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Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de
Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                              67
               (Corresponde ao quinto tópico do Capítulo 8,
               intitulado Os mantenedores do velho mundo)




                   Construtores de pirâmides

O indivíduo não é o átomo social; para ser social, é preciso ser molécula

Os construtores de pirâmides também surgiram naquela noite dos tempos
em que a rede-mãe passou a rodar programas verticalizadores. Talvez os
primeiros construtores de pirâmides tenham sido mesmo os... construtores
de pirâmides, não apenas as do Egito, mas também os zigurates
mesopotâmicos. Mas todas as pirâmides que vêm sendo construídas ao
longo do chamado período civilizado evocam o mesmo padrão vertical
surgido pela perturbação do campo social introduzida pela hierarquia. Não
são, entretanto, apenas arquitetos, engenheiros e mestres de obra que
projetam, comandam e controlam o trabalho de erigir construções físicas.
Construtores de pirâmides são os que erigem organizações hierárquicas de
todo tipo para mandar nos outros e obrigá-los a fazer (ou deixar de fazer)
coisas contra a sua vontade ou sem o seu assentimento ou consentimento
ativo.

São os chefes de instituições hierárquicas. São organizadores de pessoas
como se pessoas fossem coisas. Toda organização hierárquica é uma
arquitetura com pessoas, uma construção forçada, coisificante, onde as
pessoas são tratadas como tijolos ou outro material qualquer: – Então
colocamos uma aqui, outra em cima dessa, outra abaixo, bem ali; ôpa!
Cuidado, não está encaixando bem; então quebra um pedaço aqui,
desbasta ali, martela com força que entra...

Replicadores e trancadores são construtores de pirâmides. Replicadores são
todos os que se dedicam a repetir uma ordem pretérita. São, portanto,
ensinadores (“estações repetidoras” do que foi forjado, em geral, pelos
codificadores de doutrinas). Para exercer tal papel, entretanto, eles
constroem, invariavelmente, estruturas centralizadas ou verticalizadas –
sejam escolas, sociedades, maçonarias e assemelhadas, partidos ou
corporações ou qualquer outra burocracia que viva da repetição e da
inculcação de um conjunto de idéias ou visões de mundo urdidas para
prorrogar passado – e, nesse sentido, são construtores de pirâmides.

Trancadores são os que privatizam bens que poderiam ser comuns (ou que
não poderiam ser trancados, como o conhecimento). Trancadores de
conhecimento são, por exemplo, os que defendem o domínio privado sobre
o conhecimento, como as leis de patentes e o famigerado copyright.

Um dos tipos contemporâneos de trancadores – relevante pelo efeito
devastador que sua atividade provoca na antesala de uma época-fluzz – são
os trancadores de códigos, que estão entre os mais bem-sucedidos
inventores de softwares proprietários da atualidade Ao construírem caixas-
pretas para esconder seus algorítimos (como fazem os donos do Google ou
do Twitter) ou para montar seus alçapões de dados (como faz o dono do
Facebook), eles acabam tendo que construir pirâmides para proteger suas
operações centralizadoras da rede social. Não é por acaso que as
plataformas que desenham a partir de uma instância proprietária tentem
disciplinar a interação. Essa é a razão pela qual as plataformas ditas
interativas de que dispomos não são suficientemente interativas (i-based),
posto que baseadas na participação (envolvendo sempre algum tipo de
escolha de preferências geradora de escassez) e no arquivamento de
passado (para aumentar o repositório ao qual, a rigor, só os proprietários




                                    2
dessas plataformas têm pleno acesso na medida em que só eles podem
programá-las sem restrições).

E essa é também a razão pela qual tais plataformas deseducam (se se pode
falar assim) seus usuários (a palavra – ‘usuário’ – já é horrível do ponto de
vista da interação) para as redes distribuídas. Então uma pessoa entra em
alguma dessas plataformas e tende a achar que a sua página é o seu
espaço proprietário a partir do qual ela vai interagir. Em vez de entrar em
um fluxo, ela se aboleta no seu bunker (às vezes chamado de ‘Minha
Página’) e é induzida a achar que ali pode colocar todos os seus vídeos,
suas fotos, seus eventos e seus posts, independentemente do que está
rolando na rede que usa tal plataforma como ferramenta de netweaving e,
não raro, sente-se até ofendida quando alguém lhe lembra que o concurso
de Miss Universo não tem muito a ver com astrofísica.

