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EDUCAÇÃO    PRÉ-ESCOLAR




           O r i e n t a ç õ e s                          C u r r i c u l a r e s
                                                   para    a   Educação      Pré-Escolar




           M   I   N   I   S   T   É   R   I   O     D     A     E   D   U   C   A   Ç   Ã   O
           Departamento da Educação Básica            ࡯    Núcleo de Educação Pré-Escolar
EDUCAÇÃO    PRÉ-ESCOLAR




           O r i e n t a ç õ e s                          C u r r i c u l a r e s
                                                   para    a   Educação      Pré-Escolar




           M   I   N   I   S   T   É   R   I   O     D     A     E   D   U   C   A   Ç   Ã   O
           Departamento da Educação Básica            ࡯    Núcleo de Educação Pré-Escolar
Ficha Técnica

               Título
     Orientações Curriculares
    para a Educação Pré-Escolar

               Editor
     Ministério da Educação
 Departamento da Educação Básica
     Gabinete para a Expansão
         e Desenvolvimento
      da Educação Pré-Escolar
Av. 24 de Julho, 140 — 1300 Lisboa

     Directora do Departamento
        da Educação Básica
        Teresa Vasconcelos

                 Texto
  M. Isabel Ramos Lopes da Silva
 (Instituto de Inovação Educacional)
 e Núcleo de Educação Pré-Escolar

           Ilustração
         Manuela Bacelar

     Capa e Concepção Gráfica
        Cecília Guimarães

              Tiragem
               25 000

             Impressão
Editorial do Ministério da Educação

               Data
           Setembro 1997

         N.o Depósito Legal
             114 801/97

               ISBN
           972-742-087-7
Colecção
EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

           1
Orientações Curriculares
 para a Educação Pré-Escolar
É com maior gosto que levamos a todos os jardins de infância as Orientações Curriculares
para a Educação Pré-Escolar. Trata-se do culminar de um processo que envolveu profissio-
nais, formadores, investigadores e técnicos da administração central e local, associações
profissionais e sindicais, representantes dos pais, etc., na construção de um documento que
fosse espelho daquilo que hoje sabemos que a educação pré-escolar deve proporcionar às cri-
anças, isto é, reflexo daquilo que a sociedade, no seu todo, pede à educação pré-escolar.

Estas Orientações Curriculares serão “pontos de apoio” para a prática pedagógica dos edu-
cadores, são espelho da sua “coerência profissional”, permitindo uma “maior afirmação soci-
al da educação pré-escolar”, como afirmavam, há já largos anos, alguns educadores de infân-
cia, sondados sobre esta matéria*. À Doutora Isabel Lopes da Silva (Instituto de Inovação
Educacional) e ao Núcleo de Educação Pré-Escolar do Departamento da Educação Básica, o
reconhecimento pelo trabalho de rigor e qualidade desenvolvido na preparação deste docu-
mento.

Não esqueçamos: o educador é o construtor, o gestor do currículo, no âmbito do projecto
educativo do estabelecimento ou do conjunto de estabelecimentos. O educador deve cons-
truir esse currículo com a equipa pedagógica, escutando os saberes das crianças e suas famí-
lias, os desejos da comunidade e, também, as solicitações dos outros níveis educativos.

Pretende-se que estas Orientações sejam “um ponto de apoio” para uma educação pré-esco-
lar enquanto primeira etapa da educação básica, estrutura de suporte de uma educação que
se desenvolve ao longo da vida. Poderão contribuir para que a educação pré-escolar de qua-
lidade se torne motor de cidadania, alicerce de uma vida social, emocional e intelectual, que
seja um todo integrado e dinâmico para todas as crianças portuguesas e não apenas para
algumas.




                                                                Teresa Vasconcelos


                                                 Directora do Departamento da Educação Básica
                                                                       e
                                           Coordenadora do Gabinete para a Expansão e Desenvolvimento
                                                            da Educação Pré-Escolar
                                                                  (GEDEPE)




* Vasconcelos, (1990) Modelos Pedagógicos na educação pré-escolar: Que pensam os educadores? Aprender, 11,
  38-44.
ÍNDICE


II Princípios Gerais
   Introdução           __________________________________________________________________________________________   13

   Princípio geral e objectivos pedagógicos enunciados
   na Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar _________________________________________                                   15
   Fundamentos e organização das Orientações
   Curriculares _________________________________________________________________________________________            17
   Orientações globais para o educador ________________________________________________                              25


II Intervenção Educativa
   Organização do ambiente educativo                            _________________________________________________    31

        Abordagem sistémica e ecológica do ambiente educativo ______________                                         31
        Organização do grupo, do espaço e do tempo ________________________________                                  34
        Organização do meio institucional __________________________________________________                         41
        Relação com os pais e outros parceiros educativos _________________________                                  42

   Áreas de conteúdo               ______________________________________________________________________________    47

        Articulação de conteúdos ________________________________________________________________                    48
        Área de formação pessoal e social __________________________________________________                         51
        Área de expressão e comunicação ___________________________________________________                          56

             Domínio das expressões motora, dramática, plástica e musical ________                                   57
             Domínio da linguagem oral e abordagem à escrita _________________________                               65
             Domínio da matemática _______________________________________________________________                   73

        Área de conhecimento do mundo                        ____________________________________________________    79

   Continuidade educativa                  ______________________________________________________________________    87

   Intencionalidade Educativa                    ________________________________________________________________    93
I .   P r i n c í p i o s   G e r a i s
P   r   i   n   c   í   p   i   o   s     G   e   r   a   i   s



                                                                                                 INTRODUÇÃO




As Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar aprovadas pelo presente
despacho* decorrem de um debate amplamente participado que permitiu a sua pro-
gressiva reformulação.

A diversidade e riqueza das contribuições de serviços e instituições que desempenham
um papel relevante na educação pré-escolar, bem como de numerosos grupos de edu-
cadores que se disponibilizaram para analisar o documento base e apresentar as suas
críticas e sugestões, possibilitaram a progressiva melhoria do documento final. Este
processo permitiu, ainda, distinguir os princípios gerais das Orientações Curriculares,
a que se refere este despacho, do seu desenvolvimento pedagógico, a publicar pelo
Departamento da Educação Básica. A complementaridade destes dois textos visa
torná-los um instrumento útil para os educadores reflectirem sobre a prática e encon-
trarem as respostas educativas mais adequadas para as crianças com quem trabalham.

As Orientações Curriculares constituem um conjunto de princípios para apoiar o
educador nas decisões sobre a sua prática, ou seja, para conduzir o processo educa-
tivo a desenvolver com as crianças.

As Orientações Curriculares constituem uma referência comum para todos os edu-
cadores da Rede Nacional de Educação Pré-Escolar e destinam-se à organização da
componente educativa. Não são um programa, pois adoptam uma perspectiva mais
centrada em indicações para o educador do que na previsão de aprendizagens a rea-
lizar pelas crianças. Diferenciam-se também de algumas concepções de currículo,
por serem mais gerais e abrangentes, isto é, por incluírem a possibilidade de funda-
mentar diversas opções educativas e, portanto, vários currículos.

Ao constituirem um quadro de referência para todos os educadores, as Orientações                                           13
Curriculares pretendem contribuir para promover uma melhoria da qualidade da
educação pré-escolar.

O presente documento organiza-se do seguinte modo:
1 — Princípio geral e objectivos pedagógicos enunciados na Lei Quadro da Educa-
    ção Pré-Escolar

* Despacho n.o 5220/97 (2.a série), de 10 de Julho, publicado no D. R. n.o 178, II série, de 4 de Agosto.
2 — Fundamentos e organização das Orientações Curriculares
     3 — Orientações gerais para o educador

     As Orientações Curriculares assentam nos seguintes fundamentos articulados:
     — o desenvolvimento e aprendizagem como vertentes indissociáveis;
     — o reconhecimento da criança como sujeito do processo educativo — o que
       significa partir do que a criança já sabe e valorizar os seus saberes como funda-
       mento de novas aprendizagens;
     — a construção articulada do saber — o que implica que as diferentes áreas a con-
       templar não deverão ser vistas como compartimentos estanques, mas abordadas
       de uma forma globalizante e integrada;
     — a exigência de resposta a todas as crianças — o que pressupõe uma pedagogia
       diferenciada, centrada na cooperação, em que cada criança beneficia do processo
       educativo desenvolvido com o grupo.

     Com suporte nestes fundamentos, o desenvolvimento curricular, da responsabili-
     dade do educador, terá em conta:
     — os objectivos gerais — enunciados na Lei Quadro da Educação Pré-Escolar
       como intenções que devem orientar a prática profissional dos educadores;
     — a organização do ambiente educativo — como suporte do trabalho curricular e
       da sua intencionalidade. O ambiente educativo comporta diferentes níveis em
       interacção: a organização do grupo, do espaço e do tempo; a organização do esta-
       belecimento educativo; a relação com os pais e com outros parceiros educativos;
     — as áreas de conteúdo — que constituem as referências gerais a considerar no
       planeamento e avaliação das situações e oportunidades de aprendizagem. Distin-
       guem-se três áreas de conteúdo:
       • Área de Formação Pessoal e Social;
       • Área de Expressão/Comunicação que compreende três domínios:
         a) domínio das expressões com diferentes vertentes — expressão motora,
            expressão dramática, expressão plástica e expressão musical;
14       b) domínio da linguagem e abordagem à escrita;
         c) domínio da matemática;
       • Área de Conhecimento do Mundo;
     — a continuidade educativa — como processo que parte do que as crianças já sabem
       e aprenderam, criando condições para o sucesso nas aprendizagens seguintes;
     — a intencionalidade educativa — que decorre do processo reflexivo de observa-
       ção, planeamento, acção e avaliação desenvolvido pelo educador, de forma a
       adequar a sua prática às necessidades das crianças.
P   r   i   n   c   í   p   i   o   s    G   e   r   a   i   s



PRINCÍPIO GERAL E OBJECTIVOS PEDAGÓGICOS
ENUNCIADOS NA LEI-QUADRO
DA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR




A Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar estabelece como                         Princípio Geral
princípio geral que “a educação pré-escolar é a primeira
etapa da educação básica no processo de educação ao longo
da vida, sendo complementar da acção educativa da famí-
lia, com a qual deve estabelecer estreita relação, favore-
cendo a formação e o desenvolvimento equilibrado da cri-
ança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade
como ser autónomo, livre e solidário”.

Este princípio fundamenta todo o articulado da lei e dele                    Objectivos
decorrem os objectivos gerais pedagógicos definidos para a                   Pedagógicos
educação pré-escolar:
a) Promover o desenvolvimento pessoal e social da criança
   com base em experiências de vida democrática numa
   perspectiva de educação para a cidadania;
b) Fomentar a inserção da criança em grupos sociais
   diversos, no respeito pela pluralidade das culturas,
   favorecendo uma progressiva consciência como membro
   da sociedade;
c) Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso
   à escola e para o sucesso da aprendizagem;
d) Estimular o desenvolvimento global da criança no res-                                              15
   peito pelas suas características individuais, incutindo
   comportamentos que favoreçam aprendizagens signifi-
   cativas e diferenciadas;
e) Desenvolver a expressão e a comunicação através de
   linguagens múltiplas como meios de relação, de infor-
   mação, de sensibilização estética e de compreensão do
   mundo;
f) Despertar a curiosidade e o pensamento crítico;
     g) Proporcionar à criança ocasiões de bem estar e de segu-
        rança, nomeadamente no âmbito da saúde individual e
        colectiva;
     h) Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências
        ou precocidades e promover a melhor orientação e
        encaminhamento da criança;
     i) Incentivar a participação das famílias no processo edu-
        cativo e estabelecer relações de efectiva colaboração
        com a comunidade.




16
P   r   i   n   c   í   p   i   o   s    G   e   r   a   i   s



                 FUNDAMENTOS
                 E ORGANIZAÇÃO
                 DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES




O princípio geral e os objectivos pedagógicos enunciados
na Lei-Quadro enquadram os fundamentos e a organização
das Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar.

Assim, as diferentes afirmações contidas no princípio geral
da Lei-Quadro, destacadas no texto, relacionam-se com os
objectivos gerais, para explicitar como se traduzem nas
Orientações Curriculares.

  “A educação pré-escolar é a primeira etapa da educa-                        educação ao
  ção básica no processo de educação ao longo da                              longo da vida
  vida”.

Esta afirmação implica que durante esta etapa se criem as
condições necessárias para as crianças continuarem a                          aprender a
aprender, ou seja, importa que na educação pré-escolar as                     aprender
crianças aprendam a aprender. Desta afirmação decorre
também o objectivo geral:
   “Contribuir para a igualdade de oportunidades no                           igualdade de
   acesso à escola e para o sucesso das aprendiza-                            oportunidades
   gens”.

Não se pretende que a educação pré-escolar se organize em                     sucesso escolar
função de uma preparação para a escolaridade obrigatória,                                              17
mas que se perspective no sentido da educação ao longo da
vida, devendo, contudo, a criança ter condições para abor-
dar com sucesso a etapa seguinte.

A educação pré-escolar foi apontada como um possível
local de insucesso escolar precoce em que algumas crian-
ças aprendem que não são tão capazes como as outras.
Conclusões da investigação sociológica demonstraram,
também, que o insucesso escolar recai maioritariamente em
                         crianças de meios populares, cuja cultura familiar está mais
                         distante da cultura escolar.

          pedagogia      Para que a educação pré-escolar possa contribuir para uma
         estruturada     maior igualdade de oportunidades, as Orientações Curri-
                         culares acentuam a importância de uma pedagogia estrutu-
                         rada, o que implica uma organização intencional e sistemá-
                         tica do processo pedagógico, exigindo que o educador pla-
                         neie o seu trabalho e avalie o processo e os seus efeitos no
                         desenvolvimento e na aprendizagem das crianças.

     carácter lúdico     Adoptar uma pedagogia organizada e estruturada não sig-
                         nifica introduzir na educação pré-escolar certas práticas
                         "tradicionais" sem sentido para as crianças, nem menospre-
                         zar o carácter lúdico de que se revestem muitas aprendiza-
                         gens, pois o prazer de aprender e de dominar determinadas
                         competências exige também esforço, concentração e inves-
                         timento pessoal.

          sucesso da     A educação pré-escolar cria condições para o sucesso da
       aprendizagem      aprendizagem de todas as crianças, na medida em que pro-
                         move a sua auto-estima e auto-confiança e desenvolve
                         competências que permitem que cada criança reconheça as
                         suas possiblidades e progressos.

                         Os diversos contextos de educação pré-escolar são, assim,
                         espaços onde as crianças constroem a sua aprendizagem, de
                         forma a:
         formação e         “Favorecer a formação e o desenvolvimento equili-
     desenvolvimento        brado da criança”.

                         Esta afirmação do princípio geral fundamenta o objectivo:
18
                            “Estimular o desenvolvimento global da criança, no
                            respeito pelas suas características individuais,
                            desenvolvimento que implica favorecer aprendiza-
                            gens significativas e diferenciadas”.

         interligação    Este objectivo aponta, assim, para a interligação entre desen-
     desenvolvimento /   volvimento e aprendizagem defendida por diferentes cor-
       aprendizagem      rentes actuais da psicologia e da sociologia, que conside-
P   r   i   n   c   í   p   i   o   s    G   e   r   a   i   s



ram que o ser humano se desenvolve num processo de inter-
acção social. Nesta perspectiva a criança desempenha um
papel activo na sua interacção com o meio que, por seu
turno, lhe deverá fornecer condições favoráveis para que se
desenvolva e aprenda.

Admitir que a criança desempenha um papel activo na                            criança como
construção do seu desenvolvimento e aprendizagem, supõe                        sujeito
encará-la como sujeito e não como objecto do processo                          do processo
educativo.                                                                     educativo

Neste sentido, acentua-se a importância da educação pré-                       partir do que a
-escolar partir do que as crianças sabem, da sua cultura e                     criança sabe
saberes próprios. Respeitar e valorizar as características
individuais da criança, a sua diferença, constitui a base de
novas aprendizagens. A oportunidade de usufruir de expe-
riências educativas diversificadas, num contexto facilitador
de interacções sociais alargadas com outras crianças e adul-
tos, permite que cada criança, ao construir o seu desenvol-
vimento e aprendizagem, vá contribuindo para o desenvol-
vimento e aprendizagem dos outros.

O respeito pela diferença inclui as crianças que se afastam                    educação para
dos padrões "normais", devendo a educação pré-escolar dar                      todos
resposta a todas e a cada uma das crianças. Nesta perspectiva
de "escola inclusiva", a educação pré-escolar deverá adoptar
a prática de uma pedagogia diferenciada, centrada na coope-
ração, que inclua todas as crianças, aceite as diferenças,
apoie a aprendizagem, responda às necessidades individuais.

O conceito de "escola inclusiva" supõe que o planeamento                       escola
seja realizado tendo em conta o grupo. Este plano é adap-                      inclusiva
tado e diferenciado de acordo com as cracterísticas indivi-
duais, de modo a oferecer a cada criança condições estimu-                                              19
lantes para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Pela
sua referência ao grupo, vai mais longe que a perspectiva
de integração que admitia a necessidade de planos indivi-
duais e específicos para as crianças "diferentes". Assim,                      planeamento
mesmo as crianças diagnosticadas como tendo "necessida-                        para o grupo
des educativas especiais" são incluídas no grupo e benefi-
ciam das oportunidades educativas que são proporcionadas
a todos.
funcionamento     As condições que se consideram necessárias para a existência
       do estabeleci-   de uma "escola inclusiva" tais como, o bom funcionamento
     mento educativo    do estabelecimento educativo, o envolvimento de todos inter-
                        venientes — profissionais, crianças, pais e comunidade — a
                        planificação em equipa, são aspectos a ter em conta no pro-
                        cesso educativo a desenvolver na educação pré-escolar.

                        A resposta que a educação pré-escolar deve dar a todas as
                        crianças organiza-se:
                          “Tendo em vista a sua plena inserção na sociedade
                          como ser autónomo, livre e solidário”.

                        Esta última afirmação do princípio geral que orienta a edu-
                        cação pré-escolar concretiza-se em diferentes objectivos,
                        relacionando-se directamente com os seguintes:
         desenvolvi-      “Promover o desenvolvimento pessoal e social da cri-
     mento pessoal e      ança com base em experiências de vida democrática
              social      numa perspectiva de educação para a cidadania;”

      educação para
                          “Fomentar a inserção da criança em grupos sociais
         a cidadania
                          diversos, no respeito pela pluralidade das culturas,
                          favorecendo uma progressiva consciência como
                          membro da sociedade”.

