1. FACULDADE CAMPOS ELISEOS
PÓS-GRADUAÇÃO
ESPECIALIZAÇÃO EM ARTE-EDUCAÇÃO
ZÉLIA HELENO TRINDADE
REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE MÚSICA NAS ESCOLAS
SÃO PAULO
2012
2. ZÉLIA HELENO TRINDADE
REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE MÚSICA NAS ESCOLAS
Monografia apresentada à Faculdade
Campos Elíseos, como requisito parcial
para a obtenção do título de
Especialista em arte-educação
Orientador(a): Maria Socorro Gonçalves
Torquato
SÃO PAULO
2012
3. ZÉLIA HELENO TRINDADE
REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE MÚSICA NAS ESCOLAS
Monografia apresentada à Faculdade
Campos Elíseos, como requisito parcial
para a obtenção do título de Especialista
Arte-Educação
Aprovado em:
Banca Examinadora
Orientador(a) Prof(a) Ms ____________________________________________
Assinatura________________________________________________________
Prof(a) ___________________________________________________________
Assinatura_________________________________________________________
Prof(a) Ms _________________________________________________________
Assinatura_________________________________________________________
4. “Quero defender uma ideia bastante simples:
que a música é feita para ser bela e para
proporcionar experiências de beleza, e que a
beleza existe para dar alegria, a alegria
estética, que é uma alegria específica,
diferente dos prazeres de que habitualmente
desfrutamos, e queconstitui um dos aspectos
da alegria cultural”. (Snyders, 1992, p. 11).
“Partindo da concepção de que a música é
um meio de comunicação, que serve-se de
uma linguagem, pode-seconcluir que uma
contribuição para a tomada de consciência
do novo, ou do desconhecido, seja uma
dasmais importantes, se não sua mais
importante função.”
(H. J. Koellreutter,1994).
5. RESUMO
Nas últimas décadas, o ensino da música vem sendo praticamente excluído do
currículo escolar do ensino fundamental das escolas brasileiras. Sua prática não vem
sendo trabalhada sistematicamente,permanecendoà margem do currículo escolar.
Este trabalhobusca compreender o sentido e o significado da educação musical
no ensino fundamental e traz como objetivo, detectar e analisar o ensino da música nas
escolas e suas implicações na grade curricular.
Busca também entender os benefícios das práticas musicais no
desenvolvimento humano e, compreender como os resultados dessas transformações se
destacam no aprimoramento de outras áreas, inclusive no aprendizado escolar.
Estudiosos têm comprovado os benefícios que a aprendizagem de música traz
para o desenvolvimento humano. Os estudos apontam que, para além de momentos
prazerosos, o aprendizado de música contribui para o desenvolvimento dos aspectos
cognitivos, emocionais e sociais, promovendo o bem-estar do indivíduo.
Uma das questões que envolvem este trabalho é saber qual o papel da música na
educação formal dos indivíduos.É através da musicalidade vivida e sentida
intensamente que o aluno pode obter um desenvolvimento pessoal mais rico e
abrangente, podendo se tornar um ser melhor.
Desta forma, uma análise é fundamental para se redimensionar o papel da
música na escola e buscar as condições necessárias para que possa vir a ter um valor
significativo no processo de educação escolar.
PALAVRAS-CHAVE :MÚSICA , ALFABETIZAÇÃO,ENSINO- APRENDIZAGEM
6. SUMÁRIO
I-INTRODUÇÃO--------------------------------------------------------------------------------1
II-HISTÓRICO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA-------------------------- 2
A-OS PARÂMETROS CURRICULARES----------------------------------------------------7
B- OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA-----8
B.1- A PRÁTICA COERENTE DO ENSINO DA MÚSICA------------------------------10
B 2-COMO UTILIZAR A MÚSICA NA SALA DE AULA-------------------------------12
C- A MÚSICA E A ALFABETIZAÇÃO-----------------------------------------------------15
C1- A MÚSICA E A INTERDISCIPLINARIDADE---------------------------------------17
C2- A MÚSICA E O PROCESSO DO ENSINO –APRENDIZAGEM------------------20
D- O PAPEL E A FORMAÇÃO DO EDUCADOR MUSICAL---------------------------23
III-CONSIDERAÇÕES FINAIS---------------------------------------------------------------28
IV- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS----------------------------------------------------30
7. I-INTRODUÇÃO
Este trabalho pretende fazer uma reflexão do processo e da dinâmica do ensino da
música nas instituições escolares do ensino fundamental. A partir do histórico do ensino da
música, analisar a sua desvalorização como disciplina e o desconhecimento de sua
importância na formação do jovem.
