Este documento discute aspectos linguísticos da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Apresenta informações sobre as diferenças entre a LIBRAS e a língua portuguesa, incluindo suas unidades mínimas e parâmetros. Também aborda termos relacionados à surdez e curiosidades sobre a comunidade surda.
2. Sobre a Língua de Sinais
• Não é universal; cada país possui uma língua de sinais
própria. Ex.: Lengua de Señas de Chile, American Sign
Language, Língua Gestual Portuguesa, Língua Brasileira
de Sinais, etc.
• Porque, assim, como nas línguas orais, pertencem a
uma determinada comunidade ou cultura, estando a elas
intrinsecamente ligadas.
• Não está subordinada à Língua Portuguesa, ainda
que sofra influência da mesma; ouvintes aprendizes da
LIBRAS buscam constantemente a relação entre os
sinais e as palavras do Português; digamos que em 90%
essa relação não existe. As línguas são arbitrárias, a
Língua de Sinais também.
4. Sobre a Língua de Sinais
• Assim como na Língua Portuguesa, temos palavras
diferentes para nos referir ao mesmo objeto/coisa, a
LIBRAS possui sinais diferentes para objetos/coisas
semelhantes.
5. Termos e Nomenclaturas
• Deficiente Auditiv@: termo mais usado na
área
da
saúde;
profissionais
como
otorrinolaringologistas e fonoaudiólogos. Está
relacionado aos graus de perda:
–
–
–
–
–
Audição Normal:
Deficiência Auditiva Leve:
Deficiência Auditiva Moderada:
Deficiência Auditiva Severa:
Deficiência Auditiva Profunda:
0 – 25 dB
26 – 40 dB
41 – 70 dB
71 – 90 dB
Acima de 91 dB
6. Termos e Nomenclaturas
• Surd@: pessoas com surdez profunda,
provavelmente serão usuárias da língua
de sinais, dependendo da época do
diagnóstico da perda, da habilitação oral,
uso de aparelhos, podem também
oralizar. Preferem ser referidas como
Surdas do que como Deficientes
Auditivas.
7. Termos e Nomenclaturas
• Surd@-mud@: termo obsoleto, inadequado e
incorreto, pois o déficit auditivo, em nenhum
momento prejudica as pregas vocais. O surdo
não oraliza porque não ouve!
• Mudinh@: diminutivo do termo inadequado e
incorreto, pejorativo, despersonaliza o indivíduo,
normalmente conhecido por “mudinh@”, faz
com que as pessoas nem saibam seu
verdadeiro nome. Muito desrespeitoso!
8. Parâmetros Linguísticos
• “As áreas da lingüística que estudam os
vários aspectos da linguagem humana
são: a fonologia, a morfologia, a
sintaxe, a semântica e a pragmática.”
(QUADROS & KARNOPP, 2004)
9. Fonética / Fonologia
• Estudo dos sons como entidades físicoarticulatórias isoladas.
• Estudo dos sons do ponto de vista
funcional como elementos que integram
um sistema lingüístico determinado.
16. Produção, Expressão e Recepção
• LÍNGUA PORTUGUESA:
oral-auditiva
– Principal característica:
linearidade
• LÍNGUA DE SINAIS:
espaço-motora-visual
– Principal característica:
simultaneidade
17. Português
Unidades Mínimas
• Os fonemas da língua portuguesa
classificam-se em vogais, semivogais e
consoantes.
• A Língua Portuguesa tem:
– 12 fonemas vocálicos (vogais e semivogais):
• Ex.: /a/ /ê/ /i/ /ô/ /u/ /ã/ /e/ /i/ /o/ /u/ /é/ /ó/
– 19 fonemas consonantais:
• Ex.: /p/ /b/ /m/ /f/ /v/ /t/ /d/ /n/ /nh/ /l/ /lh/ /r/ /rr/ /z/ /s/
/j/ /x/ /g/ /q/
• Obs.: 26 letras / 31 fonemas
20. Alfabeto Manual ou Datilologia
• O Alfabeto Manual NÃO É Língua de
Sinais, faz parte dela. Usado para soletrar
com a mão o “nome” das coisas/objetos
na forma do Português. Ex.: nomes
pessoais (M-A-R-I-A/ J-O-S-É); endereço
ou palavras que não possuem sinais.
22. LIBRAS
• Parâmetros Primários:
– Configurações de Mãos (CM)
– Ponto de Articulação (PA)
– Movimento (M)
• Parâmetros Secundários:
– Expressão Facial e ou Corporal
– Orientação da(s) palma(s) da(s) mão(s)
– Direcionalidade
23. LIBRAS
exemplos de parâmetros
• APRENDER:
– CM: “C” e “S”
– PA: testa
– Movimento: abrir e fechar
• SÁBADO:
– CM: “C” e “S”
– PA: frente à boca
– Movimento: abrir e fechar
24. LIBRAS
exemplos de parâmetros
• SÁBADO:
– CM: “C” e “S”
– PA: frente à boca
– Movimento: abrir e fechar
• LARANJA (fruta e cor):
–
–
–
–
CM: “C” e “S”
PA: frente à boca
Movimento: abrir e fechar
Expressão facial: bochechas
comprimidas, “chupando”.