     Organização do     No sentido da educação para a cidadania, as Orientações
          Ambiente      Curriculares dão particular importância à Organização do
          Educativo     Ambiente Educativo como um contexto de vida democrá-
                        tica em que as crianças participam, onde contactam e
                        aprendem a respeitar diferentes culturas. É nesta vivência
           Formação     que se inscreve a área de Formação Pessoal e Social consi-
     Pessoal e Social   derada como área integradora de todo o processo de educa-
                        ção pré-escolar.
20
                        É também objectivo da educação pré-escolar:
           bem-estar      “Proporcionar ocasiões de bem-estar e de segu-
         e segurança      rança, nomeadamente no âmbito da saúde individual
                          e colectiva”.

                        O bem estar e segurança dependem também do ambiente
                        educativo, em que a criança se sente acolhida, escutada e
                        valorizada, o que contribui para a sua auto-estima e desejo
P   r   i   n   c   í   p   i   o   s    G   e   r   a   i   s



de aprender. Um ambiente em que se sente bem porque são
atendidas as suas necessidades psicológicas e físicas. O
bem estar relacionado com a saúde individual e colectiva é
também ocasião de uma educação para a saúde que faz
parte da formação do cidadão.

Mas, a educação da criança, tendo em vista a plena inser-
ção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário,
implica também outras formas de desenvolvimento e
aprendizagem, a que se refere o objectivo:
  “Desenvolver a expressão e a comunicação através                            Expressão
  de linguagens múltiplas como meios de relação, de                           e Comunicação
  informação, de sensibilização estética e de compre-
  ensão do mundo”.

Este objectivo é contemplado nas áreas Expressão e
Comunicação e Conhecimento do Mundo. Existindo uma                            Conhecimento
ligação entre as duas, a primeira engloba diferentes formas                   do Mundo
de linguagem distribuídas por três domínios: domínio das
expressões, com diferentes vertentes — expressão motora,
expressão dramática, expressão plástica e expressão musi-
cal —; domínio da linguagem e abordagem à escrita, que
inclui outras linguagens como a informática e a audiovisual
e ainda, a possiblidade de sensibilização a uma língua
estrangeira; o domínio da matemática, considerado como
uma outra forma de linguagem, faz também parte da área
de Expressão e Comunicação.

Sendo o domínio destas linguagens importante em si                            articulação de
mesmo, elas também são meios de relação, de sensibiliza-                      conteúdos
ção estética e de obtenção de informação. Deste modo, a
área de Expressão e Comunicação constitui uma área
básica que contribui simultaneamente para a Formação
                                                                                                       21
Pessoal e Social e para o Conhecimento do Mundo. Por seu
turno, a área do Conhecimento do Mundo permite articular
as outras duas, pois é através das relações com os outros
que se vai construindo a identidade pessoal e se vai
tomando posição perante o "mundo" social e físico. Dar
sentido a esse "mundo" passa pela utilização de sistemas
simbólico-culturais.
Não se considerando estas diferentes áreas como comparti-
                         mentos estanques, acentua-se a importância de interligar as
                         diferentes áreas de conteúdo e de as contextualizar num
                         determinado ambiente educativo. Assim, a organização do
                         ambiente educativo na relação com o meio envolvente
                         constitui o suporte do desenvolvimento curricular. Só este
                         processo articulado permite atingir um outro objectivo que
                         deverá atravessar toda a educação pré-escolar:
       curiosidade e        “despertar a curiosidade e o espírito crítico”.
      espírito crítico
                         Este objectivo concretiza-se nas diferentes áreas de con-
                         teúdo que se articulam numa formação global, que será o
                         fundamento do processo de educação ao longo da vida.

                         Uma outra afirmação do princípio geral da Lei-Quadro
                         considera a educação pré-escolar como:
                           “complementar da acção educativa da família, com a
                           qual deve estabelecer estreita relação”.

                         Esta afirmação que acentua a importância da relação com a
                         família, traduz-se no objectivo:
     participação da        “Incentivar a participação das famílias no processo
              família       educativo e estabelecer relações de efectiva colabo-
                            ração com a comunidade”.

                         Os pais ou encarregados de educação são os responsáveis
                         pela criança e também os seus primeiros e principais edu-
                         cadores. Estando hoje, de certo modo ultrapassada a tónica
                         colocada numa função compensatória, pensa-se que os
                         efeitos da educação pré-escolar estão intimamente relacio-
                         nados com a articulação com as famílias. Já não se procura
                         compensar o meio familiar, mas partir dele e ter em conta
22                       a(s) cultura(s) de que as crianças são oriundas, para que a
                         educação pré-escolar se possa tornar mediadora entre as
                         culturas de origem das crianças e a cultura de que terão de
                         se apropriar para terem uma aprendizagem com sucesso.

                         Sendo a educação pré-escolar complementar da acção edu-
                         cativa da família, haverá que assegurar a articulação entre o
                         estabelecimento educativo e as famílias, no sentido de
                         encontrar, num determinado contexto social, as respostas
P   r   i   n   c   í   p   i   o   s    G   e   r   a   i   s



mais adequadas para as crianças e famílias, cabendo aos
pais participar na elaboração do projecto educativo do esta-
belecimento.

Mas, não só a família, como também o meio social em que                       projecto
a criança vive influencia a sua educação, beneficiando a                      educativo do
escola da conjugação de esforços e da potencialização de                      estabelecimento
recursos da comunidade para a educação das crianças e dos
jovens. Assim, tanto os pais, como outros membros da
comunidade poderão colaborar no desenvolvimento do
projecto educativo do estabelecimento.

O processo de colaboração com os pais e com a comuni-                         participação da
dade tem efeitos na educação das crianças e, ainda, conse-                    comunidade
quências no desenvolvimento e na aprendizagem dos adul-
tos que desempenham funções na sua educação.




                                                                                                       23
P   r   i   n   c   í   p   i   o   s    G   e   r   a   i   s



                               ORIENTAÇÕES GLOBAIS
                               PARA O EDUCADOR




A intencionalidade do processo educativo que caracteriza a
intervenção profissional do educador passa por diferentes
etapas interligadas que se vão sucedendo e aprofundando,
o que pressupõe:


                         Observar


Observar cada criança e o grupo para conhecer as suas                         conhecimento
capacidades, interesses e dificuldades, recolher as informa-                  da criança
ções sobre o contexto familiar e o meio em que as crianças
vivem, são práticas necessárias para compreender melhor
as características das crianças e adequar o processo educa-
tivo às suas necessidades.

O conhecimento da criança e da sua evolução constitui o                       diferenciação
fundamento da diferenciação pedagógica que parte do que                       pedagógica
esta sabe e é capaz de fazer para alargar os seus interesses
e desenvolver as suas potencialidades. Este conhecimento
resulta de uma observação contínua e supõe a necessidade
de referências tais como, produtos das crianças e diferentes
formas de registo.
                                                                                                       25
Trata-se fundamentalmente de dispôr de elementos que
possam ser periodicamente analisados, de modo a compre-
ender o processo desenvolvido e os seus efeitos na apren-
dizagem de cada criança. A observação constitui, deste                        base do planea-
modo, a base do planeamento e da avaliação, servindo de                       mento e da ava-
suporte à intencionalidade do processo educativo.                             liação
Planear

      aprendizagens     Planear o processo educativo de acordo com o que o edu-
     significativas e   cador sabe do grupo e de cada criança, do seu contexto
      diversificadas    familiar e social é condição para que a educação pré-esco-
                        lar proporcione um ambiente estimulante de desenvolvi-
                        mento e promova aprendizagens significativas e diversifi-
                        cadas que contribuam para uma maior igualdade de opor-
                        tunidades.

      reflexão sobre    Planear implica que o educador reflicta sobre as suas inten-
        as intenções    ções educativas e as formas de as adequar ao grupo, pre-
          educativas    vendo situações e experiências de aprendizagem e organi-
                        zando os recursos humanos e materiais necessários à sua
                        realização. O planeamento do ambiente educativo permite
                        às crianças explorar e utilizar espaços, materiais e instru-
                        mentos colocados à sua disposição, proporcionando-lhes
                        interacções diversificadas com todo o grupo, em pequenos
                        grupos e entre pares, e também a possibilidade de interagir
                        com outros adultos. Este planeamento terá em conta as
     articulação das    diferentes áreas de conteúdo e a sua articulação, bem como
       áreas de con-    a previsão de várias possibilidades que se concretizam ou
               teúdo    modificam, de acordo com as situações e as propostas das
                        crianças.

                        Cabe, assim, ao educador planear situações de aprendiza-
                        gem que sejam suficientemente desafiadoras, de modo a
                        interessar e a estimular cada criança, apoiando-a para que
                        chegue a níveis de realização a que não chegaria por si só,
                        mas acautelando situações de excessiva exigência de que
                        possa resultar desencorajamento e diminuição de auto-
                        estima.
26
        participação    O planeamento realizado com a participação das crianças,
     das crianças no    permite ao grupo beneficiar da sua diversidade, das capaci-
        planeamento     dades e competências de cada criança, num processo de
                        partilha facilitador da aprendizagem e do desenvolvimento
                        de todas e de cada uma.
P   r   i   n   c   í   p   i   o   s    G   e   r   a   i   s




                           Agir

Concretizar na acção as suas intenções educativas, adap-                      concretização
tando-as às propostas das crianças e tirando partido das                      da acção
situações e oportunidades imprevistas. A participação de
outros adultos – auxiliar de acção educativa, pais, outros
membros da comunidade – na realização de oportunidades
educativas planeadas pelo educador é uma forma de alargar
as interacções das crianças e de enriquecer o processo edu-
cativo.


                          Avaliar

Avaliar o processo e os efeitos, implica tomar consciência                    tomar
da acção para adequar o processo educativo às necessida-                      consciência
des das crianças e do grupo e à sua evolução.                                 da acção

A avaliação realizada com as crianças é uma actividade                        avaliação com
educativa, constituindo também uma base de avaliação para                     as crianças
o educador. A sua reflexão, a partir dos efeitos que vai
observando, possibilita-lhe estabelecer a progressão das
aprendizagens a desenvolver com cada criança. Neste sen-
tido, a avaliação é suporte do planeamento.


                        Comunicar

O conhecimento que o educador adquire da criança e do
modo como esta evolui é enriquecido pela partilha com                         partilha com
outros adultos que também têm responsabilidades na sua                        a equipa
                                                                                                       27
educação, nomeadamente, colegas, auxiliares de acção                          e com os pais
educativa e, também, os pais. Se o trabalho de profissionais
em equipa constitui um meio de auto-formação com bene-
fícios para a educação da criança, a troca de opiniões com
os pais permite um melhor conhecimento da criança e de
outros contextos que influenciam a sua educação: família e
comunidade.
Articular

       continuidade    Cabe ao educador promover a continuidade educativa num
          educativa    processo marcado pela entrada para a educação pré-escolar
                       e a transição para a escolaridade obrigatória. A relação esta-
                       belecida com os pais antes da criança frequentar a educa-
                       ção pré-escolar facilita a comunicação entre o educador e
                       os pais, favorecendo a própria adaptação da criança. É tam-
                       bém função do educador proporcionar as condições para
        articulação    que cada criança tenha uma aprendizagem com sucesso na
     com o 1.o ciclo   fase seguinte competindo-lhe, em colaboração com os pais
                       e em articulação com os colegas do 1.o ciclo, facilitar a
                       transição da criança para a escolaridade obrigatória.




28
I I .   I n t e r v e n ç ã o   E d u c a t i v a
A segunda parte das Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar
— Intervenção Educativa — desenvolve e concretiza os Princípios Gerais aprova-
dos pelo Despacho n.o 5220/97 (2.a série), de 4 de Agosto. Este texto constitui uma
base de reflexão individual e colectiva, com o objectivo de permitir aos educadores
situar as suas opções educativas e encontrar as práticas mais adequadas ao contexto
e ao grupo de crianças.
I n t e r v e n ç ã o     E d u c a t i v a



                             ORGANIZAÇÃO
                             DO AMBIENTE EDUCATIVO




O contexto institucional de educação pré-escolar deve
organizar-se como um ambiente facilitador do desenvolvi-            suporte
mento e da aprendizagem das crianças. Este ambiente                 do trabalho
deverá ainda proporcionar ocasiões de formação dos adul-            curricular
tos que trabalham nesse contexto.

Esta organização diz respeito às condições de interacção
entre os diferentes intervenientes - entre crianças, entre cri-
anças e adultos e entre adultos - e à gestão de recursos
humanos e materiais que implica a prospecção de meios
para melhorar as funções educativas da instituição.

Por todas estas razões se considera que a organização do
ambiente educativo constitui o suporte do trabalho curricu-
lar do educador.




A BORDAGEM SISTÉMICA E       ECOLÓGICA
DO AMBIENTE EDUCATIVO


                                                                                      31
Para que a educação pré-escolar encontre as respostas mais          diferentes
adequadas à população que a frequenta, a organização do             níveis em
ambiente educativo terá em conta diferentes níveis em inter-        interacção
acção, o que aponta para uma abordagem sistémica e ecoló-
gica da educação pré-escolar. Esta perspectiva assenta no
pressuposto que o desenvolvimento humano constitui um pro-
cesso dinâmico de relação com o meio, em que o indivíduo é
influenciado, mas também influencia o meio em que vive.
Para compreender a complexidade do meio importa consi-
                        derá-lo como constituído por diferentes sistemas que
                        desempenham funções específicas e que, estando em inter-
                        conexão, se apresentam como dinâmicos e em evolução.

          interacção    Deste modo, a perspectiva sistémica e ecológica considera
           indivíduo/   que o indivíduo em desenvolvimento interage com diferen-
             sistemas   tes sistemas que estão eles próprios em evolução.

            sistemas    Nesta abordagem importa distinguir os sistemas restritos e
            restritos   imediatos, com características físicas e materiais particula-
                        res — a casa, a sala de aula, a rua, etc. — em que há uma
                        interacção directa entre actores que desempenham papéis
                        — docente, pai ou mãe, aluno, filho, etc. — e desenvolvem
                        formas de relação interpessoal, implicando-se em activida-
                        des específicas que se realizam em espaços e tempos pró-
                        prios. São exemplos destes sistemas restritos, com particu-
                        lar importância para a educação da criança, a família e o
                        contexto de educação pré-escolar.

      relações entre    As relações que se estabelecem entre estes e outros siste-
           sistemas     mas restritos formam um outro tipo de sistema com carac-
            restritos   terísticas e finalidades próprias.

            sistemas    Por seu turno, estes sistemas restritos e os sistemas de rela-
           alargados    ção são englobados por sistemas sociais mais vastos —
                        contextos sociais mais alargados.

                        As características destes diferentes sistemas e a sua inter-
                        acção configuram-se de modo particular para cada indiví-
                        duo, que se situa também de forma própria na sua interac-
                        ção com o meio e os diferentes sistemas em relação.

32           família    Assim, cada criança tem uma família — pais ou seus subs-
                        titutos — que é diferente — composição, características
                        sócio-económicas e culturais; frequenta um determinado
     estabelecimento    estabelecimento de educação pré-escolar que tem também
         de educação    a sua especificidade — edifício, dimensão, equipamentos
          pré-escolar   — e corresponde a uma determinada modalidade de educa-
                        ção pré-escolar. Na instituição, a criança está habitual-
                        mente inserida num grupo que tem características próprias,
                        partilhando um espaço e um tempo comuns.
I n t e r v e n ç ã o   E d u c a t i v a



Estes são alguns dos contextos imediatos da educação das
crianças que frequentam a educação pré-escolar. Estas cri-
anças também se relacionam e interagem directamente com
outras famílias e com outros serviços e instituições da
comunidade — serviços sociais, de saúde, etc.

Tanto estes contextos de vida da criança como as relações       relações entre
que estabelecem entre eles têm uma influência na educação       famílias e
da criança, nomeadamente as relações entre a família e o        estabelecimento
estabelecimento de educação pré-escolar.

Por sua vez, o meio social envolvente — localidade ou           meio social
localidades de onde provêm as crianças que frequentam um        envolvente
determinado estabelecimento de educação pré-escolar, a
própria inserção geográfica deste estabelecimento — tem
também influência, embora indirecta, na educação das cri-
anças. As características desta(s) localidade(s) — tipo de
população, possibilidades de emprego, rede de transportes,
serviços e instituições existentes, meios de comunicação
social, etc. — não são também independentes de sistemas
mais vastos e englobantes, sistemas políticos, jurídicos,       sociedade
educativos ainda mais alargados.

A abordagem sistémica e ecológica constitui, assim, uma
perspectiva de compreensão da realidade que permite ade-
quar, de forma dinâmica, o contexto educativo institucional
às características e necessidades das crianças e adultos.
Constitui ainda um instrumento de análise para que o edu-
cador possa adaptar a sua intervenção às crianças e ao meio
social em que trabalha.

De uma forma esquemática, poder-se-á dizer que a pers-
pectiva sistémica e ecológica oferece elementos para:
                                                                                  33
— compreender melhor cada criança, ao conhecer os sis-          contributos da
  temas em que esta cresce e se desenvolve, de forma a          abordagem
  respeitar as suas características pessoais e saberes já       sistémica
  adquiridos, apoiando a sua maneira de se relacionar
  com os outros e com o meio social e físico;
— contribuir para a dinâmica do contexto de educação pré-
  -escolar na sua interacção com outros sistemas que tam-
  bém infuenciam a educação das crianças e a formação
dos adultos, de forma a que esse contexto se organize para
                           responder melhor às suas características e necessidades;
                       — perspectivar o processo educativo de forma integrada,
                         tendo em conta que a criança constrói o seu desenvol-
                         vimento e aprendizagem, de forma articulada, em inter-
                         acção com os outros e com o meio;
                       — permitir a utilização e gestão integrada dos recursos do
                         estabelecimento educativo e de recursos que, existindo
                         no meio social envolvente, podem ser dinamizados;
                       — acentuar a importância das interacções e relações entre
                         os sistemas que têm uma influência directa ou indirecta
                         na educação das crianças, de modo a tirar proveito das
                         suas potencialidades e ultrapassar as suas limitações,
                         para alargar e diversificar oportunidades educativas das
                         crianças e apoiar o trabalho dos adultos.

                       Para facilitar a concretização desta perspectiva, analisam-
                       -se seguidamente algumas características relevantes para a
                       organização do ambiente educativo em contexto de educa-
                       ção pré-escolar.




                       O  RGANIZAÇÃO DO      GRUPO,    DO   ESPAÇO
                       E DO TEMPO



                       A educação pré-escolar é um contexto de socialização em
            contexto   que muitas aprendizagens decorrem de vivências relacio-
34   de socialização   nadas com o alargamento do meio familiar de cada criança,
                       de experiências relacionais e de ocasiões de aprendizagem
                       que implicam recursos humanos e materiais diversos. Este
                       processo educativo desenvolve-se em tempos que lhe são
                       destinados e, em geral, em espaços próprios.
     ORGANIZAÇÃO
        DO GRUPO
                       Na educação pré-escolar o grupo proporciona o contexto
                       imediato de interacção social e de relação entre adultos e
I n t e r v e n ç ã o    E d u c a t i v a



crianças e entre crianças que constitui a base do processo
educativo.


