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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

                               CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO
                     Jor




Reportagem descritiva, bloco e fragmento
                             COIMBRA, Oswaldo. O texto da reportagem impressa. São Paulo:
                                                                    Ática, 1993, p. 81-103
Ao começarmos a estudar a reportagem narrativa, vimos que a característica
fundamental da estrutura de seu texto é a de conter os fatos organizados dentro de
uma relação de anterioridade ou de posterioridade. Por conter os fatos assim
organizados, ela pode mostrar mudanças progressivas de estado nas pessoas e nas
coisas, através do tempo. Vimos, também, que por isso ela se distingue da reportagem
dissertativa, cuja estrutura de texto se apóia num raciocínio explicitado, seguido de
fundamentação, o que lhe dá a natureza de uma relação lógica.

A estrutura de texto que analisaremos nos próximos itens -a descritiva - conquanto
abrigue pessoas e coisas como a da reportagem narrativa, ao contrário dela, mostra-as
fixadas num único momento, sem as mudanças progressivas que lhe traz o tempo. O
que, de qualquer modo, não significa ausência de ação, de movimento. Como mostram
Fiorin e Savioli, os verbos de movimento porventura presentes na descrição exprimem
ações que ocorrem num único instante - aquele apreendido pelo texto (cf. Fiorin &
Savioli, 1990, p. 297). Isto aparece neste trecho do texto assinado por Narciso Kalili
sobre os mineiros de Criciúma, no sul de Santa Catarina - quot;Eles vivem embaixo da
terraquot; -, na Realidade de junho de 1967, à página 128.


      O centro de Criciúma é formado por uma área de dez quarteirões. Na praça principal se
      encontram o monumento aos mineiros, a enorme igreja matriz e mais dez pequenos bares,
      onde velhos e moços sentam-se para tomar cafezinho ralo. Entre os bancos de madeira
      envernizada, rapazes e moças conversam sem muita animação, andando sem rumo ou
      parados em pequenos grupos. Ao lado da igreja, um campo de balão, espécie de boliche,
      reúne velhos em manga de camisa e chinelos. Nas ruas, carros último tipo ao lado de
      velhos caminhões. Meninos descalços e maltrapilhos correm em grupos, uma caixa nas
      costas, uma palavra e um gesto de mão:
      - Graxa?
      Mulheres doentes com crianças nos braços pedem esmolas.

O trecho do texto assinado por Kalili, além de ter todos os verbos no presente, a
indicar a simultaneidade das ocorrências que registra - nas quais, portanto, não há
progressão no tempo -, tem ainda outra característica da descrição, decorrente da
primeira, apontada também por Fiorin e Savioli. Podemos modificar a ordem das frases
- correspondentes a subtemas, a serem estudados adiante - que não alteraremos a
relação cronológica das ocorrências. Se inicialmente dissermos que meninos descalços
                                    Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
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                             ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
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e maltrapilhos correm em grupo, depois, que um campo de boliche reúne velhos e, por
fim, que rapazes e moças conversam entre bancos de madeira na praça, esta completa
alteração na organização do texto não provocará nenhuma modificação de seu sentido.
O que, obviamente, ocorreria se o texto fosse narrativo ou dissertativo.

Uma última característica desse tipo de texto - que também estudaremos adiante -
visível no trecho transcrito da matéria é a pormenorização - o detalhamento - do
momento apreendido. Assim, o cafezinho que velhos e moços tomam nos bares do
centro da cidade é ralo. Os bancos onde rapazes e moças conversam são
envernizados. E a própria conversa deles transcorre sem muita animação.

Fragmento, bloco e reportagem Quando se descreve algo, aquilo que é
descrito está geralmente inserido numa história ou num raciocínio. Um objeto,
lembram Muniz Sodré e Helena Ferrari, em Técnica de redação o texto nos meios de
comunicação, não vale por si mesmo, nem paira autônomo, fora de sua história ou de
seu contexto.
      Não se descreve uma coisa, pessoa, lugar, época, etc. sem levar em conta, ou subentender,
      a história desse objeto descrito (1977, p. 105).
Para a confecção do texto de reportagem tal fato tem duas conseqüências decisivas:
(a) há descrição dentro da reportagem narrativa, quando o objeto é inserido na sua
história, e, dentro da reportagem dissertativa, quando é inserido num raciocínio; (b)
há narração e dissertação dentro da reportagem descritiva, pelo mesmo motivo: o que
se descreve numa matéria jornalística ou é elemento de uma história ou é parte de um
raciocínio explícito. Pois, segundo Sodré e Ferrari,


      Não se pode mais entender descrição como um processo desligado da narração e da
      dissertação (1977, p. 105).
E Roberto Magalhães reafirma:
      A divisão que se faz em discurso narrativo, descritivo e dissertativo é na verdade mais de
      efeito didático, uma vez que, geralmente, essas modalidades coexistem e se completam
      (s.d., p. 94).
Segundo este autor, a classificação de um texto em narrativo, dissertativo e descritivo
se justifica apenas pela dominância nele de uma destas modalidades sobre as outras.
Essa dominância pode ser percebida pela maneira como cada modalidade integra um
mesmo texto. Do ponto de vista que nos interessa aqui - o da modalidade descritiva -
verificamos que ela pode estar presente no texto como:
1º) Fragmento descritivo

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Na reportagem narrativa, segundo Lopes e Reis, há sempre fragmentos portadores de
informações sobre as personagens, os objetos, o tempo e o espaço que configuram o
cenário das ações (cf. Lopes & Reis, 1988, p. 23). Essas informações (ou esses
informantes, segundo Barthes) servem, como veremos quando estudarmos
detalhamento, para enraizar o texto na realidade. Sua acumulação cria o quot;efeito de
realquot;, gera verossimilhança.
A Folha de S. Paulo, em seu Manual geral da redação, criou uma norma estabelecendo
quais informações devem fazer parte do fragmento descritivo que, necessariamente,
terá de acompanhar qualquer personagem nos textos de notícias do jornal. Diz o
manual que a personagem da notícia:
      Deve ser qualificada pela condição ou cargo que exerce e pela sua idade (1987, p. 82).
E prossegue:
      Pode-se omitir a idade de pessoa referida ocasionalmente no texto. Qualificações passadas
      (ex-presidente, ex-prefeito) só devem ser utilizadas quando relevantes no contexto. A idade
      do personagem da notícia deve ser informada entre vírgulas, logo após o seu nome. Se ele
      não quiser ver sua idade publicada pelo jornal, o desejo deve ser respeitado [... ]. Quando
      a naturalidade do personagem da notícia for uma informação relevante, ela também deve
      constar do texto (quot;o químico João da Silva, 34, maranhensequot;) (1987, p. 82).
Os fragmentos portadores de informações servem também como indícios. Lopes e Reis
definem indício como elemento que assegura a previsibilidade das ações das
personagens. O retrato de uma personagem pode conter indícios da seqüência de
ações que essa personagem irá desenvolver. Do mesmo modo, a descrição de um
espaço geográfico ou social pode contribuir para o desenrolar da narrativa (cf. Lopes &
Reis, 1988, p. 23).
2º) Bloco descritivo
a) Na reportagem narrativa. No capítulo em que estudamos o espaço narrativo, vimos
que, às vezes, blocos (trechos compactados e contínuos) de natureza descritiva
interrompem o desenrolar da ação. Dissemos que, quando esses blocos são
introduzidos pelo próprio narrador, há, então, a chamada ambientação franca e que há
ambientação reflexa quando quem os introduz é alguma personagem. Dissemos,
ainda, que esses blocos, se forem muito extensos, podem criar um vazio narrativo. No
entanto, se forem utilizados com habilidade pelo narrador auxiliarão na criação do
ritmo que ele quer imprimir à narrativa, criando alguns efeitos semelhantes (e outros
diferentes) àqueles obtidos com os recursos de aceleração e retardação, analisad9s em
capítulo anterior.
Segundo Bourneuf e Ouellet, a descrição dentro da narração pode atuar como: (a)
desvio: quando, por exemplo, a descrição de um ambiente garante um momento de
repouso, após uma passagem muito ativa e agitada; (b) suspense: quando é inseri da
num momento crítico da ação, aguçando a curiosidade do leitor quanto ao que virá em
seguida; (c) abertura: quando antecipa de algum modo o desenrolar da história; (d)
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alargamento: quando recupera uma informação já fornecida pelo texto e a
complementa com outras, detalhando-a. No Jornalismo, dá origem ao box (apud
Dimas, 1987, p. 41).
É corpo abertura que a descrição da situação do Estado do Piauí funciona no início do
texto assinado por Carlos Azevedo, na Realidade de abril de 1967, à página 44 - quot;O
Piauí existequot;. Antes de começar a narrativa da dura vida de Cecé, um garoto que
sobrevive engraxando sapatos de passageiros, no aeroporto de Teresina, o narrador,
de certo modo, já a antecipa nas quase 60 linhas de bloco compactado, no qual
apresenta o Estado.


       O crescimento demográfico é alto: as famílias têm de 5 a 12 filhos e dois terços dos
       habitantes têm menos de 18 anos, mas só há escolas primárias para 150 mil crianças.
       Assim, três quartos dos piauienses são analfabetos. Milhares estão doentes, pois os 13
       hospitais, os 50 postos de saúde e os 32 de assistência médica são insuficientes para tratar
       todos ... A terra está mal dividida: ou latifúndios para criação de gado, ou minifúndios
       impraticáveis para a lavoura [...].
b) Na reportagem dissertativa. Um dos processos de desenvolvimento do parágrafo
dissertativo, como observamos quando estudamos a reportagem dissertativa, é o da
descrição de detalhes, o processo que ocorre, sobretudo, após um tópico frasal inicial.
A própria denominação deste tipo de desenvolvimento já deixa claro que, embora seja
parte do parágrafo dissertativo, ele tem as características do texto descritivo, quer
dizer, seus verbos indicam ocorrências simultâneas, a ordem de suas frases pode ser
modificada sem se alterar a relação cronológica das ocorrências, o momento
apreendido é pormenorizado em detalhes. O desenvolvimento do parágrafo utilizado
por nós para exemplificar o que é um tópico frasal inicial - no item sobre tópico frasal -
é por descrição de detalhes. Ver na página 30 o parágrafo com seu tópico frasal
quot;Certo, o Pantanal é todo ele um showquot; e o bloco descritivo que lhe segue.
3º) Reportagem descritiva
Se, como acabamos de constatar, tanto o texto narrativo como o dissertativo podem
incorporar trechos descritivos, por seu lado, o texto descritivo pode, também, ter (e,
em geral, tem) trechos narrativos e trechos dissertativos. Afirmam Sodré e Ferrari:
       Uma reportagem totalmente descritiva corre o risco de tornar-se discursiva ou
       extremamente fria (1977, p. 115).
Conforme os autores citados, com raras exceções, as reportagens inteiramente
descritivas tornam-se pouco comunicativas, quando não desagradáveis. É o que ocorre
freqüentem ente nas reportagens com descrições técnicas, de algumas editorias
especializadas.
A reportagem descritiva pode tornar-se bastante interessante se nela forem
introduzidos recursos narrativos.