Para alcançar os objetivos, foram realizadas pesquisas bibliográficas com base em
autores que são autoridades na área e, também, em documentos educacionais.
Observa-se a importância de trabalhar a música em sala de aula de forma consciente,
proporcionando às crianças a oportunidade de interagir com os mais diversos estilos musicais
a fim de desenvolver suas habilidades.
Os estudos revelam também que a música proporciona melhoria no convívio social,
ajudando na superação de problemas como violência e uso de drogas, também favorecendo o
desenvolvimento cognitivo e afetivo.
São muitos os problemas enfrentados pela área de educação musical, dentre eles,
considero como os de maior importância, a falta de sistematização do ensino de música nas
escolas de ensino fundamental e o desconhecimento do valor da educação musical como
disciplina integrante do currículo escolar.
É prática comum nas escolas, principalmente nas séries iniciais, ouvir música na
entrada e na saída do período escolar, no recreio, e ainda, de forma bastante acentuada, nos
momentos de festividades que obedecem a um calendário com datas a serem comemoradas
pela comunidade escolar.
Neste sentido, podemos afirmar que a música está presente no cotidiano escolar de
nossas crianças e jovens. Ela está presente em todo e qualquer lugar, pois vem ocupando cada
vez mais espaços no cenário social da vida contemporânea.
Uma reflexão sobre a atual prática pedagógica musical pode ajudar a esclarecer o valor
da Educação Musical dentro do contexto institucional. Pode-se, ainda, destacar a importância
de estabelecermos uma relação pedagógica com crianças e jovens que propicie a sua
aproximação e o gosto pela música. Precisamos considerar as experiências, necessidades e
linguagens de cada um.
1
8. II-HISTÓRICO DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E SUA
IMPORTÂNCIA
A partir de um estudo histórico, buscou-seelementos que pudessem ajudar a entender
este processo de esvaziamento pelo qual passou o ensino da música.
A escolha deste marco, de 1930 a 1980, se justifica pela importância que a música
ocupou na educação brasileira no contexto da Era Vargas e pela crise em que já se encontrava
no início da década de 80 do século XX, em virtude das mudanças introduzidas no ensino
desta disciplina pela Lei nº 5692/71.
O estudo realizado evidenciou os fundamentos do ensino da música no Brasil neste
período. Neles podem-se observar diferentes perspectivas que acabaram por gerar propostas
curriculares diferenciadas. O ensino da música através do Canto Orfeônico e da Iniciação
Musical (década de 30) absorveu, respectivamente, o mesmo discurso modernista de
musicalizar a todos, embora por caminhos diferentes: o primeiro, por intermédio da educação
de massa, buscando musicalizar os alunos da escola pública; o segundo, a partir do ideário da
escola novista, voltava-se para o atendimento individualizado da criança.
Mais tarde, nos anos 70, dentro da tendência tecnicista, surge uma proposta curricular
com a integração das artes e um professor que tecnicamente deveria estar preparado em várias
linguagens artísticas, proposta esta, influenciada pelo movimento arte-educação em
efervescência no país, neste período.
De acordo com a nova política, alterações são realizadas no currículo das escolas.
Entre estas modificações, a disciplina “Música” passa a integrar, juntamente com as Artes
Plásticas e o Teatro, a disciplina Educação Artística, estabelecida pela Lei nº 5692/71.
Embora acreditassem na possibilidade de desenvolver a sensibilidade pelas artes e o
gosto pelas manifestações artístico-estéticas, na prática, o que ocorreu foi uma interpretação
equivocada dos termos integração e polivalência, que terminou por diluir os conteúdos
específicos de cada área ou por excluí-los da escola.
A partir deste momento, o ensino da música na escola de ensino regular vem sendo
sistematicamente desvalorizado no âmbito educacional brasileiro.
É possível compreender, que o ensino da música hoje requer uma proposta curricular
que considere as diferenças culturais, o respeito à individualidade e as experiências de cada
aluno e, principalmente, as vivências musicais que eles trazem para dentro do espaço escolar.
2
9. O princípio do direito universal da educação para todos está contemplado por meio da
LDB 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sancionada pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso e pelo então ministro da educação Paulo Renato em 20 de
dezembro de 1996. A Lei, em seu artigo Art. 26, § 2º, deixa clara a obrigatoriedade do ensino
da arte, sendo esta componente curricular obrigatória nos diversos níveis da educação básica
com objetivo de auxiliar o desenvolvimento dos alunos.
