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Magnetismo terrestre   -1-                     Regina Gouveia
                             Regina Gouveia




                        Magnetismo Terrestre
Tudo me prende à terra onde me dei:
O rio subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas esquinas,
as areias onde ardi impaciente
….
Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria
mas eu sou destas casas, destas ruas,
deste amor a escorrer melancolia


Eugénio de Andrade, “Canção Breve”




      2
Prefácio


A beleza das coisas só pode ser fruída por um espírito sensível e o artista, ao exprimir na obra a
estesia que alguma vez experimentou, inescapavelmente deixa nela as marcas da sua
idiossincrasia e das suas vivências. O título desta colectânea de poemas repassados de saudades
de um tempo e de um lugar (que afinal é um universo) é a transposição alegórica de uma temática
científica da área da Física, o que não surpreende porque a autora, docente de Física e Química
pode, com a maior naturalidade, emoldurar o seu estro em referentes científicos ainda que
metafóricos, como é o caso presente e foi também o caso das obras anteriores Reflexões e
Interferências e Poeira Cósmica.
A vertente poética que a autora manifesta e cultiva com mestria mostra, por um lado, que a
formação científica e a actividade profissional, ainda que empenhada (como é o caso) não
satisfazem cabalmente os anseios de uma alma sensível que busca a completude. Por isso, que a
prática da arte seja um complemento cabonde do frio racionalismo que enforma e estrutura a
ciência. A autora reconhece-o quando diz “ É difícil de explicar pois não há explicação que assente
só na razão “ (poema Sensações, nesta obra). Os poetas são seres sensíveis que, consonantes com
a Natureza, vêm e exprimem o que a razão não alcança. A mente do artista pode atribuir às
coisas características que a pessoa dita normal não vislumbra.” A paisagem é um estado de alma
“, Fernando Pessoa dixit.
Os vinte e sete poemas que a autora nos oferece estão impregnados da recordação saudosa das
coisas e dos seres dos lugares onde decorreu a sua meninice, infância e adolescência (o Universo
da autora) recordação que se aviva a cada visita ao seu rincão sito no Nordeste Transmontano. O
que está plasmado nos versos que nos deixa é a transfiguração pelo poeta que a autora é, do
sentimento induzido por esse pequeno / grande mundo para ela de tão gratas memórias.
A formação científica da autora    transparece, como em António Gedeão, na obra poética. Assim,
às vezes, notas de cariz científico surgem integrados no discurso poético sem quebras de ritmo
nem significância, antes pelo contrário, como é, por exemplo o caso do final do poema Ilusão “ No
ocaso, o sol vermelho já se esconde, porém, já lá não está, é ilusão. Ainda o vemos devido à
refracção.” Outras vezes (poema Big Bang) noções científicas      como a do Big Bang, ligado à
expansão do Universo são contrapostas à vivência da autora, cujo Universo, clama, se contrai no
tempo.
Dos vinte e sete poemas cinco não são inéditos, respigados que foram do primeiro livro publicado
pela autora - Reflexões e Interferências. Foram aqui incluídos por se referirem à temática
nordestina, foco polarizador da inspiração dos poemas agora dados à estampa. Muitos dos poemas
destilam nostalgia de um tempo que passou mas que deixou marcas indeléveis, agora
transfiguradas em poesia      induzida pela revivência desse passado. No poema que tem
expressamente essa designação - Nostalgia - é dada conta do desaparecimento de práticas
ancestrais ligadas à economia de subsistência das populações nordestinas (cultura da oliveira e da
amendoeira, emblema da região agora substituído pela cerejeira, também objecto de um poema).
Curiosa a terminologia ligada a essas práticas como alpechim e infernos.
Sem curar de fazer uma recensão completa da obra, no conjunto de grande nível e valor artístico –
tarefa que competirá a quem for da arte da crítica literária - apraz-me salientar dois exemplos
paradigmáticos: No poema Sensações a autora poetiza “o cheiro da sua casa da aldeia”, o que
recorda Régio quando refere em uma das suas obras “ os bons e maus cheiros” de uma velha casa.
                                                 3
No poema Entropia a degradação da matéria viva (medronhos apodrecendo no chão) é usada
como ilustração do 2º Princípio da Termodinâmica.
Já outros autores com formação científica de base poetaram glosando, por exemplo, temas de
Física (Niels Bohr) e / ou de Química (António Gedeão / Rómulo de Carvalho). Mas no caso da
presente autora a poesia, ainda que insira aspectos da sua cultura científica encadeados no
discurso poético, o lirismo dos temas e a forma como são tratados denunciam uma sensibilidade
que só pode ser feminina.
A presente obra, pela diversidade dos tópicos que percorre, todos ligados à vivência da autora na
terra das suas raízes ficará, sem dúvida, como um belo retrato poético do Nordeste Transmontano.


