4. Memórias Póstumas de Brás Cubas–
Machado de Assis
• desenvolvido em princípio como folhetim de março a
dezembro de 1880, na Revista Brasileira, para, no ano
seguinte, ser publicado como livro pela então Tipografia
nacional.
• O livro marca um tom cáustico e novo estilo de Machado,
bem como audácia e inovação temática no cenário literário
nacional, que o fez receber, à época, resenhas estranhadas.
• Confessando adotar a "forma livre“ com Memórias
Póstumas, rompe com a narração linear e objetivista de
autores proeminentes da época como Flaubert e Zola para
retratar o Rio de Janeiro e sua época em geral
com pessimismo e ironia e indiferença — um dos fatores que
fizeram com que fosse amplamente considerada a obra que
iniciou o Realismo no Brasil.
5. Características:
• Narrado em 1ª pessoa, seu autor é Brás Cubas, um "defunto-
autor", isto é, um homem que já morreu e que deseja
escrever a sua autobiografia.
• Nascido numa típica família da elite carioca do século XIX, do
túmulo o morto escreve suas memórias póstumas
começando com uma "Dedicatória": Ao verme que primeiro
roeu as frias carnes do meu cadáver dedico com saudosa
lembrança estas memórias póstumas.
• Seguido da dedicatória, no outro capítulo, "Ao Leitor", o
próprio narrador explica o estilo de seu livro, enquanto o
próximo, "Óbito do Autor", começa realmente com a
narrativa, explicando seus funerais e em seguida a causa
mortis, uma pneumonia contraída enquanto inventava o
“emplasto Brás Cubas", panacéia medicamentosa que foi
sua última obsessão e que lhe "garantiria a glória entre os
homens".
7. Autobiografia
• (do Grego, αὐτός-autos eu + βίος-bios vida + γράφειν-
graphein escrita)
• Um gênero literário em que uma pessoa narra história da sua
vida, trata-se de uma biografia escrita ou narrada pela pessoa
biografada.
• consiste na narração da experiência vivencial do indivíduo , levada a
cabo por ele próprio ou escrita com a ajuda de outro escritor.
• A autobiografia pode ter diferentes formatos, tais como:
o diário, as memórias, dentre outros, podendo ainda ser literal ou
contar com elementos ficcionais.
• É no início da Idade Média que surge o primeiro grande modelo de
obra autobiográfica, as Confessiones (Confissões) de Santo
Agostinho (século IV)
• autobiografias parciais: uma de índole filosófica do imperador e
pensador estóico Marco Aurélio; outras, de tendência política, Júlio
Cesar.
8. A grande ironia de Machado
• O que Brás Cubas fez que mereça uma
memória ?
• Quem foi Brás Cubas?
• Qual a credibilidade de um defunto-
autor em um período marcado pelo
cientificismo?
9. Aqui jaz Brás Cubas ...
o homem que
não teve filhos; não transmitiu
a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.
Não inventou o emplastro,
não viveu um grande amor,
não fez nada de heroico.
10. Os críticos sociológicos também
acreditam que o fato do protagonista
ser morto o faz narrar sua vida com
"total isenção" e inteiramente
"desvinculado de qualquer relação
com a sociedade" e, neste
descomprometimento propiciado pela
morte, possui o poder de
dizer, falar, zombar e criticar quem e o
que quiser
11. • Parte do impacto produzido pelo romance
machadiano se traduz na sensação de
• desnorteamento freqüentemente manifestada
pelos críticos: “a nossa impressão final é a seguinte:
A obra do Sr. Machado de Assis é deficiente, senão
falsa, no fundo, porque não enfrenta com o
verdadeiro problema que se propôs a resolver e só
filosofou sobre caracteres de uma vulgaridade
perfeita; é deficiente na forma, porque não há
nitidez, não há desenho, mas bosquejos, não há
colorido, mas pinceladas ao acaso.”
12. Características machadianas
• Machado apresenta característica própria uma vez
que não descreve situações romanescas comuns
casamentos, amos e a tensão bem x mal, herói x —
as personagens eram movidas por interesse na
obtenção de “status", na ascensão social através do
casamento:
• como quando o pai de Brás quer que ele se case
com Virgília, filha do Conselheiro Dutra, político
proeminente.
• Não há final feliz
• Não há um romance
13. Características machadianas
• E mesmo assim, Machado não compactua com o
esquematismo determinista dos realistas, nem procura
causas muito explícitas ou claras para a explicação das
personagens e situações
• Faz sátiras das próprias correntes filosóficas: a criação
do personagem “Quincas Borbas” um filósofo que
apresenta teorias malucas que todos levam em
consideração.
