SlideShare ist ein Scribd-Unternehmen logo
1 von 53
Downloaden Sie, um offline zu lesen
volume 13 — nº 1 — 2005                                     ISSN - 0104-3579

www.unifesp.br/dneuro




                           Artigos
                                                                aleatór sobre fisio erapia aquática
                                                                     órios        isiot
                          • Análise crítica de ensaios clínicos aleatórios sobre fisioterapia aquática
                            para pacientes neurológicos
                            para pacientes neurológicos

                          • Tratamento Cirúrgico de Metástases Intracranianas
                              atament Cirúrgico
                                amento              Metást     Intracr
                                                                   acranianas

                            Eficácia    to     botulínica tipo-A             fisio erapia
                                                                              isiot
                          • Eficácia da toxina botulínica tipo-A associada a fisioterapia em uma
                            criança hemiplégica espástica

                                                  pacientes    esclerose later amiotr
                                                                            eral      ófica:
                          • Qualidade do sono de pacientes com esclerose lateral amiotr ica: análise
                                                                                      óf
                            dos instrumentos de avaliação

                          • Demência com corpos de Lewy: abordagem clínica e terapêutica
                                         corpos Lewy abordag
                                                     wy:     dagem           ter
                                                                              erapêutica

                            Procediment Fisio erapêuticos para
                              ocedimentos isiot                            Vésico-Esfincteriana
                                                                                     incter
                          • Procedimentos Fisioterapêuticos para Disfunção Vésico-Esfincteriana de
                            Pacientes com Traumatismo Raquimedular – Revisão Narrativa
                             acientes     Tr               aquimedular Re
                                                         Raq                     Nar ativa
                                                                                   arr

                          • Tratamento da Fase Aguda do Acidente Vascular Cerebral Isquêmico
                              atament
                                amento    Fase Aguda    Acident Vascular Cerebr Isquêmico
                                                         cidente             ebral

                          • Análise da coerência do espectro do eletrencefalograma
                                       coerência    espectro    eletrencefalog
                                                                   trencefalogr
Neurociências                                                                                                                                                     revista                                                                            3

                                                                                                                                                Neurociências
       Editorial
         HOMENAGEM

         A Professora Dra. Odete de Fátima Sallas Durigon nasceu em 02/01/1955 e faleceu em 05/02/2005, graduou-se em Fisioterapia
         (1977), titulou-se Mestre em Ciências Biológicas (1989) e Doutora em Ciências Fisiológicas (1997) pela Universidade de São
         Paulo. Coordenou o Curso de Fisioterapia da USP nas décadas de 80 e 90 e lecionou como Titular das Disciplinas de Cinesiologia
         e Cinesioterapia do mesmo curso. Difundiu no Brasil, por meio de cursos de extensão, um dos métodos mais utilizados na
         fisioterapia: a Técnica de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva, também conhecido como Método Kabat, dentre outros
         grandes feitos. Teve dois filhos (Rafael e Camila Durigon) os quais devem se orgulhar da grande mestra e pessoa que foi sua mãe.
         Para aqueles que já tiveram a oportunidade de ler a obra de Mitch Albom, “A última grande lição – o sentido da vida” talvez possam
         melhor entender o conteúdo de nossa homenagem a esta grande mestra.
         Assim que soube do inesperado e súbito infortúnio, fui visitar, em sua casa a admirável professora.
         Ao vê-la acamada, imobilizada e abatida não consegui conter ou esconder triste emoção.
         Prontamente, a mestra perspicaz e amiga, sempre tão forte e ativa, ao invés de ser consolada foi consoladora.
         E como eu não podia prever ou imaginar, ensinando a última grande lição:
         Não fique assim, eu estou bem, não se preocupe...
         Quem diria que eu teria um problema desses. Eu que tanto ensinei a cuidar com responsabilidade e dedicação.
         O que posso te dizer? Viva a vida com equilíbrio, evite excessos, pois levam a destruição.
         Podemos realizar muitos sonhos e bons atos, mas cuidado com dois inimigos: o orgulho e a ambição.
         Dedique-se a sua profissão, a produzir ciência, mas não exclusivamente. Cuidado com a envolvente ilusão.
         Os títulos e os cargos não são mais importantes do que viver tranqüilamente, ter paz no coração.
         Cuide “também” da sua saúde, esteja mais com sua família e amigos, tenha gratidão.
         O que poderemos levar desta vida senão o amor compartilhado entre nós, os momentos vividos com muita satisfação?
         Foi a última vez que a vi...
         Guardo com carinho todos seus ensinamentos, em especial os daquele dia, iluminados de emoção.
         À querida e estimada professora,
         que assistiu e consolou com carinho e profissionalismo muitos enfermos,
         que transmitiu louváveis ensinamentos a milhares de alunos brasileiros,
         que realizou muitas pesquisas, colaborando com os avanços científicos na área da saúde,
         que escreveu um grande capítulo da história de uma das profissões de maior dedicação e abnegação: a fisioterapia,
         nossa homenagem e eterna gratidão.
                                                                                                                                                                                                                 Sissy Veloso Fontes




    Índice
    ARTIGOS ORIGINAIS

    Análise crítica de ensaios clínicos aleatórios sobre fisioterapia aquática para pacientes neurológicos
    Rafaela Okano Gimenes, Sissy Veloso Fontes , Márcia Maiumi Fukujima, Sandro Luis de Andrade Matas, Gilmar Fernandes do Prado ............................. 05

    Tratamento Cirúrgico de Metástases Intracranianas
    Franz J Onishi, Julieta GSP Melo, Paulo MP Melo, Oreste P Lanzoni, Flávio Settanni, Fernando AP Ferraz ............................................................................ 11

    Eficácia da toxina botulínica tipo-A associada a fisioterapia em uma criança hemiplégica espástica
    Resende, C. M. G.; Nascimento, V. F. do; Leite, J. M. R. S. ........................................................................................................................................................... 17

    Qualidade do sono de pacientes com esclerose lateral amiotrófica: análise dos instrumentos de avaliação
    Simone Ribas Ghezzi, Sissy Veloso Fontes, Alexandre Santos Aguiar, Lígia Masagão Vitali, Marcia Maiumi Fukujima, Francis Meire Fávero Ortensi,
    Helga Cristina Almeida da Silva, Acary Souza Bulle de Oliveira, Gilmar Fernandes do Prado ..................................................................................................... 21

    ARTIGOS DE REVISÃO

    Demência com corpos de Lewy: abordagem clínica e terapêutica
    Antônio Lúcio Teixeira-Jr, Francisco Cardoso. ..................................................................................................................................................................................... 28

    Procedimentos Fisioterapêuticos para Disfunção Vésico-Esfincteriana de Pacientes com Traumatismo Raquimedular –
    Revisão Narrativa
    Márcia Maria Gimenez, Sissy Veloso Fontes, Marcia Maiumi Fukujima ......................................................................................................................................... 34

    Tratamento da Fase Aguda do Acidente Vascular Cerebral Isquêmico
    Gisele Sampaio Silva, Daniela Laranja Gomes, Ayrton Roberto Massaro ......................................................................................................................................... 39

    Análise da coerência do espectro do eletrencefalograma
    Renato Anghinah ....................................................................................................................................................................................................................................... 50


REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005
Neurociências                                                                                                                                           4
    REVISTA NEUROCIÊNCIAS
             Editor Chefe / Editor in chief               Membros / Members                                   João Pereira Leite, MD, PhD, Ribeirão Preto, SP
    Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD, São Paulo, SP     Flávio Aloe, MD, São Paulo, SP                      Luiz Eugênio A. M. Mello, MD, PhD, São
                                                          Stela Tavares, MD, São Paulo, SP                    Paulo, SP
         Editora Executiva / Executive Editor             Dalva Poyares MD, PhD, São Paulo, SP                Líquidos Cerebroespinhal / Cerebrospinal
    Luciane Bizari Coin de Carvalho, PhD, São Paulo, SP   Ademir Baptista Silva, MD, PhD, São                 Fluid
               Co-editor / Co-editor                      Paulo, SP                                           Chefe / Head
    José Osmar Cardeal, MD, PhD, São Paulo, SP.           Alice Hatsue Masuko, MD, São Paulo, SP              João Baptista dos Reis Filho, MD, PhD, São
                                                          Luciane B. Coin de Carvalho, PhD, São               Paulo, SP.
      Editores Associados / Associate Editors             Paulo, SP                                           Membros / Members
    Alberto Alain Gabbai, MD, PhD, São Paulo, SP          Maria Carmen Viana, MD, PhD, Vitória, ES            Leopoldo Antonio Pires, MD, PhD, Juiz de Fora,
    Esper Abrão Cavalheiro,MD, PhD, São Paulo, SP         Virna Teixeira, MD, PhD, São Paulo, SP              MG
    Fernando Menezes Braga, MD, PhD, São Paulo, SP        Geraldo Rizzo, MD, Porto Alegre, RS                 Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São
                                                          Rosana Cardoso Alves, MD, PhD, São Paulo, SP        Paulo, SP
           Corpo Editorial / Editorial Board                                                                  José Edson Paz da Silva, PhD, Santa Maria, RS
                                                          Robert Skomro, MD, FRPC, Saskatoon, SK,
    Desordens do Movimento / Movement                                                                         Ana Maria de Souza, PhD, Ribeirão Preto, SP
                                                          Canadá
    Disorders
                                                          Sílvio Francisco, MD, São Paulo, SP
    Chefe / Head                                                                                              Neurologia do Comportamento / Behavioral
    Henrique Ballalai Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP                                                          Neurology
                                                          Doenças Cerebrovasculares /
    Membros / Members                                                                                         Chefe / Head
                                                          Cerebrovascular Disease
    Francisco Cardoso, MD, PhD, Belo Horizonte, MG                                                            Paulo Henrique Ferreira Bertolucci, MD, PhD,
                                                          Chefe / Head
    Sônia Maria Cézar de Azevedo Silva, MD, PhD,                                                              São Paulo, SP.
                                                          Ayrton Massaro, MD, PhD, São Paulo, SP.
    São Paulo, SP                                                                                             Membros / Members
                                                          Membros / Members                                   Ivan Okamoto, MD, PhD, São Paulo, SP
    Egberto Reis Barbosa, MD, PhD, São Paulo, SP
                                                          Aroldo Bacelar, MD, PhD, Salvador, BA               Thais Minetti, MD, PhD, São Paulo, SP
    Maria Sheila Guimarães Rocha, MD, PhD, São
                                                          Alexandre Longo, MD, PhD, Joinvile, SC              Rodrigo Schultz, MD, PhD, São Paulo, SP
    Paulo, SP
                                                          Carla Moro, MD, PhD, Joinvile, SC                   Sônia Dozzi Brucki, MD, PhD, São Paulo, SP
    Vanderci Borges, MD, PhD, São Paulo, SP
                                                          Cesar Raffin, MD, PhD, São Paulo, SP
    Roberto César Pereira do Prado, MD, PhD,
                                                          Charles Andre, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ          Neurocirurgia / Neurosurgery
    Aracajú, SE
                                                          Gabriel de Freitas, MD, PhD, Rio de                 Chefe / Head
    Epilepsia / Epilepsy                                  Janeiro, RJ                                         Mirto Nelso Prandini, MD, PhD, São Paulo, SP
    Chefe / Head                                          Jamary de Oliveira Filho, MD, PhD,                  Membros / Members
    Elza Márcia Targas Yacubian, MD, PhD, São             Salvador, BA                                        Fernando Antonio P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP
    Paulo, SP                                             Jefferson G. Fernandes, MD, PhD, Porto Alegre, RS   Antonio de Pádua F. Bonatelli, MD, PhD,
    Membros / Members                                     Jorge Al Kadum Noujain, MD, PhD, Rio de             São Paulo, SP
    Américo Ceike Sakamoto, MD, PhD, São Paulo,           Janeiro, RJ                                         Sérgio Cavalheiro, MD, PhD, São Paulo, SP
    SP                                                    Márcia Maiumi Fukujima, MD, PhD, São Paulo, SP      Oswaldo Inácio de Tella Júnior, MD, PhD,
    Carlos José Reis de Campos, MD, PhD, São              Mauricio Friedirish, MD, PhD, Porto Alegre, RS      São Paulo, SP
    Paulo, SP                                             Rubens J. Gagliardi, MD, PhD, São Paulo, SP         Orestes Paulo Lanzoni, MD, São Paulo, SP
    Luiz Otávio Caboclo, MD, PhD, São Paulo, SP           Soraia Ramos Cabette Fabio, MD, PhD, São            Ítalo Capraro Suriano, MD, São Paulo, SP
    Alexandre Valotta da Silva, MD, PhD, São              Paulo, SP                                           Samuel Tau Zymberg, MD, São Paulo, SP
    Paulo, SP                                             Viviane de Hiroki Flumignan Zétola, MD, PhD,
    Margareth Rose Priel, MD, PhD, São Paulo, SP          Curitiba, PR                                        Neuroimunologia / Neuroimmunology
    Henrique Carrete Jr, MD, PhD, São Paulo, SP                                                               Chefe / Head
                                                          Oncologia / Oncology                                Enedina Maria Lobato, MD, PhD, São
    Neurophysiology                                       Chefe / Head                                        Paulo, SP.
    Chefe / Head                                          Suzana Maria Fleury Mallheiros, MD, PhD, São        Membros / Members
    João Antonio Maciel Nóbrega, MD, PhD, São             Paulo, SP.                                          Nilton Amorin de Souza, MD, São Paulo, SP
    Paulo, SP                                             Membros / Members
    Membros / Members                                     Carlos Carlotti Jr, MD, PhD, São Paulo, SP          Dor, Cefaléia e Funções Autonômicas / Pain,
    Nádia Iandoli Oliveira Braga, MD, PhD, São            Fernando A. P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo,          Headache and Autonomic Function
    Paulo, SP                                             SP                                                  Chefe / Head
    José Fábio Leopoldino, MD, Aracajú, SE                Guilherme C. Ribas, MD, PhD, São Paulo, SP          Deusvenir de Souza Carvalho, MD, PhD, São
    José Maurício Golfetto Yacozzill, MD, Ribeirão        João N. Stavale, MD, PhD, São Paulo, SP             Paulo, SP
    Preto, SP                                                                                                 Membros / Members
    Francisco José Carcchedi Luccas, MD, São Paulo, SP    Doenças Neuromusculares / Neuromuscular             Angelo de Paola, MD, PhD, São Paulo, SP
    Gilberto Mastrocola Manzano, MD, PhD, São Paulo, SP   disease                                             Fátima Dumas Cintra, MD, São Paulo, SP
    Carmelinda Correia de Campos, MD, PhD, São            Chefe / Head                                        Paulo Hélio Monzillo, MD, São Paulo, SP
    Paulo, SP                                             Acary de Souza Bulle de Oliveira, MD, PhD,          José Cláudio Marino, MD, São Paulo, SP
                                                                                                              Marcelo Ken-It Hisatugo, MD, São Paulo, SP
    Reabilitação / Rehabilitation                         São Paulo, SP
    Chefe / Head                                          Membros / Members
                                                                                                              Interdisciplinaridade e história da
    Sissy Veloso Fontes, PhD, São Paulo, SP               Edimar Zanoteli, MD, PhD, São Paulo, SP
                                                                                                              Neurociência / Interdisciplinarity and
    Membros / Members                                     Helga Cristina Almeida e Silva, MD, PhD,            History of Neuroscience
    Jefferson Rosa Cardoso, PhD, Londrina, PR.            São Paulo, SP                                       Chefe / Head
    Márcia Cristina Bauer Cunha, PhD, São Paulo, SP       Leandro Cortoni Calia, MD, PhD, São                 Afonso Carlos Neves, MD, PhD, São Paulo, SP
    Ana Lúcia Chiappetta, PhD, São Paulo, São             Paulo, SP                                           Membros / Members
    Paulo, SP                                             Luciana de Souza Moura, MD, PhD, São                João Eduardo Coin de Carvalho, PhD, São
    Carla Gentile Matas, PhD, São Paulo, SP               Paulo, SP                                           Paulo, SP
    Fátima Abrantes Shelton, MD, PhD, Edmond,                                                                 Flávio Rocha Brito Marques, MD, São Paulo, SP
    OK, USA                                               Laboratório e Neurociência Básica /                 Vinícius Fontanesi Blum, MD, São Paulo, SP
    Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São            Laboratory and Basic Neuroscience                   Rubens Baptista Júnior, MD, São Paulo, SP
    Paulo, SP                                             Chefe / Head                                        Márcia Regina Barros da Silva, PhD, São Paulo, SP
    Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela, PhD, Belo             Maria da Graça Naffah Mazzacoratti, PhD, São        Eleida Pereira de Camargo, São Paulo, SP
    Horizonte, MG                                         Paulo, SP                                           Dante Marcello Claramonte Gallian, PhD, São
    Fátima Valéria Rodrigues de Paula Goulart,            Membros / Members                                   Paulo, SP
    PhD, Belo Horizonte, MG                               Beatriz Hitomi Kyomoto, MD, PhD, São
    Patricia Driusso, PhD, São Paulo, SP                  Paulo, SP                                           Neuropediatria / Neuropediatrics
                                                          Célia Harumi Tengan, MD, PhD, São Paulo, SP         Chefe / Head
    Distúrbios do Sono / Sleep Disorders                  Maria José S. Fernandes, PhD, São Paulo, SP         Luiz Celso Pereira Vilanova, MD, PhD, São
    Chefe / Head                                          Mariz Vainzof, PhD, São Paulo, SP                   Paulo, SP
    Lucila Bizari Fernandes do Prado, MD, PhD,            Iscia Lopes Cendes, PhD, Campinas, SP               Membros / Members
    São Paulo, SP                                         Débora Amado Scerni, PhD, São Paulo, SP             Marcelo Gomes, São Paulo, SP

          Coordenação editorial, criação, diagramação e produção gráfica: Atha Comunicação & Editora Rua Machado Bittencourt, 190 - 4º andar - conj. 410
          CEP: 04044-000 - São Paulo - SP - Tel.: (11) 5087-9502 - Fax: (11) 5579-5308 - email: 1atha@uol.com.br

          Os pontos de vista, as visões e as opiniões políticas aqui emitidas, tanto pelos autores, quanto pelos anunciantes, são de responsabilidade
          única e exclusiva de seus proponentes. Tiragem: 3.000 exemplares

REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005
Neurociências                                                                                                            5

    Artigo Original


    Análise crítica de ensaios clínicos aleatórios sobre
    fisioterapia aquática para pacientes neurológicos
    Critical analysis of randomized clinical trials in aquatic physical
    therapy applied to neurological patients
    Rafaela Okano Gimenes1, Sissy Veloso Fontes2 , Márcia Maiumi Fukujima3, Sandro Luis de
    Andrade Matas4, Gilmar Fernandes do Prado5
    RESUMO
         Objetivos: Revisão da literatura na busca de evidências da efetividade da fisioterapia aquática em
    pacientes com doença neurológica e análise crítica dos ensaios clínicos aleatórios (ECA). Método: Loca-
    lização dos ensaios clínicos aleatórios através da busca em bases eletrônicas e análise crítica dos ECA
    utilizando a lista Delphi. Resultados: Dos 207 trabalhos localizados 157 foram recuperados. Destes, 22
    foram utilizados, sendo apenas 6 ECA. Um trabalho apresentou o método de aleatorização, mostrando
    que este não é um método utilizado regularmente em estudos clínicos sobre este assunto, devendo
    estudos futuros utilizar-se deste método para a alocação dos pacientes. A maioria dos estudos apresen-
    tou grupos similares com relação aos indicadores prognósticos mais importantes dos pacientes e, todos
    os estudos apresentaram critérios de elegibilidade especificados, intenção de tratar e foram relatadas
    estimativas das medidas de tendência central e variabilidade nas medidas de desfecho primário propici-
    ando, assim estudos de melhor qualidade. Conclusão: existem fracas evidências na literatura dos bene-
    fícios da fisioterapia aquática quando aplicada à pacientes com doenças neurológicas, sendo fundamental
    a elaboração de um ensaio clínico aleatório de grande amostra para avaliar o efeito da fisioterapia aqu-
    ática em pacientes com doença neurológica específica.
    Unitermos: Hidroterapia, Fisioterapia aquática, Doenças neurológicas.
    Citação: Gimenes RO, Fontes SV , Fukujima MM, Matas SLA, Prado GF. Análise crítica de ensaios clínicos aleatórios
    sobre fisioterapia aquática para pacientes neurológicos. Rev Neurociencias 2005; 13(1):005-010.


