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CCOOMMOO SSUURRGGIIUU
Nos ambientes de cocriação associados ou derivados do Festival de Ideias,
surgiu no LABE=R, em 9 de julho de 2013, a ideia de fazer um OCCUPY
#VOUPRAPRAÇA. Quando a ideia surgiu propôs-se cocriá-la
experimentalmente em um praça. Foi aberto então um evento no
Facebook nos seguintes termos:
"Não sabemos o que será. Sabemos apenas que as pessoas que virão serão
as pessoas certas. Que acontecerão as coisas que poderão acontecer. Que
este é o momento certo para começar. E que quando terminar, terminou.
Neste primeiro dia - sábado 13 de junho de 2013 - vamos fazer, na
verdade, uma cocriação de como será. Isso significa que também não
2
sabemos como será. Só sabemos mais ou menos o que queremos. E
sobretudo o que não-queremos".
Pois bem. O evento aconteceu de fato, na Praça Haroldo Valadão, na Vila
Madalena, em São Paulo, das 09h30 às 16h00 do dia 13 de junho de 2013.
Vários grupos se formaram e cocriaram muitas coisas. Vou escrever abaixo
a minha visão do programa. É uma visão estritamente pessoal (de Augusto
de Franco em 15 de julho de 2013).
CCOOMMOO VVEEJJOO OO PPRROOGGRRAAMMAA
3
OCCUPY #VOUPRAPRAÇA é um programa aberto de desobediência que
tem como objetivo construir espaços públicos-sociais em praças e ruas de
qualquer lugar por meio da cocriação de novos modos de convivência.
A expressão #VOUPRAPRAÇA evoca a praça como símbolo do espaço (que
deveria ser) público, mas que só o será efetivamente se for publicizado, se
for convertido em campo para o surgimento de um ambiente comum (no
sentido de commons). E isso só acontecerá quando as pessoas
construírem nele um novo ambiente regido por uma racionalidade - e
sobretudo uma emocionalidade - cooperativa (não basta estar declarado
em lei que se trata de um espaço público: na verdade isso só significa
estatal, não público em termos sociais).
OCCUPY #VOUPRAPRAÇA não é um programa proprietário de alguma
instituição. Não tem direção, coordenação ou liderança. Não quer
organizar as pessoas, recrutá-las para um movimento ou entidade ou
aplicar nelas alguma metodologia. É apenas um software livre que ficará
disponível para quem dele quiser fazer uso, para forkeá-lo ou hackeá-lo.
É um programa sem tema definido: em cada iniciativa concreta de
ocupação as pessoas definem o que vão cocriar e o que vão fazer. Pode
ser uma horta comunitária, uma proposta de livre-aprendizagem, uma
peça de teatro, uma oficina de cartazes ou de lixeiras, um conjunto de
ações de desenvolvimento local etc. Pode ser, inclusive, uma seção
coletiva de namoro ou uma refeição de centenas de pessoas sentadas na
rua interrompendo o tráfego. Sempre em clima de festa, não de reunião.
Sim, é um programa mais lírico do que épico. Uma de suas inspirações é o
BEIJAÇO tunisiano, que ocorreu em julho de 2013 após a prisão dum casal
4
tunisino por ter trocado beijos em público. Então casais de tunisinos
juntaram-se na Avenida Bourguiba, em Tunis, para um gigantesco desfile,
onde durante horas trocaram beijos em apoio ao casal detido, com o
slogan: "Eles que prendam todos os apaixonados da Tunísia".
Os hierarcas estão sempre tentando construir um inimigo, porque é assim
que o sistema se reproduz. Agora se você largar a vibe épica (da luta) e
abraçar a lírica (da convivência amorosa, gratuita), babau prá eles. Por isso
o BEIJAÇO tunisiano foi muito mais disruptivo do que qualquer
enfrentamento. Assim como o GRANDE JANTAR DESOBEDIENTE - servido
no chão da Avenida Istiklal, em Istambul, na Turquia, no dia 9 de julho de
2013.
5
O sistema não sabe como lidar com isso e se desconstrói pela alegria, pelo
riso, pela brincadeira, pela música, pela dança, pela carícia, pela relação
sensual e por tudo que é capaz de precipitar uma emocionalidade
cooperativa.