  A relação individualizada que o educador estabelece
  com cada criança é facilitadora da sua inserção no
  grupo e das relações com as outras crianças. Esta rela-
  ção implica a criação de um ambiente securizante que
  cada criança conhece e onde se sente valorizada.


Há diferentes factores que influenciam o modo próprio de
funcionamento de um grupo, tais como, as características
individuais das crianças que o compõem, o maior ou menor
número de crianças de cada sexo, a diversidade de idades
das crianças, a dimensão do grupo.

A composição etária do grupo pode depender de uma opção          composição
pedagógica, benefícios de um grupo com idades próximas           etária
ou diversas; das condições do jardim de infância, existên-
cia de uma ou várias salas; dos critérios de prioridade de
admissão utilizados por cada instituição ou, ainda, das
características demográficas, pequenas povoações ou
população dispersa.

Sabe-se, no entanto, que a interacção entre crianças em          crianças
momentos diferentes de desenvolvimento e com saberes             em diferentes
diversos, é facilitadora do desenvolvimento e da aprendiza-      momentos de
gem. Para isso, torna-se importante o trabalho entre pares e     desenvolvimento
em pequenos grupos, em que as crianças têm oportunidade
de confrontar os seus pontos de vista e de colaborar na
resolução de problemas ou dificuldades colocadas por uma
tarefa comum.
                                                                                   35
Se a existência no grupo de crianças de diferentes idades        trabalho
pode favorecer este processo, torna-se contudo importante,       entre pares e
qualquer que seja a composição do grupo, que o educador          pequenos grupos
apoie o trabalho entre pares e em pequenos grupos que per-
mita esse confronto.

O educador alarga as oportunidades educativas, ao favore-        aprendizagem
cer uma aprendizagem cooperada em que a criança se               cooperada
desenvolve e aprende, contribuindo para o desenvolvi-
                      mento e aprendizagem das outras.

     aprendizagem     Enquanto vivência num grupo social alargado, a educação
           da vida    pré-escolar deverá promover a aprendizagem da vida
      democrática     democrática.


                        A aprendizagem da vida democrática implica que o
                        educador proporcione condições para a formação do
                        grupo, criando situações diversificadas de conheci-
                        mento, atenção e respeito pelo outro.


           atitude    A atitude do educador, a forma como se relaciona com as
      do educador     crianças, desempenha um papel fundamental neste pro-
                      cesso. Alguns instrumentos frequentes em jardins de infân-
                      cia — quadro de presenças, quadro de tarefas e outros —
                      podem facilitar a organização e a tomada de consciência de
                      pertença a um grupo e, ainda, a atenção e o respeito pelo
                      outro.


                        A participação de cada criança e do grupo no pro-
                        cesso educativo através de oportunidades de coope-
                        ração, decisão em comum de regras colectivas indis-
                        pensáveis à vida social e distribuição de tarefas
                        necessárias à vida colectiva constituem outras expe-
                        riências de vida democrática proporcionadas pelo
                        grupo.


      participação    As razões das normas que decorrem da vida em grupo —
36    das crianças    por exemplo, esperar pela sua vez, arrumar o que desarru-
     na elaboração    mou, etc. — terão de ser explicitadas e compreendidas
         de normas    pelas crianças. Estas normas e outras regras indispensáveis
           e regras   à vida em comum adquirem maior força e sentido se todo o
                      grupo participar na sua elaboração, bem como na distribui-
                      ção de tarefas necessárias à vida colectiva — por exemplo,
                      regar as plantas, tratar de animais, encarregar-se de pôr a
                      mesa, distribuir refeições, etc.
I n t e r v e n ç ã o   E d u c a t i v a



A participação no grupo permite também à criança con-           resolução
frontar-se com opiniões e posições diferentes das suas,         de conflitos
experimentar situações de conflito. O educador apoiará as
tentativas de negociação e resolução de conflitos, favore-
cendo ainda oportunidades de colaboração.

A organização democrática do grupo constitui a base da
área de Formação Pessoal e Social, sendo ainda fonte de
outras aprendizagens. Por exemplo, verificar quem está e
quem falta, bem como a marcação de presenças, pode con-
tribuir para aprendizagens matemáticas, para a construção
da noção do tempo e facilitar a identificação de palavras,
ligando-se também ao reconhecimento da escrita.


  Planear e avaliar com as crianças, individualmente,
  em pequenos grupos ou no grande grupo são oportu-
  nidades de participação das crianças e meios de
  desenvolvimento cognitivo e da linguagem.


A participação das crianças no planeamento e avaliação da       partticipação
organização do grupo relaciona-se com a contribuição do         das crianças
grupo e de cada criança para a construção do processo edu-      no planeamento
cativo. Prever o que se vai fazer, tomar consciência do que     e avaliação
foi realizado são condições da organização democrática do
grupo, como também o suporte da aprendizagem nas dife-
rentes áreas de conteúdo.
                                                                ORGANIZAÇÃO
                                                                DO ESPAÇO
Os espaços de educação pré-escolar podem ser diversos,
mas o tipo de equipamento, os materiais existentes e a
forma com estão dispostos condicionam, em grande
medida, o que as crianças podem fazer e aprender.                                 37

A organização e a utilização do espaço são expressão das
intenções educativas e da dinâmica do grupo, sendo indis-
pensável que o educador se interrogue sobre a função e
finalidades educativas dos materiais de modo a planear e
fundamentar as razões dessa organização.
A reflexão permanente sobre a funcionalidade e ade-
                         quação do espaço e as potencialidades educativas dos
                         materiais permite que a sua organização vá sendo
                         modificada de acordo com as necessidades e evolu-
                         ção do grupo.


                       Esta reflexão sobre o espaço, materiais e sua organização é
                       condição indispensável para evitar espaços estereotipados e
                       padronizados que não são desafiadores para as crianças.

         autonomia     O processo de aprendizagem implica também que as crian-
                       ças compreendam como o espaço está organizado e como
                       pode ser utilizado e que participem nessa organização e nas
                       decisões sobre as mudanças a realizar. O conhecimento do
                       espaço, dos materiais e das actividades possíveis é também
                       condição de autonomia da criança e do grupo.

     responsabilizaç   A possibilidade de fazer escolhas e de utilizar o material de
                  ão   diferentes maneiras, que incluem formas imprevistas e
                       criativas, supõe uma responsabilização pelo que é parti-
                       lhado por todos.

       equipamento     A importância de que se reveste o equipamento e o mate-
         e material    rial na aprendizagem das crianças implica que:


                         O educador defina prioridades na aquisição do equi-
                         pamento e do material, de acordo com as necessida-
                         des das crianças e o seu projecto pedagógico, tendo
                         em conta critérios de qualidade.

38
           critérios   Assim, na escolha dos materiais o educador atenderá a cri-
       de qualidade    térios tais como variedade, funcionalidade, durabilidade,
                       segurança e valor estético. O aproveitamento de material de
                       desperdício é também uma possiblilidade a prever e orga-
                       nizar, com a colaboração dos pais e da comunidade.

             espaço    O espaço exterior do estabelecimento de educação pré-
            exterior   -escolar é igualmente um espaço educativo. Pelas suas
I n t e r v e n ç ã o   E d u c a t i v a



potencialidades e pelas oportunidades educativas que pode
oferecer, merece a mesma atenção do educador que o
espaço interior.


  O espaço exterior é um local que pode proporcionar
  momentos educativos intencionais, planeados pelo
  educador e pelas crianças.


Sendo um prolongamento do espaço interior, onde as mes-
mas situações de aprendizagem têm lugar ao "ar livre", per-
mite uma diversficação de oportunidades educativas, pela
utilização de um espaço com outras características e poten-
cialidades.

Embora as actividades informais não se realizem só no
espaço exterior, este é também um local privilegiado de
recreio onde as crianças têm possibilidade de explorar e
recriar o espaço e os materiais disponíveis. Nesta situa-
ção, o educador pode manter-se como observador ou inter-
agir com as crianças, apoiando e enriquecendo as suas
iniciativas.

O espaço exterior possibilita a vivência de situações edu-
cativas intencionalmente planeadas e a realização de acti-
vidades informais. Esta dupla função exige que a sua
organização seja cuidadosamente pensada, devendo os
equipamentos e materiais corresponder a critérios de
qualidade, com particular atenção às condições de segu-
rança.

Mas o espaço educativo não se limita ao espaço imediato
partilhado pelo grupo; situa-se num espaço mais alargado                          39
— o estabelecimento educativo — em que a criança se rela-
ciona com outras crianças e adultos, que, por sua vez, é
englobado pelo meio social, um meio social mais vasto.

O conhecimento do meio próximo e de outros meios mais
distantes, constitui oportunidade de aprendizagens rela-
cionadas com a área de Conhecimento do Mundo.
ORGANIZAÇÃO
        DO TEMPO
                      O tempo educativo tem, em geral, uma distribuição flexí-
                      vel, embora corresponda a momentos que se repetem com
                      uma certa periodicidade.

            rotina    A sucessão de cada dia ou sessão tem um determinado
         educativa    ritmo existindo, deste modo, uma rotina que é educativa
                      porque é intencionalmente planeada pelo educador e por-
                      que é conhecida pelas crianças que sabem o que podem
                      fazer nos vários momentos e prever a sua sucessão, tendo a
                      liberdade de propôr modificações. Nem todos os dias são
                      iguais, as propostas do educador ou das crianças podem
                      modificar o quotidiano habitual.

        referências   As referências temporais são securizantes para a criança e
         temporais    servem como fundamento para a compreensão do tempo:
                      passado, presente, futuro; contexto diário, semanal, men-
                      sal, anual.

                      Porque o tempo é de cada criança, do grupo de crianças e
                      do educador, importa que haja uma organização do tempo
                      decidida pelo educador e pelas crianças.


                        O tempo educativo contempla de forma equilibrada
                        diversos ritmos e tipos de actividade, em diferentes
                        situações — individual, com outra criança, com um
                        pequeno grupo, com todo o grupo — e permite opor-
                        tunidades de aprendizagem diversificadas, tendo em
                        conta as diferentes áreas de conteúdo.


40                    Trata-se de prever e organizar um tempo simultaneamente
                      estruturado e flexível em que os diferentes momentos
                      tenham sentido para as crianças.

         adequação    A distribuição do tempo relaciona-se com a organização do
      espaço/tempo    espaço pois a utilização do tempo depende das experiências
                      e oportunidades educativas proporcionadas pelos espaços.
                      O tempo, o espaço e a sua articulação deverão adequar-se
                      às características do grupo e necessidades de cada criança.
I n t e r v e n ç ã o    E d u c a t i v a



Porque a organização do grupo, do espaço e do tempo cons-
tituem o suporte do desenvolvimento curricular, importa que
o educador reflicta sobre as potencialidades educativas que
oferece, ou seja, que planeie esta organização e avalie o
modo como contribui para a educação das crianças, intro-
duzindo os ajustamentos e correcções necessários.




ORGANIZAÇÃO DO MEIO INSTITUCIONAL

Cada modalidade de educação pré-escolar tem característi-
cas organizacionais próprias e uma especificidade que
decorre da sua dimensão e dos recursos materiais e huma-
nos de que dispõe.

As diferentes modalidades de educação pré-escolar podem
agrupar-se entre si ou integrar-se em estabelecimentos próxi-
mos de outros níveis de ensino. Esta inserção num estabeleci-
mento ou num território educativo constitui uma modalidade
organizacional que permite tirar proveito de recursos humanos
e materiais, facilitando ainda a continuidade educativa.

Qualquer que seja a modalidade organizacional, trata-se de
um contexto que permite o trabalho em equipa dos adultos
que, na instituição ou instituições, têm um papel na educa-
ção das crianças. As reuniões regulares, entre educadores,        trabalho
entre educadores e auxiliares de acção educativa, entre edu-      em equipa
cadores e professores, são um meio importante de forma-
ção profissional com efeitos na educação das crianças.
Cabe ao director pedagógico de cada estabelecimento ou                              41
estabelecimentos, em colaboração com os educadores,
encontrar as formas e os momentos de trabalho em equipa.

Estas equipas podem ainda beneficiar do apoio de diferen-         apoio
tes profissionais, tais como professores de educação espe-        de diferentes
cial, psicólogos, trabalhadores sociais e outros que, enri-       profissionais
quecendo o trabalho da equipa, facilitam a procura de res-
postas mais adequadas às crianças e às famílias.
espaço    Cada modalidade organizacional de educação pré-escolar
        educativo    constitui um espaço educativo alargado que oferece múlti-
         alargado    plas possibilidades de interacção entre crianças, entre gru-
                     pos de crianças, entre crianças e adultos do estabelecimento
                     educativo e, ainda, adultos de outras instituições e/ou
                     níveis de ensino.

     participação    Cada estabelecimento tem formas de funcionamento e normas
     das crianças    que as crianças deverão conhecer. A participação das crianças
     na dinâmica     na dinâmica institucional, em que a organização democrática
     institucional   do grupo se amplia num contexto social mais alargado, é tam-
                     bém uma forma de desenvolvimento pessoal e social.

     articulação     No caso do estabelecimento de educação pré-escolar ofere-
     componente      cer para além da componente educativa, a componente de
      educativa e    apoio à família, estas duas componentes deverão ser pensa-
     componente      das de forma articulada e complementar, de modo a que
        de apoio     não haja repetições e sobreposições cansativas; são sobre-
        à familia    tudo de evitar os tempos de espera inúteis que provocam
                     mal estar e cansaço nas crianças.

                     O trabalho em equipa torna-se fundamental para reflectir
                     sobre a melhor forma de organizar o tempo e os recursos
                     humanos, no sentido de uma acção articulada e concertada
                     que responda às necessidades das crianças e dos pais.

                     A organização da componente de apoio à família pode tam-
                     bém beneficiar com o agrupamento de estabelecimentos de
                     educação pré-escolar ou destes com estabelecimentos de
                     outros níveis de ensino.



42

                     R ELAÇÃO COM OS PAIS
                     E OUTROS PARCEIROS EDUCATIVOS



                     A necessidade de comunicação com os pais ou encarregados
                     de educação tem características muito próprias na educação
                     pré-escolar, dada a idade das crianças e alguma dificuldade
I n t e r v e n ç ã o    E d u c a t i v a



por parte da sociedade em compreender as finalidades, fun-
ções e benefícios educativos da educação pré-escolar.


  A família e a instituição de educação pré-escolar são
  dois contextos sociais que contribuem para a educa-
  ção da mesma criança; importa por isso, que haja uma
  relação entre estes dois sistemas.


As relações com os pais podem revestir várias formas e            níveis
níveis. Importa distinguir a relação que se estabelece com        de relação
cada família — que decorre do facto da educação pré-esco-         família/
lar e a família serem dois contextos que contribuem para a        estabelecimento
educação da mesma criança — da relação organizacional
que implica colectivamente os pais.

A relação com cada família, resultante de pais e adultos da
instituição serem co-educadores da mesma criança, centra-
-se em cada criança, passando pela troca de informações
sobre o que lhe diz respeito, como está na instituição, qual
o seu progresso, os trabalhos que realiza...

Porque os pais são os principais responsáveis pela educa-         projecto
ção das crianças têm também o direito de conhecer, esco-          educativo do
lher e contribuir para a resposta educativa que desejam para      estabelecimento
os seus filhos. Este é o sentido da participação dos pais no
projecto educativo do estabelecimento que constitui a pro-
posta educativa própria desse estabelecimento e a forma
global como se organiza para dar resposta à educação das
crianças, às necessidades dos pais e características da
comunidade. Assim, o projecto educativo do estabeleci-
mento deverá explicitar, de forma coerente, valores e inten-
ções educativas, formas previstas para concretizar esses                            43
valores e intenções (estratégias globais, horários, activida-
des colectivas, etc.) e os meios da sua realização.

O agrupamento de vários estabelecimentos de educação
pré-escolar e /ou de outros níveis educativos implica a ela-
boração de um projecto comum em que o projecto de cada
estabelecimento se enquadra num projecto de território ou
projecto local.
A elaboração do projecto educativo do estabelecimento ou
                      do território deverá envolver todos os adultos que exercem
                      um papel na educação das crianças: a direcção e/ou o direc-
                      tor pedagógico, o educador, o pessoal auxiliar e os pais.
                      Este projecto constroi-se, assim, através de um processo de
                      negociação em que se articulam diferentes perspectivas e
                      interesses, de forma a chegar a um compromisso aceite por
                      todos.

      participação    Porque o projecto educativo do estabelecimento ou territó-
         de outros    rio deve ter em conta o meio social em que vivem as crian-
         parceiros    ças e famílias, há vantagens em que inclua a participação de
                      outros parceiros da comunidade, como autarcas e outros
                      serviços e instituições locais que podem contribuir para
                      melhorar a resposta educativa proporcionada às crianças.

     orientação da    O projecto educativo do estabelecimento ou território,
         estratégia   como base de orientação da sua estratégia educativa, é um
         educativa    instrumento dinâmico que evolui e se adapta às mudanças
                      da comunidade, por isso este projecto deverá ir sendo
                      repensado e reformulado, num processo que implica uma
                      avaliação e reflexão realizada por todos os intervenientes.

                      A participação dos diferentes intervenientes nem sempre é
                      directa, podendo realizar-se através dos seus representan-
                      tes. A existência de uma associação de pais, formalmente
                      constituída, poderá facilitar a escolha de representantes e
                      favorecer uma maior ligação com o conjunto dos pais.
                      Estas associações podem desenvolver diversas iniciativas
                      que beneficiam as funções educativas e os cuidados presta-
                      dos pelo jardim de infância às crianças.

          projecto    A necessidade de articular o projecto educativo do estabele-
44       eductivo/    cimento com o projecto educativo do educador não pode
       pedagógico     levar a confundi-los. Trata-se de projectos de níveis e âmbi-
      do educador     tos diferentes. O projecto do educador é um projecto educa-
                      tivo/pedagógico que diz respeito ao grupo e contempla as
                      opções e intenções educativas do educador e as formas como
                      prevê orientar as oportunidades de desenvolvimento e apren-
                      dizagem de um grupo. Este projecto adapta-se às caracterís-
                      ticas de cada grupo, enquadra as iniciativas das crianças, os
                      seus projectos individuais, de pequeno grupo ou de todo o
I n t e r v e n ç ã o     E d u c a t i v a



grupo. Estes projectos, com duração e complexidade variá-
veis, vão-se entrosando no projecto do educador que se con-
cretiza e modifica com a participação das crianças.

