A canção descreve o dia de um trabalhador da construção civil de baixa renda, desde o amor pela família até sua morte trágica em um acidente de trabalho, ilustrando a dura realidade vivida por esses trabalhadores.
2. Chico
Conviveu com grandes escritores, compositores:
Vinícius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto,
Manoel Bandeira, entre muitos outros;
Artista consagrado nos Anos de Chumbo (após o
Golpe Militar de 1964);
Consciente da responsabilidade social (―Mas eu
continuo achando que é melhor ser censurado do que
omisso‖ BUARQUE, Chico. Revista 365, 1976.
Disponível no site;
Primeira peça teatral: Roda Viva;
Optou , após a repressão sobre a peça de teatro Roda
Viva, auto-exílio na Itália;
Julinho da Adelaide
3. Ranking dos músicos do século:
1º Chico Buarque - 76,48%
Autor de "A banda" e "Apesar de você" um
dos poetas mais exuberantes da MPB.
2º Tom Jobim - 73,78% - Compositor
popular brasileiro mais conhecido
internacionalmente.
3º Vinícius De Moraes - 59,76% - Poeta que
deu qualidade à música popular
O músico do século. Istoé - 28/02/99
4. ―A poesia de Chico Buarque é a tentativa de
encontrar um sentido para o homem num
mundo desfigurado pela técnica, projetando-se
como uma interrogação, O espaço
externo, entendido não como uma dimensão
limitada do real, mas todo o contexto humano-
existencial do século XX como totalidade do
real, atravessado pela angústia e incerteza da
humanidade, carece de sentido.‖
5. CHARTIER, Roger ., op. Cit., p. 52-53
―a obra só adquire sentido através das
estratégias de interpretação que constroem
suas significações. A do autor é uma dentre
outras, que não encerra em si a
―verdade‖, suposta única e permanente da
obra. Através disso, pode ser restituído um
justo lugar ao criador, cuja intenção (clara
ou inconsciente) não contém mais toda a
compreensão possível de sua criação, mas
cuja relação com a obra não é, no
entanto, eliminada.‖
6. Mario Prata;
Autores Independentes;
Literatura Contemporânea, não possui
um estilo;
Caracois (Roberto Carlos)
As entrelinhas
7.
8. Tem dias que a gente se sente A roda da saia, a mulata
Como quem partiu ou morreu Não quer mais rodar, não senhor
A gente estancou de repente Não posso fazer serenata
Ou foi o mundo então que cresceu A roda de samba acabou
A gente quer ter voz ativa A gente toma a iniciativa
No nosso destino mandar Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá E carrega a viola pra lá
Roda mundo, roda-gigante Roda mundo (etc.)
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante O samba, a viola, a roseira
Nas voltas do meu coração Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
A gente vai contra a corrente Que a brisa primeira levou
Até não poder resistir No peito a saudade cativa
Na volta do barco é que sente Faz força pro tempo parar
O quanto deixou de cumprir Mas eis que chega a roda-viva
Faz tempo que a gente cultiva E carrega a saudade pra lá
A mais linda roseira que há Roda mundo (etc.)
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo (etc.)