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      A descrição é dinamizada por pequenas situações sem importância fundamental, mas que
      enriquecem o texto, assegurando-lhe ritmo próprio (Sodré & Ferrari, 1977, p. 115).
Mesmo um tipo de reportagem que, geralmente, tende para o descritivismo, como a de
turismo, pode se tornar mais fluente se vier a agregar em seu texto trechos narrativos
e dissertativos. A revista Quatro Rodas, por exemplo, publicou na sua edição de julho
de 1990, à página 92, matéria turística sobre a região francesa de Provença. Vejamos
como, num de seus trechos, misturam-se os três tipos de textos. O trecho inicia com o
tópico frasal contendo um fato decorrente de dois fatos motivadores, apresentados
logo em seguida, no desenvolvimento, dentro de uma relação efeito e causas.
Encerrado o parágrafo dissertativo, inicia-se outro narrativo, pontilhado de fragmentos
descritivos:
      Que ninguém estranhe esta mistura de turismo cultural com autódromos. Primeiro, porque
      o automobilismo é tremendamente popular na França. Segundo, porque os guerreiros da
      antiga Roma já usavam a região da Provença (então Província Gallia Narbonnensis) para
      testar suas bigas. Ao sairmos do autódromo, apenas 8 quilômetros adiante, encontramos
      um belo vestígio romano: a Pont du Gard, de 275 metros de comprimento e 50 de altura,
      conduzindo um aqueduto e uma pista sobre o rio Gard - pista muito estreita para nossos
      cavalos modernos (na verdade, 204 cv cada um).
      Seguimos então para sudeste, rumo a Montpellier e Sete - onde a bela paisagem dos iates e
      veleiros no porto contrasta com a pista de provas da Goodyear, construída em meio aos
      canais.
      Depois, Aigues Mortes, cidadezinha medieval cercada de muralhas em meio a lagoas e
      pântanos.

A divisão do que se descreve                 Neste item, vamos analisar a divisão do
texto descritivo e verificar o que podemos encontrar descrito em textos. Comecemos
observando a descrição de uma coisa: um sistema de irrigação simples na matéria quot;O
espaguete faz choverquot;, publicada na Globo Rural, de janeiro de 1987, à página 24:
      O conjunto inteiro começa com uma boa fonte de água - nascente, ribeirão ou poço - capaz
      de suprir a área a ser irrigada. É nessa fonte que se instalam os canos de PVC, partindo de
      uma motobomba compatível com o tamanho da plantação. A esses canos liga-se um
      registro. Ao registro liga-se uma tubulação secundária de conduíte de 1'1/4 de diâmetro. É
      dessa tubulação de conduíte que vão partir, a intervalos de mais ou menos 1 metro, os
      conduítes paralelos, de meia polegada, que receberão os aspersores e que devem ter,
      logicamente, a extensão dos canteiros ou leirões que serão molhados.
De início, podemos perceber que a totalidade do sistema de irrigação foi dividida em
partes. O quot;conjunto inteiroquot; foi repartido em: fonte de água; motobomba; canos;


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registro; tubulação; conduítes; aspersores. Observamos, depois, que cada parte da
divisão do sistema foi considerada isoladamente.
Esses dois aspectos da descrição do sistema de irrigação estão presentes na descrição
de todo objeto. Entendemos objeto - já frisamos anteriormente - como tudo o que é
perceptível por qualquer dos sentidos. Toda descrição inicia com uma totalidade - o
tema - para, em seguida, dividi-Ia em partes - nos subtemas -, como mostra
Magalhães (s.d., p. 102). Abreu explica como um ambiente, por exemplo, que na vida
real compõe uma totalidade, ao ser descrito, aparece em pedaços:
      Quando alguém nos diz, por exemplo, quot;Havia uma grande sala retangularquot;, geralmente,
      imaginamos uma sala vazia. Se esse mesmo alguém nos diz quot;No centro dessa sala havia um
      piano negro, coberto de póquot;, passamos a imaginar a sala com um único móvel, um piano
      negro. E, dessa maneira, vamos mobiliando a sala, aos poucos, temporalmente (1989, p.
      36).
Encontrados os subtemas - as partes, os pedaços da totalidade - há, então, o que
Magalhães chama de predicação e que, de fato, é o detalhamento, como veremos
adiante. Cada subtema é caracterizado, através de qualidades que lhe são atribuídas,
das ações que executa, das comparações que se lhe fazem. Por exemplo, o subtema
fonte de água, do tema sistema de irrigação, recebe três predicações (detalhes): boa;
capaz de suprir a área a ser irrigada; (nela) se instalam os canos de PVC.
Os dois aspectos que observamos nesta descrição de uma coisa - o sistema de
irrigação -, o da divisão de sua totalidade em partes e o da predicação (do
detalhamento) de cada uma de suas partes, podem também ser encontrados nas
descrições de ser, paisagem, situação, mundo psicológico e mundo imaginário, isto é,
em tudo que contém um texto descritivo, como veremos a seguir. Os subtemas foram
separados por barra nas exemplificações.
Ser
Galinhas gigantes:
      [...] os galos de uma dessas raças, a brahma-dark, os maiores galináceos do mundo,
      chegam a 90 cm de altura e 8 quilos./ As galinhas atingem até 60 cm de altura e 5 quilos,!
      enquanto uma caipira dificilmente supera os 30 cm e os 2 quilos (quot;Galinhas gigantesquot;,
      Globo Rural, janeiro de 1987, p. 88).
Paisagem
A ilha de Fernando de Noronha:
      [...] enormes paredões de rocha negra batidos pelo mar,/ aves que voam sob um sol forte/ e
      cavernas submarinas cobertas de esponjas e corais coloridos (quot;Ilha das Sereias conquista
      o visitante com sua beleza naturalquot;, Folha de S. Paulo, capa do Caderno de Turismo, 26 de
      julho de 1990).
Situação
A de um astronauta em viagem espacial:
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      [...] sofrerá a falta de peso,/ a solidão/ e o silêncio cósmico,/ e se manterá à custa de
      estranhos alimentos (quot;Você suportaria?quot;, Realidade, fevereiro de 1967, p. 42).
Mundo psicológico
Crise de angústia:
      É como se uma grande mão estivesse o tempo todo me apertando o peito.! Às vezes começo
      a chorar de repente feito uma bola. Choro por um motivo à-toa, que nem sei qual é (quot;O
      homem está angustiadoquot;, Realidade, agosto de 1967, p. 116).
Mundo imaginário
O sonho da vitória da seleção brasileira, na Copa do Mundo de 1966:
      Quando o estádio de Wembley ouviu o apito final do juiz, Abel, o mais jovem dos jogadores
      da seleção brasileira, desmaiou em campo./ Os outros 10 não perceberam nada. Saltavam
      e gritavam como loucos, aos abraços e beijos./ Com os braços apontando o céu, os punhos
      cerrados, Gilmar berrava, chorando ... (Reportagem-ficção quot;Brasil tricampeão (foi assim
      que ganhamos a copa)quot;, Realidade, abril de 1966, p. 23).
A Realidade de maio de 1967, à página 16, publicou um texto assinado por Narciso
Kalili, em que o narrador em 1ª pessoa descreve o que assistiu acompanhando o
momento no qual um jovem viciado injeta drogas em sua veia. Título do texto: quot;Ele é
um viciadoquot;. O cenário da experiência - o apartamento de um professor, também
viciado, que concordou em cedê-lo para a experiência abre o texto: dos estudantes
que trabalham. A inserção fornece um quot;contexto de referênciasquot; ao leitor:
      O apartamento do professor é igual a centenas de outros existentes em certa região da Vila
      Buarque, bairro tradicional de marginais e criminosos, que a crônica policial paulista,
      com razão, mas sem originalidade, apelidou de quot;submundo do crimequot;. Situado no quinto
      andar de um edifício de dez, o apartamento tem uma sala-living grande e escura, que o
      professor dividiu em duas, transformando a parte da frente em escritório. Por um corredor
      que sai do centro da parede lateral, chega-se à cozinha, ao banheiro e ao quarto de
      dormir. Mesmo de dia é a única parte clara da casa.
Como muitos universitários brasileiros, o estudante de filosofia Paulo Brawn, de 23
anos, divide o seu tempo entre as aulas e o trabalho de contador num sofisticado
shopping center de Curitiba, Paraná.
Detalhamento.          A capacidade de caracterização de um objeto, manifestada ou
não por um autor em determinado texto, está relacionada também com a sua eventual
capacidade de percepção dos detalhes daquele objeto. Tomamos aqui novamente a
palavra objeto como designativa de tudo o que pode ser percebido por qualquer um
dos sentidos. Mesmo os elementos mais comuns e mais despercebidos da nossa
convivência cotidiana são redescobertos por essa procura de detalhes característicos.
Em seu livro, para treinar os leitores - talvez, futuros autores - na redescoberta de

