4. Literatura Valenciana e Participação Feminina
•Supernova Valenciana (surto de produção literário
ocorrido a na cidade de Valença – BA no início do século
XXI)
•Marco: publicação da antologia “Valenciando: Poesia e
Prosa” em 2005, reunindo oito escritores locais (cinco
homens e três mulheres)
•Panorama anterior ao Valenciando: vida literária
restrita a eventos solenes em escolas, publicação esparsa
em periódicos e raros lançamentos de livros.
5.
6. Literatura Valenciana e Participação Feminina
•Depois do livro Valenciando, surgem mais três
antologias (Trívio; Rio de Letras e Novos Valencianos) ,
além do aparecimento de vários livros solos, entre teatro,
prosa ficcional, poesia, ensaios e historiografia (aprox. 13
títulos lançados nos últimos 07 anos)
•Ocupação Cultural: nova geração de escritores. ALER e
AVELA (Academias com escritores valencianos).
•Desde do início deste período da Supernova Valenciana,
as mulheres tem participado ativamente na vida literária:
7. Escrita Feminina: Gênero ou Poética?
•Língua como construção social. Ela não é “neutra”.
•Robin Lakoff – Língua como um meio da expressão /
dominação do gênero masculino sobre o gênero feminino:
“(…) As mulheres experimentam a discriminação linguística
de duas maneiras: no modo como são ensinadas a usar a
linguagem e no modo como o uso geral as trata; Ambas
tendem (…) a relegar as mulheres a certas funções
subservientes: aquelas de objeto sexual, ou serviçal (…)”.
8. Escrita Feminina: Gênero ou Poética?
•Reflexo na literatura: Escrita Feminina diferente da
Escrita Masculina.
•A literatura feminina não se restringe ao sexo do autor.
Funda-se como uma poética, um modo particular de criação
estética. Não é gênero literário (como Ficção Científica) por
ela não possui clichês ou fórmulas prontas (Nelson de
Oliveira)
9. Elementos da Poética Feminina
•Cecil Zinani: instauração de “um processo enunciativo de
caráter subversivo não só em termos de vocabulário como
também de uma sintaxe específica que possa desconstruir o
discurso masculino e estabelecer a diferença entre os sexos”.
Existências de estratégias que remetam “para o significado
original das palavras, revisar a constituição de vocábulos,
especialmente através dos prefixos, reconceituar as metáforas
utilizadas, recuperar as elipses. ”. Leitura marginal que revela
a história silenciada produzida pelo texto subjacente
10. Elementos da Poética Feminina
•Nelson de Oliveira: "a escrita do gozo, dos mistérios, da
fantasia exacerbada, do mergulho no inconsciente, dos segredos e
das confissões, da loucura, construída frequentemente em torno
do silêncio. É a escrita dionisíaca e noturna que se choca com o
apolíneo e ensolarado racionalismo masculino”
•Nelly Richard: "uma erótica do signo", "extravasar o
marco/retenção da significação masculina com seus excedentes
rebeldes (corpo, gozo, heterogeneidade, libido, multiplicidade),
desregulando a tese do discurso masculino”
•Lúcia Castello Branco: "fazer do signo a própria coisa e não
uma representação da coisa”
11. Profissão Mulher, de Rosângela Góes
Lavadeira, costureira, parideira,
Atriz, imperatriz ou meretriz
Mulher, é teu destino ser melhor
o céu que te recorta em tanto azul
o chão que te ensina o caminhar
(...)
Escolhe o caminho, há tantos...
já o divisaste ou escolheste?
Há riscos e percalços, desvios e cansaços.
Falsos ou reais, é preciso percorrê-los
e conhecê-los...
E conhecendo-os, saber por si mesma
a mulher que havia e melhor não se sabia.
12. •Subversão da linguagem no plano dos sentidos:
a)jogo semântico nos versos iniciais: LAVAdeira, COSTUReira,
PARIdeira / aTRIZ, imperaTRIZ ou mereTRIZ (remeter ao
significado original das palavras)
b)O poema dialoga com a própria “ser feminino”, em um tom
mais confessional, para promover sua descoberta de seus próprios
caminhos a partir de seu inconsciente, em lugar de seguir os
planos já “formatados” da sociedade.
c)No verso final, quando a mulher melhor do ela mesma sabia,
reforça a ideia da poética feminina realizando uma leitura
marginal reveladora das histórias silenciadas.
13. (Todas as Mulheres Fogem), de Celeste Martinez
(Todas) PECAM
PADECEM
(São) SUBVERSIVAS
SUBMERSAS
SUBALTERNAS (mulheres).
(…)
Só mulheres gozam
Só fêmeas parem
Só esposas são obedientes
Só amantes são eternas
Só VÊNUS amor
Só HELENA guerra.
Só CIRCE veneno
Só MEDUSA tormento.
14. •Subversão da linguagem no plano da expressão:
a)Linguagem dionisíaca e noturna distante do racionalismo
apolíneo e ensolarado da escrita masculina: Subversão na sintaxe
desregulando o discurso (versos em que se usam maiúsculas e
parênteses, permitindo vários ordem de leitura)
b)O signo no lugar da própria coisa, não sua representação:
aliteração de metáforas (“Só VÊNUS, amor / Só HELENA, guerra”).
c)O poema, na sua íntegra, mostra todo o extravasamento
expressivo dos vocábulos, explorando excedentes rebeldes
(corpo, gozo, heterogeneidade, libido, multiplicidade), como
forma de contrapor a exuberância da expressão feminina em
relação à “contenção” da fala poética feminina.
15. Um manancial ainda virgem
•As escritoras de Valença estão na linha de frente deste
período de surto literário no município. E, ao colocar nos
seus versos questões do seu “ser mulher” hoje, elas rasuram
a escrita “clássica” dos homens. Esses poemas de Celeste
Martinez e Rosângela Góes apresentam um filão ainda
inexplorado pelos estudos literários, principalmente na área
de gênero. Um estudo mais detalhado no futuro pode
mostrar melhor as potencialidades destes textos.