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O SISTEMA E A SÍNDROME PIRAMIDAIS
    Dedico este opúsculo ao meu mestre, Luís Barraquer i Bordas, pela sua contribuição ao estudo do
    sistema e da síndrome piramidais.


    Introdução
    A organização geral dos sistemas motores cerebrais depende da organização dos impulsos
    motores superiores que chagam a unidade motora na medula e, se esquematiza, de acordo com
    a diferenciação que existe entre dois sistemas: a) o sistema piramidal, b) o sistema ou sistemas
    extrapiramidais.

    A motricidade voluntária (MV) da qual o sistema piramidal faz parte é a mais evoluída das três
    formas de atividade motora. Caracteriza-se pelo mais alto grau de independência em relação a
    influencia imediata do meio, estando intimamente presa à formação da personalidade do
    indivíduo. Pessoas de ambos os sexos têm formas especificas para realizar movimentos, os quais
    foram aprendidos durante suas vidas dentro de um contexto cultural. Mas, nem todo movimento
    vem a partir do sistema piramidal. Os movimentos automáticos originados filogeneticamente
    antes do piramidal podem aparecer durante a marcha em várias situações. Numa atração
    sensual os movimentos no homem são exacerbados nos ombros, enchendo o peito, abrindo os
    braços, colocando uma das mãos na cintura; enquanto a mulher afasta um pouco os braços do
    corpo, mantém o tronco superior mais fixo para mexer melhor os quadris, passa a mão no
    cabelo, joga-o para trás ou para o lado.

    Os centros motores somáticos trabalham juntos com os centros vegetativos durante a excitação
    cortical para haver vasodilatação periférica devido ao maior gasto de energia, a fim de auxiliar na
    contração muscular sem fadiga. Mas, a MV distingue-se da automática, principalmente pelo fato
    de sua realização provocar muito maior fadiga. O cansaço produzido pelos movimentos
    propositais, repetidos, de flexão e extensão dos membros inferiores, é muito maior do que o
    determinado pelo mesmo conjunto de movimentos no ato automático da marcha: pensar em
    andar cansa mais do que andar sem pensar.



1
Generalidades

    O trato piramidal (TP) com seus 20 milhões de fibras é um dos sistemas motores que convergem
    para as células do corno anterior da medula espinhal, embora, existem outros neurônios
    motores superiores que não fazem parte desse sistema. O TP descrito em 1851, por Türck,
    parece ser o primeiro conjunto de fibras reconhecido como um trato específico do encéfalo. O
    trato piramidal é formado pelo trato córticoespinhal (TCE) e o trato córticobulbar (TCB) que são
    usados quando for feita referências a eles. O TCB supre as estruturas do tronco cerebral no
    mesmo caminho do TCE, que inerva a medula espinhal, mas não passa através da pirâmide
    bulbar e, portanto, não é piramidal. Isso significa que existem neurônios que se projetam do
    córtex para a medula espinhal sem fazer parte do sistema piramidal.

    Anatomicamente o termo piramidal é relativamente bem definido, mas isso não justifica o termo
    síndrome piramidal, para designar uma constelação de sintomas determinados. O termo
    piramidal e extrapiramidal tem sido desprezado por alguns anatomistas, mas os neurologistas
    continuam usando-os para diferenciar as lesões diretas ou piramidais das indiretas ou
    extrapiramidais. Por definição, o trato piramidal são todas as fibras que cursam
    longitudinalmente pela pirâmide bulbar, não importando seu local de origem no córtex cerebral
    ou destino final na medula. As células piramidais fazem parte de quase todo o córtex cerebral,
    mas apenas uma parte dos axônios dessas células passa pelas pirâmides bulbar. Portanto, as
    únicas lesões que provocariam uma síndrome piramidal pura seriam interrupções à passagem
    das fibras, onde as mesmas se encontram isoladas na pirâmide bulbar.

    Do ponto de vista clínico o TCE é o principal sistema eferente através e, pelo qual, movimentos
    voluntários são iniciados e realizados. Esse trato não é o único mecanismo cortical para a
    realização dos movimentos; ele atua primariamente para integrar os movimentos discretos, finos
    e altamente qualificados nas extremidades, como: mãos, pés e boca. O TCE é responsável pela
    contração e inibição de músculos agonistas, ou graduar o relaxamento dos músculos
    antagonistas necessária à realização de ações qualificadas. Por meio de sua integração e controle
    as contrações de músculos individuais são fundidos dentro de uma ação motora complexa. O TCE
    não funciona independentemente. Normalmente, e na presença de doença, está intimamente
    integrado com outros níveis de atividade motora, como também com um fluxo constante de



2
impulsos sensitivos. O TCE no seu percurso com outras vias cortical e do tronco cerebral,
    constantemente supre centros inferiores com impulsos que têm um efeito geralmente inibidor.
    Doenças envolvendo os caminhos piramidais resultam na liberação do efeito inibidor, resultando
    na hiperatividade e função autônoma dos segmentos afetados da medula espinhal.

    Córtex motor cerebral

    Não existem critérios exatos para definir uma área cerebral como motora. O que sabemos é que
    as camadas corticais II e IV recebem as vias sensitivas; as camadas II e V é ponto de partida para
    as vias motoras; e as camadas I e VI estão envolvidas com as vias de associação. Atualmente,
    uma área motora deve reunir os seguintes critérios: a) ter projeções para os motoneurônios
    espinhais ou para os núcleos motores no tronco cerebral; b) possuir uma representação do
    sistema motor, ou seja, dos músculos; c) ser ativada durante a execução ou o planejamento dos
    movimentos voluntários. Baseados nesses critérios foram determinados as áreas motoras que
    têm ligação com o sistema piramidal: 1. Córtex motor primário (MI); 2. Área prémotora (APM); 3.
    Área motora ocular (AMC); 4. Área motora suplementar (AMS); 5. Área motora do sulco do
    cíngulo (AMC); e 6. Área supressora (AS) (Fig.1).




                 Hanna Damasio, 05                                                  Fig.1




3
Histologia do córtex motor cerebral

    O córtex cerebral é formado por seis camadas. Segundo Ramon y Cajal o neocórtex possui dois
    tipos distintos de células: neurônios piramidais, que constituem 72%, e os não piramidais, que
    formam 28% restantes. Há uma grande variedade de tamanho entre esses neurônios, que
    alcançam dimensões entre neurônios pequenos a gigantes. Os neurônios piramidais se
    distribuem entre as camadas, II e IV do córtex cerebral. Embora a maioria dos neurônios
    piramidais esteja situada nas camadas III e V do córtex cerebral. Existem dois tipos de células
    piramidais, as rápidas, que transmitem impulsos fisiológicos a 27 ms, e as lentas, que o fazem a
    19 ms. As rápidas caracterizam-se por apresentar poucas espinhas dendríticas, baixa resistência
    de membrana, potenciais de ação (PA) breves e hiperpolarização póspotencial de curta duração,
    o que lhes permitem responder a estímulos repetitivos de alta frequência. As lentas possuem
    muitas espinhas dendríticas, alto resistência de frequência, PA de longa duração,
    hiperpolarização póspotencial longa, que as fazem disparar com baixa frequência.

    Os neurônios não piramidais são interneurônios, em forma de estrelas, que se subdivide em três
    tipos. 1. Células granulares com espinhas dendríticas, que ocupam a camada IV cortical e
    distribuem-se por todo neocórtex, mas não no motor; 2. Células em cesto, sem espinhas
    dendríticas, cujo axônio tem direção horizontal, que inerva outros neurônios, inibindo-os
    mediante ação do GABA que são retroalimentados pelos neurônios piramidais; 3. Células
    bipolares, cujos axônios dividem-se em forma de T para inervar verticalmente os neurônios
    superficiais e profundos. O neurotransmissor cortical excitatório é o glutamato e o aspartato,
    embora alguns possam usar neuropeptídeos.

    As áreas cerebrais da classificação de Brodmann que mais estão relacionadas com o sistema
    piramidal são as seguintes: A área 8 – a excitação da porção superior da desta região (áreas
    8αβδ) determina o aparecimento de movimentos conjugados dos olhos para o lado oposto,
    abertura da rima palpebral e, às vezes, midríase. Além de responder a excitação do campo ocular
    intuitivo. O estímulo da porção inferior da área 8γ produz inibição dos movimentos rítmicos
    induzidos pela excitação da área 6bα durante a mastigação, a estimulação da área 8γ, provoca
    inibição, além de receber estímulos de áreas corticais não intuitivas. A área 6 – a excitação da
    área 6aα origina contralateral: movimentos de músculos isolados, devido à difusão cortical do



4
estimulo à área 4; e movimentos secundários prolongados e mais altamente organizados, cuja
    distribuição somática varia segundo o ponto de excitação (na porção superior movimentos
    apendiculares; na inferior, movimentos da face, mandíbula e língua). A área 6aβ determina
    respostas semelhantes às produzidas na área 6aα, porém o seu limiar é mais elevado. São
    característicos movimentos rítmicos e estereotipados dos membros, independentes da área 4, e
    os movimentos adversivos da cabeça, olhos e tronco - campo adversivo de Foerster (Fig.2).

                                                        A área 6bα dá origem a movimentos
    Fig.2
                                                        prolongados rítmicos e coordenados destes
                                                        territórios somáticos para mastigar, lamber,
                                                        deglutir, gritar e estalar a língua. A área 6bβ
                                                        determina lentificação do ritmo respiratório
                                                        até apnéia por transmissão do estímulo para
                                                        a área 13 de Brodmann, do lobo orbitário,
                                                        conhecida       como     centro     respiratório
    Adams, 05                                           primário do córtex cerebral. A área 1, 3 e 2
    estão relacionadas com o controle piramidal nos núcleos de Goll e Burdach no bulbo e no corno
    posterior da medula espinhal, responsável pelo feed-back entre o estímulo sensitivo e o
    movimento. Esses movimentos são bilaterais, embora que assimétricos, comunicam-se com as
    áreas 6 e 4 via corpo caloso, cujos axônios saem das camadas IV a VI de ambas as áreas cerebrais.
    As áreas 5 e 7 estão relacionadas com movimentos de praxia ideativa, ideomotora e cinestésica.
                                                              As áreas visuais enviam os estímulos
    Fig. 3                                                    para organização ocular ou motora
                                                              antes     de     descer     pelo   sistema
                                                              piramidal. A área 22 de Wernicke
                                                              envia estímulos sensoriais complexos
                                                              para as áreas oculares e motoras (Fig.
                                                              2 e 3).

                                                              O reflexo transcortical ocorre quando

    Adams, 05                                                 um músculo está contraindo e surge




5
uma sobrecarga ou uma mínima diminuição repentina da carga, os neurônios corticoespinhais,
    que estão ativos durante a execução do movimento, aumentam ou diminuem seus disparos,
    respectivamente. Isso se reflete nos músculos por um aumento ou uma diminuição da atividade
    registrada no eletromiograma. Ou seja, existe uma compensação automática da força muscular
    necessária para a realização de um movimento. A função desse mecanismo servo-assistido é
    manter constante a força muscular. Sua origem reside nas aferências do fuso muscular ativadas
    pela contração muscular. Esse reflexo transcortical, descrito por Phillips, é um reflexo miotático
    ou de estiramento em paralelo com o da medula espinhal. Sua importância é demonstrada na
    lesão do funículo posterior, que o suprime juntamente com o qual desaparece o ajuste
    automático e a manutenção da força muscular. Isso impede que um indivíduo possa sustentar
    uma xícara de café na mão pelo fato de a força de apreensão flutuar constantemente, e então
    termine por soltá-la. A lesão dos fascículos cuneiformes suprime a ativação das células piramidais
    do córtex motor contralateral, produzida pelo movimento passivo das articulações e pela
    estimulação das aferências cutâneas. Isso indicaria que o funículo posterior seria o encarregado
    de levar essas aferências.

    Área motora primária (AMP)

    Localiza-se no giro précentral, anterior ao sulco central ou a fissura de Rolando. O córtex da área
    AMP ou MI é do tipo agranular e heterotípico e sua maior característica é a presença de
    neurônios piramidais gigantes de Vladimir Betz, situadas na camada V do córtex cerebral da área
    4 de Brodmann. Essa região tem o limiar de excitação mais baixo, para que a estimulação cause a
    contração dos músculos do lado oposto do corpo mais rapidamente. Possui uma representação
    dos músculos contralaterais do corpo; os da cabeça e da face ocupam a parte inferior do giro
    précentral, enquanto que parte dos músculos do membro (pé) localiza-se na face interna do
    hemisfério. Uma característica dessa representação é que os neurônios que vão inervar os
    músculos distais localizam-se nas porções posteriores do giro précentral, em sua maioria na
    borda anterior do sulco central e descem pelo feixe córticoespinhal lateral, enquanto os que vão
    inervar os músculos axiais situam-se na parte anterior da área 4 de Brodmann descem pelo feixe
    corticoespinhal anterior ou de Türck. Outra característica é de que nem todas as partes dessa




6
área têm uma representação igual, resultando numa figura distorcida. A face e a mão ocupam
    uma grande porção da área 4 de Brodmann (Fig.4).


                                                              Fig. 4    O que está representado no
                                                                        córtex     cerebral     são   os
                                                                        movimentos realizados por
                                                                        músculos              específicos
                                                                        aquelas áreas e, não, os
                                                                        músculos.      Isso       ocorre
                                                                        porque as células da mesma
                                                                        coluna do córtex motor se
                                                                        projetam       na        medula
                                                                        espinhal        sobre         os
                                                                        motoneurônios                 de
                                                                        diferentes músculos, sendo
                                                                        nesse caso, a coluna cortical
                                                                        a entidade funcional do

     DeJong, 05
                                                                        movimento: para fazer a
                                                                        flexão do membro superior
    entram em ação o bíceps braquial, braquial e o braquiorradial. As aferências sensitivas para cada
    coluna partem da superfície cutânea ou articular situada na direção do movimento que será
    realizado, obedecendo ao padrão geral de somatotopia para o antebraço e mão. No
    funcionamento do córtex motor, à estimulação de uma coluna se segue a inibição das colunas
    vizinhas. Portanto, há inibição dos músculos para a extensão do antebraço enquanto são
    ativados os músculos para a flexão do mesmo, fenômeno de inervação recíproca entre coluna
    facilitadora e inibidora. Mas foi observado que um neurônio piramidal inerva mais de um
    músculo agonista. Isso se deve a divisão do axônio na medula ou princípio da divergência, o que
    contribui para superposição da representação. Isso permite que unidades motoras de um
    músculo sejam ativadas enquanto outras do agonista facilitadas, podendo realizar uma ação
    associada.




7
Área prémotora (APM)

                                                                           A   definição    de     córtex
                                                                   Fig.5
                                                                           prémotor foi proposta por
                                                                           A. W. Campbell, em 1905,
                                                                           e a área correspondente
                                                                           denominada como tal em
                                                                           1929, por M. Hines. A APM
                                                                           situa-se na porção inferior
                                                                           da área 6 de Brodmann e
                                                                           anterior   a    área    4 de
                                                                           Brodmann,              estando
                                                                           intimamente      relacionada
    DeJong, 05
                                                                           com a AMP ou MI, tanto
    anatômica quanto funcionalmente. O córtex prémotor é histologicamente similar ao córtex
    motor, mas faltam as células piramidais gigantes de Betz. Algumas fibras da área 6 de Brodmann
    passam para a área 4 de Brodmann pelas fibras arciformes e depois descem com o TCE; outras
    descem com as fibras piramidais. Existem mais fibras cruzadas do córtex motor do que do córtex
    prémotor. Além do mais, a APM comunica-se com os gânglios da base e outras porções do
    sistema extrapiramidal, incluindo o núcleo subtalâmico, núcleo rubro, colículo superior, núcleos
    vestibulares, oliva inferior, e formação reticular (Fig. 5).

    Estimulação da área 6 de Brodmann causa movimentos contraversivos da cabeça e do tronco. A
    APM está envolvida com os movimentos guiados pelos estímulos visuais, auditivos e sensitivos. A
    área motora suplementar é parte da área 6 que situa-se no aspecto medial do lobo préfrontal
    anterior ao lobo paracentral (área 6aβ). Comunica-se com o córtex motor primário e com o
    córtex motor suplementar contralateral. A APM parece estar envolvida com o planejamento e a
    integração dos movimentos bilaterais do corpo. A APM também é somatotopicamente
    organizada, mas o homúnculo é grosseiro e menos detalhado do que o homúnculo da AMP ou
    MI. Na lesão da APM, o paciente apresenta apraxia ideomotora e dificuldade na programação de
    movimentos guiados pela informação sensorial, nos movimentos iniciados por estímulos




8
sensoriais e, em alguns casos, em certos movimentos autoiniciados no espaço extrapessoal.
    Participa na modificação dos programas motores já estabelecidos, com base na informação
    sensorial l, como ocorre durante a exploração de objetos para seu reconhecimento -
    estereognosia.

    Área motora ocular (AMO)

    Os olhos são controlados por duas áreas corticais, localizadas fora das áreas corticais motoras. O
    chamado campo ocular frontal (COF) encontra-se na região inferior da área 8 de Brodmann e o
    campo ocular suplementar (COS) está situado na parte rostrodorsal da área 6 de Brodmann.
    Ambos os campos recebem informações das áreas visuais, com exceção do campo ocular frontal
    que não recebe projeções do córtex estriado, mas apenas das áreas extraestriadas. Ambos os
    campos projetam-se para os centros subcorticias óculomotores. A estimulação produz
    movimentos conjugados para o lado oposto, podendo ser acompanhado de dilatação pupilar e
    abertura palpebral. O COF é especializado na seleção de movimentos oculares determinados por
    estímulos visuais. É ativado quando o indivíduo realiza movimentos sacádicos durante a leitura
    ou quando um objeto chama a sua atenção. O COS intervém na seleção de movimentos oculares
    não determinados por alvos visuais, o indivíduo decide onde olhar autoregerando seus
    movimentos oculares. Lesão destrutiva unilateral do COF origina desvio transitório dos olhos
    para o lado da lesão e impossibilita de movê-los e, lesão irritativa, desvio transitório para o lado
    oposto da lesão, veja a fig. 4. Para maiores detalhes sobre AMO, veja neste site em: nervos óculomotores.

    Área motora suplementar (AMS)

    Descrita por Penfield e Welch, em 1949, foi assim denominada porque sua estimulação produz
    movimentos complexos, variáveis e com limiares mais altos do que os da AMP ou MI. A área
    motora suplementar situa-se na face medial dos hemisférios cerebrais superior ao giro do
    cíngulo na área 6 de Brodmann, adiante do lóbulo paracentral. A AMS conecta-se com a medula
    espinhal pela via corticoespinhal, a qual contribui com 12 a 18 % das suas fibras. Geralmente sua
    função é bilateral ao corpo, embora ainda predomine as contralaterais. Uma lesão unilateral da
    AMS durante primeira semana produz afasia transcortical motora e alterações dos movimentos
    seqüenciais e simultâneos com o membro contralateral à lesão. Ao solicitar ao paciente que
    feche o punho e, em seguida, que flexione o cotovelo, o paciente realiza o primeiro movimento e


9
demora executar o segundo
                                                               Fig.6
                                                                        ou não realiza; ou bater na
                                                                        mesa em sequência com a
                                                                        mão fechada, o lado da mão
                                                                        e a palma da mão. Não
                                                                        realiza         movimentos
                                                                        simultâneos como fletir o
                                                                        cotovelo e fechar a mão.
                                                                        Após a primeira semana da
                                                                        lesão            permanece
                                                                        incoordenação      bimanual,
                                                          DeJong, 05
                                                                        que consiste na realização
     de movimentos em espelho com ambas as mãos, ainda que possa realizar movimentos
     individuais corretos. O paciente reproduz involuntariamente com a outra mão qualquer
     movimento voluntário realizado com a mão volitiva. Isso dificulta o paciente andar de bicicleta,
     dirigir um automóvel, etc. Na mesma lesão também persiste o reflexo de apreensão forçado.
     Além do mais, a AMS é responsável por movimentos posturais, rítmicos; vocalização, bloqueio de
     linguagem, dilatação pupilar e taquicardia. A AMS estaria relacionada com a programação dos
     movimentos autoiniciados, complexos, sequenciais e simultâneos, assim como a coordenação
     bilateral desses (Fig.6).