    SUMMARY
        Purpose: to carry out a systematic literature review in order to find evidence of the efficiency of aquatic
    therapy for neurologically impaired patients with motor disorders; to critically analyze the randomized
    clinical trials (RCT) identified. Methods: Identification of RCT through electronic sources, and critical analysis
    of the RCT according to the Delphi checklist. Results: the method of randomization was found in only
    one out of six studies, which leads to the conclusion that this method is not used in a consistent manner
    by clinical studies on the topic. Thus, future research should employ the randomization method for the

    Trabalho realizado: Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN

    1 - Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Reabilitação Neuromotora pela UNIBAN, Docente do Centro Universitário São Camilo e
    UNISANTA
    2 - Fisioterapeuta, Educadora Física, Mestre em Neurociências e Doutora em Ciências pela UNIFESP, Docente da UMESP e
    UNISANTA
    3 - Neurologista do Serviço de Urgência da UNIFESP
    4 - Neurologista, Doutor em Medicina pela UNIFESP, Docente da UNIBAN
    5 - Neurologista, Docente da UNIFESP

    Endereço para correspondência: Sissy Veloso Fontes
    R: Francisco Tapajós, 513 ap. 122
    Jd. Santo Estéfano - São Paulo - SP - CEP: 04153-001 - Email: sissyfontes@sti.com.br

    Trabalho recebido em 25/01/05. Aprovado em 10/04/05


REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
Neurociências                                                                                                      6

    allocation of patients, for there are no restrictions for its usage in physiotherapeutic studies. In addition,
    the majority of the studies presented similar groups in terms of the most significant prognostic indicators
    of the patients, and all papers provided enough information about the eligibility criteria, intention to treat
    and statistical analysis (point estimates and measures of variability), which ensures the quality of the
    studies. Conclusion: there is no clear evidence in the literature about the benefits of aquatic physical
    therapy when applied to neurologically impaired patients with motor disorders. Given this gap in the
    literature, it becomes essential to develop a RCT in order to assess the effects of aquatic physical therapy
    on patients with specific neurological dysfunctions.
    Keywords: Hydrotherapy, Aquatic Physical therapy, Neurological Disease.
    Citation: Gimenes RO, Fontes SV , Fukujima MM, Matas SLA, Prado GF. Critical analysis of randomized clinical trials in
    aquatic physical therapy applied to neurological patients. Rev Neurociencias 2005; 13(1):005-010.



    INTRODUÇÃO                                                  saios clínicos aleatórios (ECA) de fisioterapia aquáti-
                                                                ca em pacientes neurológicos com comprometimen-
        Atualmente não há um consenso sobre a termino-
                                                                to motor, para averiguarmos se existem evidências
    logia mais adequada para denominar o procedimen-
                                                                científicas sobre os efeitos da fisioterapia aquática para
    to fisioterapêutico cinesioterapia, quando executado
                                                                estes pacientes.
    em meio aquático. Sendo assim, dos vários termos
    que vêm sendo utilizados (reabilitação aquática, hidro-        Os ECA podem ser definidos como experimen-
    cinesioterapia, exercícios aquáticos), consideramos o       tos analíticos nos quais os investigadores alocam
    termo “fisioterapia aquática” o mais indicado, por isso,    aleatoriamente os sujeitos elegíveis para o grupo
    o eleito neste trabalho para denominar o procedimen-        de tratamento e grupo controle e, os resultados são
    to fisioterapêutico a ser estudado.                         avaliados comparando ambos os grupos.
        A fisioterapia aquática possui uma longa histó-             Os objetivos deste trabalho abrangem: 1. Revi-
    ria e é tão importante atualmente quanto foi no             são da literatura na busca de evidências da
    passado. Hoje, com o crescimento de sua popula-             efetividade da fisioterapia aquática em pacientes
    ridade, os fisioterapeutas são encorajados a utili-         neurológicos com comprometimento motor; 2. Aná-
    zarem a água aproveitando ao máximo suas                    lise crítica dos ECA sobre fisioterapia aquática.
    propriedades.
        Para que possamos compreender este recurso
                                                                MATERIAL E MÉTODO
    fisioterapêutico faz-se necessário o amplo conhe-
    cimento sobre as propriedades hidrostáticas,                  Foi realizada revisão abrangente da literatura,
    hidrodinâmicas e termodinâmica da água (mecâ-               obedecendo aos seguintes critérios:
    nica de fluidos).                                              1 - Estratégias usadas para identificação dos
        A imersão aquática possui efeitos fisiológicos          estudos
    relevantes que se estendem sobre todos os siste-
                                                                     Ensaios clínicos aleatórios relevantes foram iden-
    mas e a homeostase. Estes efeitos podem ser tan-            tificados eletronicamente por busca nas bases de
    to imediatos quanto tardios, permitindo assim, que          dados: Medline, Embase, Scielo, Lilacs, Cochrane
    a água seja utilizada para fins terapêuticos em uma         Library, além da procura manual nas referências dos
    grande variedade de problemas orgânicos. A tera-            artigos. A pesquisa compreendeu o período de 1950
    pia aquática parece ser benéfica no tratamento de           a 2004. A estratégia adotada e os descritores utili-
    pacientes com distúrbios músculo-esqueléticos,              zados foram: randomized-controlled trial in pt,
    neurológicos, cardiopulmonares, entre outros [1].           randomized-controlled-trials, random-allocation,
       Campion [2] cita que apenas por meio da experiên-        double-blind-method, single-blind-method, clinical-
    cia clínica pode-se sugerir que a fisioterapia aquática     trial in pt, neurological disorders and hydrotherapy,
    seja um meio efetivo e prático para a recuperação de        neurological disorders and aquatic physical therapy;
                                                                neurological disorders and exercise in water,
    pessoas que estão com disfunções neurológicas,
                                                                neurological disorders and aquatic exercises, neuro-
    uma vez que poucas pesquisas têm sido realizadas.
                                                                logical disorders and water therapy, neurological
       Portanto, o foco deste estudo consiste em anali-         disorders and water immersion, neurological
    sar apenas os trabalhos científicos baseados em en-         diseases and hydrotherapy.

REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
Neurociências                                                                                              7

         2 - Tipos de estudos                               zir uma revisão sistemática adequada. É composta
                                                            por oito itens, e as respostas são apresentadas nas
       Foram considerados todos ECA onde os gru-
                                                            formas de “sim/ não/ não sei”, onde uma das alter-
    pos de estudo receberam tratamento com fisiote-
                                                            nativas deve ser assinalada para cada item, como
    rapia aquática, e os grupos controle receberam
                                                            é mostrada abaixo.
    tratamento tanto de fisioterapia tradicional (ci-
    nesioterapia em solo) como a fisioterapia aquáti-          1. Alocação de tratamento:
    ca ou natação adaptada.                                    A. Foi realizado um método de aleatorização?
         3 - Tipos de participantes                            Sim / Não / Não Sei
       Todos os pacientes dos estudos apresentavam             B. A alocação do tratamento foi sigilosa?
    doença neurológica com comprometimento motor               Sim / Não / Não Sei
    (paralisia cerebral, poliomielite, lesão medular,          2. A entrada no estudo, os grupos eram simi-
    traumatismo crânio-encefálico, acidente vascular           lares com relação aos indicadores prognósti-
    cerebral, aneurisma cerebral e esclerose múltipla)         cos mais importantes?
    de faixas etárias diversas (criança, adolescente,          Sim / Não / Não Sei
    adulto e idoso).
                                                               3. Os critérios de elegibilidade foram especifica-
         4 - Tipos de intervenção                              dos?
       Foi considerado qualquer protocolo de interven-         Sim / Não / Não Sei
    ção fisioterapêutica aquática, que consistiu na apli-      4. Os avaliadores dos desfechos foram masca-
    cação de cinesioterapia em meio líquido, com               rados?
    movimentos passivos, ativos, ativo-resistidas, exer-       Sim / Não / Não Sei
    cícios de coordenação motora, treino de marcha
    subaquática e nado livre, quando possível. Estes           5. Os que ofereceram a intervenção eram masca-
    protocolos foram comparados com os seguintes               rados?
    grupos controle: que receberam intervenção de ati-         Sim / Não / Não Sei
    vidade física sem fins terapêuticos na água,               6. Os pacientes eram mascarados em relação a
    cinesioterapia em solo e natação adaptada.                 intervenção?
         5 - Aplicação dos critérios iniciais de inclusão      Sim / Não / Não Sei

       Nesta primeira fase foi verificado se o estudo era      7. Em relação às medidas de desfecho primá-
    ECA e analisada a ocultação da alocação, seguin-           rio, foram relatadas estimativas das medidas
    do a classificação:                                        de tendência central e variabilidade?
                                                               Sim / Não / Não Sei
       A. Medidas adequadas para o sigilo da alocação
    como aleatorização central, números seriados, en-          8. A análise foi realizada pela intenção de tratar?
    velopes, ou outras descrições de ocultação consi-          Sim / Não / Não Sei
    derada adequada;
       B. Estudos clínicos com descrição vaga da            RESULTADOS
    ocultação da alocação e que não se enquadram
    na categoria anterior;                                     Dos 207 trabalhos localizados na leteratura, por
                                                            meio dos descritores utilizados, 50 foram excluídos
       C. Ensaios clínicos controlados, em que o mé-        devido suas referências apresentarem erros de
    todo de alocação não era oculto.                        confecção, por exemplo, ausência do número do
       6 - Qualidade metodológica dos estudos in-           fascículo, nome dos autores e outras falhas, im-
    cluídos                                                 possibilitando a obtenção dos artigos na integra
                                                            para análise. Os 157 artigos restantes foram anali-
       De acordo com Verhagen et al [3] atualmente,
                                                            sados, sendo selecionados 22 artigos pois, ape-
    as revisões sistemáticas contam com uma avali-
                                                            nas estes utilizaram o recurso “fisioterapia aquática”
    ação mais fidedigna da qualidade metodológica
                                                            para tratamento, os demais utilizaram a “hidro-te-
    dos ECA.
                                                            rapia” como meio de intervenção, ou seja, qualquer
       A lista de Delphi foi desenvolvida com a finalida-   forma de aplicação externa de água, não condi-
    de de avaliar a qualidade dos ECA, a fim de condu-      zente com o objetivo deste estudo. Dos 22 artigos,

REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
Neurociências                                                                                                                8

    preencheram os critérios de inclusão do estudo 6                zação[4], mostrando que este não é um método uti-
    trabalhos, ou seja, eram ensaios clínicos aleatóri-             lizado regularmente em ensaios clínicos sobre este
    os, os demais eram relatos de caso ou opinião do                assunto devendo, estudos futuros utilizar-se deste
    especialista. A catalogação e as características dos            método para a alocação dos pacientes.
    6 artigos incluídos nesta revisão são apresentadas
                                                                        Houve, também apenas um estudo onde os ava-
    nos quadros 1 e 2 respectivamente.
                                                                    liadores dos desfechos eram mascarados [5], sen-
                                                                    do este item de grande importância, pois quando
                                                                    isto não ocorre, os resultados do estudo podem ser
    DISCUSSÃO
                                                                    tendenciosos.
       Dos 6 (seis) artigos selecionados e analisados,
                                                                        Em relação ao mascaramento sobre os
    nenhum dos artigos apresentou:
                                                                    terapeutas que ofereceram a intervenção, apenas
       A. Sigilo na alocação do tratamento, que os de-              um dos estudos[4] utilizou-se deste critério, pois di-
    senhos de ensaios clínicos futuros sobre fisiotera-             ficilmente os terapeutas pesquisadores não irão
    pia aquática devem descrever, ou seja, uma                      fazer parte da aplicabilidade do procedimento do
    seqüência aleatória de tarefa gerada por uma pes-               estudo. Há, portanto, a necessidade da participa-
    soa independente do estudo (esta não pode ter in-               ção de terapeutas que não tenham conhecimento
    formações sobre quais pacientes foram incluídos                 sobre os objetivos do estudo.
    no grupo de estudo, e também não pode influenci-
                                                                        A maioria dos estudos apresentou grupos simi-
    ar nas seqüências das tarefas realizadas pelos pa-
                                                                    lares em relação aos indicadores prognósticos mais
    cientes), a fim de melhorar a qualidade dos estudos
                                                                    importantes [4, 5, 7, 8] dos pacientes e, todos os estu-
    sobre esta temática.
                                                                    dos [4-9] apresentaram critérios de elegibilidade es-
        B. Mascaramento dos pacientes em relação à                  pecificados, intenção de tratar e, foram relatadas
    intervenção, isto se deve ao fato de que os pa-                 estimativas das medidas de tendência central e va-
    cientes submetidos a procedimentos fisiotera-                   riabilidade nas medidas de desfecho primário, pro-
    pêuticos têm conhecimento do tratamento, exceto                 piciando, assim estudos de melhor qualidade.
    quando submetidos a tratamentos eletroterápicos
                                                                       Em relação ao trabalho de revisão sistemáti-
    sem contato.
                                                                    ca, espera-se encontrar evidências científicas a
         Um estudo apresentou o método da aleatori-                 respeito do assunto pesquisado. Para tanto, ob-



                                                                        Doenças Neurológicas                         N
      ECA        Ano            Autores
                                                                        GE                    GC              GE         GC

        1        1994           Prins JH, Hartung GH, Merritt      poliomielite          poliomielite         9              7
                                DJ, Blancq BS, Goebert DA.

        2       1996            Dorval G, Tetreault S,                  PC                    PC              10         10
                                Caron C.

        3       1998            Hutzler Y, Chacham A,                   PC                    PC              23         23
                                Bergman U, Szeinberg A.

        4       1998            Hutzler Y,Chacham A,                    PC                    PC              23         23
                                Bergman U,Reches I.

        5       1998            Zamparo P, Pagliaro P.             EM, AVC, MP           EM, AVC, MP          23         23

        6       1999            Pagliaro P, Zamparo P.                MP, EM,              MP, EM,            26         26
                                                                     AVC,TCE              AVC, TCE

    PC = paralisia cerebral, EM = esclerose múltipla, AVC = acidente vascular cerebral, MP = mielopatia, TCE = traumatismo
    crânio-encefálico.

        Quadro 1. Ensaios clínicos aleatórios (ECA) segundo ano de publicação, autores, doenças neurológicas dos grupos de
                        estudo (GE) e controle (GC) e número de pacientes (N) pertencentes aos GE e GC.


REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
Neurociências                                                                                                                      9


      ECA       Objetivos do Estudo                       Tipo de intervenção com                  Conclusões do Estudo
                                                          Fisioterapia Aquática

        1        Determinar o efeito                     Exercícios ativo-resistidos utilizando    O grupo de estudo
                 doprograma de exercícios                equipamentos como “palmar” e              apresentou aumento da força
                 aquáticos sobre a força                 “nadadeira”.                              muscular quando comparado
                 muscular.                                                                         ao grupo controle.


        2        Comparar o impacto acurto e             Programa 1. Exercícios de                 Houve aumento na pontuação
                 longoprazo de dois programas            aquecimento e relaxamento, jogos          das escalas de auto-estima e
                 aquáticos específicos em                aquáticos e natação adaptada sem          independência funcional entre
                 relação a autoestima e                  objetivos terapêuticos.                   os grupos de estudo e
                 independência funcional e,              Programa 2. Exercícios de                 controle, mas não houve
                 averiguar a efetividade da              Aquecimento, relaxamento, ativos          diferença significativa entre
                 fisioterapia aquática.                  individuais e em grupo com objetivos      os grupos.
                                                         terapêuticos gerais e específicos.


        3        Averiguar o efeito do                   Exercícios individuais de habilidade      Foi sugerido que a aplicação
                 programa sobre a função                 de orientação aquática, exercícios        associada dos procedimentos
                 respiratória e avaliar o                em grupo e de coordenação motora.         de solo e água agem
                 desempenho de habilidade de                                                       beneficamente sobre a função
                 orientação aquática.                                                              respiratória dos pacientes.


        4        Avaliar as alterações quanto            Atividades aquáticas individuais          Não houve alteração significativa
                 às funções motoras e quanto             consistindo de exercícios de              na escala de autoconceito e
                 ao autoconceito de crianças             habilidade de orientação aquática.        houve melhora em relação às
                 submetidas a um programa de                                                       habilidades aquáticas em ambos
                 tratamento.                                                                       os grupos.


        5        Analisar o gasto energético na          Marcha subaquática,                       A fisioterapia aquática foi
                 marcha subaquática de pacientes         grupo A: velocidade pré-determinada e     recomendada aos pacientes,
                 hemiparéticos, paraparéticos e          grupo B: velocidade eleita pelo próprio   uma vez que melhorou às
                 com alterações neuromotoras por         paciente. Nado adaptado.                  características biomecânicas
                 esclerose múltipla após programa                                                  da marcha e diminuiu seu
                 de fisioterapia aquática.                                                         gasto energético.


        6        Avaliação quantitativa do reflexo       Exercícios passivos, ativos, de           Não houve evidência da
                 miotático dos músculos do               coordenação motora, marcha                Efetividade da fisioterapia
                 quadríceps após programa de             subaquática e nado adaptado               aquática sobre os pacientes
                 fisioterapia aquática.                  quando possível.                          estudados.



                           Quadro 2. Relação de ensaios clínicos randomizados segundo os objetivos, tipo de
                                               intervenção e conclusões dos estudos.




    jetiva-se agrupar dados suficientes em número de                        realizados não apontaram malefícios desta inter-
    amostras, com homogeneidade entre elas e rigor                          venção nos pacientes com doença neurológica.
    científico dos protocolos utilizados para submetê-
    los a uma avaliação meta-analítica. Acredita-se
                                                                            CONCLUSÕES
    que somente assim haverá evidência de que o tra-
    tamento pesquisado tenha efetividade. Neste es-                             1. Concluímos que as evidências na literatura são
    tudo não foi possível submeter os ECA                                   fracas quanto aos benefícios da fisioterapia aquá-
    selecionados a uma avaliação meta-analítica, de-                        tica quando aplicada aos pacientes com doença
    vido estes utilizarem métodos diferentes, impos-                        neurológica e comprometimento motor.
    sibilitando alocá-los em um único grupo para
                                                                                A elaboração de ensaios clínicos aleatórios para
    análise.
                                                                            avaliar o efeito da fisioterapia aquática em pacien-
        No entanto, justifica-se a continuidade da prá-                     tes com doença neurológica específica é fundamen-
    tica da fisioterapia aquática, pois, os estudos já                      tal na decisão da prática fisioterapêutica.

REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
Neurociências                                                                                                                    10

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


    1.    Becker BE, Cole AJ. Terapia Aquática Moderna. São Pau-              on skills and self - concept of kindergarten children with
          lo: Manole; 2000. p.20-1.                                           Cerebral Palsy. Percep Mot Skills 1998;86:111-8.

    2.    Campion MR. Hidroterapia: Princípios e Prática. São Pau-       6.   Dorval G, Tetreault S, Caron C. Impact of aquatic program-
          lo: Manole; 2000. p. 185-6.                                         mes on adolescents with cerebral palsy. Occup Ther Int
                                                                              1996;3: 241-61.
    3.    Verhagen AP De Vet HCW, De Bie RA, Kessels AGH, Bo-
                       ,
          ers M, Bouter LM, Knipschild PG. The Delphi list for quality   7.   Zamparo P Pagliaro P The energy cost of level walking
                                                                                          ,          .
          assesment of randomized clinical trials for conducting sis-         before and after hydrokinesy therapy in patients with spas-
          tematic reviews developed by Delphi consensus. J Clin               tic paresis. Scand J Med Sci Sports 1998; 8:222-8.
          Epidemiol 1998;51:1235-41.
                                                                         8.   Prins JH, Hartung GH, Merrit DJ, Blancq RJ, Goebert DA.
    4.    Hutzler Y, Chacham A, Bergman U, Szeinberg A. Effects of            Effect of aquatic exercise training in person with poliomye-
          a movement and swimming program on vital capacity and               litis disability. Sports Med 1994;5:29-39.
          water orientation skills of a children with Cerebral Palsy.
          Dev Med Child Neurol 1998;40:176-81.                           9.   Pagliaro P Zamparo P Quantitative evaluation of the stre-
                                                                                         ,           .
                                                                              tch reflex before and after hydrokinesy therapy in patients
    5.    Hutzler Y, Chacham A, Bergman U, Reches I. Effects of a             affected by spastic paresis. J Electromyogr Kinesiol
          movement and swimming program on the water orientati-               1999;9:141-8.




REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
Neurociências                                                                                          11

    Artigo Original


    Tratamento Cirúrgico de Metástases
    Intracranianas
    Surgery treatment of brain metastases
    Franz J Onishi1, Julieta GSP Melo2, Paulo MP Melo2, Oreste P Lanzoni3, Flávio Settanni4,
    Fernando AP Ferraz5.

    RESUMO
       Introdução: As metástases cerebrais formam o grupo de neoplasias mais freqüente do sistema ner-
    voso central, e cerca de 40% dos pacientes com câncer desenvolvem metástases cerebrais. Pacientes
    com metástases únicas ou cujo quadro neurológico pode ser atribuído à lesão se beneficiam do trata-
    mento cirúrgico. A evolução e o tratamento desta doença ainda permanecem controversos. Objetivos:
    Descrever as características clínicas e epidemiológicas dos pacientes com metástases cerebrais ressecadas
    no período de 2002 a 2003 no Hospital São Paulo. Métodos: Trabalho retrospectivo, descritivo, analítico,
    com coleta de dados baseada em revisão de prontuários de pacientes submetidos a ressecção cirúrgica
    de neoplasia secundária cerebral. Buscou-se a caracterização da população de estudo. Resultados: 30
    pacientes foram avaliados (16 do sexo feminino). A média das idades dos pacientes foi de 52,9 ± 11,7
    anos. As metástases de pulmão e mama compreenderam a maioria dos tumores operados. Houve des-
    de então 12 óbitos registrados até a coleta de dados, com média de sobrevida pós-operatória de 72,92
    dias, sendo o pior prognóstico relacionado às metástases de melanoma. Conclusão: As metástases
    cerebrais constituem ainda um grupo de doenças com prognóstico reservado, acometendo adultos eco-
    nomicamente ativos. Os pacientes com metástases de tumores de mama apresentaram tendência a
    maior sobrevida. A comparação de dados de diferentes centros é essencial para estabelecer a melhor
    conduta no tratamento destes casos.
    Unitermos: Tumores SNC, Metástases cerebrais, Neoplasias secundárias.
    Citação: Onishi FJ, Melo JGSP Melo PMP Lanzoni OP Settanni F, Ferraz FAP Tratamento Cirúrgico de Metástases
                                 ,          ,           ,                   .
    Intracranianas. Rev Neurociencias 2005; 13(1):011-016.


    SUMMARY
        Introduction: Cerebral metastases are the most frequent group of central nervous system tumors,
    and up to 40% of cancer patient’s develop a brain metastasis. Single metastasis or neurological
    problems related to the metastasis injury can have benefits from the surgical treatment, besides
    patient’s evolution and even the treatment remains controversial. Objectives: To describe clinical and
    epidemiological features of patients with cerebral metastases resected from 2002 to 2003. Methods:
    This is a retrospective, descriptive and analytic study where data were collected from patients’ charts.
    All neurosurgically treated patients were included. Results: Thirty patients (16 female) were studied

    Trabalho realizado: Disciplina de Neurocirurgia – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP.

    1   -   Médico Residente da Disciplina de Neurocirurgia - UNIFESP
    2   -   Pós-graduandos da Disciplina de Neurocirurgia - UNIFESP
    3   -   Preceptor de Residentes da Disciplina de Neurocirurgia - UNIFESP
    4   -   Professor Livre Docente da Disciplina de Neurocirurgia – UNIFESP
    5   -   Professor Adjunto da Disciplina de Neurocirurgia – UNIFESP
    Endereço para correspondência: Dr. Franz J Onishi
    Rua Napoleão de Barros, 715, 6o andar.
    São Paulo – SP – Brasil - CEP 04024-002
    E-mail: franzonishi@gmail.com
    Trabalho recebido em 26/01/05. Aprovado em 02/05/05


REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
Neurociências                                                                                               12

    (mean age 52.9 ±11.7 years). Lung and breast metastasis predominated. Twelve patients have died
    since we start registering data (mean survival time: 72.92 days), and those related to melanoma
    metastasis had the worst evolution. Conclusion: Brain metastases are a still reserved regarding
    prognosis and unfortunately affects economically active people like our series. Breast cancer
    metastases had a better prognosis in our sample but we need to compare our data to other Brazilian
    centers to discuss and establish the appropriate treatment to those patients.
    Keywords: CNS tumors, Cerebral metastases, Secondary neoplasia.
    Citation: Onishi FJ, Melo JGSP Melo PMP Lanzoni OP Settanni F, Ferraz FAP Surgery treatment of brain metastases.
                                  ,        ,          ,                      .
    Rev Neurociencias 2005; 13(1):011-016.




    INTRODUÇÃO                                               ra fatores de bom prognóstico pós-tratamento: doen-
                                                             ça intracraniana limitada, bom estado clínico, doen-
        As neoplasias secundárias são as lesões tumorais
                                                             ça primária controlada, faixa etária jovem e menor
    mais freqüentes no sistema nervoso central, represen-
                                                             agressividade do tipo histológico metastático12-15.
    tando uma importante causa de morbidade e morta-
    lidade por câncer. Com o desenvolvimento de métodos          Atualmente, os estudos apontam que o melhor
    diagnósticos mais sensíveis e com a maior difusão e      tratamento para metástase cerebral única é a
    acesso a eles, as metástases cerebrais vêm sendo         ressecção cirúrgica, quando possível, seguida de
    diagnosticadas com maior freqüência. De todos os         radioterapia. Esta conduta aumenta a sobrevida e
    pacientes com diagnóstico de neoplasia maligna, 20       principalmente o tempo de independência funcio-
    a 40% desenvolvem metástases para o cérebro1-3.          nal do paciente. O tratamento cirúrgico também está
    Câncer de pulmão, mama e o melanoma são as               indicado em lesões cujo tumor primário é desco-
    neoplasias sistêmicas mais relacionadas à doença.        nhecido e em lesões que produzam hipertensão
    Em aproximadamente 20% dos casos o tumor primá-          intracraniana3-4,12,16-17.
    rio é oculto, sendo esta a primeira manifestação da
                                                                Nas metástases múltiplas, a conduta inicial é a
    doença sistêmica4.
                                                             ressecção cirúrgica da lesão sintomática, seguida
        Embora o parênquima cerebral seja a região mais      de radiocirurgia nas demais lesões, ou radioterapia
    acometida, encontram-se lesões secundárias tam-          convencional. Para cada caso deve-se, conhecen-
    bém na calota craniana e na dura-máter. Em pa-           do a história natural da neoplasia, determinar o
    cientes com câncer, o encéfalo constitui um dos          custo-benefício deste tratamento4.
    sítios de acometimento mais debilitantes e que cau-
                                                                A radiocirurgia é eficaz no controle local das le-
    sa grande morbidade, pelo potencial de déficits
                                                             sões, mas parece não afetar de forma significativa
    motores e cognitivos5-7.
                                                             a sobrevida de pacientes com múltiplas metástases,
        Aproximadamente metade dos pacientes apre-           já que geralmente o controle intracraniano é eficaz,
    senta cefaléia como o primeiro sintoma. Déficit          mas a doença extra-craniana progride. Em pacien-
    motor, alteração do estado mental e crises               tes selecionados, que possuem boas condições
    convulsivas também estão presentes, em ordem             neurológicas, a radiocirurgia diminui a progressão
    decrescente de freqüência. O diagnóstico é estabe-       das metástases e melhora a sobrevida cognitiva do
    lecido por métodos de neuroimagem e o prognósti-         paciente18-21.
    co depende do estágio da doença sistêmica5.
                                                                A dose do tratamento com radioterapia
       Por muitos anos, o tratamento padrão das              estereotáxica ou radiocirurgia é inversamente pro-
    metástases cerebrais foi a radioterapia de encéfalo      porcional ao volume de tratamento. Segundo este
    total (RT), com doses variáveis e fracionadas de ra-     princípio, metástases pequenas podem tolerar do-
    diação. Mais recentemente, a radiocirurgia               ses crescentes de radiação20.
    estereotática e a ressecção microcirúrgica vêm se
                                                                Em uma grande série, a sobrevida média dos
    mostrando mais efetivas para o tratamento de tais
                                                             pacientes submetidos à radiocirurgia foi de 9 me-
    doenças, com sobrevida mais longa 4,8-12.
                                                             ses. Lesões decorrentes de melanoma19 e lesões
      O tratamento multidisciplinar pode determinar au-      múltiplas determinaram uma sobrevida menor. O
    mento na sobrevida. Foram determinados na literatu-      controle da doença local em 1 ano após a

REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
Neurociências                                                                                                 13

    radiocirurgia foi de 75%. A associação de                idade média de 52,9 (± 11,7) anos, portadores de
    radiocirurgia e radioterapia de encéfalo total não       metástases intracranianas submetidos à ressecção
    demonstrou melhor evolução quando comparada              cirúrgica, com confirmação histológica de neoplasia
    ao tratamento radiocirúrgico isolado18. Outro estu-      secundária. Quatorze pacientes (46,7%) eram do
    do demonstrou controle de doença em 1 ano de             sexo masculino e dezesseis (53,3%) do sexo femini-
    69% e 46% no segundo ano. Quando avaliados               no. O tempo de seguimento médio dos pacientes
    apenas tumores com até 1 cm (0,5cm3) esta taxa           foi de 548 dias.
    sobe para 86 e 78% respectivamente, contra 56% e
    24% quando maiores que este tamanho20.                       Das neoplasias, isolamos os seguintes tipos
                                                             histológicos em ordem de freqüência: câncer de pul-
       Quimioterápicos têm sido empregados no trata-         mão e mama correspondendo cada um a 26,7% (n=8,
    mento das metástases cerebrais de acordo com a           em cada grupo), melanoma em 20% (n=6) e outros
    indicação clínica da doença primária, alguns deles       tipos histológicos 26,7% (n=8). Entre estes encontra-
    em fases experimentais com resultados ainda              mos carcinoma de células claras renais, carcinomas
    inconclusivos22-23.                                      indiferenciados de sítio primário indefinido, carcino-
                                                             ma folicular de tireóide, adenocarcinoma de origem
                                                             indeterminada. Metástases cerebrais foram a mani-
    OBJETIVOS                                                festação inicial de neoplasias malignas sistêmicas em
        Caracterizar clinicamente os pacientes subme-        4 pacientes (13,3%).
    tidos à ressecção cirúrgica de metástases                    O quadro clínico inicial foi constituído por cefaléia
    intracranianas, analisar fatores de sobrevida, es-       em 60% dos casos, não obedecendo um caráter
    tudo de sítio primário mais comum, descrição de          típico, crises convulsivas (16,7%), déficit focal (16,7%)
    localização tumoral, análise individualizada por         e rebaixamento do nível de consciência (6,7%). No
    gênero e idade média ao diagnóstico.                     momento da cirurgia, 46,7% dos pacientes já apre-
                                                             sentavam déficit focal.

    MÉTODOS                                                     O lobo frontal foi o local mais acometido (36,7%),
                                                             seguido pelo parietal (20%) e cerebelo (16,7%).
        Realizada análise retrospectiva de todos os pa-
    cientes adultos com diagnóstico histológico de               A radioterapia pós-operatória foi administrada a
    metástase cerebral, operados no Hospital São Paulo       90% dos pacientes. A taxa de mortalidade geral após
    – Universidade Federal de São Paulo e acompanha-         18 meses de acompanhamento foi de 40%, com mé-
    dos no ambulatório de Neurocirurgia no período           dia de sobrevida de 172,9 ± 88 dias. A média de idade
    compreendido entre janeiro de 2002 e dezembro de         foi de 53,3 anos entre os pacientes do grupo com evo-
    2003. Realizada avaliação dos dados clínicos dos         lução desfavorável, semelhante à média etária global
    pacientes baseada em coleta de dados nos respec-         da população selecionada para este estudo.
    tivos prontuários médicos. Elaborado um estudo
    retrospectivo descritivo e analítico utilizando o pro-       Não houve diferença estatisticamente significante
    grama SPSS 12.0 para tratamento estatístico dos          em relação à idade, quando analisamos a proporção
    dados coletados.                                         de metástases cerebrais no sexo masculino e femini-
                                                             no ((F:52,4 M:53,4; p= 0,8).A sobrevida pós-cirúrgica
        Foram excluídos pacientes com doença primária        variou, mas não diferiu estatisticamente para
    fora de controle, pacientes com múltiplas metástases     metástases de tumores pulmonares, melanoma e da
    e pacientes sem condições clínicas pré-operatórias       mama (p = 0,09). Houve uma discreta tendência de
    para a indicação do tratamento cirúrgico.                pacientes mais idosos apresentarem menor sobrevida
       Os dados foram analisados através dos tes-            (r = -0,215; p = 0,502).
    tes de Kruskal-Wallis, Rank test, teste de correla-
    ção de Pearson e teste t de Student.
                                                             DISCUSSÃO
                                                                As metástases cerebrais são as neoplasias mais
    RESULTADOS
                                                             prevalentes do sistema nervoso central, acometem
         Foram incluídos 30 pacientes consecutivos, com      até 40% dos pacientes com câncer. Grande parte

REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
Neurociências                                                                                                      14

    dos estudos apresenta uma prevalência masculina                         O Grupo de Tumores da Disciplina de
    maior, embora sem relevância estatística. Nesta série               Neurocirur-gia da Escola Paulista de Medicina
    apresentamos uma discreta predominância no sexo                     adotou os critérios clássicos estabelecidos na li-
    masculino, provavelmente pelo grande número                         teratura para a indicação do tratamento cirúrgico
    porcentual de neoplasia de mama quando compa-                       das metástases. Desta forma, os pacientes com
    rado a outras séries (Figura 1).                                    metástases únicas ao diagnóstico e os pacien-
                                                                        tes com lesões sintomáticas foram submetidos à
                                                                        ressecção destas lesões e encaminhados para
                               Local primário das metástases
                                                                        tratamento adjuvante com radioterapia e
                                                                        quimioterapia. Por este estudo tratar de um gru-
                                                                        po selecionado de pacientes cirúrgicos, o quadro
                                                                        clínico descrito não é o mesmo encontrado no
                                                                        grupo geral dos pacientes com metástases cere-
                                                                        brais. Neste grupo o quadro clínico inicial de
                                                                        síndrome de hipertensão intracraniana abrangeu
                                                                        66% dos pacientes com cefaléia e sonolência,
                                                                        46,7% dos pacientes apresentavam déficit neuro-
                                                                        lógico focal no momento da cirurgia e apenas
                                                                        16,7% apresentavam apenas crise convulsiva de
                                                                        início tardio.
     Figura 1. Amostragem dos pacientes submetidos a ressecção
              cirúrgica de lesões secundárias cerebrais.                   Assim como na literatura, a maior parte das le-
                                                                        sões secundárias cerebrais neste grupo foram
                                                                        supratentorias (73,3%) e 16,7% cerebelares. Não foi
        Apesar de não ser estatisticamente significante,                encontrada relação estatística entre a localização
    no sexo feminino o diagnóstico de metástase cere-                   da lesão e o tipo histológico.
    bral se deu em uma faixa etária menor que no sexo                       Nesta série de casos obtivemos índices de mor-
    masculino. Esta diferença também pode ser                           talidade em 18 meses semelhantes aos da literatu-
    explicada pela presença das metástases secundá-                     ra (40%). A média de sobrevida também se sobrepõe
    rias a tumor de mama, diagnosticadas em uma faixa                   à dos estudos revistos.
    etária menor que as secundárias a tumores pulmo-
    nares ou melanomas (48, 56,7 e 57,6 anos, respec-                      Até a compilação dos dados, 12 pacientes ha-
    tivamente) (Figura 2).                                              viam falecido, 50% deles com diagnóstico de
                                                                        metástases de tumores pulmonares, com
                      Idade dos pacientes no momento do diagnóstico,    sobrevida média pós-cirúrgica de 53 dias. Ape-
                                 segundo sítio primário
                                                                        nas uma paciente portadora de metástase de
                                                                        adenocarcinoma mamário havia falecido, com
                                                                        sobrevida de 311 dias. Já os melanomas, aco-
                                                                        metendo pacientes com faixa etária mais eleva-
                                                                        da, haviam gerado duas mortes, com sobrevida
                                                                        média de 6,5 dias. Apesar da grande variância,
      idade em anos




                                                                        não se observa significância estatística entre a
                                                                        sobrevida dos 3 grupos (Kruskal-Wallis on Ranks,
                                                                        p=0,09). O coeficiente de letalidade observado foi
                                                                        maior, portanto, em pacientes com neoplasia pul-
                                                                        monar. Entre os pacientes falecidos, os pacien-
                                                                        tes com melanoma tiveram menor sobrevida
                                                                        pós-cirúrgica (Figura 3).
                                                                           Observamos uma correlação negativa, no en-
                                      sítio primário                    tanto sem significância estatística, entre a idade
                      Figura 2. Idade dos pacientes do estudo segundo   do paciente operado e a sobrevida pós-cirúrgica,
                                       o sítio primário.                o que significa dizer que os pacientes mais ido-

REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
Neurociências                                                                                                                                                              15

                                                      Tempo de vida pós-operatória,                                       Correlação entre idade dos pacientes e o
                                                        segundo sítio primário                                                     tempo de sobrevida
      Tempo de sobrevida pós-operatório




                                                                                                             Idade
                                                                 sítio primário                                                             óbito em dias
                                                                                                             Figura 4. Correlação entre a idade dos pacientes e o tempo
    Figura 3. Tempo de sobrevida pós-operatória dos pacientes em                                                             de sobrevida pós-cirúrgico.
          dias (n de óbitos até a compilação dos dados =12).


    sos tenderam a ter menor sobrevida pós-cirúrgi-                                                         focais. O tratamento cirúrgico deve ser proposto aos
    ca (Pearson r = -0,215 p=0,502) (Figura 4).                                                             pacientes com metástase cerebral quando houver
                                                                                                            lesão única, em local acessível, e controle sistêmico
                                                                                                            da neoplasia primária; em lesões múltiplas, deven-
    CONCLUSÃO                                                                                               do ser ressecada a sintomática e as demais que
                                                                                                            possam ser removidas pela mesma via de acesso.
        Pacientes com metástases cerebrais únicas ou                                                        O tratamento adjuvante é importante para controle
    sintomáticas, quando submetidos a tratamento ci-                                                        local da doença. Neste estudo, pacientes com
    rúrgico em tempo adequado e terapia adjuvante se                                                        metástase de neoplasia mamária apresentaram evo-
    beneficiam com aumento da sobrevida. Além dis-                                                          lução mais favorável, enquanto pacientes com le-
    to, há melhora na qualidade de vida graças à reso-                                                      sões secundárias a melanoma ou tumor pulmonar
    lução da hipertensão intracraniana ou dos déficits                                                      apresentaram sobrevida menor.