Mesmo que os educadores de um ou de vários estabeleci-
mentos de educação pré-escolar desenvolvam um projecto
pedagógico colectivo, este não se identifica com o projecto
do estabelecimento ou território que se refere ao desenvol-
vimento organizacional.

Os pais e outros membros da comunidade podem também                 comunicação
participar no projecto educativo do educador. A comunica-           com os pais
ção com os pais através de trocas informais e de reuniões
são ocasiões de conhecer as suas expectativas educativas,
de os esclarecer sobre o processo educativo a desenvolver
com o grupo e de ouvir as suas sugestões. Os pais poderão,
eventualmente, participar em situações educativas planea-
das pelo educador para o grupo, vindo contar uma história,
falar da sua profissão, colaborar em visitas e passeios, etc.

Assim, a colaboração dos pais, e também de outros mem-              contributo
bros da comunidade, o contributo dos seus saberes e com-            dos pais para
petências para o trabalho educativo a desenvolver com as            o trabalho
crianças, é um meio de alargar e enriquecer as situações de         educativo
aprendizagem.

O educador, ao dar conhecimento aos pais e a outros mem-
bros da comunidade do processo e produtos realizados pelas
crianças a partir das suas contribuições, favorece um clima
de comunicação, de troca e procura de saberes entre crianças
e adultos.

A colaboração com cada família na educação da criança e
a participação dos pais no projecto educativo do estabele-                            45
cimento e no projecto educativo do educador são meios de
esclarecimento e de compreensão do trabalho educativo
que se realiza na educação pré-escolar.

A participação dos representantes dos pais e dos representantes     gestão
de outros parceiros em órgãos de direcção do estabelecimento        democrática do
facilita esta interacção, correspondendo ao exercício da gestão     estabelecimento
democrática que se pretende para todo o sistema educativo.
desenvolvimento   Todas estas formas de comunicação e de participação
         e educação    podem desempenhar um papel positivo no desenvolvi-
          de adultos   mento e educação dos adultos, com efeitos na educação das
                       crianças. Efeitos que se manifestam a curto prazo, mas que
                       são particularmente importantes a médio e a longo prazo.

                       A importância da participação dos pais e suas potencialida-
                       des para a educação das crianças e para a formação dos
                       adultos pressupõe que o educador, em colaboração com a
                       direcção e/ou director pedagógico do estabelecimento de
                       educação pré-escolar, encontre as melhores formas de
                       motivar a participação dos pais, tendo em conta que as cri-
                       anças são as mediadoras dessa relação. É por causa delas, e
                       tendo em vista a sua educação, que estas relações têm sen-
                       tido, embora contribuam também para o desenvolvimento
                       dos adultos.

        participação   O envolvimento dos pais e de outros parceiros educativos
         a construir   constitui um processo que se vai construindo. Encontrar os
                       meios mais adequados de promover a sua participação
                       implica uma reflexão por parte do educador e da equipa
                       sobre o nível e formas de participação desejáveis e as ini-
                       ciativas a desenvolver, num processo que vai sendo corri-
                       gido e ajustado de acordo com a avaliação realizada.




46
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                                ÁREAS DE CONTEÚDO




"Área" é um termo habitual na educação pré-escolar para
designar formas de pensar e organizar a intervenção do
educador e as experiências proporcionadas às crianças.

Esta organização toma por vezes como referência as gran-
des áreas do desenvolvimento enunciadas pela psicologia
— sócio-afectiva, motora, cognitiva — que deverão contri-
buir para o desenvolvimento global da criança; outras
vezes prefere-se pensar em termos de áreas de actividades,
que se baseiam nas possiblidades oferecidas pelo espaço
educativo, remetendo para diferentes formas de articula-
ção.

A expressão "Áreas de Conteúdo" utilizada neste docu-           interligação
mento fundamenta-se na perspectiva de que o desenvolvi-         desenvolvimento
mento e a aprendizagem são vertentes indissociáveis do          aprendizagem
processo educativo. Pressupondo a interligação entre
desenvolvimento e aprendizagem, os conteúdos, ou seja, o
que é contido nas diferentes áreas, são designados, neste
documento, em termos de aprendizagem. Esta opção visa
favorecer a articulação da educação pré-escolar com outros
níveis do sistema educativo e facilitar a comunicação entre
educadores e professores.
                                                                                  47
Consideram-se "áreas de conteúdo" como âmbitos de saber,
com uma estrutura própria e com pertinência sócio-cultural,
que incluem diferentes tipos de aprendizagem, não apenas
conhecimentos, mas também atitudes e saber-fazer.

As áreas de conteúdo supõem a realização de actividades,        agir
dado que a criança aprende a partir da exploração do            para pensar
mundo que a rodeia. Se a criança aprende a partir de acção,     e compreender
as áreas de conteúdo são mais do que áreas de actividades
                    pois implicam que a acção seja ocasião de descobrir rela-
                    ções consigo própria, com os outros e com os objectos, o
                    que significa pensar e compreender.

                    As diferentes áreas de conteúdo partem do nível de desen-
                    volvimento da criança, da sua actividade espontânea e
                    lúdica, estimulando o seu desejo de criar, explorar e trans-
                    formar, para incentivar formas de acção reflectida e pro-
                    gressivamente mais complexa.

          acesso    Este processo educativo encara a criança como sujeito da
      a sistemas    aprendizagem, tendo em conta o que cada uma já sabe e a
      simbólico-    sua cultura, para lhe permitir aceder a uma cultura que se
       -culturais   pode designar por "escolar", pois corresponde a sistemas
     codificados    simbólico-culturais codificados.

                    Esta cultura, ao adquirir sentido para a criança, constituirá
                    o início da aprendizagem ao longo da vida, favorecendo
                    simultaneamente a sua formação com vista a uma plena
                    inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário.




                    ARTICULAÇÃO DE CONTEÚDOS

                    Tal como é habitual quando se utiliza o termo "área", a dis-
                    tinção entre diferentes áreas de conteúdo corresponde a
                    uma chamada de atenção para aspectos a contemplar, que
                    devem ser vistos de forma articulada, visto que a constru-
48                  ção do saber se processa de forma integrada, e que há inte-
                    relações entre os diferentes conteúdos e aspectos formati-
                    vos que lhes são comuns.

                    Deste modo, as diferentes áreas de conteúdo deverão ser
                    consideradas como referências a ter em conta no planea-
                    mento e avaliação de experiências e oportunidades educa-
                    tivas e não como compartimentos estanques a serem abor-
                    dados separadamente.
I n t e r v e n ç ã o    E d u c a t i v a



Esta perspectiva, que na educação pré-escolar se costuma         perspectiva
designar como globalizante, também se pretende atingir           globalizante
noutros níveis de ensino através da importância dada a con-
teúdos transversais e à abordagem transdisciplinar do
ensino e da aprendizagem.

No sentido de favorecer a articulação de conteúdos, as           Organização
Orientações Curriculares assentam na Organização do              do Ambiente
Ambiente Educativo, enquanto contexto que deverá pro-            Educativo
mover vivências e experiências educativas que dêem sen-
tido aos diferentes conteúdos, propondo a área de
Formação Pessoal e Social como área integradora do pro-          Formação
cesso educativo. Aliás, a Organização do Ambiente Edu-           Pessoal
cativo e a área de Formação Pessoal e Social têm uma             e Social
íntima relação pois é através das interacções sociais com
adultos significativos, com os seus pares e em grupo que a
criança vai construindo o seu próprio desenvolvimento e
aprendizagem.

A Formação Pessoal e Social integra todas as outras áreas        Expressão
pois tem a ver com a forma como a criança se relaciona           e Comunicação
consigo própria, com os outros e com o mundo, num pro-
cesso que implica o desenvolvimento de atitudes e valores,
atravessando a área de Expressão e Comunicação com os
seus diferentes domínios e a área de Conhecimento do             Conhecimento
Mundo que, também se articulam entre si.                         do Mundo

O conhecimento e a relação com o mundo social e físico
supõe formas de expressão e de comunicação que apelam
para diferentes sistemas de representação simbólica que se
integram na área de Expressão e Comunicação.

Tendo consciência de que qualquer proposta de diferencia-
ção de conteúdos se baseia numa análise sempre redutora,                           49
procura-se apresentar, em cada um dos aspectos, possíveis
ligações com outros. A referência a relações mais evidentes
entre as várias áreas e domínios surge apenas a título indi-
cativo, cabendo a cada educador encontrar outras possibili-
dades.

No processo de desenvolvimento e aprendizagem nas dife-          intervenção
rentes áreas de conteúdo privilegia-se a intervenção do          do educador
educador que, partindo do que a criança sabe e da sua acti-
     vidade espontânea:


       Articula a abordagem das diferentes áreas de conteúdo
       e domínios inscritos em cada uma, de modo a que se
       integrem num processo flexível de aprendizagem que
       corresponda às suas intenções e objectivos educativos
       e que tenha sentido para a criança. Esta articulação
       poderá partir da escolha de uma "entrada" por uma
       área ou domínio para chegar a todos os outros.




       Estabelece uma progressão de experiências e oportu-
       nidades de aprendizagem nas diferentes áreas de con-
       teúdos, tendo em conta o que observa da evolução do
       grupo e do desenvolvimento de cada criança.




       Apoia cada criança para que atinja níveis a que não
       chegaria por si só, facilitando uma aprendizagem coo-
       perada, que dê oportunidade às crianças de colabora-
       rem no processo de aprendizagem umas das outras.




       Diferencia o processo de aprendizagem, propondo
       situações que sejam suficientemente interessantes e
       desafiadoras de modo a estimular a criança, mas de
50     cuja exigência não resulte desencorajamento e dimi-
       nuição da auto-estima.


     Para esclarecer melhor o que se entende por cada área ou
     domínio, apresentam-se, ao longo do texto, alguns exem-
     plos que não esgotam as possibilidades de cada área, nem
     têm como intenção diferenciar níveis de desenvolvimento e
I n t e r v e n ç ã o     E d u c a t i v a



aprendizagem. Os exemplos apresentados não pretendem,
pois, ser limitativos das opções, das práticas e da criativi-
dade do educador.




ÁREA DE FORMAÇÃO PESSOAL E SOCIAL

A criação de uma área de Formação Pessoal e Social para a
qual deverão contribuir todas as componentes curriculares
dos ensinos básico e secundário é um dos princípios em que
se fundamenta a organização curricular do sistema educa-
tivo. Esta área corresponde a um processo que deverá favo-
recer, de acordo com as fases do desenvolvimento, a aqui-
sição de espírito crítico e a interiorização de valores espiri-
tuais, estéticos, morais e cívicos.

A Formação Pessoal e Social é considerada uma área trans-           área
versal, dado que todas as componentes curriculares deverão          transversal
contribuir para promover nos alunos atitudes e valores que
lhes permitam tornarem-se cidadãos conscientes e solidá-
rios, capacitando-os para a resolução dos problemas da
vida. Também a educação pré-escolar deve favorecer a for-
mação da criança, tendo em vista a sua plena inserção na
sociedade como ser autónomo livre e solidário.

Ao diferenciar esta área, as Orientações Curriculares pre-          área
tendem acentuar a sua importância e sublinhar as finali-            integradora
dades formativas de socialização que marcam a tradição da
educação pré-escolar em Portugal, perspectivando-a como
área integradora que enquadra e dá suporte a todas as outras.                         51

A importância dada à área de Formação Pessoal e Social
decorre ainda da perspectiva que o ser humano se constrói
em interacção social, sendo influenciado e influenciando o
meio que o rodeia. É nos contextos sociais em que vive, nas
relações e interacções com outros, que a criança vai inte-
riormente construindo referências que lhe permitem com-
preender o que está certo e errado, o que pode e não pode
fazer, os direitos e deveres para consigo e para com os
                   outros.

                   É na família e no meio sócio-cultural em que vive os pri-
                   meiros anos que a criança inicia o seu desenvolvimento pes-
                   soal e social, constituindo a educação pré-escolar um con-
                   texto educativo mais alargado que vai permitir à criança inter-
                   agir com outros adultos e crianças que têm, possivelmente,
                   valores diferentes dos que interiorizou no seu meio de ori-
                   gem. Ao possibilitar a interacção com diferentes valores e
                   perspectivas, a educação pré-escolar constitui um contexto
      educação     favorável para que a criança vá aprendendo a tomar consci-
           para    ência e si e do outro. Desta forma a educação pré-escolar tem
      os valores   um papel importante na educação para os valores.

                   Valores que não se “ensinam”, mas que se vivem na acção
                   conjunta e nas relações com os outros. É na inter-relação
                   que a criança vai aprendendo a atribuir valor a comporta-
                   mentos e atitudes seus e dos outros, conhecendo, reconhe-
                   cendo e diferenciando modos de interagir. A educação para
                   os valores acontece, assim, em situação, num processo pes-
                   soal e social de procura do bem próprio e bem colectivo.

         valores   São os valores subjacentes à prática do educador e o modo
     subjacentes   como este os concretiza no quotidiano do jardim de infân-
     ao contexto   cia, que permitem que a educação pré-escolar seja um con-
      relacional   texto social e relacional facilitador da educação para os
                   valores. As relações e interacções que o educador estabe-
                   lece com cada criança e com o grupo, a forma como apoia
                   as relações e interacções entre crianças no grupo, são o
                   suporte dessa educação. Assim:


52                   O desenvolvimento pessoal e social assenta na cons-
                     tituição de um ambiente relacional securizante, em
                     que a criança é valorizada e escutada, o que contribui
                     para o seu bem-estar e auto-estima.


                   A relação que o educador estabelece com cada criança, a
                   forma como a valoriza e respeita, estimula e encoraja os
                   seus progressos, contribuem para a auto-estima da criança
I n t e r v e n ç ã o    E d u c a t i v a



e constituem um exemplo para as relações que as crianças
estabelecerão entre si. Este processo de construção de um
auto-conceito positivo supõe um apoio ao processo de cres-
cimento em que cada criança e o grupo se vão tornando
progressivamente mais independentes e autónomos.


  Favorecer a autonomia da criança e do grupo assenta
  na aquisição do saber-fazer indispensável à sua inde-
  pendência e necessário a uma maior autonomia,
  enquanto oportunidade de escolha e responsabilização.


Adquirir maior independência significa, na educação pré-           independência
-escolar, ir dominando determinados saber-fazer — vestir-
-se, despir-se, lavar-se, comer utilizando adequadamente os
talheres, etc. — e também ser capaz de utilizar melhor os
materiais e instrumentos à sua disposição — jogos, tintas,
pincéis, lápis...

A independência das crianças e do grupo passa também por           autonomia
uma apropriação do espaço e do tempo que constitui a base
de uma progressiva autonomia, em que vai aprendendo a
escolher, a preferir, a tomar decisões e a encontrar critérios
e razões para as suas escolhas e decisões.

A construção de autonomia supõe a capacidade individual            partilha
e colectiva de ir, progressivamente, assumindo responsabi-         do poder
lidades. Este processo de desenvolvimento pessoal e social
decorre de uma partilha do poder entre o educador, as cri-
anças e o grupo.


  A participação democrática na vida do grupo é um                                   53
  meio fundamental de formação pessoal e social.


Esta participação permite construir uma autonomia colectiva
que passa por uma organização social participada em que
as regras, elaboradas e negociadas entre todos, são com-
preendidas pelo grupo, que se compromete a aceitá-las;
também a decisão colectiva sobre as tarefas necessárias ao
vivência     bom funcionamento do grupo são equitativamente distribuí-
         de valores     das, colaborando cada um para o bem estar colectivo. Estas
       democráticos     são vivências de valores democráticos, tais como a partici-
                        pação, a justiça, a responsabilização, a cooperação. ...

                        Esta participação não passa apenas pela organização social
                        do grupo, mas está presente no processo de aprendizagem,
                        em que as crianças são consultadas sobre a organização do
                        espaço e do tempo, tomam a iniciativa de actividades, cola-
                        boram nas propostas do educador e das outras crianças,
                        cooperando em projectos comuns.

         consciência    A vida em grupo implica o confronto de opiniões e a solução
        de diferentes   de conflitos que permite uma primeira tomada de consciência
              valores   de perspectivas e valores diferentes, que suscitarão a necessi-
                        dade de debate e negociação, de modo a fomentar atitudes de
                        tolerância, compreensão do outro, respeito pela diferença.

                        A aprendizagem destes valores decorre do respeito que o
                        educador manifesta por cada criança e pela sua cultura.
                        Interagir com o outro, que é diferente, permite tomar cons-
                        ciência de si próprio em relação ao outro.

     desenvolvimento    O desenvolvimento da identidade passa pelo reconheci-
       da identidade    mento das características individuais e pela compreensão
                        das capacidades e limitações próprias de cada um, quaisquer
                        que estas sejam. O respeito pela diferença, que valoriza a
                        diversidade de contributos individuais para o enriqueci-
                        mento do grupo, favorece a construção da identidade, a
                        auto-estima e o sentimento de pertencer a um grupo, facili-
                        tando também o desenvolvimento colectivo.

                        Reconhecer laços de pertença social e cultural, respeitando
54                      outras culturas faz também parte do desenvolvimento da
                        identidade.

          educação      A aceitação da diferença sexual, social e étnica é facilita-
       multicultural    dora da igualdade de oportunidades num processo educa-
                        tivo que respeita diferentes maneiras de ser e de saber, para
                        dar sentido à aquisição de novos saberes e culturas. É numa
                        perspectiva de educação multicultural que se constrói uma
                        maior igualdade de oportunidades entre mulheres e
I n t e r v e n ç ã o    E d u c a t i v a



homens, entre indivíduos de diferentes classes sociais e de
diferentes etnias.

Mas, se as vivências proporcionadas pela participação na
organização do ambiente educativo e pela participação na
aprendizagem em grupo contribuem para a tomada de
consciência de valores espirituais e éticos, a organização
material deste ambiente deverá favorecer os valores estéti-
cos. Por isso, se acentua a importância de que o ambiente
educativo da sala e da instituição — equipamento, materi-
ais, decoração — corresponda a critérios estéticos que
favoreçam a educação do gosto.

A educação estética, partindo do contexto educativo da           educação
educação pré-escolar, estará presente no contacto com dife-      estética
rentes formas de expressão artística que serão meios de
educação da sensibilidade. O contacto com o meio envol-
vente, com a natureza e com a cultura, permitirão às crian-
ças apreciar a beleza em diferentes contextos e situações. A
educação estética enquanto fruição da natureza e da cultura
relaciona-se com a área de Expressão e Comunicação e
também com o Conhecimento do Mundo.