     Área motora do sulco do cíngulo (AMC)

     Localiza-se na face interna do hemisfério cerebral, no bordo inferior e no fundo do sulco do
     cíngulo. É uma área descrita recentemente, constituída de uma zona anterior, que ocupa a área
     24c, e outra posterior, a área 23c. Em ambas encontra-se uma representação somatomotora,
     com os músculos da face na parte anterior seguidos do membro superior e inferior. A
     estimulação dessas áreas provoca movimentos complexos nas expressões orofaciais, da cabeça e
     da mastigação. Na área 23c, os neurônios se ativam 500 ms antes de começar o movimento
     autoiniciado. A área 24c está relacionada com o significado do movimento autoiniciado. A AMC
     da metade anterior do giro do cíngulo projeta-se para o córtex motor primário e também




10
contribui com as fibras descendentes do TCE e TCB. Existe também uma área motora secundaria
     na profundidade do sulco central onde o giro précentral e o póscentral emergem, veja a fig. 6.

     Áreas supressoras (AS)

     A estimulação das áreas cerebrais de Mac Culloch, especialmente uma pequena região situada
     entre as áreas 4 e 6 de Brodmann, identificada por Hines como área 4s, inibe o movimento
     desencadeado pela área piramidal. Essa inibição pode ser obtida em outras áreas como 1s, 19s e
     24s. As vias procedentes da área 4s descem juntas com as da via piramidal até a cápsula interna,
     em seguida se separam do contingente piramidal para dirigir-se a substância reticular central do
     bulbo. Quando esse centro inibidor está desconectado das áreas cerebrais supressoras, é incapaz
     de manter uma atividade inibidora. Do centro bulbar nascem às fibras retículoespinhais que
     terminam na medula espinhal, veja abaixo feixe retículoespinal.

     Resumo

     Metade a três quartos de todas as fibras piramidais originam-se nas áreas 4 e 6 de Brodmann
     situadas anterior ao sulco central, e o resto vem das áreas posteriores do sulco central no lobo
     parietal (áreas de Brodmann 1, 3, 2, 5, 7 e 40). A área 4 de Brodmann apresenta uma
     somatotopia mais específica do que a da área 6 de Brodmann. Muitos neurônios da área
     suplementar e partes da área prémotora e motora cortical foram ativadas em um programa de
     descarga que precede o movimento planejado. Assim, os neurônios da área motora 4 foram
     preparados para dar continuidade a ativação; foram desencadeado por um número de impulsos
     corticais do lobo parietal, préfrontal, prémotor, e córtex auditivo e visual. Esse programa de
     impulsos pode ocorrer na ausência de impulsos segmentar. A fonte desse programa de sinal foi
     identificada principalmente na própria área suplementar do córtex motor, que parece estar sob
     influência direta dos estímulos de prontidão, alçando a área préfrontal para planejar
     movimentos e córtex parietal para iniciar atividade motora por percepção visual, auditiva e tátil.
     Também existem fibras que alcançam área motora do sistema límbico, facilitando motivação e
     atenção.




11
Anatomofisiologia do sistema piramidal

                                                                O      sistema        corticoespinhal          é
     Fig.7
                                                                filogeneticamente o sistema motor
                                                                mais    recente,       sendo        totalmente
                                                                desenvolvido          nos     mamíferos        e
                                                                alcança seu mais alto grau nos
                                                                macacos e no homem. A aquisição
                                                                filogenética     da     fala        e   funções
                                                                complexas das mãos resultaram na
                                                                expansão         de         áreas       corticais
                                                                representando a língua, a boca, os
                                                                lábios, o dedo polegar, e demais
                                                                dedos das mãos, deslocando a
                                                                representação do córtex da mão e
                                                                perna para cima, e do pé e região
                                                   DeJong, 05   sacral sobre a superfície medial do
      hemisfério. Áreas para a língua, face, e dedos são excepcionalmente grandes e fora de proporção
      quando comparadas com as áreas da musculatura proximal. A extensão do giro précentral sobre
      o aspecto medial do lobo frontal forma a porção anterior do lóbulo paracentral. Os neurônios
      dessas áreas são importantes na regulação e regulação dos intestinos e do esfincter da bexiga.
      Existem conexões recíprocas o córtex motor e o córtex somatosensitivo no giro póscentral. A
      área MI recebe associação de fibras da área prémotora, motora suplementar e da ínsula. Essas
      conexões são envolvidas na preparação e planejamento para os movimentos voluntários que são
      depois executados pelo córtex motor primário. Existem também conexões entre o córtex
      primário de ambos os hemisférios cerebrais. A divisão posterior do núcleo ventrolateral do
      tálamo recebe input do cerebelo e envia para área 4 de Brodmann (Fig.7).

      O termo trato piramidal surgiu porque a maioria de suas fibras passa pelas pirâmides bulbares. O
      número de fibras piramidais que passam por cada pirâmide vai de 749.000 a 1.391.000, com
      média de 1.087.200; somente e 20% a 30% originam-se da AMP ou MI, sendo que, somente 3%




12
das fibras piramidais ou 34.000 por AMP originam-
                                          Fig.8
                                                   se das células de Betz. Além da contribuição da
                                                   área MI, o TCE contem fibras do córtex prémotor
                                                   (área 6 de Brodmann), a área motora suplementar
                                                   e as regiões adjacentes, e o lobo parietal (áreas 3,
                                                   1, 2, 5, 7, 40 e 43 de Brodmann), além das áreas
                                                   temporais e occipitais. Cerca de 60% das fibras
                                                   grossas são mielinizadas e 40% são pouco e não
                                                   mielinizadas; as últimas procedem de áreas
                                                   vegetativas corticais com importante papel nas
                                                   adaptações    vegetativas   que    acompanham      a
                                                   atividade    motora   (regulação   vasomotora).    A
                                                   maioria do TCE origina-se em partes iguais de 30%
                                    DeJong, 05
                                                   para a área 4, área 6 de Brodmann e giro
     póscentral, com uma contribuição adicional do córtex parietal (área 5) e outras porções do
     cérebro, incluindo os lobos temporal e occipital, giro do cíngulo, e certos centros subcorticais. O
     TCE é importante no controle discreto, das respostas motoras isoladas dos movimentos
     voluntários finos individuais dos dedos. O TCE provê velocidade e agilidade dos movimentos
     distais das extremidades. A APM e suas vias são destinadas para grandes respostas motoras
     coordenadas, com mais movimentos estereotipados que são parcialmente automáticos e
     envolvem o tronco e a porção proximal dos membros, e também com os mecanismos de
     postura; sendo o principal componente cortical do sistema extrapiramidal (Fig. 8).




     Na cápsula interna (CI), as fibras piramidais se projetam sob uma seguinte somatotopia. A CI é
     formada por dois braços, um anterior e outro posterior, e um joelho. As fibras piramidais
     oriundas da região craniofacial do córtex motor, área 4 de Brodmann, projetam-se no joelho da
     CI; as demais fibras piramidais do membro superior, o tronco e membro inferior são distribuídas
     na mesma ordem no braço posterior da CI. O restante do braço posterior da CI é ocupado por
     fibras na sequência sensitivas, temporais, auditivas e visuais. O braço anterior da CI é ocupado




13
por fibras na ordem frontopontina e frontotalâmica. A próxima projeção importante das fibras
     piramidais é no mesencéfalo ao formar parte do pedúnculo cerebral. O pedúnculo é uma massa
     constituída de fibras piramidais e não piramidais que descem do córtex para terminar no tronco
     cerebral e na medula espinhal. Considera-se que os dois terços mediais do pedúnculo contém o
     TCE e o TCB. As fibras mais laterais do pedúnculo estão relacionadas com os membros inferiores,
     as mais mediais com a musculatura da face e da laringe, e as intermediárias com os membros
     superiores. As fibras frontopontinas são mediais, sendo que no encontro superior entre o terço
     medial e o médio no pedúnculo, formando meia lua, passam as fibras do fascículo córtico-
     oculocefalico; já as fibras frontotemporo-occipitais são laterais, sendo que essas fibras se
     distribuem em forma de triângulo: as temporais estão na base lateral, às occipitais ocupam o
     ápice e as parietais a base medial (Fig. 9).

                                                                      O TCB também conhecido
                                                                      por fascículo corticonuclear
                                                                      ou    geniculado        que    foi
                                                                      exaustivamente          estudado
                                                                      por Déjerine (1914) tem uma
                                                                      dupla origem cortical; por um
                                                                      lado, um quinto da área 4 de
                                                                      Brodmann e, por outro, a
                                                                      parte posterior da segunda
                                                                      circunvolução frontal ou área
                                                                      8 de Brodmann. O TCB
                                                                      distribui-se       em         dois
                                                                      fascículos: o corticonuclear e
                                                                      o    fascículo aberrante de
                                                                      Déjerine (FAD). a) O feixe
                                                                      geniculado segue o curso do
                                                                      contingente corticoespinhal,
                                                                      do qual se separa no nível
       Fig.9                                                          dos núcleos de origem dos



14
nervos bulbopontinos, fazendo cruzamento parcial, já que certo numero de fibras acabam nos
     núcleos ipsilaterais. Mediante essa inervação bilateral se consegue uma dupla representação
     cortical de importantes funções de nervos cranianos. b) As fibras corticobulbares aberrantes
     dividem-se em: interna, externa e direta ou feixe aberrante de Pick, esse último destinado ao
     núcleo do facial do lado oposto, veja abaixo. O FAD cruzado é mais denso do que o direto e
     contém maior numero de sinapse também. O FAD desce junto com o corticonuclear, mas o
     cruzamento não se faz de uma vez, mas gradualmente, separam-se do anterior por pequenos
                                                           fascículos a distintos níveis do tronco
                                                           cerebral, realizando sinapses tanto
                                                           ipsilateral    como      contralateral.              Os
                                                           principais fascículos aberrantes que
                                                           chegam ao tronco cerebral, que se
                                                           distribuem de cima para baixo e no
                                                           sentido       anteroposterior               são      os
                                                           seguintes:

                                                           a) fibras aberrantes do pedúnculo
                                                           formam        dois    feixes,       o        fascículo
                                                           corticobulbar        medial     e       o     lateral.
                                                           Descem pelo território do leminisco
                                                           medial e proporcionam fibras aos
                                                           núcleos do III, VI e XI nervos cranianos.
                                                           Junto com esses fascículos correm
                                                           algumas fibras destinadas até aos
                                                           segmentos       cervicais       superiores           da
                                                           medula.       Esse     grupo            de        fibras
                                                           aberrantes governa os movimentos dos
                                                           olhos e os movimentos associados à
                                                           cabeça. b) As fibras aberrantes da
     Fig.10                              Puvanendran, 78   ponte que se unem as anteriores no
     leminisco medial, terminam nos núcleos motores do trigêmio que envia axônios para os



15
músculos mastigadores; para os núcleos do hipoglosso e o núcleo ambíguo que enviam axônios
     para os músculos da laringe e rotadores da cabeça. Mas, também pelas fibras aberrantes
     pontinas passam fibras destinadas ao núcleo do facial, desde o pedúnculo cerebral, essas fibras
     abandonaram a via piramidal para situar-se na parte interna da cinta de Reil. Contudo, os
     músculos que recebem fibras diretas do TCB são a porção superior da coluna cinzenta do facial e
     do núcleo do hipoglosso. c) As fibras aberrantes bulbopontinas deixam o tronco principal do
     sistema piramidal próximo do nível do sulco entre a ponte e o bulbo. As fibras anteriores são
     reforçadas ao proporcionar fibras ao núcleo motor do facial e, também, enviar outras ao núcleo
     ambíguo e o nervo hipoglosso. Ainda merece destaque, algumas fibras do feixe corticobulbar
     direto que descem pelo tronco cerebral até a porção ventromedial do bulbo em nível superior e
     voltam para o núcleo do facial do lado oposto, consagradas como as fibras do trato aberrante de
     Pick (Fig.10).

                                                          As fibras do TCB terminam de duas
      Fig.11                                DeJong, 05
                                                          maneiras:         diretamente            nos
                                                          motoneurônios α dos núcleos cranianos e
                                                          fazendo sinapse com células da formação
                                                          reticular próximas aos centros de controle
                                                          dos nervos. As fibras do TCB que alcançam
                                                          os núcleos sensitivos do trigêmio e nos
                                                          núcleos de Goll e de Burdach no bulbo,
                                                          exercem     um   controle   centrífugo     da
                                                          entrada sensitiva, como um tipo de feed-
                                                          back. Antes de chegar aos núcleos
                                                          motores respectivos, às fibras do TCB se
                                                          entrecruzam na sua maioria na rafe
                                                          mediana. Essa topografia particular de
                                                          como terminam as fibras do TCB, nos
                                                          explica porque a lesão da cinta de Reil
     mediana, geralmente ocasiona o desvio conjugado da cabeça e dos olhos, veja abaixo a fig. 11.




16
Os axônios dos neurônios motores do giro précentral descem através da coroa radiada e do
     braço posterior da cápsula interna, onde as fibras corticobulbares são anteriores, seguidas
     posteriormente por aquelas das extremidades superiores, tronco, e extremidades inferiores. As
     fibras piramidais são de distintos calibres; as de maior diâmetro vindas das células gigantes de
     Betz conduzem uma velocidade de 60 a 65 metros por segundos. As fibras piramidais mais finas
     conduzem os impulsos volitivos em média de 18 metros por segundo. Cerca de 90% das fibras do
     TCE são de axônios pouco mielinizados com diâmetro que varia de 1 a 4 milimicra, e a maioria
     com diâmetro de 5 a 10 milimicra. Um pequeno número de fibras que surgem das células de Betz
     tem diâmetros de 10 a 22 milimicra. O membro posterior da cápsula interna é a porção entre o
     núcleo lenticular e o tálamo, e a parte retrolenticular situa-se posterior para o núcleo. Na parte
     rostral da cápsula interna, o TCE situa-se na porção anterior do membro posterior. Na cápsula as
     fibras do TCE distribuem-se posteriormente e ocupam a posição no terço posterior do membro
     posterior da cápsula interna. Em nível do mesencéfalo, o trato piramidal contém 1 milhão de
     fibras que atravessam os três quintos mediais do pedúnculo cerebral, distribuídas na seguinte
     somatotopia da linha media para lateral: face, braço, tronco e perna. A maioria das fibras do TCB
     decussa antes de fazer sinapse com os núcleos dos nervos cranianos, mas a maioria da inervação
     cortical para os centros do tronco cerebral é cruzada e não cruzada. Depois, as fibras
     descendentes passam através da porção basilar da ponte em forma de fascículos distribuídos
     difusamente, entremeados com as fibras arciformes e os núcleos pontinos da ponte para entrar
     no bulbo. Na porção caudal do bulbo, o TCE forma duas colunas chamadas de pirâmides bulbares
     na base do bulbo e divide-se em três tratos distintos (Fig.11).

     Aproximadamente 90% das fibras cruzam na decussação das pirâmides ou cruzamento de
     Mistichelli, com aquelas destinadas aos membros superiores mais anteriores e mediais e aquelas
     para os membros inferiores posteriores e laterais. Existe considerável variação na proporção do
     cruzamento e do não cruzamento das fibras do TCE no homem que varia de indivíduo para
     indivíduo, fato importante na recuperação motora. As pirâmides também contêm outros tipos de
     fibras que não são piramidais. Ressonância magnética funcional, potencial evocado motor e
     somatosensitivo confirmaram hemiplegia ipsilateral em um paciente que teve hemorragia
     cerebral. Foram capazes de demonstrar que os membros afetados eram controlados pelo córtex
     cerebral ipsilateral. Em alguns casos um TCE não cruzado está associado à anomalia congênita de



17
vários   tipos.   As   pirâmides   bulbares
                                                          apresentam somatotopia da passagem do
                                                          trato piramidal em cada lado do bulbo. No
                                                          corte axial do bulbo, em nível das
                                                          pirâmides,        existe       distribuição
                                                          somatotópica das fibras piramidais no
                                                          sentido pósteroanterior: perna, tronco,
                                                          braço e face. Acima das pirâmides bulbares
                                                          aparece a somatotopia do leminisco
     Fig.12                                 Brodal, 84
                                                          medial: perna, tronco, braço e face
     (Fig.12).

     No homem as fibras piramidais que chegam à medula são divididas em três fascículos
     independentes: lateral ou cruzado, anterior ou direto e o homolateral. As fibras que decussam
     descem pelo funículo lateral da medula no TCE lateral, situado ânterolateral ao corno posterior,
                                                          medial ao trato espinocerebelar posterior,
                                                          e posterior ao plano dos ligamentos
                                                          denteados para suprir os músculos do lado
                                                          oposto do corpo. Na medula lombossacra,
                                                          onde não existe o trato espinocerebelar
                                                          posterior, o TCE limita a superfície da
                                                          medula. O TCE lateral pode também conter
                                                          outras fibras corticofugais, como algumas
                                                          fibras ascendentes. Cerca de 50% das
                                                          fibras do TCE lateral terminam na região
                                                          cervical, 20% na torácica e 30% na
                                                          lombossacra, mas o trato termina no nível
                                                          de S3 a S4. O TCE anterior ou feixe de
                                                          Türck é menor do que o TCE lateral,
                                                          formado por uma porção menor das fibras
     Fig.13                               Capenter, 80
                                                          piramidais, geralmente contém cerca de



18
8% das fibras; não cruza nas pirâmides, desce pelo funículo anterior da medula e geralmente não
     se estende além da porção medial da região torácica. O feixe de Türck cruza nos segmentos
     medulares pela comissura branca anterior e termina na lâmina VII para suprir os músculos axiais.
     As fibras do TCE ânterolateral de Barnes ou fascículo piramidal homolateral de Dèjérine não são
     cruzadas, contam com 2%, são de calibre pequeno, e descem em posição mais anterior no
     funículo lateral que as fibras cruzadas do TCE lateral, também não cruzam na medula e terminam
     na base da coluna posterior e substância cinzenta intermédia da medula. A existência dessas
     fibras homolaterais nos explica o motivo pelo qual a destruição do fascículo piramidal em curso
     de seu trajeto encefálico determina não somente uma hemiplegia do lado oposto, mas também
     do lado correspondente ao da lesão, certa debilidade muscular e reflexos vivos (Fig.13).