Ainda, no mesmo artigo, § 6º, define-se a obrigatoriedade do ensino da música
subentendendo-se que a música, bem como as demais disciplinas, deverá ser conteúdo do
currículo nas escolas públicas e que todos, sem distinção alguma, terão oportunidade de
aquisição do conhecimento musical de forma sistemática, embora cientes de que, como as
demais disciplinas, o aprendizado da música neste estágio não habilita os estudantes à prática
profissional da área.
A Lei 11.769, de 18 de agosto de 2008, que trata da alteração sobre a lei supracitada,
em princípio, dá a entender que a preocupação com a regulamentação do ensino da música é
privilégio dos dias atuais, mas, de acordo com Amato (2006), já em 1854, havia tal
preocupação. Conforme a autora, nesse ano, um decreto federal regulamentou o ensino de
música no país. O decreto buscava orientar os docentes, preparando-os com as atividades
dessa área que deveriam ser ministradas aos alunos.
No ano seguinte, outro decreto tratava da legalização contratual de professores de
música por meio de concurso público.
Em relação aos dias atuais, conforme Loureiro (2003), a música na educação escolar
brasileira está ausente há várias décadas.
O motivo, dentre vários fatores, foi a perda de identidade enquanto disciplina ao ser
transformada em 1971 em um dos componentes da disciplina Educação Artística. No entanto
com a intenção de superação da pedagogia tecnicista da época e as preocupações na formação
de indivíduos criativos capazes de enfrentarem os novos desafios, promoveram sua reinserção
nos currículos da escola fundamental.
Percebe-se que a música na educação brasileira ainda é vista como acessório para
entretenimento, como um recurso de reposição em momentos em que não se é possível
cumprir o planejado pelo currículo escolar, sem a importância devida como material didático-
pedagógico que possa contribuir para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem e a
formação do homem.
3
10. As escolas tentam enquadrar-se para a inclusão da nova disciplina usando estratégias,
na maioria das vezes, inadequadas, reforçando a ideia de que essa atividade, como
conhecimento científico, não apresenta o mesmo valor das outras disciplinas.
Ainda que esses procedimentos venham sendo repensados, muitas instituições
encontram dificuldades para integrar a linguagem musical ao contexto educacional. Constata-
se uma defasagem entre o trabalho realizado na área da música e nas demais áreas do
conhecimento, evidenciada pela realização de atividades de reprodução e imitação em
detrimento de atividades voltadas à criação e à elaboração musical.
Nesse contexto, a música é tratada como se fosse um produto pronto, que se aprende a
reproduzir, e não uma linguagem cujo conhecimento constrói. (BRASIL, 1998, p. 45).
De acordo com Loureiro (2003), no Brasil,
a aquisição de habilidades musicais ainda é um
processo acessível somente a uma pequena parcela
das crianças. Mesmo com a legalização para a
implantação no currículo, as dificuldades
encontradas nas escolas públicas brasileiras não
são muito diferentes da realidade do século
XIX.(loureiro 2003, pg.25)
Com a implantação da Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008, a música como
atividade educativa sofre ainda uma série de limitações, tais como carência de material
músico-pedagógico, salas inadequadas, tempo disponível reduzido, além de turmas
numerosas. O número de professores da área ainda está muito aquém do necessário e esse fato
provoca um grande desajuste na educação musical.
Loureiro afirma ainda que a prática é bem diferente do proposto pelas leis. Segundo a
autora, além da falta de infraestrutura, o professor não possui o conhecimento necessário e
acaba transmitindo-o de acordo com sua própria percepção sem os embasamentos técnicos e
científicos devidos, logo, ensina conforme aprendeu, priorizando e considerando apenas o seu
próprio conhecimento, ignorando a música apreciada pelos alunos e suas vivências.
Os conteúdos são fragmentados, desatualizados, abstratos, direcionando o seu ensino a
uma educação imposta, deixando de lado a educação musical de qualidade da escola.
Assim como Loureiro (2003), outros autores compreendem o exercício dessa atividade
como elemento auxiliar em vários aspectos no desenvolvimento da criança. Dentre eles,
Correia (2010) a elege como sendo imprescindível na educação. Segundo o autor,
pedagogicamente, ela é um recurso que enriquece o processo educacional e atribui a ela um
4
11. grande valor artístico, estético, cognitivo e emocional. Para ele, a linguagem musical oferece
possibilidades interdisciplinares.
De acordo com esse autor, a música possui caráter racional, subjetivo e emocional, e
certamente poderá auxiliar no processo ensino-aprendizagem, já que por apresentar
característica interdisciplinar, é de grande valia como instrumento metodológico e didático-
pedagógico.
