Este documento resume a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, sobre a Igreja no Mundo de Hoje. Ela inaugurou uma nova era nas relações entre a Igreja e a sociedade contemporânea e trata de temas como a dignidade humana, a família, o progresso, a economia e a paz. O documento também discute a história da redação do texto e sua importância contínua.
2. Esse importante documento inaugura uma
época nova nas relações entre a Igreja e a
sociedade contemporânea. Ele é
determinante para se compreender a
presença pública da Igreja.
3. Ele nasceu dos discursos e acontecimentos da
primeira sessão de 1962, e sua redação exigiu
um trabalho ingente.
4. Neste nosso breve estudo da Gaudium et spes
nos atemos a alguns pontos:
1) Uma breve alusão à história da redação do
texto
2) a novidade do título da Constituição Pastoral
e seu significado
3) a explicação em uma nota de rodapé
4) alguns dos grandes temas tratados no texto
5) elementos da atualidade da GS
5. 1 - A complexa história da redação da
Constituição Pastoral
6. No final da primeira Sessão, os 73 esquemas
iniciais se reduziram a 16 e acrescentou-se um
inteiramente novo, o 17o.
Nessa lista, o primeiro era o De Ecclesia
(futura Lumen gentium) e o último o De
praesentia activa Ecclesiae in Mundo (sobre a
presença ativa da Igreja no mundo – a futura
Gaudium et spes).
7. A votação global sobre o texto, dia 06 de
dezembro de 1965 (durante a última
congregação), resultou em 2111 placet, 251
non placet e 11 votos inválidos.
Na votação solene do dia 07 de dezembro, dos
2391 votantes, 2309 votaram favoravelmente,
79 votaram contra e 7 votos foram nulos
8. Sua história, marcada por inúmeras
intervenções e por oito redações sucessivas,
resulta em um texto heterogêneo. Do ponto
de vista da qualidade redacional poderia
caracterizá-lo como estilisticamente fraco.
Do ponto de vista teológico, porém, pode esta
mesma heterogeneidade pode se considerar
uma riqueza.
9. Essa mesma história é usada em argumentos
das mais variadas naturezas, no período pós-
conciliar: desde a ruptura dos grupos
tradicionalistas, até à tensão também
“discontinuísta” de grupos vanguardistas.
11. Uma nota, cuja chamada está posta logo após
a qualificação “pastoral” no título da
constituição sobre a Igreja no mundo de hoje,
procura explicar o sentido dessa novidade na
história dos Concílios. De fato, nos vinte
Concílios precedentes houve Constituições,
Decretos e Declarações.
Mas “Constituição Pastoral”, jamais houve
uma.
12. A novidade do título serve de chamada para a
novidade do conteúdo. Não se trata de uma
exposição geral de princípios da fé. Trata-se
também de temas de fé, principalmente no
primeiro capítulo, cujo conteúdo fundamental
é a dignidade humana. Mas o conjunto geral
compreende temas de interesse concreto para
o mundo contemporâneo.
13. A lista dos temas é impressionante: natureza
social do ser humano, o sentido do trabalho, a
família, o progresso, a cultura, a economia, a
política, a paz e a comunidade internacional.
Por isso, com ironia, o documento já foi
chamado de arca de Noé.
14. 3 - O significado do termo
“pastoral” em uma nota de
rodapé
15. Texto da nota de rodapé ao título:
“A Constituição pastoral ‘A Igreja no mundo
atual’, formada por duas partes, constitui um
todo unitário. E chamada ‘pastoral’, porque,
apoiando-se em princípios doutrinais,
pretende expor as relações da Igreja com o
mundo e os homens de hoje. Assim, nem à
primeira parte falta a intenção pastoral, nem à
segunda a doutrinal.
16. Na primeira parte, a Igreja expõe a sua própria
doutrina acerca do homem, do mundo no
qual o homem está integrado e da sua relação
para com eles. Na segunda, considera mais
expressamente vários aspectos da vida e da
sociedade contemporâneas, e sobretudo as
questões e os problemas que, nesses
domínios, padecem hoje de maior urgência.
17. Daqui resulta que, nesta segunda parte, a
matéria, tratada à luz dos princípios
doutrinais, não compreende apenas
elementos imutáveis, mas também
transitórios. A Constituição deve, pois, ser
interpretada segundo as normas teológicas
gerais, tendo em conta, especialmente na
segunda parte, as circunstâncias mutáveis
com que estão intrinsecamente ligados os
assuntos em questão”.
18. Uma auto-avaliação:
“Diante da variedade imensa, não só das
situações, mas também das formas da cultura
humana no mundo, esta exposição apresenta
deliberadamente um caráter genérico. Ainda
mais. Ainda que enuncie a doutrina já
tradicional na Igreja, como não raro trata das
realidades sujeitas a permanente evolução,
deverá ser prosseguida e ampliada” (GS, 91).
19. • “Confiamos que muitas coisas que
enunciamos, apoiados na Palavra de Deus e
no espírito do Evangelho, poderão trazer a
todos um auxílio valioso, sobretudo depois
que os cristãos, sob a orientação dos Pastores,
tiverem realizado a adaptação para cada povo
e mentalidade” (GS, 91).
