Versão final do roteiro do curta-metragem "Reencontro", produzido para a TAM Linhas Aéreas pela La Casa de la Madre.
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DIREITO AUTORAL E PROPRIEDADE INTELECTUAL
O roteiro apresentado para análise é de propriedade intelectual única e exclusiva de seus proprietários, a saber, André Castilho e La Casa de La Madre, tendo todos os direitos reservados, incluindo os direitos autorais morais e patrimoniais do roteiro apresentado, sendo que a utilização de qualquer forma, por qualquer meio, não autorizada pelos proprietários aqui indicados será tratada como violação legal dos direitos aqui mencionados, estando o interlocutor (aqui entendido como qualquer pessoa que tenha acesso a este roteiro) sujeito as sanções legais cabíveis, tanto criminais quanto cíveis. É terminantemente proibido o uso ou utilização do roteiro apresentado, ainda que em parte, por quem quer que seja sem a expressa e formal autorização de seus proprietários. O roteiro é apresentado para mera análise do possível cliente, porém, somente deverá ser utilizado em quaisquer produções e, produzido de qualquer forma, se, e unicamente se, a produção for realizada pela La Casa de La Madre, sendo que a inobservância disto acarretará em processos judiciais em quaisquer instâncias necessárias, conforme Lei 9.610/98 e demais legislações correlatas.
2. INT. SALA DE JANTAR1 1
FRANCISCO, um senhor muito simples, de aproximadamente 75 anos e sua
esposa, MARIA, apressam-se com os preparativos da mesa de jantar. MARIA
desenforma um bolo de milho. FRANCISCO ajeita a toalha da mesa. Pela
janela, FRANCISCO vê um carro se aproximar e estacionar.
FRANCISCO:
É ele.
MARIA ajeita a tiara no espelho e abana os farelos do vestido florido.
EXT. PORTA DA CASA2 2
PEDRO, um rapaz de aproximadamente 28 anos, carregando uma pequena
mala, caminha em direção à casa, uma construção antiga de paredes
desgastadas pelo tempo em um pequeno terreno agrícola.
FRANCISCO tira um pente do bolso e penteia seus poucos fios de cabelo
para o lado. MARIA abre a porta da sala e caminha apressada em direção
a PEDRO.
MARIA
Pedro!
Da porta, FRANCISCO observa MARIA dando um abraço demorado em PEDRO.
PEDRO entra na casa. FRANCISCO o mede.
FRANCISCO:
Ta parecido com o teu pai.
MARIA
Você deve estar morrendo de fome. Eu fiz
aquele bolo de milho que você adora.
MARIA conduz PEDRO até a mesa, farta de tortas, pães, bolos e doces.
Ela pega um prato para servir o neto.
INT. SALA DE JANTAR3 3
PEDRO está sentado à mesa, ao lado da avó, que observa com alegria o
neto devorar seu bolo de milho. FRANCISCO está na ponta da mesa e serve-
se de uma torrada. PEDRO checa seu celular. FRANCISCO corta o silêncio.
FRANCISCO:
Eu soube que você já é um homem com
diploma, que conseguiu um trabalho
importante na cidade...
MARIA
Come mais bolo. Você tá muito magrinho.
3. PEDRO
A casa não mudou nada...
FRANCISCO:
Não tinha um dia que sua vó não falava de
você. Esperando, esperando.
MARIA
Francisco!
PEDRO
Eu queria ter vindo antes, mas na
correria... a gente fica sem tempo pra
nada...
FRANCISCO:
Nem pra um telefonema?
FRANCISCO recolhe seu prato e o leva para a cozinha.
INT. QUARTO DE HOSPEDES4 4
PEDRO deposita sua mala no quarto de hóspedes. Vê um baú velho ao lado
da cama. Abre o baú e encontra brinquedos seus antigos. Coloca um tapa-
olho de pirata. Encontra uma pipa rasgada, atrás do baú.
INT. SALA DE JANTAR5 5
FRANCISCO e MARIA conversam na sala.
FRANCISCO:
Ele não vai aceitar. Eu sei que não.
MARIA
Ele é seu neto, é claro que vai aceitar.
PEDRO entra na sala de sopetão, segurando a pipa. Os dois disfarçam.
PEDRO
Olha o que eu achei. Será que ainda voa?
FRANCISCO examina a pipa.
FRANCISCO:
Precisa de um remendo. Na segunda-feira
eu vou no mercadinho e compro cola.
PEDRO
Amanhã cedo eu já vou embora. Segunda eu
trabalho.
FRANCISCO se entristece.
2.
4. PEDRO (CONT’D)
O senhor me escreveu aquela carta... eu
vim.
FRANCISCO olha para MARIA, que o encoraja.
FRANCISCO:
Eu... quando você era menino, eu comecei
uma poupança. Pra quando você fizesse 18
anos. Aí seu pai e eu... eu nunca mais te
vi...
FRANCISCO tira do bolso um envelope dobrado. Com suas mãos trêmulas,
oferece o envelope a PEDRO.
PEDRO abre o envelope e retira um ticket de embarque, com seu nome
impresso.
