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A FAMÍLIA: UMA ABORDAGEM FILOSÓFICA NA PÓS-MODERNIDADE.


        Inicio o estudo com quatro grandes eixos Históricos Filosófico/Familiar.
             O centro do pensar filosófico, nos seus primórdios, era o cosmos: a totalidade do
                mundo físico, a grande máquina do universo, desde o céu estrelado até às
                profundezas do oceano e das entranhas da Terra.
             Chegam os socráticos e esse centro se desloca em direção à polis promovida pelo
                homem social.
             Vem o cristianismo, e o homem, feito à imagem e semelhança de Deus, tem uma
                vocação pessoal salvar sua alma e cultivar as virtudes e conquistar o reino dos
                céus. Sua comunidade é a igreja.
             Chega a época moderna, e o individualismo domina tudo: a autonomia, a
                fundamentação dos costumes e da vida pessoal e social sobre a única base da
                razão do indivíduo, não deixam sequer espaço para considerar a família como um
                ‘locus philosophicus’.
        Claro que a filosofia, desde o começo, destaca propriamente à reflexão quando se
apresenta como objeto de curiosidade, ou de admiração; quer dizer, de estranhamento. E a família
tem essa marca de parecer tão ‘familiar’ que nem suscita questionamento espontâneo: as pessoas
se sentem de tal modo ‘familiarizadas’ que não vêem nela um problema filosófico, um desafio
como a Esfinge que dizia “Decifra-me ou te devoro”. A problemática do homem e da ética surgiu
com a crise da cidade grega: antes a pessoa e seus costumes estavam imersos naquela “eticidade
compacta”, que era a polis (Hegel). A Filosofia Social, a Filosofia da História vieram a surgir no
século passado, depois do choque da urbanização e da revolução industrial.
        Claro que desde S. Agostinho havia uma Teologia da História, mas o pensamento
filosófico só se tornou historiocêntrico com Hegel.
        O ser humano é fruto da organização cultural que faz ter um pai e uma mãe, que tem
deveres para com eles aos quais deve respeito e obediência, dos quais recebe não só a vida
biológica, mas também as normas e aquisições da cultura e da sociedade.
        Com a divisão da sociedade em classes, com o advento do Estado para manter uma
ordem estabelecida sobre a desigualdade, passou a dominar um modelo inverso ao da
fraternidade, onde os membros da sociedade, pertencentes a classes inferiores, eram tratados não
como irmãos, mas como animais.
        Sem o apoio e o conforto de um novelo de relações e de solidariedade envolventes, o
homem e a mulher se defrontam sem mediação, nem instância de apelação, sem álibi para seus
inevitáveis conflitos, que antes dissolviam em boa parte no grupo familiar mais extenso. Tendo o
casal de lutar sozinho pela manutenção e educação da prole, muitas vezes em condições
adversas, as forças centrífugas rompem facilmente os laços pessoais, a começar pelo afeto
recíproco e amor pelos filhos.
        Parece que a alma da ideologia capitalista, a busca do maior lucro do indivíduo, está em
oposição com o “ethos” profundo da família. Pois a família tem por base o dom: a mãe dá ao filho a
vida, o leite; o pai provê o seu sustento e lhe dá educação; os irmãos dividem fraternalmente entre
si o que adquirem - reciprocidade – lei fundamental da sociedade humana – de sua ética, de sua
organização social e do funcionamento pacífico de suas instituições.
        Filosofar   sobre   “intersubjetividade”   tornou-se   uma     das   vertentes   da   filosofia
contemporânea, assim como a questão da “subjetividade” constituiu a marca da filosofia moderna.
O caminho foi aberto por Hegel, com suas análises memoráveis sobre o reconhecimento, sobre o
Eu constituindo-se no enfrentamento com o Outro, sobre a reconciliação.
        Se os cinco (ou mesmo os sete) primeiros anos marcam definitivamente a vida do ser
humano nesse período, é no seio da família que o espírito se desenvolve e faz suas descobertas
que lhe definem a personalidade, o modo de ser como ser humano, como ser social, e também,
poderíamos dizer, como “animal metafísico”.
         A vida do homem, como ser social, é toda constituída de trocas, de intercâmbios, ou seja,
de comunicação recíproca com os outros. Em nossas sociedades capitalistas, o que se troca são
mercadorias; e tudo o que se troca acaba assumindo a forma de mercadoria: o ensino, o trabalho,
os conhecimentos, etc.; de uma forma que surpreenderia civilizações anteriores à nossa. Tudo
está à venda, tudo se compra.
        Não seria hora de redescobrir a família:
             1. Seu convívio, sua ética, sua reciprocidade, seus laços de profunda humanidade e
                 aliança, se estendem a perder de vista na sociedade como um todo?