José Ferreira da Silva1




1
    Professor Catedrático jubilado do Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
                                                        4
Raízes
As minhas raízes estão em íngremes ladeiras, em terras de xisto,
onde crescem amendoeiras, carrascos, sobreiros, oliveiras,
e onde o sentir é outro, mais profundo.
Como que em busca da certeza de que existo,
gosto de vaguear pelas ladeiras, sentindo rumorejar o rio ao fundo.


Outrora
Outrora, seriam por certo diferentes
o achatamento polar, o campo magnético, a atracção lunar
e, como tal, o peso das coisas, as marés.
Diferença subtil, irrelevante,
pois se esse tempo, à escala humana é já distante,
à escala do Universo ainda é presente.
Outrora, seriam por certo diferentes as gentes que no castro habitavam
mas como hoje, sofriam, amavam e guerreavam em sangrentas batalhas,
deixando virgens, talvez para sempre, tímidas donzelas.
Testemunhas desse tempo, as muralhas,
naturais do lado do abismo, do outro lado humana construção,
como também humana a destruição que de onde em onde grassa.
Ignorou-se que enquanto o tempo passa,
as pedras guardam na memória os feitos da história,
o sangue derramado, a glória, o revés.
Em terras que com sangue foram adubadas,
florescem hoje papoilas encarnadas
por entre alvas estevas, roxas arçãs e giestas amarelas.
Na Primavera, todas elas salpicam a ladeira do castro até ao rio.
Deste, quem sabe, o rumor será ainda eco dum clamor,
outrora lançado no vazio.


Tempos agrestes
Eram tempos agrestes
quando da azeitona ou da amêndoa, a apanha.
Era o vento cieiro que vinha de Espanha
uma brisa seca, cortante, gelada
que gretava a pele já de si curtida,
era a soalheira que encardia o rosto no ateado Agosto
Eram tempos agrestes
de fugas para França e de passadores
de silêncios pesados, de densos suores
que iam desgastando dia a dia a vida
qual roupa delida já de tanto usada.
Eram tempos agrestes


                                                 5
grávidos de sol, de frio e de nada.


Ocaso
Em Fevereiro, o dia quase exangue, era azul claro e rosa a cor do céu.
Depois escureceu; tornou-se cor de chumbo e cor de sangue.
Talvez anjos brincando na imensidão etérea
ou, simplesmente, a interacção da luz com a matéria.
O sol vai imergindo por detrás do monte e no horizonte
destaca-se a silhueta de um sobreiro. Difusa, voa rasante uma cotovia
e é então que, no céu, Vénus se anuncia.


Caminhada
Flores tímidas, selvagens, atapetam o chão.
Coberta de líquenes e musgo, a fraga, ao fundo,
onde frágil se equilibra uma oliveira
que espreita a queda de água que escorre na ladeira
onde agoniza um pombal, já sem função.
Um balir de rebanho rompe o ar dolente
e uma avezita, que emerge de um sobreiro,
toma por seu mundo o céu inteiro.
Medito enquanto calcorreio o caminho lentamente.
Quanta transformação química ocorrida
para transformar húmus em vida?
Quanta energia transformada?
Quanto neutrino atravessando o nada?


Moinho
Entre calhaus e areias, grossas, finas,
virgens porque há muito não pisadas,
e mescladas de vegetação rasteira,
resistem ao tempo, no fundo da ladeira
umas ruínas de um açude, um canal e um moinho,
cuja cobertura se perdeu como todos os anos se perdia
quando o rio, nas enchentes, lúbrico crescia.
Ainda hoje o rio umas vezes adormece outras galopa na viagem.
Do moinho que agoniza junto à margem
resta, corroída, uma mó que em tempos transformava grão em pó.
Restam também vestígios de uma antiga construção
e, numa fraga, escavada uma pequena cova, talvez a gamela de um cão.
Quiçá um perdigueiro, companhia de caça do moleiro.


Crepúsculo
Plana o falcão sobre a ravina.
O sol declina e todo um mistério invade o ar.
Num eco etéreo, há um rumor que se aproxima.
Talvez o vento cujo lamento cruza a neblina
                                                  6
que esconde o dia e abraça a noite que se anuncia
numa acalmia, numa doçura crepuscular.
Porém, na Terra, algures há guerra, bombas, granadas a deflagrar.


