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Os Paparazzi na Sociedade Contemporânea Sexta Maravilha 2009 – Non si sente!
“Esse capital estimula o culto do estrelato, que não visa conservar apenas a magia da personalidade, há muito reduzida pelo clarão putrefato que emana do seu caráter de mercadoria, mas também o seu complemento, o culto do público, e estimula, além disso, a consciência corrupta das massas...” Walter Benjamin, em A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica.
Paparazzo?
É! Paparazzi!
Paparazzo (paparazzi, no plural) é um fotojornalista, geralmente da imprensa sensacionalista, que persegue as celebridades agressivamente com o objetivo de conseguir fotografias indiscretas, reveladoras, enfim, que representam as celebridades em situações cotidianas e privadas que supostamente não deveriam fazer parte de suas vidas públicas. Cena de “La DolceVita”. Paparazzo, interpretado por Walter Santesso.
Em poucas palavras, o Paparazzo é o fotógrafo chato que toda celebridade odeia (ou raramente ama) Foto de Ron Galella. Sean Penn dá um soco num paparazzo em 1986
Phlebotomuspapatasi, vulgo pappataci O nome paparazzo tem sua origem um pouco incerta. A única história que cola é que o nome paparazzo deriva do nome de um mosquitinho muito chato chamado pappataci, uma espécie de pernilongo do mediterrâneo. Afinal, só um paparazzo pode ser mais chato do que um pernilongo. Isso explica a origem da nossa mascote Paparazza, a câmera-pernilongo!
O nome paparazzo só foi popularizado por causa do filme “La DolceVita”, de Federico Fellini. No filme o personagem Paparazzo é um fotógrafo amigo de Marcello e é interpretado pelo ator Walter Santesso. Para fazer o personagem Paparazzo, Fellini se inspirou em TazioSecchiaroli, um dos mais importantes fotógrafos das celebridades italianas das décadas de 1950-60. Secchiaroli foi o primeiro paparazzo! Foto de Elio Sorci. O ator Walter Chiari briga com o fotógrafo Tazio Secchiaroli. Roma, 1958
Em “La DolceVita” os fotógrafos estão presentes em toda a narrativa. São os únicos personagens cuja lealdade é inquestionável. Afinal, eles são leais aos tablóides, à imprensa sensacionalista. São eles os responsáveis pela mediação entre o mundo dos Deuses  e Musas e o mundo dos meros mortais da nossa sociedade.
O paparazzo de Fellini representa fielmente o que estes fotógrafos realmente são: mercenários da imprensa que fazem qualquer coisa para conseguir uma fotografia dos Deuses para estampar a capa de qualquer tablóide e revista de fofoca por aí. Os paparazzi, sacerdotes da modernidade, alimentam o culto aos Deuses e Musas da nossa sociedade. “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens”. Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo.
Grosso modo, os paparazzi são responsáveis pelas historinhas e fofocas contadas através de fotografias nos tablóides e revistas. Mesmo que tais fotografias sejam meras representações construídas. “As pessoas admiráveis em quem o sistema se personifica são conhecidas por aquilo que elas não são; tornaram-se grandes homens ao descer abaixo da realidade da vida individual mínima.” Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo.
Os paparazzi não produzem só fotografias como repretensações da realidade. Eles também produzem e reproduzem representações falseadas da realidade.  Em outras palavras, usam-se de imagens para atribuir valores inglórios para os nossos Deuses e Musas.  Seria, então, uma foto-fofoca?
Por exemplo, esta foto da atriz Winona Ryder, feita em abril de 2008. Nela, a atriz aparece saindo de uma loja em Beverly Hills. Esta fotografia (assim como outras) é valiosa pois a atriz foi condenada a 5 anos de prisão por ter roubado cerca de 5 mil dólares em roupas em 2002. Assim, as fotografais mais valiosas de Winona Ryder atualmente são aquelas em que a atriz aparece fazendo compras. A fotografia acaba sendo mais valiosa do que o próprio fato em si. Mas será que ela pagou pelas roupas desta vez?