Quando isso acontece - à revelia dos que querem que você obedeça -
profundas mudanças moleculares começam a ocorrer,
subterraneamente...
Como escreveu Nilton Lessa em um comentário no Facebook
(19/06/2013): "Nada seria mais revolucionário, subversivo e perturbador
6
para o mundo hierárquico. Festejar e não lutar; conviver e não combater;
mover-se e não estagnar; viver-e-morrer e não eternizar".
OCCUPY #VOUPRAPRAÇA é como jogar uma bomba. Quando a bomba
explode abre uma bolha que permite que novos modos de convivência
social aconteçam no seu interior. É claro que a bolha é uma zona
autônoma temporária. Ela logo será fechada pela pressão ambiental do
mundo hierárquico e então será necessário jogar outra bomba criativa
para abrir outra bolha.
A bomba criativa é uma metáfora para dizer que é necessário quebrar as
rotinas estabelecidas. Se não forem interrompidas, essas rotinas
replicarão indefinidamente comportamentos muito semelhantes,
conservando modos de vida e convivência social que já foram absorvidos
pelo sistema.
Por isso é necessária a desobediência. Não só a desobediência explícita ou
implícita às autoridades, mas a desobediência mais geral às rotinas do
sistema, deixando de fazer as coisas da mesma maneira, quer dizer, da
maneira como todo mundo faz. Por exemplo, fazer um pic nic no parque é
uma coisa bacana, mas não tem o mesmo efeito disruptivo sobre as velhas
rotinas do que ocupar uma rua, interromper o trânsito e promover um
grande almoço coletivo (como estão fazendo lá na Turquia neste mês de
julho de 2013).
Como disse o Fernando Baptista (durante o OCCUPY #VOUPRAPRAÇA que
aconteceu no dia 13 de julho de 2013, na Praça Haroldo Valadão, na Vila
Madalena, em São Paulo), a bomba criativa (não-repetitiva) é fazer uma
7
coisa diferente (ou de um modo diferente) que configure um novo
ambiente, mais em rede distribuída, com menos obstruções de fluxos.
Então numa ocupação do tipo #VOUPRAPRAÇA nunca se pede permissão
às autoridades para fazer nada que as pessoas queiram fazer. Ocupa-se e
pronto. Se alguém proibir ou reprimir então se resiste pacificamente. Mas
ativamente.
Também não se discute nada para levar para as autoridades fazerem,
como acontece em associações de moradores ou nos chamados
movimentos sociais setoriais. Não é para fazer assembléias populares,
listar e aprovar plataformas de lutas, programas ou elaborar planilhas de
reivindicações.
Não é um programa para organizar platéias para candidatos, cabos
eleitorais, representantes políticos eleitos ou funcionários
governamentais. Não é para arrebanhar o povo para facilitar a "pesca em
aquário" de militantes partidários. Não é um programa para auxiliar o
Estado nas suas tarefas, nem para acumular forças para colocar novos
representantes no Estado.
O alvo não é tomar - eleitoralmente ou pela força - o poder (e, uma vez
tomado, reeditar, mais cedo ou mais tarde, os mesmos comportamentos,
antes criticados, dos seus velhos ocupantes) e sim desencadear mudanças
de comportamento que possam ser exponencialmente propagadas como
mudanças de comportamento alterando o sistema.
É para ocupar, para cocriar e para fazer-juntos (não para discutir o que os
outros devem fazer).
8
Mas, muito importante: a vibe não é guerreira e sim de fazer amigos.
E é para configurar ambientes em que a dinâmica seja a da criação livre,
quer dizer, sem qualquer tipo de facilitação. É uma espécie de Festival na
praça, ou, melhor ainda, de festa na praça. Por tudo isso, a tag
#VOUPRAPRAÇA será mais legal quando se transformar em
VOUPRAFESTA
NNAADDAA DDEE OORRGGAANNIIZZAARR MMOOVVIIMMEENNTTOO
Não tenho a menor vontade de organizar movimentos. O OCCUPY
VOUPRAPRAÇA para mim não é um movimento. Nem uma organização. É
apenas mais uma cocriação de um ambiente de livre-interação. Por mim,
tudo que está acontecendo, juntamente com as opiniões das pessoas
sobre o que está acontecendo (ou vai acontecer) ficaria em algum lugar
visível (como um código aberto) para as pessoas que quisessem ver,
vissem. Para as que quisessem clonar, clonassem. Para as que quisessem
hackear, hackeassem. Para as que quisessem forkear, forkeassem.
