek, como “contêineres” ideais para hospedarem “medos divergentes, flutuantes, inconsistentes.”31 Fundamentalmente, zumbis e multidões podem de alguma forma ser representantes do que Giorgio Agamben em The Coming Community (1993) chama “vida nua”: uma forma-de-vida conectada, não “por qualquer característica em comum, [ou] identidade,”32 mas através da própria falta de características positivas. Assim, em vez de tentar determinar suas próprias características, modelar suas verdadeiras identidades ou preenchê-los com conteúdos, eu olho atentamente para esta negatividade dos zumbis e das multidões, observando a própria negatividade como um modo de se constituir um novo entendimento sobre a vida coletiva. Da sugestão… A indeterminação do zumbi e da multidão deriva de dois conceitos que tiveram a sua mais detalhada elaboração nos discursos da psicologia das multidões: sugestão e contágio. Depois de listar os três atributos básicos da mente das multidões em conformidade com Le Bon - “um 28 James Mark Baldwin, Social and Ethical Interpretations in Mental Development, 5.ed. (1897; rept. New York: Macmillan, 1913), 246. 29 Ibid. 30 Ibid. 31 Slavoj Zizek, Tarrying with the Negative: Kant, Hegel, and the Critique of ideology (Durham: Duke University Press, 1993), iii. 32 Giorgio Agamben, The Coming Community, trad. Michael Hardt (Minneapolis: University of Minnesota Press, 1993), iii.
  • 7. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 7 sentimento de invencível poder,” “contágio” mental e “sugestibilidade” - Mikkel Borch Jacobsen indica que “o segundo e o terceiro (os mais decisivos na argumentação [de Le Bon]) seriam manifestadamente não-características ou características não especificadas.”33 “Nenhum substrato ou subestrutura,” argumenta Borch-Jacobesen, “porém uma substância muito leve, maleável, plástica, infinitamente receptiva, sem vontade ou desejo ou qualquer instinto específico de si própria,”34 Sobretudo, à multidão de Le Bon não pode nem mesmo ser atribuída qualquer posse de um espírito ou de um caráter. As duas “características” predominantes da multidão, contágio mental e sugestibilidade, representam pouco mais do que a habilidade da multidão em absorver, do exterior, aquilo que seria adequadamente chamado de conteúdos. Embora distintos em suas aplicações, como eu mostrarei em breve, sugestão e contágio são similares no sentido de que ambos possuem algo como “anti-propriedades,” o que conota uma inata e constitutiva “abertura” para influências externas. Desse modo, a multidão é nada mais do que o seu potencial de se tornar alguma coisa. Este é o tom dominante da antiga teoria das multidões. Consequentemente, nós percebemos os antigos psicólogos das multidões agrupando sugestionabilidade e contágio com várias outras definições, tal como a de gregarismo inato, simpatia orgânica e imitação. Todas elas enfatizam a tendência dos membros de uma multidão de absorverem as características e os aspectos “sugestionados” a eles por algum estímulo externo. Le Bon identifica a raiz desta sugestibilidade nas estruturas primitivas do cérebro. Em uma multidão, Le Bon argumenta, pensamentos próprios e conscientes são inibidos, permitindo ao comportamento inconsciente da “raça” se expandir e chegar à superfície. Conforme o autor, os atos da multidão “estão muito mais sobre a influência da medula óssea do que do cérebro,” fazendo com que a multidão “se torne muito parecida com os seres primitivos.”35 Esta tentativa de localizar a sugestionabilidade na parte “primitiva” do cérebro pode, de algum modo, explicar a prevalência do racismo nos antigos filmes de zumbis e, também, a convenção desenvolvida pós Romero de se mirar na cabeça quando se tenta destruir um zumbi. Embora muitos dos norte-americanos seguidores de Le Bon leram sugestão e contágio como sinônimos, eu acompanho Freud quando ele estabelece uma cuidadosa distinção entre os dois termos.36 De acordo com a leitura de Freud, sugestão descreveria a maneira pela qual o líder 33 Mikkel Borch-Jacobsen, The Freudian Subject, trad. Catherine Porter (Stanford, CA: Stanford University Press, 1988), 139. 34 Ibid. 35 Le Bon, The Crowd, 11. 36 “Não temos intenção de contradizer Le Bon, mas queremos apenas dar ênfase ao fato de que as duas últimas causas pelas quais um indivíduo se modifica no interior da massa, nomeadamente o contágio e a alta sugestionabilidade, não são evidentemente a mesma coisa… Possivelmente o melhor meio de interpretar o que ele afirma seja relacionando o contágio aos efeitos que os membros da massa, tomados individualmente, têm uns sobre os outros, enquanto para as manifestações da sugestão na massa, estas são semelhantes ao fenômeno da influência hipnótica, apresentando, assim, uma diferente fonte.” Sigmund Freud, “Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” Mass Psychology and Other Writings, trad. J. A. Underwood (London: Penguin, 2004), 24. Originalmente publicado como Massenpsychologie Und Ich- Analyse (Zurich: Internationaler Psychoanalytischer Verlag, 1921).