    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


    1.                                    Black PM, Johnson MD. Surgical resection for patients with        6.       Takeshima H, Kuratsu J, Nishi T, Ushio Y. Prognostic Factors in
                                          solid brain metastases: current status. J Neurooncol 2004;                 Patients Who Survived More Than 10 Years after Undergoing
                                          69(1-3): 119-24.                                                           Surgery forMetastatic Brain Tumors: Report of 5 cases and
    2.                                    Nguyen T, Deangelis LM. Treatment of brain metastases. J                   review of the literature. Surg Neurol 2002; 58:118-23.
                                          Support Oncol 2004; 2(5):405-10 (discussion 411-6).               7.       Chang EL, Hassenbusch SJ 3rd, Shiu AS, et al. The role of
    3.                                    Bradley KA, Mehta MP. Management of brain metastases.                      tumor size in the radiosurgical management of patients with
                                          Semin Oncol 2004; 31(5):693-701.                                           ambiguous brain metastases. Neurosur 2003; 53(2): 272-80.
    4.                                    Kondziolka D, Patel A, Lunsford LD, Flickinger JC. Decision       8.       Ulm AJ, Friedman WA, Bova FJ, Bradshaw P Amdur RJ, Men-
                                                                                                                                                               ,
                                          making for patients with multiple brain metastases: radiosur-              denhall WM. Linear Accelerator Radiosurgery in the Treatment
                                          gery, radiotherapy, or resection? Neurosur Focus 2000; 9:1-6.              of Brain Metastases. Neurosur 2004; 55(5):1076-1085.
    5.                                    Barnholtz-Sloan JS, Sloan AE, Davis FG, Vigneau FD, Lai P     ,   9.       Okunieff P Schell MC, Ruo R, Hale ER, O’Dell WG, Pilcher W.
                                                                                                                                ,
                                          Sawaya RE. Incidence Proportions of Brain Metastases In-Pati-              Long-term management of patients with multiple brain metas-
                                          ents Diagnosed (1973 to 2001) in the Metropolitan Detroit Can-             tases after shaped beam radiosurgery. Case report and review
                                          cer Surveillance System. J clin oncol 2004; 22(14): 2865-2872.             of the literature. J Neurosurg 2004; 101 Suppl 3:406-12.


REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
Neurociências                                                                                                                         16

    10. Warnick RE, Darakchiev BJ, Breneman JC. Stereotactic radi-        17. Mystakidou K, Boviatsis EJ , Kouyialis AT, et al. Silent radiolo-
        osurgery for patients with solid brain metastases: current sta-       gical imaging time in patients with brain metastasis. Clin Neu-
        tus. J Neurooncol 2004; 69(1-3):125-37.                               rol Neurosur 2004; 106: 300–304.
    11. Schöggl A, Kitz K, Reddy M, Wolfsberger St, Schneider B, Dieck-   18. Shehata MK, Reid BYB, Patchell RA, et al. Stereotatic radio-
        mann K, Ungersböck K. Defining the Role of Stereotactic Radio-        surgery of 468 brain metastasis < 2 cm: Implications for SRS
        surgery Versus Microsurgery in the Treatment of Single Brain          dose and whole brain radiation therapy. Int J Rad Oncol Biol
        Metastases. Acta Neurochir (Wien) 2000; 142:621-626.                  Phys 2004; 59(1): 87–93.
    12. Sheehan J, Niranjan A, Flickinger JC, Kondziolka D, Lunsford      19. Selek U, Chang EL, Hassenbusch III SJ, et al. Stereotatic
        LD. The Expanding Role of Neurosurgeons in the Manage-                radiosurgical treatment in 103 patientes for 153 cerebral me-
        ment of Brain Metastases. Surg Neurol 2004; 62:32–41.                 lanoma metastases. Int. J. Rad Oncol Biol Phys 2004; 59(4):
    13. Kimura T, Sako K, Tohyama Y, et al. Diagnosis and treatment           1097–1106.
        of progressive space-occupying radiation necrosis following       20. Datta R, Jawahar A, Ampil FL, Shi R, Nanda A, D’Agostino H.
        stereotactic radiosurgery for brain metastasis: Value of proton       Survival in Relation to Radiotherapeutic Modality for Brain
        magnetic resonance spectroscopy. Acta Neurochir 2003,                 Metastasis. Whole Brain Irradiation vs. Gamma Knife Radio-
        145:557–564.                                                          surgery. Am J Clin Oncol 2004; 27(4): 420–424.
    14. Pierallini A, Caramia F, Piattella MC, et al. Metastasis Along    21. Kim DG, Kim CY, Paek SH, et al. Whole-Body [18F] FDG PET
        the Stereotactic Biopsy Trajectory in Glioblastoma Multiforme.        in the Management of Metastatic Brain Tumours. Acta Neuro-
        Acta Neurochir (Wien) 1999; 141:1011-1012.                            chir (Wien) 1998; 140:665-674.
    15. Bajard A, Westeel V, Dubiez A, et al. Multivariate analysis of    22. Poon AN, Ho SS, Yeo W, Mok TS. Brain metastasis responding
        factors predictive of brain metastases in localised non-small         to gefitinib alone. Oncol 2004; 67(2): 174-8.
        cell lung carcinoma. Lung Cancer 2004; 45:317-323.                23. Chiocca EA, Broaddus WC, Gillies GT, Visted T, Lamfers MLM.
    16. Rock JP Haines S, Recht L, et al. Practice parameters for the
               ,                                                              Neurosurgical delivery of chemotherapeutics, targeted toxins,
        management of single brain Metastasis. Neurosur Focus 2000;           genetic and viral therapies in neuro-oncology. J Neuro-Oncol
        9:1-9.                                                                2004; 69:101-117.




REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
Neurociências                                                                                                                               17

    Artigo Original


    Eficácia da toxina botulínica tipo-A associada a
    fisioterapia em uma criança hemiplégica
    espástica
    Effectiveness of BTA and physiotherapy in treating a children with
    hemeplegic-spastic cerebral palsy
    Resende, C. M. G.1; Nascimento, V. F. do1; Leite, J. M. R. S.2

    RESUMO
       Introdução: Paralisia cerebral (PC) caracteriza um grupo de distúrbios cerebrais de caráter estacionário,
    que podem se manifestar clinicamente como hemiparesia e espasticidade. A toxina botulínica tipo A (TBA)
    atua na junção neuromuscular, bloqueando a liberação da acetilcolina na placa motora e assim, proporciona
    um relaxamento maior da musculatura, sendo eficaz no tratamento da paralisia cerebral, principalmente se
    associada a um tratamento fisioterápico através da cinesioterapia, hidroterapia e o uso de órteses. Objetivo:
    Este estudo visa analisar a eficácia da TBA e fisioterapia em uma criança com paralisia cerebral padrão
    hemiparético-espástico. Material e método: Participou deste estudo uma criança hemiplégica espástica,
    submetida ao tratamento fisioterápico. A primeira avaliação, antes da aplicação da TBA, a segunda, após 15
    dias da aplicação, em que foi realizado o tratamento fisioterápico associado ao uso de órtese . Em cada
    avaliação foi verificada a amplitude de movimento, a marcha e a espasticidade. Resultados: Na avaliação
    da goniometria, verificou-se uma melhora da mobilidade do membro inferior direito. A marcha também melho-
    rou significantemente e a espasticidade diminuiu. Conclusão: A TBA foi eficaz e segura em nosso paciente e
    em associação com o tratamento fisioterápico, proporcionou maior independência, melhora da marcha e da
    qualidade de vida de nosso paciente com PC hemiplégica.
    Unitermos: Paralisia cerebral, Hemiplegia, Espasticidade, Toxina botulínica tipo A.
    Citação: Resende CMG, Nascimento VF, Leite JMRS. Eficácia da toxina botulínica tipo-A associada a fisioterapia em
    uma criança hemiplégica espástica. Rev Neurociencias 2005; 13(1):017-020.



    SUMMARY
        Context: Cerebral Palsy characterizes a group of cerebral disturbances of stationary character. The
    botulinum toxin A (BTA) acts in the neuromuscular junction, blocking acetylcholine liberation providing a
    larger relaxation of the musculature. It is important to accomplish a physiotherapeutic treatment through
    kinetics, hydrotherapy and orthesis to reach a better improvement to the patient. Objective: This study
    analyzes the effectiveness of BTA in a child with cerebral palsy submitted to the physiotherapeutic treatment.
    Material and method: a child with cerebral palsy was clinically evaluated and treated with BTA
    andphysiotherapy. The measures were done pre treatment and after 15 days post BTA.. In each evaluation
    it was verified the movement width, the march and the spasticity. Results: The child presented movement

    Trabalho realizado: Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS

    1 - Acadêmicas do curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS;
    2 - Mestre e doutorando da UNIFESP/EPM, professora do Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS.

    Endereço para correspondência: Resende, C. M. G.
    Rua Irmão Luíz Cronembroeck, 71 Apto 304 Bairro Centenário – Lavras – MG. E-mail: jacqueline@unilavras.edu.br / jacqueline@navinet.com.br

    Trabalho recebido em 01/03/05. Aprovado em 25/04/05.


REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (017-020)
Neurociências                                                                                              18

    amplitude and clinical improvement compared to pre treatment evaluation. The spasticity also improved.
    Conclusion: Botulinum toxin A is an effective and safe method, that in association with the physiotherapy
    were associated to a larger independence of child with cerebral palsy.
    Keywords: Cerebral palsy, Hemiplegia, Spasticity, Botulinum toxin A.
    Citation: Resende CMG, Nascimento VF, Leite JMRS. Effectiveness of BTA and physiotherapy in treating a children
    with hemeplegic - spastic cerebral palsy. Rev Neurociencias 2005; 13(1):017-020.



    INTRODUÇÃO                                                  A hidroterapia alia os efeitos benéficos da fisio-
                                                            terapia de solo às propriedades físicas da água,
       Paralisia cerebral (PC) constitui um grupo de dis-
                                                            como o empuxo e a pressão hidrostática, que tor-
    túrbios cerebrais de caráter estacionário, que são
                                                            nam o movimento mais fácil de ser realizado dentro
    devidos a uma lesão ou anomalias do desenvolvi-
                                                            da água, auxilia no fortalecimento e tem efeito
    mento ocorridas durante a vida fetal ou durante os
                                                            relaxante adicional proporcionado pelo calor10-13.
    primeiros meses de vida.
                                                               O uso de órteses para a manutenção do posi-
        A PC pode ser classificada, de acordo com os
                                                            cionamento articular adequado, é de fundamental
    sinais clínicos em cinco grupos: atáxica, hipotônica,
                                                            importância no tratamento da espasticidade e após
    atetósica, espástica (tetraplegia, diplegia,
                                                            aplicação da TBA5,7-8. Estas, posicionam os mús-
    hemiplegia) e mista. A forma espástica é a mais
                                                            culos em determinado grau de alongamento evitan-
    comum, pode ser definida como uma resistência
                                                            do que os mesmos entrem em retração e podem
    ao estiramento passivo de um músculo ou de um
                                                            auxiliar na função, melhorando o padrão da mar-
    grupo muscular (hipertonia), devido acometimento
                                                            cha8,14.
    do neurônio motor superior Sistema Nervoso Cen-
    tral (SNC)1-2.                                             A utilização da TBA neste trabalho torna-se de
                                                            fundamental importância, pois, promove uma di-
        A hemiplegia espástica afeta os membros de um
                                                            minuição da espasticidade melhorando o padrão
    lado do corpo, o lado comprometido é o oposto ao
                                                            da marcha favorecendo, assim, a reeducação fun-
    lado cerebral lesado. Há hipertonia em flexão do
                                                            cional e muscular do membro acometido.
    membro superior e em extensão do membro inferi-
    or3. O pé assume posição equinovaro, o que difi-
    culta a marcha4.
                                                            MATERIAL E MÉTODO
        A espasticidade é um dos maiores obstáculos para
                                                                Participou deste estudo uma criança, do sexo
    a reabilitação neurológica5, o que suscitou o uso da
                                                            masculino, com idade cronológica de 5 anos, com-
    toxina botulínica tipo A (TBA - derivada da bactéria
                                                            patível com a idade motora, com diagnóstico clíni-
    gram negativa e anaeróbica Clostridium botulinium) 6,
                                                            co de Paralisia Cerebral e diagnóstico
    para o tratamento desta condição clínica.
                                                            fisioterapêutico de hemiplegia espástica direita.
       São conhecidos 8 sorotipos de toxinas, das quais
                                                                O estudo foi realizado na Clínica de Fisioterapia
    7 são neurotóxicas. A toxina botulínica tipo- A é a
                                                            Risoleta Neves, que pertence ao Centro Universitá-
    mais potente. Trata- se de uma proteína polipeptídica
                                                            rio de Lavras-UNILAVRAS. Antes de iniciar o estu-
    composta por duas cadeias, uma leve e outra pe-
                                                            do, o responsável pela criança assinou um termo
    sada, ligadas por uma ponte dissulfídica7. A TBA é
                                                            de consentimento livre e esclarecido .
    uma neurotoxina que atua na junção
    neuromuscular, bloqueando a liberação da                     Os materiais utilizados na piscina constituíam-
    acetilcolina na placa motora, e proporcionando um       se basicamente de um tablado, um tapete de
    relaxamento maior da musculatura, permite um            flutuação, um estepe, flutuadores em forma de
    alongamento maior dos músculos injetados e me-          macarrão e brinquedos em geral. No solo, foram
    lhora o padrão da marcha8.                              utilizados tatame, barras paralelas, rampas, esca-
                                                            das e bola suíça.
        As medidas fisioterápicas, por meio da
    cinesioterapia, através de alongamentos suaves, for-       Para a coleta de dados foi avaliado os graus de
    talecimento dos músculos e posicionamento ade-          movimento dos membros inferiores através do
    quado visam tornar os músculos menos responsivos        goniômetro da marca CARCI15. A espasticidade foi
    aos estímulos nervosos alterados9.                      avaliada pela escala de Ashowrth Modificada, que

REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (017-020)
Neurociências                                                                                                           19

    gradua a espasticidade de 0-4 graus. A marcha foi
                                                                                                      Pré TBA       Pós TBA
    avaliada através de uma ficha específica para pacien-
    tes portadores de PC hemiplégica espástica, que con-                      Flexão                          90°    100°
    tém 3 domínicos16 já descritos em outra parte: o primeiro                 Extensão                         5°      8°
    registra pontuação para cada fase da marcha (con-                         Abdução                         40°     42°
                                                                 Quadril
    tato inicial, oscilação, suporte), o segundo registra os                  Adução                          10°     12°
    pontos obtidos pelo paciente no estado funcional da                       Rot. Int.                       35°     35°
    marcha para cada qualificador, e o terceiro classifica                    Rot. Ext.                       41°     41°
    a marcha clinicamente a partir da pontuação obtida           Joelho       Flexão                      120°       130°
    anteriormente em marcha normal (0 pontos); marcha
                                                                              Dorsiflexão                     10°     15°
    com comprometimento mínimo, (1 a 14 pontos); mar-
                                                                              Flexão plantar                  60°     48°
    cha com comprometimento significante (15 a 30 pon-           Tornozelo
                                                                              Inversão                        46°     40°
    tos) e marcha com comprometimento limitante (>30
                                                                              Eversão                         18°     18°
    pontos) .
        A criança foi submetida a duas avaliações, a            Tabela 1. Análise da “Goniometria” do membro inferior direito
    primeira antes da aplicação da TBA e a segunda              comparando-se a 1ª com a 2ª avaliação (p=0,0066).
    após 15 dias em que foi realizado o tratamento
    fisioterápico associado ao uso de órtese. O tra-
    tamento fisioterápico foi realizado no solo às ter-                                               Pré TBA       Pós TBA

    ças e quintas e hidroterapia às segundas, quartas            Pé                                       6           4
    e sextas, com duração da sessão de 45 minutos                Joelho                                   8           6
    em todas as sessões.                                         Artelhos                                 2           2
        A TBA foi aplicada nos músculos tibial posterior e       Pelve                                    4           2
    tríceps sural. Após 48 horas da aplicação, iniciou-se        Tronco                                   4           4
    o tratamento fisioterápico e a mãe da criança foi ori-       Flexão da coxa                           2           2
    entada a realizar exercícios domiciliares propostos pelo     Extensão da coxa                         2           2
    fisioterapeuta. Os dados foram analisados através do         Arrastamento do membro                   1           0
    teste t de Student.                                          TOTAL                                   29          20

                                                                Tabela 2. Pontuação da Marcha comparando-se a 1ª com a 2ª
                                                                avaliação (p= 0,0412).
    RESULTADOS
       A tabela 1 mostra a análise da goniometria do
                                                                bro superior e extensão no membro inferior, pé
    membro inferior direito realizada antes e após a
                                                                eqüinovaro, dificultando assim sua marcha.
    aplicação da TBA. Os valores goniométricos rela-
    tivos ao membro inferior direito apresentaram                   A toxina pode ser considerada um método
    melhora significante após o tratamento (p<                  terapêutico seguro e eficaz para o tratamento da
    0,006). Os indicadores clínico-funcionais da mar-           espasticidade, quando os métodos tradicionais fa-
    cha, obtidos através da Ficha de Avaliação da               lham5. O que foi verificado neste estudo, pois após
    Marcha Hemi-plégico-espástica (FAMHE) 16, tam-              48 horas da aplicação da TBA, pode-se verificar o
    bém evidenciaram melhora estatisticamente                   início do seu efeito, tendo ocorrido melhora da mo-
    significante (p<0.04). A espasticidade foi avalia-          bilidade articular do tornozelo em todas as amplitu-
    da pela Escala de Ashworth Modificada, a primei-            des. Não foi verificado presença de efeitos colaterais
    ra avaliação resultou em grau 2, o que significa            nos primeiros 15 dias.
    que ocorreu um aumento do tônus acentuado e,
                                                                   O estudo realizado avaliou o efeito da TBA em ape-
    a segunda avaliação resultou em grau 1. A tabe-
                                                                nas 15 dias9. O autor relata que a toxina atinge seu
    la 2 mostra a pontuaçaõ abtida através da “Fi-
                                                                efeito máximo em mais ou menos 15 dias após a apli-
    cha de Avaliação da Marcha Hemiplégica
                                                                cação. Outros estudos6 relatam que a TBA atinge o
    Espástica”, antes e após a aplicação da TBA.
                                                                seu efeito máximo em 1 a 4 semanas, o que indica
       A criança incluída neste estudo, encontra-se com         que a toxina poderia ainda não ter atingido seu efeito
    características comuns às citadas por Diament e             máximo em nosso paciente quando obtivemos os
    Cypel4, evidenciando hipertonia em flexão no mem-           dados para este estudo.

REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (017-020)
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática
Análise de artigos sobre fisioterapia aquática

Weitere ähnliche Inhalte

Andere mochten auch

Plan clase transito
Plan clase transitoPlan clase transito
Plan clase transitowlnd
 
O Segredo Completo
O Segredo CompletoO Segredo Completo
O Segredo CompletoQSEJAETERNO
 
DiáRio De Uma Domestica
DiáRio De Uma DomesticaDiáRio De Uma Domestica
DiáRio De Uma DomesticaQSEJAETERNO
 
O C H O R O D A V E L H I N H A N
O  C H O R O  D A  V E L H I N H A  NO  C H O R O  D A  V E L H I N H A  N
O C H O R O D A V E L H I N H A NQSEJAETERNO
 

Andere mochten auch (10)

Plan clase transito
Plan clase transitoPlan clase transito
Plan clase transito
 
Yo, mi región mi cultura!
Yo, mi región mi cultura!Yo, mi región mi cultura!
Yo, mi región mi cultura!
 
Oquevcfaria
OquevcfariaOquevcfaria
Oquevcfaria
 
O Segredo Completo
O Segredo CompletoO Segredo Completo
O Segredo Completo
 
DiáRio De Uma Domestica
DiáRio De Uma DomesticaDiáRio De Uma Domestica
DiáRio De Uma Domestica
 
Impressionante
ImpressionanteImpressionante
Impressionante
 
Homem Mododeuso
Homem MododeusoHomem Mododeuso
Homem Mododeuso
 
Duetoines..
Duetoines..Duetoines..
Duetoines..
 