• “Ao vencedor as batatas”
• Quando como por exemplo Brás Cubas escreve: a
sabedoria humana não vale um par de botas curtas [...]
Tu, minha Eugênia, é que não as descalçaste nunca
• alusão à personagem que era coxa de nascença, num
célebre exemplo de humor negro.
14. Características machadianas
• mostra a visão objetiva e pessimista da vida, do mundo e das pessoas (abolição
do final feliz).
• análise psicológica das contradições humanas na criação de personagens
imprevisíveis, jogando com insinuações em que se misturam a ingenuidade e
malícia, sinceridade e hipocrisia.
Crítica humorada e irônica das situações humanas, das relações entre os
personagens e seus padrões de comportamento.
• Linguagem sóbria que, entretanto, não despreza os detalhes necessários a uma
análise profunda da psicologia humana.
Envolvimento do leitor pela oralidade da linguagem. A historia é repleta de
"conversas" que o narrador estabelece freqüentemente com o leitor,
transformando-o em cúmplice e participante do enredo (metalinguagem).
• Citação de um autores e intertextualidades com outros textos (como por exemplo
citações bíblicas) ;
• Reflexão sobre a mesquinhez humana e a precariedade da sorte humana.
• Os aspectos externos (tempo cronológico, espaço, paisagem) são apenas pontos
de referência, sem merecerem maior destaque.
16. • A ironia é um dos traços mais marcantes da obra de Machado de Assis e aparece
ainda mais acentuada nos chamados romances da maturidade.
• Pode ser entendida como mais um recurso para combater as verdades
absolutas, das quais desacreditava por princípio. A construção irônica prevê
sempre outros sentidos para o que é dito.
Machado de Assis utiliza-se da ironia como um recurso para fazer o leitor
desconfiar das declarações, pensamentos e conclusões do narrador Brás Cubas.
Ao comentar, no primeiro capítulo, sobre o amigo que lhe presenteia com um
empolado discurso fúnebre, o narrador agradece as palavras ditas em tom de
comoção exagerada com uma frase certeira:
• “Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei".
• A digressão é outro elemento importante da linguagem machadiana. Consiste na
interrupção do fluxo narrativo, que envereda por assuntos desvinculados do tema
inicial, mas mantendo com ele alguma analogia criada pela mente de quem
conta.
• Essa analogia, com algum esforço, pode ser percebida pelo leitor, desde que ele se
mantenha atento.
O leitor de Machado é constantemente solicitado a interagir criticamente com a
obra, distanciando-se ainda mais do modelo de leitura proposto pelos romances
românticos, que mobilizam a emoção e a imaginação.
É o que acontece, por exemplo, na parte inicial do romance, quando Brás Cubas
deixa em suspenso por vários capítulos a explicação para sua morte, que
prometera desde o início, para passear descomprometidamente por assuntos tão
díspares quanto as pirâmides do Egito e a sua árvore genealógica. Quando volta a
falar da causa mortis, é para comentar, com ironia "...acabemos de uma vez com o
nosso emplasto”. Como se já tivesse explicado antes do que se tratava!
17. Contexto histórico da obra
• Memórias Póstumas de Brás Cubas retrata a escravidão, a divisão
das classes sociais no Rio de Janeiro: proletariado e
trabalhadores
• correntes cientificistas:o evolucionismo de Darwin, o positivismo
de Comte,A patologia Humana de Taine , o Determinismo.
• A classe de trabalhadores : Em 1850 foi criada a Lei Eusébio de
Queirós, abolindo o tráfico de escravos no Brasil. Com isso, os
produtores de café, principalmente, contratavam mão-de-obra
assalariada
• O final do período colonial - século XIX
• O funcionalismo público
• Mesmo com a economia crescendo, o Brasil continuava
dependente da Inglaterra.
• A população brasileira passa dificuldades. A riqueza se concentra
nas mãos de poucos.
• Em 1870, o governo brasileiro adotou medidas para incentivar a
imigração européia. Começa a chegada dos primeiros italianos
para os cafezais de São Paulo.
18. Contexto histórico da obra
• Forma biográfica com digressões e episódios
cariocas, que apresenta a ausência do trabalho e
de projeto consistente, denunciando os privilégios
de classe,
• Brás Cubas – cargo, posição superior sem esforço.
Demonstra a “desobrigatoriedade” da classe
dominante com os dominados, dá a ela condição de
total irresponsabilidade.
25. A obra- um resumo
• Na abertura do livro, uma dedicatória escrita sob a forma de um epitáfio anuncia
o narrador desse romance inusitado:
• Brás Cubas, um defunto-autor que começa contando detalhes do seu funeral.