Acrescenta que a linguagem, principalmente textual, pode ser potencializada por meio
da utilização da linguagem musical, que serve ao processo de ensino-aprendizagem e também
como método alternativo para se aplicar à educação.
Conforme se observa no Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil,
RCNEI (1998), a música é entendida como linguagem musical com capacidade de comunicar
sensações e sentimentos por meio do som e do silêncio e está presente em todas as culturas,
sendo que na Grécia antiga já era considerada fundamental na formação dos futuros cidadãos,
ao lado da Matemática e da Filosofia.
O trabalho com música deve considerar,
portanto, que ela é um meio de expressão e forma
de conhecimento acessível aos bebês e crianças,
inclusive aquelas que apresentem necessidades
especiais. A linguagem musical é excelente meio
para o desenvolvimento da expressão, do
equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento,
além de poderoso meio de integração social.
(BRASIL, 1998 pg.47).
Conforme o Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil RCNEI (1998),
o canto desempenha um papel de grande importância na educação musical infantil, pois
integra a melodia com o ritmo, sendo um excelente meio para desenvolver a audição, já que
as crianças, ao cantar, imitam o que ouvem, o que influencia de maneira extremamente
positiva no desenvolvimento da audição. Ao imitar, as crianças desenvolvem a elaboração do
repertório de informações que se transformará em uma linguagem que servirá para que se
comuniquem posteriormente.
A escola deve promover o envolvimento de pessoas relacionadas à música,
proporcionando assim meios para que os alunos possam tornar-se desde ouvintes sensíveis até
no caso de manifestar desejo de se tornarem músicos profissionais. A escola deve valorizar,
5
12. ajudar e incentivar a criação de eventos, para que os alunos possam se apresentar e mostrar
suas criações.
A educadora musical Elvira Drummond
defende a importância da música para o
desenvolvimento dos hemisférios direito e
esquerdo do cérebro. Conforme a autora, essa
prática ajuda a ativação dos neurônios,
promovendo desenvolvimento motor e social ao
processo de aquisição da linguagem. A educadora
afirma que está cientificamente comprovado que a
música amplia as redes neurais, o que ajuda o
desenvolvimento cognitivo. (Drumond 2010. Pg
50)
Como afirma Stefani (1989), “ouvido para
música” não é algo inato, pois essa habilidade se
forma aos poucos, com trabalho, e são necessários,
sobretudo, muitos exercícios de motivação. Ainda
exemplifica dizendo que, assim como o ouvido do
pastor, que se forma em contato com os sons que
ouve e que necessita para exercer tal função, o
mesmo acontece com o ouvido de um mecânico e,
da mesma forma, o do músico que, com o treino,
aprende a perceber o som do instrumento.
Dessa forma, o esforço para aprendizagem da música é muito importante e há
necessidade de muito treino, porém não de um aprendizado tecnicista, mas, sim, um esforço
na busca por compreender cada passo; saber que habilidade para a percepção musical só surge
com dedicação.
6
13. A-OS PARÂMETROS CURRICULARES (PCNS)
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) citam que a inclusão da música no
ensino fundamental tem o objetivo de oportunizar ao aluno, o desenvolvimento de uma
inteligência musical. Mas, para que ela tenha sucesso na formação do cidadão, é necessário
que todos tenham oportunidades de estarem na posição de ouvintes, intérpretes, compositores
e improvisadores, dentro e fora da sala de aula.
“(...) As oportunidades de aprendizagem de arte,
dentro e fora da escola, mobilizam a expressão e a
comunicação pessoal e ampliam a formação do
estudante como cidadão, principalmente por
intensificar as relações dos indivíduos tanto com
seu mundo interior como com o exterior”. (PCN,
Arte, Introdução, 1998, p.19).
O ensino da música tem por objetivos gerais abrir espaço para que os alunos possam
se expressar e se comunicar através dela, bem como promover experiências de apreciação e
abordagem em seus vários contextos culturais e históricos.
O primeiro objetivo, é a comunicação e a expressão pela música que se dão através da
interpretação, improvisação e composição. O professor deve utilizar como metodologia
atividades que favoreçam esse processo. Tais como, trazer para sala de aula interpretações de
músicas já existentes, para que os alunos possam vivenciar o processo de expressão individual
e grupal, não se esquecendo de fazer conexões com a localidade e a identidade cultural dos
alunos, permitindo-lhes também improvisar, compor, observar e analisar suas estratégias e de
seus colegas nas atividades de produção.