Imagino que seria bacana colocar tudo que vai acontecendo num mesmo
lugar. Ou em lugares diferentes com a mesma tag. Mas se não acontecer,
tanto faz. As pessoas também podem publicar o que estão fazendo de
parecido com o OCCUPY VOUPRAPAÇA em lugares diferentes sem tag. Ou
não publicar em lugar algum. Podem, ainda, dar outros nomes ao que
estão fazendo ou querem fazer de parecido. Podem inventar novas tags.
Enfim podem fazer o que bem entenderem.
9
Nada de organizar. Nem mesmo de unificar, juntar, reunir. Frank Hebert,
numa passagem de O Messias de Duna (1969) que não me canso de citar,
escreveu que "Não reunir é a derradeira ordenação". É isso aee.
Não vou nem mesmo comparecer ou acompanhar todos os outros
OCCUPY #VOUPRAPRAÇA que porventura surgirem. Vou só naqueles que
tiver desejo de ir.
Digo estas palavras porque tenho sido procurado por muita gente que
está querendo organizar movimentos (para não deixar a energia das
manifestações de junho se dissipar), assembleias populares para aprovar
propostas de manifestações e reivindicações, diálogos para saber o que o
povo realmente quer (na hipótese de que "o povo" ainda não sabe o que
quer porque ainda não foi organizado devidamente para ter um foco,
fazer um programa, aprovar uma plataforma e blá-blá-bla).
10
Então algumas pessoas têm me procurado para a gente fundir as
propostas, somar esforços e outras besteiras semelhantes. Ora, não
respondo pelo OCCUPY #VOUPRAPRAÇA (que, a rigor, nem existe ainda
como experiência continuada ou repetida: o que tivemos foi apenas um
exercício de cocriação dessa iniciativa, feito numa praça). Nunca vou
responder pela iniciativa, nem representá-la.
Tenho dito aos que me procuram que se puder fazer alguma coisa será
para desorganizar o que eles estão querendo organizar.
Augusto de Franco, 15/07/2013

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Escritos Espirituais de Augusto de FrancoEscritos Espirituais de Augusto de Franco
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OCCUPY #VOUPRAPRAÇA

  • 1. 1 CCOOMMOO SSUURRGGIIUU Nos ambientes de cocriação associados ou derivados do Festival de Ideias, surgiu no LABE=R, em 9 de julho de 2013, a ideia de fazer um OCCUPY #VOUPRAPRAÇA. Quando a ideia surgiu propôs-se cocriá-la experimentalmente em um praça. Foi aberto então um evento no Facebook nos seguintes termos: "Não sabemos o que será. Sabemos apenas que as pessoas que virão serão as pessoas certas. Que acontecerão as coisas que poderão acontecer. Que este é o momento certo para começar. E que quando terminar, terminou. Neste primeiro dia - sábado 13 de junho de 2013 - vamos fazer, na verdade, uma cocriação de como será. Isso significa que também não
  • 2. 2 sabemos como será. Só sabemos mais ou menos o que queremos. E sobretudo o que não-queremos". Pois bem. O evento aconteceu de fato, na Praça Haroldo Valadão, na Vila Madalena, em São Paulo, das 09h30 às 16h00 do dia 13 de junho de 2013. Vários grupos se formaram e cocriaram muitas coisas. Vou escrever abaixo a minha visão do programa. É uma visão estritamente pessoal (de Augusto de Franco em 15 de julho de 2013). CCOOMMOO VVEEJJOO OO PPRROOGGRRAAMMAA
  • 3. 3 OCCUPY #VOUPRAPRAÇA é um programa aberto de desobediência que tem como objetivo construir espaços públicos-sociais em praças e ruas de qualquer lugar por meio da cocriação de novos modos de convivência. A expressão #VOUPRAPRAÇA evoca a praça como símbolo do espaço (que deveria ser) público, mas que só o será efetivamente se for publicizado, se for convertido em campo para o surgimento de um ambiente comum (no sentido de commons). E isso só acontecerá quando as pessoas construírem nele um novo ambiente regido por uma racionalidade - e sobretudo uma emocionalidade - cooperativa (não basta estar declarado em lei que se trata de um espaço público: na verdade isso só significa estatal, não público em termos sociais). OCCUPY #VOUPRAPRAÇA não é um programa proprietário de alguma instituição. Não tem direção, coordenação ou liderança. Não quer organizar as pessoas, recrutá-las para um movimento ou entidade ou aplicar nelas alguma metodologia. É apenas um software livre que ficará disponível para quem dele quiser fazer uso, para forkeá-lo ou hackeá-lo. É um programa sem tema definido: em cada iniciativa concreta de ocupação as pessoas definem o que vão cocriar e o que vão fazer. Pode ser uma horta comunitária, uma proposta de livre-aprendizagem, uma peça de teatro, uma oficina de cartazes ou de lixeiras, um conjunto de ações de desenvolvimento local etc. Pode ser, inclusive, uma seção coletiva de namoro ou uma refeição de centenas de pessoas sentadas na rua interrompendo o tráfego. Sempre em clima de festa, não de reunião. Sim, é um programa mais lírico do que épico. Uma de suas inspirações é o BEIJAÇO tunisiano, que ocorreu em julho de 2013 após a prisão dum casal