Depois de algumas digressões, ele retoma a ordem cronológica dos
acontecimentos:
• relatando a infância e a primeira paixão da adolescência, aos 17 anos, pela
cortesã Marcela. Presenteia tanto a amada que o pai, irritado com o gasto
excessivo, manda-o estudar Direito em Coimbra, Portugal.
Assim como foi, também volta a chamado do pai porque a mãe está à morte.
Namora então Eugênia, a filha de uma amiga pobre da família, enquanto o pai
procura arranjar um casamento de interesse com Virgília, a filha de um político, o
Conselheiro Dutra. Ela, no entanto, casa-se com um político, Lobo Neves, e
posteriormente se torna amante de Brás, mantendo com ele encontros na casa
habitada por dona Plácida. Antes de o caso começar, morre o pai de Brás. Começa
então um litígio entre ele e a irmã Sabina pela herança.
Em meio a tudo isso, o protagonista Brás reencontra Quincas Borba, amigo dos
tempos de escola, que lhe apresenta uma doutrina filosófica que criara, o
Humanitismo. Virgília parte para o Norte, acompanhando o marido, nomeado
presidente de província. Brás namora então a sobrinha do cunhado Cotrim, mas a
garota morre aos 19 anos.
26. A obra- um resumo
• Ele, que já se tornara deputado, fracassa na tentativa de virar ministro de
Estado. Frustrado, funda um jornal de oposição. Percebe, então, que
Quincas Borba está enlouquecendo progressivamente.
• Procurado por Virgília, já idosa, Brás ampara dona Plácida, que morre
pouco depois.
• . É um período cheio de perdas e decepções: morrem Marcela, o louco
Quincas Borba, Lobo Neves e Eugênia aparece em um cortiço
• Ao tentar inventar um emplasto que lhe daria a fama tão desejada, Brás
Cubas adoece e recebe a visita da ex-amante Virgília e do filho dela.
• Morre depois de um delírio, aos 64 anos.
• Decide, então, contar sua vida em detalhes, mas, pouco sistemático que é,
e ainda excitado pela experiência da morte, sua narrativa segue a lógica do
pensamento.
O caráter inovador de Memórias Póstumas de Brás Cubas não está na
história propriamente dita ou na seqüência cronológica dos fatos.
• A melhor chave para compreender a obra são as reflexões do personagem,
como elas se encadeiam e se misturam aos eventos que ele vive.
27. PERSONAGENS COMPLEMENTARES
• Os personagens criados por Machado de Assis entram e saem
de cena conforme os pensamentos de Brás Cubas.
• Entre eles, quem merece maior destaque é Quincas
Borba, que, mais tarde, será o personagem-título de outro
romance do autor.
• Ele influencia profundamente o narrador com a sua teoria do
Humanitismo. Os dois conheceram-se no colégio e reencontram-se
muitos anos depois. Quincas é um mendigo que vai
enlouquecendo progressivamente.
• Ao morrer, está completamente fora de si. Seu Humanitismo
prega que tudo o que acontece na vida faz parte de um quadro
maior de preservação da essência humana.
• A ironia é uma das marcas da obra de Machado de Assis. Nesta
obra isso fica claro quando o autor faz com que uma doutrina de
valorização da vida seja defendida justamente por um mendigo
que morre completamente louco.
28. PERSONAGENS COMPLEMENTARES
•
Brás Cubas – filho abastado da família Cubas, é o narrador do livro; conta suas
memórias, escritas após a morte, e nessa condição é o responsável pela caracterização de
todos os demais personagens.
VIRGÍLIA – grande amor de Brás Cubas, sobrinha de ministro, e a quem o pai do protagonista
via como grande possibilidade de acesso, para o filho, ao mundo da política nacional.
MARCELA – amor da adolescência de Brás.
EUGÊNIA – a “flor da moita”, nas palavras de Brás, já que era filha de um casal que ele havia
flagrado, quando criança, namorando atrás de uma moita; o protagonista se interessa por
ela, mas não se dispõe a levar adiante um romance, porque a garota era coxa.
NHÃ LO LÓ – última possibilidade de casamento para Brás Cubas, moça simples, que morre
de febre amarela aos 19 anos.
LOBO NEVES – casa-se com Virgília e tem carreira política sólida, mas sofre o adultério da
esposa com o protagonista.
QUINCAS BORBA – teórico do humanitismo, doutrina à qual Brás Cubas adere, morre
demente.
DONA PLÁCIDA – representante da classe média, tem uma vida de muito trabalho e
sofrimento.
PRUDÊNCIO – escravo da infância de Brás Cubas, ganha depois sua alforria.