  • 8. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 8 influenciaria a multidão impressionável, por sua vez, o contágio indicaria os efeitos que cada membro da multidão teria sobre os demais. Embora, os dois fenômenos pressuponham a impressionabilidade e instabilidade como componentes básicos das multidões, eles se expandiriam em direções divergentes. A sugestão pode ser descrita como um fenômeno vertical, expressando a relação do líder para com a multidão, enquanto o contágio representa o movimento horizontal através do qual a sugestão original do líder se espalharia, como uma doença, por todo o corpo da multidão. Desse modo, tal como se presume das observações acima, sugestão e contágio designam uma clara sequência temporal: primeiro, o líder planta “sugestões” na multidão, depois a sugestão original é intensificada pela interação contagiosa entre os membros individuais da multidão. O conceito de sugestão germinou de um interesse por hipnose entre os psiquiatras franceses do século XIX. Assim, lê-se na obra The Crowd de Le Bon que: “um indivíduo imerso por alguma extensão de tempo em uma multidão em movimento logo se encontra (..) em um estado especial, o qual muito se assemelha com a fascinação que o indivíduo hipnotizado encontra-se nas mãos do hipnotizador.”37 O ensaio de Freud “Mass Psychology and Analysis of the 'I'” (1921), do qual este artigo emprestou seu título, apresenta a mais elaborada aplicação desta analogia, claramente associando o “duplo” cenário, de um lado o hipnotizador e o hipnotizado, do outro a relação entre o líder e a multidão.38 Com o fenômeno hipnótico da sugestão, o discurso da psicologia das multidões começaria a ganhar um colorido sentimental que o transformaria numa fonte ideal para os primeiros filmes de zumbis. Isto está bastante claro no reacionário e apocalíptico tons dos escritos de Sidis sobre “sugestibilidade social.”39 Aproveitando-se das analogias esboçadas por Le Bon entre o sujeito hipnotizado e o membro da multidão, Sidis descreve o “ego semiacordado” que emerge na vida coletiva: A multidão contem dentro de si todos os elementos e condições favoráveis para a desagregação da consciência. O que é requerido é apenas que um objeto interessante, ou que qualquer impressão inesperada, fixe fortemente a atenção da multidão e, assim, imerso em um estado em que a personalidade consciente está desprovida de sua dignidade e poder, um ego desnudo e semiacordado permanece sozinho cara a cara com o ambiente externo.40 O membro de uma multidão, segundo Sidis, é essencialmente um sujeito hipnotizado, cuja vontade própria está asfixiada pela força da sugestão do hipnotizador. O conteúdo particular da multidão, de acordo com este entendimento, permanece para ser esboçado, assim, a multidão é o mero efeito de um “exterior.” Além disso, o complexo sugestão-hipnose seria, por este 37 Le Bon, The Crowd, 7. 38 Ver, em particular, o capítulo intitulado “Being in Love and Hypnosis,” no qual Freud escreve, “A relação hipnótica é (se a expressão for permitida) uma formação de uma massa de dois. A hipnose fornece uma boa comparação com a formação da massa, sendo na verdade idêntica com esta última. Da relação hipnótica isola-se para nós um dos elementos do comportamento da massa, a saber, o comportamento do indivíduo da massa em direção ao líder.” Freud, “Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” Mass Psychology and Other Writings, 68. 39 Sidis, The Psychology of Suggestion, 297. 40 Ibid., 300.
  • 9. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 9 entendimento, responsável pela visão distópica do zumbi enquanto um personagem metafórico das instáveis e impressionáveis massas. White Zombie (1932)41 oferece o exemplo mais memorável de um líder hipnotizador no gênero de filmes de zumbis, a saber, o personagem de “Murder Legendre,” interpretado por Bela Lugosi. No início, entretanto, o filme parece incapaz de decidir se o poder de Legendre sobre os outros é resultado de rituais vodu ou daquilo que Le Bon chama de “prestígio” do líder carismático: uma “misteriosa força” que justifica a influência deste sobre a multidão.42 Esta misteriosa força, Le Bon argumenta, em uma rara passagem em primeira pessoa, “paralisa nossa faculdade crítica e preenche nossa alma com espanto e respeito.”43 Então, em White Zombie, nós vemos Legendre esculpindo e queimando bonecas vodus, através das quais ele conquista o controle de Madeline e Beaumont, mas nós também vemos ele controlar um serviçal de Beaumont com um mero aceno de mão. Talvez o mais marcante seja o prolongado enquadramento de câmera nos olhos de Legendre, que se movimentam sobre um pano de fundo negro e, dessa forma, sugerem que a verdadeira fonte de seu poder está na manipulação de um olhar hipnótico. Em seu exaustivo estudo do filme, White Zombie: Anatomy of a Horror Film, Gary D. Rhodes relata a forma como a “história do hipnotismo e mesmerismo (…) estão na base de White Zombie, particularmente no poder de controle dos olhos de Legendre.”44 Rhodes não faz conexões entre o uso de noções populares do hipnotismo com as sugestões do líder da multidão, assim como, há pouca razão para supor que Halperin tivesse em mente alguma destas noções quando fez este filme. Jennifer Cooke também observa a hipnose como um elemento central dos filmes de zumbis em geral, mas ela faz uma distinção entre os primeiros filmes, tal como White Zombie, que apresentam um “mestre hipnotizador” com filmes posteriores, como Nigth of the Living Dead, que retrata uma “multidão (sem líderes) (…) suscetível à sugestão e ao contágio.”45 Na verdade, como em muitos dos antigos filmes de zumbis, há poucas cenas em White Zombie em que nós somos ameaçados por uma “multidão” de zumbis. (A cena no engenho de açúcar, em que vários escravos nativos estão entediados em seu trabalho forçado, é uma das mais arrepiantes a este respeito.) O 41 White Zombie, DVD, dirigido por Victor Halperin (1932; Marina Del Ray, CA: RCF, 2008). 42 Le Bon, The Crowd, 81. 43 Ibid. 44 Gary D. Rhodes, White Zombie: Anatomy of a Horror Film (Jefferson, NC: McFarland, 2006), 30. 45 Jennifer Cooke, Legacies of Plague in Literature, Theory and Film (New York: Palgrave Macmillan, 2009), 167. É imperativo que eu faça uma melhor distinção entre as observações do estudo de Cooke e as minhas próprias. Porque ela vê a hipnose como uma característica perene dos filmes de zumbi, desde White Zombie até Night of the Living Dead. Para a autora, o desaparecimento da antiga figura do “mestre hipnotizador” em Night of the Living Dead paradoxalmente significa a emergência de uma perfeita multidão e a continuação por outros meios do fenômeno da hipnose (167). Em outras palavras, atribuindo à hipnose como seu princípio organizador, Cooke vê a multidão como uma característica, apenas, dos mais recentes filmes de zumbi. Por contraste, ao atribuir à multidão como meu princípio organizador do gênero de filmes de zumbi, eu vejo a hipnose como uma característica revelante somente para os mais antigos filmes de zumbi. Eu penso que apenas estudos futuros podem determinar a relativa produtividade destas distinções conflitantes.