A solução para tal problema não é “fugir para trás”, voltando aos blogs,
como sonham alguns. Ainda que a blogosfera seja de fato, no seu conjunto,
uma rede distribuída, os blogs, em si, não se estruturam de modo
distribuído. Em geral são organizações fechadas, que não admitem
interação a não ser com aprovação prévia dos seus donos (por meio da
chamada “mediação de comentários”). Mesmo quando são abertos a
qualquer comentário, os blogs são piramidezinhas, espécies de reinados do
eu-sozinho. Não são bons instrumentos de netweaving de redes sociais
distribuídas na medida em que não são, eles próprios, redes distribuídas.

Não existem tecnologias de netweaving capazes de colocar um conjunto de
blogs em um meio eficaz de interação. Ademais, a mentalidade dos
bloggers não acompanhou a inovação que, objetivamente, sua atividade
representa. E muitos daqueles que fazem o proselitismo das redes
distribuídas nos seus blogs, organizam, lá no seu quadrado, suas igrejinhas
hiper-centralizadas, algumas vezes quase-monárquicas (15). Ou seja, são
também construtores de pirâmides.

O que está por trás disso tudo é a idéia de q ue o indivíduo é o átomo social,
quando, na verdade, para ser social, é preciso ser molécula. Pessoas são
produtos de interação e não unidades anteriores à interação.




                                      3
Nota

(15) Agregadores de blogs que foram inventados com base em RSS não resolvem o
problema. O fato de se ter vários blogs em uma mesma página, atualizando
automaticamente as primeiras palavras das postagens mais recentes de cada blog,
não garante, nem favorece muito, qualquer tipo de interação mais efetiva. Esses
softwares produzem apenas índices ilustrados dos blogs que foram agregados por
iniciativa única e exclusiva do administrador da página. Caso haja reciprocidade, ou
seja, se todos os agregados por um blog também agregarem os demais nos seus
blogs, essas ferramentas são boas para formar um grupo seleto (e necessariamente
pequeno, por motivos óbvios) de pessoas que se lêem. Também podem ser
bastante úteis no caso de uma corporação (onde, porém, o acesso à página
agregada é, via de regra, fechado, pois, afinal, uma corporação precisa se proteger
da concorrência...) ou de uma comunidade já existente. Mas, em geral, não são
ferramentas eficazes de netweaving, pois ninguém fica sabendo – a não ser que
abra seguidamente, várias vezes por dia, todos os blogs – o que cada um está
dizendo, no seu próprio blog, sobre o que outros postaram, nos deles. Ademais,
não são viáveis para organizar o compartilhamento de agendas (a única coisa que
pode realmente “produzir” comunidade). As velhas listas de e-mails com seus
fóruns derivados são mais eficazes para esse propósito.




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Construtores de pirâmides: indivíduos como moléculas sociais