     As fibras anteriores da região précentral terminam na região ventromedial da medula, enquanto
     as mais próximas do sulco précentral terminam na região dorsolateral da medula. Os axônios dos
     TCE e TCB terminam nos núcleos motores dos nervos cranianos e nas células do corno anterior
     da medula, terminando primariamente nas lâminas IV a VI, lâmina VII, lâmina VIII, e lâmina IX do
     lado oposto ao hemisfério cerebral de origem. Fibras das áreas 4 e 6 terminam mais
     ventralmente, principalmente na lâmina VII e VIII, e são concentradas nas intumescências
     cervical e lombossacra. A maioria das fibras do TCE faz sinapse nos neurônios γ do núcleo
     intermédiomedial de Cajal, que modifica a descarga dos fusos musculares e se mede o
     movimento. A intervenção do sistema gama retarda (30 milisegundos) a iniciação do movimento,
     enquanto a força do mesmo é graduada constantemente. A informação proprioceptiva é de
     grande valor para a realização dos movimentos para o sistema γ atuar nos movimentos motores
     finos, qualificados e discretos da porção mais distal das extremidades. Depois, impulsos viajam
     dos núcleos motores do tronco cerebral e das células do corno anterior da medula para as
     junções musculares estriadas. Mas, cerca de 10% a 20% das fibras piramidais termina
     diretamente sobre os neurônios motores α na lâmina IX de Rexed. Essas fibras formam a via
     corticomotoneuronal que projetam diretamente do córtex motor primário ou área 4 para o
     corno anterior da medula que permite a realização de movimentos bruscos, rápidos,
     possibilitando a interrupção rápida da atividade periférica. Uma única fibra do TCE inerva mais de
     um neurônio na medula, e alguns provavelmente inervam muitos. O trato piramidal afeta a
     atividade, tanto dos neurônios motores α como γ. A coativação α-γ serve para manter um nível


19
consistente              de
                                                                           estiramento               e
                                                                           relaxamento das fibras
                                                                           extrafusais. As fibras do
                                                                           lobo parietal que descem
                                                                           no      trato    piramidal
                                                                           terminam               sobre
                                                                           neurônios sensitivos no
                                                                           corno      posterior     da
                                                                           medula,     regulando     a
     Fig.14                                                  Netter, 87
                                                                           entrada     de   impulsos
     sensitivos ascendentes. Essas fibras constituem, provavelmente, um mecanismo sensitivo do tipo
     feed-back, capaz de influenciar os grupos celulares secundários, da qual o córtex recebe
     informação (Fig.14).

     RESUMO ANATOMOFISIOLÓGICO DAS VIAS MOTORAS DESCENDENTES

     Do ponto de vista filogenético, o controle motor voluntário é: extrapiramidal em espécies
     submamíferos (nos vertebrados inferiores não existe feixe piramidal), pirâmido-extrapiramidal
     em mamífero não humano e, essencialmente piramidal no homem; fica mielinizado nos
     primeiros 2 anos de vida. O sistema piramidal aparece tardiamente tanto na filogênese como na
     ontogênese do sistema nervoso. Para alguns anatomistas, a classificação clínica de sistema
     piramidal e extrapiramidal dificulta a compreensão das vias motoras descendentes. A partir da
     década de 60, estuda-se uma classificação anatomofisiológica em sistema lateral e medial. Os
     feixes que se originam no córtex cerebral e no mesencéfalo são geralmente cruzados e fazem
     parte do: sistema lateral.

     Do córtex cerebral, áreas 4 e 6 de Brodmann, sai o TCE que desce pela coroa radiada, dois terços
     posteriores do braço posterior da cápsula interna, o terço médio do pedúnculo mesencefálico
     lateral ao lado do TCB; o TCE organiza-se em fascículos distribuídos difusamente na ponte e
     entremeados pelas fibras arciformes da ponte; e no bulbo forma um feixe compacto em forma
     de cone que ao chegar na porção caudal do bulbo cruza a linha média com a maioria das fibras



20
para o lado oposto;
                                                                                desce pelo funículo
                                                                                lateral    da    medula,
                                                                                termina nas lâminas
                                                                                IV, V, VI, VII e IX,
                                                                                sendo que a lâmina IV
                                                                                e V recebem as fibras
                                                                                do     TCE      que     se
                                                                                originaram das áreas
                                                                                1, 2 e 3 de Brodmann
                                                                                no giro póscentral do
     Fig.15                                     Greenstein & Greenstein, 2000   lobo      parietal    para
     controlar a entrada de informação sensitiva superficial e profunda; os axônios que saem das
     lâminas inervam os músculos das extremidades do corpo, especialmente os músculos intrínsecos
     das mãos, do pés e os orbiculares da boca, para a realização de movimentos fino, suave,
     qualificado e hábeis, prevalecendo a destreza (Fig.15).

     Do mesencéfalo, da porção magnocelular do núcleo rubro origina-se o feixe rubroespinhal (FRE)
     ou feixe prépiramidal de André Thomas. O núcleo rubro (NR) contém alto teor de ferro e é
     coberto por uma espécie de cápsula que consiste de fibras aferentes e eferentes. A partir dos
     primatas, o NR subdivide-se em uma parte cranial ou parvocelular (constituído de células
     pequenas) e outra caudal ou magnocelular (formado por células grandes multipolares). A partir
     do homem, existem quatro grupos de células na parte magnocelular com 150 a 200 células
     grandes, mas na escala filogenética a proporção de células grandes decresce. O FRE ou feixe de
     von Monakow é formado por fibras de vários diâmetros com velocidade de condução que varia
     de 31 a 120 ms. Logo após originar-se cruza no mesencéfalo na decussação tegmentar ventral
     de Meynert, em seguida desce ipsilateral para integrar o funículo lateral da medula. O FRE tem
     somatotopia no seu núcleo e medula espinhal. As fibras que terminam na região cervical
     originam-se na porção dorsal e dorsomedial do núcleo rubro, as fibras de projeção lombossacra
     originam-se na porção ventral e ventrolateral do núcleo rubro, as fibras do segmento torácico da
     medula originam-se da porção intermediaria do núcleo rubro. A estimulação do NR ativa



21
motoneurônios flexores contralaterais com potenciais excitatórios póssinapticos registrados
     intracelular, enquanto motoneurônios extensores contralaterais emitem potenciais inibitórios
     póssinapticos. Os motoneurônios estáticos gama dos músculos flexores facilitam e os dos
     músculos extensores inibidos. O FRE termina nas lâminas V, VI e VII da medula onde ficam
     entremescladas com as do feixe corticoespinhal lateral. O FRE controla o tônus na musculatura
     flexora, atuando nos motoneurônios alfa tanto flexores como extensores, excitando os flexores e
     inibindo os extensores, além de inibir a ação das fibras aferentes musculares vindas dos ONT de
     Golgi e das vindo da pele que terminam na asa posterior, controlando o aparelho motor sem
     interferência das vias reflexas da medula (Tabela 1).

                    Características dos dois Sistemas de Vias Descendentes – Tabela 1 - Lent, 05
                                                            Sistema Lateral
     Origem                 Feixe               Lateralidade                  Terminação       Função
     Córtex cerebral                                                          Moto- e
                            Córticoespinhal     Contralateral                                  Movimentos
     (áreas 6 e 4                                                             interneurônios
                            Lateral             (decussação piramidal)                         apendiculares voluntários
     Brodmann)                                                                laterais

                            Rubroespinhal       Contralateral (cruza no       Moto- e
                                                                                               Movimentos
     Núcleo rubro           (feixe de von       tegmento ventral              interneurônios
                                                                                               apendiculares voluntários
                            Monakow)            mesencefálico)                laterais

                                                            Sistema Medial
            Origem                  Feixe                Lateralidade            Terminação               Função

     Córtex cerebral        Córticoespinhal                                   Moto- e
                                                Bilateral (cruzamento parcial                  Movimentos axiais
     (áreas 6 e 4           medial (feixe de                                  interneurônios
                                                na medula)                                     voluntários
     Brodmann)              Türck)                                            mediais

                                                Contralateral (cruza no       Moto- e
                                                                                               Orientação
     Colículo Superior      Tectoespinhal       tegmento dorsal do            interneurônios
                                                                                               Sensoriomotora da cabeça
                                                mesencéfalo)                  mediais
                                                                              Moto- e
     Formação Reticular     Retículoespinhal                                                   Ajustes posturais
                                                Ipsilateral                   interneurônios
     pontina                pontino                                                            antecipatórios
                                                                              mediais
                                                                              Moto- e
     Formação reticular     Retículoespinhal                                                   Ajustes posturais
                                                Ipsilateral                   interneurônios
     bulbar                 bulbar                                                             Antecipatórios
                                                                              mediais

     Núcleo Vestibular                                                        Moto- e          Ajustes posturais para a
                            Vestíbuloespinhal
     Lateral (Núcleo de                         Ipsolateral                   interneurônios   manutenção do equilíbrio
                            lateral
     Deiters)                                                                 mediais          corporal


     Núcleo Vestibular                                                        Moto- e
                            Vestíbuloespinhal                                                  Ajustes posturais da cabeça e
     Medial                                     Bilateral                     interneurônios
                            medial                                                             tronco
     (Núcleo de Schwalbe)                                                     mediais




22
Os feixes que se originam no mesencéfalo, ponte e bulbo são ipsilaterais e fazem parte do:
     sistema medial.

     Do córtex cerebral, áreas 4 e 6 de Brodmann, sai um pequeno contingente de fibras que cruza
     parcialmente no bulbo, menos do que as fibras do TCE, desce pelo funículo ventromedial
     formando o trato corticoespinhal ventral, cruza na comissura branca anterior da medula e
     termina na lâmina VII, para inervar os músculos proximais dos apêndices, braços e coxas, e a
     musculatura do tronco. Origina-se do mesencéfalo o feixe tectoespinhal (FTE) ou fascículo de
     Löwenthal, a partir das camadas mais profundas dos colículos superiores. O FTE cruza na
     decussação tegmentar dorsal, e desce junto do FLM no tronco cerebral e na medula pelo
     funículo anterior até os quatro primeiros segmentos cervicais; termina nas lâminas VI, VII e VIII
     sem fazer sinapse direta nos motoneurônios α e, sim, por via dos neurônios internunciais. Essas
     fibras constituem o braço de descarga de um arco reflexo óptico através do qual se produzem
     movimentos defensivos e reflexos de fuga. Esse feixe tem como principal função mediar os
     movimentos posturais reflexos, em resposta aos estímulos visuais e, talvez, auditivos (girando os
     olhos e a cabeça para o lado). Recebe influência do córtex cerebral, principalmente da área 18 de
     Brodmann do lobo occipital.

     O feixe vestíbuloespinhal (FVE) forma dois feixes: o lateral e o medial. O lateral origina-se no
     núcleo de Deiters (situado no assoalho do IV ventrículo, na altura da área vestibular com células
     grandes ou de Deiters e células pequenas) e descendente do nervo vestibular. O FVE lateral
     desce ipsilateral pela parte mais anterior do funículo lateral da medula numa velocidade de
     condução que varia de 24 a 140 ms. As fibras que saem da parte dorsolateral do núcleo
     vestibular lateral projetam-se no segmento lombossacral da medula espinhal e as fibras que
     saem da porção rostrocaudal projetam-se para os segmentos cervicais da medula. O FVE lateral
     termina nos neurônios α e γ na lâmina VIII, e parte das lâminas VII e VIII. A influência do sobre os
     neurônios gama parece ser exercida sobre neurônios estáticos apenas, monossinápticos, sendo
     excitatórios. Motoneurônios gama flexores e extensores parecem ser facilitados e inibidos,
     respectivamente. Motoneurônios α e γ dentro de um pool de motoneurônios parecem ser
     ativados em paralelo pelo núcleo de Deiters ao utilizar as células grandes e pequenas, e suas
     atividades parecem ser intimamente relacionadas. O exemplo comum ocorre durante a marcha



23
automática, quando um membro está em flexão o outro em extensão. O FVE lateral transmite
     aos motoneurônios os influxos que chegam à área vestibular desde o labirinto posterior, o que
     permite interferir na produção dos reflexos estáticos e cinéticos do equilíbrio, ou seja, os reflexos
     que mantém a atitude ou postura do corpo. Ainda influencia no funcionamento do arco reflexo
     miotático, reforçando a sua atividade. Considera-se que o FVE lateral exerce influencia
     facilitadora sobre a atividade reflexa somática da medula e sobre os mecanismos que controlam
     o tônus dos músculos extensores. O feixe vestibuloespinhal (FVE) medial origina-se dos núcleos
     vestibulares mediais bilaterais, núcleos de Schwalbe, situados na ponte inferior, cruzam em
     seguida para formar o FVE medial, desce pela parte medial da medula e terminam nos
     motoneurônios e neurônios internunciais na porção média da medula torácica, principalmente
     na lâmina VII de Rexed. Sua principal função está relacionada com os ajustes posturais da cabeça
     e membros superiores.

     O feixe retículoespinhal (FRE) é dividido em três: ventral, medial e lateral. O FRE lateral origina-se
     nos neurônios dos núcleos pontinos oral e caudal da formação reticular (zona facilitadora). O FRE
     pontino é quase ipsilateral e desce pela parte medial do funículo anterior e cobre toda extensão
     da medula numa velocidade de condução de 101 ms; associa-se ao FLM até a medula cervical
     superior, exercendo uma função facilitadora sobre diferentes tipos de motoneurônios da lâmina
     VIII, e parte da lâmina VII. Sua principal função é a de controlar os movimentos posturais dos
     músculos axiais e da parte proximal dos membros, principalmente do pescoço. O feixe
     retículoespinhal (FRE) medial e o ventral originam-se da porção bulbar da formação reticular
     (zona inibidora ou supressora) principalmente no núcleo reticular gigantocelular. O FRE medial
     desce pela parte mais interna do funículo anterior da medula. O FRE ventral desce pelo funículo
     anterior da medula numa velocidade de condução de 70 ms. O FRE ventral e o medial
     constituem um circuito neuronal numa via inibidora do arco reflexo miotático que começa no
     sulco prérolandico do córtex frontal na área 4S de Marion Hines, e termina nos motoneurônios
     da asa anterior da medula, passando através da zona inibidora da formação reticular. Essa via
     tem dois neurônios: do córtex cerebral e da formação reticular bulbar. O axônio da primeira é
     uma fibra justapiramidal que desce junto co o feixe piramidal até a ponte de Varolio, em cujo
     ponto se separa para alcançar a formação reticular bulbar. Na medula o FRE ventral e o medial




24
terminam na lâmina VII do sistema γ (juntas com fibras do TCE e rubroespinhal), e algumas na
     lâmina I que controlam a entrada de informação para a formação reticular para regular o tônus.



                                                                 Fig. 16   O feixe solitário espinhal
                                                                           de Rothman ou fascículo
                                                                           bulboespinhal visceral de
                                                                           Allen é parte integrante
                                                                           do FRE lateral, mas ás
                                                                           vezes    está    separado.
                                                                           Trata-se de um grupo de
                                                                           células nascidas no setor
                                                                           da    formação    reticular
     Lent, 05                                                              próximas ao núcleo do
     nervo vago, as quais se comportam como centro respiratório e vasomotor. As fibras desse
     fascículo terminam nos centros da asa lateral da medula que governa a respiração e a função
     vasomotora, integradas aos motoneurônios que inervam o diafragma e os músculos intercostais.
     Além do mais, fibras autônomas descendentes dos níveis superiores acompanham o FRE na
     regulação noradrenérgica na pressão arterial. A classificação do sistema piramidal e
     extrapiramidal, descrita acima, ainda não tem sustentação clínica, mas pode ser útil para pessoas
     experientes (Fig.16).

     FISIOPATOLOGIA E SEMIOLOGIA DA SÍNDROME PIRAMIDAL

     Do ponto de vista fisiopatológico o sistema piramidal é constituído por dois componentes:
     ortopiramidal e justapiramidal. O primeiro é um feixe que se inicia no córtex e termina nos
     segmentos da medula, nos neurônios internunciais, neurônios α e γ, sem fazer sinapse durante
     seu percurso. O segundo é um feixe que se inicia nas áreas supressoras da área 4 e área 6 ou
     suplementar; ao descer pelo tronco cerebral não passa pelas pirâmides bulbares; faz sinapse na
     formação reticular inibidora situada na porção ventromedial do bulbo; projetando-se para os
     segmentos medulares pelo FRE inibidor com função de inibir o reflexo miotático. Um terceiro
     componente contíguo ao primeiro inicia-se das áreas 1, 2 e 3 do lobo parietal para terminar na



25
asa posterior dos segmentos da medula e, parte dele, termina no núcleo do trigêmio e de Goll e
     Burdach e recebe o nome de TCB. Sua função é a de controlar os impulsos que chegam à medula
     para em seguida subirem ao córtex parietal, realizando um feed-back negativo.

     O termo plegia serve para motricidade e sensibilidade: hemiplegia motora e hemiplegia sensitiva.
     Ao longo do tempo, o nome hemiplegia tornou-se um sinônimo de déficit motor no hemicorpo,
     mas não déficit de sensibilidade. Conforme a distribuição somática das paralisias o déficit motor
     pode ser chamado de: monoplegia braquial e crural; hemiplegia quando todo o dimídio corporal
     está comprometido, incluindo a hemitesta; plegia dos membros homolaterais, incluindo o facial
     supranuclear ou hemiplegia poupando a hemitesta; paraplegia braquial e paraplegia crural;
     triplegia é a fraqueza motora em três membros causada por uma mesma lesão (veja a
     decussação das pirâmides), quando causado por duas lesões trata-se de hemiplegia e
     monoplegia; tetraplegia é a paralisia de quatro membros provocada por uma lesão (meningeoma
     do forame magno pode começar a dar sintomas de fraqueza espástica de um membro, seguido
     em forma de “U” ou síndrome em “U”); diplegia é uma hemiplegia dupla provocada por duas
     lesões distintas. Conforme a distribuição da proporção a hemiplegia pode ser classificada como:
     desproporcionada de predomínio braquial, crural, facial, faciobraquial (formas semiológicas
     características das embolias cerebrais que comprometem a artéria silviana na região da coroa
     radiada); as hemiplegias podem ser alternas quando os membros homolaterais comprometidos
     estão associados no lado contralateral a um nervo craniano: paralisia facial ou estrabismo
     divergente ou desvio da língua, etc; a hemiplegia cruzada ocorre quando o déficit motor alterna
     entre os membros sem afetar os nervos cranianos: um membro superior homolateral à lesão e
     um membro inferior contralateral à lesão; a hemiplegia pode ser pura, quando exclusivamente
     motora; complicada quando acompanhada de síndrome sensitiva, atáxica, amiotrófica, distônica,
     etc.

     Semiologia da síndrome piramidal

     Costuma-se designar como síndrome piramidal deficitária ou de liberação ou ambas, ao conjunto
     de sintomas e sinais observáveis em patologias que afetam a via piramidal. Geralmente, a fase
     deficitária aparece em episódios agudo da lesão piramidal, fase de choque; posteriormente
     seguida pela fase de liberação que surge com a presença do sinal de Babinski. A síndrome



26
piramidal destrutiva foi descrita por Barré, sem que essa falha da função piramidal, implique
     necessariamente na presença de uma lesão objetiva. A síndrome piramidal irritativa ou clássica
     foi descrita primeiro, especialmente por Babinski, a qual determina descarga epiléptica focal.

     Sintomas deficitários da síndrome piramidal de Barré

     A síndrome piramidal deficitária por lesão ortopiramidal ocorre por perda da inibição. O déficit
     de energia pode ser cinético com debilidade dos movimentos voluntários e, estático, com
     incapacidade de manutenção de atitudes forçadas. O déficit motor cortical ortopiramidal
     distribui-se na região dos dedos polegar e indicador, dificultando o movimento em pinça,
     observado na manobra dinâmica de Müller Fischer. O déficit motor córticosubcortical
     ortopiramidal distribui-se nos músculos extensores do punho, dificultando a extensão do punho
     detectado pela manobra de Strauss. paciente estende o punho contra a resistência da mão do
     médico, havendo déficit motor. Os músculos extensores do punho são filogeneticamente mais
     recentes do que os músculos flexores, portanto alteram-se antes. Os músculos flexores do punho
     são inervados pelo feixe rubroespinhal que é controlado, principalmente pela área 6 de
     Brodmann. O déficit motor peculiar da SP se distribui habitualmente segundo uma topografia
     eletiva, que realiza a postura de Wernicke-Mann, constituída por adução do braço, flexão e
     pronação do antebraço, flexão do punho e dos dedos da mão com o polegar aduzido; extensão
     do membro inferior, pé varo e em ligeiro equinismo.