Série de fotos que mostra a atriz Winona Ryder saindo da loja Marc Jacobs em Nova Iorque, 2008. Sem nenhuma sacola de compras. fonte: www.bauergriffinonline.com
O que será que Winona Ryder esconde em seus bolsos? “Com a fotografia, o valor de culto começa a recuar, em todas as frentes, diante do valor de exposição. [...] Essas fotos orientam a recepção num sentido predeterminado. A contemplação livre não lhes é adequada. Elas inquietam o observador, que pressente que deve seguir um caminho definido para se aproximar delas. Ao mesmo tempo, as revistas ilustradas começam a mostrar-lhe indicadores de caminho – verdadeiros ou falsos, pouco importa. Nas revistas, as legendas explicativas se tornam pela primeira vez obrigatórias. É evidente que esses textos têm um caráter completamente distinto dos títulos de um quadro. As instruções que o observador recebe dos jornais ilustrados através das legendas se tornarão, em seguida, ainda mais precisas e imperiosas no cinema, em que a compreensão de cada imagem é condicionada pela seqüência de todas as imagens anteriores.” Walter Bejamin sobre o surgimento da fotografia, do retrato. Em A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica.
Como já foi dito, os paparazzi mediam o mundo dos Deuses e Musase o mundo dos mortais. As histórias dos tablóides e revistas são fresquinhas.  Como nesta fotografia, que mostra Angelina Jolie e Brad Pitt, nossa Musa e nosso Deus superiores, saindo para jantar no restaurante La Dolce Vita (!!!) em Beverly Hills, no dia 30 de novembro de 2009. fonte: www.tmz.com
Há casos em que a mediação feita pelo paparazzo não ocorre de maneira imediata como nos tablóides e revistas de celebridades, mas que ultrapassam o tempo e a história e conseguem construir um Deus, um Mito, com uma só fotografia. Esta não é a fotografia famosa, mas uma outra, feita imediatamente antes daquela que se tornou uma das imagens mais reproduziadas na história. Korda preferiu esta foto à direita do que a outra que todos nós conhecemos.
Alberto Korda, (Havana, 1941 – Paris, 2001) não era um paparazzo. Mas um fotógrafo engajado na Revolução Cubana e que acabou virando o fotógrafo pessoal de Fidel Castro assim que este chegou ao poder. Ele era uma espécie de personal-paparazzo de Fidel. Korda segurando uma nota de 3 Pesos Cubanos
“Num reflexo, bati duas vezes: uma tomada horizontal, outra vertical. Não tive tempo de fazer uma terceira, ele [Che Guevara] se retirou discretamente para a segunda fila. De volta ao meu estúdio, revelei o filme e fiz algumas cópias para o Revolutión. Preferi enquadrar a foto horizontal de Che a imprimir o clichê vertial [“A” fotografia], pois uma cabeça aparecia atrás do seu ombro. No entanto, a foto não foi selecionada naquela noite pela redação. Pendurei a cópia na parede do meu estúdio...” Alberto Korda, sobre o retrato de Che Guevara, em Kuba por Korda.
Korda deu como presente a fotografia que ele não gostou para o editor de um jornal italiano que procurava um belo retrato de Che.  Este retrato é hoje o mais reproduzido de toda a história. E Korda nunca recebeu um só centavo por ele. E este retrato é tão conhecido...
...que acabou virando qualquer coisa. E transformou Che Guevara um Deus Mítico. Eis a mediação do paparazzo!
O personagem mítico de Che Guevara é teve seu culto tão potencializado pela famosa fotografia que até eu já me fantasiei de Che. Mas isso não é tão importante.
Também pode ser citado o caso em que a modelo, atriz, apresentadora e o escambau Daniela Cicarelli, uma das mais conhecidas Musas do universo da moda, foi filmada por um paparazzo numa praia na Espanha, em 2006. O progresso tecnológico também atinge os paparazzi, pois da fotografia passaram a produzir e reproduzir vídeos.