Barca
Entardece. Ainda uns raios de sol, já desmaiados
que se reflectem nos calhaus rolados que o rio afaga.
No ar, um silêncio que apenas o rumor do rio apaga,
rumor, ou talvez prece ao Senhor da Barca, ali ao lado.
Já não existe mais a barca que outrora foi real
mas na margem do rio, enferrujado,
testemunha de um tempo intemporal,
jaz moribundo um pedaço do cabo
que, a cada viagem, guiava a barca de uma à outra margem.


Big-Bang
Na minha infância, o Universo estendia-se do Castelo até às Eiras,
envolvendo a Praça e o Cabecinho onde ficava a minha escola.
Á volta eram ladeiras que velavam o sono do rio lá no fundo
Era assim o meu mundo que para mim, era maior que o infinito
e que em cinco linhas aqui ficou descrito,
contrariando assim, à evidência, uma das conjecturas da ciência.
Desde o seu Big-Bang o meu Universo contrai-se, não se expande.


Teia
Com as recordações da minha infância fui tecendo, dia a dia, enredada teia.
O cheiro do azeite no lagar e no Outono a fermentar o mosto,
o céu estrelado, o luar de Agosto, as cores da Primavera e as do Outono,
o vermelho das papoilas, dos medronhos, o branco das flores de amendoeira,
o sabor das amoras de silva ou de amoreira, as histórias contadas à lareira o som da chuva , da
neve, do granizo, na escacha da amêndoa, o som do riso,
o rumorejar do rio no fundo da ladeira, o piar da coruja, o bramir do vento,
são imagens que preenchem os meus sonhos
e assim invadem o meu pensamento, enredando-o na emaranhada teia
que até hoje a minha vida prende
por um fio, que tanto se contrai como distende.


Ponte
Sempre em concordância com o traçado,
desventraram a ladeira de um e outro lado.
O rio, no fundo, parece alheado,
correndo ligeiro ou sonhando parado.
Sobre ele crescem, da ponte, pilares e tabuleiro.
Este, apoiado só no meio, cresce dia a dia
para um e outro lado, sempre em simetria.
As leis da física assim o determinam.
                                                    7
Pesos, momentos, reacções, tensões,
tudo se conjuga em equações
que os operários jamais imaginam.
Em busca da terra prometida
vêm daquém, dalém, vêm de Leste,
vêm de África, têm vida agreste,
chegam a pagar o sonho com a vida.
E o Sabor, em eterno devaneio,
beija a ladeira a tudo o mais alheio.


Flores de amendoeira

As flores de amendoeira, antes da Primavera,
cobrem a ladeira como um branco véu
ou como vestes de anjo que se esfumou no céu.
Impressa no código genético a química magia
da ebúrnea cor que recende a nostalgia


Casas de Xisto

Casas de xisto com, sem escaleiras,
traves de zimbro nas padieiras,
balcões, sacadas, toscas ombreiras,
foram com o tempo, há muito tempo…
Ficaram histórias entre as memórias que traz o vento
que chora, chora e no seu pranto
lembra o encanto das casas de outrora.


Estevas
Pegajosas as estevas, quando florescem,
ostentam flores majestosas de fino odor.
Porém as flores fenecem.
Resta uma além, murcha, esquecida.
Pobre flor! Uma das pétalas já não tem vida
mas, mesmo assim, desfalecida, mantém o odor.


Divagação
Com o olhar perdido entre rio e céu,
tendo por horizonte o infinito, divaga o meu eu, angustiado, aflito.
Se este rio fosse meu, não permitiria que algo o poluísse
e talvez um dia com ele me fundisse
num apertado e sempiterno abraço
quando a vida nada mais fosse que cansaço


Andorinhas
Sentada no terraço,
vejo as andorinhas entrar e sair dos ninhos na casa do vizinho.

                                                  8
O vizinho morreu e a casa está abandonada,
mas as andorinhas, de luto, como é sempre o seu vestir,
talvez pelo vizinho, os que o antecederam e os que ainda hão-de vir,
continuam a voltear em torno dos ninhos na casa agora abandonada
do vizinho que morreu.
Sempre me lembro das andorinhas no beiral da casa do vizinho.
Sei que as de agora não são as mesmas que as de outrora
mas talvez de geração em geração, tal como passa o sentido de orientação,
tenha passado a informação
da minha existência no terraço em frente à casa do vizinho
desde quando o meu pai me dizia poesia que falava da sua migração.
Orientadas pelo campo magnético terrestre, pelo sol, pelas estrelas
ou simplesmente navegando à vista, aí vão elas seguindo uma pista
que as trará de volta novamente, quando se iniciar o tempo quente
Só que um dia já não haverá casa do vizinho,
nem eu estarei no terraço a recebê-las.