     Os reflexos podem ser divididos em proprioceptivos, exteroceptivos e visceroceptivos. Os
     proprioceptivos dependem da excitação de receptores com sede nos músculos, tendões, sáculo,
     utrículo e canais semicirculares. Os exteroceptivos são captados em receptores situados na pele,
     ou em mucosas externas como córnea, faringe, etc. Os visceroceptivos relacionam-se com o
     setor vegetativo. Os proprioceptivos são: reflexos de tração muscular ou miotáticos que são
     captados pelos receptores do fuso muscular e pelos órgãos neurotendíneos de Golgi, conduzidos
     à medula pelas fibras mielínicas tipo I e II de Lloyd; e pelos reflexos labirínticos ou tônicos. Ao
     serem pesquisadas duas respostas podem ser obtidas: clônica e tônica. Na primeira, os reflexos
     proprioceptivos estimulam-se as terminações anuloespirais que disparam aos motoneurônios
     medulares α-1, provocando os reflexos profundos.




27
Os reflexos profundos se dividem em apendiculares e axiais. Entre os primeiros existem: nos
     membros superiores, o bicipital realiza flexão e supinação do antebraço, inervado pelo
     musculocutâneo e raízes de C5-C6; o tricipital realiza a extensão do antebraço, inervado pelo
     radial e raízes de C7-C8 e, na resposta invertida do tricipital, existe flexão no antebraço por lesão
     aferente do arco reflexo nas lesões nos segmentos C7-C8, principalmente quando existe
     elemento de espasticidade como na espondilose cervical com rediculomielopatia; o estilorradial
     realiza pronação e ligeira flexão do antebraço, inervado pelo radial e raízes de C5-C6
     braquiorradial e C7,C8,T1 flexores dos dedos; nos membros inferiores o patelar realiza a
     extensão da perna, inervado pelo femoral e as raízes de L2-L4; e o aquileu realiza a extensão do
     pé, inervado pelo tibial e as raízes L5-S2. A resposta clínica desses reflexos pode ser: abolido,
     diminuído, presente, vivo (caracteriza-se por resposta rápida e amplitude aumentada) e exaltado
     (acrescenta-se ao reflexo vivo, o aumento da área reflexógena). Outra obtenção é usada como: 0
     abolido, 1 + (presente diminuído), 2 + (normal), 3 + (aumentado mas não necessariamente
     patológico) e 4 + (marcadamente hiperativo, patológico, com aumento da área de percussão). O
     sinal + após o número é mais tradicional do que informativa.

     Os reflexos axiais incluem os axiais da face e do tronco. Os primeiros são: o nasopalpebral que
     realiza oclusão da rima palpebral, inervação aferente trigêmio e eferente facial; o orbicular dos
     lábios realiza protusão dos lábios, inervado pelo trigêmio e facial; e o mandibular realiza
     elevação da mandíbula, inervado pela aferência e eferência do trigêmio - todos os três têm seu
     centro reflexo na ponte. Os reflexos do tronco são os reflexos abdominais profundos, sendo mais
     importante o mediopúbco, que realiza contração ipsilateral dos músculos retos abdominais,
     desvio da cicatriz umbilical e adução das coxas, inervado pelos intercostais inferiores, ilíoinguinal,
     ilíohipogástrico, obiturador e as raízes T6-T12.

     Os reflexos tônicos são segmentares e cervicais. Os primeiros sustentam as atividades posturais e
     participam na regulação dos movimentos regulada pelos circuitos reverberantes γ e as vias
     descendentes, originadas na formação reticular, núcleo vestibular lateral, cerebelo, etc., cujos
     influxos atingem os músculos nas fibras extrafusais, seja diretamente pelos motoneurônios α,
     seja indiretamente pelo sistema γ. Os reflexos tônicos cervicais consistem de reações de
     músculos apendiculares desencadeadas pela movimentação passiva da cabeça. Os corpúsculos



28
de Vater-Pacini situados nos ligamentos das articulações cervicais, particularmente na atlanto-
     occipital. Na rotação da cabeça para um lado provoca a extensão do membro superior ipsilateral
     e a flexão contralateral (postura do esgrimista em guarda). A anteflexão passiva da cabeça
     determina a flexão dos membros superiores e a extensão dos inferiores. A retroflexão passiva da
     cabeça determina extensão dos membros superiores e flexão dos membros inferiores. Os
     reflexos labirínticos são desencadeados pela estimulação do ouvido interno resultando
     movimentação óculocefalica e do equilíbrio. Os influxos são transmitidos aos neurônios motores
     periféricos através do FLM e do trato vestíbuloespinhal, estabelecendo conexões entre os
     núcleos vestibulares, os nervos motores oculares, o núcleo espinhal do acessório e as colunas
     cinzentas ventrais da medula cervical; o trato vestíbuloespinhal está correlacionado com o tono
     dos músculos extensores do pescoço e dos membros inferiores, e músculos antigravitários das
     costas.

     Os reflexos exteroceptivos são polissinápticos com maior período de latência, maior
     fatigabilidade, necessidade de somação de estímulos e falta de resposta a autopesquisa. Entre os
     reflexos cutâneos que se admite sejam normalmente ativados pelo sistema piramidal: os
     cutâneoabdominais superior, médio e inferior realizam a contração ipsilaterais dos músculos
     abdominais, os quais são inervados pelas raízes de T6-T9 para os superiores, T9-T11 para os
     médios e T11-T12 para os inferiores; o cremastérico realiza a contração do músculo cremastérico
     na dependência do músculo oblíquo interno do abdome, inervado pelo ilíohipogastrico e
     ilíoinguinal e raízes de L1L2; e os reflexos cutâneoplantares em flexão (veja abaixo sinal de
     Babinski). A perda transitória ou permanente dos reflexos superficiais cutâneoabdominais,
     cremastéricos e cutâneoplantares ocorre pela retirada da inibição ortopiramidal durante o
     período de choque do sistema piramidal. Os reflexos visceroceptivos são estudados com o
     sistema nervoso autônomo.

     Os reflexos exteroceptivos são polissinápticos com maior período de latência, maior
     fatigabilidade, necessidade de somação de estímulos e falta de resposta a autopesquisa. A perda
     dos reflexos cutâneoabdominais, cremastéricos, cutâneoplantares, e o aparecimento do reflexo
     palmomentual acontecem durante o período de choque por lesão ortopiramidal, causando perda
     da facilitação do sistema piramidal. Os reflexos abdominais e cremastéricos estão presentes no




29
nascimento, embora com uma área reflexógena maior; no adulto, a estimulação exteroceptiva
     do abdômen provoca contração da musculatura abdominal e relaxamento recíproco da
     musculatura do tórax. Acredita-se que esses reflexos sejam reflexos de defesa, integrados em
     níveis espinhal via internunciais e facilitados pelo trato piramidal. Apesar dos estímulos
     piramidais produzirem um potencial excitatório pós-sináptico nos neurônios internunciais
     relacionados com esses reflexos, não há evidencia de que a abolição desses reflexos esteja
     diretamente dependente de lesão do trato piramidal. A estimulação cutânea rápida, em
     condições favoráveis da parede abdominal no sentido láteromedial à altura das regiões
     epigástricas, obtém-se os reflexos: abdominais superiores – raízes de T6-T9; na região umbilical,
     abdominais médios – raízes de T9-T11; e na região hipogástrica, e os abdominais inferiores –
     raízes de T11-T12. Ocorre a contração ipsilateral dos músculos reto do abdome, oblíquo externo,
     oblíquo interno e transverso, com desvio da linha alba e da cicatriz umbilical no sentido
     médiolateral.
     O reflexo cremastérico superficial aparece pela estimulação cutânea do terço superior da face
     medial da coxa e, o reflexo cremastérico profundo, pela pressão digital sobre a face medial da
     musculatura da coxa, entre o terço superior e médio. A contração do músculo cremaster está na
     dependência do músculo oblíquo interno do abdome com elevação do testículo ipsilateral ou
     retração do grande lábio ipsilateral. Em caso do reflexo cremastérico exaltado, pode ser
     percebido contralateral. Sua inervação é feita pelos nervos iliohipogástrico e ilioinguinal com
     nível medular em L1-L2. Esse reflexo não deve ser confundido com o reflexo dartóico ou escrotal,
     que consiste em leve corrugamento da bolsa escrotal, devido ao a contração do darto um
     músculo liso de inervação simpática, e provocado por excitação cutânea do escroto, períneo ou
     coxa, como também por ação do frio. Nas lesões cordonais posteriores aparece o sinal de Tolosa
     devido à dissociação entre os dois reflexos cremastéricos: presença do superficial e abolição do
     profundo. Os reflexos cutâneoplantares em flexão (veja abaixo sinal de Babinski).
     O reflexo palmomentoniano é possuidor de um arco reflexo multissegmentar inibido pelos
     sistemas motores superiores, tendo fisiopatologia similar aos reflexos axiais da face. Pesquisa-se
     pela estimulação, principalmente da eminência tênar; pode está presente em indivíduos
     normais, por contração ipsilateral dos músculos mentual e orbicular, com ligeira elevação do
     lábio inferior; mostra-se vivo nas lesões piramidais bilaterais, principalmente corticonuclear, e



30
nas síndromes paleoestriadas; e mostra-se abolido na paralisia facial central ou periférica; sua
     interpretação depende do contexto sindrômico. Entretanto, existem duas proposições: A. O
     reflexo palmomentual normal segue tais características – 1. Zona reflexógena limitada à
     eminência tênar; 2. Resposta débil e de curta duração; 3. Extinção da resposta entre 2 a 4
     estimulações; e 5. Variações de um a outro momento. B. O reflexo palmomentual patológico se
     caracteriza por - 1. Zona reflexógena que ultrapassa a eminência tênar; 2. Resposta de média a
     intensa; 3. Sem habituação após 2 a 4 estimulações; 4. Constancia da resposta entre um a outro
     momento. Os reflexos visceroceptivos são estudados com o sistema nervoso autônomo.


     Sintomas de liberação da síndrome piramidal de Babinski

     As lesões piramidais condicionam uma desintegração complexa da função motora, que
     associadas ao déficit motor realizam modificações qualitativas, por sua conta, do campo de ação
     motor onde ocorrem os movimentos associados anormais. Portanto, a exaltação do sistema
     extrapiramidal tende a predominar pela falta de inibição do sistema piramidal e origina a
     síndrome de liberação extrapiramidal. Essa síndrome é constituída por dois componentes: por
     lesão da via ortopiramidal e por lesão da via justapiramidal. Na lesão da via ortopiramidal,
     aparece liberação do sistema extrapiramidal com sincinesias globais e de coordenação; e a
     liberação dos sistemas polissinápticos nociceptivos da medula decorrentes da liberação pura do
     sistema ortopiramidal com sinal de Babinski e automatismo medular. Nas lesões da via
     justapiramidal por liberação do sistema vestibuloespinhal aparecem sinais de espasticidade; e na
     liberação do sistema reticuloespinhal facilitador ocorre hiperreflexia e clonus.

     Sincinesias ocorrem quando os membros contraturados, mais ou menos incapazes de
     movimentar-se pela vontade, podem apresentar movimentos involuntários diante de
     movimentos voluntários ou passivos do lado oposto. Por imaturidade do sistema piramidal as
     crianças realizam movimentos similares as sincinesias com a mão esquerda, face, língua quando
     aprendem a escrever. Posteriormente desaparecem. Entretanto, algumas pessoas os mantêm
     quando realizam movimentos mais finos. As sincinesias patológicas podem ser classificadas em:
     A sincinesia global caracteriza-se pela contração global dos músculos do lado paralisado com
     consequente contratura observada nos hemiplégicos (flexão da extremidade superior e extensão




31
do inferior). Pode ser obtida quando: a) quando se reforça a contração do esforço, o fechamento
     com força da mão do lado sadio; b) no hemiplégico a sincinesia global é influenciada pelo reflexo
     tônica cervical, ao girar a cabeça para o lado normal aumenta o tônus flexor e diminui ao girar a
     cabeça para o lado doente por aumento do tônus extensor; c) durante a marcha na hemiplegia
     piramidal clássica, ao abduzir a extremidade inferior, o paciente flexiona o joelho contra a
     resistência, não pode fazê-lo sem ao mesmo tempo realizar uma flexão dorsal com adução do pé
     (fenômeno de Strümpell ou do tibial anterior); d) durante movimentos automáticos como
     espirro, tosse, riso, etc.

     Sincinesias de coordenação é a que melhor expressa à situação condicionada pelo transtorno
     piramidal. A sincinesia pode ser homolateral e heterolateral ao déficit: a) A sincinesia
     homolateral no tibial anterior (Strümpell) ocorre quando o paciente com lesão piramidal tenta
     fletir a perna sobre a coxa e a coxa sobre a pelve, aparece dorsoflexão e inversão do pé. O sinal
     dos interósseos de Souques ocorre quando da elevação voluntária do membro superior lesado
     acompanha-se de hiperextensão e abdução dos dedos da mão paralisada. b) A sincinesia
     heterolateral realizada pela prova de Raimiste na abdução associada. Coloca-se o paciente em
     decúbito dorsal com os membros inferiores em extensão, tenta-se abduzir o membro normal
     contra a resistência e o membro lesado abduz por associação. O mesmo principio é obtido ao
     fazer a adução dos membros inferiores.

     O sinal de Babinski (SB) descrito em 1896 e os reflexos de defesa chamados de automatismo
     medular têm uma unidade funcional e fisiopatológica. O SB é a flexão dorsal ou extensão do
     hálux produzida por estimulação do tegumento de qualquer que seja a superfície plantar que
     não seja a do hálux. O sinal de Babinski em forma de leque, descrito em 1903, ocorre em lesão
     predominante na área prémotora, pesquisado similar ao tradicional. Mas, é bem aceita a
     estimulação de trás para frente, roçando a parte externa do pé e a base dos dedos, sem feri-lo. O
     SB é o primeiro sinal de liberação a aparecer na lesão piramidal, podendo ser seguido pelos
     reflexos de defesa. Em certos casos de lesão piramidal pode aparecer o SB da mão, que consiste
     no movimento de flexão, oposição e adução do polegar ao ser estimulada a eminência hipotenar.
     A margem cubital no adulto, apesar de medial, corresponde à lateral do pé no processo de
     ontogênese. Em casos raros, o SB pode ser obtido pela estimulação do território do nervo




32
trigêmio com resposta extensora do hálux contralateral. Mas, interpretações errôneas do SB
     existem. O pseudosinal de Babinski ou Babinski periférico pode ocorrer em casos de neuropatia
     periférica, poliomielite com atrofia dos extensores curtos dos artelhos, principalmente o flexor
     curto, adutor e abdutor do hálux. Como os músculos extensores estão íntegros pode haver
     resposta extensora da primeira falange do hálux. Mas, o SB não traduz necessariamente a
     existência de uma lesão anatômica piramidal, também pode existir por distúrbio funcional no
     sono profundo, intoxicação por barbitúricos, etc.

     A extensão do hálux não é mais do que o componente mais distal da resposta sinérgica
     nociceptiva flexora da extremidade inferior, como visto no reflexo medular cruzado. Portanto, a
     flexão dorsal reflexa do pé estimulada pela planta do pé não é uma resposta reflexa patológica.
     Normalmente, a cronaxia sensitiva é igual à dos flexores, mas é o dobro da dos extensores. A via
     sensitiva contém fibras finas do tipo A e do tipo C, sendo as últimas de condução mais lenta.
     Portanto, o reflexo cutâneoplantar tem dois componentes, um mais rápido e outro mais lento.
     Na resposta motora, primeiro aparece com a flexão do bíceps crural e depois com a extensão do
     tibial anterior, respectivamente. No caso de lesão piramidal a cronaxia sensitiva não se altera,
     mas as motoras se invertem, de forma que a dos flexores se divide e a dos extensores se duplica.
     Como os influxos nervosos caminham por vias isócronas, a excitação plantar provocará não mais
     flexão e, sim, extensão: primeiro o tibial anterior e extensor longo do hálux, depois o bíceps. A
     retirada da inibição tônica desses músculos pelo sistema piramidal é responsável pela inversão
     funcional desses músculos.

     Resumo do sinal de Joseph Francois Felix Babinski - A área reflexógena para o reflexo
     cutâneoplantar é a raiz de S1 com as terminações nervosas alcançando a pele. O nervo aferente
     é o tibial anterior, os segmentos medulares envolvidos no arco reflexo vão de L4 até S2. Para
     pesquisá-lo, deve-se dizer ao paciente que a planta do seu pé vai ser estimulada, ele deve ficar
     com a perna relaxada sobre a cama com leve flexão na dobra do joelho e o pé em discreta
     eversão. Utiliza-se um estilete de ponta rombuda e pressiona-se qualquer área da planta do pé
     menos o próprio hálux e, num tempo máximo de 5 segundos, realiza-se o movimento uniforme;
     não se deve ferir a pele do pé ou repetir o procedimento logo em seguida. O verdadeiro sinal de
     Babinski ocorre pela extensão do hálux decorrente do recrutamento de todos os componentes




33
envolvidos com o músculo longo extensor do hálux. A resposta fisiológica do reflexo
     cutâneoplantar ocorre quando indivíduos sentem uma sensação desagradável durante a
     estimulação ou são muito sensíveis ao estímulo; esse fenômeno já tinha sido demonstrado antes
     de Babinski, por Leonardo da Vinci e Raphael, nas suas clássicas pinturas. O sinal de Babinski
     pode existir por lesão fisiológica ou anatômica do feixe ortopiramidal. Quando a via
     justapiramidal está envolvida separa da ortopiramidal a resposta em extensão não tem o mesmo
     significado. Quando ambas as vias estão lesadas há extensão rápida de todos os dedos do pé;
     quando na via ortopiramidal, apenas do hálux faz extensão; e na lesão da via justapiramidal a
     extensão é em leque e mais devagar. A extensão do hálux só é patológica se causada pela
     contração do músculo extensor do hálux; a contração do músculo extensor do hálux é patológica
     somente se ele ocorrer sincronicamente com atividade reflexa em outros músculos flexores; o
     sinal de Babinski não implica necessariamente que a atividade concorrente dos outros músculos
     flexores seja muito viva ou vice-versa.

     Com relação aos reflexos de defesa ou de automatismo medular precisa-se ser rigoroso na
     diferenciação entre os autênticos reflexos de defesa, que tem uma significação de disfunção
     piramidal com liberação da atividade nociceptiva espinhal, dos reflexos de reação de defesa. O
     sinal patológico é a flexão dorsal reflexa do pé produzida por estimulação fora da superfície
     plantar; sempre hiperexcitável e estereotipado. Um beliscão no dorso do pé pode desencadear
     uma resposta em tríplice flexão (do pé, da perna e da coxa), principalmente nas lesões
     medulares. Enquanto, os reflexos de reação de defesa ocorrem por hiperestesia, excitação
     psicomotora, instabilidade emocional, redução do controle de vigília, etc; poder ser excitáveis ou
     hiperexcitáveis, mas a resposta não é estereotipada.

