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Em pílulas
Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             81
             (Corresponde ao segundo tópico do Capítulo 10,
                  intitulado Mundos-bebês em gestação)




                   Inove permanentemente

Colocar-se em processo de inovação permanente é viver em processo de
Ítaca (ou em processo de fluzz)

Nos Highly Connected Worlds estamos todos condenados a inovar
permanentemente. Não se trata mais de buscar uma grande inovação para
viver dela até o fim da vida: coroar uma bela carreira, inaugurar um grande
empreendimento ou amealhar uma fabulosa fortuna. A inovação passa a ser
o modo cotidiano de viver e conviver.

A maior parte dos sistemas de inovação urdidos por organizações
hierárquicas são, de fato, contra a inovação. Não querem a inovação,
querem a inovação que eles querem. Ora, mas se eles já sabem qual é a
inovação que deve acontecer, então não é inovação. Se fosse, não
poderiam conhecê-la de antemão. Via de regra acabam constituindo escolas
de inovação (que são túmulos para as novas idéias). Querem usar as novas
idéias para justificar as velhas (porque suas escolas, lato sensu, nada mais
são do que coagulações de velhas idéias).

Em termos de idéias, a inovação acontece quando os muros epistemológicos
são perfurados por hifas, viabilizando a polinização, a fertilização cruzada
entre campos do conhecimento que foram separados (pelas escolas).

Grande parte dos que falam em inovação não são inovadores. Inovador é
quem inova, não quem fala como a inovação deve ser. Para inovar você
deve fazer o contrário do que lhe dizem, do que querem ouvir de você, do
que esperam que você faça. Simplesmente, faça diferente. Para tanto, você
tem que ter liberdade. Como já foi dito, o espírito de liberdade é a fonte de
toda criatividade. Você não pode inovar sob encomenda e vigilância de um
sistema que quer que você inove, sim, ma non troppo. É como se lhe
dissessem: inove, mas não exagere: não saia fora de nossa visão, não
bagunce nossos processos, não desarrume nosso modelo de gestão. A
mesma pulsão de morte que exige obediência para disciplinar a interação,
quer também disciplinar a inovação.

De modo geral, toda inovação é fluzz. Mas inovação-fluzz propriamente dita
é aquela que aumenta a interatividade. Grandes inovações-fluzz serão, por
exemplo, aquelas que favorecem a articulação de interworlds (por isso os
inovadores-fluzz têm muito com que se ocupar na construção das novas
internets distribuídas). Ou, dizendo de outro modo, na construção de
“membranas sociais”. Ou, ainda, na remoção das separações: entre pessoas
(inclusive entre pessoas que falam idiomas diferentes), entre quem busca e
quem gera conhecimento, entre dispositivos tecnológicos e o corpo humano
e entre pessoas e não-pessoas.

Você quer inovar seguindo o curso (ou surfando na onda-fluzz)? Não seja
por falta de pauta. Tudo que você inventar para remover a centralização
das comunicações e para superar a descentralização da Internet (em
direção a mais distribuição) será inovação-fluzz. Tudo que você inventar
para oferecer alternativas às caixas-pretas onde alguém trancou um
algorítmo, um programa, um conhecimento (para poder viver à custa de
sua inovação aprisionada), será inovação-fluzz. Tudo que você inventar
para derrubar a barreira da língua será inovação-fluzz. Tudo que você
inventar para ensejar que cada busca crie novos significados, evitando que
significados únicos sejam arquivados de modo centralizado, será inovação-



                                     2
fluzz. Tudo que você inventar para aproximar do corpo humano dipositivos
tecnológicos nômades que intensifiquem a interação, será inovação-fluzz.

Se você quer inovar no mundo digital, nada de copiar os Gates, os Jobs, os
Pages, os Stones e os Zuckerbergs. Hoje o signo da mudança não está mais
com essa gente e sim, por um lado, com os que estão retomando o espírito
libertário dos primórdios e introduzindo inovações em prol do surgimento de
government-less internets (em projetos como Openet, Netsukuku,
Openmesh, Daihimia, Digitata, Freifunk e wlanljubljana) e, por outro lado,
com os que estão tentando construir plataformas i-based adequadas ao
netweaving de redes distribuídas.

Esses são apenas alguns exemplos, apresentados a título ilustrativo, para
tentar tornar compreensível um sentido. A rigor, não há como fazer uma
pauta concreta das inovações-fluzz porque uma verdadeira inovação-fluzz
(como qualquer inovação) é aquela que sequer conseguimos imaginar antes
que apareça. Isso não significa, entretanto, que não possamos afirmar que
o sentido do curso é +interatividade.

Além da desobediência aos que querem aprisioná-lo no mundo de baixa
interatividade, para poder se colocar em processo de inovação permanente
(ou em processo de Ítaca = em processo de fluzz) você precisa sair da
prisão que você mesmo construiu para você ao se aquartelar no seu
quadrado para enfrentar o “mundo exterior”.