             2. Reaprender o amor e fidelidade, depois das experiências de sexo sem amor nem
                 compromisso?
             3. Recuperar o ambiente do lar, das relações de verdadeiro amor e diálogo entre os
                 esposos; o enriquecimento da personalidade da mulher através da maternidade; a
                 realização pessoal do homem ao construir uma unidade de ser e vida com a
                 esposa, e em dar a vida e ensinar o caminho aos filhos, como muito mais
                 importante e gratificante que seus êxitos na bolsa, no faturamento da empresa, na
                 conquista dos mercados e derrota dos competidores?
       O ser humano foi feito para felicidade. Ora, a felicidade está na plena realização de sua
natureza humana, racional e emotiva: feita para luta pela vida, mas também para o repouso do
guerreiro. Na certa, quase todas as culturas diversas da nossa sociedade-mercadoria, foram mais
capazes de produzir seres humanos felizes e ajustados. É a qualidade de vida, a felicidade ‘per
capita’, o verdadeiro indicador do sucesso de uma sociedade e de uma cultura; e não o produto
nacional ‘bruto’ ou ‘por habitante’. Ora, para essa qualidade total de vida, isto é, para uma vida
humana total, a família tem uma importância incomparável.
REFERÊNCIAS
        BUBER, Martim, Eu e Tu. Tradução de N. Aubeu. 2. Ed. São Paulo: Cortez e Moraes,
1979.
        HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. Tradução de Paulo Meneses. Petrópolis:
Vozes, 1992.
        _________. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução de O. Vitorino. 4. Ed. [s. l.: s.
n], 1990.
        LÉVI-STRAUSS, Claude. As formas Elementares do Parentesco. Tradução de M.
Ferreira. Petrópolis: Vozes, 1982.
        LINTON, Ralph. O Homem: uma introdução à Antropologia. Tradução de L. Vilela. 10. Ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1976.
        MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a Dádiva. Forma e Razão da Troca nas Sociedades
Arcaicas. In:_________.Sociologia e Antropologia. Tradução de M. Almeida. São Paulo: E. P. U.,
1974. v.2.
        PINCUS, Lily, DARE, C. Psicodinâmica da Família. Porto Alegre: artes médicas, 1981.
        VAZ, Henrique C. L. Antropologia Filosófica. São Paulo: Loyola, 1992. v.2.
        WINNICOT, D. W. Da Pediatria à Psicanálise. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.a

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Texto a família e a filosofia

  • 1. A FAMÍLIA: UMA ABORDAGEM FILOSÓFICA NA PÓS-MODERNIDADE. Inicio o estudo com quatro grandes eixos Históricos Filosófico/Familiar.  O centro do pensar filosófico, nos seus primórdios, era o cosmos: a totalidade do mundo físico, a grande máquina do universo, desde o céu estrelado até às profundezas do oceano e das entranhas da Terra.  Chegam os socráticos e esse centro se desloca em direção à polis promovida pelo homem social.  Vem o cristianismo, e o homem, feito à imagem e semelhança de Deus, tem uma vocação pessoal salvar sua alma e cultivar as virtudes e conquistar o reino dos céus. Sua comunidade é a igreja.  Chega a época moderna, e o individualismo domina tudo: a autonomia, a fundamentação dos costumes e da vida pessoal e social sobre a única base da razão do indivíduo, não deixam sequer espaço para considerar a família como um ‘locus philosophicus’. Claro que a filosofia, desde o começo, destaca propriamente à reflexão quando se apresenta como objeto de curiosidade, ou de admiração; quer dizer, de estranhamento. E a família tem essa marca de parecer tão ‘familiar’ que nem suscita questionamento espontâneo: as pessoas se sentem de tal modo ‘familiarizadas’ que não vêem nela um problema filosófico, um desafio como a Esfinge que dizia “Decifra-me ou te devoro”. A problemática do homem e da ética surgiu com a crise da cidade grega: antes a pessoa e seus costumes estavam imersos naquela “eticidade compacta”, que era a polis (Hegel). A Filosofia Social, a Filosofia da História vieram a surgir no século passado, depois do choque da urbanização e da revolução industrial. Claro que desde S. Agostinho havia uma Teologia da História, mas o pensamento filosófico só se tornou historiocêntrico com Hegel. O ser humano é fruto da organização cultural que faz ter um pai e uma mãe, que tem deveres para com eles aos quais deve respeito e obediência, dos quais recebe não só a vida biológica, mas também as normas e aquisições da cultura e da sociedade. Com a divisão da sociedade em classes, com o advento do Estado para manter uma ordem estabelecida sobre a desigualdade, passou a dominar um modelo inverso ao da fraternidade, onde os membros da sociedade, pertencentes a classes inferiores, eram tratados não como irmãos, mas como animais. Sem o apoio e o conforto de um novelo de relações e de solidariedade envolventes, o homem e a mulher se defrontam sem mediação, nem instância de apelação, sem álibi para seus inevitáveis conflitos, que antes dissolviam em boa parte no grupo familiar mais extenso. Tendo o casal de lutar sozinho pela manutenção e educação da prole, muitas vezes em condições