     A espasticidade é uma hipertonia essencialmente constituída por um excesso de atividades
     reflexas que utilizam o arco reflexo. É decorrente da liberação do feixe vestibuloespinhal pela
     lesão do sistema justapiramidal que deixa de inibir os motoneurônios do sistema γ dinâmico,
     tendo reflexos vivos ou exaltados. Na espasticidade existe um desequilíbrio entre as influências
     facilitadoras e inibidoras supraespinhais que chegam aos motoneurônios γ, desequilibra o sinal
     positivo através do circuito periférico, determina a potenciação présinaptica dos motoneurônios
     α tônico. A espasticidade apresenta-se diferente em topografias distintas. Nas lesões corticais e



34
capsulares não existe a quebra do princípio da inervação recíproca; nas lesões de tronco
     encefálico há redução da inibição recíproca com atividade aumentada do antagonista, tanto
     durante a tração como ao longo da sua manutenção; e nas lesões da medula espinhal não existe
     inervação recíproca, em virtude da descarga prolongada e irradiada, deixando de ser
     espasticidade. Nas lesões corticais, capsulares e de tronco cerebral da via piramidal aparece o
     sinal de Babinski simples ou em leque, a depender da área cortical lesada, área 4 ou área 6 de
     Brodmann, respectivamente; nas lesões da medula espinhal além do sinal de Babinski, aparecem
     os reflexos de defesa em tríplice flexão. Na síndrome piramidal pura a hipertonia é seletiva,
     atingindo os músculos flexores dos membros superiores e os extensores dos músculos inferiores.
     A hipertonia é elástica e liberta o músculo passivamente distendido. Nas lesões que predominam
     a via ortopiramidal a presença do sinal do canivete pode ser mais evidente do que quando
     predomina os sinais de lesão da via justapiramidal.

     A espasticidade do sistema γ dinâmico é diferente da rigidez devido à falta de inibição do sistema
     γ tônico, com o aparecimento dos reflexos tônicos exaltados. O reflexo tônico do músculo tibial
     anterior encontrado nos parkinsonianos é um dos exemplos de reflexo tônico de postura. O
     bloqueio seletivo das fibras finas, que respeitam tanto as fibras eferentes α como as aferentes Ia,
     produz alguma diminuição transitória do reflexo tônico exagerado. Enquanto a rigidez do sistema
     α pode ser vista principalmente nas lesões do vermis anterior ou paleocerebelo e, não
     desaparece com secção das raízes dorsais, como desaparece na espasticidade do sistema γ
     dinâmico.

     Do ponto de vista semiológico, a espasticidade é diferente da rigidez. A hipertonia para
     movimentos passivos difere da rigidez por não ser uniforme aos vários tipos de movimentos e
     variar com a velocidade do movimento. Além do mais, a rigidez tende a afetar todos os músculos
     no mesmo grau, enquanto a hipertonia varia de um grupo de músculos para outro. Na
     espasticidade, se o movimento for realizado lentamente, pode existir pouca resistência. Mas, se
     o movimento for rápido, haverá aumento rápido da resistência. Com o cotovelo em 90 graus e o
     antebraço pronado o médico supina lentamente a mão do paciente, a menos que a espasticidade
     seja severa, nesse caso haverá clonus do músculo pronador. Na hemiparesia ou hemiplegia, a
     espasticidade é mais marcada nos músculos flexores e pronadores da extremidade superior e