9. Composta em 1967 é um protesto contra a
falta de liberdade de expressão;
A gente tem que ter voz ativa (a roda viva -
ditadura/exercito - que matava a voz das
pessoas);
Nosso destino mandar/Mas eis que chega
roda viva/E carrega o destino pra lá... (destino
carregado pela roda viva, as pessoas não
podiam escolher o destino);
10. A gente toma iniciativa/Viola na rua a
cantar/Mais eis que chega a roda viva/E
carrega a viola pra lá... (a roda viva -
ditadura/exercito protesto contra o
militarismo – pessoas presas e
torturadas);
Faz tempo que a gente cultiva/
A mais linda roseira que há/
Mas eis que chega a roda viva/
E carrega a roseira prá lá... (rosa como
símbolo do socialismo);
11. O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou... (samba,
viola é o fim da liberdade de expressão e,
roseira/rosa = socialismo é a ilusão
queimada pela ditadura);
OLIVEIRA, Walklenguer H. de. Disponível no site
http//analisedeletras.com.br/chico-buarque/roda-viva/
12. Sentimento de impasse:construção de
uma vida com a responsabilidade do
cotidiano, a rotina circular e repetitiva,
Roda vida como onipresente (forma de
sentir a vida);
Primeiros versos transmitem impotência
(partiu, morrei, estocou) a alienação da
pessoa com o mundo, o mundo cresce e
você não, a roda viva o impede;
A repetição da estrofe ao fim de cada
verso dá a ideia de rotação (roda-
gigante, moinho e peão);
13. As roseiras cultivadas por nós é levada
pela roda-viva antes que floresça, tirando a
capacidade de viver);
Os versos representam a fraqueza do
protesto, a liberdade é oprimida;
O ultimo verso dito por várias pessoas
representa o que todos pensam sobre a
supressão ―Pare o mundo que eu quero
descer‖
14. Os cantores revolucionários foram
proibidos de cantar (os cantores do
Tropicalismo) surgindo assim a criação
do POP, a imagem e produto de novos
ídolos;
A indústria constrói um sistema musical
que atinja a massa, padronizando as
diferenças;
15. Foram oferecidas atrações para distrair o
povo do que estava acontecendo no Brasil
(ditadura), abrindo espaço ao Fino da Bossa
com Elis Regina e Jovem Guarda
comandado por Roberto Carlos e sua turma
do iê-iê-iê do Zé-do-Mato, (copiando as
guitarras estrangeiras);
Roda-Viva descreve o tortuoso caminho de
um recente ídolo (que não sabe cantar)
dentro dessa máquina poderosa em que se
transformou o mercado de consumo;
(JÚNIOR, Egon Hamann Seidler. Acadêmico do Curso de Artes
Cônicas – Centro de Artes – UNDESC. Artigo Científico: A encenação
no Brasil entre os anos 1967 e 1974 – O tropicalismo no teatro.
16. A peça Roda-viva nada tinha de político.
Refletia tão somente o am-biente em que
Chico vivia e com o qual estava
assustado: o show business. Ele descreve
a trajetória do cantor popular Benedito
Silva, engolido pelo esquema da
televisão. Num primeiro momento o
Anjo, seu empresário, o transforma em
Ben Silver, depois em Benedito
Lampião, para, finalmente, quando não
mais atende aos interesses da
máquina, induzi-lo à morte.
HOMEM, Wagner. Histórias de Canções -
Chico Buarque, Ed. Leya, 2009 (fl. 55, 56, 57)
18. Construção
Amou daquela vez como se Sentou pra descansar como
fosse a última se fosse sábado
Beijou sua mulher como se Comeu feijão com arroz como
fosse a última se fosse um príncipe
E cada filho seu como se Bebeu e soluçou como se
fosse o único fosse um náufrago
E atravessou a rua com Dançou e gargalhou como se
seu passo tímido ouvisse música
Subiu a construção como E tropeçou no céu como se
se fosse máquina fosse um bêbado
Ergueu no patamar quatro E flutuou no ar como se fosse
paredes sólidas um pássaro
Tijolo com tijolo num E se acabou no chão feito um
desenho mágico pacote flácido
Seus olhos embotados de Agonizou no meio do passeio
cimento e lágrima público
Morreu na contramão
atrapalhando o tráfego
19. Construção
Amou daquela vez como se Comeu feijão com arroz como
fosse o último se fosse o máximo
Beijou sua mulher como se Bebeu e soluçou como se
fosse a única fosse máquina
E cada filho seu como se Dançou e gargalhou como se
fosse o pródigo fosse o próximo
E atravessou a rua com E tropeçou no céu como se
seu passo bêbado ouvisse música
Subiu a construção como E flutuou no ar como se fosse
se fosse sólido sábado
Ergueu no patamar quatro E se acabou no chão feito um
paredes mágicas pacote tímido
Tijolo com tijolo num Agonizou no meio do passeio
desenho lógico náufrago
Seus olhos embotados de Morreu na contramão
cimento e tráfego atrapalhando o público
Sentou pra descansar
como se fosse um príncipe
20. Construção
Amou daquela vez como se Por me deixar respirar, por me
fosse máquina deixar existir,
Beijou sua mulher como se Deus lhe pague
fosse lógico Pela cachaça de graça que a
Ergueu no patamar quatro gente tem que engolir
paredes flácidas Pela fumaça e a desgraça, que
Sentou pra descansar como se a gente tem que tossir
fosse um pássaro Pelos andaimes pingentes
E flutuou no ar como se fosse que a gente tem que cair,
um príncipe Deus lhe pague
E se acabou no chão feito um Pela mulher carpideira pra
pacote bêbado nos louvar e cuspir
Morreu na contra-mão E pelas moscas bicheiras a
atrapalhando o sábado nos beijar e cobrir
Por esse pão pra comer, por E pela paz derradeira que
esse chão prá dormir enfim vai nos redimir,
A certidão pra nascer e a Deus lhe pague
concessão pra sorrir
21. “Amou daquela vez como se fosse a última /Beijou
sua mulher como se fosse a última/E cada filho seu
como se fosse o único /E atravessou a rua com seu
passo tímido ”. O sujeito da canção é um
homem, pai de família, ainda sugere que é de
baixa condição social, devido ao andar
tímido, e também pelo número de filhos.