  • 10. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 10 drama central do filme, de fato, foca-se no título “zumbi branco,” Madeline é uma exceção à regra, precisamente, por ser uma “pessoa” branca separada da multidão de zumbis nativos. Halperin não produziria nenhuma associação entre as crenças populares em zumbis e a psicologia das multidões até seu menos conhecido Revolt of the Zombies46 de 1936. Aqui, nós temos o padrão do filme de zumbi com história de amor que se tornou famoso com White Zombie, com a diferença importante que agora a ação começa na I Guerra Mundial, com uma tropa de hipnotizados zumbis cambodianos que estão sendo levados ao campo de batalha. O filme envolve a busca pelo “segredo dos zumbis” localizado na cidade perdida de Angkor. Armand é o principal ator do filme, um apaixonado que perdeu sua noiva, Clara, para o novo amor dela, Cliff. Obviamente, Armand se apropria do segredo dos zumbis, que, como em White Zumbie, envolve uma estranha mistura de vodu hollywoodiano e hipnose. Fascinado por seu inacreditável poder, Armand começa criando seu próprio exército zumbi. Seus soldados, entretanto, não são zumbis tradicionais, pois não são ressuscitados da morte, mas homens vivos postos sob o controle de um feitiço hipnótico. Embora muitos dos temas de White Zombie reapareçam aqui, eles assumem decididamente um molde mais político, nos encorajando a interpretar retroativamente algumas das ambiguidades do antigo filme que alcançou maior sucesso. Assim como “Mass Psychology and Analysis of the 'I'” de Freud é muitas vezes lido como um relato presciente da psicologia de massa do fascismo,47 Revolt of the Zombies, intuitivamente, apresenta um exército que constitui uma multidão “artificial” tal como a expressão paradigmática da psicologia das multidões.48 Freud foca nas multidões artificiais porque, de acordo com ele, Le Bon não enfatizou ampla e suficientemente a influência do líder em relação ao fenômeno da multidão.49 Como se seguisse esta pista de Freud, Revolt of the Zombies reformula o olhar hipnótico e fixo do sacerdote vodu como se fosse o de um líder militar fascista. Isto pode ser observado, claramente, quando a imagem dos olhos de Legendre retorna sobreposta às tropas de catatônicos, mas indestrutíveis soldados. De acordo com as aparências, Halperin simplesmente reciclou a cena dos olhos usada em White Zombie, mas talvez seja precipitado considerar esta repetição como uma simples economia na produção. Eu leio esta repetição como a apresentação tardia da parte de Halperin de um significado político inexplorado em White Zombie, diferenciando-se do olhar hipnótico apolítico encontrado neste filme. Este tom político aparece desde o início de Revolt, quando Armand fala ao seu amigo Cliff sobre os antigos “reis sacerdotes” que “mentalmente” controlavam e dirigiam seus seguidores como se eles fossem meros “robôs.” Sobre isto, o individualista convicto, Cliff, responde, “Eu não acredito que você pode transformar homens em autômatos (…) ou, como você os chama, zumbis.” 46 Revolt of the Zombies, DVD, dirigido por Victor Halperin (1936; Philadelphia: Alpha Video, 2003). 47 André E. Haynal, “Groups and Fanaticism,” On Freud's “Group Psychology and the Analysis of the Ego,” ed. Ethel Spector Person (Hillsdale, NJ: The Analytic Press, 2001), 112. 48 Freud, “Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” 45. 49 Ibid., 27.
  • 11. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 11 O movimento dos olhos, obviamente, se torna a prova final do quanto Cliff (que Armand ao final transforma em um zumbi) está errado. No fim do filme, a mesma cena dos olhos fixos ameaçadores, que primeiramente dirigiram as ações de personagens individuais como Madeline e Beaumont em White Zombie, é usada aqui para ilustrar o comando de Armand sobre milhares de inconscientes “semiacordados” soldados. Embora encontra-se no filme muitos dos clichês vodu – com um ligeiro viés “oriental” - esta mitologia é deslocada por uma estrutura explicativa que se parece muito mais com aquilo que Wilhelm Reich chama de “psicologia de massa do fascismo.”50 Em sua primeira vítima, a empregada desafortunada Buna, Armand mistura e queima um misterioso pó branco, o vapor deste pó deixa Buna em um catatônico transe.51 Porém quando Armand dá ordens, Buna simplesmente permanece congelada em sua pose rígida. Assim, os olhos de White Zombie reaparecem de repente sobrepostos a uma superfície negra, quando Armand repete seu comando para “abaixar seus braços,” Buna finalmente obedece. A partir desse momento, os olhos se tornam a fonte central do estranho e inexplicado poder de Armand. Através deles, ele é capaz de acumular um imenso exército e controlar as ações militares de inacreditáveis distâncias, desse modo, exercendo o que o sociólogo francês Gabriel Tarde chama de “sugestões remotas.”52 Tais “sugestões remotas” do líder simbolizam a passagem nos filmes de zumbis da preocupação com invasões locais de zumbis para as globais. Então, o que em White Zombie envolve, simplesmente, um relacionamento entre “duas partes,” o hipnotizador e o hipnotizado, nos filmes de zumbis posteriores é transposto para um campo político mais amplo e reescrito como um relacionamento entre o líder carismático e sua horda de seguidores. O filme termina com um irônico giro temático, apresentando os zumbis não apenas como um paradigma para as formações fascistas, mas também para as revolucionárias. Depois dos soldados serem libertos de seu encanto, eles dirigem-se contra Armand. Neste momento, a empregada Buna lidera as massas em sua “revolta” contra o líder tirânico. Certamente, nós estávamos esperando que Armand fosse abandonado e, assim, somos levados a nos identificarmos com esse novo coletivo. O filme faz outro uso inventivo de cenas recicladas, narrando a revolta dos soldados emancipados através das mesmas imagens das tropas de “zumbis”. Então, o que novamente parece ser o efeito de uma mera conveniência ou da preguiça dos produtores, na verdade, funciona como uma comparação injusta entre os zumbis militares sem alma com os conscientes e esclarecidos rebeldes. Esta ironia temática é diretamente Freudiana, pois segundo o 50 Wilhelm Reich, The Mass Psychology of Fascism, ed. Mary Higgins and Chester M. Raphael (New York: Farrar, 1970). 51 A ironia é que Buna já obedece a qualquer comando de Armand, fazendo o estímulo do transe hipnótico um tanto quanto supérfluo. 52 Ver Mary Esteve, The Aesthetics and Politics of the Crowd in American Literature (Cambridge: Cambridge University Press, 2003), 84.