Cores outonais
O muro de xisto é já uma ruína mas a vinha, velha e tão cansada,
exibe de novo os seus tons outonais.
Numa subtil gradação de frequências a folhagem é agora amarelada, acobreada, cor de vinho,
acastanhada.
Ostentam cores outonais também, mais além, a pereira e o marmeleiro.
Enquanto transferências de electrões desencadeiam oxidações e reduções,
carotenos e antocianinas conjugam-se em paisagens quase surreais.
Sentada numa fraga, ao lado de um sobreiro,
quero perpetuar estes instantes, transformar em eterno este momento,
mas o agora de há pouco, já é antes, nesta implacável corrida do tempo.


Prodígio

Prodigiosa aquela cerejeira com seus frutos.
Sensual, rubro o epicarpo,
carnudo, nacarado o mesocarpo
da pudica semente protecção.
Tal como se fora a vez primeira
saboreio uma cereja calmamente
num misto de volúpia e devoção.


Lição
Constava no compêndio que eu tinha que estudar
que o azeite, no essencial, é um misto de oleína e palmitina
de diferente densidade e ponto de fusão
Falava ainda o meu compêndio em decantação, ponto de inflamação,
porém, ainda antes do compêndio, era bem pequenina e já sabia
que os negros frutos de todo o olival iriam ser esmagados no lagar
                                                 9
para das entranhas o azeite retirar
junto com o alpechim do qual se iria separar
Amargo e negro, o alpechim, iria ser lançado nos infernos 2.
Também antes do compêndio já sabia que em candeias o azeite iria alumiar
e que em gélidos Invernos iria talhar, em duas camadas se iria separar,
a inferior, pastosa, esbranquiçada, a superior , viscosa, amarelada.
Mas quando criança, também me apercebia que o tão dourado azeite,
à mesa sempre usado com deleite, na malga do pobre não ia ter lugar,
quando muito o azeite das sobras de fritar.
Só que isso não constava no compêndio.


Nostalgia
Quando passo num amendoal, após o verão,
sinto um misto de nostalgia e emoção
ao ver a amêndoa abandonada nas árvores e no chão.
Outrora significou      prosperidade e eram guardados os amendoais
para garantir que os rebusqueiros não rebuscavam demais,
que rebuscavam só no chão, à claridade, só de dia e não ao lusco-fusco.
Hoje, já ninguém anda ao rebusco.
No Verão, sob um sol abrasador, era a apanha.
Hoje fica nas árvores e cai na terra que a arrebanha e com ela se funde; confundem-se os seus
tons. Da escacha já há muito não se ouvem sons.
Os escachadores ora em uníssono, ora desfasados, habilmente manejados
com gestos secos, certeiros e breves por mulheres, crianças, raparigas,
que enchiam o ar de risos e cantigas, iam partindo a amêndoa,
sempre cadenciados, deixando o grão intacto ou com mazelas leves,
enquanto das cascas, o monte crescia no chão.
Mais tarde, a par da lenha,       na lareira, iriam servir para combustão.
O grão ia para sacos de serapilheira. Mais tarde era vendido
e o seu destino era assim perdido. Aquele que ficava imperfeito, esbotenado, iria ser, mais tarde,
laminado, misturado com ovos e açúcar, nos rochedos cujas receitas eram envoltas em segredos
e cuja doçura ocultava a agrura
de tanta fadiga e de tanto suor.
Eram a lavra, a limpa, a enxertia, ano após ano um ritual que se cumpria
e quando floriam as amendoeiras, o lavrador contemplava
do cimo das ladeiras aqueles véus de noiva a perder de vista,
não com o olhar breve de um turista,
mas com um profundo olhar, cheio de amor.


Stacatto
Ali onde o silêncio impera e onde o infinito faz sentido,
numa fraga, junto ao rio, foi esculpido algo que pode ser uma mensagem,
uma data, talvez de uma viagem, um nome, quiçá o de um romeiro,
que envolto num denso nevoeiro, surgiu num dealbar de primavera.
2
    reservatórios para recolha do alpechim
                                                     10
Entropia
Desde o átomo à célula, toda uma evolução
que desafia os mais ousados sonhos.
E assim, no mato denso de carrascos,
salpicando de cor os dias baços
e dando aos espaços um ar de fantasia,
irrompem sensuais e rubros os medronhos.
Alguns logo ali se degradam, ao cair no chão.
Eis o sentido da evolução.
Chamou-se-lhe entropia.3