  • 4. 4 tunisino por ter trocado beijos em público. Então casais de tunisinos juntaram-se na Avenida Bourguiba, em Tunis, para um gigantesco desfile, onde durante horas trocaram beijos em apoio ao casal detido, com o slogan: "Eles que prendam todos os apaixonados da Tunísia". Os hierarcas estão sempre tentando construir um inimigo, porque é assim que o sistema se reproduz. Agora se você largar a vibe épica (da luta) e abraçar a lírica (da convivência amorosa, gratuita), babau prá eles. Por isso o BEIJAÇO tunisiano foi muito mais disruptivo do que qualquer enfrentamento. Assim como o GRANDE JANTAR DESOBEDIENTE - servido no chão da Avenida Istiklal, em Istambul, na Turquia, no dia 9 de julho de 2013.
  • 5. 5 O sistema não sabe como lidar com isso e se desconstrói pela alegria, pelo riso, pela brincadeira, pela música, pela dança, pela carícia, pela relação sensual e por tudo que é capaz de precipitar uma emocionalidade cooperativa. Quando isso acontece - à revelia dos que querem que você obedeça - profundas mudanças moleculares começam a ocorrer, subterraneamente... Como escreveu Nilton Lessa em um comentário no Facebook (19/06/2013): "Nada seria mais revolucionário, subversivo e perturbador
  • 6. 6 para o mundo hierárquico. Festejar e não lutar; conviver e não combater; mover-se e não estagnar; viver-e-morrer e não eternizar". OCCUPY #VOUPRAPRAÇA é como jogar uma bomba. Quando a bomba explode abre uma bolha que permite que novos modos de convivência social aconteçam no seu interior. É claro que a bolha é uma zona autônoma temporária. Ela logo será fechada pela pressão ambiental do mundo hierárquico e então será necessário jogar outra bomba criativa para abrir outra bolha. A bomba criativa é uma metáfora para dizer que é necessário quebrar as rotinas estabelecidas. Se não forem interrompidas, essas rotinas replicarão indefinidamente comportamentos muito semelhantes, conservando modos de vida e convivência social que já foram absorvidos pelo sistema. Por isso é necessária a desobediência. Não só a desobediência explícita ou implícita às autoridades, mas a desobediência mais geral às rotinas do sistema, deixando de fazer as coisas da mesma maneira, quer dizer, da maneira como todo mundo faz. Por exemplo, fazer um pic nic no parque é uma coisa bacana, mas não tem o mesmo efeito disruptivo sobre as velhas rotinas do que ocupar uma rua, interromper o trânsito e promover um grande almoço coletivo (como estão fazendo lá na Turquia neste mês de julho de 2013). Como disse o Fernando Baptista (durante o OCCUPY #VOUPRAPRAÇA que aconteceu no dia 13 de julho de 2013, na Praça Haroldo Valadão, na Vila Madalena, em São Paulo), a bomba criativa (não-repetitiva) é fazer uma
  • 7. 7 coisa diferente (ou de um modo diferente) que configure um novo ambiente, mais em rede distribuída, com menos obstruções de fluxos. Então numa ocupação do tipo #VOUPRAPRAÇA nunca se pede permissão às autoridades para fazer nada que as pessoas queiram fazer. Ocupa-se e pronto. Se alguém proibir ou reprimir então se resiste pacificamente. Mas ativamente. Também não se discute nada para levar para as autoridades fazerem, como acontece em associações de moradores ou nos chamados movimentos sociais setoriais. Não é para fazer assembléias populares, listar e aprovar plataformas de lutas, programas ou elaborar planilhas de reivindicações. Não é um programa para organizar platéias para candidatos, cabos eleitorais, representantes políticos eleitos ou funcionários governamentais. Não é para arrebanhar o povo para facilitar a "pesca em aquário" de militantes partidários. Não é um programa para auxiliar o Estado nas suas tarefas, nem para acumular forças para colocar novos representantes no Estado. O alvo não é tomar - eleitoralmente ou pela força - o poder (e, uma vez tomado, reeditar, mais cedo ou mais tarde, os mesmos comportamentos, antes criticados, dos seus velhos ocupantes) e sim desencadear mudanças de comportamento que possam ser exponencialmente propagadas como mudanças de comportamento alterando o sistema. É para ocupar, para cocriar e para fazer-juntos (não para discutir o que os outros devem fazer).