Cicarelli foi filmada pelo paparazzo espanhol Miguel Temprano. No vídeo, a modelo aparece fazendo sexo com o namorado. A repercussão do vídeo foi tamanha levantou uma questão sobre a o direito de atuação dos paparazzi. Apesar disto, a audiência dos programas de TV que ela apresentava na época aumentaram devido ao ocorrido. Miguel Temprano: www.blogs.antena3.com/Temprano/
“O espetáculo nada mais é que a linguagem comum dessa separação. O que liga os espectadores é apenas uma ligação irreversível com o próprio centro que os mantém isolados. O espetáculo reúne o separado, mas o reúne como separado.” Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo. Enfim, eis a mediação (ligação irreversível) que Miguel Temprano nos fez!
Dizem que para fazer este vídeo, Miguel Temprano buscou inspiração num grande diretor de cinema. Miguel Temprano
Será?
“O mundo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido. E o mundo da mercadoria é assim mostrado como ele é, pois seu movimento é idêntico ao afastamento dos homens entre si e em relação a tudo o que produzem.”Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo. “Na indústria, o indivíduo é ilusório não apenas por causa da padronização do modo de produção. Ele só é tolerado na medida em que sua identidade incondicional com o universal está fora de questão. [...] As particularidades do eu são mercadorias monopolizadas e socialmente condicionadas, que se fazem passar por algo de natural.” Adorno & Horkheimer, em A Dialética do Esclarecimento. Anita Ekberg cercada de paparazzi em La DolceVita
Fim!
Trilha Sonora La DolceVita – La dolcevitanellavita di fregene Música de Nino Rota
Bibliografia: Adorno, Theodor W.; Horkheimer, Max. A Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986. Debord, Guy. La SociétéduSpectacle. Paris: Gallimard, 1992.  Benjamin, Walter. “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”, in Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994. Loviny, C.; Silvestri-Lévy, A. Cuba por Korda. São Paulo: Cosacnaify, 2004.
Sexta Maravilha 2009 – Non si sente! Prof. Dr. Sérgio Salome Silva HZ157A Segundo Semestre - 2009 Arthur Henrique Saraiva Ferreira – RA 042110 Luiz Henrique Lessa – RA 062577

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Os Paparazzi Na Sociedade ContemporâNea (ApresentaçãO)

  • 1. Os Paparazzi na Sociedade Contemporânea Sexta Maravilha 2009 – Non si sente!
  • 2. “Esse capital estimula o culto do estrelato, que não visa conservar apenas a magia da personalidade, há muito reduzida pelo clarão putrefato que emana do seu caráter de mercadoria, mas também o seu complemento, o culto do público, e estimula, além disso, a consciência corrupta das massas...” Walter Benjamin, em A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica.
  • 5. Paparazzo (paparazzi, no plural) é um fotojornalista, geralmente da imprensa sensacionalista, que persegue as celebridades agressivamente com o objetivo de conseguir fotografias indiscretas, reveladoras, enfim, que representam as celebridades em situações cotidianas e privadas que supostamente não deveriam fazer parte de suas vidas públicas. Cena de “La DolceVita”. Paparazzo, interpretado por Walter Santesso.
  • 6. Em poucas palavras, o Paparazzo é o fotógrafo chato que toda celebridade odeia (ou raramente ama) Foto de Ron Galella. Sean Penn dá um soco num paparazzo em 1986
  • 7. Phlebotomuspapatasi, vulgo pappataci O nome paparazzo tem sua origem um pouco incerta. A única história que cola é que o nome paparazzo deriva do nome de um mosquitinho muito chato chamado pappataci, uma espécie de pernilongo do mediterrâneo. Afinal, só um paparazzo pode ser mais chato do que um pernilongo. Isso explica a origem da nossa mascote Paparazza, a câmera-pernilongo!
  • 8. O nome paparazzo só foi popularizado por causa do filme “La DolceVita”, de Federico Fellini. No filme o personagem Paparazzo é um fotógrafo amigo de Marcello e é interpretado pelo ator Walter Santesso. Para fazer o personagem Paparazzo, Fellini se inspirou em TazioSecchiaroli, um dos mais importantes fotógrafos das celebridades italianas das décadas de 1950-60. Secchiaroli foi o primeiro paparazzo! Foto de Elio Sorci. O ator Walter Chiari briga com o fotógrafo Tazio Secchiaroli. Roma, 1958
  • 9. Em “La DolceVita” os fotógrafos estão presentes em toda a narrativa. São os únicos personagens cuja lealdade é inquestionável. Afinal, eles são leais aos tablóides, à imprensa sensacionalista. São eles os responsáveis pela mediação entre o mundo dos Deuses e Musas e o mundo dos meros mortais da nossa sociedade.