                                     Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
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objetos familiares, Barbosa sugere que eles observem cuidadosamente os detalhes de
um palito de fósforo, de uma nota de dinheiro e de um pedaço de parede.
Na produção de texto a utilidade dos detalhes é a de causar pela sua acumulação
aquilo que, conforme Lopes e Reis, é chamado de quot;efeito de realquot;, como vimos
anteriormente. Por enraizarem o que é descrito num tempo e num espaço precisos, os
detalhes, chamados de informantes por Barthes, aumentam o grau de credibilidade do
texto, isto é, tornam-se quot;operadores de verossimilhançaquot;.
A descrição do apartamento do trecho do texto quot;Ele é um viciadoquot; é enriquecida por
diversos detalhes. O apelido colocado pela crônica policial na região onde está
localizado é, de acordo com o texto, sem originalidade. Sua sala-living, além de
grande, é escura. O quarto de dormir é a única parte da casa que recebe sol.
O trecho transcrito, constituído de quatro frases, divide-se, percebe-se, em duas
partes. Na primeira, integrada pela longa frase inicial, o narrador faz uma comparação
do apartamento do professor com outros apartamentos de uma região de São Paulo
 (quot;... é igual a ...”) e na segunda parte descreve o seu interior.
A comparação, como a feita no texto assinado por Kalili, é um dos elementos que nos
ajudam a articular uma imagem do objeto que pretendemos descrever. O outro
elemento a que já fizemos referência ao final do item anterior é o detalhamento. São
esses elementos que vamos estudar neste item.
Comparação. Como no exemplo da matéria transcrita acima, a comparação parte em
muitos textos de um elemento conhecido que serve como ponto de referência e por
meio do qual o autor pode introduzir o conhecido no desconhecido, assim como o
desconhecido no conhecido, conforme observou Severino Barbosa em Redação:
escrever é desvendar o mundo (1989, p. 47). Deste modo, amplia-se a capacidade »te
um autor comunicar suas percepções através de seus textos. A comparação, feita por
um autor a partir de um elemento conhecido pelo leitor, dá condição a este de
apreender melhor os traços do objeto descrito. O leitor poderá inserir tais traços no
seu universo de conhecimento. Ao fornecer elementos semelhantes, a comparação
torna acessíveis
      [...] pontos referenciais, apontando um contexto de referências para que o leitor se situe e
      possa reproduzir melhor, mais concretamente, o objeto em questã03 (Barbosa, 1989, p.
      47).
Um exemplo deste procedimento: o estudante de Filosofia, desconhecido, num texto
publicado pela Veja, em 16 de maio de 1990, à página 15, com o título quot;República
abertaquot;, é inserido num grupo com o qual os leitores certamente estavam
familiarizados, o

As metáforas
A narrativa de um ataque de soldados em guerra era o que aparentava ser um texto
assinado por Narciso Kalili e publicado na edição de dezembro de 1967, de Realidade,
à página 148:
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       - Agora! Atacar!
       Num só bloco, penetravam no escuro corredor. Alguns foram mortos logo na entrada, pela
       defesa inimiga. Os outros avançaram rápido em direção à garganta. Lutando sem recuar e.
       mesmo sofrendo milhares de baixa, tomaram o objetivo. Ar dividiram-se em grupos
       atacando em todos os pontos. Era preciso andar depressa. Os reforços inimigos deviam
       estar a caminho!
       - Aqui há espiões por todo lado!
       De repente, ouviu-se um rumor que foi crescendo até tornar-se ensurdecedor. Um
       deslocamento de ar atirou centenas deles para fora arrastando-os de volta pelo mesmo
       caminho:
       - Achim!
A impressão de que se tratava de uma narrativa de guerra, dada pelo trecho
transcrito, seria apagada à medida que o leitor avançasse na leitura do texto. Em
primeiro lugar, porque ele não tratava de guerra. Por sinal já no trecho transcrito havia
duas indicações nesse sentido: a palavra garganta e a onomatopéia de espirro. E, de
fato, o seu assunto era a gripe, como o próprio título da matéria revelava - quot;É a gripequot;.
Em segundo lugar, porque não era um texto narrativo, mas apenas um trecho
narrativo incorporado a um texto descritivo, onde se pretendia mostrar como a gripe
invade o organismo humano. Da incorporação de trechos narrativos em textos
descritivos, nós já tratamos. Fiquemos, portanto, neste item com a primeira impressão
causada pelo trecho descrito.
Então, é possível se falar de gripe utilizando expressões que são próprias de guerra? É
possível porque a palavra ataque - o tema do trecho - tanto está relacionada à doença
como à guerra. Ela constitui um ponto em comum entre duas áreas de significações.
Representa uma intersecção entre os significados de guerra e de doença. Assim, é
possível se estabelecer uma comparação implícita ao se tomar uma coisa - a guerra -
por outra - a doença. Em outras palavras, é possível usar a guerra como metáfora de
doença.
Para Fiorin e Savioli, metáfora é a alteração do sentido de uma palavra ou expressão
quando entre o sentido que o termo tem e o que ele adquire existe uma intersecção
(cf. Fiorin & Savioli, 1990, p. 122). Rocha Lima acrescenta em Gramática normativa da
língua portuguesa (1974, p. 461) que numa metáfora há a transferência de um termo
para uma esfera de significação que não é a sua, em virtude de uma comparação
implícita (cf. Lima, 1974, p. 461).
Essa possibilidade, criada pela metáfora, de comparar implicitamente algo com outra
coisa diferente dela mas com a qual tem uma área de significação em comum, é-
largamente utilizada na confecção de textos para a imprensa escrita, com a função
precípua de evitar a aridez em certos fragmentos descritivos. A metáfora, como


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elemento articulador de imagem, dá vivacidade a um fragmento de texto que, sem ela,
poderia tornar-se insípido.
Um fragmento descritivo, cientificamente correto, da fragilidade da economia brasileira
pode ter mais rigor, mas não será tão sugestivo quanto a frase: quot;A economia brasileira
está na corda bambaquot;. Do mesmo modo, a descrição precisa da política econômica
desenvolvida pelo ministro Maílson da Nóbrega, no Governo José Sarney, cuja
característica maior era a de não pretender inovar em nada, pode não ser tão
facilmente compreendida quanto a frase: quot;A política feijão-com-arroz do ministro
Maílson da Nóbregaquot;. Como nota Abreu, a todo instante, encontramos em textos
publicados pela imprensa metáforas como quot;a fritura do ministroquot;, quot;o trem da alegriaquot;
ou em frases como quot;A Rede Globo engatilhou na sexta-feira passada o que promete
ser um de seus tiros mais certeiros na guerra com o SBT pela audiência nas tardes de
domingoquot; (Abreu, 1989, p. 73).
Vamos organizar em seis grupos as metáforas utilizadas como fragmentos descritivos
em uma única reportagem. Veja: a sobre as reformas econômicas introduzidas na
União Soviética pelo presidente Mikhail Gorbachev, publicada na edição de 30 de maio
de 1990, à página 30, com o título de quot;Opção capitalistaquot;.
1º grupo:
      [...] todas as terapias de que ele lançou mão para reverter a crise econômica [...].
      [...] o pacote não constitui uma terapia de choque [...].
      [...] a receita será amarga [...].
2º grupo:
      [...] os principais pilares do edifício comunista [...].
3º grupo:
      [...] a perspectiva sombria do desemprego [...].
4º grupo:
      [...] uma devastadora onda de demissões [...].
5º grupo:
      [...] uma verdadeira bomba política [...].
      [...] a estratégia de divulgação do plano [...].
      [...] quando chegar a hora de Gorbachev apertar o gatilho, a arma vai funcionar [...].
      [...] a munição estocada para atacar os problemas econômicos [...].
6º grupo:
      [...] preso a esse emaranhado de problemas [...].
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As metáforas de cada um desses grupos receberam um nome na obra de Abreu. As do
quinto grupo foram as únicas que tiveram sua denominação dada pelo próprio autor do
livro. Ele as chamou de militares. As demais fazem parte de uma lista de 16
denominações criadas por J. V. Jensen, em Metaphorical constructs for the problem-
solving process, citado por Abreu, para metáforas de textos que procuram resolver
problemas sociais.
As do primeiro grupo, assim como todas as que comparam a sociedade ao corpo
humano e se relacionam com males e curas, são denominadas de médicas. A do grupo
seguinte é uma metáfora de construção. A do terceiro grupo, como qualquer outra
inserida na dicotomia claro/escuro, é a claro/escuro. A do quarto grupo é chamada de
percurso no mar. E, finalmente, a do sexto grupo, a de tecelagem.
Além dessas, fazem parte ainda da lista de Jensen metáforas como a deste segmento
descritivo do texto de outra reportagem de Veja da mesma edição citada, à página 80,
sobre o rock nacional, denominada de cativeiro:
       O rock [...] para se engaiolar num espaço determinado na programação das rádios.
As demais denominações de metáforas criadas por Jensen (apud Abreu, 1989, p. 74-8)
são: de percurso em terra (quot; ... a inflação ... deverá ser o obstáculo ... quot;); de limpeza
(quot;entulho autoritárioquot;); pastoral (quot;Deus é um pastor. .. quot;); de roubo (quot;roubar a
liberdadequot;); de conserto (quot;consertar as rachaduras do partidoquot;); de unificação (quot;O país
é uma grande famíliaquot;); de compositor ou musical (quot;O deputado foi a nota que
desafinouquot;); do lavrador (quot;Eleições é tempo de colheitaquot;); de fenômenos naturais (quot;O
país está à beira do abismoquot;).
Instrumentos fundamentais Os instrumentos fundamentais do processo
descritivo, como assinala Barbosa, são os cinco sentidos e todas as suas possibilidades
de percepção- Qualquer texto descritivo comprova isto. Podemos, com facilidade,
identificar o papel dos sentidos na captação da realidade em determinado autor ou
narrador. Com um mínimo de atenção podemos perceber qual o sentido mais usado
por ele, o que ele não emprega, como combina um sentido com outro na captação de
um ser ou de um objeto. Desta forma, os sentidos se revestem de dupla importância
para a prática do Jornalismo. De um lado, são elementos essenciais na captação das
informações. Sobre a utilidade dos sentidos na captação do real, afirma Barbosa:
       Pelo fato de estarmos vivos, estamos sentindo intensamente a realidade. A cada momento,
       nosso corpo registra inumeráveis impressões geradas pelo contato vivo de nossa
       sensibilidade sensorial com os elementos do mundo. Esse corpo-a-corpo com o mundo é a
       base viva de nossa percepção, sua fonte fecundadora: ponto de partida (material) para os
       complexos processos do conhecimento. Assim sendo, nós seres humanos todos temos um
       sistema de percepção suficiente para registrar inumeráveis impressões que cobrem
       amplamente os campos da realidade8 (1989, p. 44).