35
Sistema sindrome piramidais
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Sistema sindrome piramidais

  • 1. O SISTEMA E A SÍNDROME PIRAMIDAIS Dedico este opúsculo ao meu mestre, Luís Barraquer i Bordas, pela sua contribuição ao estudo do sistema e da síndrome piramidais. Introdução A organização geral dos sistemas motores cerebrais depende da organização dos impulsos motores superiores que chagam a unidade motora na medula e, se esquematiza, de acordo com a diferenciação que existe entre dois sistemas: a) o sistema piramidal, b) o sistema ou sistemas extrapiramidais. A motricidade voluntária (MV) da qual o sistema piramidal faz parte é a mais evoluída das três formas de atividade motora. Caracteriza-se pelo mais alto grau de independência em relação a influencia imediata do meio, estando intimamente presa à formação da personalidade do indivíduo. Pessoas de ambos os sexos têm formas especificas para realizar movimentos, os quais foram aprendidos durante suas vidas dentro de um contexto cultural. Mas, nem todo movimento vem a partir do sistema piramidal. Os movimentos automáticos originados filogeneticamente antes do piramidal podem aparecer durante a marcha em várias situações. Numa atração sensual os movimentos no homem são exacerbados nos ombros, enchendo o peito, abrindo os braços, colocando uma das mãos na cintura; enquanto a mulher afasta um pouco os braços do corpo, mantém o tronco superior mais fixo para mexer melhor os quadris, passa a mão no cabelo, joga-o para trás ou para o lado. Os centros motores somáticos trabalham juntos com os centros vegetativos durante a excitação cortical para haver vasodilatação periférica devido ao maior gasto de energia, a fim de auxiliar na contração muscular sem fadiga. Mas, a MV distingue-se da automática, principalmente pelo fato de sua realização provocar muito maior fadiga. O cansaço produzido pelos movimentos propositais, repetidos, de flexão e extensão dos membros inferiores, é muito maior do que o determinado pelo mesmo conjunto de movimentos no ato automático da marcha: pensar em andar cansa mais do que andar sem pensar. 1
  • 2. Generalidades O trato piramidal (TP) com seus 20 milhões de fibras é um dos sistemas motores que convergem para as células do corno anterior da medula espinhal, embora, existem outros neurônios motores superiores que não fazem parte desse sistema. O TP descrito em 1851, por Türck, parece ser o primeiro conjunto de fibras reconhecido como um trato específico do encéfalo. O trato piramidal é formado pelo trato córticoespinhal (TCE) e o trato córticobulbar (TCB) que são usados quando for feita referências a eles. O TCB supre as estruturas do tronco cerebral no mesmo caminho do TCE, que inerva a medula espinhal, mas não passa através da pirâmide bulbar e, portanto, não é piramidal. Isso significa que existem neurônios que se projetam do córtex para a medula espinhal sem fazer parte do sistema piramidal. Anatomicamente o termo piramidal é relativamente bem definido, mas isso não justifica o termo síndrome piramidal, para designar uma constelação de sintomas determinados. O termo piramidal e extrapiramidal tem sido desprezado por alguns anatomistas, mas os neurologistas continuam usando-os para diferenciar as lesões diretas ou piramidais das indiretas ou extrapiramidais. Por definição, o trato piramidal são todas as fibras que cursam longitudinalmente pela pirâmide bulbar, não importando seu local de origem no córtex cerebral ou destino final na medula. As células piramidais fazem parte de quase todo o córtex cerebral, mas apenas uma parte dos axônios dessas células passa pelas pirâmides bulbar. Portanto, as únicas lesões que provocariam uma síndrome piramidal pura seriam interrupções à passagem das fibras, onde as mesmas se encontram isoladas na pirâmide bulbar. Do ponto de vista clínico o TCE é o principal sistema eferente através e, pelo qual, movimentos voluntários são iniciados e realizados. Esse trato não é o único mecanismo cortical para a realização dos movimentos; ele atua primariamente para integrar os movimentos discretos, finos e altamente qualificados nas extremidades, como: mãos, pés e boca. O TCE é responsável pela contração e inibição de músculos agonistas, ou graduar o relaxamento dos músculos antagonistas necessária à realização de ações qualificadas. Por meio de sua integração e controle as contrações de músculos individuais são fundidos dentro de uma ação motora complexa. O TCE não funciona independentemente. Normalmente, e na presença de doença, está intimamente integrado com outros níveis de atividade motora, como também com um fluxo constante de 2
  • 3. impulsos sensitivos. O TCE no seu percurso com outras vias cortical e do tronco cerebral, constantemente supre centros inferiores com impulsos que têm um efeito geralmente inibidor. Doenças envolvendo os caminhos piramidais resultam na liberação do efeito inibidor, resultando na hiperatividade e função autônoma dos segmentos afetados da medula espinhal. Córtex motor cerebral Não existem critérios exatos para definir uma área cerebral como motora. O que sabemos é que as camadas corticais II e IV recebem as vias sensitivas; as camadas II e V é ponto de partida para as vias motoras; e as camadas I e VI estão envolvidas com as vias de associação. Atualmente, uma área motora deve reunir os seguintes critérios: a) ter projeções para os motoneurônios espinhais ou para os núcleos motores no tronco cerebral; b) possuir uma representação do sistema motor, ou seja, dos músculos; c) ser ativada durante a execução ou o planejamento dos movimentos voluntários. Baseados nesses critérios foram determinados as áreas motoras que têm ligação com o sistema piramidal: 1. Córtex motor primário (MI); 2. Área prémotora (APM); 3. Área motora ocular (AMC); 4. Área motora suplementar (AMS); 5. Área motora do sulco do cíngulo (AMC); e 6. Área supressora (AS) (Fig.1). Hanna Damasio, 05 Fig.1 3
  • 4. Histologia do córtex motor cerebral O córtex cerebral é formado por seis camadas. Segundo Ramon y Cajal o neocórtex possui dois tipos distintos de células: neurônios piramidais, que constituem 72%, e os não piramidais, que formam 28% restantes. Há uma grande variedade de tamanho entre esses neurônios, que alcançam dimensões entre neurônios pequenos a gigantes. Os neurônios piramidais se distribuem entre as camadas, II e IV do córtex cerebral. Embora a maioria dos neurônios piramidais esteja situada nas camadas III e V do córtex cerebral. Existem dois tipos de células piramidais, as rápidas, que transmitem impulsos fisiológicos a 27 ms, e as lentas, que o fazem a 19 ms. As rápidas caracterizam-se por apresentar poucas espinhas dendríticas, baixa resistência de membrana, potenciais de ação (PA) breves e hiperpolarização póspotencial de curta duração, o que lhes permitem responder a estímulos repetitivos de alta frequência. As lentas possuem muitas espinhas dendríticas, alto resistência de frequência, PA de longa duração, hiperpolarização póspotencial longa, que as fazem disparar com baixa frequência. Os neurônios não piramidais são interneurônios, em forma de estrelas, que se subdivide em três tipos. 1. Células granulares com espinhas dendríticas, que ocupam a camada IV cortical e distribuem-se por todo neocórtex, mas não no motor; 2. Células em cesto, sem espinhas dendríticas, cujo axônio tem direção horizontal, que inerva outros neurônios, inibindo-os mediante ação do GABA que são retroalimentados pelos neurônios piramidais; 3. Células bipolares, cujos axônios dividem-se em forma de T para inervar verticalmente os neurônios superficiais e profundos. O neurotransmissor cortical excitatório é o glutamato e o aspartato, embora alguns possam usar neuropeptídeos. As áreas cerebrais da classificação de Brodmann que mais estão relacionadas com o sistema piramidal são as seguintes: A área 8 – a excitação da porção superior da desta região (áreas 8αβδ) determina o aparecimento de movimentos conjugados dos olhos para o lado oposto, abertura da rima palpebral e, às vezes, midríase. Além de responder a excitação do campo ocular intuitivo. O estímulo da porção inferior da área 8γ produz inibição dos movimentos rítmicos induzidos pela excitação da área 6bα durante a mastigação, a estimulação da área 8γ, provoca inibição, além de receber estímulos de áreas corticais não intuitivas. A área 6 – a excitação da área 6aα origina contralateral: movimentos de músculos isolados, devido à difusão cortical do 4
  • 5. estimulo à área 4; e movimentos secundários prolongados e mais altamente organizados, cuja distribuição somática varia segundo o ponto de excitação (na porção superior movimentos apendiculares; na inferior, movimentos da face, mandíbula e língua). A área 6aβ determina respostas semelhantes às produzidas na área 6aα, porém o seu limiar é mais elevado. São característicos movimentos rítmicos e estereotipados dos membros, independentes da área 4, e os movimentos adversivos da cabeça, olhos e tronco - campo adversivo de Foerster (Fig.2). A área 6bα dá origem a movimentos Fig.2 prolongados rítmicos e coordenados destes territórios somáticos para mastigar, lamber, deglutir, gritar e estalar a língua. A área 6bβ determina lentificação do ritmo respiratório até apnéia por transmissão do estímulo para a área 13 de Brodmann, do lobo orbitário, conhecida como centro respiratório Adams, 05 primário do córtex cerebral. A área 1, 3 e 2 estão relacionadas com o controle piramidal nos núcleos de Goll e Burdach no bulbo e no corno posterior da medula espinhal, responsável pelo feed-back entre o estímulo sensitivo e o movimento. Esses movimentos são bilaterais, embora que assimétricos, comunicam-se com as áreas 6 e 4 via corpo caloso, cujos axônios saem das camadas IV a VI de ambas as áreas cerebrais. As áreas 5 e 7 estão relacionadas com movimentos de praxia ideativa, ideomotora e cinestésica. As áreas visuais enviam os estímulos Fig. 3 para organização ocular ou motora antes de descer pelo sistema piramidal. A área 22 de Wernicke envia estímulos sensoriais complexos para as áreas oculares e motoras (Fig. 2 e 3). O reflexo transcortical ocorre quando Adams, 05 um músculo está contraindo e surge 5
  • 6. uma sobrecarga ou uma mínima diminuição repentina da carga, os neurônios corticoespinhais, que estão ativos durante a execução do movimento, aumentam ou diminuem seus disparos, respectivamente. Isso se reflete nos músculos por um aumento ou uma diminuição da atividade registrada no eletromiograma. Ou seja, existe uma compensação automática da força muscular necessária para a realização de um movimento. A função desse mecanismo servo-assistido é manter constante a força muscular. Sua origem reside nas aferências do fuso muscular ativadas pela contração muscular. Esse reflexo transcortical, descrito por Phillips, é um reflexo miotático ou de estiramento em paralelo com o da medula espinhal. Sua importância é demonstrada na lesão do funículo posterior, que o suprime juntamente com o qual desaparece o ajuste automático e a manutenção da força muscular. Isso impede que um indivíduo possa sustentar uma xícara de café na mão pelo fato de a força de apreensão flutuar constantemente, e então termine por soltá-la. A lesão dos fascículos cuneiformes suprime a ativação das células piramidais do córtex motor contralateral, produzida pelo movimento passivo das articulações e pela estimulação das aferências cutâneas. Isso indicaria que o funículo posterior seria o encarregado de levar essas aferências. Área motora primária (AMP) Localiza-se no giro précentral, anterior ao sulco central ou a fissura de Rolando. O córtex da área AMP ou MI é do tipo agranular e heterotípico e sua maior característica é a presença de neurônios piramidais gigantes de Vladimir Betz, situadas na camada V do córtex cerebral da área 4 de Brodmann. Essa região tem o limiar de excitação mais baixo, para que a estimulação cause a contração dos músculos do lado oposto do corpo mais rapidamente. Possui uma representação dos músculos contralaterais do corpo; os da cabeça e da face ocupam a parte inferior do giro précentral, enquanto que parte dos músculos do membro (pé) localiza-se na face interna do hemisfério. Uma característica dessa representação é que os neurônios que vão inervar os músculos distais localizam-se nas porções posteriores do giro précentral, em sua maioria na borda anterior do sulco central e descem pelo feixe córticoespinhal lateral, enquanto os que vão inervar os músculos axiais situam-se na parte anterior da área 4 de Brodmann descem pelo feixe corticoespinhal anterior ou de Türck. Outra característica é de que nem todas as partes dessa 6
  • 7. área têm uma representação igual, resultando numa figura distorcida. A face e a mão ocupam uma grande porção da área 4 de Brodmann (Fig.4). Fig. 4 O que está representado no córtex cerebral são os movimentos realizados por músculos específicos aquelas áreas e, não, os músculos. Isso ocorre porque as células da mesma coluna do córtex motor se projetam na medula espinhal sobre os motoneurônios de diferentes músculos, sendo nesse caso, a coluna cortical a entidade funcional do DeJong, 05 movimento: para fazer a flexão do membro superior entram em ação o bíceps braquial, braquial e o braquiorradial. As aferências sensitivas para cada coluna partem da superfície cutânea ou articular situada na direção do movimento que será realizado, obedecendo ao padrão geral de somatotopia para o antebraço e mão. No funcionamento do córtex motor, à estimulação de uma coluna se segue a inibição das colunas vizinhas. Portanto, há inibição dos músculos para a extensão do antebraço enquanto são ativados os músculos para a flexão do mesmo, fenômeno de inervação recíproca entre coluna facilitadora e inibidora. Mas foi observado que um neurônio piramidal inerva mais de um músculo agonista. Isso se deve a divisão do axônio na medula ou princípio da divergência, o que contribui para superposição da representação. Isso permite que unidades motoras de um músculo sejam ativadas enquanto outras do agonista facilitadas, podendo realizar uma ação associada. 7
  • 8. Área prémotora (APM) A definição de córtex Fig.5 prémotor foi proposta por A. W. Campbell, em 1905, e a área correspondente denominada como tal em 1929, por M. Hines. A APM situa-se na porção inferior da área 6 de Brodmann e anterior a área 4 de Brodmann, estando intimamente relacionada DeJong, 05 com a AMP ou MI, tanto anatômica quanto funcionalmente. O córtex prémotor é histologicamente similar ao córtex motor, mas faltam as células piramidais gigantes de Betz. Algumas fibras da área 6 de Brodmann passam para a área 4 de Brodmann pelas fibras arciformes e depois descem com o TCE; outras descem com as fibras piramidais. Existem mais fibras cruzadas do córtex motor do que do córtex prémotor. Além do mais, a APM comunica-se com os gânglios da base e outras porções do sistema extrapiramidal, incluindo o núcleo subtalâmico, núcleo rubro, colículo superior, núcleos vestibulares, oliva inferior, e formação reticular (Fig. 5). Estimulação da área 6 de Brodmann causa movimentos contraversivos da cabeça e do tronco. A APM está envolvida com os movimentos guiados pelos estímulos visuais, auditivos e sensitivos. A área motora suplementar é parte da área 6 que situa-se no aspecto medial do lobo préfrontal anterior ao lobo paracentral (área 6aβ). Comunica-se com o córtex motor primário e com o córtex motor suplementar contralateral. A APM parece estar envolvida com o planejamento e a integração dos movimentos bilaterais do corpo. A APM também é somatotopicamente organizada, mas o homúnculo é grosseiro e menos detalhado do que o homúnculo da AMP ou MI. Na lesão da APM, o paciente apresenta apraxia ideomotora e dificuldade na programação de movimentos guiados pela informação sensorial, nos movimentos iniciados por estímulos 8
  • 9. sensoriais e, em alguns casos, em certos movimentos autoiniciados no espaço extrapessoal. Participa na modificação dos programas motores já estabelecidos, com base na informação sensorial l, como ocorre durante a exploração de objetos para seu reconhecimento - estereognosia. Área motora ocular (AMO) Os olhos são controlados por duas áreas corticais, localizadas fora das áreas corticais motoras. O chamado campo ocular frontal (COF) encontra-se na região inferior da área 8 de Brodmann e o campo ocular suplementar (COS) está situado na parte rostrodorsal da área 6 de Brodmann. Ambos os campos recebem informações das áreas visuais, com exceção do campo ocular frontal que não recebe projeções do córtex estriado, mas apenas das áreas extraestriadas. Ambos os campos projetam-se para os centros subcorticias óculomotores. A estimulação produz movimentos conjugados para o lado oposto, podendo ser acompanhado de dilatação pupilar e abertura palpebral. O COF é especializado na seleção de movimentos oculares determinados por estímulos visuais. É ativado quando o indivíduo realiza movimentos sacádicos durante a leitura ou quando um objeto chama a sua atenção. O COS intervém na seleção de movimentos oculares não determinados por alvos visuais, o indivíduo decide onde olhar autoregerando seus movimentos oculares. Lesão destrutiva unilateral do COF origina desvio transitório dos olhos para o lado da lesão e impossibilita de movê-los e, lesão irritativa, desvio transitório para o lado oposto da lesão, veja a fig. 4. Para maiores detalhes sobre AMO, veja neste site em: nervos óculomotores. Área motora suplementar (AMS) Descrita por Penfield e Welch, em 1949, foi assim denominada porque sua estimulação produz movimentos complexos, variáveis e com limiares mais altos do que os da AMP ou MI. A área motora suplementar situa-se na face medial dos hemisférios cerebrais superior ao giro do cíngulo na área 6 de Brodmann, adiante do lóbulo paracentral. A AMS conecta-se com a medula espinhal pela via corticoespinhal, a qual contribui com 12 a 18 % das suas fibras. Geralmente sua função é bilateral ao corpo, embora ainda predomine as contralaterais. Uma lesão unilateral da AMS durante primeira semana produz afasia transcortical motora e alterações dos movimentos seqüenciais e simultâneos com o membro contralateral à lesão. Ao solicitar ao paciente que feche o punho e, em seguida, que flexione o cotovelo, o paciente realiza o primeiro movimento e 9
  • 10. demora executar o segundo Fig.6 ou não realiza; ou bater na mesa em sequência com a mão fechada, o lado da mão e a palma da mão. Não realiza movimentos simultâneos como fletir o cotovelo e fechar a mão. Após a primeira semana da lesão permanece incoordenação bimanual, DeJong, 05 que consiste na realização de movimentos em espelho com ambas as mãos, ainda que possa realizar movimentos individuais corretos. O paciente reproduz involuntariamente com a outra mão qualquer movimento voluntário realizado com a mão volitiva. Isso dificulta o paciente andar de bicicleta, dirigir um automóvel, etc. Na mesma lesão também persiste o reflexo de apreensão forçado. Além do mais, a AMS é responsável por movimentos posturais, rítmicos; vocalização, bloqueio de linguagem, dilatação pupilar e taquicardia. A AMS estaria relacionada com a programação dos movimentos autoiniciados, complexos, sequenciais e simultâneos, assim como a coordenação bilateral desses (Fig.6). Área motora do sulco do cíngulo (AMC) Localiza-se na face interna do hemisfério cerebral, no bordo inferior e no fundo do sulco do cíngulo. É uma área descrita recentemente, constituída de uma zona anterior, que ocupa a área 24c, e outra posterior, a área 23c. Em ambas encontra-se uma representação somatomotora, com os músculos da face na parte anterior seguidos do membro superior e inferior. A estimulação dessas áreas provoca movimentos complexos nas expressões orofaciais, da cabeça e da mastigação. Na área 23c, os neurônios se ativam 500 ms antes de começar o movimento autoiniciado. A área 24c está relacionada com o significado do movimento autoiniciado. A AMC da metade anterior do giro do cíngulo projeta-se para o córtex motor primário e também 10
  • 11. contribui com as fibras descendentes do TCE e TCB. Existe também uma área motora secundaria na profundidade do sulco central onde o giro précentral e o póscentral emergem, veja a fig. 6. Áreas supressoras (AS) A estimulação das áreas cerebrais de Mac Culloch, especialmente uma pequena região situada entre as áreas 4 e 6 de Brodmann, identificada por Hines como área 4s, inibe o movimento desencadeado pela área piramidal. Essa inibição pode ser obtida em outras áreas como 1s, 19s e 24s. As vias procedentes da área 4s descem juntas com as da via piramidal até a cápsula interna, em seguida se separam do contingente piramidal para dirigir-se a substância reticular central do bulbo. Quando esse centro inibidor está desconectado das áreas cerebrais supressoras, é incapaz de manter uma atividade inibidora. Do centro bulbar nascem às fibras retículoespinhais que terminam na medula espinhal, veja abaixo feixe retículoespinal. Resumo Metade a três quartos de todas as fibras piramidais originam-se nas áreas 4 e 6 de Brodmann situadas anterior ao sulco central, e o resto vem das áreas posteriores do sulco central no lobo parietal (áreas de Brodmann 1, 3, 2, 5, 7 e 40). A área 4 de Brodmann apresenta uma somatotopia mais específica do que a da área 6 de Brodmann. Muitos neurônios da área suplementar e partes da área prémotora e motora cortical foram ativadas em um programa de descarga que precede o movimento planejado. Assim, os neurônios da área motora 4 foram preparados para dar continuidade a ativação; foram desencadeado por um número de impulsos corticais do lobo parietal, préfrontal, prémotor, e córtex auditivo e visual. Esse programa de impulsos pode ocorrer na ausência de impulsos segmentar. A fonte desse programa de sinal foi identificada principalmente na própria área suplementar do córtex motor, que parece estar sob influência direta dos estímulos de prontidão, alçando a área préfrontal para planejar movimentos e córtex parietal para iniciar atividade motora por percepção visual, auditiva e tátil. Também existem fibras que alcançam área motora do sistema límbico, facilitando motivação e atenção. 11
  • 12. Anatomofisiologia do sistema piramidal O sistema corticoespinhal é Fig.7 filogeneticamente o sistema motor mais recente, sendo totalmente desenvolvido nos mamíferos e alcança seu mais alto grau nos macacos e no homem. A aquisição filogenética da fala e funções complexas das mãos resultaram na expansão de áreas corticais representando a língua, a boca, os lábios, o dedo polegar, e demais dedos das mãos, deslocando a representação do córtex da mão e perna para cima, e do pé e região DeJong, 05 sacral sobre a superfície medial do hemisfério. Áreas para a língua, face, e dedos são excepcionalmente grandes e fora de proporção quando comparadas com as áreas da musculatura proximal. A extensão do giro précentral sobre o aspecto medial do lobo frontal forma a porção anterior do lóbulo paracentral. Os neurônios dessas áreas são importantes na regulação e regulação dos intestinos e do esfincter da bexiga. Existem conexões recíprocas o córtex motor e o córtex somatosensitivo no giro póscentral. A área MI recebe associação de fibras da área prémotora, motora suplementar e da ínsula. Essas conexões são envolvidas na preparação e planejamento para os movimentos voluntários que são depois executados pelo córtex motor primário. Existem também conexões entre o córtex primário de ambos os hemisférios cerebrais. A divisão posterior do núcleo ventrolateral do tálamo recebe input do cerebelo e envia para área 4 de Brodmann (Fig.7). O termo trato piramidal surgiu porque a maioria de suas fibras passa pelas pirâmides bulbares. O número de fibras piramidais que passam por cada pirâmide vai de 749.000 a 1.391.000, com média de 1.087.200; somente e 20% a 30% originam-se da AMP ou MI, sendo que, somente 3% 12
  • 13. das fibras piramidais ou 34.000 por AMP originam- Fig.8 se das células de Betz. Além da contribuição da área MI, o TCE contem fibras do córtex prémotor (área 6 de Brodmann), a área motora suplementar e as regiões adjacentes, e o lobo parietal (áreas 3, 1, 2, 5, 7, 40 e 43 de Brodmann), além das áreas temporais e occipitais. Cerca de 60% das fibras grossas são mielinizadas e 40% são pouco e não mielinizadas; as últimas procedem de áreas vegetativas corticais com importante papel nas adaptações vegetativas que acompanham a atividade motora (regulação vasomotora). A maioria do TCE origina-se em partes iguais de 30% DeJong, 05 para a área 4, área 6 de Brodmann e giro póscentral, com uma contribuição adicional do córtex parietal (área 5) e outras porções do cérebro, incluindo os lobos temporal e occipital, giro do cíngulo, e certos centros subcorticais. O TCE é importante no controle discreto, das respostas motoras isoladas dos movimentos voluntários finos individuais dos dedos. O TCE provê velocidade e agilidade dos movimentos distais das extremidades. A APM e suas vias são destinadas para grandes respostas motoras coordenadas, com mais movimentos estereotipados que são parcialmente automáticos e envolvem o tronco e a porção proximal dos membros, e também com os mecanismos de postura; sendo o principal componente cortical do sistema extrapiramidal (Fig. 8). Na cápsula interna (CI), as fibras piramidais se projetam sob uma seguinte somatotopia. A CI é formada por dois braços, um anterior e outro posterior, e um joelho. As fibras piramidais oriundas da região craniofacial do córtex motor, área 4 de Brodmann, projetam-se no joelho da CI; as demais fibras piramidais do membro superior, o tronco e membro inferior são distribuídas na mesma ordem no braço posterior da CI. O restante do braço posterior da CI é ocupado por fibras na sequência sensitivas, temporais, auditivas e visuais. O braço anterior da CI é ocupado 13