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 67 (Corresponde ao quinto tópico do Capítulo 8, intitulado Os mantenedores do velho mundo) Construtores de pirâmides O indivíduo não é o átomo social; para ser social, é preciso ser molécula Os construtores de pirâmides também surgiram naquela noite dos tempos em que a rede-mãe passou a rodar programas verticalizadores. Talvez os primeiros construtores de pirâmides tenham sido mesmo os... construtores de pirâmides, não apenas as do Egito, mas também os zigurates mesopotâmicos. Mas todas as pirâmides que vêm sendo construídas ao longo do chamado período civilizado evocam o mesmo padrão vertical surgido pela perturbação do campo social introduzida pela hierarquia. Não são, entretanto, apenas arquitetos, engenheiros e mestres de obra que projetam, comandam e controlam o trabalho de erigir construções físicas.
  • 2. Construtores de pirâmides são os que erigem organizações hierárquicas de todo tipo para mandar nos outros e obrigá-los a fazer (ou deixar de fazer) coisas contra a sua vontade ou sem o seu assentimento ou consentimento ativo. São os chefes de instituições hierárquicas. São organizadores de pessoas como se pessoas fossem coisas. Toda organização hierárquica é uma arquitetura com pessoas, uma construção forçada, coisificante, onde as pessoas são tratadas como tijolos ou outro material qualquer: – Então colocamos uma aqui, outra em cima dessa, outra abaixo, bem ali; ôpa! Cuidado, não está encaixando bem; então quebra um pedaço aqui, desbasta ali, martela com força que entra... Replicadores e trancadores são construtores de pirâmides. Replicadores são todos os que se dedicam a repetir uma ordem pretérita. São, portanto, ensinadores (“estações repetidoras” do que foi forjado, em geral, pelos codificadores de doutrinas). Para exercer tal papel, entretanto, eles constroem, invariavelmente, estruturas centralizadas ou verticalizadas – sejam escolas, sociedades, maçonarias e assemelhadas, partidos ou corporações ou qualquer outra burocracia que viva da repetição e da inculcação de um conjunto de idéias ou visões de mundo urdidas para prorrogar passado – e, nesse sentido, são construtores de pirâmides. Trancadores são os que privatizam bens que poderiam ser comuns (ou que não poderiam ser trancados, como o conhecimento). Trancadores de conhecimento são, por exemplo, os que defendem o domínio privado sobre o conhecimento, como as leis de patentes e o famigerado copyright. Um dos tipos contemporâneos de trancadores – relevante pelo efeito devastador que sua atividade provoca na antesala de uma época-fluzz – são os trancadores de códigos, que estão entre os mais bem-sucedidos inventores de softwares proprietários da atualidade Ao construírem caixas- pretas para esconder seus algorítimos (como fazem os donos do Google ou do Twitter) ou para montar seus alçapões de dados (como faz o dono do Facebook), eles acabam tendo que construir pirâmides para proteger suas operações centralizadoras da rede social. Não é por acaso que as plataformas que desenham a partir de uma instância proprietária tentem disciplinar a interação. Essa é a razão pela qual as plataformas ditas interativas de que dispomos não são suficientemente interativas (i-based), posto que baseadas na participação (envolvendo sempre algum tipo de escolha de preferências geradora de escassez) e no arquivamento de passado (para aumentar o repositório ao qual, a rigor, só os proprietários 2
  • 3. dessas plataformas têm pleno acesso na medida em que só eles podem programá-las sem restrições). E essa é também a razão pela qual tais plataformas deseducam (se se pode falar assim) seus usuários (a palavra – ‘usuário’ – já é horrível do ponto de vista da interação) para as redes distribuídas. Então uma pessoa entra em alguma dessas plataformas e tende a achar que a sua página é o seu espaço proprietário a partir do qual ela vai interagir. Em vez de entrar em um fluxo, ela se aboleta no seu bunker (às vezes chamado de ‘Minha Página’) e é induzida a achar que ali pode colocar todos os seus vídeos, suas fotos, seus eventos e seus posts, independentemente do que está rolando na rede que usa tal plataforma como ferramenta de netweaving e, não raro, sente-se até ofendida quando alguém lhe lembra que o concurso de Miss Universo não tem muito a ver com astrofísica. A solução para tal problema não é “fugir para trás”, voltando aos blogs, como sonham alguns. Ainda que a blogosfera seja de fato, no seu conjunto, uma rede distribuída, os blogs, em si, não se estruturam de modo distribuído. Em geral são organizações fechadas, que não admitem interação a não ser com aprovação prévia dos seus donos (por meio da chamada “mediação de comentários”). Mesmo quando são abertos a qualquer comentário, os blogs são piramidezinhas, espécies de reinados do eu-sozinho. Não são bons instrumentos de netweaving de redes sociais distribuídas na medida em que não são, eles próprios, redes distribuídas. Não existem tecnologias de netweaving capazes de colocar um conjunto de blogs em um meio eficaz de interação. Ademais, a mentalidade dos bloggers não acompanhou a inovação que, objetivamente, sua atividade representa. E muitos daqueles que fazem o proselitismo das redes distribuídas nos seus blogs, organizam, lá no seu quadrado, suas igrejinhas hiper-centralizadas, algumas vezes quase-monárquicas (15). Ou seja, são também construtores de pirâmides. O que está por trás disso tudo é a idéia de q ue o indivíduo é o átomo social, quando, na verdade, para ser social, é preciso ser molécula. Pessoas são produtos de interação e não unidades anteriores à interação. 3
  • 4. Nota (15) Agregadores de blogs que foram inventados com base em RSS não resolvem o problema. O fato de se ter vários blogs em uma mesma página, atualizando automaticamente as primeiras palavras das postagens mais recentes de cada blog, não garante, nem favorece muito, qualquer tipo de interação mais efetiva. Esses softwares produzem apenas índices ilustrados dos blogs que foram agregados por iniciativa única e exclusiva do administrador da página. Caso haja reciprocidade, ou seja, se todos os agregados por um blog também agregarem os demais nos seus blogs, essas ferramentas são boas para formar um grupo seleto (e necessariamente pequeno, por motivos óbvios) de pessoas que se lêem. Também podem ser bastante úteis no caso de uma corporação (onde, porém, o acesso à página agregada é, via de regra, fechado, pois, afinal, uma corporação precisa se proteger da concorrência...) ou de uma comunidade já existente. Mas, em geral, não são ferramentas eficazes de netweaving, pois ninguém fica sabendo – a não ser que abra seguidamente, várias vezes por dia, todos os blogs – o que cada um está dizendo, no seu próprio blog, sobre o que outros postaram, nos deles. Ademais, não são viáveis para organizar o compartilhamento de agendas (a única coisa que pode realmente “produzir” comunidade). As velhas listas de e-mails com seus fóruns derivados são mais eficazes para esse propósito. 4