25.
26. Curiosidades sobre a
comunidade surda
• Não é necessário gritar ao falar com o surdo,
nem articular a boca exageradamente;
• A maioria dos surdos profundos não fazem
leitura orofacial;
• Nem todos os surdos profundos compreendem
textos escritos;
• Convenções sociais, normalmente devem ser
ensinadas ou reforçadas: comer de boca
fechada, sem fazer barulhos; levantar os pés
enquanto andam, outros...
27. Curiosidades sobre a
comunidade surda
• O surdo é hiper-sensível à expressões
faciais e movimentos diversos;
• Em palestras e demais eventos para
surdos e, que tenha serviço de
interpretação, é preciso considerar um
espaço adequado para todos os surdos,
evitando distrações visuais (movimento
constante de pessoas, por exemplo);
• Síndrome de Usher (surdocegueira).
28. Surdez, Interpretação e Ética
• Exatamente, todas as informações sonoras (a
fala humana e fontes sonoras diversas)
precisam ser transmitidas ao surdo;
• É anti-ético falar apenas por meio da oralidade,
na presença de surdos que não fazem leitura
orofacial; e se faz, é preciso falar, olhando em
sua direção;
• Qualquer informação transmitida aos ouvintes,
precisam ser transmitidas, tal e qual, aos surdos
também (considerando que muitos deles não
fazem uso da leitura e escrita em língua
portuguesa);
• Etc...
30. Os surdos por eles mesmos...
•
Helen Keller (1880-1968, escritora surdacega americana) –
“Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de
repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no principio da vida
adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silêncio lhe
ensinaria as alegrias do som.”
•
Emmanuelle Laborrit (atriz e escritora surda francesa) – “A
gaivota cresceu e voa com suas próprias asas. Olho o mundo do
mesmo modo com que poderia escutar. Meus olhos são meus
ouvidos. Escrevo do mesmo modo com que me exprimo por sinais.
Minhas mãos são bilíngües. Ofereço-lhes minha diferença. Meu
coração não é surdo a nada neste duplo mundo...”
•
Gladis Perlin (1ª doutora surda do Brasil) - “É evidente que as
identidades surdas assumem formas multifacetadas em vista das
fragmentações a que estão sujeitas face à presença do poder
ouvintista que lhe impõe regras, inlcusive, encontrando no
estereótipo surda uma resposta para a negação da representação
da identidade surda ao sujeito surdo.”
31. O corpo fala...
em língua de sinais
• “A Língua de Sinais nos remete a uma
percepção diferenciada em tempo e
espaço, sobretudo da expressão do corpo
e do ambiente produzido por esse
movimento, por essa dinâmica. O rosto se
dilata, o corpo é requerido em posições,
posturas, sentidos que nos tiram do eixo
construído por uma prévia educação
culturalmente ouvinte” (LULKIN, 1998, p.
56).
32. Reflexão
“Aprender é sempre adquirir uma força para
outras vitórias, na sucessão interminável da
vida. Os adultos aconselham freqüentemente
às crianças a vantagem de aprender, vantagem
que tão pouco conhecem e que a si mesmos
dificilmente seriam capazes de aconselhar.
Pode ser que um dia cheguem a mudar muito, e
dêem tais conselhos a si mesmos. Daí por
diante, o mundo começará a ficar melhor”
(Cecília Meireles).
“A língua é a chave para o coração de um povo.
Se perdemos a chave, perdemos o povo. Se
guardamos a chave em lugar seguro, como um
tesouro, abriremos as portas para riquezas
incalculáveis, riquezas que jamais poderiam ser
imaginadas do outro lado da porta” (Eva
Engholm)
34. Referências
•
FERNANDES, S.; STROBEL, K. L. Aspectos linguísticos da língua brasileira
de sinais. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.
Departamento de Educação Especial. Curitiba: SEED/SUED/DEE, 1998.
•
FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro: UFRJ, Departamento de Linguística e Filologia, 1995.
•
______ [et al.]. Língua brasileira de sinais. V. 3. Brasília: SEESP, 1998.
•
KARNOPP, L. B.; QUADROS, R. M. Língua de sinais brasileira: estudos
linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
•
LULKIN, S. A. O discurso moderno na educação dos surdos: práticas de
controle do corpo e a expressão cultural amordaçada. In: SKLIAR, C. (Org.). A
surdez: um olhar sobre as diferenças. 1 ed.Porto Alegre: Mediação, 1998, p.
33-49.
•
SALLES, H. M. M. L. [et al.] Ensino de língua portuguesa para surdos:
caminhos para a prática pedagógica. V. 1, Brasília: MEC, SEESP, 2004.
•
WILCOX, S.; WILCOX, P. P. Aprender a ver. Petrópolis: Editora Arara-azul,
2005.