22. ―Subiu a construção como se fosse máquina‖.
O desempenho no emprego é comparado
a uma máquina, o que nos revela que o
homem trabalha sem questionar o que
faz. Pelo fato da letra ter sido escrita na
época da ditadura, nos remete a pensar
que Ele, ou faz aquilo que mandam ou é
punido.
―Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
/Tijolo com tijolo num desenho mágico.”
Comprova o emprego do Homem na
construção civil.
23. O sentimentalismo se faz presente em “
Seus olhos embotados de cimento e lágrima“
ou seja nos olhos do trabalhador , reflete
o sofrimento dessa condição social.
―Sentou pra descansar como se fosse sábado/
Comeu feijão com arroz como se fosse um
príncipe ‖. Retrata a necessidade de
descansar e o fato de comer arroz e feijão
é a rotina que não pode escapar.
24. ―Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
/Dançou e gargalhou como se ouvisse música .‖
O alcoolismo que é comum nas classes
inferiores que ajuda manter a força
muscular dos trabalhadores de
construção. A alegria barata da bebida
proporcionou a queda ―E tropeçou no céu
como se fosse um bêbado /E lutou no ar como se
fosse um pássaro/E se acabou no chão feito um
pacote flácido ―, tropeçar no prédio alto é
como tropeçar no céu.
25. ―Agonizou no meio do passeio público
/Morreu na contramão atrapalhando o
tráfego‖, os últimos momentos do
homem que foi indiferente, a única
preocupação do povo era que
atrapalhava o tráfego. A contradição
existente é que dentro de casa o homem é
o líder, mas na rua é um sujeito
qualquer, um parafuso da engrenagem
capitalista.
26. A ultima estrofe é de um modo mais
acelerado, com sons vindo de todos os
lados, ilustra a vida sem rumo daquele
trabalhador, como outros trabalhadores
por aí, invisíveis à sociedade.
SENKEVICS, Adriano. Disponível no site
http//analisedeletras.com.br/chicoBuarque/Construção/
27. A música difere três antagonismo da
sociedade brasileira: a diferença social, a
vida profissional, familiar e a visão social
sobre eles;
28. A primeira estrofe retrata o pobre
trabalhador: ―Beijou sua mulher como se
fosse a última ―, ―Sentou pra descansar
como se fosse sábado ― qualquer
descanso como se fosse sábado, ―Comeu
feijão com arroz como se fosse um
príncipe‖ qualquer feijão com arroz é
banquete porque é trabalhoso
conseguir, e por fim, ―Morreu na
contramão atrapalhando o tráfego‖
pessoa ignorada pelo povo.
29. A segunda a classe média (talvez um
engenheiro): ―Beijou sua mulher como se
fosse a única ―, ―Sentou pra descansar
como se fosse um príncipe ― na hora em
que o trabalhador trabalha, ―Comeu
feijão com arroz como se fosse o
máximo‖, não é o máximo poderia ir a
uma churrascaria, por fim, ―Morreu na
contramão atrapalhando o
público‖, atrapalha o trânsito porque
ainda não é conhecido.