Poucavergonha
PoucavergonhaPoucavergonha
Poucavergonha
 
O C H O R O D A V E L H I N H A N
O  C H O R O  D A  V E L H I N H A  NO  C H O R O  D A  V E L H I N H A  N
O C H O R O D A V E L H I N H A N
 

Ähnlich wie Análise de artigos sobre fisioterapia aquática

Estudo Einstein
Estudo EinsteinEstudo Einstein
Estudo EinsteinAcquanews
 
Coluna 2 ano 2012-atual
Coluna 2 ano   2012-atualColuna 2 ano   2012-atual
Coluna 2 ano 2012-atualMaria Costa
 
Manual de Condutas do Pronto Socorro Cirúrgico
Manual de Condutas do Pronto Socorro CirúrgicoManual de Condutas do Pronto Socorro Cirúrgico
Manual de Condutas do Pronto Socorro CirúrgicoLarissa20088
 
Analise Da Atividade Eletrica Do Musculo Reto Abdominal Apos Tratamento Com O...
Analise Da Atividade Eletrica Do Musculo Reto Abdominal Apos Tratamento Com O...Analise Da Atividade Eletrica Do Musculo Reto Abdominal Apos Tratamento Com O...
Analise Da Atividade Eletrica Do Musculo Reto Abdominal Apos Tratamento Com O...Acquanews
 
Análise da eficácia do ultra som terapêutico na redução do fibro edema gelóide
Análise da eficácia do ultra som terapêutico na redução do fibro edema gelóideAnálise da eficácia do ultra som terapêutico na redução do fibro edema gelóide
Análise da eficácia do ultra som terapêutico na redução do fibro edema gelóidevanessamanzini
 
Síndrome do túnel do carpo
Síndrome do túnel do carpoSíndrome do túnel do carpo
Síndrome do túnel do carpoadrianomedico
 
Acupuntura no auxílio da diminuição da espasticidade em crianças com paralisi...
Acupuntura no auxílio da diminuição da espasticidade em crianças com paralisi...Acupuntura no auxílio da diminuição da espasticidade em crianças com paralisi...
Acupuntura no auxílio da diminuição da espasticidade em crianças com paralisi...Rubens Montes
 
Hidroterapia na paralisia cerebral
Hidroterapia na paralisia cerebralHidroterapia na paralisia cerebral
Hidroterapia na paralisia cerebralValmir Lira
 
Palestra tenso atividade uma perspectiva cognitiva da dor lombar brasil
Palestra tenso atividade  uma perspectiva cognitiva da dor lombar brasilPalestra tenso atividade  uma perspectiva cognitiva da dor lombar brasil
Palestra tenso atividade uma perspectiva cognitiva da dor lombar brasilwww.dolordeespalda.cl www.icup.cl
 
Choque CardiogêNico[1]
Choque CardiogêNico[1]Choque CardiogêNico[1]
Choque CardiogêNico[1]kassiel
 

Ähnlich wie Análise de artigos sobre fisioterapia aquática (20)

Estudo Einstein
Estudo EinsteinEstudo Einstein
Estudo Einstein
 
Coluna 2 ano 2012-atual
Coluna 2 ano   2012-atualColuna 2 ano   2012-atual
Coluna 2 ano 2012-atual
 
Coluna vertebral
Coluna vertebralColuna vertebral
Coluna vertebral
 
Manual de Condutas do Pronto Socorro Cirúrgico
Manual de Condutas do Pronto Socorro CirúrgicoManual de Condutas do Pronto Socorro Cirúrgico
Manual de Condutas do Pronto Socorro Cirúrgico
 
Analise Da Atividade Eletrica Do Musculo Reto Abdominal Apos Tratamento Com O...
Analise Da Atividade Eletrica Do Musculo Reto Abdominal Apos Tratamento Com O...Analise Da Atividade Eletrica Do Musculo Reto Abdominal Apos Tratamento Com O...
Analise Da Atividade Eletrica Do Musculo Reto Abdominal Apos Tratamento Com O...
 
Modulo 07
Modulo 07Modulo 07
Modulo 07
 
Análise da eficácia do ultra som terapêutico na redução do fibro edema gelóide
Análise da eficácia do ultra som terapêutico na redução do fibro edema gelóideAnálise da eficácia do ultra som terapêutico na redução do fibro edema gelóide
Análise da eficácia do ultra som terapêutico na redução do fibro edema gelóide
 
167682767 apostila-acupuntura-laser
167682767 apostila-acupuntura-laser167682767 apostila-acupuntura-laser
167682767 apostila-acupuntura-laser
 
Síndrome do túnel do carpo
Síndrome do túnel do carpoSíndrome do túnel do carpo
Síndrome do túnel do carpo
 
Boletim de dor
Boletim de dorBoletim de dor
Boletim de dor
 
disturbios cerebelares
disturbios cerebelaresdisturbios cerebelares
disturbios cerebelares
 
Fisioterapia
Fisioterapia Fisioterapia
Fisioterapia
 
Acupuntura no auxílio da diminuição da espasticidade em crianças com paralisi...
Acupuntura no auxílio da diminuição da espasticidade em crianças com paralisi...Acupuntura no auxílio da diminuição da espasticidade em crianças com paralisi...
Acupuntura no auxílio da diminuição da espasticidade em crianças com paralisi...
 
Síncope vasovagal
Síncope vasovagalSíncope vasovagal
Síncope vasovagal
 
Hidroterapia na paralisia cerebral
Hidroterapia na paralisia cerebralHidroterapia na paralisia cerebral
Hidroterapia na paralisia cerebral
 
Palestra tenso atividade uma perspectiva cognitiva da dor lombar brasil
Palestra tenso atividade  uma perspectiva cognitiva da dor lombar brasilPalestra tenso atividade  uma perspectiva cognitiva da dor lombar brasil
Palestra tenso atividade uma perspectiva cognitiva da dor lombar brasil
 
Choque CardiogêNico[1]
Choque CardiogêNico[1]Choque CardiogêNico[1]
Choque CardiogêNico[1]
 
Diagnósticos desafiadores - COMA
Diagnósticos desafiadores - COMADiagnósticos desafiadores - COMA
Diagnósticos desafiadores - COMA
 
Esclerose multipla
Esclerose multiplaEsclerose multipla
Esclerose multipla
 
Neurofisiologia
NeurofisiologiaNeurofisiologia
Neurofisiologia
 

Mehr von Acquanews

Universidade De Massachusetts Lowell
Universidade De Massachusetts LowellUniversidade De Massachusetts Lowell
Universidade De Massachusetts LowellAcquanews
 
Tratamento Fisioterapico
Tratamento FisioterapicoTratamento Fisioterapico
Tratamento FisioterapicoAcquanews
 
Tratamento Fisioterapeutico Em Hidroterapia Dicrecionado Ao Condicionamento F...
Tratamento Fisioterapeutico Em Hidroterapia Dicrecionado Ao Condicionamento F...Tratamento Fisioterapeutico Em Hidroterapia Dicrecionado Ao Condicionamento F...
Tratamento Fisioterapeutico Em Hidroterapia Dicrecionado Ao Condicionamento F...Acquanews
 
Traducao Dor Miofacial
Traducao Dor MiofacialTraducao Dor Miofacial
Traducao Dor MiofacialAcquanews
 
T=Cnicas Y Ter=Pias Thermae
T=Cnicas Y Ter=Pias ThermaeT=Cnicas Y Ter=Pias Thermae
T=Cnicas Y Ter=Pias ThermaeAcquanews
 
Step By Step Guidelines For Establishing A National Halliwick Association
Step By Step Guidelines For Establishing A National Halliwick AssociationStep By Step Guidelines For Establishing A National Halliwick Association
Step By Step Guidelines For Establishing A National Halliwick AssociationAcquanews
 
Recomendaciones Piscina
Recomendaciones PiscinaRecomendaciones Piscina
Recomendaciones PiscinaAcquanews
 
O Beneficio Da Hidroterapia Para Gestantes Com Apresentacao De Dor Lombar
O Beneficio Da Hidroterapia Para Gestantes Com Apresentacao De Dor LombarO Beneficio Da Hidroterapia Para Gestantes Com Apresentacao De Dor Lombar
O Beneficio Da Hidroterapia Para Gestantes Com Apresentacao De Dor LombarAcquanews
 
Nova Lei Estagio
Nova Lei EstagioNova Lei Estagio
Nova Lei EstagioAcquanews
 
Estudo De Caso Protocolo Para Fortalecimento De Musculatura De Tronco Com Met...
Estudo De Caso Protocolo Para Fortalecimento De Musculatura De Tronco Com Met...Estudo De Caso Protocolo Para Fortalecimento De Musculatura De Tronco Com Met...
Estudo De Caso Protocolo Para Fortalecimento De Musculatura De Tronco Com Met...Acquanews
 
Estudo De Caso Piscina Terap
Estudo De Caso Piscina TerapEstudo De Caso Piscina Terap
Estudo De Caso Piscina TerapAcquanews
 
Congresso Aquatico
Congresso AquaticoCongresso Aquatico
Congresso AquaticoAcquanews
 

Mehr von Acquanews (20)

Watsu 2
Watsu 2Watsu 2
Watsu 2
 
Universidade De Massachusetts Lowell
Universidade De Massachusetts LowellUniversidade De Massachusetts Lowell
Universidade De Massachusetts Lowell
 
Tratamento Fisioterapico
Tratamento FisioterapicoTratamento Fisioterapico
Tratamento Fisioterapico
 
Tratamento Fisioterapeutico Em Hidroterapia Dicrecionado Ao Condicionamento F...
Tratamento Fisioterapeutico Em Hidroterapia Dicrecionado Ao Condicionamento F...Tratamento Fisioterapeutico Em Hidroterapia Dicrecionado Ao Condicionamento F...
Tratamento Fisioterapeutico Em Hidroterapia Dicrecionado Ao Condicionamento F...
 
Traducao Dor Miofacial
Traducao Dor MiofacialTraducao Dor Miofacial
Traducao Dor Miofacial
 
T=Cnicas Y Ter=Pias Thermae
T=Cnicas Y Ter=Pias ThermaeT=Cnicas Y Ter=Pias Thermae
T=Cnicas Y Ter=Pias Thermae
 
Step By Step Guidelines For Establishing A National Halliwick Association
Step By Step Guidelines For Establishing A National Halliwick AssociationStep By Step Guidelines For Establishing A National Halliwick Association
Step By Step Guidelines For Establishing A National Halliwick Association
 
Spalist
SpalistSpalist
Spalist
 
Recomendaciones Piscina
Recomendaciones PiscinaRecomendaciones Piscina
Recomendaciones Piscina
 
Pr Amburgey
Pr AmburgeyPr Amburgey
Pr Amburgey
 
Obesos
ObesosObesos
Obesos
 
O Beneficio Da Hidroterapia Para Gestantes Com Apresentacao De Dor Lombar
O Beneficio Da Hidroterapia Para Gestantes Com Apresentacao De Dor LombarO Beneficio Da Hidroterapia Para Gestantes Com Apresentacao De Dor Lombar
O Beneficio Da Hidroterapia Para Gestantes Com Apresentacao De Dor Lombar
 
Nova Lei Estagio
Nova Lei EstagioNova Lei Estagio
Nova Lei Estagio
 
Inic0000767ok
Inic0000767okInic0000767ok
Inic0000767ok
 
Ic4 22 Ok
Ic4 22 OkIc4 22 Ok
Ic4 22 Ok
 
Estudo De Caso Protocolo Para Fortalecimento De Musculatura De Tronco Com Met...
Estudo De Caso Protocolo Para Fortalecimento De Musculatura De Tronco Com Met...Estudo De Caso Protocolo Para Fortalecimento De Musculatura De Tronco Com Met...
Estudo De Caso Protocolo Para Fortalecimento De Musculatura De Tronco Com Met...
 
Estudo De Caso Piscina Terap
Estudo De Caso Piscina TerapEstudo De Caso Piscina Terap
Estudo De Caso Piscina Terap
 