  • 14. por fibras na ordem frontopontina e frontotalâmica. A próxima projeção importante das fibras piramidais é no mesencéfalo ao formar parte do pedúnculo cerebral. O pedúnculo é uma massa constituída de fibras piramidais e não piramidais que descem do córtex para terminar no tronco cerebral e na medula espinhal. Considera-se que os dois terços mediais do pedúnculo contém o TCE e o TCB. As fibras mais laterais do pedúnculo estão relacionadas com os membros inferiores, as mais mediais com a musculatura da face e da laringe, e as intermediárias com os membros superiores. As fibras frontopontinas são mediais, sendo que no encontro superior entre o terço medial e o médio no pedúnculo, formando meia lua, passam as fibras do fascículo córtico- oculocefalico; já as fibras frontotemporo-occipitais são laterais, sendo que essas fibras se distribuem em forma de triângulo: as temporais estão na base lateral, às occipitais ocupam o ápice e as parietais a base medial (Fig. 9). O TCB também conhecido por fascículo corticonuclear ou geniculado que foi exaustivamente estudado por Déjerine (1914) tem uma dupla origem cortical; por um lado, um quinto da área 4 de Brodmann e, por outro, a parte posterior da segunda circunvolução frontal ou área 8 de Brodmann. O TCB distribui-se em dois fascículos: o corticonuclear e o fascículo aberrante de Déjerine (FAD). a) O feixe geniculado segue o curso do contingente corticoespinhal, do qual se separa no nível Fig.9 dos núcleos de origem dos 14
  • 15. nervos bulbopontinos, fazendo cruzamento parcial, já que certo numero de fibras acabam nos núcleos ipsilaterais. Mediante essa inervação bilateral se consegue uma dupla representação cortical de importantes funções de nervos cranianos. b) As fibras corticobulbares aberrantes dividem-se em: interna, externa e direta ou feixe aberrante de Pick, esse último destinado ao núcleo do facial do lado oposto, veja abaixo. O FAD cruzado é mais denso do que o direto e contém maior numero de sinapse também. O FAD desce junto com o corticonuclear, mas o cruzamento não se faz de uma vez, mas gradualmente, separam-se do anterior por pequenos fascículos a distintos níveis do tronco cerebral, realizando sinapses tanto ipsilateral como contralateral. Os principais fascículos aberrantes que chegam ao tronco cerebral, que se distribuem de cima para baixo e no sentido anteroposterior são os seguintes: a) fibras aberrantes do pedúnculo formam dois feixes, o fascículo corticobulbar medial e o lateral. Descem pelo território do leminisco medial e proporcionam fibras aos núcleos do III, VI e XI nervos cranianos. Junto com esses fascículos correm algumas fibras destinadas até aos segmentos cervicais superiores da medula. Esse grupo de fibras aberrantes governa os movimentos dos olhos e os movimentos associados à cabeça. b) As fibras aberrantes da Fig.10 Puvanendran, 78 ponte que se unem as anteriores no leminisco medial, terminam nos núcleos motores do trigêmio que envia axônios para os 15
  • 16. músculos mastigadores; para os núcleos do hipoglosso e o núcleo ambíguo que enviam axônios para os músculos da laringe e rotadores da cabeça. Mas, também pelas fibras aberrantes pontinas passam fibras destinadas ao núcleo do facial, desde o pedúnculo cerebral, essas fibras abandonaram a via piramidal para situar-se na parte interna da cinta de Reil. Contudo, os músculos que recebem fibras diretas do TCB são a porção superior da coluna cinzenta do facial e do núcleo do hipoglosso. c) As fibras aberrantes bulbopontinas deixam o tronco principal do sistema piramidal próximo do nível do sulco entre a ponte e o bulbo. As fibras anteriores são reforçadas ao proporcionar fibras ao núcleo motor do facial e, também, enviar outras ao núcleo ambíguo e o nervo hipoglosso. Ainda merece destaque, algumas fibras do feixe corticobulbar direto que descem pelo tronco cerebral até a porção ventromedial do bulbo em nível superior e voltam para o núcleo do facial do lado oposto, consagradas como as fibras do trato aberrante de Pick (Fig.10). As fibras do TCB terminam de duas Fig.11 DeJong, 05 maneiras: diretamente nos motoneurônios α dos núcleos cranianos e fazendo sinapse com células da formação reticular próximas aos centros de controle dos nervos. As fibras do TCB que alcançam os núcleos sensitivos do trigêmio e nos núcleos de Goll e de Burdach no bulbo, exercem um controle centrífugo da entrada sensitiva, como um tipo de feed- back. Antes de chegar aos núcleos motores respectivos, às fibras do TCB se entrecruzam na sua maioria na rafe mediana. Essa topografia particular de como terminam as fibras do TCB, nos explica porque a lesão da cinta de Reil mediana, geralmente ocasiona o desvio conjugado da cabeça e dos olhos, veja abaixo a fig. 11. 16
  • 17. Os axônios dos neurônios motores do giro précentral descem através da coroa radiada e do braço posterior da cápsula interna, onde as fibras corticobulbares são anteriores, seguidas posteriormente por aquelas das extremidades superiores, tronco, e extremidades inferiores. As fibras piramidais são de distintos calibres; as de maior diâmetro vindas das células gigantes de Betz conduzem uma velocidade de 60 a 65 metros por segundos. As fibras piramidais mais finas conduzem os impulsos volitivos em média de 18 metros por segundo. Cerca de 90% das fibras do TCE são de axônios pouco mielinizados com diâmetro que varia de 1 a 4 milimicra, e a maioria com diâmetro de 5 a 10 milimicra. Um pequeno número de fibras que surgem das células de Betz tem diâmetros de 10 a 22 milimicra. O membro posterior da cápsula interna é a porção entre o núcleo lenticular e o tálamo, e a parte retrolenticular situa-se posterior para o núcleo. Na parte rostral da cápsula interna, o TCE situa-se na porção anterior do membro posterior. Na cápsula as fibras do TCE distribuem-se posteriormente e ocupam a posição no terço posterior do membro posterior da cápsula interna. Em nível do mesencéfalo, o trato piramidal contém 1 milhão de fibras que atravessam os três quintos mediais do pedúnculo cerebral, distribuídas na seguinte somatotopia da linha media para lateral: face, braço, tronco e perna. A maioria das fibras do TCB decussa antes de fazer sinapse com os núcleos dos nervos cranianos, mas a maioria da inervação cortical para os centros do tronco cerebral é cruzada e não cruzada. Depois, as fibras descendentes passam através da porção basilar da ponte em forma de fascículos distribuídos difusamente, entremeados com as fibras arciformes e os núcleos pontinos da ponte para entrar no bulbo. Na porção caudal do bulbo, o TCE forma duas colunas chamadas de pirâmides bulbares na base do bulbo e divide-se em três tratos distintos (Fig.11). Aproximadamente 90% das fibras cruzam na decussação das pirâmides ou cruzamento de Mistichelli, com aquelas destinadas aos membros superiores mais anteriores e mediais e aquelas para os membros inferiores posteriores e laterais. Existe considerável variação na proporção do cruzamento e do não cruzamento das fibras do TCE no homem que varia de indivíduo para indivíduo, fato importante na recuperação motora. As pirâmides também contêm outros tipos de fibras que não são piramidais. Ressonância magnética funcional, potencial evocado motor e somatosensitivo confirmaram hemiplegia ipsilateral em um paciente que teve hemorragia cerebral. Foram capazes de demonstrar que os membros afetados eram controlados pelo córtex cerebral ipsilateral. Em alguns casos um TCE não cruzado está associado à anomalia congênita de 17
  • 18. vários tipos. As pirâmides bulbares apresentam somatotopia da passagem do trato piramidal em cada lado do bulbo. No corte axial do bulbo, em nível das pirâmides, existe distribuição somatotópica das fibras piramidais no sentido pósteroanterior: perna, tronco, braço e face. Acima das pirâmides bulbares aparece a somatotopia do leminisco Fig.12 Brodal, 84 medial: perna, tronco, braço e face (Fig.12). No homem as fibras piramidais que chegam à medula são divididas em três fascículos independentes: lateral ou cruzado, anterior ou direto e o homolateral. As fibras que decussam descem pelo funículo lateral da medula no TCE lateral, situado ânterolateral ao corno posterior, medial ao trato espinocerebelar posterior, e posterior ao plano dos ligamentos denteados para suprir os músculos do lado oposto do corpo. Na medula lombossacra, onde não existe o trato espinocerebelar posterior, o TCE limita a superfície da medula. O TCE lateral pode também conter outras fibras corticofugais, como algumas fibras ascendentes. Cerca de 50% das fibras do TCE lateral terminam na região cervical, 20% na torácica e 30% na lombossacra, mas o trato termina no nível de S3 a S4. O TCE anterior ou feixe de Türck é menor do que o TCE lateral, formado por uma porção menor das fibras Fig.13 Capenter, 80 piramidais, geralmente contém cerca de 18
  • 19. 8% das fibras; não cruza nas pirâmides, desce pelo funículo anterior da medula e geralmente não se estende além da porção medial da região torácica. O feixe de Türck cruza nos segmentos medulares pela comissura branca anterior e termina na lâmina VII para suprir os músculos axiais. As fibras do TCE ânterolateral de Barnes ou fascículo piramidal homolateral de Dèjérine não são cruzadas, contam com 2%, são de calibre pequeno, e descem em posição mais anterior no funículo lateral que as fibras cruzadas do TCE lateral, também não cruzam na medula e terminam na base da coluna posterior e substância cinzenta intermédia da medula. A existência dessas fibras homolaterais nos explica o motivo pelo qual a destruição do fascículo piramidal em curso de seu trajeto encefálico determina não somente uma hemiplegia do lado oposto, mas também do lado correspondente ao da lesão, certa debilidade muscular e reflexos vivos (Fig.13). As fibras anteriores da região précentral terminam na região ventromedial da medula, enquanto as mais próximas do sulco précentral terminam na região dorsolateral da medula. Os axônios dos TCE e TCB terminam nos núcleos motores dos nervos cranianos e nas células do corno anterior da medula, terminando primariamente nas lâminas IV a VI, lâmina VII, lâmina VIII, e lâmina IX do lado oposto ao hemisfério cerebral de origem. Fibras das áreas 4 e 6 terminam mais ventralmente, principalmente na lâmina VII e VIII, e são concentradas nas intumescências cervical e lombossacra. A maioria das fibras do TCE faz sinapse nos neurônios γ do núcleo intermédiomedial de Cajal, que modifica a descarga dos fusos musculares e se mede o movimento. A intervenção do sistema gama retarda (30 milisegundos) a iniciação do movimento, enquanto a força do mesmo é graduada constantemente. A informação proprioceptiva é de grande valor para a realização dos movimentos para o sistema γ atuar nos movimentos motores finos, qualificados e discretos da porção mais distal das extremidades. Depois, impulsos viajam dos núcleos motores do tronco cerebral e das células do corno anterior da medula para as junções musculares estriadas. Mas, cerca de 10% a 20% das fibras piramidais termina diretamente sobre os neurônios motores α na lâmina IX de Rexed. Essas fibras formam a via corticomotoneuronal que projetam diretamente do córtex motor primário ou área 4 para o corno anterior da medula que permite a realização de movimentos bruscos, rápidos, possibilitando a interrupção rápida da atividade periférica. Uma única fibra do TCE inerva mais de um neurônio na medula, e alguns provavelmente inervam muitos. O trato piramidal afeta a atividade, tanto dos neurônios motores α como γ. A coativação α-γ serve para manter um nível 19
  • 20. consistente de estiramento e relaxamento das fibras extrafusais. As fibras do lobo parietal que descem no trato piramidal terminam sobre neurônios sensitivos no corno posterior da medula, regulando a Fig.14 Netter, 87 entrada de impulsos sensitivos ascendentes. Essas fibras constituem, provavelmente, um mecanismo sensitivo do tipo feed-back, capaz de influenciar os grupos celulares secundários, da qual o córtex recebe informação (Fig.14). RESUMO ANATOMOFISIOLÓGICO DAS VIAS MOTORAS DESCENDENTES Do ponto de vista filogenético, o controle motor voluntário é: extrapiramidal em espécies submamíferos (nos vertebrados inferiores não existe feixe piramidal), pirâmido-extrapiramidal em mamífero não humano e, essencialmente piramidal no homem; fica mielinizado nos primeiros 2 anos de vida. O sistema piramidal aparece tardiamente tanto na filogênese como na ontogênese do sistema nervoso. Para alguns anatomistas, a classificação clínica de sistema piramidal e extrapiramidal dificulta a compreensão das vias motoras descendentes. A partir da década de 60, estuda-se uma classificação anatomofisiológica em sistema lateral e medial. Os feixes que se originam no córtex cerebral e no mesencéfalo são geralmente cruzados e fazem parte do: sistema lateral. Do córtex cerebral, áreas 4 e 6 de Brodmann, sai o TCE que desce pela coroa radiada, dois terços posteriores do braço posterior da cápsula interna, o terço médio do pedúnculo mesencefálico lateral ao lado do TCB; o TCE organiza-se em fascículos distribuídos difusamente na ponte e entremeados pelas fibras arciformes da ponte; e no bulbo forma um feixe compacto em forma de cone que ao chegar na porção caudal do bulbo cruza a linha média com a maioria das fibras 20
  • 21. para o lado oposto; desce pelo funículo lateral da medula, termina nas lâminas IV, V, VI, VII e IX, sendo que a lâmina IV e V recebem as fibras do TCE que se originaram das áreas 1, 2 e 3 de Brodmann no giro póscentral do Fig.15 Greenstein & Greenstein, 2000 lobo parietal para controlar a entrada de informação sensitiva superficial e profunda; os axônios que saem das lâminas inervam os músculos das extremidades do corpo, especialmente os músculos intrínsecos das mãos, do pés e os orbiculares da boca, para a realização de movimentos fino, suave, qualificado e hábeis, prevalecendo a destreza (Fig.15). Do mesencéfalo, da porção magnocelular do núcleo rubro origina-se o feixe rubroespinhal (FRE) ou feixe prépiramidal de André Thomas. O núcleo rubro (NR) contém alto teor de ferro e é coberto por uma espécie de cápsula que consiste de fibras aferentes e eferentes. A partir dos primatas, o NR subdivide-se em uma parte cranial ou parvocelular (constituído de células pequenas) e outra caudal ou magnocelular (formado por células grandes multipolares). A partir do homem, existem quatro grupos de células na parte magnocelular com 150 a 200 células grandes, mas na escala filogenética a proporção de células grandes decresce. O FRE ou feixe de von Monakow é formado por fibras de vários diâmetros com velocidade de condução que varia de 31 a 120 ms. Logo após originar-se cruza no mesencéfalo na decussação tegmentar ventral de Meynert, em seguida desce ipsilateral para integrar o funículo lateral da medula. O FRE tem somatotopia no seu núcleo e medula espinhal. As fibras que terminam na região cervical originam-se na porção dorsal e dorsomedial do núcleo rubro, as fibras de projeção lombossacra originam-se na porção ventral e ventrolateral do núcleo rubro, as fibras do segmento torácico da medula originam-se da porção intermediaria do núcleo rubro. A estimulação do NR ativa 21
  • 22. motoneurônios flexores contralaterais com potenciais excitatórios póssinapticos registrados intracelular, enquanto motoneurônios extensores contralaterais emitem potenciais inibitórios póssinapticos. Os motoneurônios estáticos gama dos músculos flexores facilitam e os dos músculos extensores inibidos. O FRE termina nas lâminas V, VI e VII da medula onde ficam entremescladas com as do feixe corticoespinhal lateral. O FRE controla o tônus na musculatura flexora, atuando nos motoneurônios alfa tanto flexores como extensores, excitando os flexores e inibindo os extensores, além de inibir a ação das fibras aferentes musculares vindas dos ONT de Golgi e das vindo da pele que terminam na asa posterior, controlando o aparelho motor sem interferência das vias reflexas da medula (Tabela 1). Características dos dois Sistemas de Vias Descendentes – Tabela 1 - Lent, 05 Sistema Lateral Origem Feixe Lateralidade Terminação Função Córtex cerebral Moto- e Córticoespinhal Contralateral Movimentos (áreas 6 e 4 interneurônios Lateral (decussação piramidal) apendiculares voluntários Brodmann) laterais Rubroespinhal Contralateral (cruza no Moto- e Movimentos Núcleo rubro (feixe de von tegmento ventral interneurônios apendiculares voluntários Monakow) mesencefálico) laterais Sistema Medial Origem Feixe Lateralidade Terminação Função Córtex cerebral Córticoespinhal Moto- e Bilateral (cruzamento parcial Movimentos axiais (áreas 6 e 4 medial (feixe de interneurônios na medula) voluntários Brodmann) Türck) mediais Contralateral (cruza no Moto- e Orientação Colículo Superior Tectoespinhal tegmento dorsal do interneurônios Sensoriomotora da cabeça mesencéfalo) mediais Moto- e Formação Reticular Retículoespinhal Ajustes posturais Ipsilateral interneurônios pontina pontino antecipatórios mediais Moto- e Formação reticular Retículoespinhal Ajustes posturais Ipsilateral interneurônios bulbar bulbar Antecipatórios mediais Núcleo Vestibular Moto- e Ajustes posturais para a Vestíbuloespinhal Lateral (Núcleo de Ipsolateral interneurônios manutenção do equilíbrio lateral Deiters) mediais corporal Núcleo Vestibular Moto- e Vestíbuloespinhal Ajustes posturais da cabeça e Medial Bilateral interneurônios medial tronco (Núcleo de Schwalbe) mediais 22
  • 23. Os feixes que se originam no mesencéfalo, ponte e bulbo são ipsilaterais e fazem parte do: sistema medial. Do córtex cerebral, áreas 4 e 6 de Brodmann, sai um pequeno contingente de fibras que cruza parcialmente no bulbo, menos do que as fibras do TCE, desce pelo funículo ventromedial formando o trato corticoespinhal ventral, cruza na comissura branca anterior da medula e termina na lâmina VII, para inervar os músculos proximais dos apêndices, braços e coxas, e a musculatura do tronco. Origina-se do mesencéfalo o feixe tectoespinhal (FTE) ou fascículo de Löwenthal, a partir das camadas mais profundas dos colículos superiores. O FTE cruza na decussação tegmentar dorsal, e desce junto do FLM no tronco cerebral e na medula pelo funículo anterior até os quatro primeiros segmentos cervicais; termina nas lâminas VI, VII e VIII sem fazer sinapse direta nos motoneurônios α e, sim, por via dos neurônios internunciais. Essas fibras constituem o braço de descarga de um arco reflexo óptico através do qual se produzem movimentos defensivos e reflexos de fuga. Esse feixe tem como principal função mediar os movimentos posturais reflexos, em resposta aos estímulos visuais e, talvez, auditivos (girando os olhos e a cabeça para o lado). Recebe influência do córtex cerebral, principalmente da área 18 de Brodmann do lobo occipital. O feixe vestíbuloespinhal (FVE) forma dois feixes: o lateral e o medial. O lateral origina-se no núcleo de Deiters (situado no assoalho do IV ventrículo, na altura da área vestibular com células grandes ou de Deiters e células pequenas) e descendente do nervo vestibular. O FVE lateral desce ipsilateral pela parte mais anterior do funículo lateral da medula numa velocidade de condução que varia de 24 a 140 ms. As fibras que saem da parte dorsolateral do núcleo vestibular lateral projetam-se no segmento lombossacral da medula espinhal e as fibras que saem da porção rostrocaudal projetam-se para os segmentos cervicais da medula. O FVE lateral termina nos neurônios α e γ na lâmina VIII, e parte das lâminas VII e VIII. A influência do sobre os neurônios gama parece ser exercida sobre neurônios estáticos apenas, monossinápticos, sendo excitatórios. Motoneurônios gama flexores e extensores parecem ser facilitados e inibidos, respectivamente. Motoneurônios α e γ dentro de um pool de motoneurônios parecem ser ativados em paralelo pelo núcleo de Deiters ao utilizar as células grandes e pequenas, e suas atividades parecem ser intimamente relacionadas. O exemplo comum ocorre durante a marcha 23
  • 24. automática, quando um membro está em flexão o outro em extensão. O FVE lateral transmite aos motoneurônios os influxos que chegam à área vestibular desde o labirinto posterior, o que permite interferir na produção dos reflexos estáticos e cinéticos do equilíbrio, ou seja, os reflexos que mantém a atitude ou postura do corpo. Ainda influencia no funcionamento do arco reflexo miotático, reforçando a sua atividade. Considera-se que o FVE lateral exerce influencia facilitadora sobre a atividade reflexa somática da medula e sobre os mecanismos que controlam o tônus dos músculos extensores. O feixe vestibuloespinhal (FVE) medial origina-se dos núcleos vestibulares mediais bilaterais, núcleos de Schwalbe, situados na ponte inferior, cruzam em seguida para formar o FVE medial, desce pela parte medial da medula e terminam nos motoneurônios e neurônios internunciais na porção média da medula torácica, principalmente na lâmina VII de Rexed. Sua principal função está relacionada com os ajustes posturais da cabeça e membros superiores. O feixe retículoespinhal (FRE) é dividido em três: ventral, medial e lateral. O FRE lateral origina-se nos neurônios dos núcleos pontinos oral e caudal da formação reticular (zona facilitadora). O FRE pontino é quase ipsilateral e desce pela parte medial do funículo anterior e cobre toda extensão da medula numa velocidade de condução de 101 ms; associa-se ao FLM até a medula cervical superior, exercendo uma função facilitadora sobre diferentes tipos de motoneurônios da lâmina VIII, e parte da lâmina VII. Sua principal função é a de controlar os movimentos posturais dos músculos axiais e da parte proximal dos membros, principalmente do pescoço. O feixe retículoespinhal (FRE) medial e o ventral originam-se da porção bulbar da formação reticular (zona inibidora ou supressora) principalmente no núcleo reticular gigantocelular. O FRE medial desce pela parte mais interna do funículo anterior da medula. O FRE ventral desce pelo funículo anterior da medula numa velocidade de condução de 70 ms. O FRE ventral e o medial constituem um circuito neuronal numa via inibidora do arco reflexo miotático que começa no sulco prérolandico do córtex frontal na área 4S de Marion Hines, e termina nos motoneurônios da asa anterior da medula, passando através da zona inibidora da formação reticular. Essa via tem dois neurônios: do córtex cerebral e da formação reticular bulbar. O axônio da primeira é uma fibra justapiramidal que desce junto co o feixe piramidal até a ponte de Varolio, em cujo ponto se separa para alcançar a formação reticular bulbar. Na medula o FRE ventral e o medial 24
  • 25. terminam na lâmina VII do sistema γ (juntas com fibras do TCE e rubroespinhal), e algumas na lâmina I que controlam a entrada de informação para a formação reticular para regular o tônus. Fig. 16 O feixe solitário espinhal de Rothman ou fascículo bulboespinhal visceral de Allen é parte integrante do FRE lateral, mas ás vezes está separado. Trata-se de um grupo de células nascidas no setor da formação reticular Lent, 05 próximas ao núcleo do nervo vago, as quais se comportam como centro respiratório e vasomotor. As fibras desse fascículo terminam nos centros da asa lateral da medula que governa a respiração e a função vasomotora, integradas aos motoneurônios que inervam o diafragma e os músculos intercostais. Além do mais, fibras autônomas descendentes dos níveis superiores acompanham o FRE na regulação noradrenérgica na pressão arterial. A classificação do sistema piramidal e extrapiramidal, descrita acima, ainda não tem sustentação clínica, mas pode ser útil para pessoas experientes (Fig.16). FISIOPATOLOGIA E SEMIOLOGIA DA SÍNDROME PIRAMIDAL Do ponto de vista fisiopatológico o sistema piramidal é constituído por dois componentes: ortopiramidal e justapiramidal. O primeiro é um feixe que se inicia no córtex e termina nos segmentos da medula, nos neurônios internunciais, neurônios α e γ, sem fazer sinapse durante seu percurso. O segundo é um feixe que se inicia nas áreas supressoras da área 4 e área 6 ou suplementar; ao descer pelo tronco cerebral não passa pelas pirâmides bulbares; faz sinapse na formação reticular inibidora situada na porção ventromedial do bulbo; projetando-se para os segmentos medulares pelo FRE inibidor com função de inibir o reflexo miotático. Um terceiro componente contíguo ao primeiro inicia-se das áreas 1, 2 e 3 do lobo parietal para terminar na 25