  • 10. O paparazzo de Fellini representa fielmente o que estes fotógrafos realmente são: mercenários da imprensa que fazem qualquer coisa para conseguir uma fotografia dos Deuses para estampar a capa de qualquer tablóide e revista de fofoca por aí. Os paparazzi, sacerdotes da modernidade, alimentam o culto aos Deuses e Musas da nossa sociedade. “O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas mediada por imagens”. Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo.
  • 11. Grosso modo, os paparazzi são responsáveis pelas historinhas e fofocas contadas através de fotografias nos tablóides e revistas. Mesmo que tais fotografias sejam meras representações construídas. “As pessoas admiráveis em quem o sistema se personifica são conhecidas por aquilo que elas não são; tornaram-se grandes homens ao descer abaixo da realidade da vida individual mínima.” Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo.
  • 12. Os paparazzi não produzem só fotografias como repretensações da realidade. Eles também produzem e reproduzem representações falseadas da realidade. Em outras palavras, usam-se de imagens para atribuir valores inglórios para os nossos Deuses e Musas. Seria, então, uma foto-fofoca?
  • 13. Por exemplo, esta foto da atriz Winona Ryder, feita em abril de 2008. Nela, a atriz aparece saindo de uma loja em Beverly Hills. Esta fotografia (assim como outras) é valiosa pois a atriz foi condenada a 5 anos de prisão por ter roubado cerca de 5 mil dólares em roupas em 2002. Assim, as fotografais mais valiosas de Winona Ryder atualmente são aquelas em que a atriz aparece fazendo compras. A fotografia acaba sendo mais valiosa do que o próprio fato em si. Mas será que ela pagou pelas roupas desta vez?
  • 14. Série de fotos que mostra a atriz Winona Ryder saindo da loja Marc Jacobs em Nova Iorque, 2008. Sem nenhuma sacola de compras. fonte: www.bauergriffinonline.com
  • 15. O que será que Winona Ryder esconde em seus bolsos? “Com a fotografia, o valor de culto começa a recuar, em todas as frentes, diante do valor de exposição. [...] Essas fotos orientam a recepção num sentido predeterminado. A contemplação livre não lhes é adequada. Elas inquietam o observador, que pressente que deve seguir um caminho definido para se aproximar delas. Ao mesmo tempo, as revistas ilustradas começam a mostrar-lhe indicadores de caminho – verdadeiros ou falsos, pouco importa. Nas revistas, as legendas explicativas se tornam pela primeira vez obrigatórias. É evidente que esses textos têm um caráter completamente distinto dos títulos de um quadro. As instruções que o observador recebe dos jornais ilustrados através das legendas se tornarão, em seguida, ainda mais precisas e imperiosas no cinema, em que a compreensão de cada imagem é condicionada pela seqüência de todas as imagens anteriores.” Walter Bejamin sobre o surgimento da fotografia, do retrato. Em A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica.
  • 16. Como já foi dito, os paparazzi mediam o mundo dos Deuses e Musase o mundo dos mortais. As histórias dos tablóides e revistas são fresquinhas. Como nesta fotografia, que mostra Angelina Jolie e Brad Pitt, nossa Musa e nosso Deus superiores, saindo para jantar no restaurante La Dolce Vita (!!!) em Beverly Hills, no dia 30 de novembro de 2009. fonte: www.tmz.com
  • 17. Há casos em que a mediação feita pelo paparazzo não ocorre de maneira imediata como nos tablóides e revistas de celebridades, mas que ultrapassam o tempo e a história e conseguem construir um Deus, um Mito, com uma só fotografia. Esta não é a fotografia famosa, mas uma outra, feita imediatamente antes daquela que se tornou uma das imagens mais reproduziadas na história. Korda preferiu esta foto à direita do que a outra que todos nós conhecemos.