PEDRO
Rio de Janeiro... o que é isso?
FRANCISCO:
Tem mais coisa aí dentro.
PEDRO retira uma reserva de hotel e um ingresso, onde se lê: "Jogos
Olímpicos 2016".
PEDRO
Isso aqui deve ter custado uma fortuna. O
senhor nem me consultou. Eu tenho a minha
vida, não dá pra largar tudo pra ir pro
Rio de Janeiro. Eu... eu não posso
aceitar.
PEDRO devolve o envelope para FRANCISCO.
PEDRO (CONT’D)
Deve ter um jeito de cancelar. Se não
der, eu te reembolso. Me passa sua
conta...
FRANCISCO:
Não tem problema, meu filho. Foi tudo uma
bobagem minha.
FRANCISCO dobra o envelope e o guarda no bolso. Pega um chapéu
pendurado na beira da porta.
FRANCISCO: (CONT’D)
Eu vou dar uma andada.
FRANCISCO sai de casa.
PEDRO
Vó... eu não posso...
3.
5. MARIA
Ele vai ficar bem.
INT. QUARTO DE HOSPEDES6 6
PEDRO está no quarto de hóspedes, diante do velho baú de brinquedos.
Enquanto vasculha o baú, ele abre a aba de contatos do celular e clica
em um avatar com o nome “LARI”, que aparece na tela em videochamada.
LARISSA
Tava pensando em você!
PEDRO
Oi...
PEDRO encontra no baú um pequeno pião.
LARISSA
Que cara é essa? Sua vó fez sopa de
aspargo?
PEDRO
Eu tô me sentindo o pior neto do mundo.
PEDRO gira o pião com os dedos e o observa rodar no chão.
PEDRO (CONT’D)
Meu vô me deu um pacote pra ver os Jogos
Olímpicos e eu recusei.
LARISSA
Pera. Seu vô, que você não visita há
milênios, te presenteou com “A” viagem
pra ver as Olimpíadas e você disse que
não? Realmente, você é o pior neto do
mundo.
PEDRO
E o escritório? As metas tão apertadas!
PEDRO vasculha de novo o baú e encontra um pote grande de vidro de
palmito, com chapas metálicas dentro. O vidro está encardido e não é
possível ver o que há ali.
LARISSA
Você tá cheio de férias vencidas, pelo
amor de Deus. Às vezes eu juro que eu não
te entendo...
4.
6. PEDRO
Ele juntou esse dinheiro por sei lá
quantos anos...
PEDRO abre a tampa e derrama o conteúdo do pote no chão. Percebe que
são medalhas.
LARISSA
E a sua vó, o que ela disse?
PEDRO pega uma medalha de ouro e lê: “Campeonato de Regatas 1956”.
LARISSA (CONT’D)
PEDRO, o que ela disse?
PEDRO pega uma medalha de prata e lê a inscrição: “Interclubes de
Regatas 1958”.
PEDRO
Eu te ligo depois.
EXT. VARANDA7 7
Anoitece. FRANCISCO está sentado na varanda, em sua cadeira de balanço.
A porta da casa se abre. É PEDRO. Ele se aproxima e olha para o céu
estrelado
PEDRO
Aqui dá pra ver muito mais estrelas que
na cidade.
FRANCISCO:
Você ainda lembra dos nomes que eu te
ensinei?
PEDRO
Hmmm... Aquele é o Cruzeiro do sul.
Certo? E aquelas ali são as... Três
Marias. Quatro, se contar com a vó.
FRANCISCO sorri.
PEDRO (CONT’D)
Eu sempre quis conhecer o Rio de Janeiro.
Dizem que é lindo. Você já foi lá?
FRANCISCO
Nunca fui pra muito longe daqui.
PEDRO
Vô... eu tava pensando... talvez eu
consiga tirar uma folga no trabalho...
FRANCISCO arqueia as sobrancelhas.
PEDRO (CONT’D)
Eu aceito o seu presente.
5.
7. FRANCISCO levanta-se.
PEDRO (CONT’D)
Mas... com uma condição: você vai junto comigo.
OMITTED8 8
EXT/INT. PORTA AVIAO9 9
PEDRO e FRANCISCO embarcam no avião. A AEROMOÇA os recepciona com um
sorriso, na porta da aeronave.
AEROMOÇA
Bom dia!
FRANCISCO a cumprimenta e cutuca PEDRO, que fica sem graça. A AEROMOÇA
sorri, tímida.
INT. AVIAO10 10
O avião está pousando, FRANCISCO está sussurrando uma reza e segurando
forte na cadeira, com os olhos fechados.
PEDRO
Olha, vô! Vem ver!
FRANCISCO:
Depois eu vejo.
PEDRO
Larga a mão. Olha rapidinho.
FRANCISCO faz um esforço descomunal para abrir os olhos e esticar o
pescoço para espiar a janela.
FRANCISCO:
Fica tudo miudinho daqui, né?
FRANCISCO volta à sua posição, fecha os olhos e continua a rezar. O
avião pousa.