A educação para a cidadania, baseada na aquisição de um          educação para
espírito crítico e da interiorização de valores, pressupõe       a cidadania
conhecimentos e atitudes que poderão iniciar-se na educa-
ção pré-escolar através da abordagem de temas transver-
sais, tais como: educação multicultural, educação sexual,
educação para a saúde, educação para a prevenção de aci-
dentes, educação do consumidor. Estes são aspectos da
Formação Pessoal e Social que se relacionam com o
Conhecimento do Mundo.

Deste modo, precisa-se o sentido da Formação Pessoal e                             55
Social como área de conteúdo integradora pois, correspon-
dendo a uma intencionalidade própria, inscreve-se em
todas as outras.
ÁREA DE EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO

                      A área de expressão e comunicação engloba as aprendiza-
                      gens relacionadas com o desenvolvimento psicomotor e
                      simbólico que determinam a compreensão e o progressivo
                      domínio de diferentes formas de linguagem.

                      Esta é a única área em que se distinguiram vários domínios.
                      Domínios que se consideraram dever estar intimamente
                      relacionados, porque todos eles se referem à aquisição e à
                      aprendizagem de códigos que são meios de relação com os
                      outros, de recolha de informação e de sensibilização esté-
                      tica, indispensáveis para a criança representar o seu mundo
                      interior e o mundo que a rodeia.

                      Numa idade em que as crianças ainda se servem muitas
                      vezes do imaginário para superar lacunas de compreensão
                      do real, importa que a educação pré-escolar proporcione
                      situações de distinção entre o real e o imaginário e forneça
                      suportes que permitam desenvolver a imaginação criadora
                      como procura e descoberta de soluções e exploração de
                      diferentes “mundos”.

        área básica   Estas características levam a considerá-la uma área básica
                      de conteúdos porque incide sobre aspectos essenciais do
                      desenvolvimento e da aprendizagem e engloba instrumen-
                      tos fundamentais para a criança continuar a aprender ao
                      longo da vida.

                      Ao iniciar a educação pré-escolar, a criança já realizou
                      algumas aquisições básicas nos diferentes domínios da área
56                    de expressão e comunicação. Estas são o ponto de partida
                      para o educador favorecer o contacto com as várias formas
                      de expressão e comunicação, proporcionando o prazer de
        apropriação   realizar novas experiências, valorizando as descobertas da
           de meios   criança, apoiando a reflexão sobre estas experiências e des-
       de expressão   cobertas, de modo a permitir uma apropriação dos diferen-
     e comunicação    tes meios de expressão e comunicação. Este processo
                      implica planear e proporcionar situações de aprendizagem
                      diversificadas e progressivamente mais complexas.
I n t e r v e n ç ã o    E d u c a t i v a



Ao incluir vários domínios numa mesma área não se pro-
cura minimizar a importância fundamental de cada um,
nem tão pouco das vertentes mencionadas em relação a
alguns deles, mas apenas acentuar a sua inter-relação. A
junção numa mesma área, embora com designações um
pouco diferentes, de conteúdos que são referidos nos pro-
gramas do 1.o ciclo, como: expressão e educação físico-
motora, expressão musical, expressão dramática, expressão
plástica, língua portuguesa e matemática, decorre de uma
perspectiva mais globalizante que acentua a articulação
entre eles.




Domínio das expressões
motora, dramática, plástica e musical


Podem diferenciar-se neste domínio quatro vertentes — expres-
são motora, expressão dramática, expressão plástica e
expressão musical — que têm a sua especificidade própria,
mas que não podem ser vistas de forma totalmente
independente, por se complementarem mutuamente.


  O domínio das diferentes formas de expressão
  implica diversificar as situações e experiências de
  aprendizagem, de modo a que a criança vá domi-
  nando e utilizando o seu corpo e contactando com
  diferentes materiais que poderá explorar, manipular e
  transformar de forma a tomar consciência de si pró-
  prio na relação com os objectos.                                                  57


As formas de expressão que de seguida se abordam, indi-
cando algumas das suas relações, são também meios de
comunicação que apelam para uma sensiblização estética e
exigem o progressivo domínio de instrumentos e técnicas.
Esse domínio pressupõe a intervenção do educador e, por
isso, as diferentes formas de expressão comportam uma
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Educação Pré-Escolar: Orientações Curriculares