  • 2. adversas, as forças centrífugas rompem facilmente os laços pessoais, a começar pelo afeto recíproco e amor pelos filhos. Parece que a alma da ideologia capitalista, a busca do maior lucro do indivíduo, está em oposição com o “ethos” profundo da família. Pois a família tem por base o dom: a mãe dá ao filho a vida, o leite; o pai provê o seu sustento e lhe dá educação; os irmãos dividem fraternalmente entre si o que adquirem - reciprocidade – lei fundamental da sociedade humana – de sua ética, de sua organização social e do funcionamento pacífico de suas instituições. Filosofar sobre “intersubjetividade” tornou-se uma das vertentes da filosofia contemporânea, assim como a questão da “subjetividade” constituiu a marca da filosofia moderna. O caminho foi aberto por Hegel, com suas análises memoráveis sobre o reconhecimento, sobre o Eu constituindo-se no enfrentamento com o Outro, sobre a reconciliação. Se os cinco (ou mesmo os sete) primeiros anos marcam definitivamente a vida do ser humano nesse período, é no seio da família que o espírito se desenvolve e faz suas descobertas que lhe definem a personalidade, o modo de ser como ser humano, como ser social, e também, poderíamos dizer, como “animal metafísico”. A vida do homem, como ser social, é toda constituída de trocas, de intercâmbios, ou seja, de comunicação recíproca com os outros. Em nossas sociedades capitalistas, o que se troca são mercadorias; e tudo o que se troca acaba assumindo a forma de mercadoria: o ensino, o trabalho, os conhecimentos, etc.; de uma forma que surpreenderia civilizações anteriores à nossa. Tudo está à venda, tudo se compra. Não seria hora de redescobrir a família: 1. Seu convívio, sua ética, sua reciprocidade, seus laços de profunda humanidade e aliança, se estendem a perder de vista na sociedade como um todo? 2. Reaprender o amor e fidelidade, depois das experiências de sexo sem amor nem compromisso? 3. Recuperar o ambiente do lar, das relações de verdadeiro amor e diálogo entre os esposos; o enriquecimento da personalidade da mulher através da maternidade; a realização pessoal do homem ao construir uma unidade de ser e vida com a esposa, e em dar a vida e ensinar o caminho aos filhos, como muito mais importante e gratificante que seus êxitos na bolsa, no faturamento da empresa, na conquista dos mercados e derrota dos competidores? O ser humano foi feito para felicidade. Ora, a felicidade está na plena realização de sua natureza humana, racional e emotiva: feita para luta pela vida, mas também para o repouso do guerreiro. Na certa, quase todas as culturas diversas da nossa sociedade-mercadoria, foram mais capazes de produzir seres humanos felizes e ajustados. É a qualidade de vida, a felicidade ‘per capita’, o verdadeiro indicador do sucesso de uma sociedade e de uma cultura; e não o produto nacional ‘bruto’ ou ‘por habitante’. Ora, para essa qualidade total de vida, isto é, para uma vida humana total, a família tem uma importância incomparável.
  • 3. REFERÊNCIAS BUBER, Martim, Eu e Tu. Tradução de N. Aubeu. 2. Ed. São Paulo: Cortez e Moraes, 1979. HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito. Tradução de Paulo Meneses. Petrópolis: Vozes, 1992. _________. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução de O. Vitorino. 4. Ed. [s. l.: s. n], 1990. LÉVI-STRAUSS, Claude. As formas Elementares do Parentesco. Tradução de M. Ferreira. Petrópolis: Vozes, 1982. LINTON, Ralph. O Homem: uma introdução à Antropologia. Tradução de L. Vilela. 10. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1976. MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a Dádiva. Forma e Razão da Troca nas Sociedades Arcaicas. In:_________.Sociologia e Antropologia. Tradução de M. Almeida. São Paulo: E. P. U., 1974. v.2. PINCUS, Lily, DARE, C. Psicodinâmica da Família. Porto Alegre: artes médicas, 1981. VAZ, Henrique C. L. Antropologia Filosófica. São Paulo: Loyola, 1992. v.2. WINNICOT, D. W. Da Pediatria à Psicanálise. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.a