INT/EXT. TAXI12 12
Os dois estão em um táxi, a caminho do hotel. FRANCISCO abre a janela e
sente a brisa do vento, entusiasmado. O táxi passa em frente à orla.
FRANCISCO:
O senhor pode parar um bocadinho?
6.
8. O TAXISTA para o carro. FRANCISCO abre a porta e caminha até a areia.
PEDRO
Vô! Volta aqui!
FRANCISCO corre até o mar. Livra-se dos sapatos no meio do caminho.
EXT. PRAIA DO LEME13 13
PEDRO corre com as malas atrás do avô. FRANCISCO entra no mar, a barra
da calça submersa. Ele conversa com o mar.
FRANCISCO:
Tantos anos... eu achei que não ia te
conhecer...
PEDRO se aproxima.
FRANCISCO: (CONT’D)
Você é muito mais formoso do que eu
imaginava.
FRANCISCO, emocionado, molha a cabeça. Dirige-se a PEDRO, que está ao
seu lado.
FRANCISCO
Me chamavam de “Flecha”. Ninguém me batia
no remo. Eu cruzava de cabo a rabo o rio
lá da cidade. Mas o mar... o mar não deu
tempo de conhecer...
PEDRO
Por que você parou?
FRANCISCO
O meu pai não gostava da ideia... a vida
era muito difícil e eu tinha que ajudar
na lavoura.
FRANCISCO enche a mão de água e faz um cafuné em PEDRO, desconversando.
FRANCISCO (CONT’D)
Bora conhecer a cidade!
EXT PONTOS TURISTICOS (RIO DE JANEIRO)14 14
Vemos um clipe de fotos dos dois passeando por pontos turísticos do Rio
de Janeiro. Tomando sol na praia, pedalando na orla, pegando o bondinho
do Pão de Açúcar, em uma roda de capoeira, no arco da Lapa.
7.
9. EXT. CALÇADÃO/LAGOA RODRIGO DE FREITAS15 15
Um dedo passa por cima de uma foto e percebemos que as fotos estão
sendo vistas em um celular. Ele seleciona uma das fotos, uma selfie dos
dois no Cristo Redentor.
A câmera abre e mostra que eles estão caminhando no calçadão, na beira
de uma lagoa.
PEDRO prepara o post no Instagram, mas é interrompido por FRANCISCO.
FRANCISCO
Olha lá, meu filho... no meu tempo não
era assim não.
FRANCISCO observa ATLETAS retirando um barco de remo da água. PEDRO
corre em direção a eles.
PEDRO
Já volto!
FRANCISCO
Menino! A gente vai perder a hora!
EXT. PIER LAGOA RODRIGO DE FREITAS16 16
PEDRO vai em direção aos ATLETAS e conversa algo com eles.
FRANCISCO tira do bolso um ingresso para uma competição, coloca os
óculos e checa as informações.
FRANCISCO
Três e meia já...
Um ATLETA se aproxima de FRANCISCO.
ATLETA
Licença, senhor Flecha? Será que você
pode dar uma mãozinha?
Corta para FRANCISCO junto aos ATLETAS, dando instruções, como se fosse
técnico.
FRANCISCO
Olha a mão esquerda, a mão esquerda,
rapaz! Crava esse remo na água, parece
que tá com medo da água. Dá aqui esse
remo. É assim, ó, assim que faz. Olha pro
horizonte...
FRANCISCO permanece com a equipe até o fim do sol. PEDRO apenas observa
o avô, realizado.
8.
10. INT. CASA DE FRANCISCO17 17
MARIA abre um envelope na mesa de sua cozinha. No remetente, nota-se
que a carta foi enviada do Rio de Janeiro. É uma carta de seu marido,
acompanhada de uma foto dele abraçado com seu neto. Enquanto ela lê a
mensagem, vemos imagens de FRANCISCO e PEDRO no Rio de Janeiro, em
momentos felizes.
MARIA (V.O.)
“MARIA, minha doce companheira. Agora eu
entendo por que o Rio de Janeiro é
chamado de Cidade Maravilhosa. Tudo é
bonito e rodeado de natureza.As pessoas
por aqui sorriem sem carecer de motivo. É
assim que eu fico, junto do meu neto
querido: sorrindo que nem bobo...”
INSERT imagens dos ATLETAS remando.
FRANCISCO (V.O.)
“Ver esses meninos tão dedicados,
tentando derrubar as próprias cercas me
recordou que a vida se alimenta de
sonhos”.
EXT. PORTA DA CASA DE FRANCISCO18 18
FRANCISCO retornando de viagem, abraçando MARIA na porta de casa.
FRANCISCO (V.O.)
“Quanto ao PEDRO, eu não tenho como
voltar no tempo e nem sei como vai ser
daqui em diante..”
EXT. JARDIM19 19
FRANCISCO passa cola na pipa rasgada. Ele caminha até a beira da
varanda, segurando a pipa. Olha para o céu.
FRANCISCO (V.O.)
“...mas não vou deixar que as trovoadas
do passado e o nevoeiro do futuro tirem
de mim a alegria do presente. Com amor,
FRANCISCO”.
Fade out.
FIM
9.