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Por outro lado, como as descrições envolvem sempre a utilização dos sentidos, eles
tornam-se, também, elementos da estrutura do texto jornalístico. Têm, portanto,
papéis relevantes nos planos da captação e da redação jornalísticas.
Vejamos como isto se manifesta nos fragmentos descritivos do texto assinado por
Narciso Kalili, citado no item anterior. Para compreender o sentido dos fragmentos
descritivos, façamos um sumário da narrativa. O jornalista-narrador-personagem
obtém o consentimento de um jovem viciado, Mário, para acompanhar as
transformações por que passa, depois de injetar em suas veias uma droga fornecida
por um professor. A experiência ocorre no apartamento do professor e é assistida
também pela mulher dele. Os sentidos do jorna1ista-narrador-personagem são, então,
os canais através dos quais aquilo que acontece no apartamento chega até o texto e,
por conseguinte, até o leitor.
Percepções visual-auditivas:
       Grande, musculoso, ainda jovem, ele (o professor) fala alto, gesticula muito. A mulher é
       enérgica, morena, alta, aparenta de 35 a 40 anos.
Percepções visuais:
       [ ... ] sofá da sala - uma peça enorme de forma irregular, forrada de cetim verde [ ... ].
       Quase não consigo ver os olhos de Mário atrás dos óculos, mas percebo que brilham e
       como que saltam das órbitas.
       Toda a roupa (de Mário) é simples, a camisa de algodão branco. Pouca barba, entradas
       fortes na testa, embora tenha muito cabelo.
Percepção olfativa:
       Da cozinha vinha um cheiro bom de café fresco.

Ponto de vista          Oriana Fallaci afirma, no prefácio do livro editado no Brasil com
o título de Os antipáticos, em que reuniu perfis de personalidades internacionais -
como os diretores de cinema Federico Fellini e Alfred Hitchcock, o cantor e ator Sammy
Davis Jr. entre outras -, publicado antes pela revista italiana Europeo, entre os anos de
1962 e 1964:
       Uma notícia, um retrato, não prescindem jamais das idéias, dos sentimentos, dos gostos de
       quem fornece a notícia ou o retrato. Uma árvore que para uns é viçosa, para mim é
       doentia; um homem que para uns é feíssimo, para mim é lindíssimo; uma hora que para
       uns é exata, para mim é errada: meu relógio estava adiantado ou atrasado, pior ainda, eu
       estava em outra parte do mundo, onde, ao invés das cinco da tarde, eram nove da noite.
       Existe, pode existir, portanto, somente a honestidade de quem fornece a notícia ou o retrato
       (Fallaci, s.d., p. 7).


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Essa atitude da jornalista - quase sempre também narradora e personagem de seus
textos - de não pretender separar os próprios sentimentos daquilo, ou daquele sobre o
que, ou quem escreve, transparece no perfil do campeão mundial dos pesos-pesados,
Cassius Clay, publicado por Realidade, em setembro de 1966, à página 83, com o
título de quot;Cassius Clay, aliás, Mohammed Aliquot;, como neste trecho:
      Agora, seu nome é Mohammed Ali e ele se tornou símbolo e tudo o que se deve condenar: a
      arrogância, o fanatismo que não conhece barreiras geográficas, nem diferença de línguas,
      nem cor de pele. Ele é o símbolo dos Muçulmanos Negros, uma das seitas mais perigosas
      da América, os assassinos de Malcom X; catequizaram-no, hipnotizaram-no. E o palhaço
      inofensivo se transformou num vaidoso irritante, um fanático sombrio e obtuso que prega a
      segregação racial, maltrata os brancos que estão ao lado dos negros, ameaça os negros
      que estão ao lado dos brancos e pretende que os Estados Unidos lhes entreguem um
      território em nome de Alá. E do qual ele seja o chefe: é o sonho que lhe puseram na
      cabeça, aproveitando-se de sua ignorância, pois ele sabe esmurrar e só.
Uma descrição como esta de Cassius Clay, na qual se misturam o que ele é, de fato,
com os sentimentos nutridos por ele por quem o descreveu, é marca da por um
determinado ponto de vista mental - o subjetivo. Para Garcia, o ponto de vista mental
subjetivo corresponde à predisposição psicológica do observador - sua simpatia ou
antipatia antecipada - que pode dar como resultado imagens muito diversas do mesmo
objet09 (cf. Garcia, 1969, p. 218). Até uma paisagem descrita de um ponto de vista
mental subjetivo pode assumir uma função crítica, deixando de ser encarada como
simples cenário. É o que mostram Sodré e Ferrari, ao transcreverem trechos do texto
quot;À espera do invernoquot;, assinado por Walder de Góes, publicado no Jornal do Brasil, em
04/04/1975, sobre a Argentina:


      Buenos Aires - Do 16º andar do supermoderno Buenos Aires Sheraton, o horizonte
      projetado sobre o rio da Prata é cinzento e belo. O porto fica bem em frente e são escassos
      os navios que chegam e partem, parece domingo na tarde de quinta-feira. O ritmo
      particular do porto reflete o ritmo geral da economia, na forte descida das curvas de
      produção e comércio (1977, p. 110).
Deve-se lembrar que os jornalistas em geral reconhecem que sua atividade contém
alguma carga de subjetividade. Por exemplo, o Manual geral da redação da Folha de S.
Paulo (1987, p. 34) diz no verbete sobre objetividade:
      Não existe objetividade em jornalismo. Ao redigir um texto e editá-lo, o jornalista toma
      uma série de decisões que são em larga medida subjetivas, influenciadas por suas posições
      pessoais, hábitos e emoções.
No entanto, o eventual reconhecimento de subjetividade não anula a procura da
exatidão no Jornalismo. O mesmo manual de redação diz que a exatidão é o elemento-

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chave da notícia, isto é, da informação como puro registro dos fatos, sem comentário
nem interpretação (1987, p. 33). E afirma ainda que a busca das informações corretas
e completas é a primeira obrigação de cada jornalista (1987, p. 30).
O texto descritivo marcado pela exatidão de pormenores, pela precisão de vocábulo e,
também, pela disposição didática das informações - o texto técnico, por exemplo - tem
um ponto de vista mental objetivo. Nele, o observador procura retratar com fidelidade
o ser em descrição (cf. Magalhães, s.d., p. 96). Isso acontece, por exemplo, nesta
descrição de um cavalo da raça bretão, na capa do caderno Agrofolha, da Folha de S.
Paulo, de 14 de agosto de 1990.
      O cavalo bretão é mais forte que o jumento, bastante rústico e pode viver de pasto. Pesa em
      média 800 quilos e tem 1,5 metro de altura. Possui conformação bem maior do que a dos
      eqüinos de sela. Trata-se de um animal superdócil e de fácil manejo, originário da região
      de Brest, norte da França.
Garcia, contudo, alerta que a exatidão e a minúcia não constituem a primordial
qualidade de uma descrição; ao contrário, podem até representar defeito. O que,
segundo o autor, interessa num objeto - e deve ser descrito - são os seus traços mais
singulares, mais salientes. Descrição miudamente fiel é, como em certos quadros, uma
espécie de natureza morta. É preciso saber selecionar os detalhes, saber reagrupá-los
e analisá-los para se conseguir, não uma cópia do objeto, mas uma imagem, uma
impressão dominante e saliente (cf. Garcia, 1969, p. 215).
Observe-se como no texto assinado por Ricardo Arnt, na capa do Caderno de Turismo,
da Folha de S. Paulo, de 9 de agosto de 1990, são descritas as ruínas de dois templos
gregos:
      As ruínas da cidade velha projetam-na imaginável, como uma aparição. O órfico se
      mistura ao onírico. Em 635 a.C., os gregos da ilha de Naxos esculpiram 16 leões no
      terraço em frente ao templo dedicado a Leto, mãe de Apoio, para protegê-lo. Sentados
      sobre ancas, eles fitam, esgazeados, o lugar onde teria existido o lago sagrado, em cujo
      centro mítico, sobre uma pedra, a mãe de Apoio deu à luz. O lago foi drenado, mas os leões
      continuam lá, cinco, perscrutando. Dionísio, o deus do desejo, ganhou um templo, em 300
      a.C., perfilado por pilares que sustentam poderosos e imponentes falos. São obeliscos
      apoiados em testículos. Os turistas primeiro pasmam, depois sorriem. Os lados do pilar
      mostram cenas em alto-relevo: um galo com cabeça de falo, Dionísio e as mênades (as
      bacantes possessas) e Sileno, o mais velho dos sátiros, o preceptor do deus - tudo o que a
      presunção de Nietzsche gostaria de ter sido.
Portanto, como vimos, nem a possível admissão de subjetividade no Jornalismo
invalida a sua aspiração à exatidão, nem alguma circunstancial necessidade de se fazer
descrições técnicas impede que, em outras situações, haja no Jornalismo, descrições
igualmente objetivas mas menos frias.
Não é apenas a predisposição afetiva em face do objeto a ser descrito que imprime à
descrição um determinado ponto de vista. Também, é claro, a perspectiva que o
                                      Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
                                              site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
                               ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
                                                                                       Página 14 de 15
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

                               CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO
                     Jor


observador tem do objeto, a sua localização geográfica. No primeiro caso, há ponto de
vista mental, no segundo, físico. As situações básicas que influirão na ordem e na
forma da enumeração descritiva, no ponto de vista físico, são: (a) estar próximo; (b)
distante; (c) abaixo; (d) fora; (e) dentro (cf. Magalhães, s.d., p. 96). Curioso é que,
embora estas situações digam respeito à localização externa, objetiva, do observador,
têm, também, correspondências no plano afetivo, psicológico. Também do ponto de
vista mental, numa descrição, o observador pode se colocar acima, abaixo, próximo ou
distante do objeto. Antigamente para valorizar o texto de um noticiário como vivo,
palpitante, dizia-se que fora escrito quot;de dentroquot; dos acontecimentos. A chamada de
capa da matéria em que o repórter José Hamilton Ribeiro contava como havia perdido
uma perna cobrindo a guerra do Vietnã, na Realidade de maio de 1968, era: quot;Nosso
repórter viu a guerra de pertoquot;.