30. A terceira os militares: ―Beijou sua
mulher como se fosse lógico―, ―Sentou
pra descansar como se fosse um pássaro
―, por fim, ―Morreu na contramão
atrapalhando o sábado‖ atrapalhando o
sábado de todo o Brasil, mexendo com a
mídia, funeral com todas as obrigações
como se fosse mais importante que o
trabalhador e o engenheiro...
João Paulo, disponível no site
http//analisedeletras.com.br/chicobuarque/Construção
/
31. A consciência social de Chico Buarque de
Holanda, em Construção, como em toda a sua
obra, é evidente. Sabe o poeta que a poesia é
seu instrumento, o seu veículo de
denúncia, de crítica, de representação de
uma realidade desumana e injusta. Pois é
preciso que o homem não seja
―máquina‖, nem ―pacote‖. Mas que
signifique. Mas também que possa exercer
sua liberdade. Assim deve ser visto pela
sociedade, assim deve ser
32. entendido por todos. Chico aponta para
uma estrutura social que não gostaria que
existisse para uma coisificação do homem
que não deve persistir. Em Construção, o
sujeito é generalizado. O homem é visto, em
relação a sociedade, de maneira trágica,
oprimido, marcado pela inutilidade. Ele
constrói, mas é destruído. Ah!, se ele não
morresse num sábado...
Chico atesta a desumanização do homem:
amou daquela vez como se fosse máquina.
DANTAS, José Maria de Souza. MPB o canto e a canção. Rio de
Janeiro. Ed. Ao Livro Técnico S/A. 1988.
33. Falando à revista Status, em 1993, Chico
confessa que inicialmente tudo não
passava de uma experiência formal, e
que a idéia de narrar os últimos instantes
de vida de um operário veio depois da
música quase pronta.
O jornalista David Nasser, que sugeriu a
inclusão de mais uma proparoxítona:
"Médici", o nome do presidente.
HOMEM, Wagner. Histórias de Canções -
Chico Buarque, Ed. Leya, 2009 (fl. 97, 98)
34. Não passava de experiência formal, jogo de
tijolos. Não tinha nada haver com o problema
dos operários – evidente, aliás, sempre que
você abre janelas. Na hora que eu componho
não há intenção – só emoção. Em Construção, a
emoção estava no jogo de palavras (todas
paroxítonas). Agora, se você colocar um ser
humano dentro de um jogo de palavras, como
se fosse... Um tijolo – acaba mexendo com a
emoção das pessoas.
Entrevista a Judith Patarra, revista Status, 1973.
36. Geni e o Zepelin
De tudo que é nego torto Um dia surgiu, brilhante
Do mangue e do cais do porto Entre as nuvens, flutuante
Ela já foi namorada Um enorme zepelim
O seu corpo é dos errantes Pairou sobre os edifícios
Dos cegos, dos retirantes Abriu dois mil orifícios
É de quem não tem mais nada Com dois mil canhões assim
Dá-se assim desde menina A cidade apavorada
Na garagem, na cantina Se quedou paralisada
Atrás do tanque, no mato Pronta pra virar geléia
É a rainha dos detentos Mas do zepelim gigante
Das loucas, dos lazarentos Desceu o seu comandante
Dos moleques do internato Dizendo – Mudei de idéia
E também vai amiúde – Quando vi nesta cidade
Com os velhinhos sem saúde – Tanto horror e iniqüidade
E as viúvas sem porvir – Resolvi tudo explodir
Ela é um poço de bondade – Mas posso evitar o drama
E é por isso que a cidade – Se aquela formosa dama
Vive sempre a repetir – Esta noite me servir
Joga pedra na Geni Essa dama era Geni
Joga pedra na Geni Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni Maldita Geni
37. Geni e o Zepelin
Mas de fato, logo ela Foram tantos os pedidos
Tão coitada e tão singela Tão sinceros, tão sentidos
Cativara o forasteiro Que ela dominou seu asco
O guerreiro tão vistoso Nessa noite lancinante
Tão temido e poderoso Entregou-se a tal amante
Era dela, prisioneiro Como quem dá-se ao carrasco
Acontece que a donzela Ele fez tanta sujeira