3
  Para além destes 22 poemas e, por também terem a ver com o nordeste transmontano, serão incluídos no
livro 5 poemas de Reflexões e Interferências. São eles: Ilusão, Hipocrisia, Castro, Flores, Sensações
                                                        11

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Magnetismo terrestre: saudades de um tempo e lugar

  • 1. Magnetismo terrestre -1- Regina Gouveia Regina Gouveia Magnetismo Terrestre
  • 2. Tudo me prende à terra onde me dei: O rio subitamente adolescente, a luz tropeçando nas esquinas, as areias onde ardi impaciente …. Dizem que há outros céus e outras luas e outros olhos densos de alegria mas eu sou destas casas, destas ruas, deste amor a escorrer melancolia Eugénio de Andrade, “Canção Breve” 2
  • 3. Prefácio A beleza das coisas só pode ser fruída por um espírito sensível e o artista, ao exprimir na obra a estesia que alguma vez experimentou, inescapavelmente deixa nela as marcas da sua idiossincrasia e das suas vivências. O título desta colectânea de poemas repassados de saudades de um tempo e de um lugar (que afinal é um universo) é a transposição alegórica de uma temática científica da área da Física, o que não surpreende porque a autora, docente de Física e Química pode, com a maior naturalidade, emoldurar o seu estro em referentes científicos ainda que metafóricos, como é o caso presente e foi também o caso das obras anteriores Reflexões e Interferências e Poeira Cósmica. A vertente poética que a autora manifesta e cultiva com mestria mostra, por um lado, que a formação científica e a actividade profissional, ainda que empenhada (como é o caso) não satisfazem cabalmente os anseios de uma alma sensível que busca a completude. Por isso, que a prática da arte seja um complemento cabonde do frio racionalismo que enforma e estrutura a ciência. A autora reconhece-o quando diz “ É difícil de explicar pois não há explicação que assente só na razão “ (poema Sensações, nesta obra). Os poetas são seres sensíveis que, consonantes com a Natureza, vêm e exprimem o que a razão não alcança. A mente do artista pode atribuir às coisas características que a pessoa dita normal não vislumbra.” A paisagem é um estado de alma “, Fernando Pessoa dixit. Os vinte e sete poemas que a autora nos oferece estão impregnados da recordação saudosa das coisas e dos seres dos lugares onde decorreu a sua meninice, infância e adolescência (o Universo da autora) recordação que se aviva a cada visita ao seu rincão sito no Nordeste Transmontano. O que está plasmado nos versos que nos deixa é a transfiguração pelo poeta que a autora é, do sentimento induzido por esse pequeno / grande mundo para ela de tão gratas memórias. A formação científica da autora transparece, como em António Gedeão, na obra poética. Assim, às vezes, notas de cariz científico surgem integrados no discurso poético sem quebras de ritmo nem significância, antes pelo contrário, como é, por exemplo o caso do final do poema Ilusão “ No ocaso, o sol vermelho já se esconde, porém, já lá não está, é ilusão. Ainda o vemos devido à refracção.” Outras vezes (poema Big Bang) noções científicas como a do Big Bang, ligado à expansão do Universo são contrapostas à vivência da autora, cujo Universo, clama, se contrai no tempo. Dos vinte e sete poemas cinco não são inéditos, respigados que foram do primeiro livro publicado pela autora - Reflexões e Interferências. Foram aqui incluídos por se referirem à temática nordestina, foco polarizador da inspiração dos poemas agora dados à estampa. Muitos dos poemas destilam nostalgia de um tempo que passou mas que deixou marcas indeléveis, agora transfiguradas em poesia induzida pela revivência desse passado. No poema que tem expressamente essa designação - Nostalgia - é dada conta do desaparecimento de práticas ancestrais ligadas à economia de subsistência das populações nordestinas (cultura da oliveira e da amendoeira, emblema da região agora substituído pela cerejeira, também objecto de um poema). Curiosa a terminologia ligada a essas práticas como alpechim e infernos. Sem curar de fazer uma recensão completa da obra, no conjunto de grande nível e valor artístico – tarefa que competirá a quem for da arte da crítica literária - apraz-me salientar dois exemplos paradigmáticos: No poema Sensações a autora poetiza “o cheiro da sua casa da aldeia”, o que recorda Régio quando refere em uma das suas obras “ os bons e maus cheiros” de uma velha casa. 3