  • 12. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 12 autor uma patologia semelhante está por trás tanto das formas de comportamento coletivo “artificial” e institucionalizado quanto das suas manifestações mais espontâneas e revolucionárias. Embora White Zombie seja a mais bem-sucedida produção de Halperin, Revolt of the Zombies tem sua importância ao pressagiar a posterior massa de zumbis cinematográficos, particularmente através de sua repetição complacente com a espetacularização fetichizada da massa de incontáveis zumbis. Assim, os soldados zumbis hipnotizados e sem emoções de Revolt formam aquilo que Freud chama de uma “organizada” ou “artificial” multidão,53 uma temática que se tornaria comum nos filmes de zumbis dos anos de 1950. Creature with the Atom Brain (1955),54 por exemplo, desfaz dos clichês vodu dos anos de 1930 para a reformulação do zumbi como um “homem da massa” ou “homem de organização,” vivendo no interior dos “normais” subúrbios norte-americanos.55 Os filmes de zumbi dos anos de 1950 são também dignos de nota por oferecerem uma versão zumbi antiga daquilo que Tarde chama de “coletividade espiritual,” um termo que reflete o modo como a sugestão pode operar, não somente em um aglomerado localizado de corpos fisicamente próximos, mas através da imprensa e de publicações de massa, em uma escala nacional ou global.56 Nesta fase de transição, os elementos da psicologia das multidões são esporádicos. Mesmo em um filme pioneiro tal como The Zombies of Mora Tau (1957),57 “o primeiro filme em que os zumbis claramente existem sem um mestre zumbi ou líder controlando-os e o primeiro em que a condição zumbi é contagiosa,”58 há pouco avanço em relação aos temas da psicologia das multidões presentes em Revolt of the Zombies. Ao lado de algumas cenas exemplares de um grupo pequeno de quinze ou dezoito zumbis levantando-se de seus túmulos em templos Africanos pré-históricos, há relativamente poucas indicações, neste filme, de que os zumbis sejam um fenômeno de massa. Durante esta transição, mais relevante para a relação da psicologia das multidões com os mitos zumbis é o advento dos especialistas em zumbis. Dos filmes pré Romero até os pós Romero, o zumbi passa de um simples fato material a ser controlado e reprimido, até um objeto de “biopoder”, algo para se exercer uma “forma de governo”59 mais sutil, “combinando poder militar com controle social, econômico, político, psicológico e ideológico.”60 Se anteriormente o zumbi não era mais do que uma ameaça a ser destruída, nos anos de 1950 e 1960 os zumbis se tornariam um “objeto” da curiosidade genuína de doutores, cientistas e oficiais governamentais. De modo 53 Freud, “Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” 45. 54 Creature with the Atom Brain, DVD, dirigido por Edward L. Cahn (1955; Culver City, CA: Sony Pictures, 2007). 55 Ver Dendle, The Zombie Movie Encyclopedia, 38. 56 Gabriel Tarde, “The Public and the Crowd,” On Communication and Social Influence, ed. Terry N. Clark (Chicago: University of Chicago Press, 1969), 277. Originalmente publicado em 1901, como uma parte de L'Opinion et la foule. 57 The Zombies of Mora Tau, VHS, dirigido por Edward L. Cahn (1957; Culver City, CA: Sony Pictures, 1986). 58 Dendle, The Zombie Movie Encyclopedia, 212. 59 Michael Hardt e Antonio Negri, Multitude: War and Democracy in the Age of Empire (New York: Penguin, 2004), 13. 60 Ibid., 53.
  • 13. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 13 semelhante, a própria psicologia das multidões parece ter seu início relacionado com a ideia de que ninguém mais aniquilaria uma multidão através do poder militar. “O conhecimento sobre a psicologia das multidões,” Le Bon escreve “é hoje o último recurso do homem de estado que deseja não governá-las – o que tem se tornou uma questão muito complicada – mas de algum modo não ser governado por elas.”61 Esta nova consciência da necessidade de não simplesmente aniquilar, mas de entender a coletividade zumbi é dramatizada de um modo memorável no conflito, apresentado por Romero em Day of the Dead (1985)62 entre os soldados, que querem exterminar os zumbis, e os cientistas, que insistem em aprender mais sobre eles. Porém, mesmo em 1966, nós vemos um exemplo quase presciente do interesse médico nos zumbis em Plague of the Zombies (1966)63 de John Gilling. Contraposto aos regimes militar e governamental do biopoder, o zumbi, durante esta fase, começa a ganhar um status ambivalente da perspectiva dos observadores humanos. De um lado, ameaçando a identidade e a racionalidade individuais, mas de outro, assumindo um papel na luta revolucionária contra os abusos do Estado. Assim, o zumbi ocupa uma tênue zona límbica, na qual se disponibiliza um espaço potencial de emancipação e de revolta coletiva. … para o Contágio É de certa forma natural que a emergência de uma lógica do contágio nos filmes de zumbi conduza a um aumento do interesse, por parte dos regimes de biopoder, em entender o fenômeno zumbi. Nos tempos em que a sugestão cumpria um papel principal, o zumbi se encaixava perfeitamente em uma hierarquia predominantemente racista e colonialista que privilegiava o indivíduo racional e branco sobre as irracionais e influenciáveis “tribos.” Multidões de zumbis eram ameaçadoras na medida em que eram controladas pelos indivíduos errados, assim, a verdadeira ameaça, nestes filmes, não era a multidão zumbi enquanto tal, mas muito mais o indivíduo maligno que a mantinha como “sua” cativa. Com o aparecimento da inovação de Romero, Night of the Living Dead (1968),64 tudo isto começa a mudar. Romero não faz somente uma associação metafórica explícita entre zumbis e multidões, ele também transforma a estrutura básica da horda zumbi, ao apagar todos os traços das crenças vodu e inscrever o contágio como o aspecto primário do fenômeno de massa zumbi.65 Respeitando a lógica do contágio consoante com a antiga psicologia das multidões, Night of the Living Dead também afasta o típico líder carismático,66 permitindo que a horda zumbi apareça como 61 Le Bon, The Crowd, xiv. 62 Day of the Dead, DVD, dirigido por George Romero (1985; Campbell, CA: Anchor Bay, 1998). 63 The Plague of the Zombies, DVD, dirigido por John Gilling (1966; Campbell, CA: Anchor Bay, 1999). 64 Night of the Living Dead, DVD, dirigido por George Romero (1968: Fort Mill, SC: Sterling Entertainment). 65 Para um proveitoso sumário das inovações temáticas de Night of the Living Dead, ver Dendle, The Zombie Movie Encyclopedia, 6-7. 66 Gregory A. Walter, The Living and the Undead: From Stoker's Dracula to Romero's Dawn of the Dead (Chicago: University of Illinois Press, 1986). Embora ele compare Night of the Living Dead com as antigas representações de
