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AASS MMAANNIIFFEESSTTAAÇÇÕÕEESS DDEE JJUUNNHHOO DDEE 22001133
EE AA IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAA CCOOLLEETTIIVVAA
Augusto de Franco
24/06/2013
Dei agora uma entrevista (BBC). No meio da conversa com a jornalista me
ocorreu um aspecto ainda não abordado (nem por mim, nem - que eu
saiba - por ninguém). Algo que há algum tempo quis descrever e para
tanto inventei uma palavra: empowerfulness!
Nestes últimos sete dias (sim, contando a partir do memorável 17J),
tivemos uma aceleração incrível dos fluxos interativos. A sociedade
aumentou a sua interatividade e isso se refletiu também nas mídias sociais
(como Twitter e Facebook), mas não apenas nelas. Na intimidade da
sociedade - ou seja, nas redes sociais, propriamente falando - ocorreram
bilhões, talvez trilhões de sinapses que não ocorriam antes. Houve um
crescimento exponencial e uma aceleração brutal da comunicação,
entendida como acoplamento estrutural entre pessoas e não como
transmissão de informação de uma pessoa a outra. Tudo isso configurou
um ambiente mais favorável à emergência da inteligência coletiva.
Ou seja, não adianta o IBOPE ou outro instituto de pesquisa sair a campo
perguntando aos manifestantes quais são as suas reivindicações
prioritárias. Em primeiro lugar porque cada pessoa dará o seu
micromotivo: alguns falarão mobilidade urbana ou transporte, outros
saúde e educação, outros corrupção, outros, ainda, manifestarão sua
insatisfação com os gastos da copa diante da péssima qualidade dos
serviços públicos em geral. Mas o que levou as multidões às ruas foi tudo
isso e não foi nada disso e sim um sentimento de insatisfação. As pessoas
sentem que há algo errado com o sistema, embora não saibam explicar o
que é o sistema (às vezes confundem-no com os governos, às vezes com a
chamada classe política). Em segundo lugar porque a fenomenologia da
interação que permitiu a constelação de multidões de milhões em quase
todo o Brasil não depende do conteúdo e sim dos graus de distribuição e
de conectividade da rede social (não me refiro às mídias sociais e sim aos
padrões de organização disso que chamamos de sociedade e que não é o
conjunto dos indivíduos e sim as configurações múltiplas dos seus
relacionamentos).
É preciso entender que a inteligência coletiva não é a soma das
inteligências dos indivíduos e sim uma função da interatividade. Ela é
diretamente proporcional ao que chamei de empowerfulness. Por isso as
análises que tentam colher e computar opiniões individuais não são
capazes de revelar os motivos predominantes que teriam levado as
pessoas a fazer o que fizeram agora (e que não fizeram nas duas últimas
décadas).
A composição dos micromotivos é fractal e não majoritária, unitária -
como se fosse uma pauta de reivindicações previamente preparada e
compartilhada (massificada). Os micromotivos permanecem, para cada
um, exatamente como são para cada um. Mas o efeito de conjunto não é
a sua simples combinação e sim um novo entendimento coletivo, uma
inteligência tipicamente social que emerge em função da interação
recursiva, iterada, multiplicada, amplificada entre as pessoas.
Foi a inteligência coletiva que se apropriou e ressignificou aquele slogan
publicitário (da FIAT) "Vem prá rua" e que se apropriou e ressignificou
outro slogan (da Johnnie Walker) "O gigante acordou" (e isso,
independentemente, de alguém ter tido tal ideia). Foi a inteligência
coletiva que rejeitou as tentativas de instrumentalização partidária das
manifestações (e não uma conspiração da direita, que, se pudesse fazer
isso em todo o Brasil em horas, então poderíamos ficar realmente
preocupados), assim como rejeitaria bandeiras ou marcas de qualquer
instituição centralizada (religiosa ou laica, militar ou civil, governamental,
empresarial ou social). Não tem nada a ver com antipartidarismo como
apregoam (em causa própria) os partidários (e que, aliás, nunca foi
bandeira do que chamavam de direita, quando isso fazia algum sentido).
O grande desafio agora é entender o que essa inteligência coletiva quis
dizer: não a nós, não ao governo (pois que não é assim que funciona) e
sim à si mesma, à sociedade e aos emaranhados (pessoais) que a
estruturam. "Quis dizer", é claro, é uma maneira de dizer. Ela não quis
dizer nada (rigorosamente falando, ela não fala), mas ela operou
mudanças moleculares na intimidade do multiverso de conexões ocultas
que chamamos de social. Essas mudanças estão em curso neste momento.
Por isso a sociedade jamais será a mesma.