  • 4. No poema Entropia a degradação da matéria viva (medronhos apodrecendo no chão) é usada como ilustração do 2º Princípio da Termodinâmica. Já outros autores com formação científica de base poetaram glosando, por exemplo, temas de Física (Niels Bohr) e / ou de Química (António Gedeão / Rómulo de Carvalho). Mas no caso da presente autora a poesia, ainda que insira aspectos da sua cultura científica encadeados no discurso poético, o lirismo dos temas e a forma como são tratados denunciam uma sensibilidade que só pode ser feminina. A presente obra, pela diversidade dos tópicos que percorre, todos ligados à vivência da autora na terra das suas raízes ficará, sem dúvida, como um belo retrato poético do Nordeste Transmontano. José Ferreira da Silva1 1 Professor Catedrático jubilado do Departamento de Física da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. 4
  • 5. Raízes As minhas raízes estão em íngremes ladeiras, em terras de xisto, onde crescem amendoeiras, carrascos, sobreiros, oliveiras, e onde o sentir é outro, mais profundo. Como que em busca da certeza de que existo, gosto de vaguear pelas ladeiras, sentindo rumorejar o rio ao fundo. Outrora Outrora, seriam por certo diferentes o achatamento polar, o campo magnético, a atracção lunar e, como tal, o peso das coisas, as marés. Diferença subtil, irrelevante, pois se esse tempo, à escala humana é já distante, à escala do Universo ainda é presente. Outrora, seriam por certo diferentes as gentes que no castro habitavam mas como hoje, sofriam, amavam e guerreavam em sangrentas batalhas, deixando virgens, talvez para sempre, tímidas donzelas. Testemunhas desse tempo, as muralhas, naturais do lado do abismo, do outro lado humana construção, como também humana a destruição que de onde em onde grassa. Ignorou-se que enquanto o tempo passa, as pedras guardam na memória os feitos da história, o sangue derramado, a glória, o revés. Em terras que com sangue foram adubadas, florescem hoje papoilas encarnadas por entre alvas estevas, roxas arçãs e giestas amarelas. Na Primavera, todas elas salpicam a ladeira do castro até ao rio. Deste, quem sabe, o rumor será ainda eco dum clamor, outrora lançado no vazio. Tempos agrestes Eram tempos agrestes quando da azeitona ou da amêndoa, a apanha. Era o vento cieiro que vinha de Espanha uma brisa seca, cortante, gelada que gretava a pele já de si curtida, era a soalheira que encardia o rosto no ateado Agosto Eram tempos agrestes de fugas para França e de passadores de silêncios pesados, de densos suores que iam desgastando dia a dia a vida qual roupa delida já de tanto usada. Eram tempos agrestes 5
  • 6. grávidos de sol, de frio e de nada. Ocaso Em Fevereiro, o dia quase exangue, era azul claro e rosa a cor do céu. Depois escureceu; tornou-se cor de chumbo e cor de sangue. Talvez anjos brincando na imensidão etérea ou, simplesmente, a interacção da luz com a matéria. O sol vai imergindo por detrás do monte e no horizonte destaca-se a silhueta de um sobreiro. Difusa, voa rasante uma cotovia e é então que, no céu, Vénus se anuncia. Caminhada Flores tímidas, selvagens, atapetam o chão. Coberta de líquenes e musgo, a fraga, ao fundo, onde frágil se equilibra uma oliveira que espreita a queda de água que escorre na ladeira onde agoniza um pombal, já sem função. Um balir de rebanho rompe o ar dolente e uma avezita, que emerge de um sobreiro, toma por seu mundo o céu inteiro. Medito enquanto calcorreio o caminho lentamente. Quanta transformação química ocorrida para transformar húmus em vida? Quanta energia transformada? Quanto neutrino atravessando o nada? Moinho Entre calhaus e areias, grossas, finas, virgens porque há muito não pisadas, e mescladas de vegetação rasteira, resistem ao tempo, no fundo da ladeira umas ruínas de um açude, um canal e um moinho, cuja cobertura se perdeu como todos os anos se perdia quando o rio, nas enchentes, lúbrico crescia. Ainda hoje o rio umas vezes adormece outras galopa na viagem. Do moinho que agoniza junto à margem resta, corroída, uma mó que em tempos transformava grão em pó. Restam também vestígios de uma antiga construção e, numa fraga, escavada uma pequena cova, talvez a gamela de um cão. Quiçá um perdigueiro, companhia de caça do moleiro. Crepúsculo Plana o falcão sobre a ravina. O sol declina e todo um mistério invade o ar. Num eco etéreo, há um rumor que se aproxima. Talvez o vento cujo lamento cruza a neblina 6