  • 14. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 14 o objeto central da fascinação espectral e um ameaça por si própria. Tem-se tornado lugar-comum identificar Night of the Living Dead como um ponto de inflexão nos mitos dos filmes de zumbi; entretanto, em termos da transição de uma lógica da sugestão para a do contágio, Night of The Living Dead não representa uma ruptura radical, mas sim uma mudança crucial de ênfase. Como nós temos já observado, na antiga psicologia das multidões, o complexo sugestão/contágio implica uma sequência temporal relativamente curta: primeiro, o líder “sugere” uma ideia à multidão e, então, a ideia sugestionada espalha-se de um membro ao outro, crescendo mais e mais em poder através de um processo de reforço mútuo. Dessa forma, eu estou simplesmente estendendo esta sequência temporal para os trinta e seis anos que separam White Zombie de Night of the Living Dead. Mesmo com a mudança representada pelo contágio neste último filme, nós podemos ainda perceber um traço formal do papel sugestivo do líder por causa da necessidade de um fator primordial, geralmente um vírus ou um desastre radioativo. Deste modo, a causa original do fenômeno zumbi ocupa o espaço estrutural previamente preenchido pelo líder hipnótico. Talvez até mais impressionante, neste contexto, seja a curiosa adesão demonstrada por Night of the Living Dead para com a velha tropa de hipnotizados e sugestionados, por conta do uso de zumbis lentos e desengonçados. É quase como se os zumbis de Romero experimentassem algo como vestígios da hipnose sem se darem conta de que não há mais um líder controlando-os com sugestões. Assim não fica claro, no inovador filme de Romero, até que ponto nós realmente transitamos de uma lógica da sugestão organizada verticalmente para uma lógica do contágio organizada horizontalmente. Em muitos filmes de zumbis – e Night of the Living Dead não é uma exceção – a causa primeira é quase sempre descrita superficialmente, como se fosse uma mera consideração a posteriori.67 Do ponto de vista de um coletivo político radical, o desafio para os filmes de zumbis contemporâneos é encontrar um meio de eliminar completamente esta causa transcendente, para assim localizar a fonte do fenômeno do contágio no corpo político por si só. Nos momentos finais desse ensaio, eu até proponho uma interpretação alternativa sobre a obrigatoriedade de alguma causa primeva, assim, tento posicioná-la mais diretamente no interior de uma descentralizada e não hierárquica lógica do contágio. No capítulo intitulado, “The Leaders of Crowds and the Means of Their Persuasion,” Le vampiros, Waller traça uma evolução que é estruturalmente similar àquela que eu tracei aqui entre os filmes de zumbis pré e pós Romero. Para ele, a “horda primitiva” encontrada em Dracula de Stoker é “governada por um líder superior” (277), enquanto os zumbis em Night of The Living Dead são “doentes, autômatos dirigidos por seus instintos [que] caminham pela terra sem um líder” (280). 67 Sobre Night of the Living Dead, Dendle escreve, “Os distribuidores não lançariam o filme até que a equipe de produção apresentasse algum tipo de explicação para o fenômeno (…) consequentemente, as referências ao satélite exploratório enviado à Vênus que voltou trazendo um misterioso alto nível de radiação.” Dendle, The Zombie Movie Encyclopedia, 121. Como Waller salienta, “Afirmar que uma ‘radiação misteriosa’ provoca de alguma forma inexplicável que os mortos vagem pela terra em busca de carne humana é, afinal, um pouco melhor do que nenhuma explicação.” Waller, The Living and the Undead, 275.
  • 15. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 15 Bon identifica três maneiras para que a sugestão do líder possa ser propagada com sucesso através de uma multidão: afirmação, repetição e contágio.68 Na verdade, neste último termo, o líder não está mais envolvido de uma forma significativa, uma vez que ele tenha afirmado uma noção e, então, a repetido várias e várias vezes, ela escapa de suas mãos e o controle é assumido pelo automático e determinístico processo do contágio. O significado dos termos afirmação e repetição seria autoevidente e Le Bon perde pouco tempo explicando-os. No entanto, sua discussão sobre o contágio vale a pena transcrevê-la em detalhes, pois ele rapidamente desliza para uma linguagem microbiológica que se assemelha fortemente com os mitos zumbis: Quando uma afirmação foi suficientemente repetida e há unanimidade nesta repetição (…) se forma aquilo que é chamado de uma corrente de opinião e intervém o poderoso mecanismo do contágio. Ideias, sentimentos, emoções, crenças possuem na multidão um poder de contágio tão intenso quanto o dos micróbios. Este fenômeno é bastante natural, sendo até mesmo observado em animais quando eles formam um conjunto (…). Um pânico que tenha dominado um punhado de ovelhas logo se estenderá para todo o rebanho. No caso de homens reunidos em uma multidão, todas as emoções são muito rapidamente contagiadas, o que explicaria ondas repentinas de pânico.69 Quando nós desvinculamos a sugestão do contágio, ou os efeitos do líder dos efeitos dos membros da multidão uns sobre os outros, nós vemos que, tal como é o caso das multidões de zumbis cinematográficos, o contágio passa a ser um fenômeno quase antipsicológico, algo que está presente num nível elementar da biologia animal, ou até mesmo num nível, ainda mais fundamental, dos micróbios. A ligação de multidões com micróbios ou células é comum nas antigas teorias sobre as multidões. Em seu resumo do livro de Wilfred Trotter sobre o “instinto de horda,” Freud escreve, por exemplo, que o conceito de instinto de horda é, na realidade, uma “extensão dos organismos multicelulares … uma expressão da inclinação … de todas as criaturas vivas similares a se unirem em unidades mais amplas.”70 Em um artigo para o The Atlantic Monthly de 1895, Boris Sidis expõe sobre a organização celular das multidões, argumentando que, como todo “organismo inferior, as multidões possuem um enorme poder de propagação.”71 “Sob condições favoráveis,” ele continua, “as multidões se multiplicam, crescem e se propagam com uma fúria incrível.”72 Mesmo um escritor recente tal como Aaron Lynche usa uma linguagem que ressoa com a inclinação viral e bacteriológica dos filmes de zumbis, assim, ele compara o “contágio (social) de uma ideia” com um “vírus em uma rede de computadores ou um vírus gripal em uma cidade.”73 Como estes outros vírus, ele escreve, “pensamentos contagiosos proliferam por serem efetivamente ‘programados’ para sua retransmissão.”74 68 Le Bon, The Crowd, 78. 69 Ibid. 70 Freud, “Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” 72. 71 Boris Sidis, “A Study of the Mob,” The Atlantic Monthly, Fevereiro de 1895, 192. 72 Ibid. 73 Aaron Lynch, Thought Contagion: How Beliefs Spreads Through Society (New York: Basic Books, 1996), 2 74 Ibid.
