O documento discute a percepção de riscos ambientais por moradores de baixa renda e as emoções causadas por danos ambientais passados. Foi realizada uma pesquisa com 211 residências para avaliar sua percepção de riscos de enchentes. As mulheres demonstraram maior preocupação com a segurança da família. Mudar de casa traria impactos emocionais devido ao apego ao local e memórias aí formadas.
1. Rio de Janeiro, 23 de Janeiro de 2012 +> busca avançada
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Uma gestão pela cultura do bem coletivo
Antonio Fernando Navarro e Mônica Lopes Gonçalves
A questão da percepção de riscos sempre foi um ponto muito discutido no
processo de gestão de riscos envolvendo o meio ambiente. Muitas vezes
incluía-se a percepção nas questões relacionadas à psicologia, outras vezes
ela era relacionada à comunicação.
No período de agosto de 2003 a fevereiro de 2005 foram realizadas
inúmeras visitas para fins de pesquisa em um bairro periférico da cidade
de Joinville, ocupado por moradores das classes de renda “D” e “E”,
denominado Jardim Sofia, com o objetivo de avaliar, através do
preenchimento de questionário específico, as questões relacionadas ao
meio ambiente. Após visitas iniciais, de reconhecimento da área e da
situação, incluindo conversas com alguns moradores, detectou-se que, no
tratamento das questões ambientais, não seria possível deixar de lado os
temas relacionados à percepção dos riscos ambientais por parte dessa
população, ainda mais considerando que muitos já haviam sofrido, por
inúmeras vezes, fortes e expressivos danos materiais, causados pelo
alagamento do rio do Braço, afluente do rio Cubatão, que nessas ocasiões
chegou a deixar várias residências submersas.
No preenchimento dos questionários de percepção de riscos foram
abordados moradores de 211 residências unifamiliares, sendo 32 em
terrenos em aclives e 179 em locais planos, além de 44 proprietários de
imóveis comerciais, abrangendo cerca de 35% dos moradores do local.
As mulheres demonstraram um maior nível de preocupação quanto ao fato
de residirem naquele bairro específico. Em parte, a preocupação estava na
segurança da família, principalmente dos filhos.
Quando o foco da questão passa pelo aspecto da mudança pura e simples
dos moradores para outro local, em função dos revezes sofridos por estes,
foram detectados impactos emocionais. Dentre as razões elencadas
distinguiram-se:
& #61607; apego à terra e ao local;
& #61607; local de nascimento dos filhos;
& #61607; local onde residem os amigos mais recentes ou não.
Quando se fala sobre percepção de riscos, quase sempre se notam dúvidas
nas respostas, porque os conceitos sobre riscos algumas vezes não são
perfeitamente claros. A própria distinção técnica entre "risco objetivo" e
"risco subjetivo" é controversa, pois, numa área complexa e pouco
explorada como a análise de risco, o "risco objetivo", que deveria ser
reprodutível (isto é, gerar resultados iguais, independente de quem realize
a análise), não o é, pois a sua determinação possui subjetividade, já que
requer o exercício do julgamento. Julgamento científico, mas, ainda assim,
julgamento.
A ansiedade alerta a pessoa e a faz agir no sentido de evitar o perigo ou
safar-se dele. Na realidade, é melhor receber alarmes falsos do que não
perceber uma situação ameaçadora. O anúncio do risco traz a ajuda de
terceiros. Gerentes se beneficiam da colaboração adicional. Por essa razão,
muitos provocam o medo para tentar reações mais efetivas e tomar
decisões mais radicais, que seriam difíceis se todos não fossem
conscientizados da ameaça iminente. Exageros ajudam a mobilizar
pessoas, mas conduzem a uma percepção mais generalizada do risco e,
portanto, a mais medo e ansiedade.
No entanto, quando se induz ao medo, também se desloca a atenção das
pessoas de recursos importantes para ações baseadas em ilusões pré-
fabricadas. Possivelmente, esses recursos se destinariam melhor a outros
projetos da própria organização.
Quanto maior a percepção de risco, maior a predisposição para a ação
cautelosa. Se no futuro há imprevisibilidades, não se conhecem, na
verdade, os resultados das decisões presentes. Ademais, por serem
obrigados a antecipar, a prever e a agir para o futuro, os dirigentes jamais
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