                                    Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br)
                                            site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/
                             ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/
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A reportagem descritiva

  • 1. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor Reportagem descritiva, bloco e fragmento COIMBRA, Oswaldo. O texto da reportagem impressa. São Paulo: Ática, 1993, p. 81-103 Ao começarmos a estudar a reportagem narrativa, vimos que a característica fundamental da estrutura de seu texto é a de conter os fatos organizados dentro de uma relação de anterioridade ou de posterioridade. Por conter os fatos assim organizados, ela pode mostrar mudanças progressivas de estado nas pessoas e nas coisas, através do tempo. Vimos, também, que por isso ela se distingue da reportagem dissertativa, cuja estrutura de texto se apóia num raciocínio explicitado, seguido de fundamentação, o que lhe dá a natureza de uma relação lógica. A estrutura de texto que analisaremos nos próximos itens -a descritiva - conquanto abrigue pessoas e coisas como a da reportagem narrativa, ao contrário dela, mostra-as fixadas num único momento, sem as mudanças progressivas que lhe traz o tempo. O que, de qualquer modo, não significa ausência de ação, de movimento. Como mostram Fiorin e Savioli, os verbos de movimento porventura presentes na descrição exprimem ações que ocorrem num único instante - aquele apreendido pelo texto (cf. Fiorin & Savioli, 1990, p. 297). Isto aparece neste trecho do texto assinado por Narciso Kalili sobre os mineiros de Criciúma, no sul de Santa Catarina - quot;Eles vivem embaixo da terraquot; -, na Realidade de junho de 1967, à página 128. O centro de Criciúma é formado por uma área de dez quarteirões. Na praça principal se encontram o monumento aos mineiros, a enorme igreja matriz e mais dez pequenos bares, onde velhos e moços sentam-se para tomar cafezinho ralo. Entre os bancos de madeira envernizada, rapazes e moças conversam sem muita animação, andando sem rumo ou parados em pequenos grupos. Ao lado da igreja, um campo de balão, espécie de boliche, reúne velhos em manga de camisa e chinelos. Nas ruas, carros último tipo ao lado de velhos caminhões. Meninos descalços e maltrapilhos correm em grupos, uma caixa nas costas, uma palavra e um gesto de mão: - Graxa? Mulheres doentes com crianças nos braços pedem esmolas. O trecho do texto assinado por Kalili, além de ter todos os verbos no presente, a indicar a simultaneidade das ocorrências que registra - nas quais, portanto, não há progressão no tempo -, tem ainda outra característica da descrição, decorrente da primeira, apontada também por Fiorin e Savioli. Podemos modificar a ordem das frases - correspondentes a subtemas, a serem estudados adiante - que não alteraremos a relação cronológica das ocorrências. Se inicialmente dissermos que meninos descalços Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 1 de 15
  • 2. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor e maltrapilhos correm em grupo, depois, que um campo de boliche reúne velhos e, por fim, que rapazes e moças conversam entre bancos de madeira na praça, esta completa alteração na organização do texto não provocará nenhuma modificação de seu sentido. O que, obviamente, ocorreria se o texto fosse narrativo ou dissertativo. Uma última característica desse tipo de texto - que também estudaremos adiante - visível no trecho transcrito da matéria é a pormenorização - o detalhamento - do momento apreendido. Assim, o cafezinho que velhos e moços tomam nos bares do centro da cidade é ralo. Os bancos onde rapazes e moças conversam são envernizados. E a própria conversa deles transcorre sem muita animação. Fragmento, bloco e reportagem Quando se descreve algo, aquilo que é descrito está geralmente inserido numa história ou num raciocínio. Um objeto, lembram Muniz Sodré e Helena Ferrari, em Técnica de redação o texto nos meios de comunicação, não vale por si mesmo, nem paira autônomo, fora de sua história ou de seu contexto. Não se descreve uma coisa, pessoa, lugar, época, etc. sem levar em conta, ou subentender, a história desse objeto descrito (1977, p. 105). Para a confecção do texto de reportagem tal fato tem duas conseqüências decisivas: (a) há descrição dentro da reportagem narrativa, quando o objeto é inserido na sua história, e, dentro da reportagem dissertativa, quando é inserido num raciocínio; (b) há narração e dissertação dentro da reportagem descritiva, pelo mesmo motivo: o que se descreve numa matéria jornalística ou é elemento de uma história ou é parte de um raciocínio explícito. Pois, segundo Sodré e Ferrari, Não se pode mais entender descrição como um processo desligado da narração e da dissertação (1977, p. 105). E Roberto Magalhães reafirma: A divisão que se faz em discurso narrativo, descritivo e dissertativo é na verdade mais de efeito didático, uma vez que, geralmente, essas modalidades coexistem e se completam (s.d., p. 94). Segundo este autor, a classificação de um texto em narrativo, dissertativo e descritivo se justifica apenas pela dominância nele de uma destas modalidades sobre as outras. Essa dominância pode ser percebida pela maneira como cada modalidade integra um mesmo texto. Do ponto de vista que nos interessa aqui - o da modalidade descritiva - verificamos que ela pode estar presente no texto como: 1º) Fragmento descritivo Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 2 de 15
  • 3. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor Na reportagem narrativa, segundo Lopes e Reis, há sempre fragmentos portadores de informações sobre as personagens, os objetos, o tempo e o espaço que configuram o cenário das ações (cf. Lopes & Reis, 1988, p. 23). Essas informações (ou esses informantes, segundo Barthes) servem, como veremos quando estudarmos detalhamento, para enraizar o texto na realidade. Sua acumulação cria o quot;efeito de realquot;, gera verossimilhança. A Folha de S. Paulo, em seu Manual geral da redação, criou uma norma estabelecendo quais informações devem fazer parte do fragmento descritivo que, necessariamente, terá de acompanhar qualquer personagem nos textos de notícias do jornal. Diz o manual que a personagem da notícia: Deve ser qualificada pela condição ou cargo que exerce e pela sua idade (1987, p. 82). E prossegue: Pode-se omitir a idade de pessoa referida ocasionalmente no texto. Qualificações passadas (ex-presidente, ex-prefeito) só devem ser utilizadas quando relevantes no contexto. A idade do personagem da notícia deve ser informada entre vírgulas, logo após o seu nome. Se ele não quiser ver sua idade publicada pelo jornal, o desejo deve ser respeitado [... ]. Quando a naturalidade do personagem da notícia for uma informação relevante, ela também deve constar do texto (quot;o químico João da Silva, 34, maranhensequot;) (1987, p. 82). Os fragmentos portadores de informações servem também como indícios. Lopes e Reis definem indício como elemento que assegura a previsibilidade das ações das personagens. O retrato de uma personagem pode conter indícios da seqüência de ações que essa personagem irá desenvolver. Do mesmo modo, a descrição de um espaço geográfico ou social pode contribuir para o desenrolar da narrativa (cf. Lopes & Reis, 1988, p. 23). 2º) Bloco descritivo a) Na reportagem narrativa. No capítulo em que estudamos o espaço narrativo, vimos que, às vezes, blocos (trechos compactados e contínuos) de natureza descritiva interrompem o desenrolar da ação. Dissemos que, quando esses blocos são introduzidos pelo próprio narrador, há, então, a chamada ambientação franca e que há ambientação reflexa quando quem os introduz é alguma personagem. Dissemos, ainda, que esses blocos, se forem muito extensos, podem criar um vazio narrativo. No entanto, se forem utilizados com habilidade pelo narrador auxiliarão na criação do ritmo que ele quer imprimir à narrativa, criando alguns efeitos semelhantes (e outros diferentes) àqueles obtidos com os recursos de aceleração e retardação, analisad9s em capítulo anterior. Segundo Bourneuf e Ouellet, a descrição dentro da narração pode atuar como: (a) desvio: quando, por exemplo, a descrição de um ambiente garante um momento de repouso, após uma passagem muito ativa e agitada; (b) suspense: quando é inseri da num momento crítico da ação, aguçando a curiosidade do leitor quanto ao que virá em seguida; (c) abertura: quando antecipa de algum modo o desenrolar da história; (d) Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 3 de 15
  • 4. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor alargamento: quando recupera uma informação já fornecida pelo texto e a complementa com outras, detalhando-a. No Jornalismo, dá origem ao box (apud Dimas, 1987, p. 41). É corpo abertura que a descrição da situação do Estado do Piauí funciona no início do texto assinado por Carlos Azevedo, na Realidade de abril de 1967, à página 44 - quot;O Piauí existequot;. Antes de começar a narrativa da dura vida de Cecé, um garoto que sobrevive engraxando sapatos de passageiros, no aeroporto de Teresina, o narrador, de certo modo, já a antecipa nas quase 60 linhas de bloco compactado, no qual apresenta o Estado. O crescimento demográfico é alto: as famílias têm de 5 a 12 filhos e dois terços dos habitantes têm menos de 18 anos, mas só há escolas primárias para 150 mil crianças. Assim, três quartos dos piauienses são analfabetos. Milhares estão doentes, pois os 13 hospitais, os 50 postos de saúde e os 32 de assistência médica são insuficientes para tratar todos ... A terra está mal dividida: ou latifúndios para criação de gado, ou minifúndios impraticáveis para a lavoura [...]. b) Na reportagem dissertativa. Um dos processos de desenvolvimento do parágrafo dissertativo, como observamos quando estudamos a reportagem dissertativa, é o da descrição de detalhes, o processo que ocorre, sobretudo, após um tópico frasal inicial. A própria denominação deste tipo de desenvolvimento já deixa claro que, embora seja parte do parágrafo dissertativo, ele tem as características do texto descritivo, quer dizer, seus verbos indicam ocorrências simultâneas, a ordem de suas frases pode ser modificada sem se alterar a relação cronológica das ocorrências, o momento apreendido é pormenorizado em detalhes. O desenvolvimento do parágrafo utilizado por nós para exemplificar o que é um tópico frasal inicial - no item sobre tópico frasal - é por descrição de detalhes. Ver na página 30 o parágrafo com seu tópico frasal quot;Certo, o Pantanal é todo ele um showquot; e o bloco descritivo que lhe segue. 3º) Reportagem descritiva Se, como acabamos de constatar, tanto o texto narrativo como o dissertativo podem incorporar trechos descritivos, por seu lado, o texto descritivo pode, também, ter (e, em geral, tem) trechos narrativos e trechos dissertativos. Afirmam Sodré e Ferrari: Uma reportagem totalmente descritiva corre o risco de tornar-se discursiva ou extremamente fria (1977, p. 115). Conforme os autores citados, com raras exceções, as reportagens inteiramente descritivas tornam-se pouco comunicativas, quando não desagradáveis. É o que ocorre freqüentem ente nas reportagens com descrições técnicas, de algumas editorias especializadas. A reportagem descritiva pode tornar-se bastante interessante se nela forem introduzidos recursos narrativos. Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 4 de 15