  • 16. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 16 Apesar de o contágio, nos exemplos acima, ainda ser representado negativamente, enquanto uma força que precisa ser limitada e contida, trabalhos mais recentes tais como The Wisdom of Crowds75 de James Surowieck e Smart Mobs76 de Howard Rheingold, para nomear apenas alguns, propõem que as redes sociais interligadas tecnologicamente seriam em essência um campo de contágio e um meio possível para a cooperação descentralizada e coletiva. Em seu ensaio “Networks, Swarms, Multitudes,” Eugene Thacker nos previne contra o ingênuo “utopismo tecno,” enquanto sua noção de “vida em rede” descreve um espaço descentralizado, dinâmico e intensivo de entrelaçamento que pode atuar de forma concatenada com aquela outra, potencialmente radical, rede de “não-vivos:” o enxame zumbi.77 Enquanto a lógica da sugestão nos oferece o “eu semiacordado,” representado nos filmes de zumbis por olhos fixos e mortos, além de um caminhar desengonçado e sonâmbulo. O contágio, por sua vez, nos proporciona um meio de representação da rápida propagação e contaminação de um vírus. Assim, com a desconexão destas duas lógicas, o zumbi perde a aparência de sonâmbulo hipnotizado e pode adquirir movimentos rápidos, tal como em Zombieland (2009),78 e às vezes até mesmo inteligência. (Em Burial Ground [1980]79 um dos zumbis usa uma foice para decepar uma cabeça, por exemplo.) Esta parece ser uma tendência progressiva, como se, conforme suas implicações, o zumbi cinematográfico estivesse se tornando mais apto mental e fisicamente. Particularmente, nós encontramos zumbis rápidos e sofisticados em Nightmare City (1980)80 de Umberto Lenzi. Neste filme, um desastre radioativo provoca uma invasão massiva daquilo que talvez seja melhor chamar de “seres” contagiosos. Fiel à tradição pós Romero, o desastre radioativo causa a perda de células vermelhas nos infectados, por conta de precisarem ser reabastecidos, eles procuram sangue fresco. Naturalmente, quando um zumbi morde o pescoço de um humano para se alimentar, este se torna também um infectado. Lenzi afirma na entrevista incluída no DVD que ele estava preocupado em mostrar um vírus se espalhando de forma verossímil. Nightmare City apresenta zumbis em todos os estágios da contaminação e, em geral, enquanto o filme progride, mais e mais zumbis são adicionados à tela. Esta tendência culmina em uma das cenas finais, na qual um grupo de uma centena ou mais de zumbis corre por um campo e é enquadrado de uma posição privilegiada, do alto de um helicóptero. Assim, o contágio parece ter se espalhado tão amplamente que a câmera deve buscar alturas extremas para abarcar uma multidão inteira de zumbis num só quadro. 75 James Surowiecki, The Wisdom of Crowds (New York: Anchor, 2004). 76 Howard Rheingold, Smart Mobs: The Next Social Revolution (Cambridge: Perseus 2009). 77 Eugene Thacker, “Networks, Swarms, Multitudes” CTheory.net, 18 de maio, 2004, acessado em: 28 de nov. de 2010, http://www.ctheory.net/articles.aspx?id=422. 78 Zombieland, DVD, dirigido por Ruben Fleischer (Culver City, CA: Sony Pictures, 2009). 79 Burial Ground, DVD, dirigido por Andrea Bianchi (1980; New York, NY: Shriek Show, 2002). 80 Nightmare City, DVD, dirigido por Umberto Lenzi (1980; West Hollywood, CA: Blue Underground , 2008).
  • 17. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 17 Porém as semelhanças entre os seres contagiosos de Lenzi e os zumbis típicos acabam aqui. Conforme Lenzi salienta na entrevista, suas criaturas não são zumbis tradicionais; ele até mesmo hesita em dar a eles um nome explícito, afirmando para simplesmente “chamá-los do que vocês quiserem.” Tal como os soldados de Revolt of the Zombies, os seres de Lenzi não se levantaram da morte, sendo meros humanos infectados. Em uma cena central, o protagonista Miller e sua esposa, Anna, não percebem que seus amigos são zumbis, porque eles ainda se parecem com os humanos. Neste contexto, Dendle criticou o filme por sua maquiagem barata (a qual geralmente consistia em pouco mais do que manchas aleatórias de um óleo),81 mas tal crítica parece não ter tanto sentido, pois se baseia numa ideia que o próprio filme de Lenzi aparenta desafiar – a saber, que zumbis e humanos são seres ontologicamente distintos. Os zumbis de Lenzi movimentam-se como humanos, usam ferramentas e improvisam armas como humanos e até trabalham juntos para realizarem tarefas complexas, muitas vezes, tal como veremos, melhor do que humanos. De fato, em seus ataques cuidadosamente orquestrados contra estabelecimentos fundamentais para o poder, como emissoras de TV, redes de abastecimento da cidade, hospitais e, até mesmo, uma base militar, as criaturas de Lenzi se parecem muito mais com sabotadores políticos ou membros de uma organização esquerdista radical, como a Weathermen, do que com zumbis tradicionais. Conforme eu argumentarei, a atitude de Lenzi em relação a estas criaturas contagiosas, “chame-os como você quiser,” é significativa enquanto um modelo para a ação coletiva. Agamben escreve que “a comunidade que vem” não será baseada em propriedades ou predicados compartilhados (no caso dos zumbis: não-mortos, lentos e sem alma), mas antes, por um simples efeito de nomeação, do “ser-dito.”82 O coletivo francês radical, Tiqqun, desenvolve detalhadamente em sua obra Introduction to Civil War (2010) os postulados de Agamben em relação à coletividade futura, um trabalho que aparecerá nos comentários finais deste ensaio.83 Aqui, eu somente quero salientar que por nos dizer “chame-os como você quiser,” Lenzi revela uma falta geral de interesse por distinções classificatórias e, então, identifica o zumbi, não como uma criatura com esta ou aquela característica essencial, mas como aquilo que Tiqqun, seguindo Wittgenstein, chama de “forma-de-vida.”84 A ideia de que os zumbis de Lenzi não são seres ontologicamente distintos – que eles não estão interligados com base em um conjunto de qualidades compartilhadas – se torna mais importante quando nós examinamos suas relações com os protagonistas humanos, de um lado, e com os regimes de biopoder, de outro. Como outros filmes dos anos de 1970 e 1980, particularmente aqueles com óbvias conotações políticas, Nightmare City posiciona os zumbis no 81 Dendle, The Zombie Movie Encyclopedia, 36. 82 Agamben, The Coming Commnity, iii. 83 Tiqqun, Introduction to Civil War. 84 Ibid., 16.