Efica Fisiot
Efica FisiotEfica Fisiot
Efica Fisiot
 
Congresso Aquatico
Congresso AquaticoCongresso Aquatico
Congresso Aquatico
 
Efeitos
EfeitosEfeitos
Efeitos
 

Análise de artigos sobre fisioterapia aquática

  • 1. volume 13 — nº 1 — 2005 ISSN - 0104-3579 www.unifesp.br/dneuro Artigos aleatór sobre fisio erapia aquática órios isiot • Análise crítica de ensaios clínicos aleatórios sobre fisioterapia aquática para pacientes neurológicos para pacientes neurológicos • Tratamento Cirúrgico de Metástases Intracranianas atament Cirúrgico amento Metást Intracr acranianas Eficácia to botulínica tipo-A fisio erapia isiot • Eficácia da toxina botulínica tipo-A associada a fisioterapia em uma criança hemiplégica espástica pacientes esclerose later amiotr eral ófica: • Qualidade do sono de pacientes com esclerose lateral amiotr ica: análise óf dos instrumentos de avaliação • Demência com corpos de Lewy: abordagem clínica e terapêutica corpos Lewy abordag wy: dagem ter erapêutica Procediment Fisio erapêuticos para ocedimentos isiot Vésico-Esfincteriana incter • Procedimentos Fisioterapêuticos para Disfunção Vésico-Esfincteriana de Pacientes com Traumatismo Raquimedular – Revisão Narrativa acientes Tr aquimedular Re Raq Nar ativa arr • Tratamento da Fase Aguda do Acidente Vascular Cerebral Isquêmico atament amento Fase Aguda Acident Vascular Cerebr Isquêmico cidente ebral • Análise da coerência do espectro do eletrencefalograma coerência espectro eletrencefalog trencefalogr
  • 2. Neurociências revista 3 Neurociências Editorial HOMENAGEM A Professora Dra. Odete de Fátima Sallas Durigon nasceu em 02/01/1955 e faleceu em 05/02/2005, graduou-se em Fisioterapia (1977), titulou-se Mestre em Ciências Biológicas (1989) e Doutora em Ciências Fisiológicas (1997) pela Universidade de São Paulo. Coordenou o Curso de Fisioterapia da USP nas décadas de 80 e 90 e lecionou como Titular das Disciplinas de Cinesiologia e Cinesioterapia do mesmo curso. Difundiu no Brasil, por meio de cursos de extensão, um dos métodos mais utilizados na fisioterapia: a Técnica de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva, também conhecido como Método Kabat, dentre outros grandes feitos. Teve dois filhos (Rafael e Camila Durigon) os quais devem se orgulhar da grande mestra e pessoa que foi sua mãe. Para aqueles que já tiveram a oportunidade de ler a obra de Mitch Albom, “A última grande lição – o sentido da vida” talvez possam melhor entender o conteúdo de nossa homenagem a esta grande mestra. Assim que soube do inesperado e súbito infortúnio, fui visitar, em sua casa a admirável professora. Ao vê-la acamada, imobilizada e abatida não consegui conter ou esconder triste emoção. Prontamente, a mestra perspicaz e amiga, sempre tão forte e ativa, ao invés de ser consolada foi consoladora. E como eu não podia prever ou imaginar, ensinando a última grande lição: Não fique assim, eu estou bem, não se preocupe... Quem diria que eu teria um problema desses. Eu que tanto ensinei a cuidar com responsabilidade e dedicação. O que posso te dizer? Viva a vida com equilíbrio, evite excessos, pois levam a destruição. Podemos realizar muitos sonhos e bons atos, mas cuidado com dois inimigos: o orgulho e a ambição. Dedique-se a sua profissão, a produzir ciência, mas não exclusivamente. Cuidado com a envolvente ilusão. Os títulos e os cargos não são mais importantes do que viver tranqüilamente, ter paz no coração. Cuide “também” da sua saúde, esteja mais com sua família e amigos, tenha gratidão. O que poderemos levar desta vida senão o amor compartilhado entre nós, os momentos vividos com muita satisfação? Foi a última vez que a vi... Guardo com carinho todos seus ensinamentos, em especial os daquele dia, iluminados de emoção. À querida e estimada professora, que assistiu e consolou com carinho e profissionalismo muitos enfermos, que transmitiu louváveis ensinamentos a milhares de alunos brasileiros, que realizou muitas pesquisas, colaborando com os avanços científicos na área da saúde, que escreveu um grande capítulo da história de uma das profissões de maior dedicação e abnegação: a fisioterapia, nossa homenagem e eterna gratidão. Sissy Veloso Fontes Índice ARTIGOS ORIGINAIS Análise crítica de ensaios clínicos aleatórios sobre fisioterapia aquática para pacientes neurológicos Rafaela Okano Gimenes, Sissy Veloso Fontes , Márcia Maiumi Fukujima, Sandro Luis de Andrade Matas, Gilmar Fernandes do Prado ............................. 05 Tratamento Cirúrgico de Metástases Intracranianas Franz J Onishi, Julieta GSP Melo, Paulo MP Melo, Oreste P Lanzoni, Flávio Settanni, Fernando AP Ferraz ............................................................................ 11 Eficácia da toxina botulínica tipo-A associada a fisioterapia em uma criança hemiplégica espástica Resende, C. M. G.; Nascimento, V. F. do; Leite, J. M. R. S. ........................................................................................................................................................... 17 Qualidade do sono de pacientes com esclerose lateral amiotrófica: análise dos instrumentos de avaliação Simone Ribas Ghezzi, Sissy Veloso Fontes, Alexandre Santos Aguiar, Lígia Masagão Vitali, Marcia Maiumi Fukujima, Francis Meire Fávero Ortensi, Helga Cristina Almeida da Silva, Acary Souza Bulle de Oliveira, Gilmar Fernandes do Prado ..................................................................................................... 21 ARTIGOS DE REVISÃO Demência com corpos de Lewy: abordagem clínica e terapêutica Antônio Lúcio Teixeira-Jr, Francisco Cardoso. ..................................................................................................................................................................................... 28 Procedimentos Fisioterapêuticos para Disfunção Vésico-Esfincteriana de Pacientes com Traumatismo Raquimedular – Revisão Narrativa Márcia Maria Gimenez, Sissy Veloso Fontes, Marcia Maiumi Fukujima ......................................................................................................................................... 34 Tratamento da Fase Aguda do Acidente Vascular Cerebral Isquêmico Gisele Sampaio Silva, Daniela Laranja Gomes, Ayrton Roberto Massaro ......................................................................................................................................... 39 Análise da coerência do espectro do eletrencefalograma Renato Anghinah ....................................................................................................................................................................................................................................... 50 REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005
  • 3. Neurociências 4 REVISTA NEUROCIÊNCIAS Editor Chefe / Editor in chief Membros / Members João Pereira Leite, MD, PhD, Ribeirão Preto, SP Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD, São Paulo, SP Flávio Aloe, MD, São Paulo, SP Luiz Eugênio A. M. Mello, MD, PhD, São Stela Tavares, MD, São Paulo, SP Paulo, SP Editora Executiva / Executive Editor Dalva Poyares MD, PhD, São Paulo, SP Líquidos Cerebroespinhal / Cerebrospinal Luciane Bizari Coin de Carvalho, PhD, São Paulo, SP Ademir Baptista Silva, MD, PhD, São Fluid Co-editor / Co-editor Paulo, SP Chefe / Head José Osmar Cardeal, MD, PhD, São Paulo, SP. Alice Hatsue Masuko, MD, São Paulo, SP João Baptista dos Reis Filho, MD, PhD, São Luciane B. Coin de Carvalho, PhD, São Paulo, SP. Editores Associados / Associate Editors Paulo, SP Membros / Members Alberto Alain Gabbai, MD, PhD, São Paulo, SP Maria Carmen Viana, MD, PhD, Vitória, ES Leopoldo Antonio Pires, MD, PhD, Juiz de Fora, Esper Abrão Cavalheiro,MD, PhD, São Paulo, SP Virna Teixeira, MD, PhD, São Paulo, SP MG Fernando Menezes Braga, MD, PhD, São Paulo, SP Geraldo Rizzo, MD, Porto Alegre, RS Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São Rosana Cardoso Alves, MD, PhD, São Paulo, SP Paulo, SP Corpo Editorial / Editorial Board José Edson Paz da Silva, PhD, Santa Maria, RS Robert Skomro, MD, FRPC, Saskatoon, SK, Desordens do Movimento / Movement Ana Maria de Souza, PhD, Ribeirão Preto, SP Canadá Disorders Sílvio Francisco, MD, São Paulo, SP Chefe / Head Neurologia do Comportamento / Behavioral Henrique Ballalai Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP Neurology Doenças Cerebrovasculares / Membros / Members Chefe / Head Cerebrovascular Disease Francisco Cardoso, MD, PhD, Belo Horizonte, MG Paulo Henrique Ferreira Bertolucci, MD, PhD, Chefe / Head Sônia Maria Cézar de Azevedo Silva, MD, PhD, São Paulo, SP. Ayrton Massaro, MD, PhD, São Paulo, SP. São Paulo, SP Membros / Members Membros / Members Ivan Okamoto, MD, PhD, São Paulo, SP Egberto Reis Barbosa, MD, PhD, São Paulo, SP Aroldo Bacelar, MD, PhD, Salvador, BA Thais Minetti, MD, PhD, São Paulo, SP Maria Sheila Guimarães Rocha, MD, PhD, São Alexandre Longo, MD, PhD, Joinvile, SC Rodrigo Schultz, MD, PhD, São Paulo, SP Paulo, SP Carla Moro, MD, PhD, Joinvile, SC Sônia Dozzi Brucki, MD, PhD, São Paulo, SP Vanderci Borges, MD, PhD, São Paulo, SP Cesar Raffin, MD, PhD, São Paulo, SP Roberto César Pereira do Prado, MD, PhD, Charles Andre, MD, PhD, Rio de Janeiro, RJ Neurocirurgia / Neurosurgery Aracajú, SE Gabriel de Freitas, MD, PhD, Rio de Chefe / Head Epilepsia / Epilepsy Janeiro, RJ Mirto Nelso Prandini, MD, PhD, São Paulo, SP Chefe / Head Jamary de Oliveira Filho, MD, PhD, Membros / Members Elza Márcia Targas Yacubian, MD, PhD, São Salvador, BA Fernando Antonio P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, SP Paulo, SP Jefferson G. Fernandes, MD, PhD, Porto Alegre, RS Antonio de Pádua F. Bonatelli, MD, PhD, Membros / Members Jorge Al Kadum Noujain, MD, PhD, Rio de São Paulo, SP Américo Ceike Sakamoto, MD, PhD, São Paulo, Janeiro, RJ Sérgio Cavalheiro, MD, PhD, São Paulo, SP SP Márcia Maiumi Fukujima, MD, PhD, São Paulo, SP Oswaldo Inácio de Tella Júnior, MD, PhD, Carlos José Reis de Campos, MD, PhD, São Mauricio Friedirish, MD, PhD, Porto Alegre, RS São Paulo, SP Paulo, SP Rubens J. Gagliardi, MD, PhD, São Paulo, SP Orestes Paulo Lanzoni, MD, São Paulo, SP Luiz Otávio Caboclo, MD, PhD, São Paulo, SP Soraia Ramos Cabette Fabio, MD, PhD, São Ítalo Capraro Suriano, MD, São Paulo, SP Alexandre Valotta da Silva, MD, PhD, São Paulo, SP Samuel Tau Zymberg, MD, São Paulo, SP Paulo, SP Viviane de Hiroki Flumignan Zétola, MD, PhD, Margareth Rose Priel, MD, PhD, São Paulo, SP Curitiba, PR Neuroimunologia / Neuroimmunology Henrique Carrete Jr, MD, PhD, São Paulo, SP Chefe / Head Oncologia / Oncology Enedina Maria Lobato, MD, PhD, São Neurophysiology Chefe / Head Paulo, SP. Chefe / Head Suzana Maria Fleury Mallheiros, MD, PhD, São Membros / Members João Antonio Maciel Nóbrega, MD, PhD, São Paulo, SP. Nilton Amorin de Souza, MD, São Paulo, SP Paulo, SP Membros / Members Membros / Members Carlos Carlotti Jr, MD, PhD, São Paulo, SP Dor, Cefaléia e Funções Autonômicas / Pain, Nádia Iandoli Oliveira Braga, MD, PhD, São Fernando A. P. Ferraz, MD, PhD, São Paulo, Headache and Autonomic Function Paulo, SP SP Chefe / Head José Fábio Leopoldino, MD, Aracajú, SE Guilherme C. Ribas, MD, PhD, São Paulo, SP Deusvenir de Souza Carvalho, MD, PhD, São José Maurício Golfetto Yacozzill, MD, Ribeirão João N. Stavale, MD, PhD, São Paulo, SP Paulo, SP Preto, SP Membros / Members Francisco José Carcchedi Luccas, MD, São Paulo, SP Doenças Neuromusculares / Neuromuscular Angelo de Paola, MD, PhD, São Paulo, SP Gilberto Mastrocola Manzano, MD, PhD, São Paulo, SP disease Fátima Dumas Cintra, MD, São Paulo, SP Carmelinda Correia de Campos, MD, PhD, São Chefe / Head Paulo Hélio Monzillo, MD, São Paulo, SP Paulo, SP Acary de Souza Bulle de Oliveira, MD, PhD, José Cláudio Marino, MD, São Paulo, SP Marcelo Ken-It Hisatugo, MD, São Paulo, SP Reabilitação / Rehabilitation São Paulo, SP Chefe / Head Membros / Members Interdisciplinaridade e história da Sissy Veloso Fontes, PhD, São Paulo, SP Edimar Zanoteli, MD, PhD, São Paulo, SP Neurociência / Interdisciplinarity and Membros / Members Helga Cristina Almeida e Silva, MD, PhD, History of Neuroscience Jefferson Rosa Cardoso, PhD, Londrina, PR. São Paulo, SP Chefe / Head Márcia Cristina Bauer Cunha, PhD, São Paulo, SP Leandro Cortoni Calia, MD, PhD, São Afonso Carlos Neves, MD, PhD, São Paulo, SP Ana Lúcia Chiappetta, PhD, São Paulo, São Paulo, SP Membros / Members Paulo, SP Luciana de Souza Moura, MD, PhD, São João Eduardo Coin de Carvalho, PhD, São Carla Gentile Matas, PhD, São Paulo, SP Paulo, SP Paulo, SP Fátima Abrantes Shelton, MD, PhD, Edmond, Flávio Rocha Brito Marques, MD, São Paulo, SP OK, USA Laboratório e Neurociência Básica / Vinícius Fontanesi Blum, MD, São Paulo, SP Sandro Luiz de Andrade Matas, MD, PhD, São Laboratory and Basic Neuroscience Rubens Baptista Júnior, MD, São Paulo, SP Paulo, SP Chefe / Head Márcia Regina Barros da Silva, PhD, São Paulo, SP Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela, PhD, Belo Maria da Graça Naffah Mazzacoratti, PhD, São Eleida Pereira de Camargo, São Paulo, SP Horizonte, MG Paulo, SP Dante Marcello Claramonte Gallian, PhD, São Fátima Valéria Rodrigues de Paula Goulart, Membros / Members Paulo, SP PhD, Belo Horizonte, MG Beatriz Hitomi Kyomoto, MD, PhD, São Patricia Driusso, PhD, São Paulo, SP Paulo, SP Neuropediatria / Neuropediatrics Célia Harumi Tengan, MD, PhD, São Paulo, SP Chefe / Head Distúrbios do Sono / Sleep Disorders Maria José S. Fernandes, PhD, São Paulo, SP Luiz Celso Pereira Vilanova, MD, PhD, São Chefe / Head Mariz Vainzof, PhD, São Paulo, SP Paulo, SP Lucila Bizari Fernandes do Prado, MD, PhD, Iscia Lopes Cendes, PhD, Campinas, SP Membros / Members São Paulo, SP Débora Amado Scerni, PhD, São Paulo, SP Marcelo Gomes, São Paulo, SP Coordenação editorial, criação, diagramação e produção gráfica: Atha Comunicação & Editora Rua Machado Bittencourt, 190 - 4º andar - conj. 410 CEP: 04044-000 - São Paulo - SP - Tel.: (11) 5087-9502 - Fax: (11) 5579-5308 - email: 1atha@uol.com.br Os pontos de vista, as visões e as opiniões políticas aqui emitidas, tanto pelos autores, quanto pelos anunciantes, são de responsabilidade única e exclusiva de seus proponentes. Tiragem: 3.000 exemplares REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005
  • 4. Neurociências 5 Artigo Original Análise crítica de ensaios clínicos aleatórios sobre fisioterapia aquática para pacientes neurológicos Critical analysis of randomized clinical trials in aquatic physical therapy applied to neurological patients Rafaela Okano Gimenes1, Sissy Veloso Fontes2 , Márcia Maiumi Fukujima3, Sandro Luis de Andrade Matas4, Gilmar Fernandes do Prado5 RESUMO Objetivos: Revisão da literatura na busca de evidências da efetividade da fisioterapia aquática em pacientes com doença neurológica e análise crítica dos ensaios clínicos aleatórios (ECA). Método: Loca- lização dos ensaios clínicos aleatórios através da busca em bases eletrônicas e análise crítica dos ECA utilizando a lista Delphi. Resultados: Dos 207 trabalhos localizados 157 foram recuperados. Destes, 22 foram utilizados, sendo apenas 6 ECA. Um trabalho apresentou o método de aleatorização, mostrando que este não é um método utilizado regularmente em estudos clínicos sobre este assunto, devendo estudos futuros utilizar-se deste método para a alocação dos pacientes. A maioria dos estudos apresen- tou grupos similares com relação aos indicadores prognósticos mais importantes dos pacientes e, todos os estudos apresentaram critérios de elegibilidade especificados, intenção de tratar e foram relatadas estimativas das medidas de tendência central e variabilidade nas medidas de desfecho primário propici- ando, assim estudos de melhor qualidade. Conclusão: existem fracas evidências na literatura dos bene- fícios da fisioterapia aquática quando aplicada à pacientes com doenças neurológicas, sendo fundamental a elaboração de um ensaio clínico aleatório de grande amostra para avaliar o efeito da fisioterapia aqu- ática em pacientes com doença neurológica específica. Unitermos: Hidroterapia, Fisioterapia aquática, Doenças neurológicas. Citação: Gimenes RO, Fontes SV , Fukujima MM, Matas SLA, Prado GF. Análise crítica de ensaios clínicos aleatórios sobre fisioterapia aquática para pacientes neurológicos. Rev Neurociencias 2005; 13(1):005-010. SUMMARY Purpose: to carry out a systematic literature review in order to find evidence of the efficiency of aquatic therapy for neurologically impaired patients with motor disorders; to critically analyze the randomized clinical trials (RCT) identified. Methods: Identification of RCT through electronic sources, and critical analysis of the RCT according to the Delphi checklist. Results: the method of randomization was found in only one out of six studies, which leads to the conclusion that this method is not used in a consistent manner by clinical studies on the topic. Thus, future research should employ the randomization method for the Trabalho realizado: Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN 1 - Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Reabilitação Neuromotora pela UNIBAN, Docente do Centro Universitário São Camilo e UNISANTA 2 - Fisioterapeuta, Educadora Física, Mestre em Neurociências e Doutora em Ciências pela UNIFESP, Docente da UMESP e UNISANTA 3 - Neurologista do Serviço de Urgência da UNIFESP 4 - Neurologista, Doutor em Medicina pela UNIFESP, Docente da UNIBAN 5 - Neurologista, Docente da UNIFESP Endereço para correspondência: Sissy Veloso Fontes R: Francisco Tapajós, 513 ap. 122 Jd. Santo Estéfano - São Paulo - SP - CEP: 04153-001 - Email: sissyfontes@sti.com.br Trabalho recebido em 25/01/05. Aprovado em 10/04/05 REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
  • 5. Neurociências 6 allocation of patients, for there are no restrictions for its usage in physiotherapeutic studies. In addition, the majority of the studies presented similar groups in terms of the most significant prognostic indicators of the patients, and all papers provided enough information about the eligibility criteria, intention to treat and statistical analysis (point estimates and measures of variability), which ensures the quality of the studies. Conclusion: there is no clear evidence in the literature about the benefits of aquatic physical therapy when applied to neurologically impaired patients with motor disorders. Given this gap in the literature, it becomes essential to develop a RCT in order to assess the effects of aquatic physical therapy on patients with specific neurological dysfunctions. Keywords: Hydrotherapy, Aquatic Physical therapy, Neurological Disease. Citation: Gimenes RO, Fontes SV , Fukujima MM, Matas SLA, Prado GF. Critical analysis of randomized clinical trials in aquatic physical therapy applied to neurological patients. Rev Neurociencias 2005; 13(1):005-010. INTRODUÇÃO saios clínicos aleatórios (ECA) de fisioterapia aquáti- ca em pacientes neurológicos com comprometimen- Atualmente não há um consenso sobre a termino- to motor, para averiguarmos se existem evidências logia mais adequada para denominar o procedimen- científicas sobre os efeitos da fisioterapia aquática para to fisioterapêutico cinesioterapia, quando executado estes pacientes. em meio aquático. Sendo assim, dos vários termos que vêm sendo utilizados (reabilitação aquática, hidro- Os ECA podem ser definidos como experimen- cinesioterapia, exercícios aquáticos), consideramos o tos analíticos nos quais os investigadores alocam termo “fisioterapia aquática” o mais indicado, por isso, aleatoriamente os sujeitos elegíveis para o grupo o eleito neste trabalho para denominar o procedimen- de tratamento e grupo controle e, os resultados são to fisioterapêutico a ser estudado. avaliados comparando ambos os grupos. A fisioterapia aquática possui uma longa histó- Os objetivos deste trabalho abrangem: 1. Revi- ria e é tão importante atualmente quanto foi no são da literatura na busca de evidências da passado. Hoje, com o crescimento de sua popula- efetividade da fisioterapia aquática em pacientes ridade, os fisioterapeutas são encorajados a utili- neurológicos com comprometimento motor; 2. Aná- zarem a água aproveitando ao máximo suas lise crítica dos ECA sobre fisioterapia aquática. propriedades. Para que possamos compreender este recurso MATERIAL E MÉTODO fisioterapêutico faz-se necessário o amplo conhe- cimento sobre as propriedades hidrostáticas, Foi realizada revisão abrangente da literatura, hidrodinâmicas e termodinâmica da água (mecâ- obedecendo aos seguintes critérios: nica de fluidos). 1 - Estratégias usadas para identificação dos A imersão aquática possui efeitos fisiológicos estudos relevantes que se estendem sobre todos os siste- Ensaios clínicos aleatórios relevantes foram iden- mas e a homeostase. Estes efeitos podem ser tan- tificados eletronicamente por busca nas bases de to imediatos quanto tardios, permitindo assim, que dados: Medline, Embase, Scielo, Lilacs, Cochrane a água seja utilizada para fins terapêuticos em uma Library, além da procura manual nas referências dos grande variedade de problemas orgânicos. A tera- artigos. A pesquisa compreendeu o período de 1950 pia aquática parece ser benéfica no tratamento de a 2004. A estratégia adotada e os descritores utili- pacientes com distúrbios músculo-esqueléticos, zados foram: randomized-controlled trial in pt, neurológicos, cardiopulmonares, entre outros [1]. randomized-controlled-trials, random-allocation, Campion [2] cita que apenas por meio da experiên- double-blind-method, single-blind-method, clinical- cia clínica pode-se sugerir que a fisioterapia aquática trial in pt, neurological disorders and hydrotherapy, seja um meio efetivo e prático para a recuperação de neurological disorders and aquatic physical therapy; neurological disorders and exercise in water, pessoas que estão com disfunções neurológicas, neurological disorders and aquatic exercises, neuro- uma vez que poucas pesquisas têm sido realizadas. logical disorders and water therapy, neurological Portanto, o foco deste estudo consiste em anali- disorders and water immersion, neurological sar apenas os trabalhos científicos baseados em en- diseases and hydrotherapy. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