  • 1. EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR O r i e n t a ç õ e s C u r r i c u l a r e s para a Educação Pré-Escolar M I N I S T É R I O D A E D U C A Ç Ã O Departamento da Educação Básica ࡯ Núcleo de Educação Pré-Escolar
  • 2.
  • 3.
  • 4.
  • 5. EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR O r i e n t a ç õ e s C u r r i c u l a r e s para a Educação Pré-Escolar M I N I S T É R I O D A E D U C A Ç Ã O Departamento da Educação Básica ࡯ Núcleo de Educação Pré-Escolar
  • 6. Ficha Técnica Título Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar Editor Ministério da Educação Departamento da Educação Básica Gabinete para a Expansão e Desenvolvimento da Educação Pré-Escolar Av. 24 de Julho, 140 — 1300 Lisboa Directora do Departamento da Educação Básica Teresa Vasconcelos Texto M. Isabel Ramos Lopes da Silva (Instituto de Inovação Educacional) e Núcleo de Educação Pré-Escolar Ilustração Manuela Bacelar Capa e Concepção Gráfica Cecília Guimarães Tiragem 25 000 Impressão Editorial do Ministério da Educação Data Setembro 1997 N.o Depósito Legal 114 801/97 ISBN 972-742-087-7
  • 7. Colecção EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR 1 Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar
  • 8.
  • 9. É com maior gosto que levamos a todos os jardins de infância as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar. Trata-se do culminar de um processo que envolveu profissio- nais, formadores, investigadores e técnicos da administração central e local, associações profissionais e sindicais, representantes dos pais, etc., na construção de um documento que fosse espelho daquilo que hoje sabemos que a educação pré-escolar deve proporcionar às cri- anças, isto é, reflexo daquilo que a sociedade, no seu todo, pede à educação pré-escolar. Estas Orientações Curriculares serão “pontos de apoio” para a prática pedagógica dos edu- cadores, são espelho da sua “coerência profissional”, permitindo uma “maior afirmação soci- al da educação pré-escolar”, como afirmavam, há já largos anos, alguns educadores de infân- cia, sondados sobre esta matéria*. À Doutora Isabel Lopes da Silva (Instituto de Inovação Educacional) e ao Núcleo de Educação Pré-Escolar do Departamento da Educação Básica, o reconhecimento pelo trabalho de rigor e qualidade desenvolvido na preparação deste docu- mento. Não esqueçamos: o educador é o construtor, o gestor do currículo, no âmbito do projecto educativo do estabelecimento ou do conjunto de estabelecimentos. O educador deve cons- truir esse currículo com a equipa pedagógica, escutando os saberes das crianças e suas famí- lias, os desejos da comunidade e, também, as solicitações dos outros níveis educativos. Pretende-se que estas Orientações sejam “um ponto de apoio” para uma educação pré-esco- lar enquanto primeira etapa da educação básica, estrutura de suporte de uma educação que se desenvolve ao longo da vida. Poderão contribuir para que a educação pré-escolar de qua- lidade se torne motor de cidadania, alicerce de uma vida social, emocional e intelectual, que seja um todo integrado e dinâmico para todas as crianças portuguesas e não apenas para algumas. Teresa Vasconcelos Directora do Departamento da Educação Básica e Coordenadora do Gabinete para a Expansão e Desenvolvimento da Educação Pré-Escolar (GEDEPE) * Vasconcelos, (1990) Modelos Pedagógicos na educação pré-escolar: Que pensam os educadores? Aprender, 11, 38-44.
  • 10.
  • 11. ÍNDICE II Princípios Gerais Introdução __________________________________________________________________________________________ 13 Princípio geral e objectivos pedagógicos enunciados na Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar _________________________________________ 15 Fundamentos e organização das Orientações Curriculares _________________________________________________________________________________________ 17 Orientações globais para o educador ________________________________________________ 25 II Intervenção Educativa Organização do ambiente educativo _________________________________________________ 31 Abordagem sistémica e ecológica do ambiente educativo ______________ 31 Organização do grupo, do espaço e do tempo ________________________________ 34 Organização do meio institucional __________________________________________________ 41 Relação com os pais e outros parceiros educativos _________________________ 42 Áreas de conteúdo ______________________________________________________________________________ 47 Articulação de conteúdos ________________________________________________________________ 48 Área de formação pessoal e social __________________________________________________ 51 Área de expressão e comunicação ___________________________________________________ 56 Domínio das expressões motora, dramática, plástica e musical ________ 57 Domínio da linguagem oral e abordagem à escrita _________________________ 65 Domínio da matemática _______________________________________________________________ 73 Área de conhecimento do mundo ____________________________________________________ 79 Continuidade educativa ______________________________________________________________________ 87 Intencionalidade Educativa ________________________________________________________________ 93
  • 12.
  • 13. I . P r i n c í p i o s G e r a i s
  • 14.
  • 15. P r i n c í p i o s G e r a i s INTRODUÇÃO As Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar aprovadas pelo presente despacho* decorrem de um debate amplamente participado que permitiu a sua pro- gressiva reformulação. A diversidade e riqueza das contribuições de serviços e instituições que desempenham um papel relevante na educação pré-escolar, bem como de numerosos grupos de edu- cadores que se disponibilizaram para analisar o documento base e apresentar as suas críticas e sugestões, possibilitaram a progressiva melhoria do documento final. Este processo permitiu, ainda, distinguir os princípios gerais das Orientações Curriculares, a que se refere este despacho, do seu desenvolvimento pedagógico, a publicar pelo Departamento da Educação Básica. A complementaridade destes dois textos visa torná-los um instrumento útil para os educadores reflectirem sobre a prática e encon- trarem as respostas educativas mais adequadas para as crianças com quem trabalham. As Orientações Curriculares constituem um conjunto de princípios para apoiar o educador nas decisões sobre a sua prática, ou seja, para conduzir o processo educa- tivo a desenvolver com as crianças. As Orientações Curriculares constituem uma referência comum para todos os edu- cadores da Rede Nacional de Educação Pré-Escolar e destinam-se à organização da componente educativa. Não são um programa, pois adoptam uma perspectiva mais centrada em indicações para o educador do que na previsão de aprendizagens a rea- lizar pelas crianças. Diferenciam-se também de algumas concepções de currículo, por serem mais gerais e abrangentes, isto é, por incluírem a possibilidade de funda- mentar diversas opções educativas e, portanto, vários currículos. Ao constituirem um quadro de referência para todos os educadores, as Orientações 13 Curriculares pretendem contribuir para promover uma melhoria da qualidade da educação pré-escolar. O presente documento organiza-se do seguinte modo: 1 — Princípio geral e objectivos pedagógicos enunciados na Lei Quadro da Educa- ção Pré-Escolar * Despacho n.o 5220/97 (2.a série), de 10 de Julho, publicado no D. R. n.o 178, II série, de 4 de Agosto.
  • 16. 2 — Fundamentos e organização das Orientações Curriculares 3 — Orientações gerais para o educador As Orientações Curriculares assentam nos seguintes fundamentos articulados: — o desenvolvimento e aprendizagem como vertentes indissociáveis; — o reconhecimento da criança como sujeito do processo educativo — o que significa partir do que a criança já sabe e valorizar os seus saberes como funda- mento de novas aprendizagens; — a construção articulada do saber — o que implica que as diferentes áreas a con- templar não deverão ser vistas como compartimentos estanques, mas abordadas de uma forma globalizante e integrada; — a exigência de resposta a todas as crianças — o que pressupõe uma pedagogia diferenciada, centrada na cooperação, em que cada criança beneficia do processo educativo desenvolvido com o grupo. Com suporte nestes fundamentos, o desenvolvimento curricular, da responsabili- dade do educador, terá em conta: — os objectivos gerais — enunciados na Lei Quadro da Educação Pré-Escolar como intenções que devem orientar a prática profissional dos educadores; — a organização do ambiente educativo — como suporte do trabalho curricular e da sua intencionalidade. O ambiente educativo comporta diferentes níveis em interacção: a organização do grupo, do espaço e do tempo; a organização do esta- belecimento educativo; a relação com os pais e com outros parceiros educativos; — as áreas de conteúdo — que constituem as referências gerais a considerar no planeamento e avaliação das situações e oportunidades de aprendizagem. Distin- guem-se três áreas de conteúdo: • Área de Formação Pessoal e Social; • Área de Expressão/Comunicação que compreende três domínios: a) domínio das expressões com diferentes vertentes — expressão motora, expressão dramática, expressão plástica e expressão musical; 14 b) domínio da linguagem e abordagem à escrita; c) domínio da matemática; • Área de Conhecimento do Mundo; — a continuidade educativa — como processo que parte do que as crianças já sabem e aprenderam, criando condições para o sucesso nas aprendizagens seguintes; — a intencionalidade educativa — que decorre do processo reflexivo de observa- ção, planeamento, acção e avaliação desenvolvido pelo educador, de forma a adequar a sua prática às necessidades das crianças.
  • 17. P r i n c í p i o s G e r a i s PRINCÍPIO GERAL E OBJECTIVOS PEDAGÓGICOS ENUNCIADOS NA LEI-QUADRO DA EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR A Lei-Quadro da Educação Pré-Escolar estabelece como Princípio Geral princípio geral que “a educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo complementar da acção educativa da famí- lia, com a qual deve estabelecer estreita relação, favore- cendo a formação e o desenvolvimento equilibrado da cri- ança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário”. Este princípio fundamenta todo o articulado da lei e dele Objectivos decorrem os objectivos gerais pedagógicos definidos para a Pedagógicos educação pré-escolar: a) Promover o desenvolvimento pessoal e social da criança com base em experiências de vida democrática numa perspectiva de educação para a cidadania; b) Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no respeito pela pluralidade das culturas, favorecendo uma progressiva consciência como membro da sociedade; c) Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à escola e para o sucesso da aprendizagem; d) Estimular o desenvolvimento global da criança no res- 15 peito pelas suas características individuais, incutindo comportamentos que favoreçam aprendizagens signifi- cativas e diferenciadas; e) Desenvolver a expressão e a comunicação através de linguagens múltiplas como meios de relação, de infor- mação, de sensibilização estética e de compreensão do mundo;
  • 18. f) Despertar a curiosidade e o pensamento crítico; g) Proporcionar à criança ocasiões de bem estar e de segu- rança, nomeadamente no âmbito da saúde individual e colectiva; h) Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências ou precocidades e promover a melhor orientação e encaminhamento da criança; i) Incentivar a participação das famílias no processo edu- cativo e estabelecer relações de efectiva colaboração com a comunidade. 16
  • 19. P r i n c í p i o s G e r a i s FUNDAMENTOS E ORGANIZAÇÃO DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES O princípio geral e os objectivos pedagógicos enunciados na Lei-Quadro enquadram os fundamentos e a organização das Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar. Assim, as diferentes afirmações contidas no princípio geral da Lei-Quadro, destacadas no texto, relacionam-se com os objectivos gerais, para explicitar como se traduzem nas Orientações Curriculares. “A educação pré-escolar é a primeira etapa da educa- educação ao ção básica no processo de educação ao longo da longo da vida vida”. Esta afirmação implica que durante esta etapa se criem as condições necessárias para as crianças continuarem a aprender a aprender, ou seja, importa que na educação pré-escolar as aprender crianças aprendam a aprender. Desta afirmação decorre também o objectivo geral: “Contribuir para a igualdade de oportunidades no igualdade de acesso à escola e para o sucesso das aprendiza- oportunidades gens”. Não se pretende que a educação pré-escolar se organize em sucesso escolar função de uma preparação para a escolaridade obrigatória, 17 mas que se perspective no sentido da educação ao longo da vida, devendo, contudo, a criança ter condições para abor- dar com sucesso a etapa seguinte. A educação pré-escolar foi apontada como um possível local de insucesso escolar precoce em que algumas crian- ças aprendem que não são tão capazes como as outras. Conclusões da investigação sociológica demonstraram,
  • 20. também, que o insucesso escolar recai maioritariamente em crianças de meios populares, cuja cultura familiar está mais distante da cultura escolar. pedagogia Para que a educação pré-escolar possa contribuir para uma estruturada maior igualdade de oportunidades, as Orientações Curri- culares acentuam a importância de uma pedagogia estrutu- rada, o que implica uma organização intencional e sistemá- tica do processo pedagógico, exigindo que o educador pla- neie o seu trabalho e avalie o processo e os seus efeitos no desenvolvimento e na aprendizagem das crianças. carácter lúdico Adoptar uma pedagogia organizada e estruturada não sig- nifica introduzir na educação pré-escolar certas práticas "tradicionais" sem sentido para as crianças, nem menospre- zar o carácter lúdico de que se revestem muitas aprendiza- gens, pois o prazer de aprender e de dominar determinadas competências exige também esforço, concentração e inves- timento pessoal. sucesso da A educação pré-escolar cria condições para o sucesso da aprendizagem aprendizagem de todas as crianças, na medida em que pro- move a sua auto-estima e auto-confiança e desenvolve competências que permitem que cada criança reconheça as suas possiblidades e progressos. Os diversos contextos de educação pré-escolar são, assim, espaços onde as crianças constroem a sua aprendizagem, de forma a: formação e “Favorecer a formação e o desenvolvimento equili- desenvolvimento brado da criança”. Esta afirmação do princípio geral fundamenta o objectivo: 18 “Estimular o desenvolvimento global da criança, no respeito pelas suas características individuais, desenvolvimento que implica favorecer aprendiza- gens significativas e diferenciadas”. interligação Este objectivo aponta, assim, para a interligação entre desen- desenvolvimento / volvimento e aprendizagem defendida por diferentes cor- aprendizagem rentes actuais da psicologia e da sociologia, que conside-
  • 21. P r i n c í p i o s G e r a i s ram que o ser humano se desenvolve num processo de inter- acção social. Nesta perspectiva a criança desempenha um papel activo na sua interacção com o meio que, por seu turno, lhe deverá fornecer condições favoráveis para que se desenvolva e aprenda. Admitir que a criança desempenha um papel activo na criança como construção do seu desenvolvimento e aprendizagem, supõe sujeito encará-la como sujeito e não como objecto do processo do processo educativo. educativo Neste sentido, acentua-se a importância da educação pré- partir do que a -escolar partir do que as crianças sabem, da sua cultura e criança sabe saberes próprios. Respeitar e valorizar as características individuais da criança, a sua diferença, constitui a base de novas aprendizagens. A oportunidade de usufruir de expe- riências educativas diversificadas, num contexto facilitador de interacções sociais alargadas com outras crianças e adul- tos, permite que cada criança, ao construir o seu desenvol- vimento e aprendizagem, vá contribuindo para o desenvol- vimento e aprendizagem dos outros. O respeito pela diferença inclui as crianças que se afastam educação para dos padrões "normais", devendo a educação pré-escolar dar todos resposta a todas e a cada uma das crianças. Nesta perspectiva de "escola inclusiva", a educação pré-escolar deverá adoptar a prática de uma pedagogia diferenciada, centrada na coope- ração, que inclua todas as crianças, aceite as diferenças, apoie a aprendizagem, responda às necessidades individuais. O conceito de "escola inclusiva" supõe que o planeamento escola seja realizado tendo em conta o grupo. Este plano é adap- inclusiva tado e diferenciado de acordo com as cracterísticas indivi- duais, de modo a oferecer a cada criança condições estimu- 19 lantes para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Pela sua referência ao grupo, vai mais longe que a perspectiva de integração que admitia a necessidade de planos indivi- duais e específicos para as crianças "diferentes". Assim, planeamento mesmo as crianças diagnosticadas como tendo "necessida- para o grupo des educativas especiais" são incluídas no grupo e benefi- ciam das oportunidades educativas que são proporcionadas a todos.
  • 22. funcionamento As condições que se consideram necessárias para a existência do estabeleci- de uma "escola inclusiva" tais como, o bom funcionamento mento educativo do estabelecimento educativo, o envolvimento de todos inter- venientes — profissionais, crianças, pais e comunidade — a planificação em equipa, são aspectos a ter em conta no pro- cesso educativo a desenvolver na educação pré-escolar. A resposta que a educação pré-escolar deve dar a todas as crianças organiza-se: “Tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário”. Esta última afirmação do princípio geral que orienta a edu- cação pré-escolar concretiza-se em diferentes objectivos, relacionando-se directamente com os seguintes: desenvolvi- “Promover o desenvolvimento pessoal e social da cri- mento pessoal e ança com base em experiências de vida democrática social numa perspectiva de educação para a cidadania;” educação para “Fomentar a inserção da criança em grupos sociais a cidadania diversos, no respeito pela pluralidade das culturas, favorecendo uma progressiva consciência como membro da sociedade”. Organização do No sentido da educação para a cidadania, as Orientações Ambiente Curriculares dão particular importância à Organização do Educativo Ambiente Educativo como um contexto de vida democrá- tica em que as crianças participam, onde contactam e aprendem a respeitar diferentes culturas. É nesta vivência Formação que se inscreve a área de Formação Pessoal e Social consi- Pessoal e Social derada como área integradora de todo o processo de educa- ção pré-escolar. 20 É também objectivo da educação pré-escolar: bem-estar “Proporcionar ocasiões de bem-estar e de segu- e segurança rança, nomeadamente no âmbito da saúde individual e colectiva”. O bem estar e segurança dependem também do ambiente educativo, em que a criança se sente acolhida, escutada e valorizada, o que contribui para a sua auto-estima e desejo
  • 23. P r i n c í p i o s G e r a i s de aprender. Um ambiente em que se sente bem porque são atendidas as suas necessidades psicológicas e físicas. O bem estar relacionado com a saúde individual e colectiva é também ocasião de uma educação para a saúde que faz parte da formação do cidadão. Mas, a educação da criança, tendo em vista a plena inser- ção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário, implica também outras formas de desenvolvimento e aprendizagem, a que se refere o objectivo: “Desenvolver a expressão e a comunicação através Expressão de linguagens múltiplas como meios de relação, de e Comunicação informação, de sensibilização estética e de compre- ensão do mundo”. Este objectivo é contemplado nas áreas Expressão e Comunicação e Conhecimento do Mundo. Existindo uma Conhecimento ligação entre as duas, a primeira engloba diferentes formas do Mundo de linguagem distribuídas por três domínios: domínio das expressões, com diferentes vertentes — expressão motora, expressão dramática, expressão plástica e expressão musi- cal —; domínio da linguagem e abordagem à escrita, que inclui outras linguagens como a informática e a audiovisual e ainda, a possiblidade de sensibilização a uma língua estrangeira; o domínio da matemática, considerado como uma outra forma de linguagem, faz também parte da área de Expressão e Comunicação. Sendo o domínio destas linguagens importante em si articulação de mesmo, elas também são meios de relação, de sensibiliza- conteúdos ção estética e de obtenção de informação. Deste modo, a área de Expressão e Comunicação constitui uma área básica que contribui simultaneamente para a Formação 21 Pessoal e Social e para o Conhecimento do Mundo. Por seu turno, a área do Conhecimento do Mundo permite articular as outras duas, pois é através das relações com os outros que se vai construindo a identidade pessoal e se vai tomando posição perante o "mundo" social e físico. Dar sentido a esse "mundo" passa pela utilização de sistemas simbólico-culturais.
  • 24. Não se considerando estas diferentes áreas como comparti- mentos estanques, acentua-se a importância de interligar as diferentes áreas de conteúdo e de as contextualizar num determinado ambiente educativo. Assim, a organização do ambiente educativo na relação com o meio envolvente constitui o suporte do desenvolvimento curricular. Só este processo articulado permite atingir um outro objectivo que deverá atravessar toda a educação pré-escolar: curiosidade e “despertar a curiosidade e o espírito crítico”. espírito crítico Este objectivo concretiza-se nas diferentes áreas de con- teúdo que se articulam numa formação global, que será o fundamento do processo de educação ao longo da vida. Uma outra afirmação do princípio geral da Lei-Quadro considera a educação pré-escolar como: “complementar da acção educativa da família, com a qual deve estabelecer estreita relação”. Esta afirmação que acentua a importância da relação com a família, traduz-se no objectivo: participação da “Incentivar a participação das famílias no processo família educativo e estabelecer relações de efectiva colabo- ração com a comunidade”. Os pais ou encarregados de educação são os responsáveis pela criança e também os seus primeiros e principais edu- cadores. Estando hoje, de certo modo ultrapassada a tónica colocada numa função compensatória, pensa-se que os efeitos da educação pré-escolar estão intimamente relacio- nados com a articulação com as famílias. Já não se procura compensar o meio familiar, mas partir dele e ter em conta 22 a(s) cultura(s) de que as crianças são oriundas, para que a educação pré-escolar se possa tornar mediadora entre as culturas de origem das crianças e a cultura de que terão de se apropriar para terem uma aprendizagem com sucesso. Sendo a educação pré-escolar complementar da acção edu- cativa da família, haverá que assegurar a articulação entre o estabelecimento educativo e as famílias, no sentido de encontrar, num determinado contexto social, as respostas
  • 25. P r i n c í p i o s G e r a i s mais adequadas para as crianças e famílias, cabendo aos pais participar na elaboração do projecto educativo do esta- belecimento. Mas, não só a família, como também o meio social em que projecto a criança vive influencia a sua educação, beneficiando a educativo do escola da conjugação de esforços e da potencialização de estabelecimento recursos da comunidade para a educação das crianças e dos jovens. Assim, tanto os pais, como outros membros da comunidade poderão colaborar no desenvolvimento do projecto educativo do estabelecimento. O processo de colaboração com os pais e com a comuni- participação da dade tem efeitos na educação das crianças e, ainda, conse- comunidade quências no desenvolvimento e na aprendizagem dos adul- tos que desempenham funções na sua educação. 23
  • 26.
  • 27. P r i n c í p i o s G e r a i s ORIENTAÇÕES GLOBAIS PARA O EDUCADOR A intencionalidade do processo educativo que caracteriza a intervenção profissional do educador passa por diferentes etapas interligadas que se vão sucedendo e aprofundando, o que pressupõe: Observar Observar cada criança e o grupo para conhecer as suas conhecimento capacidades, interesses e dificuldades, recolher as informa- da criança ções sobre o contexto familiar e o meio em que as crianças vivem, são práticas necessárias para compreender melhor as características das crianças e adequar o processo educa- tivo às suas necessidades. O conhecimento da criança e da sua evolução constitui o diferenciação fundamento da diferenciação pedagógica que parte do que pedagógica esta sabe e é capaz de fazer para alargar os seus interesses e desenvolver as suas potencialidades. Este conhecimento resulta de uma observação contínua e supõe a necessidade de referências tais como, produtos das crianças e diferentes formas de registo. 25 Trata-se fundamentalmente de dispôr de elementos que possam ser periodicamente analisados, de modo a compre- ender o processo desenvolvido e os seus efeitos na apren- dizagem de cada criança. A observação constitui, deste base do planea- modo, a base do planeamento e da avaliação, servindo de mento e da ava- suporte à intencionalidade do processo educativo. liação