  • 18. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 18 mesmo lado dos protagonistas humanos, pois ambos, zumbis e humanos, estão engajados em um conflito mais amplo contra a mídia, os militares, o governo e o complexo médico/científico. A maior dificuldade, como nós veremos, é que os humanos não encontram uma posição própria nesta nova distribuição de seres. Em uma cena inicial, logo após a invasão zumbi ter começado, o protagonista, um repórter de TV chamado Miller, se envolve em uma calorosa discussão com seu chefe e com o general Hutchison, do departamento de defesa. Os dois últimos concordam que o surto deve ser mantido em sigilo do público. Com um tom explosivo, o liberal Miller argumenta que é seu dever como repórter “manter o público informado.” O general responde com uma questão retórica: “Você está consciente dos protestos que aconteceriam após esta notícia?” Esta resposta é significativa porque ela revela que, da perspectiva liberal de Miller, trata-se de uma injustiça comparar as massas de influenciáveis telespectadores com os zumbis contagiosos. Porém, se o público descobrir sobre a crise, de acordo com o pensamento do general, um pânico massivo se espalhará no corpo político e o Estado será forçado a conter dois separados, mas estruturalmente análogos surtos “virais:” o dos humanos histéricos e dos zumbis infectados. Portanto, o Estado se encontra agora posicionado contra dois potenciais inimigos. Eu penso que para entender o significado deste novo contexto político, nós deveríamos nos concentrar na causa do fenômeno zumbi. Como em Night of the Living Dead, o advento do vírus radioativo ocorre fora da tela, antes da própria ação da narrativa. O vírus, o ímpeto inicial do surto e o momento de fundação do filme por si mesmo, parece ser uma relutante concessão à lógica de causa e efeito que o diretor preferiria não ser obrigado a realizar. O interesse real está nos zumbis e naqueles que se importam com os motivos por eles terem ficado daquele modo. Assim, aquilo que está relacionado ao causador específico do surto viral (uma droga elaborada cientificamente, um componente químico de um meteoro, um ritual vodu) é imaterial em um sentido bastante específico e formal. O que o vírus radioativo representa, o que ele cria materialmente, é uma clara divisão entre “amigos” e “inimigos.” O vírus radioativo não tem sentido por si mesmo, parecendo tão superficial neste e em tantos outros filmes de zumbi porque, nas palavras de Agamben, trata-se “daquilo que é mais difícil de pensar: a absoluta falta de experiência para com a pura exterioridade.”85 Então, em Nightmare City, o vírus radioativo simplesmente tornou manifesta a guerra civil que estava sempre presente, embora em estado de latência. Com o despertar do vírus, Miller, o repórter, já não pode negar que ele está numa posição diametralmente oposta ao do proprietário da TV para a qual trabalha. Além disso, o relacionamento obscuro entre a mídia e os militares se torna terrivelmente evidente com ambas as partes em conluio para confundir o público. Então, o vírus ao 85 Agamben, The Coming Community, vxi.
  • 19. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 19 separar a multidão dos regimes de biopoder torna legível aquilo que Jacques Rancière chama de nova “distribuição do sensível”86 . Esta nova distribuição do sensível, este puro evento do exterior, opera como um “chamado” que estabelece uma fronteira vibrante “entre o Estado e o não-Estado.”87 A grande incapacidade por parte dos humanos, a este respeito, é sua dependência para com a lógica dos essencialismos que separa os seres de acordo com suas “condiç[ões] de pertencimento (ser ruivo, ser italiano, ser comunista).”88 Por isso, nós vemos uma justiça poética nas manchas desleixadas de óleo de motor que indicam a mínima diferença formal entre os supostamente vivos e os paradoxalmente mortos animados. Como um puro evento do exterior, o vírus não faz nada mais do que indicar, nomear ou designar uma divisão entre os que estão no poder dos que são seus antagonistas. Conforme Ernesto Laclau argumenta, “o povo” não expressa uma realidade sociológica já constituída (uma classe particular, uma raça, uma nação, mas “na verdade constitui o que se expressa no próprio processo de enunciação.”89 Nós estamos imensamente enganados se insistirmos, tal como os protagonistas humanos de Nightmare City, em ver os zumbis como um grupo previamente constituído ao qual alguém poderia pertencer com base em determinadas propriedades. “Zumbi” aqui é nada mais ou nada menos do que o nome de uma nova conceituação para “o povo,” “a multitude” - chame eles como você quiser. De acordo com sua entrevista, Lenzi não permitiu, contrariamente às especificações do roteiro original, que os protagonistas humanos alcançassem alguma segurança no final do filme. Depois do helicóptero o resgatar, Miller acorda como se tivesse tido um pesadelo e o drama completo reinicia com a repetição da invasão inicial de zumbis. De um lado, esta decisão de Lenzi é puramente prática: se os humanos falharam em conter o vírus, não haveria mais nenhum lugar possível para escapar. De outro lado, a improvisação de Lenzi é política e tematicamente sensata: o drama pode se repetir mais e mais vezes até os humanos reconhecerem sua solidariedade intrínseca com os “zumbis” infectados. Miller será forçado a reviver este cenário até ele fazer a escolha correta – até, em outras palavras, ele perceber que ele está no mesmo lado dos zumbis contra o Estado. Freud nunca duvidou da eficácia dos agrupamentos humanos, mas ele via claramente que os grupos humanos eram fundados em uma identificação enraizada em algo mais primitivo como a rivalidade, o ciúme e a inveja.90 Tal identificação humana baseada na rivalidade é construída sobre um a priori, ou seja, uma lógica que elabora propriedades de pertencimento com as quais alguém pode se incluir. Por contraste, os “seres” de Lenzi não são mais do que uma resposta ao apelo vazio 86 Jacques Ranciere, Dissensus: On Politics and Aesthetics, ed. e trad. Steven Corcoran (London: Continuum, 2010), 36. 87 Agamben, The Coming Community, xix. 88 Ibid. 89 Laclau, On Populist Reason, 99. 90 Freud, “Mass Psychology and Analysis of the 'I,'” 75.