  • 5. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor A descrição é dinamizada por pequenas situações sem importância fundamental, mas que enriquecem o texto, assegurando-lhe ritmo próprio (Sodré & Ferrari, 1977, p. 115). Mesmo um tipo de reportagem que, geralmente, tende para o descritivismo, como a de turismo, pode se tornar mais fluente se vier a agregar em seu texto trechos narrativos e dissertativos. A revista Quatro Rodas, por exemplo, publicou na sua edição de julho de 1990, à página 92, matéria turística sobre a região francesa de Provença. Vejamos como, num de seus trechos, misturam-se os três tipos de textos. O trecho inicia com o tópico frasal contendo um fato decorrente de dois fatos motivadores, apresentados logo em seguida, no desenvolvimento, dentro de uma relação efeito e causas. Encerrado o parágrafo dissertativo, inicia-se outro narrativo, pontilhado de fragmentos descritivos: Que ninguém estranhe esta mistura de turismo cultural com autódromos. Primeiro, porque o automobilismo é tremendamente popular na França. Segundo, porque os guerreiros da antiga Roma já usavam a região da Provença (então Província Gallia Narbonnensis) para testar suas bigas. Ao sairmos do autódromo, apenas 8 quilômetros adiante, encontramos um belo vestígio romano: a Pont du Gard, de 275 metros de comprimento e 50 de altura, conduzindo um aqueduto e uma pista sobre o rio Gard - pista muito estreita para nossos cavalos modernos (na verdade, 204 cv cada um). Seguimos então para sudeste, rumo a Montpellier e Sete - onde a bela paisagem dos iates e veleiros no porto contrasta com a pista de provas da Goodyear, construída em meio aos canais. Depois, Aigues Mortes, cidadezinha medieval cercada de muralhas em meio a lagoas e pântanos. A divisão do que se descreve Neste item, vamos analisar a divisão do texto descritivo e verificar o que podemos encontrar descrito em textos. Comecemos observando a descrição de uma coisa: um sistema de irrigação simples na matéria quot;O espaguete faz choverquot;, publicada na Globo Rural, de janeiro de 1987, à página 24: O conjunto inteiro começa com uma boa fonte de água - nascente, ribeirão ou poço - capaz de suprir a área a ser irrigada. É nessa fonte que se instalam os canos de PVC, partindo de uma motobomba compatível com o tamanho da plantação. A esses canos liga-se um registro. Ao registro liga-se uma tubulação secundária de conduíte de 1'1/4 de diâmetro. É dessa tubulação de conduíte que vão partir, a intervalos de mais ou menos 1 metro, os conduítes paralelos, de meia polegada, que receberão os aspersores e que devem ter, logicamente, a extensão dos canteiros ou leirões que serão molhados. De início, podemos perceber que a totalidade do sistema de irrigação foi dividida em partes. O quot;conjunto inteiroquot; foi repartido em: fonte de água; motobomba; canos; Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 5 de 15
  • 6. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor registro; tubulação; conduítes; aspersores. Observamos, depois, que cada parte da divisão do sistema foi considerada isoladamente. Esses dois aspectos da descrição do sistema de irrigação estão presentes na descrição de todo objeto. Entendemos objeto - já frisamos anteriormente - como tudo o que é perceptível por qualquer dos sentidos. Toda descrição inicia com uma totalidade - o tema - para, em seguida, dividi-Ia em partes - nos subtemas -, como mostra Magalhães (s.d., p. 102). Abreu explica como um ambiente, por exemplo, que na vida real compõe uma totalidade, ao ser descrito, aparece em pedaços: Quando alguém nos diz, por exemplo, quot;Havia uma grande sala retangularquot;, geralmente, imaginamos uma sala vazia. Se esse mesmo alguém nos diz quot;No centro dessa sala havia um piano negro, coberto de póquot;, passamos a imaginar a sala com um único móvel, um piano negro. E, dessa maneira, vamos mobiliando a sala, aos poucos, temporalmente (1989, p. 36). Encontrados os subtemas - as partes, os pedaços da totalidade - há, então, o que Magalhães chama de predicação e que, de fato, é o detalhamento, como veremos adiante. Cada subtema é caracterizado, através de qualidades que lhe são atribuídas, das ações que executa, das comparações que se lhe fazem. Por exemplo, o subtema fonte de água, do tema sistema de irrigação, recebe três predicações (detalhes): boa; capaz de suprir a área a ser irrigada; (nela) se instalam os canos de PVC. Os dois aspectos que observamos nesta descrição de uma coisa - o sistema de irrigação -, o da divisão de sua totalidade em partes e o da predicação (do detalhamento) de cada uma de suas partes, podem também ser encontrados nas descrições de ser, paisagem, situação, mundo psicológico e mundo imaginário, isto é, em tudo que contém um texto descritivo, como veremos a seguir. Os subtemas foram separados por barra nas exemplificações. Ser Galinhas gigantes: [...] os galos de uma dessas raças, a brahma-dark, os maiores galináceos do mundo, chegam a 90 cm de altura e 8 quilos./ As galinhas atingem até 60 cm de altura e 5 quilos,! enquanto uma caipira dificilmente supera os 30 cm e os 2 quilos (quot;Galinhas gigantesquot;, Globo Rural, janeiro de 1987, p. 88). Paisagem A ilha de Fernando de Noronha: [...] enormes paredões de rocha negra batidos pelo mar,/ aves que voam sob um sol forte/ e cavernas submarinas cobertas de esponjas e corais coloridos (quot;Ilha das Sereias conquista o visitante com sua beleza naturalquot;, Folha de S. Paulo, capa do Caderno de Turismo, 26 de julho de 1990). Situação A de um astronauta em viagem espacial: Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 6 de 15
  • 7. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor [...] sofrerá a falta de peso,/ a solidão/ e o silêncio cósmico,/ e se manterá à custa de estranhos alimentos (quot;Você suportaria?quot;, Realidade, fevereiro de 1967, p. 42). Mundo psicológico Crise de angústia: É como se uma grande mão estivesse o tempo todo me apertando o peito.! Às vezes começo a chorar de repente feito uma bola. Choro por um motivo à-toa, que nem sei qual é (quot;O homem está angustiadoquot;, Realidade, agosto de 1967, p. 116). Mundo imaginário O sonho da vitória da seleção brasileira, na Copa do Mundo de 1966: Quando o estádio de Wembley ouviu o apito final do juiz, Abel, o mais jovem dos jogadores da seleção brasileira, desmaiou em campo./ Os outros 10 não perceberam nada. Saltavam e gritavam como loucos, aos abraços e beijos./ Com os braços apontando o céu, os punhos cerrados, Gilmar berrava, chorando ... (Reportagem-ficção quot;Brasil tricampeão (foi assim que ganhamos a copa)quot;, Realidade, abril de 1966, p. 23). A Realidade de maio de 1967, à página 16, publicou um texto assinado por Narciso Kalili, em que o narrador em 1ª pessoa descreve o que assistiu acompanhando o momento no qual um jovem viciado injeta drogas em sua veia. Título do texto: quot;Ele é um viciadoquot;. O cenário da experiência - o apartamento de um professor, também viciado, que concordou em cedê-lo para a experiência abre o texto: dos estudantes que trabalham. A inserção fornece um quot;contexto de referênciasquot; ao leitor: O apartamento do professor é igual a centenas de outros existentes em certa região da Vila Buarque, bairro tradicional de marginais e criminosos, que a crônica policial paulista, com razão, mas sem originalidade, apelidou de quot;submundo do crimequot;. Situado no quinto andar de um edifício de dez, o apartamento tem uma sala-living grande e escura, que o professor dividiu em duas, transformando a parte da frente em escritório. Por um corredor que sai do centro da parede lateral, chega-se à cozinha, ao banheiro e ao quarto de dormir. Mesmo de dia é a única parte clara da casa. Como muitos universitários brasileiros, o estudante de filosofia Paulo Brawn, de 23 anos, divide o seu tempo entre as aulas e o trabalho de contador num sofisticado shopping center de Curitiba, Paraná. Detalhamento. A capacidade de caracterização de um objeto, manifestada ou não por um autor em determinado texto, está relacionada também com a sua eventual capacidade de percepção dos detalhes daquele objeto. Tomamos aqui novamente a palavra objeto como designativa de tudo o que pode ser percebido por qualquer um dos sentidos. Mesmo os elementos mais comuns e mais despercebidos da nossa convivência cotidiana são redescobertos por essa procura de detalhes característicos. Em seu livro, para treinar os leitores - talvez, futuros autores - na redescoberta de Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 7 de 15