  • 7. que esconde o dia e abraça a noite que se anuncia numa acalmia, numa doçura crepuscular. Porém, na Terra, algures há guerra, bombas, granadas a deflagrar. Barca Entardece. Ainda uns raios de sol, já desmaiados que se reflectem nos calhaus rolados que o rio afaga. No ar, um silêncio que apenas o rumor do rio apaga, rumor, ou talvez prece ao Senhor da Barca, ali ao lado. Já não existe mais a barca que outrora foi real mas na margem do rio, enferrujado, testemunha de um tempo intemporal, jaz moribundo um pedaço do cabo que, a cada viagem, guiava a barca de uma à outra margem. Big-Bang Na minha infância, o Universo estendia-se do Castelo até às Eiras, envolvendo a Praça e o Cabecinho onde ficava a minha escola. Á volta eram ladeiras que velavam o sono do rio lá no fundo Era assim o meu mundo que para mim, era maior que o infinito e que em cinco linhas aqui ficou descrito, contrariando assim, à evidência, uma das conjecturas da ciência. Desde o seu Big-Bang o meu Universo contrai-se, não se expande. Teia Com as recordações da minha infância fui tecendo, dia a dia, enredada teia. O cheiro do azeite no lagar e no Outono a fermentar o mosto, o céu estrelado, o luar de Agosto, as cores da Primavera e as do Outono, o vermelho das papoilas, dos medronhos, o branco das flores de amendoeira, o sabor das amoras de silva ou de amoreira, as histórias contadas à lareira o som da chuva , da neve, do granizo, na escacha da amêndoa, o som do riso, o rumorejar do rio no fundo da ladeira, o piar da coruja, o bramir do vento, são imagens que preenchem os meus sonhos e assim invadem o meu pensamento, enredando-o na emaranhada teia que até hoje a minha vida prende por um fio, que tanto se contrai como distende. Ponte Sempre em concordância com o traçado, desventraram a ladeira de um e outro lado. O rio, no fundo, parece alheado, correndo ligeiro ou sonhando parado. Sobre ele crescem, da ponte, pilares e tabuleiro. Este, apoiado só no meio, cresce dia a dia para um e outro lado, sempre em simetria. As leis da física assim o determinam. 7
  • 8. Pesos, momentos, reacções, tensões, tudo se conjuga em equações que os operários jamais imaginam. Em busca da terra prometida vêm daquém, dalém, vêm de Leste, vêm de África, têm vida agreste, chegam a pagar o sonho com a vida. E o Sabor, em eterno devaneio, beija a ladeira a tudo o mais alheio. Flores de amendoeira As flores de amendoeira, antes da Primavera, cobrem a ladeira como um branco véu ou como vestes de anjo que se esfumou no céu. Impressa no código genético a química magia da ebúrnea cor que recende a nostalgia Casas de Xisto Casas de xisto com, sem escaleiras, traves de zimbro nas padieiras, balcões, sacadas, toscas ombreiras, foram com o tempo, há muito tempo… Ficaram histórias entre as memórias que traz o vento que chora, chora e no seu pranto lembra o encanto das casas de outrora. Estevas Pegajosas as estevas, quando florescem, ostentam flores majestosas de fino odor. Porém as flores fenecem. Resta uma além, murcha, esquecida. Pobre flor! Uma das pétalas já não tem vida mas, mesmo assim, desfalecida, mantém o odor. Divagação Com o olhar perdido entre rio e céu, tendo por horizonte o infinito, divaga o meu eu, angustiado, aflito. Se este rio fosse meu, não permitiria que algo o poluísse e talvez um dia com ele me fundisse num apertado e sempiterno abraço quando a vida nada mais fosse que cansaço Andorinhas Sentada no terraço, vejo as andorinhas entrar e sair dos ninhos na casa do vizinho. 8
  • 9. O vizinho morreu e a casa está abandonada, mas as andorinhas, de luto, como é sempre o seu vestir, talvez pelo vizinho, os que o antecederam e os que ainda hão-de vir, continuam a voltear em torno dos ninhos na casa agora abandonada do vizinho que morreu. Sempre me lembro das andorinhas no beiral da casa do vizinho. Sei que as de agora não são as mesmas que as de outrora mas talvez de geração em geração, tal como passa o sentido de orientação, tenha passado a informação da minha existência no terraço em frente à casa do vizinho desde quando o meu pai me dizia poesia que falava da sua migração. Orientadas pelo campo magnético terrestre, pelo sol, pelas estrelas ou simplesmente navegando