  • 20. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 20 do exterior, representado aqui por um vírus radioativo que cria uma divisão entre o Nós e o Eles. Este parece ser o único modo apropriado para interpretar todas as falhas na ação dos coletivos humanos: desde os dançarinos coreografados com suas roupas padronizadas que são aniquilados ao vivo na TV, passando pelos médicos e enfermeiras mortos no meio de uma cirurgia, até o grupo de humanos histéricos presos em um elevador. Todos estes grupos humanos falham, precisamente porque eles não conseguem ver que a distinção real não é entre humanos e zumbis, mas entre Nós e Eles. Lenzi insiste que o vírus radioativo é para ser visto como um presságio, uma visão ficcional da epidemia de AIDS. Não importa se aceitamos como verdade ou não a reivindicação de prenúncio de Lenzi, mais produtiva para nosso entendimento sobre as possibilidades de ação dos coletivos humanos é a ideia de que zumbis não são entidades ontologicamente diferentes, mas meros humanos afligidos por um vírus que alterou sua existência. Nós deveríamos vê-los, em outras palavras, como tocados ou animados por uma nova “forma-de-vida,” que Tiqqun designa como a “união humana elementar.”91 Os zumbis de Nightmare City não se identificam uns com os outros, nem possuem a experiência da rivalidade ciumenta que é a fonte necessária para tal identificação. Ao contrário, os “zumbis” de Nightmare City são, nas palavras de Tiqqun, “mais fiéis à [suas] predisposições do que aos [seus] predicados.”92 O fato desta predisposição ser uma predisposição por sangue fresco não nos impede de aprendermos com eles uma lição sobre o futuro da ação coletiva. As criaturas de Lenzi, por assumirem sua “desubjetivação”93 viral, por se tornarem “anônimos,”94 por se tornarem “uma singularidade qualquer,”95 demonstram que o ato de apresentar uma nova forma-de-vida “espontaneamente manifesta … sua comunidade de pertencimento,”96 transformando a obscura relação de hostilidade em uma inimizade genuína.97 Os zumbis ao apresentarem esta nova forma-de-vida constroem um vibrante campo de “guerra civil” entre amigos e inimigos, enquanto os humanos permanecem presos, no meio do caminho, entre serem hostis ao governo ou aos infectados que o poder quer erradicar. Os zumbis de Lenzi representam para nós a “formação contagiosa” que é a organização coletiva ideal do programa anarquista de Tiqqun.98 Tal formação contagiosa, em que “amigos e inimigos” ganham vida e “se fazem inteligíveis uns aos outros,”99 pode emergir por causa da indeterminação constitutiva dos zumbis. Isso os deixa abertos para um puro evento da 91 Tiqqum, Introduction to Civil War, 16. 92 Ibid., 23. 93 Ibid., 204. 94 Ibid., 206. 95 Ibid., 205. 96 Ibid., 181. 97 Ibid., 31. 98 Tiqqum, Introduction to Civil War, 179. 99 Ibid.
  • 21. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 21 “exterioridade” que possibilita o rompimento com os limites da lógica humana da “identidade” coletiva baseada em propriedades. Eu quero encerrar esta discussão dos zumbis enquanto um modelo para a organização coletiva com uma breve consideração sobre as “paradas zumbis,” uma prática que pôs este modelo em ação de uma forma bastante literal e dramática. De acordo com o ensaio de Simone do Vale “Trash Mob: Zombie Walk and the Positivity of Monsters in Western Popular Culture,” a primeira parada zumbi ocorreu em Toronto em 2003 e incluiu somente seis participantes que se vestiram de acordo com seus filmes de zumbi favoritos e vagaram pelas ruas, primeiramente, para satisfazer seu desejo de entretenimento.100 Desde então, graças às novas tecnologias sociais, o fenômeno tem se espalhado, com paradas zumbi sendo sediadas em todo o mundo.101 Embora ela distingua as paradas zumbis das “aglomerações rápidas,” Vale ainda as vê como uma celebração do “poder enquanto massa”102 dos participantes. Apesar do fato de que muitas vezes, em anos recentes, as paradas zumbis ocorreram como ações de caridade, parece que é a própria indeterminação ao redor do fenômeno que permite que ele assuma vários significados políticos. Como uma típica aglomeração rápida, em outras palavras, a parada zumbi poder ser analisada como a manifestação do significado vazio do social por sí mesmo, demonstrando, essencialmente, nada mais do que a habilidade das pessoas em organizarem-se em massa. No convite aos zumbis são divulgadas listas de discussão e sites da internet devotados às paradas zumbis. Neles, o termo “zumbi” opera como aquilo que Ernesto Laclau, em seu livro sobre o populismo, chama de um “significante vazio,” um termo que “pode ser anexado aos mais diversos conteúdos sociais,” precisamente porque ele não tem “o seu próprio conteúdo”103 particular. Na página da internet da Toronto Zombie Walk, por exemplo, nenhuma orientação específica é dada a respeito de fantasias e maquiagem.104 Em uma típica parada zumbi, “[c]ada zumbi,” nas palavras de um escritor, deve decidir “por ele ou ela mesma qual 'tipo' de zumbi interpretar.”105 Aqui, predicados particulares (zumbi caipira, zumbi rainha de formatura, zumbi que escapou do hospital) são muito menos importantes do que o mero fato de “ser-dito.”106 Desta maneira, a parada zumbi constrói um campo de guerra civil, que divide o supostamente “vivo” e isolado, espectador individual, do coletivo de não-mortos. Esta multitude zumbi, finalmente, é ela mesma “animada” peculiarmente 100 Simone do Vale, “Trash Mob: Zombie Walk and the Positivity of Monsters in Western Popular Culture,” There Be Dragons Out There: Confronting Fear, Horror, and Terror, editado por Shona Hill and Shilinka Smith (Oxford: Inter- Disciplinary Press, 2009), 131, acessado Agosto 27, 2010, http://inter-disciplinary.net/wp- content/uploads/2009/11/FHT-2-Final.pdf#page=143. 101 Ibid. 102 Ibid., 136 103 Laclau, On Populist Reason, 76. 104 Toronto Zombie Walk, http://www.torontozombiewalk.ca/index.html. 105 Dan Linehan, “Zombie Walk: Death Imitates Art,” The Mankato Free Press, Julho 6, 2009, acessado Agosto 27, 2010, http://mankatofreepress.com/local/x1048527008/Zombie-walk-Death-imitates-art. 106 Agamben, The Coming Community, iii.
  • 22. Blog Geração Zumbi: http://geracao-zumbi.blogspot.com.br/ 22 por um puro chamado linguístico para celebrar o significado vazio da sociabilidade. A parada zumbi é uma última prova física da substituição dentro dos mitos zumbis, de uma lógica da sugestão para uma lógica do contágio. As próprias páginas da internet e listas de discussão que “convidam” as multidões zumbis são elas mesmas múltiplas e fugazes. Seus organizadores permanecem em grande parte anônimos, preferindo negar suas funções óbvias de promotores para se misturarem na horda indiferenciada. Nós precisamos entender que o termo “zumbi” não tem importância por si mesmo. O importante é que, por agora, “zumbi” efetivamente opera como um “significante vazio,” capaz de pôr em circulação um campo ativo e global, dividindo aqueles que respondem ao chamado – em “qualquer” estilo – e aqueles que não.