5. Ministério da Justiça
Fundação Nacional do Índio
Coordenação Geral de Índios Isolados
Puduanobi Quixito
Istanshun dada uaid Shubu
Ananda Conde
Organizadora
Posto de Vigilância e Proteção do rio Quixito
Frente de Proteção etno-Ambiental do Vale do Javari
Vale do Javari—2007
6.
7. O Posto de Vigilância e Proteção do rio Quixito,
criado em 2000, faz parte da Frente de Proteção
Etno-Ambiental do Vale do Javari, assim como
a Base Ituí/Itaquaí e o Posto de Vigilância e
Proteção do rio Jandiatuba. Tem por objetivo
defender e proteger a cultura e o território dos
índios isolados do rio Quixito.
Os indígenas Mayoruna ( Matsés ) e Kanamary
são colaboradores das atividades do Posto Quixito.
Para saber mais sobre o Posto Quixito e o trabalho
da Frente de Proteção Etno-Ambiental do Vale do
Javari:
Avenida da Amizade, 789, Centro.
Tabatinga – Amazonas
CEP: 69.640-000
( 9 7 ) 3412-2450
Fundação Nacional do Índio – FUNAI
Coordenação Geral de Índios Isolados – CGII
SRTVS Quadra 902 Bloco A – Edifício Lex Téreo
Plano Piloto – Brasília – Distrito Federal
CEP: 79.340-904
www.funai.gov.br
11. Este material foi elaborado pelos indígenas colaboradores
Mayoruna, do Posto de Vigilância e Proteção do rio Quixito.
Autoria dos textos e desenhos: Benê Dunu Mayoruna
Gerson Binan Gomes Mayoruna
Manoel Manini Mayoruna
Modesto Ëpë Mayoruna
Pelé Bay Mayoruna
Sabino Nacua Mayoruna
12.
13. Conscientizar. Basta uma palavra para explicar o objetivo deste
livro. Depois de um convívio direto com representantes da maioria das
etnias do Vale do Javari, por meio do trabalho com indígenas
colaboradores na Frente de Proteção Etno-Ambiental do Vale do
Javari (FPEVJ), percebe - se a importância de um diálogo constante
com os grupos já contatados acerca dos grupos isolados, para
ampliação do raio de proteção desses últimos. Sabe-se que as
etnias contatadas são personagens essenciais na dinâmica de
preservação dos “parentes” isolados, já que são vizinhos
territoriais e possuem uma ligação cultural histórica.
Basta que os grupos reflitam sobre as conseqüências de um
possível contato, lembrando suas próprias experiências, para se
avançar na dinâmica de proteção. Aí vem, novamente, a já citada
conscientização.
Recordar o passado, os costumes, os fatos peculiares e relatar as
atividades dos postos, são os recursos adotados por esta iniciativa.
Tudo elaborado por meio da expressão peculiar de cada grupo,
ou seja, a língua tradicional indígena. Uma ferramenta informativa e
didática de proteção de longo alcance, que tende a ultrapassar o
dia-a-dia da FPEVJ, atualmente limitado ao contexto de trabalho
nos postos, ainda desconhecido por muitos indígenas e pessoas
envolvidas com o Vale do Javari.
Enfim, ampliar horizontes, propagar a proteção nas aldeias e criar
um espaço informativo, capaz de explicar o trabalho da Frente e
estimular o fortalecimento cultural dos grupos. Audacioso?! Pode
ser, mas só saberemos se tentarmos. Enquanto isso... Testemos.
14.
15. Bëiuc Badiad, 26 de agosto de 2007.
Istanshun dada uaid – Quixito acte
Puduanobi Quixito Yacnoësh.
Nidobi podquiedën nidquinbi shubu istuidonbi.
Quatro( 4 ) q uilometros caid tion shubu istuidombi. Curubon shubu aid
istuidshun bedcaombi. Con matsesën shububinboec quid istuidtanquin
bedcaonbi. Aden bedcabidanec nidobi udictsëc uatuidec ushë cuenbo
icnuc shubu uatuidonbi.
19. Segunda-feira, 26 de agosto de 2007.
Eu fui ver a maloca – rio Quixito
Sai do Posto Quixito.
Eu fui andar até a maloca. Encontrei a maloca a quatro quilômetros de
distância. Maloca de Korubo, igual a da foto. Também igual maloca de
Matsés. Tiramos foto, andei mais e encontrei lugar para fazer
acampamento. Terminei de fazer acampamento, fui pescar e
pesquei matrinxã.
Ananda Conde
20.
21. Depois de pescar, eu comi assado e cozido. Dormi e fui caçar no
outro dia. Encontrei muito caminho e quebrada junto caminho com
cortado de terçado. Encontrei e tirei fotos do caminho, andei
ao redor procurando mais e passei 3 dias acampado.
Depois achei lugar que só havia quebrada, sem corte de terçado, e
tiramos mais fotos.
Ananda Conde
Tiramos fotos todos juntos. Ananda, Egipson Nunes e Raminho
Kanamary e eu,
Gerson Gomes Binan Mayuruna.