  • 28. Planear aprendizagens Planear o processo educativo de acordo com o que o edu- significativas e cador sabe do grupo e de cada criança, do seu contexto diversificadas familiar e social é condição para que a educação pré-esco- lar proporcione um ambiente estimulante de desenvolvi- mento e promova aprendizagens significativas e diversifi- cadas que contribuam para uma maior igualdade de opor- tunidades. reflexão sobre Planear implica que o educador reflicta sobre as suas inten- as intenções ções educativas e as formas de as adequar ao grupo, pre- educativas vendo situações e experiências de aprendizagem e organi- zando os recursos humanos e materiais necessários à sua realização. O planeamento do ambiente educativo permite às crianças explorar e utilizar espaços, materiais e instru- mentos colocados à sua disposição, proporcionando-lhes interacções diversificadas com todo o grupo, em pequenos grupos e entre pares, e também a possibilidade de interagir com outros adultos. Este planeamento terá em conta as articulação das diferentes áreas de conteúdo e a sua articulação, bem como áreas de con- a previsão de várias possibilidades que se concretizam ou teúdo modificam, de acordo com as situações e as propostas das crianças. Cabe, assim, ao educador planear situações de aprendiza- gem que sejam suficientemente desafiadoras, de modo a interessar e a estimular cada criança, apoiando-a para que chegue a níveis de realização a que não chegaria por si só, mas acautelando situações de excessiva exigência de que possa resultar desencorajamento e diminuição de auto- estima. 26 participação O planeamento realizado com a participação das crianças, das crianças no permite ao grupo beneficiar da sua diversidade, das capaci- planeamento dades e competências de cada criança, num processo de partilha facilitador da aprendizagem e do desenvolvimento de todas e de cada uma.
  • 29. P r i n c í p i o s G e r a i s Agir Concretizar na acção as suas intenções educativas, adap- concretização tando-as às propostas das crianças e tirando partido das da acção situações e oportunidades imprevistas. A participação de outros adultos – auxiliar de acção educativa, pais, outros membros da comunidade – na realização de oportunidades educativas planeadas pelo educador é uma forma de alargar as interacções das crianças e de enriquecer o processo edu- cativo. Avaliar Avaliar o processo e os efeitos, implica tomar consciência tomar da acção para adequar o processo educativo às necessida- consciência des das crianças e do grupo e à sua evolução. da acção A avaliação realizada com as crianças é uma actividade avaliação com educativa, constituindo também uma base de avaliação para as crianças o educador. A sua reflexão, a partir dos efeitos que vai observando, possibilita-lhe estabelecer a progressão das aprendizagens a desenvolver com cada criança. Neste sen- tido, a avaliação é suporte do planeamento. Comunicar O conhecimento que o educador adquire da criança e do modo como esta evolui é enriquecido pela partilha com partilha com outros adultos que também têm responsabilidades na sua a equipa 27 educação, nomeadamente, colegas, auxiliares de acção e com os pais educativa e, também, os pais. Se o trabalho de profissionais em equipa constitui um meio de auto-formação com bene- fícios para a educação da criança, a troca de opiniões com os pais permite um melhor conhecimento da criança e de outros contextos que influenciam a sua educação: família e comunidade.
  • 30. Articular continuidade Cabe ao educador promover a continuidade educativa num educativa processo marcado pela entrada para a educação pré-escolar e a transição para a escolaridade obrigatória. A relação esta- belecida com os pais antes da criança frequentar a educa- ção pré-escolar facilita a comunicação entre o educador e os pais, favorecendo a própria adaptação da criança. É tam- bém função do educador proporcionar as condições para articulação que cada criança tenha uma aprendizagem com sucesso na com o 1.o ciclo fase seguinte competindo-lhe, em colaboração com os pais e em articulação com os colegas do 1.o ciclo, facilitar a transição da criança para a escolaridade obrigatória. 28
  • 31. I I . I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a
  • 32. A segunda parte das Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar — Intervenção Educativa — desenvolve e concretiza os Princípios Gerais aprova- dos pelo Despacho n.o 5220/97 (2.a série), de 4 de Agosto. Este texto constitui uma base de reflexão individual e colectiva, com o objectivo de permitir aos educadores situar as suas opções educativas e encontrar as práticas mais adequadas ao contexto e ao grupo de crianças.
  • 33. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE EDUCATIVO O contexto institucional de educação pré-escolar deve organizar-se como um ambiente facilitador do desenvolvi- suporte mento e da aprendizagem das crianças. Este ambiente do trabalho deverá ainda proporcionar ocasiões de formação dos adul- curricular tos que trabalham nesse contexto. Esta organização diz respeito às condições de interacção entre os diferentes intervenientes - entre crianças, entre cri- anças e adultos e entre adultos - e à gestão de recursos humanos e materiais que implica a prospecção de meios para melhorar as funções educativas da instituição. Por todas estas razões se considera que a organização do ambiente educativo constitui o suporte do trabalho curricu- lar do educador. A BORDAGEM SISTÉMICA E ECOLÓGICA DO AMBIENTE EDUCATIVO 31 Para que a educação pré-escolar encontre as respostas mais diferentes adequadas à população que a frequenta, a organização do níveis em ambiente educativo terá em conta diferentes níveis em inter- interacção acção, o que aponta para uma abordagem sistémica e ecoló- gica da educação pré-escolar. Esta perspectiva assenta no pressuposto que o desenvolvimento humano constitui um pro- cesso dinâmico de relação com o meio, em que o indivíduo é influenciado, mas também influencia o meio em que vive.
  • 34. Para compreender a complexidade do meio importa consi- derá-lo como constituído por diferentes sistemas que desempenham funções específicas e que, estando em inter- conexão, se apresentam como dinâmicos e em evolução. interacção Deste modo, a perspectiva sistémica e ecológica considera indivíduo/ que o indivíduo em desenvolvimento interage com diferen- sistemas tes sistemas que estão eles próprios em evolução. sistemas Nesta abordagem importa distinguir os sistemas restritos e restritos imediatos, com características físicas e materiais particula- res — a casa, a sala de aula, a rua, etc. — em que há uma interacção directa entre actores que desempenham papéis — docente, pai ou mãe, aluno, filho, etc. — e desenvolvem formas de relação interpessoal, implicando-se em activida- des específicas que se realizam em espaços e tempos pró- prios. São exemplos destes sistemas restritos, com particu- lar importância para a educação da criança, a família e o contexto de educação pré-escolar. relações entre As relações que se estabelecem entre estes e outros siste- sistemas mas restritos formam um outro tipo de sistema com carac- restritos terísticas e finalidades próprias. sistemas Por seu turno, estes sistemas restritos e os sistemas de rela- alargados ção são englobados por sistemas sociais mais vastos — contextos sociais mais alargados. As características destes diferentes sistemas e a sua inter- acção configuram-se de modo particular para cada indiví- duo, que se situa também de forma própria na sua interac- ção com o meio e os diferentes sistemas em relação. 32 família Assim, cada criança tem uma família — pais ou seus subs- titutos — que é diferente — composição, características sócio-económicas e culturais; frequenta um determinado estabelecimento estabelecimento de educação pré-escolar que tem também de educação a sua especificidade — edifício, dimensão, equipamentos pré-escolar — e corresponde a uma determinada modalidade de educa- ção pré-escolar. Na instituição, a criança está habitual- mente inserida num grupo que tem características próprias, partilhando um espaço e um tempo comuns.
  • 35. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a Estes são alguns dos contextos imediatos da educação das crianças que frequentam a educação pré-escolar. Estas cri- anças também se relacionam e interagem directamente com outras famílias e com outros serviços e instituições da comunidade — serviços sociais, de saúde, etc. Tanto estes contextos de vida da criança como as relações relações entre que estabelecem entre eles têm uma influência na educação famílias e da criança, nomeadamente as relações entre a família e o estabelecimento estabelecimento de educação pré-escolar. Por sua vez, o meio social envolvente — localidade ou meio social localidades de onde provêm as crianças que frequentam um envolvente determinado estabelecimento de educação pré-escolar, a própria inserção geográfica deste estabelecimento — tem também influência, embora indirecta, na educação das cri- anças. As características desta(s) localidade(s) — tipo de população, possibilidades de emprego, rede de transportes, serviços e instituições existentes, meios de comunicação social, etc. — não são também independentes de sistemas mais vastos e englobantes, sistemas políticos, jurídicos, sociedade educativos ainda mais alargados. A abordagem sistémica e ecológica constitui, assim, uma perspectiva de compreensão da realidade que permite ade- quar, de forma dinâmica, o contexto educativo institucional às características e necessidades das crianças e adultos. Constitui ainda um instrumento de análise para que o edu- cador possa adaptar a sua intervenção às crianças e ao meio social em que trabalha. De uma forma esquemática, poder-se-á dizer que a pers- pectiva sistémica e ecológica oferece elementos para: 33 — compreender melhor cada criança, ao conhecer os sis- contributos da temas em que esta cresce e se desenvolve, de forma a abordagem respeitar as suas características pessoais e saberes já sistémica adquiridos, apoiando a sua maneira de se relacionar com os outros e com o meio social e físico; — contribuir para a dinâmica do contexto de educação pré- -escolar na sua interacção com outros sistemas que tam- bém infuenciam a educação das crianças e a formação
  • 36. dos adultos, de forma a que esse contexto se organize para responder melhor às suas características e necessidades; — perspectivar o processo educativo de forma integrada, tendo em conta que a criança constrói o seu desenvol- vimento e aprendizagem, de forma articulada, em inter- acção com os outros e com o meio; — permitir a utilização e gestão integrada dos recursos do estabelecimento educativo e de recursos que, existindo no meio social envolvente, podem ser dinamizados; — acentuar a importância das interacções e relações entre os sistemas que têm uma influência directa ou indirecta na educação das crianças, de modo a tirar proveito das suas potencialidades e ultrapassar as suas limitações, para alargar e diversificar oportunidades educativas das crianças e apoiar o trabalho dos adultos. Para facilitar a concretização desta perspectiva, analisam- -se seguidamente algumas características relevantes para a organização do ambiente educativo em contexto de educa- ção pré-escolar. O RGANIZAÇÃO DO GRUPO, DO ESPAÇO E DO TEMPO A educação pré-escolar é um contexto de socialização em contexto que muitas aprendizagens decorrem de vivências relacio- 34 de socialização nadas com o alargamento do meio familiar de cada criança, de experiências relacionais e de ocasiões de aprendizagem que implicam recursos humanos e materiais diversos. Este processo educativo desenvolve-se em tempos que lhe são destinados e, em geral, em espaços próprios. ORGANIZAÇÃO DO GRUPO Na educação pré-escolar o grupo proporciona o contexto imediato de interacção social e de relação entre adultos e
  • 37. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a crianças e entre crianças que constitui a base do processo educativo. A relação individualizada que o educador estabelece com cada criança é facilitadora da sua inserção no grupo e das relações com as outras crianças. Esta rela- ção implica a criação de um ambiente securizante que cada criança conhece e onde se sente valorizada. Há diferentes factores que influenciam o modo próprio de funcionamento de um grupo, tais como, as características individuais das crianças que o compõem, o maior ou menor número de crianças de cada sexo, a diversidade de idades das crianças, a dimensão do grupo. A composição etária do grupo pode depender de uma opção composição pedagógica, benefícios de um grupo com idades próximas etária ou diversas; das condições do jardim de infância, existên- cia de uma ou várias salas; dos critérios de prioridade de admissão utilizados por cada instituição ou, ainda, das características demográficas, pequenas povoações ou população dispersa. Sabe-se, no entanto, que a interacção entre crianças em crianças momentos diferentes de desenvolvimento e com saberes em diferentes diversos, é facilitadora do desenvolvimento e da aprendiza- momentos de gem. Para isso, torna-se importante o trabalho entre pares e desenvolvimento em pequenos grupos, em que as crianças têm oportunidade de confrontar os seus pontos de vista e de colaborar na resolução de problemas ou dificuldades colocadas por uma tarefa comum. 35 Se a existência no grupo de crianças de diferentes idades trabalho pode favorecer este processo, torna-se contudo importante, entre pares e qualquer que seja a composição do grupo, que o educador pequenos grupos apoie o trabalho entre pares e em pequenos grupos que per- mita esse confronto. O educador alarga as oportunidades educativas, ao favore- aprendizagem cer uma aprendizagem cooperada em que a criança se cooperada
  • 38. desenvolve e aprende, contribuindo para o desenvolvi- mento e aprendizagem das outras. aprendizagem Enquanto vivência num grupo social alargado, a educação da vida pré-escolar deverá promover a aprendizagem da vida democrática democrática. A aprendizagem da vida democrática implica que o educador proporcione condições para a formação do grupo, criando situações diversificadas de conheci- mento, atenção e respeito pelo outro. atitude A atitude do educador, a forma como se relaciona com as do educador crianças, desempenha um papel fundamental neste pro- cesso. Alguns instrumentos frequentes em jardins de infân- cia — quadro de presenças, quadro de tarefas e outros — podem facilitar a organização e a tomada de consciência de pertença a um grupo e, ainda, a atenção e o respeito pelo outro. A participação de cada criança e do grupo no pro- cesso educativo através de oportunidades de coope- ração, decisão em comum de regras colectivas indis- pensáveis à vida social e distribuição de tarefas necessárias à vida colectiva constituem outras expe- riências de vida democrática proporcionadas pelo grupo. participação As razões das normas que decorrem da vida em grupo — 36 das crianças por exemplo, esperar pela sua vez, arrumar o que desarru- na elaboração mou, etc. — terão de ser explicitadas e compreendidas de normas pelas crianças. Estas normas e outras regras indispensáveis e regras à vida em comum adquirem maior força e sentido se todo o grupo participar na sua elaboração, bem como na distribui- ção de tarefas necessárias à vida colectiva — por exemplo, regar as plantas, tratar de animais, encarregar-se de pôr a mesa, distribuir refeições, etc.
  • 39. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a A participação no grupo permite também à criança con- resolução frontar-se com opiniões e posições diferentes das suas, de conflitos experimentar situações de conflito. O educador apoiará as tentativas de negociação e resolução de conflitos, favore- cendo ainda oportunidades de colaboração. A organização democrática do grupo constitui a base da área de Formação Pessoal e Social, sendo ainda fonte de outras aprendizagens. Por exemplo, verificar quem está e quem falta, bem como a marcação de presenças, pode con- tribuir para aprendizagens matemáticas, para a construção da noção do tempo e facilitar a identificação de palavras, ligando-se também ao reconhecimento da escrita. Planear e avaliar com as crianças, individualmente, em pequenos grupos ou no grande grupo são oportu- nidades de participação das crianças e meios de desenvolvimento cognitivo e da linguagem. A participação das crianças no planeamento e avaliação da partticipação organização do grupo relaciona-se com a contribuição do das crianças grupo e de cada criança para a construção do processo edu- no planeamento cativo. Prever o que se vai fazer, tomar consciência do que e avaliação foi realizado são condições da organização democrática do grupo, como também o suporte da aprendizagem nas dife- rentes áreas de conteúdo. ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO Os espaços de educação pré-escolar podem ser diversos, mas o tipo de equipamento, os materiais existentes e a forma com estão dispostos condicionam, em grande medida, o que as crianças podem fazer e aprender. 37 A organização e a utilização do espaço são expressão das intenções educativas e da dinâmica do grupo, sendo indis- pensável que o educador se interrogue sobre a função e finalidades educativas dos materiais de modo a planear e fundamentar as razões dessa organização.
  • 40. A reflexão permanente sobre a funcionalidade e ade- quação do espaço e as potencialidades educativas dos materiais permite que a sua organização vá sendo modificada de acordo com as necessidades e evolu- ção do grupo. Esta reflexão sobre o espaço, materiais e sua organização é condição indispensável para evitar espaços estereotipados e padronizados que não são desafiadores para as crianças. autonomia O processo de aprendizagem implica também que as crian- ças compreendam como o espaço está organizado e como pode ser utilizado e que participem nessa organização e nas decisões sobre as mudanças a realizar. O conhecimento do espaço, dos materiais e das actividades possíveis é também condição de autonomia da criança e do grupo. responsabilizaç A possibilidade de fazer escolhas e de utilizar o material de ão diferentes maneiras, que incluem formas imprevistas e criativas, supõe uma responsabilização pelo que é parti- lhado por todos. equipamento A importância de que se reveste o equipamento e o mate- e material rial na aprendizagem das crianças implica que: O educador defina prioridades na aquisição do equi- pamento e do material, de acordo com as necessida- des das crianças e o seu projecto pedagógico, tendo em conta critérios de qualidade. 38 critérios Assim, na escolha dos materiais o educador atenderá a cri- de qualidade térios tais como variedade, funcionalidade, durabilidade, segurança e valor estético. O aproveitamento de material de desperdício é também uma possiblilidade a prever e orga- nizar, com a colaboração dos pais e da comunidade. espaço O espaço exterior do estabelecimento de educação pré- exterior -escolar é igualmente um espaço educativo. Pelas suas
  • 41. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a potencialidades e pelas oportunidades educativas que pode oferecer, merece a mesma atenção do educador que o espaço interior. O espaço exterior é um local que pode proporcionar momentos educativos intencionais, planeados pelo educador e pelas crianças. Sendo um prolongamento do espaço interior, onde as mes- mas situações de aprendizagem têm lugar ao "ar livre", per- mite uma diversficação de oportunidades educativas, pela utilização de um espaço com outras características e poten- cialidades. Embora as actividades informais não se realizem só no espaço exterior, este é também um local privilegiado de recreio onde as crianças têm possibilidade de explorar e recriar o espaço e os materiais disponíveis. Nesta situa- ção, o educador pode manter-se como observador ou inter- agir com as crianças, apoiando e enriquecendo as suas iniciativas. O espaço exterior possibilita a vivência de situações edu- cativas intencionalmente planeadas e a realização de acti- vidades informais. Esta dupla função exige que a sua organização seja cuidadosamente pensada, devendo os equipamentos e materiais corresponder a critérios de qualidade, com particular atenção às condições de segu- rança. Mas o espaço educativo não se limita ao espaço imediato partilhado pelo grupo; situa-se num espaço mais alargado 39 — o estabelecimento educativo — em que a criança se rela- ciona com outras crianças e adultos, que, por sua vez, é englobado pelo meio social, um meio social mais vasto. O conhecimento do meio próximo e de outros meios mais distantes, constitui oportunidade de aprendizagens rela- cionadas com a área de Conhecimento do Mundo.
  • 42. ORGANIZAÇÃO DO TEMPO O tempo educativo tem, em geral, uma distribuição flexí- vel, embora corresponda a momentos que se repetem com uma certa periodicidade. rotina A sucessão de cada dia ou sessão tem um determinado educativa ritmo existindo, deste modo, uma rotina que é educativa porque é intencionalmente planeada pelo educador e por- que é conhecida pelas crianças que sabem o que podem fazer nos vários momentos e prever a sua sucessão, tendo a liberdade de propôr modificações. Nem todos os dias são iguais, as propostas do educador ou das crianças podem modificar o quotidiano habitual. referências As referências temporais são securizantes para a criança e temporais servem como fundamento para a compreensão do tempo: passado, presente, futuro; contexto diário, semanal, men- sal, anual. Porque o tempo é de cada criança, do grupo de crianças e do educador, importa que haja uma organização do tempo decidida pelo educador e pelas crianças. O tempo educativo contempla de forma equilibrada diversos ritmos e tipos de actividade, em diferentes situações — individual, com outra criança, com um pequeno grupo, com todo o grupo — e permite opor- tunidades de aprendizagem diversificadas, tendo em conta as diferentes áreas de conteúdo. 40 Trata-se de prever e organizar um tempo simultaneamente estruturado e flexível em que os diferentes momentos tenham sentido para as crianças. adequação A distribuição do tempo relaciona-se com a organização do espaço/tempo espaço pois a utilização do tempo depende das experiências e oportunidades educativas proporcionadas pelos espaços. O tempo, o espaço e a sua articulação deverão adequar-se às características do grupo e necessidades de cada criança.
  • 43. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a Porque a organização do grupo, do espaço e do tempo cons- tituem o suporte do desenvolvimento curricular, importa que o educador reflicta sobre as potencialidades educativas que oferece, ou seja, que planeie esta organização e avalie o modo como contribui para a educação das crianças, intro- duzindo os ajustamentos e correcções necessários. ORGANIZAÇÃO DO MEIO INSTITUCIONAL Cada modalidade de educação pré-escolar tem característi- cas organizacionais próprias e uma especificidade que decorre da sua dimensão e dos recursos materiais e huma- nos de que dispõe. As diferentes modalidades de educação pré-escolar podem agrupar-se entre si ou integrar-se em estabelecimentos próxi- mos de outros níveis de ensino. Esta inserção num estabeleci- mento ou num território educativo constitui uma modalidade organizacional que permite tirar proveito de recursos humanos e materiais, facilitando ainda a continuidade educativa. Qualquer que seja a modalidade organizacional, trata-se de um contexto que permite o trabalho em equipa dos adultos que, na instituição ou instituições, têm um papel na educa- ção das crianças. As reuniões regulares, entre educadores, trabalho entre educadores e auxiliares de acção educativa, entre edu- em equipa cadores e professores, são um meio importante de forma- ção profissional com efeitos na educação das crianças. Cabe ao director pedagógico de cada estabelecimento ou 41 estabelecimentos, em colaboração com os educadores, encontrar as formas e os momentos de trabalho em equipa. Estas equipas podem ainda beneficiar do apoio de diferen- apoio tes profissionais, tais como professores de educação espe- de diferentes cial, psicólogos, trabalhadores sociais e outros que, enri- profissionais quecendo o trabalho da equipa, facilitam a procura de res- postas mais adequadas às crianças e às famílias.
  • 44. espaço Cada modalidade organizacional de educação pré-escolar educativo constitui um espaço educativo alargado que oferece múlti- alargado plas possibilidades de interacção entre crianças, entre gru- pos de crianças, entre crianças e adultos do estabelecimento educativo e, ainda, adultos de outras instituições e/ou níveis de ensino. participação Cada estabelecimento tem formas de funcionamento e normas das crianças que as crianças deverão conhecer. A participação das crianças na dinâmica na dinâmica institucional, em que a organização democrática institucional do grupo se amplia num contexto social mais alargado, é tam- bém uma forma de desenvolvimento pessoal e social. articulação No caso do estabelecimento de educação pré-escolar ofere- componente cer para além da componente educativa, a componente de educativa e apoio à família, estas duas componentes deverão ser pensa- componente das de forma articulada e complementar, de modo a que de apoio não haja repetições e sobreposições cansativas; são sobre- à familia tudo de evitar os tempos de espera inúteis que provocam mal estar e cansaço nas crianças. O trabalho em equipa torna-se fundamental para reflectir sobre a melhor forma de organizar o tempo e os recursos humanos, no sentido de uma acção articulada e concertada que responda às necessidades das crianças e dos pais. A organização da componente de apoio à família pode tam- bém beneficiar com o agrupamento de estabelecimentos de educação pré-escolar ou destes com estabelecimentos de outros níveis de ensino. 42 R ELAÇÃO COM OS PAIS E OUTROS PARCEIROS EDUCATIVOS A necessidade de comunicação com os pais ou encarregados de educação tem características muito próprias na educação pré-escolar, dada a idade das crianças e alguma dificuldade
  • 45. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a por parte da sociedade em compreender as finalidades, fun- ções e benefícios educativos da educação pré-escolar. A família e a instituição de educação pré-escolar são dois contextos sociais que contribuem para a educa- ção da mesma criança; importa por isso, que haja uma relação entre estes dois sistemas. As relações com os pais podem revestir várias formas e níveis níveis. Importa distinguir a relação que se estabelece com de relação cada família — que decorre do facto da educação pré-esco- família/ lar e a família serem dois contextos que contribuem para a estabelecimento educação da mesma criança — da relação organizacional que implica colectivamente os pais. A relação com cada família, resultante de pais e adultos da instituição serem co-educadores da mesma criança, centra- -se em cada criança, passando pela troca de informações sobre o que lhe diz respeito, como está na instituição, qual o seu progresso, os trabalhos que realiza... Porque os pais são os principais responsáveis pela educa- projecto ção das crianças têm também o direito de conhecer, esco- educativo do lher e contribuir para a resposta educativa que desejam para estabelecimento os seus filhos. Este é o sentido da participação dos pais no projecto educativo do estabelecimento que constitui a pro- posta educativa própria desse estabelecimento e a forma global como se organiza para dar resposta à educação das crianças, às necessidades dos pais e características da comunidade. Assim, o projecto educativo do estabeleci- mento deverá explicitar, de forma coerente, valores e inten- ções educativas, formas previstas para concretizar esses 43 valores e intenções (estratégias globais, horários, activida- des colectivas, etc.) e os meios da sua realização. O agrupamento de vários estabelecimentos de educação pré-escolar e /ou de outros níveis educativos implica a ela- boração de um projecto comum em que o projecto de cada estabelecimento se enquadra num projecto de território ou projecto local.