– e isso era segredo dela Lambuzou-se a noite inteira
Também tinha seus caprichos Até ficar saciado
E a deitar com homem tão nobre E nem bem amanhecia
Tão cheirando a brilho e a cobre Partiu numa nuvem fria
Preferia amar com os bichos Com seu zepelim prateado
Ao ouvir tal heresia Num suspiro aliviado
A cidade em romaria Ela se virou de lado
Foi beijar a sua mão E tentou até sorrir
O prefeito de joelhos Mas logo raiou o dia
O bispo de olhos vermelhos E a cidade em cantoria
E o banqueiro com um milhão Não deixou ela dormir
Vai com ele, vai Geni Joga pedra na Geni
Vai com ele, vai Geni Joga bosta na Geni
Você pode nos salvar Ela é feita pra apanhar
Você vai nos redimir Ela é boa de cuspir
Você dá pra qualquer um Ela dá pra qualquer um
Bendita Geni Maldita Geni
38. A história de Bola de Sebo se passa na
França, no período final da guerra contra a
Alemanha. O país estava sendo invadido
pelos prussianos. Na cidade de Ruão, um
grupo de habitantes resolve partir para o
porto de Havre. Entre os viajantes havia
pessoas da nobreza e outros menos
favorecidos, entre eles uma gorda
prostituta, apelidada, adivinhem? Bola de
Sebo. Com o passar das horas, todos sentiam
fome, mas apenas Bola de Sebo havia levado
39. Gentil, ela compartilha com os outros
que, desta forma, deixaram de lado o
preconceito inicial. No caminho foram
impedidos de sair por um oficial alemão,
que impôs a condição de dormir com
Bola de Sebo, para que fossem liberados.
No início ela recusa, afinal aquele é um
homem que faz parte do povo que
invadiu sua pátria e aquilo seria antiético
para sua profissão, mas com a insistência
de seus companheiros, ela acaba
cedendo.
40. Acredito que Chico Buarque tenha tido a
intenção de compartilhar com o seu
público essa história do significado do
valor de um indivíduo para as pessoas. É
como a seguinte situação: A sua utilidade
(bondade, talento) é valiosa até o
favorecimento de outros. Depois a sua
utilidade(serventia) não vale mais.
Izabele - Mossoró-RN
41. Chico Buarque conta a história de uma
mulher que é vista como uma prostituta
e é julgada e humilhada pela sociedade
que a mesma não ajuda. Trata-se de uma
mulher simples e com ‗respeito‘ por ser
donzela e boa, o suficiente, para auxiliar
as pessoas como os idosos.
42. Porém, quando a comunidade necessita
dela para os salvar, se ajoelham a seus pés
– O padre, o banqueiro e o prefeito- O
poder religioso, financeiro e político se
cegam para enxergar os princípios, ou
seja, só pensam nos seus interesses
próprios. O compositor reputa a
hipocrisia das pessoas e a ingratidão.
Após Geni salvar a cidade, ela volta ao
patamar baixo no qual a sociedade a
colocou e no, no fundo, sempre a
enxergou.
43. Em Geni e o Zepelin ―De tudo que é
nego torto/Do mangue e do cais do
porto/Ela já foi namorada” é narrada a
estória de um homossexual (por ele
próprio) que salva uma cidade de uma
possível explosão, ameaçada por um ser
cósmico que por ali desembarcara. No
entanto, mesmo tendo proporcionado
essa salvação à custa de seu sacrifício
pessoal “Entregou-se a tal amante/Como
quem dá-se ao carrasco”.
44. Geni é repudiado e apedrejado “Joga
pedra na Geni/
Joga bosta na Geni/
Ela é feita pra apanhar/
Ela é boa de cuspir/
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni”. Geni é um plano
idealizado de mulher, que de dia é
Genival e de noite é Geni.
CARVALHO, Gilberto de. Chico buarque: análise
poético- musical. Rio de Janeiro, Editora
Codecri, 1982.
45. A música, cuja história é baseada na da
prostituta do conto "Bola de sebo", de Guy de
Maupassant, rapidamente virou sucesso —
e, como tal, gerou reações as mais diversas.