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  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 81 (Corresponde ao segundo tópico do Capítulo 10, intitulado Mundos-bebês em gestação) Inove permanentemente Colocar-se em processo de inovação permanente é viver em processo de Ítaca (ou em processo de fluzz) Nos Highly Connected Worlds estamos todos condenados a inovar permanentemente. Não se trata mais de buscar uma grande inovação para viver dela até o fim da vida: coroar uma bela carreira, inaugurar um grande empreendimento ou amealhar uma fabulosa fortuna. A inovação passa a ser o modo cotidiano de viver e conviver. A maior parte dos sistemas de inovação urdidos por organizações hierárquicas são, de fato, contra a inovação. Não querem a inovação,
  • 2. querem a inovação que eles querem. Ora, mas se eles já sabem qual é a inovação que deve acontecer, então não é inovação. Se fosse, não poderiam conhecê-la de antemão. Via de regra acabam constituindo escolas de inovação (que são túmulos para as novas idéias). Querem usar as novas idéias para justificar as velhas (porque suas escolas, lato sensu, nada mais são do que coagulações de velhas idéias). Em termos de idéias, a inovação acontece quando os muros epistemológicos são perfurados por hifas, viabilizando a polinização, a fertilização cruzada entre campos do conhecimento que foram separados (pelas escolas). Grande parte dos que falam em inovação não são inovadores. Inovador é quem inova, não quem fala como a inovação deve ser. Para inovar você deve fazer o contrário do que lhe dizem, do que querem ouvir de você, do que esperam que você faça. Simplesmente, faça diferente. Para tanto, você tem que ter liberdade. Como já foi dito, o espírito de liberdade é a fonte de toda criatividade. Você não pode inovar sob encomenda e vigilância de um sistema que quer que você inove, sim, ma non troppo. É como se lhe dissessem: inove, mas não exagere: não saia fora de nossa visão, não bagunce nossos processos, não desarrume nosso modelo de gestão. A mesma pulsão de morte que exige obediência para disciplinar a interação, quer também disciplinar a inovação. De modo geral, toda inovação é fluzz. Mas inovação-fluzz propriamente dita é aquela que aumenta a interatividade. Grandes inovações-fluzz serão, por exemplo, aquelas que favorecem a articulação de interworlds (por isso os inovadores-fluzz têm muito com que se ocupar na construção das novas internets distribuídas). Ou, dizendo de outro modo, na construção de “membranas sociais”. Ou, ainda, na remoção das separações: entre pessoas (inclusive entre pessoas que falam idiomas diferentes), entre quem busca e quem gera conhecimento, entre dispositivos tecnológicos e o corpo humano e entre pessoas e não-pessoas. Você quer inovar seguindo o curso (ou surfando na onda-fluzz)? Não seja por falta de pauta. Tudo que você inventar para remover a centralização das comunicações e para superar a descentralização da Internet (em direção a mais distribuição) será inovação-fluzz. Tudo que você inventar para oferecer alternativas às caixas-pretas onde alguém trancou um algorítmo, um programa, um conhecimento (para poder viver à custa de sua inovação aprisionada), será inovação-fluzz. Tudo que você inventar para derrubar a barreira da língua será inovação-fluzz. Tudo que você inventar para ensejar que cada busca crie novos significados, evitando que significados únicos sejam arquivados de modo centralizado, será inovação- 2
  • 3. fluzz. Tudo que você inventar para aproximar do corpo humano dipositivos tecnológicos nômades que intensifiquem a interação, será inovação-fluzz. Se você quer inovar no mundo digital, nada de copiar os Gates, os Jobs, os Pages, os Stones e os Zuckerbergs. Hoje o signo da mudança não está mais com essa gente e sim, por um lado, com os que estão retomando o espírito libertário dos primórdios e introduzindo inovações em prol do surgimento de government-less internets (em projetos como Openet, Netsukuku, Openmesh, Daihimia, Digitata, Freifunk e wlanljubljana) e, por outro lado, com os que estão tentando construir plataformas i-based adequadas ao netweaving de redes distribuídas. Esses são apenas alguns exemplos, apresentados a título ilustrativo, para tentar tornar compreensível um sentido. A rigor, não há como fazer uma pauta concreta das inovações-fluzz porque uma verdadeira inovação-fluzz (como qualquer inovação) é aquela que sequer conseguimos imaginar antes que apareça. Isso não significa, entretanto, que não possamos afirmar que o sentido do curso é +interatividade. Além da desobediência aos que querem aprisioná-lo no mundo de baixa interatividade, para poder se colocar em processo de inovação permanente (ou em processo de Ítaca = em processo de fluzz) você precisa sair da prisão que você mesmo construiu para você ao se aquartelar no seu quadrado para enfrentar o “mundo exterior”. 3