21. A primeira parte consta de quatro
capítulos:
1) da dignidade da pessoa humana
2) da comunidade humana
3) do sentido da atividade humana no mundo
4) da função da Igreja no mundo de hoje
22. A segunda parte, mais ampla, aborda:
1) da promoção da dignidade do matrimônio e da família
2) da promoção do progresso cultural - em duas sessões:
princípios para a promoção da cultura e algumas
obrigações mais urgentes dos cristãos em relação à
cultura
3) da vida econômico-social - em duas sessões: o
desenvolvimento econômico e princípios que regem o
conjunto econômico-social
4) da vida da comunidade política
5) da construção da paz e da promoção da comunidade dos
povos - também em duas seções: a eliminação da guerra
e a construção da comunidade internacional
23. A perspectiva a partir da qual esses temas são
tratados pode ser captada no prólogo, que
afirma:
24. “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos homens de hoje, sobretudo dos
pobres e de todos aqueles que sofrem, são também
as alegrias e as esperanças, as tristezas e as
angústias dos discípulos de Cristo; e não há
realidade alguma verdadeiramente humana que
não encontre eco no seu coração” (GS, 1).
25. • E em seguida, a perspectiva da fé e de seu
anúncio é reafirmada de modo claro e belo: “a
sua comunidade é formada por homens, que,
reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito
Santo na sua peregrinação para o reino do Pai,
e receberam a mensagem da salvação para a
comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja
sente-se real e intimamente ligada ao gênero
humano e à sua história” (GS, 1).
26. “Procurando o seu fim salvífico, a Igreja não se
limita a comunicar ao homem a vida divina; espalha
sobre todo o mundo os reflexos da sua luz,
sobretudo enquanto cura e eleva a dignidade da
pessoa humana, consolida a coesão da sociedade e
dá um sentido mais profundo à quotidiana
atividade dos homens. A Igreja pensa, assim, que
por meio de cada um dos seus membros e por toda
a sua comunidade, muito pode colaborar para
tornar mais humana a família dos homens e a sua
história” (GS, 40).
27. “ O Concílio Vaticano II, tendo investigado
mais profundamente o mistério da Igreja, não
hesita agora em dirigir a sua palavra, não já
apenas aos filhos da Igreja e a quantos
invocam o nome de Cristo, mas a todos os
homens. Deseja expor-lhes o seu modo de
conceber a presença e atividade da Igreja no
mundo de hoje” (n. 2).
28. “Este sagrado Concílio, proclamando a sublime
vocação do homem, e afirmando que nele está
depositado um germe divino, oferece ao gênero
humano a sincera cooperação da Igreja, a fim de
instaurar a fraternidade universal que a esta
vocação corresponde. Nenhuma ambição terrena
move a Igreja, mas unicamente este objetivo:
continuar, sob a direção do Espírito Consolador, a
obra de Cristo que veio ao mundo para dar
testemunho da verdade , para salvar e não para
julgar, para servir e não para ser servido” (n. 3).
29. “Lembrados da palavra do Senhor: «nisto
reconhecerão todos que sois meus discípulos, se
vos amardes uns aos outros» (Jo 13,35), os
cristãos nada podem desejar mais ardentemente
do que servir sempre com maior generosidade e
eficácia os homens do mundo de hoje. E assim,
fiéis ao Evangelho e graças à sua força, unidos a
quantos amam e promovem a justiça, têm a
realizar aqui na terra uma obra imensa, da qual
prestarão contas Aquele que a todos julgará no
último dia” (N. 93).
30. “Deste modo, em toda a terra, os homens
serão estimulados à esperança viva, dom do
Espírito Santo, para que finalmente sejam
recebidos na paz e felicidade infinitas, na
pátria que refulge com a glória do Senhor” (n.
93)
31. “A missão própria confiada por Cristo à sua Igreja,
não é de ordem política, econômica ou social: o fim
que lhe propôs é, com efeito, de ordem religiosa.
Mas desta mesma missão religiosa deriva um
encargo, uma luz e uma energia que podem servir
para o estabelecimento e consolidação da
comunidade humana segundo a lei divina. E
também, quando for necessário, tendo em conta as
circunstâncias de tempos e lugares, pode ela
própria, e até deve, suscitar obras destinadas ao
serviço de todos, sobretudo dos pobres, tais como
obras caritativas e outras semelhantes” (GS, 42).
32. O serviço que a Igreja é chamada a prestar ao
mundo, é, como evidencia o documento, um
serviço de fé, de iluminação em vista do
discernimento concreto. E mesmo quando se
traduz em serviço de ordem temporal, social,
política ou econômica, sua fonte explícita
como também sua finalidade não se
desvinculam jamais desse fundamento, que
deve ser sempre explícito.
34. Um novo processo de “colonização” da
natureza humana – o “caso Argentina 2011”,
que, em um ano, aprovou três leis:
1) A procriação artificial
2) O “aluguel de útero”
3) A “identidade de gênero”
35. 1) A procriação artificial: desnaturaliza a
procriação humana
36. 2) O “aluguel de útero”: desnaturaliza a
generatividade, a paternidade-maternidade e
a filiação
37. 3) A “identidade de gênero”: desnaturaliza a
composição da família
38. • Coloca-se de lado a noção de “natureza
humana”, a sociedade tende a não se basear
mais nessa noção;
39. • Pretende-se excluir do debate público a
inspiração da fé católica para a construção da
sociedade;
40. • Trata-se de um “mercado do corpo”, que
envolve inclusive a violência e o tráfico de
pessoas;
41. • Muitos outros casos podem ser abordados a
partir dos outros temas da GS, e ainda “a
partir” de sua inspiração: trabalho, violência,
etc.