Interpretações equivocadas da letra levaram até
vândalos a atirar areia em prostitutas, usando o
bordão catártico "joga bosta na Geni". Em
entrevista ao programa Canal livre, em
1980, Chico lamenta o fato, dizendo que todo
artista está sujeito a coisas do tipo, mas que não
deve submeter o processo criativo ao temor de
ser mal entendido.
HOMEM, Wagner. Histórias de Canções -
Chico Buarque, Ed. Leya, 2009 (fl. 169, 170, 171)
46. Quando olhaste bem
nos olhos meus
E o teu olhar era de
adeus
Juro que não
acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu
corpo e duvidei
E me arrastei e te
arranhei
E me agarrei nos teus
cabelos
No teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da
cama
Sem carinho, sem Dei pra maldizer o nosso lar
coberta Pra sujar teu nome, te humilhar
No tapete atrás da porta E me vingar a qualquer preço
Reclamei baixinho Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que inda sou tua
47. A música, narrada por um eu-
feminino, compõe um cenário de
separação, numa espécie paradoxal de amor e
ódio, paixão e vingança. O título da
canção, ―Atrás da Porta‖, já evidencia uma
separação, com a porta servindo com barreira
entre os dois lados.
Os primeiros versos, não foi necessária
nenhuma palavra, senão apenas o olhar, para
ficar subentendida a mensagem de partida.
Em “Juro que não acreditei / Eu te estranhei / Me
debrucei / Sobre o teu corpo e duvidei”, a
assonância causada pela terminação ‗ei‘
reforça a idéia de pretérito perfeito.
48. Chico realça a noção de amor como
instinto selvagem, uma série de atitudes
impulsivas, a visão selvagem dá
destaque a esta ação..
Um dos versos mais interessantes é “Sem
carinho, sem coberta”. A ausência de
carinho, uma palavra que assume sentido
abstrato.
A primeira estrofe termina com “No
tapete atrás da porta / Reclamei baixinho”. O
tapete atrás da porta destaca a
submissão.
49. Na segunda estrofe rompem com a
submissão e mostram uma vingança
inevitável, tendo como pano de
fundo, logo, a selvageria. A
ambigüidade da canção fica a cargo
de “Te adorando pelo avesso” que cria
uma imagem confusa de amor.
A letra finaliza com ótimo desfecho;
Chico, em vez de escrever ‗ainda‘,
escreveu ‗inda‘, para mostrar sua
intimidade com a língua portuguesa.
SENKVICS, Adriano.
http://letrasdespidas.wordpress.com/2007/07/1
9/chico-buarque-atras-da-porta/
50. É a primeira parceria da dupla, Francis
começou a cantarolar a música ao
piano, e Chico fez o que nunca havia
feito e nem voltaria a fazer: compor na
frente dos outros. Conforme ele mesmo
diz, "tenho vergonha de fazer na frente
dos outros". Prefere a so-lidão do seu
estúdio. Mas com "Atrás da porta" foi
diferente. Na mesma hora, no meio da
confusão, saiu a primeira parte da letra. E
parou aí.
51. A segunda parte não veio no dia seguinte
nem nos meses subse-quentes. Quem
cantaria a canção seria Elis Regina, cujo
disco já estava sendo gravado. Dos
Estados Unidos, onde morava na
ocasião, Francis fez com que o produtor
enviasse a Chico uma fita com todos os
arranjos e a voz da intérprete até onde
havia letra e com a segunda parte já
orquestrada. Não dava para protelar. O
expediente utilizado para pressionar
ficou conhecido como "O Golpe de
Francis".
52. A vigilante censura parecia ter
preferência por homens glabros, e os
versos "E me agarrei nos teus cabelos/
Nos teus pelos" tiveram que ser
substuídos por "E me agarrei nos teus
cabelos/ No teu peito". Chico cantou a
letra original no show do Teatro Castro
Alves. Mas quando o espetáculo virou
disco, novamente a censura proibiu os
"pelos", e a solução encontrada pela
gravadora foi enxertar um estranhíssimo
e crescente aplauso fora de hora quando
os cantores pronunciavam a palavra
condenada.
HOMEM, Wagner. Histórias de Canções -
Chico Buarque, Ed. Leya, 2009 (fl. 106, 107)