  • 6. Neurociências 7 2 - Tipos de estudos zir uma revisão sistemática adequada. É composta por oito itens, e as respostas são apresentadas nas Foram considerados todos ECA onde os gru- formas de “sim/ não/ não sei”, onde uma das alter- pos de estudo receberam tratamento com fisiote- nativas deve ser assinalada para cada item, como rapia aquática, e os grupos controle receberam é mostrada abaixo. tratamento tanto de fisioterapia tradicional (ci- nesioterapia em solo) como a fisioterapia aquáti- 1. Alocação de tratamento: ca ou natação adaptada. A. Foi realizado um método de aleatorização? 3 - Tipos de participantes Sim / Não / Não Sei Todos os pacientes dos estudos apresentavam B. A alocação do tratamento foi sigilosa? doença neurológica com comprometimento motor Sim / Não / Não Sei (paralisia cerebral, poliomielite, lesão medular, 2. A entrada no estudo, os grupos eram simi- traumatismo crânio-encefálico, acidente vascular lares com relação aos indicadores prognósti- cerebral, aneurisma cerebral e esclerose múltipla) cos mais importantes? de faixas etárias diversas (criança, adolescente, Sim / Não / Não Sei adulto e idoso). 3. Os critérios de elegibilidade foram especifica- 4 - Tipos de intervenção dos? Foi considerado qualquer protocolo de interven- Sim / Não / Não Sei ção fisioterapêutica aquática, que consistiu na apli- 4. Os avaliadores dos desfechos foram masca- cação de cinesioterapia em meio líquido, com rados? movimentos passivos, ativos, ativo-resistidas, exer- Sim / Não / Não Sei cícios de coordenação motora, treino de marcha subaquática e nado livre, quando possível. Estes 5. Os que ofereceram a intervenção eram masca- protocolos foram comparados com os seguintes rados? grupos controle: que receberam intervenção de ati- Sim / Não / Não Sei vidade física sem fins terapêuticos na água, 6. Os pacientes eram mascarados em relação a cinesioterapia em solo e natação adaptada. intervenção? 5 - Aplicação dos critérios iniciais de inclusão Sim / Não / Não Sei Nesta primeira fase foi verificado se o estudo era 7. Em relação às medidas de desfecho primá- ECA e analisada a ocultação da alocação, seguin- rio, foram relatadas estimativas das medidas do a classificação: de tendência central e variabilidade? Sim / Não / Não Sei A. Medidas adequadas para o sigilo da alocação como aleatorização central, números seriados, en- 8. A análise foi realizada pela intenção de tratar? velopes, ou outras descrições de ocultação consi- Sim / Não / Não Sei derada adequada; B. Estudos clínicos com descrição vaga da RESULTADOS ocultação da alocação e que não se enquadram na categoria anterior; Dos 207 trabalhos localizados na leteratura, por meio dos descritores utilizados, 50 foram excluídos C. Ensaios clínicos controlados, em que o mé- devido suas referências apresentarem erros de todo de alocação não era oculto. confecção, por exemplo, ausência do número do 6 - Qualidade metodológica dos estudos in- fascículo, nome dos autores e outras falhas, im- cluídos possibilitando a obtenção dos artigos na integra para análise. Os 157 artigos restantes foram anali- De acordo com Verhagen et al [3] atualmente, sados, sendo selecionados 22 artigos pois, ape- as revisões sistemáticas contam com uma avali- nas estes utilizaram o recurso “fisioterapia aquática” ação mais fidedigna da qualidade metodológica para tratamento, os demais utilizaram a “hidro-te- dos ECA. rapia” como meio de intervenção, ou seja, qualquer A lista de Delphi foi desenvolvida com a finalida- forma de aplicação externa de água, não condi- de de avaliar a qualidade dos ECA, a fim de condu- zente com o objetivo deste estudo. Dos 22 artigos, REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
  • 7. Neurociências 8 preencheram os critérios de inclusão do estudo 6 zação[4], mostrando que este não é um método uti- trabalhos, ou seja, eram ensaios clínicos aleatóri- lizado regularmente em ensaios clínicos sobre este os, os demais eram relatos de caso ou opinião do assunto devendo, estudos futuros utilizar-se deste especialista. A catalogação e as características dos método para a alocação dos pacientes. 6 artigos incluídos nesta revisão são apresentadas Houve, também apenas um estudo onde os ava- nos quadros 1 e 2 respectivamente. liadores dos desfechos eram mascarados [5], sen- do este item de grande importância, pois quando isto não ocorre, os resultados do estudo podem ser DISCUSSÃO tendenciosos. Dos 6 (seis) artigos selecionados e analisados, Em relação ao mascaramento sobre os nenhum dos artigos apresentou: terapeutas que ofereceram a intervenção, apenas A. Sigilo na alocação do tratamento, que os de- um dos estudos[4] utilizou-se deste critério, pois di- senhos de ensaios clínicos futuros sobre fisiotera- ficilmente os terapeutas pesquisadores não irão pia aquática devem descrever, ou seja, uma fazer parte da aplicabilidade do procedimento do seqüência aleatória de tarefa gerada por uma pes- estudo. Há, portanto, a necessidade da participa- soa independente do estudo (esta não pode ter in- ção de terapeutas que não tenham conhecimento formações sobre quais pacientes foram incluídos sobre os objetivos do estudo. no grupo de estudo, e também não pode influenci- A maioria dos estudos apresentou grupos simi- ar nas seqüências das tarefas realizadas pelos pa- lares em relação aos indicadores prognósticos mais cientes), a fim de melhorar a qualidade dos estudos importantes [4, 5, 7, 8] dos pacientes e, todos os estu- sobre esta temática. dos [4-9] apresentaram critérios de elegibilidade es- B. Mascaramento dos pacientes em relação à pecificados, intenção de tratar e, foram relatadas intervenção, isto se deve ao fato de que os pa- estimativas das medidas de tendência central e va- cientes submetidos a procedimentos fisiotera- riabilidade nas medidas de desfecho primário, pro- pêuticos têm conhecimento do tratamento, exceto piciando, assim estudos de melhor qualidade. quando submetidos a tratamentos eletroterápicos Em relação ao trabalho de revisão sistemáti- sem contato. ca, espera-se encontrar evidências científicas a Um estudo apresentou o método da aleatori- respeito do assunto pesquisado. Para tanto, ob- Doenças Neurológicas N ECA Ano Autores GE GC GE GC 1 1994 Prins JH, Hartung GH, Merritt poliomielite poliomielite 9 7 DJ, Blancq BS, Goebert DA. 2 1996 Dorval G, Tetreault S, PC PC 10 10 Caron C. 3 1998 Hutzler Y, Chacham A, PC PC 23 23 Bergman U, Szeinberg A. 4 1998 Hutzler Y,Chacham A, PC PC 23 23 Bergman U,Reches I. 5 1998 Zamparo P, Pagliaro P. EM, AVC, MP EM, AVC, MP 23 23 6 1999 Pagliaro P, Zamparo P. MP, EM, MP, EM, 26 26 AVC,TCE AVC, TCE PC = paralisia cerebral, EM = esclerose múltipla, AVC = acidente vascular cerebral, MP = mielopatia, TCE = traumatismo crânio-encefálico. Quadro 1. Ensaios clínicos aleatórios (ECA) segundo ano de publicação, autores, doenças neurológicas dos grupos de estudo (GE) e controle (GC) e número de pacientes (N) pertencentes aos GE e GC. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
  • 8. Neurociências 9 ECA Objetivos do Estudo Tipo de intervenção com Conclusões do Estudo Fisioterapia Aquática 1 Determinar o efeito Exercícios ativo-resistidos utilizando O grupo de estudo doprograma de exercícios equipamentos como “palmar” e apresentou aumento da força aquáticos sobre a força “nadadeira”. muscular quando comparado muscular. ao grupo controle. 2 Comparar o impacto acurto e Programa 1. Exercícios de Houve aumento na pontuação longoprazo de dois programas aquecimento e relaxamento, jogos das escalas de auto-estima e aquáticos específicos em aquáticos e natação adaptada sem independência funcional entre relação a autoestima e objetivos terapêuticos. os grupos de estudo e independência funcional e, Programa 2. Exercícios de controle, mas não houve averiguar a efetividade da Aquecimento, relaxamento, ativos diferença significativa entre fisioterapia aquática. individuais e em grupo com objetivos os grupos. terapêuticos gerais e específicos. 3 Averiguar o efeito do Exercícios individuais de habilidade Foi sugerido que a aplicação programa sobre a função de orientação aquática, exercícios associada dos procedimentos respiratória e avaliar o em grupo e de coordenação motora. de solo e água agem desempenho de habilidade de beneficamente sobre a função orientação aquática. respiratória dos pacientes. 4 Avaliar as alterações quanto Atividades aquáticas individuais Não houve alteração significativa às funções motoras e quanto consistindo de exercícios de na escala de autoconceito e ao autoconceito de crianças habilidade de orientação aquática. houve melhora em relação às submetidas a um programa de habilidades aquáticas em ambos tratamento. os grupos. 5 Analisar o gasto energético na Marcha subaquática, A fisioterapia aquática foi marcha subaquática de pacientes grupo A: velocidade pré-determinada e recomendada aos pacientes, hemiparéticos, paraparéticos e grupo B: velocidade eleita pelo próprio uma vez que melhorou às com alterações neuromotoras por paciente. Nado adaptado. características biomecânicas esclerose múltipla após programa da marcha e diminuiu seu de fisioterapia aquática. gasto energético. 6 Avaliação quantitativa do reflexo Exercícios passivos, ativos, de Não houve evidência da miotático dos músculos do coordenação motora, marcha Efetividade da fisioterapia quadríceps após programa de subaquática e nado adaptado aquática sobre os pacientes fisioterapia aquática. quando possível. estudados. Quadro 2. Relação de ensaios clínicos randomizados segundo os objetivos, tipo de intervenção e conclusões dos estudos. jetiva-se agrupar dados suficientes em número de realizados não apontaram malefícios desta inter- amostras, com homogeneidade entre elas e rigor venção nos pacientes com doença neurológica. científico dos protocolos utilizados para submetê- los a uma avaliação meta-analítica. Acredita-se CONCLUSÕES que somente assim haverá evidência de que o tra- tamento pesquisado tenha efetividade. Neste es- 1. Concluímos que as evidências na literatura são tudo não foi possível submeter os ECA fracas quanto aos benefícios da fisioterapia aquá- selecionados a uma avaliação meta-analítica, de- tica quando aplicada aos pacientes com doença vido estes utilizarem métodos diferentes, impos- neurológica e comprometimento motor. sibilitando alocá-los em um único grupo para A elaboração de ensaios clínicos aleatórios para análise. avaliar o efeito da fisioterapia aquática em pacien- No entanto, justifica-se a continuidade da prá- tes com doença neurológica específica é fundamen- tica da fisioterapia aquática, pois, os estudos já tal na decisão da prática fisioterapêutica. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
  • 9. Neurociências 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Becker BE, Cole AJ. Terapia Aquática Moderna. São Pau- on skills and self - concept of kindergarten children with lo: Manole; 2000. p.20-1. Cerebral Palsy. Percep Mot Skills 1998;86:111-8. 2. Campion MR. Hidroterapia: Princípios e Prática. São Pau- 6. Dorval G, Tetreault S, Caron C. Impact of aquatic program- lo: Manole; 2000. p. 185-6. mes on adolescents with cerebral palsy. Occup Ther Int 1996;3: 241-61. 3. Verhagen AP De Vet HCW, De Bie RA, Kessels AGH, Bo- , ers M, Bouter LM, Knipschild PG. The Delphi list for quality 7. Zamparo P Pagliaro P The energy cost of level walking , . assesment of randomized clinical trials for conducting sis- before and after hydrokinesy therapy in patients with spas- tematic reviews developed by Delphi consensus. J Clin tic paresis. Scand J Med Sci Sports 1998; 8:222-8. Epidemiol 1998;51:1235-41. 8. Prins JH, Hartung GH, Merrit DJ, Blancq RJ, Goebert DA. 4. Hutzler Y, Chacham A, Bergman U, Szeinberg A. Effects of Effect of aquatic exercise training in person with poliomye- a movement and swimming program on vital capacity and litis disability. Sports Med 1994;5:29-39. water orientation skills of a children with Cerebral Palsy. Dev Med Child Neurol 1998;40:176-81. 9. Pagliaro P Zamparo P Quantitative evaluation of the stre- , . tch reflex before and after hydrokinesy therapy in patients 5. Hutzler Y, Chacham A, Bergman U, Reches I. Effects of a affected by spastic paresis. J Electromyogr Kinesiol movement and swimming program on the water orientati- 1999;9:141-8. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (005-010)
  • 10. Neurociências 11 Artigo Original Tratamento Cirúrgico de Metástases Intracranianas Surgery treatment of brain metastases Franz J Onishi1, Julieta GSP Melo2, Paulo MP Melo2, Oreste P Lanzoni3, Flávio Settanni4, Fernando AP Ferraz5. RESUMO Introdução: As metástases cerebrais formam o grupo de neoplasias mais freqüente do sistema ner- voso central, e cerca de 40% dos pacientes com câncer desenvolvem metástases cerebrais. Pacientes com metástases únicas ou cujo quadro neurológico pode ser atribuído à lesão se beneficiam do trata- mento cirúrgico. A evolução e o tratamento desta doença ainda permanecem controversos. Objetivos: Descrever as características clínicas e epidemiológicas dos pacientes com metástases cerebrais ressecadas no período de 2002 a 2003 no Hospital São Paulo. Métodos: Trabalho retrospectivo, descritivo, analítico, com coleta de dados baseada em revisão de prontuários de pacientes submetidos a ressecção cirúrgica de neoplasia secundária cerebral. Buscou-se a caracterização da população de estudo. Resultados: 30 pacientes foram avaliados (16 do sexo feminino). A média das idades dos pacientes foi de 52,9 ± 11,7 anos. As metástases de pulmão e mama compreenderam a maioria dos tumores operados. Houve des- de então 12 óbitos registrados até a coleta de dados, com média de sobrevida pós-operatória de 72,92 dias, sendo o pior prognóstico relacionado às metástases de melanoma. Conclusão: As metástases cerebrais constituem ainda um grupo de doenças com prognóstico reservado, acometendo adultos eco- nomicamente ativos. Os pacientes com metástases de tumores de mama apresentaram tendência a maior sobrevida. A comparação de dados de diferentes centros é essencial para estabelecer a melhor conduta no tratamento destes casos. Unitermos: Tumores SNC, Metástases cerebrais, Neoplasias secundárias. Citação: Onishi FJ, Melo JGSP Melo PMP Lanzoni OP Settanni F, Ferraz FAP Tratamento Cirúrgico de Metástases , , , . Intracranianas. Rev Neurociencias 2005; 13(1):011-016. SUMMARY Introduction: Cerebral metastases are the most frequent group of central nervous system tumors, and up to 40% of cancer patient’s develop a brain metastasis. Single metastasis or neurological problems related to the metastasis injury can have benefits from the surgical treatment, besides patient’s evolution and even the treatment remains controversial. Objectives: To describe clinical and epidemiological features of patients with cerebral metastases resected from 2002 to 2003. Methods: This is a retrospective, descriptive and analytic study where data were collected from patients’ charts. All neurosurgically treated patients were included. Results: Thirty patients (16 female) were studied Trabalho realizado: Disciplina de Neurocirurgia – Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. 1 - Médico Residente da Disciplina de Neurocirurgia - UNIFESP 2 - Pós-graduandos da Disciplina de Neurocirurgia - UNIFESP 3 - Preceptor de Residentes da Disciplina de Neurocirurgia - UNIFESP 4 - Professor Livre Docente da Disciplina de Neurocirurgia – UNIFESP 5 - Professor Adjunto da Disciplina de Neurocirurgia – UNIFESP Endereço para correspondência: Dr. Franz J Onishi Rua Napoleão de Barros, 715, 6o andar. São Paulo – SP – Brasil - CEP 04024-002 E-mail: franzonishi@gmail.com Trabalho recebido em 26/01/05. Aprovado em 02/05/05 REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
  • 11. Neurociências 12 (mean age 52.9 ±11.7 years). Lung and breast metastasis predominated. Twelve patients have died since we start registering data (mean survival time: 72.92 days), and those related to melanoma metastasis had the worst evolution. Conclusion: Brain metastases are a still reserved regarding prognosis and unfortunately affects economically active people like our series. Breast cancer metastases had a better prognosis in our sample but we need to compare our data to other Brazilian centers to discuss and establish the appropriate treatment to those patients. Keywords: CNS tumors, Cerebral metastases, Secondary neoplasia. Citation: Onishi FJ, Melo JGSP Melo PMP Lanzoni OP Settanni F, Ferraz FAP Surgery treatment of brain metastases. , , , . Rev Neurociencias 2005; 13(1):011-016. INTRODUÇÃO ra fatores de bom prognóstico pós-tratamento: doen- ça intracraniana limitada, bom estado clínico, doen- As neoplasias secundárias são as lesões tumorais ça primária controlada, faixa etária jovem e menor mais freqüentes no sistema nervoso central, represen- agressividade do tipo histológico metastático12-15. tando uma importante causa de morbidade e morta- lidade por câncer. Com o desenvolvimento de métodos Atualmente, os estudos apontam que o melhor diagnósticos mais sensíveis e com a maior difusão e tratamento para metástase cerebral única é a acesso a eles, as metástases cerebrais vêm sendo ressecção cirúrgica, quando possível, seguida de diagnosticadas com maior freqüência. De todos os radioterapia. Esta conduta aumenta a sobrevida e pacientes com diagnóstico de neoplasia maligna, 20 principalmente o tempo de independência funcio- a 40% desenvolvem metástases para o cérebro1-3. nal do paciente. O tratamento cirúrgico também está Câncer de pulmão, mama e o melanoma são as indicado em lesões cujo tumor primário é desco- neoplasias sistêmicas mais relacionadas à doença. nhecido e em lesões que produzam hipertensão Em aproximadamente 20% dos casos o tumor primá- intracraniana3-4,12,16-17. rio é oculto, sendo esta a primeira manifestação da Nas metástases múltiplas, a conduta inicial é a doença sistêmica4. ressecção cirúrgica da lesão sintomática, seguida Embora o parênquima cerebral seja a região mais de radiocirurgia nas demais lesões, ou radioterapia acometida, encontram-se lesões secundárias tam- convencional. Para cada caso deve-se, conhecen- bém na calota craniana e na dura-máter. Em pa- do a história natural da neoplasia, determinar o cientes com câncer, o encéfalo constitui um dos custo-benefício deste tratamento4. sítios de acometimento mais debilitantes e que cau- A radiocirurgia é eficaz no controle local das le- sa grande morbidade, pelo potencial de déficits sões, mas parece não afetar de forma significativa motores e cognitivos5-7. a sobrevida de pacientes com múltiplas metástases, Aproximadamente metade dos pacientes apre- já que geralmente o controle intracraniano é eficaz, senta cefaléia como o primeiro sintoma. Déficit mas a doença extra-craniana progride. Em pacien- motor, alteração do estado mental e crises tes selecionados, que possuem boas condições convulsivas também estão presentes, em ordem neurológicas, a radiocirurgia diminui a progressão decrescente de freqüência. O diagnóstico é estabe- das metástases e melhora a sobrevida cognitiva do lecido por métodos de neuroimagem e o prognósti- paciente18-21. co depende do estágio da doença sistêmica5. A dose do tratamento com radioterapia Por muitos anos, o tratamento padrão das estereotáxica ou radiocirurgia é inversamente pro- metástases cerebrais foi a radioterapia de encéfalo porcional ao volume de tratamento. Segundo este total (RT), com doses variáveis e fracionadas de ra- princípio, metástases pequenas podem tolerar do- diação. Mais recentemente, a radiocirurgia ses crescentes de radiação20. estereotática e a ressecção microcirúrgica vêm se Em uma grande série, a sobrevida média dos mostrando mais efetivas para o tratamento de tais pacientes submetidos à radiocirurgia foi de 9 me- doenças, com sobrevida mais longa 4,8-12. ses. Lesões decorrentes de melanoma19 e lesões O tratamento multidisciplinar pode determinar au- múltiplas determinaram uma sobrevida menor. O mento na sobrevida. Foram determinados na literatu- controle da doença local em 1 ano após a REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
  • 12. Neurociências 13 radiocirurgia foi de 75%. A associação de idade média de 52,9 (± 11,7) anos, portadores de radiocirurgia e radioterapia de encéfalo total não metástases intracranianas submetidos à ressecção demonstrou melhor evolução quando comparada cirúrgica, com confirmação histológica de neoplasia ao tratamento radiocirúrgico isolado18. Outro estu- secundária. Quatorze pacientes (46,7%) eram do do demonstrou controle de doença em 1 ano de sexo masculino e dezesseis (53,3%) do sexo femini- 69% e 46% no segundo ano. Quando avaliados no. O tempo de seguimento médio dos pacientes apenas tumores com até 1 cm (0,5cm3) esta taxa foi de 548 dias. sobe para 86 e 78% respectivamente, contra 56% e 24% quando maiores que este tamanho20. Das neoplasias, isolamos os seguintes tipos histológicos em ordem de freqüência: câncer de pul- Quimioterápicos têm sido empregados no trata- mão e mama correspondendo cada um a 26,7% (n=8, mento das metástases cerebrais de acordo com a em cada grupo), melanoma em 20% (n=6) e outros indicação clínica da doença primária, alguns deles tipos histológicos 26,7% (n=8). Entre estes encontra- em fases experimentais com resultados ainda mos carcinoma de células claras renais, carcinomas inconclusivos22-23. indiferenciados de sítio primário indefinido, carcino- ma folicular de tireóide, adenocarcinoma de origem indeterminada. Metástases cerebrais foram a mani- OBJETIVOS festação inicial de neoplasias malignas sistêmicas em Caracterizar clinicamente os pacientes subme- 4 pacientes (13,3%). tidos à ressecção cirúrgica de metástases O quadro clínico inicial foi constituído por cefaléia intracranianas, analisar fatores de sobrevida, es- em 60% dos casos, não obedecendo um caráter tudo de sítio primário mais comum, descrição de típico, crises convulsivas (16,7%), déficit focal (16,7%) localização tumoral, análise individualizada por e rebaixamento do nível de consciência (6,7%). No gênero e idade média ao diagnóstico. momento da cirurgia, 46,7% dos pacientes já apre- sentavam déficit focal. MÉTODOS O lobo frontal foi o local mais acometido (36,7%), seguido pelo parietal (20%) e cerebelo (16,7%). Realizada análise retrospectiva de todos os pa- cientes adultos com diagnóstico histológico de A radioterapia pós-operatória foi administrada a metástase cerebral, operados no Hospital São Paulo 90% dos pacientes. A taxa de mortalidade geral após – Universidade Federal de São Paulo e acompanha- 18 meses de acompanhamento foi de 40%, com mé- dos no ambulatório de Neurocirurgia no período dia de sobrevida de 172,9 ± 88 dias. A média de idade compreendido entre janeiro de 2002 e dezembro de foi de 53,3 anos entre os pacientes do grupo com evo- 2003. Realizada avaliação dos dados clínicos dos lução desfavorável, semelhante à média etária global pacientes baseada em coleta de dados nos respec- da população selecionada para este estudo. tivos prontuários médicos. Elaborado um estudo retrospectivo descritivo e analítico utilizando o pro- Não houve diferença estatisticamente significante grama SPSS 12.0 para tratamento estatístico dos em relação à idade, quando analisamos a proporção dados coletados. de metástases cerebrais no sexo masculino e femini- no ((F:52,4 M:53,4; p= 0,8).A sobrevida pós-cirúrgica Foram excluídos pacientes com doença primária variou, mas não diferiu estatisticamente para fora de controle, pacientes com múltiplas metástases metástases de tumores pulmonares, melanoma e da e pacientes sem condições clínicas pré-operatórias mama (p = 0,09). Houve uma discreta tendência de para a indicação do tratamento cirúrgico. pacientes mais idosos apresentarem menor sobrevida Os dados foram analisados através dos tes- (r = -0,215; p = 0,502). tes de Kruskal-Wallis, Rank test, teste de correla- ção de Pearson e teste t de Student. DISCUSSÃO As metástases cerebrais são as neoplasias mais RESULTADOS prevalentes do sistema nervoso central, acometem Foram incluídos 30 pacientes consecutivos, com até 40% dos pacientes com câncer. Grande parte REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