39. Matses Tsidambocquido chiaid
Sobre os isolados
Não pode fazer contato com isolado porque leva doença. Ficar
isolado é bom porque não tem doença de branco. É bom ficar
no mato sem doença. Quando tem branco também tem
doença e malária. Antes quando o Mayoruna era isolado não
tinha doença, mas agora tem muita doença que é ruim.
O posto da Base e do Quixito são bons porque cuidam
da terra do isolado e da Terra Indígena. Tem muito isolado na
Terra Indígena, como Korubo e Maia. O isolado não tem
doença de branco, só tem doença deles que curam com
remédio do mato. Quando pega doença de branco o remédio
do mato não cura. O branco tem muita doença. Quando pega
malária só remédio de branco. Hoje o parente Mayoruna gosta
de beber cachaça, fumar tabaco e pega doença de branco.
Não quer fazer cultura, agora que bebe cachaça.
Esqueceu cultura. Não quer fazer lança e flecha. Todo mundo
quer ficar como branco. Bom ficar no mato como isolado. Fu-
nai e a Frente cuidando da Terra Indígena.
40.
41. O índio isolado não conhece o branco e mata o branco porque
não quer doença, não quer morrer.
Antigamente o índio queria matar e agora está bom. Antes,
quando o matsés era isolado tinha muita cultura, fazia cultura
e agora todo mundo esqueceu.
42.
43.
44.
45. Quando matsés era isolado no mato, a mulher fazia panela,
pulseira, muita cultura e agora esqueceu.
O homem também tinha muita cultura quando estava isolado.
Agora o jovem não faz. Só o mais velho que sabe remédio do
mato, a cultura, panela, vassoura.
Todo jovem esqueceu, só quer andar na cidade e não quer
fazer cultura. Antes estava sem doença, lá no mato, sem
conhecer cidade. Agora quer ficar na cidade pega doença. Vai
morrer todo mundo de doença que pega na cidade.
Os brancos ensinaram coisas e os matsés querem ser igual
branco, com roupa nova e sapato. Não quer mais
fazer cultura. Quer tabaco, quer só comer arroz, comida de
branco. Todo mundo quer açúcar e bolacha, só comida de
branco. Assim pega doença e fica fraco.
46.
47. Terça-feira uëshën soles yacnouësh puduanobi adash unbo ushtuidobi.
Ushanec ëndën puduanec nidec 5 ted ushobi adec ushane choqiun
uëshëbuctsan istuidonbi. Istuicshun isnunacac dacuëdosh dacuëdsho
isun uan noshon isac aton shubu ëctash quiosh matses utsi aton
shëcuë ëctash quesho isonbi isbidanec ushtuidobi ushtuid shun
flechera tanbude choquin Curuçá buctuidobi buctuic shun niste acconbi
aid acanec badiadanec pudua nobi curuçan dectatobi adash mananuc
pudundo quin niste nebidanec nide abentsec ushobi ushcuidan shon
Terrinha iacno três hora icnuc istuicshon ubinec nid caunbi Terrinha
yacno istuidobi choson matsés ubi nec nid caunbi.
Nëid tedshun isonbi ubibi.
Saímos do Soles Terça- feira. Andamos muito longe. Saímos seis horas
e andamos cinco dias até o igarapé Flecheira. Fui procurar índio, a
casa do matsés isolado. Todo mundo ficou escondido e viu a casa
deles. Todo mundo andou cinco horas da tarde para ver o índio isolado.
Ficamos escondidos para ver os isolados e depois saímos para terra
firme para dormir. Acordamos cinco horas e descemos o igarapé
Flecheira e encontraram o rio Curuçá. Achamos paxiúba grande e
Shinin derrubou para subir o Curuçá. Subiu o rio achou terra firme e foi
andar. Andamos muito e achamos caminho de Mayoruna que vai para
a comunidade Terrinha. Chegamos no Terrinha três horas e as pessoas
da comunidade levaram todo a gente para a comunidade Nova
Esperança de péc-péc. Nós vimos índio isolado.
61. Eu Vi e vou contar
Eu vi e vou contar. Minha mãe acordou e fez macaxeira e
comi. Escutei Mutum cantando cedo e fui caçar. Não acertei o
Mutum. Andei mais, vi quebrada e segui. Achei quebrada e
pensei que fosse “ outros índios” e queria achar eles, mas
tinha só caminho. Fui mais longe e meu tio achou preguiça e
voltamos meio-dia. Eu voltei para a minha casa( t apiri) e
minha mãe não estava, porque foi buscar macaxeira na roça.
Esperei e ela voltou com macaxeira. Voltei escondido para ver
caminho da quebrada. Minha mãe disse para voltar rápido
porque a comida ia cozinhar rápido. Voltei e fiquei na rede e
contei à minha mãe que vi caminho de outro índio e minha
mãe disse que é outro índio mesmo, isolado. Minha mãe disse
que tem gente lá. Comi e meu pai chegou e queria ver
quebrada, mas eu estava com febre, à noite, não queria ir. Eu
achei que era malária.
Manoel Manini Mayoruna falou e Benê Mayoruna escreveu