  • 18. Alberto Korda, (Havana, 1941 – Paris, 2001) não era um paparazzo. Mas um fotógrafo engajado na Revolução Cubana e que acabou virando o fotógrafo pessoal de Fidel Castro assim que este chegou ao poder. Ele era uma espécie de personal-paparazzo de Fidel. Korda segurando uma nota de 3 Pesos Cubanos
  • 19. “Num reflexo, bati duas vezes: uma tomada horizontal, outra vertical. Não tive tempo de fazer uma terceira, ele [Che Guevara] se retirou discretamente para a segunda fila. De volta ao meu estúdio, revelei o filme e fiz algumas cópias para o Revolutión. Preferi enquadrar a foto horizontal de Che a imprimir o clichê vertial [“A” fotografia], pois uma cabeça aparecia atrás do seu ombro. No entanto, a foto não foi selecionada naquela noite pela redação. Pendurei a cópia na parede do meu estúdio...” Alberto Korda, sobre o retrato de Che Guevara, em Kuba por Korda.
  • 20. Korda deu como presente a fotografia que ele não gostou para o editor de um jornal italiano que procurava um belo retrato de Che. Este retrato é hoje o mais reproduzido de toda a história. E Korda nunca recebeu um só centavo por ele. E este retrato é tão conhecido...
  • 21. ...que acabou virando qualquer coisa. E transformou Che Guevara um Deus Mítico. Eis a mediação do paparazzo!
  • 22. O personagem mítico de Che Guevara é teve seu culto tão potencializado pela famosa fotografia que até eu já me fantasiei de Che. Mas isso não é tão importante.
  • 23. Também pode ser citado o caso em que a modelo, atriz, apresentadora e o escambau Daniela Cicarelli, uma das mais conhecidas Musas do universo da moda, foi filmada por um paparazzo numa praia na Espanha, em 2006. O progresso tecnológico também atinge os paparazzi, pois da fotografia passaram a produzir e reproduzir vídeos.
  • 24. Cicarelli foi filmada pelo paparazzo espanhol Miguel Temprano. No vídeo, a modelo aparece fazendo sexo com o namorado. A repercussão do vídeo foi tamanha levantou uma questão sobre a o direito de atuação dos paparazzi. Apesar disto, a audiência dos programas de TV que ela apresentava na época aumentaram devido ao ocorrido. Miguel Temprano: www.blogs.antena3.com/Temprano/
  • 25. “O espetáculo nada mais é que a linguagem comum dessa separação. O que liga os espectadores é apenas uma ligação irreversível com o próprio centro que os mantém isolados. O espetáculo reúne o separado, mas o reúne como separado.” Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo. Enfim, eis a mediação (ligação irreversível) que Miguel Temprano nos fez!
  • 26. Dizem que para fazer este vídeo, Miguel Temprano buscou inspiração num grande diretor de cinema. Miguel Temprano
  • 28. “O mundo presente e ausente que o espetáculo faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo o que é vivido. E o mundo da mercadoria é assim mostrado como ele é, pois seu movimento é idêntico ao afastamento dos homens entre si e em relação a tudo o que produzem.”Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo. “Na indústria, o indivíduo é ilusório não apenas por causa da padronização do modo de produção. Ele só é tolerado na medida em que sua identidade incondicional com o universal está fora de questão. [...] As particularidades do eu são mercadorias monopolizadas e socialmente condicionadas, que se fazem passar por algo de natural.” Adorno & Horkheimer, em A Dialética do Esclarecimento. Anita Ekberg cercada de paparazzi em La DolceVita
  • 29. Fim!
  • 30. Trilha Sonora La DolceVita – La dolcevitanellavita di fregene Música de Nino Rota
  • 31. Bibliografia: Adorno, Theodor W.; Horkheimer, Max. A Dialética do Esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986. Debord, Guy. La SociétéduSpectacle. Paris: Gallimard, 1992. Benjamin, Walter. “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”, in Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994. Loviny, C.; Silvestri-Lévy, A. Cuba por Korda. São Paulo: Cosacnaify, 2004.
  • 32. Sexta Maravilha 2009 – Non si sente! Prof. Dr. Sérgio Salome Silva HZ157A Segundo Semestre - 2009 Arthur Henrique Saraiva Ferreira – RA 042110 Luiz Henrique Lessa – RA 062577