  • 13. Neurociências 14 dos estudos apresenta uma prevalência masculina O Grupo de Tumores da Disciplina de maior, embora sem relevância estatística. Nesta série Neurocirur-gia da Escola Paulista de Medicina apresentamos uma discreta predominância no sexo adotou os critérios clássicos estabelecidos na li- masculino, provavelmente pelo grande número teratura para a indicação do tratamento cirúrgico porcentual de neoplasia de mama quando compa- das metástases. Desta forma, os pacientes com rado a outras séries (Figura 1). metástases únicas ao diagnóstico e os pacien- tes com lesões sintomáticas foram submetidos à ressecção destas lesões e encaminhados para Local primário das metástases tratamento adjuvante com radioterapia e quimioterapia. Por este estudo tratar de um gru- po selecionado de pacientes cirúrgicos, o quadro clínico descrito não é o mesmo encontrado no grupo geral dos pacientes com metástases cere- brais. Neste grupo o quadro clínico inicial de síndrome de hipertensão intracraniana abrangeu 66% dos pacientes com cefaléia e sonolência, 46,7% dos pacientes apresentavam déficit neuro- lógico focal no momento da cirurgia e apenas 16,7% apresentavam apenas crise convulsiva de início tardio. Figura 1. Amostragem dos pacientes submetidos a ressecção cirúrgica de lesões secundárias cerebrais. Assim como na literatura, a maior parte das le- sões secundárias cerebrais neste grupo foram supratentorias (73,3%) e 16,7% cerebelares. Não foi Apesar de não ser estatisticamente significante, encontrada relação estatística entre a localização no sexo feminino o diagnóstico de metástase cere- da lesão e o tipo histológico. bral se deu em uma faixa etária menor que no sexo Nesta série de casos obtivemos índices de mor- masculino. Esta diferença também pode ser talidade em 18 meses semelhantes aos da literatu- explicada pela presença das metástases secundá- ra (40%). A média de sobrevida também se sobrepõe rias a tumor de mama, diagnosticadas em uma faixa à dos estudos revistos. etária menor que as secundárias a tumores pulmo- nares ou melanomas (48, 56,7 e 57,6 anos, respec- Até a compilação dos dados, 12 pacientes ha- tivamente) (Figura 2). viam falecido, 50% deles com diagnóstico de metástases de tumores pulmonares, com Idade dos pacientes no momento do diagnóstico, sobrevida média pós-cirúrgica de 53 dias. Ape- segundo sítio primário nas uma paciente portadora de metástase de adenocarcinoma mamário havia falecido, com sobrevida de 311 dias. Já os melanomas, aco- metendo pacientes com faixa etária mais eleva- da, haviam gerado duas mortes, com sobrevida média de 6,5 dias. Apesar da grande variância, idade em anos não se observa significância estatística entre a sobrevida dos 3 grupos (Kruskal-Wallis on Ranks, p=0,09). O coeficiente de letalidade observado foi maior, portanto, em pacientes com neoplasia pul- monar. Entre os pacientes falecidos, os pacien- tes com melanoma tiveram menor sobrevida pós-cirúrgica (Figura 3). Observamos uma correlação negativa, no en- sítio primário tanto sem significância estatística, entre a idade Figura 2. Idade dos pacientes do estudo segundo do paciente operado e a sobrevida pós-cirúrgica, o sítio primário. o que significa dizer que os pacientes mais ido- REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
  • 14. Neurociências 15 Tempo de vida pós-operatória, Correlação entre idade dos pacientes e o segundo sítio primário tempo de sobrevida Tempo de sobrevida pós-operatório Idade sítio primário óbito em dias Figura 4. Correlação entre a idade dos pacientes e o tempo Figura 3. Tempo de sobrevida pós-operatória dos pacientes em de sobrevida pós-cirúrgico. dias (n de óbitos até a compilação dos dados =12). sos tenderam a ter menor sobrevida pós-cirúrgi- focais. O tratamento cirúrgico deve ser proposto aos ca (Pearson r = -0,215 p=0,502) (Figura 4). pacientes com metástase cerebral quando houver lesão única, em local acessível, e controle sistêmico da neoplasia primária; em lesões múltiplas, deven- CONCLUSÃO do ser ressecada a sintomática e as demais que possam ser removidas pela mesma via de acesso. Pacientes com metástases cerebrais únicas ou O tratamento adjuvante é importante para controle sintomáticas, quando submetidos a tratamento ci- local da doença. Neste estudo, pacientes com rúrgico em tempo adequado e terapia adjuvante se metástase de neoplasia mamária apresentaram evo- beneficiam com aumento da sobrevida. Além dis- lução mais favorável, enquanto pacientes com le- to, há melhora na qualidade de vida graças à reso- sões secundárias a melanoma ou tumor pulmonar lução da hipertensão intracraniana ou dos déficits apresentaram sobrevida menor. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Black PM, Johnson MD. Surgical resection for patients with 6. Takeshima H, Kuratsu J, Nishi T, Ushio Y. Prognostic Factors in solid brain metastases: current status. J Neurooncol 2004; Patients Who Survived More Than 10 Years after Undergoing 69(1-3): 119-24. Surgery forMetastatic Brain Tumors: Report of 5 cases and 2. Nguyen T, Deangelis LM. Treatment of brain metastases. J review of the literature. Surg Neurol 2002; 58:118-23. Support Oncol 2004; 2(5):405-10 (discussion 411-6). 7. Chang EL, Hassenbusch SJ 3rd, Shiu AS, et al. The role of 3. Bradley KA, Mehta MP. Management of brain metastases. tumor size in the radiosurgical management of patients with Semin Oncol 2004; 31(5):693-701. ambiguous brain metastases. Neurosur 2003; 53(2): 272-80. 4. Kondziolka D, Patel A, Lunsford LD, Flickinger JC. Decision 8. Ulm AJ, Friedman WA, Bova FJ, Bradshaw P Amdur RJ, Men- , making for patients with multiple brain metastases: radiosur- denhall WM. Linear Accelerator Radiosurgery in the Treatment gery, radiotherapy, or resection? Neurosur Focus 2000; 9:1-6. of Brain Metastases. Neurosur 2004; 55(5):1076-1085. 5. Barnholtz-Sloan JS, Sloan AE, Davis FG, Vigneau FD, Lai P , 9. Okunieff P Schell MC, Ruo R, Hale ER, O’Dell WG, Pilcher W. , Sawaya RE. Incidence Proportions of Brain Metastases In-Pati- Long-term management of patients with multiple brain metas- ents Diagnosed (1973 to 2001) in the Metropolitan Detroit Can- tases after shaped beam radiosurgery. Case report and review cer Surveillance System. J clin oncol 2004; 22(14): 2865-2872. of the literature. J Neurosurg 2004; 101 Suppl 3:406-12. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
  • 15. Neurociências 16 10. Warnick RE, Darakchiev BJ, Breneman JC. Stereotactic radi- 17. Mystakidou K, Boviatsis EJ , Kouyialis AT, et al. Silent radiolo- osurgery for patients with solid brain metastases: current sta- gical imaging time in patients with brain metastasis. Clin Neu- tus. J Neurooncol 2004; 69(1-3):125-37. rol Neurosur 2004; 106: 300–304. 11. Schöggl A, Kitz K, Reddy M, Wolfsberger St, Schneider B, Dieck- 18. Shehata MK, Reid BYB, Patchell RA, et al. Stereotatic radio- mann K, Ungersböck K. Defining the Role of Stereotactic Radio- surgery of 468 brain metastasis < 2 cm: Implications for SRS surgery Versus Microsurgery in the Treatment of Single Brain dose and whole brain radiation therapy. Int J Rad Oncol Biol Metastases. Acta Neurochir (Wien) 2000; 142:621-626. Phys 2004; 59(1): 87–93. 12. Sheehan J, Niranjan A, Flickinger JC, Kondziolka D, Lunsford 19. Selek U, Chang EL, Hassenbusch III SJ, et al. Stereotatic LD. The Expanding Role of Neurosurgeons in the Manage- radiosurgical treatment in 103 patientes for 153 cerebral me- ment of Brain Metastases. Surg Neurol 2004; 62:32–41. lanoma metastases. Int. J. Rad Oncol Biol Phys 2004; 59(4): 13. Kimura T, Sako K, Tohyama Y, et al. Diagnosis and treatment 1097–1106. of progressive space-occupying radiation necrosis following 20. Datta R, Jawahar A, Ampil FL, Shi R, Nanda A, D’Agostino H. stereotactic radiosurgery for brain metastasis: Value of proton Survival in Relation to Radiotherapeutic Modality for Brain magnetic resonance spectroscopy. Acta Neurochir 2003, Metastasis. Whole Brain Irradiation vs. Gamma Knife Radio- 145:557–564. surgery. Am J Clin Oncol 2004; 27(4): 420–424. 14. Pierallini A, Caramia F, Piattella MC, et al. Metastasis Along 21. Kim DG, Kim CY, Paek SH, et al. Whole-Body [18F] FDG PET the Stereotactic Biopsy Trajectory in Glioblastoma Multiforme. in the Management of Metastatic Brain Tumours. Acta Neuro- Acta Neurochir (Wien) 1999; 141:1011-1012. chir (Wien) 1998; 140:665-674. 15. Bajard A, Westeel V, Dubiez A, et al. Multivariate analysis of 22. Poon AN, Ho SS, Yeo W, Mok TS. Brain metastasis responding factors predictive of brain metastases in localised non-small to gefitinib alone. Oncol 2004; 67(2): 174-8. cell lung carcinoma. Lung Cancer 2004; 45:317-323. 23. Chiocca EA, Broaddus WC, Gillies GT, Visted T, Lamfers MLM. 16. Rock JP Haines S, Recht L, et al. Practice parameters for the , Neurosurgical delivery of chemotherapeutics, targeted toxins, management of single brain Metastasis. Neurosur Focus 2000; genetic and viral therapies in neuro-oncology. J Neuro-Oncol 9:1-9. 2004; 69:101-117. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (011-016)
  • 16. Neurociências 17 Artigo Original Eficácia da toxina botulínica tipo-A associada a fisioterapia em uma criança hemiplégica espástica Effectiveness of BTA and physiotherapy in treating a children with hemeplegic-spastic cerebral palsy Resende, C. M. G.1; Nascimento, V. F. do1; Leite, J. M. R. S.2 RESUMO Introdução: Paralisia cerebral (PC) caracteriza um grupo de distúrbios cerebrais de caráter estacionário, que podem se manifestar clinicamente como hemiparesia e espasticidade. A toxina botulínica tipo A (TBA) atua na junção neuromuscular, bloqueando a liberação da acetilcolina na placa motora e assim, proporciona um relaxamento maior da musculatura, sendo eficaz no tratamento da paralisia cerebral, principalmente se associada a um tratamento fisioterápico através da cinesioterapia, hidroterapia e o uso de órteses. Objetivo: Este estudo visa analisar a eficácia da TBA e fisioterapia em uma criança com paralisia cerebral padrão hemiparético-espástico. Material e método: Participou deste estudo uma criança hemiplégica espástica, submetida ao tratamento fisioterápico. A primeira avaliação, antes da aplicação da TBA, a segunda, após 15 dias da aplicação, em que foi realizado o tratamento fisioterápico associado ao uso de órtese . Em cada avaliação foi verificada a amplitude de movimento, a marcha e a espasticidade. Resultados: Na avaliação da goniometria, verificou-se uma melhora da mobilidade do membro inferior direito. A marcha também melho- rou significantemente e a espasticidade diminuiu. Conclusão: A TBA foi eficaz e segura em nosso paciente e em associação com o tratamento fisioterápico, proporcionou maior independência, melhora da marcha e da qualidade de vida de nosso paciente com PC hemiplégica. Unitermos: Paralisia cerebral, Hemiplegia, Espasticidade, Toxina botulínica tipo A. Citação: Resende CMG, Nascimento VF, Leite JMRS. Eficácia da toxina botulínica tipo-A associada a fisioterapia em uma criança hemiplégica espástica. Rev Neurociencias 2005; 13(1):017-020. SUMMARY Context: Cerebral Palsy characterizes a group of cerebral disturbances of stationary character. The botulinum toxin A (BTA) acts in the neuromuscular junction, blocking acetylcholine liberation providing a larger relaxation of the musculature. It is important to accomplish a physiotherapeutic treatment through kinetics, hydrotherapy and orthesis to reach a better improvement to the patient. Objective: This study analyzes the effectiveness of BTA in a child with cerebral palsy submitted to the physiotherapeutic treatment. Material and method: a child with cerebral palsy was clinically evaluated and treated with BTA andphysiotherapy. The measures were done pre treatment and after 15 days post BTA.. In each evaluation it was verified the movement width, the march and the spasticity. Results: The child presented movement Trabalho realizado: Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS 1 - Acadêmicas do curso de Fisioterapia do Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS; 2 - Mestre e doutorando da UNIFESP/EPM, professora do Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS. Endereço para correspondência: Resende, C. M. G. Rua Irmão Luíz Cronembroeck, 71 Apto 304 Bairro Centenário – Lavras – MG. E-mail: jacqueline@unilavras.edu.br / jacqueline@navinet.com.br Trabalho recebido em 01/03/05. Aprovado em 25/04/05. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (017-020)
  • 17. Neurociências 18 amplitude and clinical improvement compared to pre treatment evaluation. The spasticity also improved. Conclusion: Botulinum toxin A is an effective and safe method, that in association with the physiotherapy were associated to a larger independence of child with cerebral palsy. Keywords: Cerebral palsy, Hemiplegia, Spasticity, Botulinum toxin A. Citation: Resende CMG, Nascimento VF, Leite JMRS. Effectiveness of BTA and physiotherapy in treating a children with hemeplegic - spastic cerebral palsy. Rev Neurociencias 2005; 13(1):017-020. INTRODUÇÃO A hidroterapia alia os efeitos benéficos da fisio- terapia de solo às propriedades físicas da água, Paralisia cerebral (PC) constitui um grupo de dis- como o empuxo e a pressão hidrostática, que tor- túrbios cerebrais de caráter estacionário, que são nam o movimento mais fácil de ser realizado dentro devidos a uma lesão ou anomalias do desenvolvi- da água, auxilia no fortalecimento e tem efeito mento ocorridas durante a vida fetal ou durante os relaxante adicional proporcionado pelo calor10-13. primeiros meses de vida. O uso de órteses para a manutenção do posi- A PC pode ser classificada, de acordo com os cionamento articular adequado, é de fundamental sinais clínicos em cinco grupos: atáxica, hipotônica, importância no tratamento da espasticidade e após atetósica, espástica (tetraplegia, diplegia, aplicação da TBA5,7-8. Estas, posicionam os mús- hemiplegia) e mista. A forma espástica é a mais culos em determinado grau de alongamento evitan- comum, pode ser definida como uma resistência do que os mesmos entrem em retração e podem ao estiramento passivo de um músculo ou de um auxiliar na função, melhorando o padrão da mar- grupo muscular (hipertonia), devido acometimento cha8,14. do neurônio motor superior Sistema Nervoso Cen- tral (SNC)1-2. A utilização da TBA neste trabalho torna-se de fundamental importância, pois, promove uma di- A hemiplegia espástica afeta os membros de um minuição da espasticidade melhorando o padrão lado do corpo, o lado comprometido é o oposto ao da marcha favorecendo, assim, a reeducação fun- lado cerebral lesado. Há hipertonia em flexão do cional e muscular do membro acometido. membro superior e em extensão do membro inferi- or3. O pé assume posição equinovaro, o que difi- culta a marcha4. MATERIAL E MÉTODO A espasticidade é um dos maiores obstáculos para Participou deste estudo uma criança, do sexo a reabilitação neurológica5, o que suscitou o uso da masculino, com idade cronológica de 5 anos, com- toxina botulínica tipo A (TBA - derivada da bactéria patível com a idade motora, com diagnóstico clíni- gram negativa e anaeróbica Clostridium botulinium) 6, co de Paralisia Cerebral e diagnóstico para o tratamento desta condição clínica. fisioterapêutico de hemiplegia espástica direita. São conhecidos 8 sorotipos de toxinas, das quais O estudo foi realizado na Clínica de Fisioterapia 7 são neurotóxicas. A toxina botulínica tipo- A é a Risoleta Neves, que pertence ao Centro Universitá- mais potente. Trata- se de uma proteína polipeptídica rio de Lavras-UNILAVRAS. Antes de iniciar o estu- composta por duas cadeias, uma leve e outra pe- do, o responsável pela criança assinou um termo sada, ligadas por uma ponte dissulfídica7. A TBA é de consentimento livre e esclarecido . uma neurotoxina que atua na junção neuromuscular, bloqueando a liberação da Os materiais utilizados na piscina constituíam- acetilcolina na placa motora, e proporcionando um se basicamente de um tablado, um tapete de relaxamento maior da musculatura, permite um flutuação, um estepe, flutuadores em forma de alongamento maior dos músculos injetados e me- macarrão e brinquedos em geral. No solo, foram lhora o padrão da marcha8. utilizados tatame, barras paralelas, rampas, esca- das e bola suíça. As medidas fisioterápicas, por meio da cinesioterapia, através de alongamentos suaves, for- Para a coleta de dados foi avaliado os graus de talecimento dos músculos e posicionamento ade- movimento dos membros inferiores através do quado visam tornar os músculos menos responsivos goniômetro da marca CARCI15. A espasticidade foi aos estímulos nervosos alterados9. avaliada pela escala de Ashowrth Modificada, que REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (017-020)
  • 18. Neurociências 19 gradua a espasticidade de 0-4 graus. A marcha foi Pré TBA Pós TBA avaliada através de uma ficha específica para pacien- tes portadores de PC hemiplégica espástica, que con- Flexão 90° 100° tém 3 domínicos16 já descritos em outra parte: o primeiro Extensão 5° 8° registra pontuação para cada fase da marcha (con- Abdução 40° 42° Quadril tato inicial, oscilação, suporte), o segundo registra os Adução 10° 12° pontos obtidos pelo paciente no estado funcional da Rot. Int. 35° 35° marcha para cada qualificador, e o terceiro classifica Rot. Ext. 41° 41° a marcha clinicamente a partir da pontuação obtida Joelho Flexão 120° 130° anteriormente em marcha normal (0 pontos); marcha Dorsiflexão 10° 15° com comprometimento mínimo, (1 a 14 pontos); mar- Flexão plantar 60° 48° cha com comprometimento significante (15 a 30 pon- Tornozelo Inversão 46° 40° tos) e marcha com comprometimento limitante (>30 Eversão 18° 18° pontos) . A criança foi submetida a duas avaliações, a Tabela 1. Análise da “Goniometria” do membro inferior direito primeira antes da aplicação da TBA e a segunda comparando-se a 1ª com a 2ª avaliação (p=0,0066). após 15 dias em que foi realizado o tratamento fisioterápico associado ao uso de órtese. O tra- tamento fisioterápico foi realizado no solo às ter- Pré TBA Pós TBA ças e quintas e hidroterapia às segundas, quartas Pé 6 4 e sextas, com duração da sessão de 45 minutos Joelho 8 6 em todas as sessões. Artelhos 2 2 A TBA foi aplicada nos músculos tibial posterior e Pelve 4 2 tríceps sural. Após 48 horas da aplicação, iniciou-se Tronco 4 4 o tratamento fisioterápico e a mãe da criança foi ori- Flexão da coxa 2 2 entada a realizar exercícios domiciliares propostos pelo Extensão da coxa 2 2 fisioterapeuta. Os dados foram analisados através do Arrastamento do membro 1 0 teste t de Student. TOTAL 29 20 Tabela 2. Pontuação da Marcha comparando-se a 1ª com a 2ª avaliação (p= 0,0412). RESULTADOS A tabela 1 mostra a análise da goniometria do bro superior e extensão no membro inferior, pé membro inferior direito realizada antes e após a eqüinovaro, dificultando assim sua marcha. aplicação da TBA. Os valores goniométricos rela- tivos ao membro inferior direito apresentaram A toxina pode ser considerada um método melhora significante após o tratamento (p< terapêutico seguro e eficaz para o tratamento da 0,006). Os indicadores clínico-funcionais da mar- espasticidade, quando os métodos tradicionais fa- cha, obtidos através da Ficha de Avaliação da lham5. O que foi verificado neste estudo, pois após Marcha Hemi-plégico-espástica (FAMHE) 16, tam- 48 horas da aplicação da TBA, pode-se verificar o bém evidenciaram melhora estatisticamente início do seu efeito, tendo ocorrido melhora da mo- significante (p<0.04). A espasticidade foi avalia- bilidade articular do tornozelo em todas as amplitu- da pela Escala de Ashworth Modificada, a primei- des. Não foi verificado presença de efeitos colaterais ra avaliação resultou em grau 2, o que significa nos primeiros 15 dias. que ocorreu um aumento do tônus acentuado e, O estudo realizado avaliou o efeito da TBA em ape- a segunda avaliação resultou em grau 1. A tabe- nas 15 dias9. O autor relata que a toxina atinge seu la 2 mostra a pontuaçaõ abtida através da “Fi- efeito máximo em mais ou menos 15 dias após a apli- cha de Avaliação da Marcha Hemiplégica cação. Outros estudos6 relatam que a TBA atinge o Espástica”, antes e após a aplicação da TBA. seu efeito máximo em 1 a 4 semanas, o que indica A criança incluída neste estudo, encontra-se com que a toxina poderia ainda não ter atingido seu efeito características comuns às citadas por Diament e máximo em nosso paciente quando obtivemos os Cypel4, evidenciando hipertonia em flexão no mem- dados para este estudo. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V13 N1 - JAN/MAR, 2005 (017-020)