  • 8. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor objetos familiares, Barbosa sugere que eles observem cuidadosamente os detalhes de um palito de fósforo, de uma nota de dinheiro e de um pedaço de parede. Na produção de texto a utilidade dos detalhes é a de causar pela sua acumulação aquilo que, conforme Lopes e Reis, é chamado de quot;efeito de realquot;, como vimos anteriormente. Por enraizarem o que é descrito num tempo e num espaço precisos, os detalhes, chamados de informantes por Barthes, aumentam o grau de credibilidade do texto, isto é, tornam-se quot;operadores de verossimilhançaquot;. A descrição do apartamento do trecho do texto quot;Ele é um viciadoquot; é enriquecida por diversos detalhes. O apelido colocado pela crônica policial na região onde está localizado é, de acordo com o texto, sem originalidade. Sua sala-living, além de grande, é escura. O quarto de dormir é a única parte da casa que recebe sol. O trecho transcrito, constituído de quatro frases, divide-se, percebe-se, em duas partes. Na primeira, integrada pela longa frase inicial, o narrador faz uma comparação do apartamento do professor com outros apartamentos de uma região de São Paulo (quot;... é igual a ...”) e na segunda parte descreve o seu interior. A comparação, como a feita no texto assinado por Kalili, é um dos elementos que nos ajudam a articular uma imagem do objeto que pretendemos descrever. O outro elemento a que já fizemos referência ao final do item anterior é o detalhamento. São esses elementos que vamos estudar neste item. Comparação. Como no exemplo da matéria transcrita acima, a comparação parte em muitos textos de um elemento conhecido que serve como ponto de referência e por meio do qual o autor pode introduzir o conhecido no desconhecido, assim como o desconhecido no conhecido, conforme observou Severino Barbosa em Redação: escrever é desvendar o mundo (1989, p. 47). Deste modo, amplia-se a capacidade »te um autor comunicar suas percepções através de seus textos. A comparação, feita por um autor a partir de um elemento conhecido pelo leitor, dá condição a este de apreender melhor os traços do objeto descrito. O leitor poderá inserir tais traços no seu universo de conhecimento. Ao fornecer elementos semelhantes, a comparação torna acessíveis [...] pontos referenciais, apontando um contexto de referências para que o leitor se situe e possa reproduzir melhor, mais concretamente, o objeto em questã03 (Barbosa, 1989, p. 47). Um exemplo deste procedimento: o estudante de Filosofia, desconhecido, num texto publicado pela Veja, em 16 de maio de 1990, à página 15, com o título quot;República abertaquot;, é inserido num grupo com o qual os leitores certamente estavam familiarizados, o As metáforas A narrativa de um ataque de soldados em guerra era o que aparentava ser um texto assinado por Narciso Kalili e publicado na edição de dezembro de 1967, de Realidade, à página 148: Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 8 de 15
  • 9. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor - Agora! Atacar! Num só bloco, penetravam no escuro corredor. Alguns foram mortos logo na entrada, pela defesa inimiga. Os outros avançaram rápido em direção à garganta. Lutando sem recuar e. mesmo sofrendo milhares de baixa, tomaram o objetivo. Ar dividiram-se em grupos atacando em todos os pontos. Era preciso andar depressa. Os reforços inimigos deviam estar a caminho! - Aqui há espiões por todo lado! De repente, ouviu-se um rumor que foi crescendo até tornar-se ensurdecedor. Um deslocamento de ar atirou centenas deles para fora arrastando-os de volta pelo mesmo caminho: - Achim! A impressão de que se tratava de uma narrativa de guerra, dada pelo trecho transcrito, seria apagada à medida que o leitor avançasse na leitura do texto. Em primeiro lugar, porque ele não tratava de guerra. Por sinal já no trecho transcrito havia duas indicações nesse sentido: a palavra garganta e a onomatopéia de espirro. E, de fato, o seu assunto era a gripe, como o próprio título da matéria revelava - quot;É a gripequot;. Em segundo lugar, porque não era um texto narrativo, mas apenas um trecho narrativo incorporado a um texto descritivo, onde se pretendia mostrar como a gripe invade o organismo humano. Da incorporação de trechos narrativos em textos descritivos, nós já tratamos. Fiquemos, portanto, neste item com a primeira impressão causada pelo trecho descrito. Então, é possível se falar de gripe utilizando expressões que são próprias de guerra? É possível porque a palavra ataque - o tema do trecho - tanto está relacionada à doença como à guerra. Ela constitui um ponto em comum entre duas áreas de significações. Representa uma intersecção entre os significados de guerra e de doença. Assim, é possível se estabelecer uma comparação implícita ao se tomar uma coisa - a guerra - por outra - a doença. Em outras palavras, é possível usar a guerra como metáfora de doença. Para Fiorin e Savioli, metáfora é a alteração do sentido de uma palavra ou expressão quando entre o sentido que o termo tem e o que ele adquire existe uma intersecção (cf. Fiorin & Savioli, 1990, p. 122). Rocha Lima acrescenta em Gramática normativa da língua portuguesa (1974, p. 461) que numa metáfora há a transferência de um termo para uma esfera de significação que não é a sua, em virtude de uma comparação implícita (cf. Lima, 1974, p. 461). Essa possibilidade, criada pela metáfora, de comparar implicitamente algo com outra coisa diferente dela mas com a qual tem uma área de significação em comum, é- largamente utilizada na confecção de textos para a imprensa escrita, com a função precípua de evitar a aridez em certos fragmentos descritivos. A metáfora, como Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 9 de 15
  • 10. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor elemento articulador de imagem, dá vivacidade a um fragmento de texto que, sem ela, poderia tornar-se insípido. Um fragmento descritivo, cientificamente correto, da fragilidade da economia brasileira pode ter mais rigor, mas não será tão sugestivo quanto a frase: quot;A economia brasileira está na corda bambaquot;. Do mesmo modo, a descrição precisa da política econômica desenvolvida pelo ministro Maílson da Nóbrega, no Governo José Sarney, cuja característica maior era a de não pretender inovar em nada, pode não ser tão facilmente compreendida quanto a frase: quot;A política feijão-com-arroz do ministro Maílson da Nóbregaquot;. Como nota Abreu, a todo instante, encontramos em textos publicados pela imprensa metáforas como quot;a fritura do ministroquot;, quot;o trem da alegriaquot; ou em frases como quot;A Rede Globo engatilhou na sexta-feira passada o que promete ser um de seus tiros mais certeiros na guerra com o SBT pela audiência nas tardes de domingoquot; (Abreu, 1989, p. 73). Vamos organizar em seis grupos as metáforas utilizadas como fragmentos descritivos em uma única reportagem. Veja: a sobre as reformas econômicas introduzidas na União Soviética pelo presidente Mikhail Gorbachev, publicada na edição de 30 de maio de 1990, à página 30, com o título de quot;Opção capitalistaquot;. 1º grupo: [...] todas as terapias de que ele lançou mão para reverter a crise econômica [...]. [...] o pacote não constitui uma terapia de choque [...]. [...] a receita será amarga [...]. 2º grupo: [...] os principais pilares do edifício comunista [...]. 3º grupo: [...] a perspectiva sombria do desemprego [...]. 4º grupo: [...] uma devastadora onda de demissões [...]. 5º grupo: [...] uma verdadeira bomba política [...]. [...] a estratégia de divulgação do plano [...]. [...] quando chegar a hora de Gorbachev apertar o gatilho, a arma vai funcionar [...]. [...] a munição estocada para atacar os problemas econômicos [...]. 6º grupo: [...] preso a esse emaranhado de problemas [...]. Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 10 de 15
  • 11. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor As metáforas de cada um desses grupos receberam um nome na obra de Abreu. As do quinto grupo foram as únicas que tiveram sua denominação dada pelo próprio autor do livro. Ele as chamou de militares. As demais fazem parte de uma lista de 16 denominações criadas por J. V. Jensen, em Metaphorical constructs for the problem- solving process, citado por Abreu, para metáforas de textos que procuram resolver problemas sociais. As do primeiro grupo, assim como todas as que comparam a sociedade ao corpo humano e se relacionam com males e curas, são denominadas de médicas. A do grupo seguinte é uma metáfora de construção. A do terceiro grupo, como qualquer outra inserida na dicotomia claro/escuro, é a claro/escuro. A do quarto grupo é chamada de percurso no mar. E, finalmente, a do sexto grupo, a de tecelagem. Além dessas, fazem parte ainda da lista de Jensen metáforas como a deste segmento descritivo do texto de outra reportagem de Veja da mesma edição citada, à página 80, sobre o rock nacional, denominada de cativeiro: O rock [...] para se engaiolar num espaço determinado na programação das rádios. As demais denominações de metáforas criadas por Jensen (apud Abreu, 1989, p. 74-8) são: de percurso em terra (quot; ... a inflação ... deverá ser o obstáculo ... quot;); de limpeza (quot;entulho autoritárioquot;); pastoral (quot;Deus é um pastor. .. quot;); de roubo (quot;roubar a liberdadequot;); de conserto (quot;consertar as rachaduras do partidoquot;); de unificação (quot;O país é uma grande famíliaquot;); de compositor ou musical (quot;O deputado foi a nota que desafinouquot;); do lavrador (quot;Eleições é tempo de colheitaquot;); de fenômenos naturais (quot;O país está à beira do abismoquot;). Instrumentos fundamentais Os instrumentos fundamentais do processo descritivo, como assinala Barbosa, são os cinco sentidos e todas as suas possibilidades de percepção- Qualquer texto descritivo comprova isto. Podemos, com facilidade, identificar o papel dos sentidos na captação da realidade em determinado autor ou narrador. Com um mínimo de atenção podemos perceber qual o sentido mais usado por ele, o que ele não emprega, como combina um sentido com outro na captação de um ser ou de um objeto. Desta forma, os sentidos se revestem de dupla importância para a prática do Jornalismo. De um lado, são elementos essenciais na captação das informações. Sobre a utilidade dos sentidos na captação do real, afirma Barbosa: Pelo fato de estarmos vivos, estamos sentindo intensamente a realidade. A cada momento, nosso corpo registra inumeráveis impressões geradas pelo contato vivo de nossa sensibilidade sensorial com os elementos do mundo. Esse corpo-a-corpo com o mundo é a base viva de nossa percepção, sua fonte fecundadora: ponto de partida (material) para os complexos processos do conhecimento. Assim sendo, nós seres humanos todos temos um sistema de percepção suficiente para registrar inumeráveis impressões que cobrem amplamente os campos da realidade8 (1989, p. 44). Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 11 de 15