Os sete dias pregressos abalaram o Brasil. E mudaram o Brasil, para
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As manifestações de junho de 2013 e a inteligência coletiva

  • 1. AASS MMAANNIIFFEESSTTAAÇÇÕÕEESS DDEE JJUUNNHHOO DDEE 22001133 EE AA IINNTTEELLIIGGÊÊNNCCIIAA CCOOLLEETTIIVVAA Augusto de Franco 24/06/2013 Dei agora uma entrevista (BBC). No meio da conversa com a jornalista me ocorreu um aspecto ainda não abordado (nem por mim, nem - que eu saiba - por ninguém). Algo que há algum tempo quis descrever e para tanto inventei uma palavra: empowerfulness!
  • 2. Nestes últimos sete dias (sim, contando a partir do memorável 17J), tivemos uma aceleração incrível dos fluxos interativos. A sociedade aumentou a sua interatividade e isso se refletiu também nas mídias sociais (como Twitter e Facebook), mas não apenas nelas. Na intimidade da sociedade - ou seja, nas redes sociais, propriamente falando - ocorreram bilhões, talvez trilhões de sinapses que não ocorriam antes. Houve um crescimento exponencial e uma aceleração brutal da comunicação, entendida como acoplamento estrutural entre pessoas e não como transmissão de informação de uma pessoa a outra. Tudo isso configurou um ambiente mais favorável à emergência da inteligência coletiva. Ou seja, não adianta o IBOPE ou outro instituto de pesquisa sair a campo perguntando aos manifestantes quais são as suas reivindicações prioritárias. Em primeiro lugar porque cada pessoa dará o seu micromotivo: alguns falarão mobilidade urbana ou transporte, outros saúde e educação, outros corrupção, outros, ainda, manifestarão sua insatisfação com os gastos da copa diante da péssima qualidade dos serviços públicos em geral. Mas o que levou as multidões às ruas foi tudo isso e não foi nada disso e sim um sentimento de insatisfação. As pessoas sentem que há algo errado com o sistema, embora não saibam explicar o que é o sistema (às vezes confundem-no com os governos, às vezes com a chamada classe política). Em segundo lugar porque a fenomenologia da interação que permitiu a constelação de multidões de milhões em quase todo o Brasil não depende do conteúdo e sim dos graus de distribuição e de conectividade da rede social (não me refiro às mídias sociais e sim aos padrões de organização disso que chamamos de sociedade e que não é o conjunto dos indivíduos e sim as configurações múltiplas dos seus relacionamentos).
  • 3. É preciso entender que a inteligência coletiva não é a soma das inteligências dos indivíduos e sim uma função da interatividade. Ela é diretamente proporcional ao que chamei de empowerfulness. Por isso as análises que tentam colher e computar opiniões individuais não são capazes de revelar os motivos predominantes que teriam levado as pessoas a fazer o que fizeram agora (e que não fizeram nas duas últimas décadas). A composição dos micromotivos é fractal e não majoritária, unitária - como se fosse uma pauta de reivindicações previamente preparada e compartilhada (massificada). Os micromotivos permanecem, para cada um, exatamente como são para cada um. Mas o efeito de conjunto não é a sua simples combinação e sim um novo entendimento coletivo, uma inteligência tipicamente social que emerge em função da interação recursiva, iterada, multiplicada, amplificada entre as pessoas. Foi a inteligência coletiva que se apropriou e ressignificou aquele slogan publicitário (da FIAT) "Vem prá rua" e que se apropriou e ressignificou outro slogan (da Johnnie Walker) "O gigante acordou" (e isso, independentemente, de alguém ter tido tal ideia). Foi a inteligência coletiva que rejeitou as tentativas de instrumentalização partidária das manifestações (e não uma conspiração da direita, que, se pudesse fazer isso em todo o Brasil em horas, então poderíamos ficar realmente preocupados), assim como rejeitaria bandeiras ou marcas de qualquer instituição centralizada (religiosa ou laica, militar ou civil, governamental, empresarial ou social). Não tem nada a ver com antipartidarismo como apregoam (em causa própria) os partidários (e que, aliás, nunca foi bandeira do que chamavam de direita, quando isso fazia algum sentido).
  • 4. O grande desafio agora é entender o que essa inteligência coletiva quis dizer: não a nós, não ao governo (pois que não é assim que funciona) e sim à si mesma, à sociedade e aos emaranhados (pessoais) que a estruturam. "Quis dizer", é claro, é uma maneira de dizer. Ela não quis dizer nada (rigorosamente falando, ela não fala), mas ela operou mudanças moleculares na intimidade do multiverso de conexões ocultas que chamamos de social. Essas mudanças estão em curso neste momento. Por isso a sociedade jamais será a mesma. Os sete dias pregressos abalaram o Brasil. E mudaram o Brasil, para sempre.