  • 26. asa posterior dos segmentos da medula e, parte dele, termina no núcleo do trigêmio e de Goll e Burdach e recebe o nome de TCB. Sua função é a de controlar os impulsos que chegam à medula para em seguida subirem ao córtex parietal, realizando um feed-back negativo. O termo plegia serve para motricidade e sensibilidade: hemiplegia motora e hemiplegia sensitiva. Ao longo do tempo, o nome hemiplegia tornou-se um sinônimo de déficit motor no hemicorpo, mas não déficit de sensibilidade. Conforme a distribuição somática das paralisias o déficit motor pode ser chamado de: monoplegia braquial e crural; hemiplegia quando todo o dimídio corporal está comprometido, incluindo a hemitesta; plegia dos membros homolaterais, incluindo o facial supranuclear ou hemiplegia poupando a hemitesta; paraplegia braquial e paraplegia crural; triplegia é a fraqueza motora em três membros causada por uma mesma lesão (veja a decussação das pirâmides), quando causado por duas lesões trata-se de hemiplegia e monoplegia; tetraplegia é a paralisia de quatro membros provocada por uma lesão (meningeoma do forame magno pode começar a dar sintomas de fraqueza espástica de um membro, seguido em forma de “U” ou síndrome em “U”); diplegia é uma hemiplegia dupla provocada por duas lesões distintas. Conforme a distribuição da proporção a hemiplegia pode ser classificada como: desproporcionada de predomínio braquial, crural, facial, faciobraquial (formas semiológicas características das embolias cerebrais que comprometem a artéria silviana na região da coroa radiada); as hemiplegias podem ser alternas quando os membros homolaterais comprometidos estão associados no lado contralateral a um nervo craniano: paralisia facial ou estrabismo divergente ou desvio da língua, etc; a hemiplegia cruzada ocorre quando o déficit motor alterna entre os membros sem afetar os nervos cranianos: um membro superior homolateral à lesão e um membro inferior contralateral à lesão; a hemiplegia pode ser pura, quando exclusivamente motora; complicada quando acompanhada de síndrome sensitiva, atáxica, amiotrófica, distônica, etc. Semiologia da síndrome piramidal Costuma-se designar como síndrome piramidal deficitária ou de liberação ou ambas, ao conjunto de sintomas e sinais observáveis em patologias que afetam a via piramidal. Geralmente, a fase deficitária aparece em episódios agudo da lesão piramidal, fase de choque; posteriormente seguida pela fase de liberação que surge com a presença do sinal de Babinski. A síndrome 26
  • 27. piramidal destrutiva foi descrita por Barré, sem que essa falha da função piramidal, implique necessariamente na presença de uma lesão objetiva. A síndrome piramidal irritativa ou clássica foi descrita primeiro, especialmente por Babinski, a qual determina descarga epiléptica focal. Sintomas deficitários da síndrome piramidal de Barré A síndrome piramidal deficitária por lesão ortopiramidal ocorre por perda da inibição. O déficit de energia pode ser cinético com debilidade dos movimentos voluntários e, estático, com incapacidade de manutenção de atitudes forçadas. O déficit motor cortical ortopiramidal distribui-se na região dos dedos polegar e indicador, dificultando o movimento em pinça, observado na manobra dinâmica de Müller Fischer. O déficit motor córticosubcortical ortopiramidal distribui-se nos músculos extensores do punho, dificultando a extensão do punho detectado pela manobra de Strauss. paciente estende o punho contra a resistência da mão do médico, havendo déficit motor. Os músculos extensores do punho são filogeneticamente mais recentes do que os músculos flexores, portanto alteram-se antes. Os músculos flexores do punho são inervados pelo feixe rubroespinhal que é controlado, principalmente pela área 6 de Brodmann. O déficit motor peculiar da SP se distribui habitualmente segundo uma topografia eletiva, que realiza a postura de Wernicke-Mann, constituída por adução do braço, flexão e pronação do antebraço, flexão do punho e dos dedos da mão com o polegar aduzido; extensão do membro inferior, pé varo e em ligeiro equinismo. Os reflexos podem ser divididos em proprioceptivos, exteroceptivos e visceroceptivos. Os proprioceptivos dependem da excitação de receptores com sede nos músculos, tendões, sáculo, utrículo e canais semicirculares. Os exteroceptivos são captados em receptores situados na pele, ou em mucosas externas como córnea, faringe, etc. Os visceroceptivos relacionam-se com o setor vegetativo. Os proprioceptivos são: reflexos de tração muscular ou miotáticos que são captados pelos receptores do fuso muscular e pelos órgãos neurotendíneos de Golgi, conduzidos à medula pelas fibras mielínicas tipo I e II de Lloyd; e pelos reflexos labirínticos ou tônicos. Ao serem pesquisadas duas respostas podem ser obtidas: clônica e tônica. Na primeira, os reflexos proprioceptivos estimulam-se as terminações anuloespirais que disparam aos motoneurônios medulares α-1, provocando os reflexos profundos. 27
  • 28. Os reflexos profundos se dividem em apendiculares e axiais. Entre os primeiros existem: nos membros superiores, o bicipital realiza flexão e supinação do antebraço, inervado pelo musculocutâneo e raízes de C5-C6; o tricipital realiza a extensão do antebraço, inervado pelo radial e raízes de C7-C8 e, na resposta invertida do tricipital, existe flexão no antebraço por lesão aferente do arco reflexo nas lesões nos segmentos C7-C8, principalmente quando existe elemento de espasticidade como na espondilose cervical com rediculomielopatia; o estilorradial realiza pronação e ligeira flexão do antebraço, inervado pelo radial e raízes de C5-C6 braquiorradial e C7,C8,T1 flexores dos dedos; nos membros inferiores o patelar realiza a extensão da perna, inervado pelo femoral e as raízes de L2-L4; e o aquileu realiza a extensão do pé, inervado pelo tibial e as raízes L5-S2. A resposta clínica desses reflexos pode ser: abolido, diminuído, presente, vivo (caracteriza-se por resposta rápida e amplitude aumentada) e exaltado (acrescenta-se ao reflexo vivo, o aumento da área reflexógena). Outra obtenção é usada como: 0 abolido, 1 + (presente diminuído), 2 + (normal), 3 + (aumentado mas não necessariamente patológico) e 4 + (marcadamente hiperativo, patológico, com aumento da área de percussão). O sinal + após o número é mais tradicional do que informativa. Os reflexos axiais incluem os axiais da face e do tronco. Os primeiros são: o nasopalpebral que realiza oclusão da rima palpebral, inervação aferente trigêmio e eferente facial; o orbicular dos lábios realiza protusão dos lábios, inervado pelo trigêmio e facial; e o mandibular realiza elevação da mandíbula, inervado pela aferência e eferência do trigêmio - todos os três têm seu centro reflexo na ponte. Os reflexos do tronco são os reflexos abdominais profundos, sendo mais importante o mediopúbco, que realiza contração ipsilateral dos músculos retos abdominais, desvio da cicatriz umbilical e adução das coxas, inervado pelos intercostais inferiores, ilíoinguinal, ilíohipogástrico, obiturador e as raízes T6-T12. Os reflexos tônicos são segmentares e cervicais. Os primeiros sustentam as atividades posturais e participam na regulação dos movimentos regulada pelos circuitos reverberantes γ e as vias descendentes, originadas na formação reticular, núcleo vestibular lateral, cerebelo, etc., cujos influxos atingem os músculos nas fibras extrafusais, seja diretamente pelos motoneurônios α, seja indiretamente pelo sistema γ. Os reflexos tônicos cervicais consistem de reações de músculos apendiculares desencadeadas pela movimentação passiva da cabeça. Os corpúsculos 28
  • 29. de Vater-Pacini situados nos ligamentos das articulações cervicais, particularmente na atlanto- occipital. Na rotação da cabeça para um lado provoca a extensão do membro superior ipsilateral e a flexão contralateral (postura do esgrimista em guarda). A anteflexão passiva da cabeça determina a flexão dos membros superiores e a extensão dos inferiores. A retroflexão passiva da cabeça determina extensão dos membros superiores e flexão dos membros inferiores. Os reflexos labirínticos são desencadeados pela estimulação do ouvido interno resultando movimentação óculocefalica e do equilíbrio. Os influxos são transmitidos aos neurônios motores periféricos através do FLM e do trato vestíbuloespinhal, estabelecendo conexões entre os núcleos vestibulares, os nervos motores oculares, o núcleo espinhal do acessório e as colunas cinzentas ventrais da medula cervical; o trato vestíbuloespinhal está correlacionado com o tono dos músculos extensores do pescoço e dos membros inferiores, e músculos antigravitários das costas. Os reflexos exteroceptivos são polissinápticos com maior período de latência, maior fatigabilidade, necessidade de somação de estímulos e falta de resposta a autopesquisa. Entre os reflexos cutâneos que se admite sejam normalmente ativados pelo sistema piramidal: os cutâneoabdominais superior, médio e inferior realizam a contração ipsilaterais dos músculos abdominais, os quais são inervados pelas raízes de T6-T9 para os superiores, T9-T11 para os médios e T11-T12 para os inferiores; o cremastérico realiza a contração do músculo cremastérico na dependência do músculo oblíquo interno do abdome, inervado pelo ilíohipogastrico e ilíoinguinal e raízes de L1L2; e os reflexos cutâneoplantares em flexão (veja abaixo sinal de Babinski). A perda transitória ou permanente dos reflexos superficiais cutâneoabdominais, cremastéricos e cutâneoplantares ocorre pela retirada da inibição ortopiramidal durante o período de choque do sistema piramidal. Os reflexos visceroceptivos são estudados com o sistema nervoso autônomo. Os reflexos exteroceptivos são polissinápticos com maior período de latência, maior fatigabilidade, necessidade de somação de estímulos e falta de resposta a autopesquisa. A perda dos reflexos cutâneoabdominais, cremastéricos, cutâneoplantares, e o aparecimento do reflexo palmomentual acontecem durante o período de choque por lesão ortopiramidal, causando perda da facilitação do sistema piramidal. Os reflexos abdominais e cremastéricos estão presentes no 29
  • 30. nascimento, embora com uma área reflexógena maior; no adulto, a estimulação exteroceptiva do abdômen provoca contração da musculatura abdominal e relaxamento recíproco da musculatura do tórax. Acredita-se que esses reflexos sejam reflexos de defesa, integrados em níveis espinhal via internunciais e facilitados pelo trato piramidal. Apesar dos estímulos piramidais produzirem um potencial excitatório pós-sináptico nos neurônios internunciais relacionados com esses reflexos, não há evidencia de que a abolição desses reflexos esteja diretamente dependente de lesão do trato piramidal. A estimulação cutânea rápida, em condições favoráveis da parede abdominal no sentido láteromedial à altura das regiões epigástricas, obtém-se os reflexos: abdominais superiores – raízes de T6-T9; na região umbilical, abdominais médios – raízes de T9-T11; e na região hipogástrica, e os abdominais inferiores – raízes de T11-T12. Ocorre a contração ipsilateral dos músculos reto do abdome, oblíquo externo, oblíquo interno e transverso, com desvio da linha alba e da cicatriz umbilical no sentido médiolateral. O reflexo cremastérico superficial aparece pela estimulação cutânea do terço superior da face medial da coxa e, o reflexo cremastérico profundo, pela pressão digital sobre a face medial da musculatura da coxa, entre o terço superior e médio. A contração do músculo cremaster está na dependência do músculo oblíquo interno do abdome com elevação do testículo ipsilateral ou retração do grande lábio ipsilateral. Em caso do reflexo cremastérico exaltado, pode ser percebido contralateral. Sua inervação é feita pelos nervos iliohipogástrico e ilioinguinal com nível medular em L1-L2. Esse reflexo não deve ser confundido com o reflexo dartóico ou escrotal, que consiste em leve corrugamento da bolsa escrotal, devido ao a contração do darto um músculo liso de inervação simpática, e provocado por excitação cutânea do escroto, períneo ou coxa, como também por ação do frio. Nas lesões cordonais posteriores aparece o sinal de Tolosa devido à dissociação entre os dois reflexos cremastéricos: presença do superficial e abolição do profundo. Os reflexos cutâneoplantares em flexão (veja abaixo sinal de Babinski). O reflexo palmomentoniano é possuidor de um arco reflexo multissegmentar inibido pelos sistemas motores superiores, tendo fisiopatologia similar aos reflexos axiais da face. Pesquisa-se pela estimulação, principalmente da eminência tênar; pode está presente em indivíduos normais, por contração ipsilateral dos músculos mentual e orbicular, com ligeira elevação do lábio inferior; mostra-se vivo nas lesões piramidais bilaterais, principalmente corticonuclear, e 30
  • 31. nas síndromes paleoestriadas; e mostra-se abolido na paralisia facial central ou periférica; sua interpretação depende do contexto sindrômico. Entretanto, existem duas proposições: A. O reflexo palmomentual normal segue tais características – 1. Zona reflexógena limitada à eminência tênar; 2. Resposta débil e de curta duração; 3. Extinção da resposta entre 2 a 4 estimulações; e 5. Variações de um a outro momento. B. O reflexo palmomentual patológico se caracteriza por - 1. Zona reflexógena que ultrapassa a eminência tênar; 2. Resposta de média a intensa; 3. Sem habituação após 2 a 4 estimulações; 4. Constancia da resposta entre um a outro momento. Os reflexos visceroceptivos são estudados com o sistema nervoso autônomo. Sintomas de liberação da síndrome piramidal de Babinski As lesões piramidais condicionam uma desintegração complexa da função motora, que associadas ao déficit motor realizam modificações qualitativas, por sua conta, do campo de ação motor onde ocorrem os movimentos associados anormais. Portanto, a exaltação do sistema extrapiramidal tende a predominar pela falta de inibição do sistema piramidal e origina a síndrome de liberação extrapiramidal. Essa síndrome é constituída por dois componentes: por lesão da via ortopiramidal e por lesão da via justapiramidal. Na lesão da via ortopiramidal, aparece liberação do sistema extrapiramidal com sincinesias globais e de coordenação; e a liberação dos sistemas polissinápticos nociceptivos da medula decorrentes da liberação pura do sistema ortopiramidal com sinal de Babinski e automatismo medular. Nas lesões da via justapiramidal por liberação do sistema vestibuloespinhal aparecem sinais de espasticidade; e na liberação do sistema reticuloespinhal facilitador ocorre hiperreflexia e clonus. Sincinesias ocorrem quando os membros contraturados, mais ou menos incapazes de movimentar-se pela vontade, podem apresentar movimentos involuntários diante de movimentos voluntários ou passivos do lado oposto. Por imaturidade do sistema piramidal as crianças realizam movimentos similares as sincinesias com a mão esquerda, face, língua quando aprendem a escrever. Posteriormente desaparecem. Entretanto, algumas pessoas os mantêm quando realizam movimentos mais finos. As sincinesias patológicas podem ser classificadas em: A sincinesia global caracteriza-se pela contração global dos músculos do lado paralisado com consequente contratura observada nos hemiplégicos (flexão da extremidade superior e extensão 31
  • 32. do inferior). Pode ser obtida quando: a) quando se reforça a contração do esforço, o fechamento com força da mão do lado sadio; b) no hemiplégico a sincinesia global é influenciada pelo reflexo tônica cervical, ao girar a cabeça para o lado normal aumenta o tônus flexor e diminui ao girar a cabeça para o lado doente por aumento do tônus extensor; c) durante a marcha na hemiplegia piramidal clássica, ao abduzir a extremidade inferior, o paciente flexiona o joelho contra a resistência, não pode fazê-lo sem ao mesmo tempo realizar uma flexão dorsal com adução do pé (fenômeno de Strümpell ou do tibial anterior); d) durante movimentos automáticos como espirro, tosse, riso, etc. Sincinesias de coordenação é a que melhor expressa à situação condicionada pelo transtorno piramidal. A sincinesia pode ser homolateral e heterolateral ao déficit: a) A sincinesia homolateral no tibial anterior (Strümpell) ocorre quando o paciente com lesão piramidal tenta fletir a perna sobre a coxa e a coxa sobre a pelve, aparece dorsoflexão e inversão do pé. O sinal dos interósseos de Souques ocorre quando da elevação voluntária do membro superior lesado acompanha-se de hiperextensão e abdução dos dedos da mão paralisada. b) A sincinesia heterolateral realizada pela prova de Raimiste na abdução associada. Coloca-se o paciente em decúbito dorsal com os membros inferiores em extensão, tenta-se abduzir o membro normal contra a resistência e o membro lesado abduz por associação. O mesmo principio é obtido ao fazer a adução dos membros inferiores. O sinal de Babinski (SB) descrito em 1896 e os reflexos de defesa chamados de automatismo medular têm uma unidade funcional e fisiopatológica. O SB é a flexão dorsal ou extensão do hálux produzida por estimulação do tegumento de qualquer que seja a superfície plantar que não seja a do hálux. O sinal de Babinski em forma de leque, descrito em 1903, ocorre em lesão predominante na área prémotora, pesquisado similar ao tradicional. Mas, é bem aceita a estimulação de trás para frente, roçando a parte externa do pé e a base dos dedos, sem feri-lo. O SB é o primeiro sinal de liberação a aparecer na lesão piramidal, podendo ser seguido pelos reflexos de defesa. Em certos casos de lesão piramidal pode aparecer o SB da mão, que consiste no movimento de flexão, oposição e adução do polegar ao ser estimulada a eminência hipotenar. A margem cubital no adulto, apesar de medial, corresponde à lateral do pé no processo de ontogênese. Em casos raros, o SB pode ser obtido pela estimulação do território do nervo 32
  • 33. trigêmio com resposta extensora do hálux contralateral. Mas, interpretações errôneas do SB existem. O pseudosinal de Babinski ou Babinski periférico pode ocorrer em casos de neuropatia periférica, poliomielite com atrofia dos extensores curtos dos artelhos, principalmente o flexor curto, adutor e abdutor do hálux. Como os músculos extensores estão íntegros pode haver resposta extensora da primeira falange do hálux. Mas, o SB não traduz necessariamente a existência de uma lesão anatômica piramidal, também pode existir por distúrbio funcional no sono profundo, intoxicação por barbitúricos, etc. A extensão do hálux não é mais do que o componente mais distal da resposta sinérgica nociceptiva flexora da extremidade inferior, como visto no reflexo medular cruzado. Portanto, a flexão dorsal reflexa do pé estimulada pela planta do pé não é uma resposta reflexa patológica. Normalmente, a cronaxia sensitiva é igual à dos flexores, mas é o dobro da dos extensores. A via sensitiva contém fibras finas do tipo A e do tipo C, sendo as últimas de condução mais lenta. Portanto, o reflexo cutâneoplantar tem dois componentes, um mais rápido e outro mais lento. Na resposta motora, primeiro aparece com a flexão do bíceps crural e depois com a extensão do tibial anterior, respectivamente. No caso de lesão piramidal a cronaxia sensitiva não se altera, mas as motoras se invertem, de forma que a dos flexores se divide e a dos extensores se duplica. Como os influxos nervosos caminham por vias isócronas, a excitação plantar provocará não mais flexão e, sim, extensão: primeiro o tibial anterior e extensor longo do hálux, depois o bíceps. A retirada da inibição tônica desses músculos pelo sistema piramidal é responsável pela inversão funcional desses músculos. Resumo do sinal de Joseph Francois Felix Babinski - A área reflexógena para o reflexo cutâneoplantar é a raiz de S1 com as terminações nervosas alcançando a pele. O nervo aferente é o tibial anterior, os segmentos medulares envolvidos no arco reflexo vão de L4 até S2. Para pesquisá-lo, deve-se dizer ao paciente que a planta do seu pé vai ser estimulada, ele deve ficar com a perna relaxada sobre a cama com leve flexão na dobra do joelho e o pé em discreta eversão. Utiliza-se um estilete de ponta rombuda e pressiona-se qualquer área da planta do pé menos o próprio hálux e, num tempo máximo de 5 segundos, realiza-se o movimento uniforme; não se deve ferir a pele do pé ou repetir o procedimento logo em seguida. O verdadeiro sinal de Babinski ocorre pela extensão do hálux decorrente do recrutamento de todos os componentes 33
  • 34. envolvidos com o músculo longo extensor do hálux. A resposta fisiológica do reflexo cutâneoplantar ocorre quando indivíduos sentem uma sensação desagradável durante a estimulação ou são muito sensíveis ao estímulo; esse fenômeno já tinha sido demonstrado antes de Babinski, por Leonardo da Vinci e Raphael, nas suas clássicas pinturas. O sinal de Babinski pode existir por lesão fisiológica ou anatômica do feixe ortopiramidal. Quando a via justapiramidal está envolvida separa da ortopiramidal a resposta em extensão não tem o mesmo significado. Quando ambas as vias estão lesadas há extensão rápida de todos os dedos do pé; quando na via ortopiramidal, apenas do hálux faz extensão; e na lesão da via justapiramidal a extensão é em leque e mais devagar. A extensão do hálux só é patológica se causada pela contração do músculo extensor do hálux; a contração do músculo extensor do hálux é patológica somente se ele ocorrer sincronicamente com atividade reflexa em outros músculos flexores; o sinal de Babinski não implica necessariamente que a atividade concorrente dos outros músculos flexores seja muito viva ou vice-versa. Com relação aos reflexos de defesa ou de automatismo medular precisa-se ser rigoroso na diferenciação entre os autênticos reflexos de defesa, que tem uma significação de disfunção piramidal com liberação da atividade nociceptiva espinhal, dos reflexos de reação de defesa. O sinal patológico é a flexão dorsal reflexa do pé produzida por estimulação fora da superfície plantar; sempre hiperexcitável e estereotipado. Um beliscão no dorso do pé pode desencadear uma resposta em tríplice flexão (do pé, da perna e da coxa), principalmente nas lesões medulares. Enquanto, os reflexos de reação de defesa ocorrem por hiperestesia, excitação psicomotora, instabilidade emocional, redução do controle de vigília, etc; poder ser excitáveis ou hiperexcitáveis, mas a resposta não é estereotipada. A espasticidade é uma hipertonia essencialmente constituída por um excesso de atividades reflexas que utilizam o arco reflexo. É decorrente da liberação do feixe vestibuloespinhal pela lesão do sistema justapiramidal que deixa de inibir os motoneurônios do sistema γ dinâmico, tendo reflexos vivos ou exaltados. Na espasticidade existe um desequilíbrio entre as influências facilitadoras e inibidoras supraespinhais que chegam aos motoneurônios γ, desequilibra o sinal positivo através do circuito periférico, determina a potenciação présinaptica dos motoneurônios α tônico. A espasticidade apresenta-se diferente em topografias distintas. Nas lesões corticais e 34
  • 35. capsulares não existe a quebra do princípio da inervação recíproca; nas lesões de tronco encefálico há redução da inibição recíproca com atividade aumentada do antagonista, tanto durante a tração como ao longo da sua manutenção; e nas lesões da medula espinhal não existe inervação recíproca, em virtude da descarga prolongada e irradiada, deixando de ser espasticidade. Nas lesões corticais, capsulares e de tronco cerebral da via piramidal aparece o sinal de Babinski simples ou em leque, a depender da área cortical lesada, área 4 ou área 6 de Brodmann, respectivamente; nas lesões da medula espinhal além do sinal de Babinski, aparecem os reflexos de defesa em tríplice flexão. Na síndrome piramidal pura a hipertonia é seletiva, atingindo os músculos flexores dos membros superiores e os extensores dos músculos inferiores. A hipertonia é elástica e liberta o músculo passivamente distendido. Nas lesões que predominam a via ortopiramidal a presença do sinal do canivete pode ser mais evidente do que quando predomina os sinais de lesão da via justapiramidal. A espasticidade do sistema γ dinâmico é diferente da rigidez devido à falta de inibição do sistema γ tônico, com o aparecimento dos reflexos tônicos exaltados. O reflexo tônico do músculo tibial anterior encontrado nos parkinsonianos é um dos exemplos de reflexo tônico de postura. O bloqueio seletivo das fibras finas, que respeitam tanto as fibras eferentes α como as aferentes Ia, produz alguma diminuição transitória do reflexo tônico exagerado. Enquanto a rigidez do sistema α pode ser vista principalmente nas lesões do vermis anterior ou paleocerebelo e, não desaparece com secção das raízes dorsais, como desaparece na espasticidade do sistema γ dinâmico. Do ponto de vista semiológico, a espasticidade é diferente da rigidez. A hipertonia para movimentos passivos difere da rigidez por não ser uniforme aos vários tipos de movimentos e variar com a velocidade do movimento. Além do mais, a rigidez tende a afetar todos os músculos no mesmo grau, enquanto a hipertonia varia de um grupo de músculos para outro. Na espasticidade, se o movimento for realizado lentamente, pode existir pouca resistência. Mas, se o movimento for rápido, haverá aumento rápido da resistência. Com o cotovelo em 90 graus e o antebraço pronado o médico supina lentamente a mão do paciente, a menos que a espasticidade seja severa, nesse caso haverá clonus do músculo pronador. Na hemiparesia ou hemiplegia, a espasticidade é mais marcada nos músculos flexores e pronadores da extremidade superior e 35