  • 8. 8 Mas, muito importante: a vibe não é guerreira e sim de fazer amigos. E é para configurar ambientes em que a dinâmica seja a da criação livre, quer dizer, sem qualquer tipo de facilitação. É uma espécie de Festival na praça, ou, melhor ainda, de festa na praça. Por tudo isso, a tag #VOUPRAPRAÇA será mais legal quando se transformar em VOUPRAFESTA NNAADDAA DDEE OORRGGAANNIIZZAARR MMOOVVIIMMEENNTTOO Não tenho a menor vontade de organizar movimentos. O OCCUPY VOUPRAPRAÇA para mim não é um movimento. Nem uma organização. É apenas mais uma cocriação de um ambiente de livre-interação. Por mim, tudo que está acontecendo, juntamente com as opiniões das pessoas sobre o que está acontecendo (ou vai acontecer) ficaria em algum lugar visível (como um código aberto) para as pessoas que quisessem ver, vissem. Para as que quisessem clonar, clonassem. Para as que quisessem hackear, hackeassem. Para as que quisessem forkear, forkeassem. Imagino que seria bacana colocar tudo que vai acontecendo num mesmo lugar. Ou em lugares diferentes com a mesma tag. Mas se não acontecer, tanto faz. As pessoas também podem publicar o que estão fazendo de parecido com o OCCUPY VOUPRAPAÇA em lugares diferentes sem tag. Ou não publicar em lugar algum. Podem, ainda, dar outros nomes ao que estão fazendo ou querem fazer de parecido. Podem inventar novas tags. Enfim podem fazer o que bem entenderem.
  • 9. 9 Nada de organizar. Nem mesmo de unificar, juntar, reunir. Frank Hebert, numa passagem de O Messias de Duna (1969) que não me canso de citar, escreveu que "Não reunir é a derradeira ordenação". É isso aee. Não vou nem mesmo comparecer ou acompanhar todos os outros OCCUPY #VOUPRAPRAÇA que porventura surgirem. Vou só naqueles que tiver desejo de ir. Digo estas palavras porque tenho sido procurado por muita gente que está querendo organizar movimentos (para não deixar a energia das manifestações de junho se dissipar), assembleias populares para aprovar propostas de manifestações e reivindicações, diálogos para saber o que o povo realmente quer (na hipótese de que "o povo" ainda não sabe o que quer porque ainda não foi organizado devidamente para ter um foco, fazer um programa, aprovar uma plataforma e blá-blá-bla).
  • 10. 10 Então algumas pessoas têm me procurado para a gente fundir as propostas, somar esforços e outras besteiras semelhantes. Ora, não respondo pelo OCCUPY #VOUPRAPRAÇA (que, a rigor, nem existe ainda como experiência continuada ou repetida: o que tivemos foi apenas um exercício de cocriação dessa iniciativa, feito numa praça). Nunca vou responder pela iniciativa, nem representá-la. Tenho dito aos que me procuram que se puder fazer alguma coisa será para desorganizar o que eles estão querendo organizar. Augusto de Franco, 15/07/2013