à vista, aí vão elas seguindo uma pista que as trará de volta novamente, quando se iniciar o tempo quente Só que um dia já não haverá casa do vizinho, nem eu estarei no terraço a recebê-las. Cores outonais O muro de xisto é já uma ruína mas a vinha, velha e tão cansada, exibe de novo os seus tons outonais. Numa subtil gradação de frequências a folhagem é agora amarelada, acobreada, cor de vinho, acastanhada. Ostentam cores outonais também, mais além, a pereira e o marmeleiro. Enquanto transferências de electrões desencadeiam oxidações e reduções, carotenos e antocianinas conjugam-se em paisagens quase surreais. Sentada numa fraga, ao lado de um sobreiro, quero perpetuar estes instantes, transformar em eterno este momento, mas o agora de há pouco, já é antes, nesta implacável corrida do tempo. Prodígio Prodigiosa aquela cerejeira com seus frutos. Sensual, rubro o epicarpo, carnudo, nacarado o mesocarpo da pudica semente protecção. Tal como se fora a vez primeira saboreio uma cereja calmamente num misto de volúpia e devoção. Lição Constava no compêndio que eu tinha que estudar que o azeite, no essencial, é um misto de oleína e palmitina de diferente densidade e ponto de fusão Falava ainda o meu compêndio em decantação, ponto de inflamação, porém, ainda antes do compêndio, era bem pequenina e já sabia que os negros frutos de todo o olival iriam ser esmagados no lagar 9
  • 10. para das entranhas o azeite retirar junto com o alpechim do qual se iria separar Amargo e negro, o alpechim, iria ser lançado nos infernos 2. Também antes do compêndio já sabia que em candeias o azeite iria alumiar e que em gélidos Invernos iria talhar, em duas camadas se iria separar, a inferior, pastosa, esbranquiçada, a superior , viscosa, amarelada. Mas quando criança, também me apercebia que o tão dourado azeite, à mesa sempre usado com deleite, na malga do pobre não ia ter lugar, quando muito o azeite das sobras de fritar. Só que isso não constava no compêndio. Nostalgia Quando passo num amendoal, após o verão, sinto um misto de nostalgia e emoção ao ver a amêndoa abandonada nas árvores e no chão. Outrora significou prosperidade e eram guardados os amendoais para garantir que os rebusqueiros não rebuscavam demais, que rebuscavam só no chão, à claridade, só de dia e não ao lusco-fusco. Hoje, já ninguém anda ao rebusco. No Verão, sob um sol abrasador, era a apanha. Hoje fica nas árvores e cai na terra que a arrebanha e com ela se funde; confundem-se os seus tons. Da escacha já há muito não se ouvem sons. Os escachadores ora em uníssono, ora desfasados, habilmente manejados com gestos secos, certeiros e breves por mulheres, crianças, raparigas, que enchiam o ar de risos e cantigas, iam partindo a amêndoa, sempre cadenciados, deixando o grão intacto ou com mazelas leves, enquanto das cascas, o monte crescia no chão. Mais tarde, a par da lenha, na lareira, iriam servir para combustão. O grão ia para sacos de serapilheira. Mais tarde era vendido e o seu destino era assim perdido. Aquele que ficava imperfeito, esbotenado, iria ser, mais tarde, laminado, misturado com ovos e açúcar, nos rochedos cujas receitas eram envoltas em segredos e cuja doçura ocultava a agrura de tanta fadiga e de tanto suor. Eram a lavra, a limpa, a enxertia, ano após ano um ritual que se cumpria e quando floriam as amendoeiras, o lavrador contemplava do cimo das ladeiras aqueles véus de noiva a perder de vista, não com o olhar breve de um turista, mas com um profundo olhar, cheio de amor. Stacatto Ali onde o silêncio impera e onde o infinito faz sentido, numa fraga, junto ao rio, foi esculpido algo que pode ser uma mensagem, uma data, talvez de uma viagem, um nome, quiçá o de um romeiro, que envolto num denso nevoeiro, surgiu num dealbar de primavera. 2 reservatórios para recolha do alpechim 10
  • 11. Entropia Desde o átomo à célula, toda uma evolução que desafia os mais ousados sonhos. E assim, no mato denso de carrascos, salpicando de cor os dias baços e dando aos espaços um ar de fantasia, irrompem sensuais e rubros os medronhos. Alguns logo ali se degradam, ao cair no chão. Eis o sentido da evolução. Chamou-se-lhe entropia.3 3 Para além destes 22 poemas e, por também terem a ver com o nordeste transmontano, serão incluídos no livro 5 poemas de Reflexões e Interferências. São eles: Ilusão, Hipocrisia, Castro, Flores, Sensações 11