  • 46. A elaboração do projecto educativo do estabelecimento ou do território deverá envolver todos os adultos que exercem um papel na educação das crianças: a direcção e/ou o direc- tor pedagógico, o educador, o pessoal auxiliar e os pais. Este projecto constroi-se, assim, através de um processo de negociação em que se articulam diferentes perspectivas e interesses, de forma a chegar a um compromisso aceite por todos. participação Porque o projecto educativo do estabelecimento ou territó- de outros rio deve ter em conta o meio social em que vivem as crian- parceiros ças e famílias, há vantagens em que inclua a participação de outros parceiros da comunidade, como autarcas e outros serviços e instituições locais que podem contribuir para melhorar a resposta educativa proporcionada às crianças. orientação da O projecto educativo do estabelecimento ou território, estratégia como base de orientação da sua estratégia educativa, é um educativa instrumento dinâmico que evolui e se adapta às mudanças da comunidade, por isso este projecto deverá ir sendo repensado e reformulado, num processo que implica uma avaliação e reflexão realizada por todos os intervenientes. A participação dos diferentes intervenientes nem sempre é directa, podendo realizar-se através dos seus representan- tes. A existência de uma associação de pais, formalmente constituída, poderá facilitar a escolha de representantes e favorecer uma maior ligação com o conjunto dos pais. Estas associações podem desenvolver diversas iniciativas que beneficiam as funções educativas e os cuidados presta- dos pelo jardim de infância às crianças. projecto A necessidade de articular o projecto educativo do estabele- 44 eductivo/ cimento com o projecto educativo do educador não pode pedagógico levar a confundi-los. Trata-se de projectos de níveis e âmbi- do educador tos diferentes. O projecto do educador é um projecto educa- tivo/pedagógico que diz respeito ao grupo e contempla as opções e intenções educativas do educador e as formas como prevê orientar as oportunidades de desenvolvimento e apren- dizagem de um grupo. Este projecto adapta-se às caracterís- ticas de cada grupo, enquadra as iniciativas das crianças, os seus projectos individuais, de pequeno grupo ou de todo o
  • 47. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a grupo. Estes projectos, com duração e complexidade variá- veis, vão-se entrosando no projecto do educador que se con- cretiza e modifica com a participação das crianças. Mesmo que os educadores de um ou de vários estabeleci- mentos de educação pré-escolar desenvolvam um projecto pedagógico colectivo, este não se identifica com o projecto do estabelecimento ou território que se refere ao desenvol- vimento organizacional. Os pais e outros membros da comunidade podem também comunicação participar no projecto educativo do educador. A comunica- com os pais ção com os pais através de trocas informais e de reuniões são ocasiões de conhecer as suas expectativas educativas, de os esclarecer sobre o processo educativo a desenvolver com o grupo e de ouvir as suas sugestões. Os pais poderão, eventualmente, participar em situações educativas planea- das pelo educador para o grupo, vindo contar uma história, falar da sua profissão, colaborar em visitas e passeios, etc. Assim, a colaboração dos pais, e também de outros mem- contributo bros da comunidade, o contributo dos seus saberes e com- dos pais para petências para o trabalho educativo a desenvolver com as o trabalho crianças, é um meio de alargar e enriquecer as situações de educativo aprendizagem. O educador, ao dar conhecimento aos pais e a outros mem- bros da comunidade do processo e produtos realizados pelas crianças a partir das suas contribuições, favorece um clima de comunicação, de troca e procura de saberes entre crianças e adultos. A colaboração com cada família na educação da criança e a participação dos pais no projecto educativo do estabele- 45 cimento e no projecto educativo do educador são meios de esclarecimento e de compreensão do trabalho educativo que se realiza na educação pré-escolar. A participação dos representantes dos pais e dos representantes gestão de outros parceiros em órgãos de direcção do estabelecimento democrática do facilita esta interacção, correspondendo ao exercício da gestão estabelecimento democrática que se pretende para todo o sistema educativo.
  • 48. desenvolvimento Todas estas formas de comunicação e de participação e educação podem desempenhar um papel positivo no desenvolvi- de adultos mento e educação dos adultos, com efeitos na educação das crianças. Efeitos que se manifestam a curto prazo, mas que são particularmente importantes a médio e a longo prazo. A importância da participação dos pais e suas potencialida- des para a educação das crianças e para a formação dos adultos pressupõe que o educador, em colaboração com a direcção e/ou director pedagógico do estabelecimento de educação pré-escolar, encontre as melhores formas de motivar a participação dos pais, tendo em conta que as cri- anças são as mediadoras dessa relação. É por causa delas, e tendo em vista a sua educação, que estas relações têm sen- tido, embora contribuam também para o desenvolvimento dos adultos. participação O envolvimento dos pais e de outros parceiros educativos a construir constitui um processo que se vai construindo. Encontrar os meios mais adequados de promover a sua participação implica uma reflexão por parte do educador e da equipa sobre o nível e formas de participação desejáveis e as ini- ciativas a desenvolver, num processo que vai sendo corri- gido e ajustado de acordo com a avaliação realizada. 46
  • 49. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a ÁREAS DE CONTEÚDO "Área" é um termo habitual na educação pré-escolar para designar formas de pensar e organizar a intervenção do educador e as experiências proporcionadas às crianças. Esta organização toma por vezes como referência as gran- des áreas do desenvolvimento enunciadas pela psicologia — sócio-afectiva, motora, cognitiva — que deverão contri- buir para o desenvolvimento global da criança; outras vezes prefere-se pensar em termos de áreas de actividades, que se baseiam nas possiblidades oferecidas pelo espaço educativo, remetendo para diferentes formas de articula- ção. A expressão "Áreas de Conteúdo" utilizada neste docu- interligação mento fundamenta-se na perspectiva de que o desenvolvi- desenvolvimento mento e a aprendizagem são vertentes indissociáveis do aprendizagem processo educativo. Pressupondo a interligação entre desenvolvimento e aprendizagem, os conteúdos, ou seja, o que é contido nas diferentes áreas, são designados, neste documento, em termos de aprendizagem. Esta opção visa favorecer a articulação da educação pré-escolar com outros níveis do sistema educativo e facilitar a comunicação entre educadores e professores. 47 Consideram-se "áreas de conteúdo" como âmbitos de saber, com uma estrutura própria e com pertinência sócio-cultural, que incluem diferentes tipos de aprendizagem, não apenas conhecimentos, mas também atitudes e saber-fazer. As áreas de conteúdo supõem a realização de actividades, agir dado que a criança aprende a partir da exploração do para pensar mundo que a rodeia. Se a criança aprende a partir de acção, e compreender
  • 50. as áreas de conteúdo são mais do que áreas de actividades pois implicam que a acção seja ocasião de descobrir rela- ções consigo própria, com os outros e com os objectos, o que significa pensar e compreender. As diferentes áreas de conteúdo partem do nível de desen- volvimento da criança, da sua actividade espontânea e lúdica, estimulando o seu desejo de criar, explorar e trans- formar, para incentivar formas de acção reflectida e pro- gressivamente mais complexa. acesso Este processo educativo encara a criança como sujeito da a sistemas aprendizagem, tendo em conta o que cada uma já sabe e a simbólico- sua cultura, para lhe permitir aceder a uma cultura que se -culturais pode designar por "escolar", pois corresponde a sistemas codificados simbólico-culturais codificados. Esta cultura, ao adquirir sentido para a criança, constituirá o início da aprendizagem ao longo da vida, favorecendo simultaneamente a sua formação com vista a uma plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário. ARTICULAÇÃO DE CONTEÚDOS Tal como é habitual quando se utiliza o termo "área", a dis- tinção entre diferentes áreas de conteúdo corresponde a uma chamada de atenção para aspectos a contemplar, que devem ser vistos de forma articulada, visto que a constru- 48 ção do saber se processa de forma integrada, e que há inte- relações entre os diferentes conteúdos e aspectos formati- vos que lhes são comuns. Deste modo, as diferentes áreas de conteúdo deverão ser consideradas como referências a ter em conta no planea- mento e avaliação de experiências e oportunidades educa- tivas e não como compartimentos estanques a serem abor- dados separadamente.
  • 51. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a Esta perspectiva, que na educação pré-escolar se costuma perspectiva designar como globalizante, também se pretende atingir globalizante noutros níveis de ensino através da importância dada a con- teúdos transversais e à abordagem transdisciplinar do ensino e da aprendizagem. No sentido de favorecer a articulação de conteúdos, as Organização Orientações Curriculares assentam na Organização do do Ambiente Ambiente Educativo, enquanto contexto que deverá pro- Educativo mover vivências e experiências educativas que dêem sen- tido aos diferentes conteúdos, propondo a área de Formação Pessoal e Social como área integradora do pro- Formação cesso educativo. Aliás, a Organização do Ambiente Edu- Pessoal cativo e a área de Formação Pessoal e Social têm uma e Social íntima relação pois é através das interacções sociais com adultos significativos, com os seus pares e em grupo que a criança vai construindo o seu próprio desenvolvimento e aprendizagem. A Formação Pessoal e Social integra todas as outras áreas Expressão pois tem a ver com a forma como a criança se relaciona e Comunicação consigo própria, com os outros e com o mundo, num pro- cesso que implica o desenvolvimento de atitudes e valores, atravessando a área de Expressão e Comunicação com os seus diferentes domínios e a área de Conhecimento do Conhecimento Mundo que, também se articulam entre si. do Mundo O conhecimento e a relação com o mundo social e físico supõe formas de expressão e de comunicação que apelam para diferentes sistemas de representação simbólica que se integram na área de Expressão e Comunicação. Tendo consciência de que qualquer proposta de diferencia- ção de conteúdos se baseia numa análise sempre redutora, 49 procura-se apresentar, em cada um dos aspectos, possíveis ligações com outros. A referência a relações mais evidentes entre as várias áreas e domínios surge apenas a título indi- cativo, cabendo a cada educador encontrar outras possibili- dades. No processo de desenvolvimento e aprendizagem nas dife- intervenção rentes áreas de conteúdo privilegia-se a intervenção do do educador
  • 52. educador que, partindo do que a criança sabe e da sua acti- vidade espontânea: Articula a abordagem das diferentes áreas de conteúdo e domínios inscritos em cada uma, de modo a que se integrem num processo flexível de aprendizagem que corresponda às suas intenções e objectivos educativos e que tenha sentido para a criança. Esta articulação poderá partir da escolha de uma "entrada" por uma área ou domínio para chegar a todos os outros. Estabelece uma progressão de experiências e oportu- nidades de aprendizagem nas diferentes áreas de con- teúdos, tendo em conta o que observa da evolução do grupo e do desenvolvimento de cada criança. Apoia cada criança para que atinja níveis a que não chegaria por si só, facilitando uma aprendizagem coo- perada, que dê oportunidade às crianças de colabora- rem no processo de aprendizagem umas das outras. Diferencia o processo de aprendizagem, propondo situações que sejam suficientemente interessantes e desafiadoras de modo a estimular a criança, mas de 50 cuja exigência não resulte desencorajamento e dimi- nuição da auto-estima. Para esclarecer melhor o que se entende por cada área ou domínio, apresentam-se, ao longo do texto, alguns exem- plos que não esgotam as possibilidades de cada área, nem têm como intenção diferenciar níveis de desenvolvimento e
  • 53. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a aprendizagem. Os exemplos apresentados não pretendem, pois, ser limitativos das opções, das práticas e da criativi- dade do educador. ÁREA DE FORMAÇÃO PESSOAL E SOCIAL A criação de uma área de Formação Pessoal e Social para a qual deverão contribuir todas as componentes curriculares dos ensinos básico e secundário é um dos princípios em que se fundamenta a organização curricular do sistema educa- tivo. Esta área corresponde a um processo que deverá favo- recer, de acordo com as fases do desenvolvimento, a aqui- sição de espírito crítico e a interiorização de valores espiri- tuais, estéticos, morais e cívicos. A Formação Pessoal e Social é considerada uma área trans- área versal, dado que todas as componentes curriculares deverão transversal contribuir para promover nos alunos atitudes e valores que lhes permitam tornarem-se cidadãos conscientes e solidá- rios, capacitando-os para a resolução dos problemas da vida. Também a educação pré-escolar deve favorecer a for- mação da criança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo livre e solidário. Ao diferenciar esta área, as Orientações Curriculares pre- área tendem acentuar a sua importância e sublinhar as finali- integradora dades formativas de socialização que marcam a tradição da educação pré-escolar em Portugal, perspectivando-a como área integradora que enquadra e dá suporte a todas as outras. 51 A importância dada à área de Formação Pessoal e Social decorre ainda da perspectiva que o ser humano se constrói em interacção social, sendo influenciado e influenciando o meio que o rodeia. É nos contextos sociais em que vive, nas relações e interacções com outros, que a criança vai inte- riormente construindo referências que lhe permitem com- preender o que está certo e errado, o que pode e não pode
  • 54. fazer, os direitos e deveres para consigo e para com os outros. É na família e no meio sócio-cultural em que vive os pri- meiros anos que a criança inicia o seu desenvolvimento pes- soal e social, constituindo a educação pré-escolar um con- texto educativo mais alargado que vai permitir à criança inter- agir com outros adultos e crianças que têm, possivelmente, valores diferentes dos que interiorizou no seu meio de ori- gem. Ao possibilitar a interacção com diferentes valores e perspectivas, a educação pré-escolar constitui um contexto educação favorável para que a criança vá aprendendo a tomar consci- para ência e si e do outro. Desta forma a educação pré-escolar tem os valores um papel importante na educação para os valores. Valores que não se “ensinam”, mas que se vivem na acção conjunta e nas relações com os outros. É na inter-relação que a criança vai aprendendo a atribuir valor a comporta- mentos e atitudes seus e dos outros, conhecendo, reconhe- cendo e diferenciando modos de interagir. A educação para os valores acontece, assim, em situação, num processo pes- soal e social de procura do bem próprio e bem colectivo. valores São os valores subjacentes à prática do educador e o modo subjacentes como este os concretiza no quotidiano do jardim de infân- ao contexto cia, que permitem que a educação pré-escolar seja um con- relacional texto social e relacional facilitador da educação para os valores. As relações e interacções que o educador estabe- lece com cada criança e com o grupo, a forma como apoia as relações e interacções entre crianças no grupo, são o suporte dessa educação. Assim: 52 O desenvolvimento pessoal e social assenta na cons- tituição de um ambiente relacional securizante, em que a criança é valorizada e escutada, o que contribui para o seu bem-estar e auto-estima. A relação que o educador estabelece com cada criança, a forma como a valoriza e respeita, estimula e encoraja os seus progressos, contribuem para a auto-estima da criança
  • 55. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a e constituem um exemplo para as relações que as crianças estabelecerão entre si. Este processo de construção de um auto-conceito positivo supõe um apoio ao processo de cres- cimento em que cada criança e o grupo se vão tornando progressivamente mais independentes e autónomos. Favorecer a autonomia da criança e do grupo assenta na aquisição do saber-fazer indispensável à sua inde- pendência e necessário a uma maior autonomia, enquanto oportunidade de escolha e responsabilização. Adquirir maior independência significa, na educação pré- independência -escolar, ir dominando determinados saber-fazer — vestir- -se, despir-se, lavar-se, comer utilizando adequadamente os talheres, etc. — e também ser capaz de utilizar melhor os materiais e instrumentos à sua disposição — jogos, tintas, pincéis, lápis... A independência das crianças e do grupo passa também por autonomia uma apropriação do espaço e do tempo que constitui a base de uma progressiva autonomia, em que vai aprendendo a escolher, a preferir, a tomar decisões e a encontrar critérios e razões para as suas escolhas e decisões. A construção de autonomia supõe a capacidade individual partilha e colectiva de ir, progressivamente, assumindo responsabi- do poder lidades. Este processo de desenvolvimento pessoal e social decorre de uma partilha do poder entre o educador, as cri- anças e o grupo. A participação democrática na vida do grupo é um 53 meio fundamental de formação pessoal e social. Esta participação permite construir uma autonomia colectiva que passa por uma organização social participada em que as regras, elaboradas e negociadas entre todos, são com- preendidas pelo grupo, que se compromete a aceitá-las; também a decisão colectiva sobre as tarefas necessárias ao
  • 56. vivência bom funcionamento do grupo são equitativamente distribuí- de valores das, colaborando cada um para o bem estar colectivo. Estas democráticos são vivências de valores democráticos, tais como a partici- pação, a justiça, a responsabilização, a cooperação. ... Esta participação não passa apenas pela organização social do grupo, mas está presente no processo de aprendizagem, em que as crianças são consultadas sobre a organização do espaço e do tempo, tomam a iniciativa de actividades, cola- boram nas propostas do educador e das outras crianças, cooperando em projectos comuns. consciência A vida em grupo implica o confronto de opiniões e a solução de diferentes de conflitos que permite uma primeira tomada de consciência valores de perspectivas e valores diferentes, que suscitarão a necessi- dade de debate e negociação, de modo a fomentar atitudes de tolerância, compreensão do outro, respeito pela diferença. A aprendizagem destes valores decorre do respeito que o educador manifesta por cada criança e pela sua cultura. Interagir com o outro, que é diferente, permite tomar cons- ciência de si próprio em relação ao outro. desenvolvimento O desenvolvimento da identidade passa pelo reconheci- da identidade mento das características individuais e pela compreensão das capacidades e limitações próprias de cada um, quaisquer que estas sejam. O respeito pela diferença, que valoriza a diversidade de contributos individuais para o enriqueci- mento do grupo, favorece a construção da identidade, a auto-estima e o sentimento de pertencer a um grupo, facili- tando também o desenvolvimento colectivo. Reconhecer laços de pertença social e cultural, respeitando 54 outras culturas faz também parte do desenvolvimento da identidade. educação A aceitação da diferença sexual, social e étnica é facilita- multicultural dora da igualdade de oportunidades num processo educa- tivo que respeita diferentes maneiras de ser e de saber, para dar sentido à aquisição de novos saberes e culturas. É numa perspectiva de educação multicultural que se constrói uma maior igualdade de oportunidades entre mulheres e
  • 57. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a homens, entre indivíduos de diferentes classes sociais e de diferentes etnias. Mas, se as vivências proporcionadas pela participação na organização do ambiente educativo e pela participação na aprendizagem em grupo contribuem para a tomada de consciência de valores espirituais e éticos, a organização material deste ambiente deverá favorecer os valores estéti- cos. Por isso, se acentua a importância de que o ambiente educativo da sala e da instituição — equipamento, materi- ais, decoração — corresponda a critérios estéticos que favoreçam a educação do gosto. A educação estética, partindo do contexto educativo da educação educação pré-escolar, estará presente no contacto com dife- estética rentes formas de expressão artística que serão meios de educação da sensibilidade. O contacto com o meio envol- vente, com a natureza e com a cultura, permitirão às crian- ças apreciar a beleza em diferentes contextos e situações. A educação estética enquanto fruição da natureza e da cultura relaciona-se com a área de Expressão e Comunicação e também com o Conhecimento do Mundo. A educação para a cidadania, baseada na aquisição de um educação para espírito crítico e da interiorização de valores, pressupõe a cidadania conhecimentos e atitudes que poderão iniciar-se na educa- ção pré-escolar através da abordagem de temas transver- sais, tais como: educação multicultural, educação sexual, educação para a saúde, educação para a prevenção de aci- dentes, educação do consumidor. Estes são aspectos da Formação Pessoal e Social que se relacionam com o Conhecimento do Mundo. Deste modo, precisa-se o sentido da Formação Pessoal e 55 Social como área de conteúdo integradora pois, correspon- dendo a uma intencionalidade própria, inscreve-se em todas as outras.
  • 58. ÁREA DE EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO A área de expressão e comunicação engloba as aprendiza- gens relacionadas com o desenvolvimento psicomotor e simbólico que determinam a compreensão e o progressivo domínio de diferentes formas de linguagem. Esta é a única área em que se distinguiram vários domínios. Domínios que se consideraram dever estar intimamente relacionados, porque todos eles se referem à aquisição e à aprendizagem de códigos que são meios de relação com os outros, de recolha de informação e de sensibilização esté- tica, indispensáveis para a criança representar o seu mundo interior e o mundo que a rodeia. Numa idade em que as crianças ainda se servem muitas vezes do imaginário para superar lacunas de compreensão do real, importa que a educação pré-escolar proporcione situações de distinção entre o real e o imaginário e forneça suportes que permitam desenvolver a imaginação criadora como procura e descoberta de soluções e exploração de diferentes “mundos”. área básica Estas características levam a considerá-la uma área básica de conteúdos porque incide sobre aspectos essenciais do desenvolvimento e da aprendizagem e engloba instrumen- tos fundamentais para a criança continuar a aprender ao longo da vida. Ao iniciar a educação pré-escolar, a criança já realizou algumas aquisições básicas nos diferentes domínios da área 56 de expressão e comunicação. Estas são o ponto de partida para o educador favorecer o contacto com as várias formas de expressão e comunicação, proporcionando o prazer de apropriação realizar novas experiências, valorizando as descobertas da de meios criança, apoiando a reflexão sobre estas experiências e des- de expressão cobertas, de modo a permitir uma apropriação dos diferen- e comunicação tes meios de expressão e comunicação. Este processo implica planear e proporcionar situações de aprendizagem diversificadas e progressivamente mais complexas.
  • 59. I n t e r v e n ç ã o E d u c a t i v a Ao incluir vários domínios numa mesma área não se pro- cura minimizar a importância fundamental de cada um, nem tão pouco das vertentes mencionadas em relação a alguns deles, mas apenas acentuar a sua inter-relação. A junção numa mesma área, embora com designações um pouco diferentes, de conteúdos que são referidos nos pro- gramas do 1.o ciclo, como: expressão e educação físico- motora, expressão musical, expressão dramática, expressão plástica, língua portuguesa e matemática, decorre de uma perspectiva mais globalizante que acentua a articulação entre eles. Domínio das expressões motora, dramática, plástica e musical Podem diferenciar-se neste domínio quatro vertentes — expres- são motora, expressão dramática, expressão plástica e expressão musical — que têm a sua especificidade própria, mas que não podem ser vistas de forma totalmente independente, por se complementarem mutuamente. O domínio das diferentes formas de expressão implica diversificar as situações e experiências de aprendizagem, de modo a que a criança vá domi- nando e utilizando o seu corpo e contactando com diferentes materiais que poderá explorar, manipular e transformar de forma a tomar consciência de si pró- prio na relação com os objectos. 57 As formas de expressão que de seguida se abordam, indi- cando algumas das suas relações, são também meios de comunicação que apelam para uma sensiblização estética e exigem o progressivo domínio de instrumentos e técnicas. Esse domínio pressupõe a intervenção do educador e, por isso, as diferentes formas de expressão comportam uma