  • 12. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor Por outro lado, como as descrições envolvem sempre a utilização dos sentidos, eles tornam-se, também, elementos da estrutura do texto jornalístico. Têm, portanto, papéis relevantes nos planos da captação e da redação jornalísticas. Vejamos como isto se manifesta nos fragmentos descritivos do texto assinado por Narciso Kalili, citado no item anterior. Para compreender o sentido dos fragmentos descritivos, façamos um sumário da narrativa. O jornalista-narrador-personagem obtém o consentimento de um jovem viciado, Mário, para acompanhar as transformações por que passa, depois de injetar em suas veias uma droga fornecida por um professor. A experiência ocorre no apartamento do professor e é assistida também pela mulher dele. Os sentidos do jorna1ista-narrador-personagem são, então, os canais através dos quais aquilo que acontece no apartamento chega até o texto e, por conseguinte, até o leitor. Percepções visual-auditivas: Grande, musculoso, ainda jovem, ele (o professor) fala alto, gesticula muito. A mulher é enérgica, morena, alta, aparenta de 35 a 40 anos. Percepções visuais: [ ... ] sofá da sala - uma peça enorme de forma irregular, forrada de cetim verde [ ... ]. Quase não consigo ver os olhos de Mário atrás dos óculos, mas percebo que brilham e como que saltam das órbitas. Toda a roupa (de Mário) é simples, a camisa de algodão branco. Pouca barba, entradas fortes na testa, embora tenha muito cabelo. Percepção olfativa: Da cozinha vinha um cheiro bom de café fresco. Ponto de vista Oriana Fallaci afirma, no prefácio do livro editado no Brasil com o título de Os antipáticos, em que reuniu perfis de personalidades internacionais - como os diretores de cinema Federico Fellini e Alfred Hitchcock, o cantor e ator Sammy Davis Jr. entre outras -, publicado antes pela revista italiana Europeo, entre os anos de 1962 e 1964: Uma notícia, um retrato, não prescindem jamais das idéias, dos sentimentos, dos gostos de quem fornece a notícia ou o retrato. Uma árvore que para uns é viçosa, para mim é doentia; um homem que para uns é feíssimo, para mim é lindíssimo; uma hora que para uns é exata, para mim é errada: meu relógio estava adiantado ou atrasado, pior ainda, eu estava em outra parte do mundo, onde, ao invés das cinco da tarde, eram nove da noite. Existe, pode existir, portanto, somente a honestidade de quem fornece a notícia ou o retrato (Fallaci, s.d., p. 7). Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 12 de 15
  • 13. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor Essa atitude da jornalista - quase sempre também narradora e personagem de seus textos - de não pretender separar os próprios sentimentos daquilo, ou daquele sobre o que, ou quem escreve, transparece no perfil do campeão mundial dos pesos-pesados, Cassius Clay, publicado por Realidade, em setembro de 1966, à página 83, com o título de quot;Cassius Clay, aliás, Mohammed Aliquot;, como neste trecho: Agora, seu nome é Mohammed Ali e ele se tornou símbolo e tudo o que se deve condenar: a arrogância, o fanatismo que não conhece barreiras geográficas, nem diferença de línguas, nem cor de pele. Ele é o símbolo dos Muçulmanos Negros, uma das seitas mais perigosas da América, os assassinos de Malcom X; catequizaram-no, hipnotizaram-no. E o palhaço inofensivo se transformou num vaidoso irritante, um fanático sombrio e obtuso que prega a segregação racial, maltrata os brancos que estão ao lado dos negros, ameaça os negros que estão ao lado dos brancos e pretende que os Estados Unidos lhes entreguem um território em nome de Alá. E do qual ele seja o chefe: é o sonho que lhe puseram na cabeça, aproveitando-se de sua ignorância, pois ele sabe esmurrar e só. Uma descrição como esta de Cassius Clay, na qual se misturam o que ele é, de fato, com os sentimentos nutridos por ele por quem o descreveu, é marca da por um determinado ponto de vista mental - o subjetivo. Para Garcia, o ponto de vista mental subjetivo corresponde à predisposição psicológica do observador - sua simpatia ou antipatia antecipada - que pode dar como resultado imagens muito diversas do mesmo objet09 (cf. Garcia, 1969, p. 218). Até uma paisagem descrita de um ponto de vista mental subjetivo pode assumir uma função crítica, deixando de ser encarada como simples cenário. É o que mostram Sodré e Ferrari, ao transcreverem trechos do texto quot;À espera do invernoquot;, assinado por Walder de Góes, publicado no Jornal do Brasil, em 04/04/1975, sobre a Argentina: Buenos Aires - Do 16º andar do supermoderno Buenos Aires Sheraton, o horizonte projetado sobre o rio da Prata é cinzento e belo. O porto fica bem em frente e são escassos os navios que chegam e partem, parece domingo na tarde de quinta-feira. O ritmo particular do porto reflete o ritmo geral da economia, na forte descida das curvas de produção e comércio (1977, p. 110). Deve-se lembrar que os jornalistas em geral reconhecem que sua atividade contém alguma carga de subjetividade. Por exemplo, o Manual geral da redação da Folha de S. Paulo (1987, p. 34) diz no verbete sobre objetividade: Não existe objetividade em jornalismo. Ao redigir um texto e editá-lo, o jornalista toma uma série de decisões que são em larga medida subjetivas, influenciadas por suas posições pessoais, hábitos e emoções. No entanto, o eventual reconhecimento de subjetividade não anula a procura da exatidão no Jornalismo. O mesmo manual de redação diz que a exatidão é o elemento- Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 13 de 15
  • 14. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor chave da notícia, isto é, da informação como puro registro dos fatos, sem comentário nem interpretação (1987, p. 33). E afirma ainda que a busca das informações corretas e completas é a primeira obrigação de cada jornalista (1987, p. 30). O texto descritivo marcado pela exatidão de pormenores, pela precisão de vocábulo e, também, pela disposição didática das informações - o texto técnico, por exemplo - tem um ponto de vista mental objetivo. Nele, o observador procura retratar com fidelidade o ser em descrição (cf. Magalhães, s.d., p. 96). Isso acontece, por exemplo, nesta descrição de um cavalo da raça bretão, na capa do caderno Agrofolha, da Folha de S. Paulo, de 14 de agosto de 1990. O cavalo bretão é mais forte que o jumento, bastante rústico e pode viver de pasto. Pesa em média 800 quilos e tem 1,5 metro de altura. Possui conformação bem maior do que a dos eqüinos de sela. Trata-se de um animal superdócil e de fácil manejo, originário da região de Brest, norte da França. Garcia, contudo, alerta que a exatidão e a minúcia não constituem a primordial qualidade de uma descrição; ao contrário, podem até representar defeito. O que, segundo o autor, interessa num objeto - e deve ser descrito - são os seus traços mais singulares, mais salientes. Descrição miudamente fiel é, como em certos quadros, uma espécie de natureza morta. É preciso saber selecionar os detalhes, saber reagrupá-los e analisá-los para se conseguir, não uma cópia do objeto, mas uma imagem, uma impressão dominante e saliente (cf. Garcia, 1969, p. 215). Observe-se como no texto assinado por Ricardo Arnt, na capa do Caderno de Turismo, da Folha de S. Paulo, de 9 de agosto de 1990, são descritas as ruínas de dois templos gregos: As ruínas da cidade velha projetam-na imaginável, como uma aparição. O órfico se mistura ao onírico. Em 635 a.C., os gregos da ilha de Naxos esculpiram 16 leões no terraço em frente ao templo dedicado a Leto, mãe de Apoio, para protegê-lo. Sentados sobre ancas, eles fitam, esgazeados, o lugar onde teria existido o lago sagrado, em cujo centro mítico, sobre uma pedra, a mãe de Apoio deu à luz. O lago foi drenado, mas os leões continuam lá, cinco, perscrutando. Dionísio, o deus do desejo, ganhou um templo, em 300 a.C., perfilado por pilares que sustentam poderosos e imponentes falos. São obeliscos apoiados em testículos. Os turistas primeiro pasmam, depois sorriem. Os lados do pilar mostram cenas em alto-relevo: um galo com cabeça de falo, Dionísio e as mênades (as bacantes possessas) e Sileno, o mais velho dos sátiros, o preceptor do deus - tudo o que a presunção de Nietzsche gostaria de ter sido. Portanto, como vimos, nem a possível admissão de subjetividade no Jornalismo invalida a sua aspiração à exatidão, nem alguma circunstancial necessidade de se fazer descrições técnicas impede que, em outras situações, haja no Jornalismo, descrições igualmente objetivas mas menos frias. Não é apenas a predisposição afetiva em face do objeto a ser descrito que imprime à descrição um determinado ponto de vista. Também, é claro, a perspectiva que o Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 14 de 15
  • 15. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CENTRO DE LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO Jor observador tem do objeto, a sua localização geográfica. No primeiro caso, há ponto de vista mental, no segundo, físico. As situações básicas que influirão na ordem e na forma da enumeração descritiva, no ponto de vista físico, são: (a) estar próximo; (b) distante; (c) abaixo; (d) fora; (e) dentro (cf. Magalhães, s.d., p. 96). Curioso é que, embora estas situações digam respeito à localização externa, objetiva, do observador, têm, também, correspondências no plano afetivo, psicológico. Também do ponto de vista mental, numa descrição, o observador pode se colocar acima, abaixo, próximo ou distante do objeto. Antigamente para valorizar o texto de um noticiário como vivo, palpitante, dizia-se que fora escrito quot;de dentroquot; dos acontecimentos. A chamada de capa da matéria em que o repórter José Hamilton Ribeiro contava como havia perdido uma perna cobrindo a guerra do Vietnã, na Realidade de maio de 1968, era: quot;Nosso repórter viu a guerra de pertoquot;. Professor mestre Artur Araujo (artur.araujo@puc-campinas.edu.br) site: http://docentes.puc-campinas.edu.br/clc/arturaraujo/ ftp: ftp://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/professores/clc/artur.araujo/ Página 15 de 15