O segundo objetivo é a apreciação da música que se dá pela escuta, envolvimento e
compreensão da linguagem musical. O professor deve, por exemplo, promover uma discussão
e um levantamento de critérios sobre a possibilidade de determinadas produções sonoras
serem ou não músicas, para que a partir daí ele possa explicar as linguagens musicais; dar
espaço para que os alunos possam escutar diversos estilos de música e pedir que eles
percebam as características expressivas e de intencionalidade dos compositores e intérpretes
dessas músicas.
O terceiro objetivo é a abordagem da música em vários contextos culturais e históricos
que se dá através da expressão musical de vários povos em diferentes épocas.
7
14. A metodologia que o professor pode utilizar é trazer para sala de aula diferentes
músicas e a partir delas instigar a curiosidade dos alunos, indagando-os sobre a que cultura
elas pertencem e a partir daí traçar as suas características. Assim como, deve ser incentivada e
motivada a criatividade dos alunos no ato da elaboração e interpretação por meio da música
ou de outra manifestação artística.
Então, após o estudo desses objetivos concluímos que eles abrangem de forma
eficiente os aspectos que devem ser abordados em sala de aula, já que envolvem tanto a
teoria, como a prática e contexto, promovendo um estudo mais completo sobre a música.
B - OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO DA
CRIANÇA
A preocupação atual em formar indivíduos criativos capazes de enfrentar os desafios
do mundo globalizado criaram possibilidades para sua reinserção nos currículos da escola
fundamental.
São muitos os problemas enfrentados pela área de educação musical. Dentre eles,
consideramos como os de maior importância a falta de sistematização do ensino de música
nas escolas de ensino fundamental e o desconhecimento do valor da educação musical como
disciplina integrante do currículo escolar.
Segundo Hentschke, a atual prática da
música, sua forma de apresentar-se para as crianças
e os jovens na fase escolar, isto é, inserida no
âmbito escolar com caráter de atividade lúdica,
descontextualizada de suas realidades cotidianas e
sem consequência “educativa” e indaga: qual o
valor da Educação Musical? “E qual seu papel na
educação formal do indivíduo?” Hentschke (1991
p.60).
“Para Hentschke (1991, p 56)” só a partir de uma reflexão crítica a respeito dos seus
fins, poderemos construir uma estrutura sólida como base de ação para a prática efetiva de
Educação Musical.
A música do Bob Dylan é um exemplo, de como a escolha de uma música é
importante, pois esta pode ser trabalhada de maneira interdisciplinar e abordar vários
assuntos. O trabalho traz sugestões de atividades para demonstrar a variedade de utilizações
de uma música tanto no ensino da língua inglesa como das outras disciplinas.
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15. Além do conteúdo gramatical, interpretação e leitura, é possível explorar aspectos
históricos, políticos, sociais, culturais, religiosos e geográficos. Possibilita a abordagem de
temas transversais, como a violência, cidadania, juventude, drogas, direitos e deveres,
contribuindo para o crescimento cultural e social do aluno enquanto cidadão.
Através das reflexões e discussões, os alunos perceberão que também existem graves
problemas políticos e sociais em outros países. Concluímos que é possível trabalhar qualquer
assunto em Língua Inglesa, com bons resultados, através da utilização de uma música, um
vídeo para iniciar, ou mesmo finalizar o trabalho.
A música pode ser uma ferramenta socioeducativa e disciplinadora, mas para se
utilizar a música, o professor teria que ser capacitado através de cursos presenciais ou à
distância, pois muitos destas utilizações são desconhecidaspor eles.
Scherer (2010), com base na perspectiva histórico-cultural, diz estar a formação de
conceitos relacionada com as possibilidades que os indivíduos encontram no meio em que
vivem e a forma de apropriação desses conceitos. A música, segundo autora, é um
aprendizado que se desenvolve com conhecimento adquirido historicamente. Assim, ao
priorizarmos o ensino dos conceitos musicais em diferentes atividades, estamos estimulando o
estudo da música à criança, proporcionando a ela produtos historicamente acumulados e
importantes para sua formação, porém não de maneiras artificiais por memorização
compulsiva ou repetitiva, mas, sim, com experiências agradáveis.
Segundo Nogueira, pesquisas no final do
século XX confirmam a importância da música no
desenvolvimento da criança. De acordo com ela,
quanto maiores forem os estímulos recebidos pela
criança, maior será o seu desenvolvimento
intelectual. Quando se trabalha sons, se
desenvolvem as capacidades auditivas, trabalhando
gestos e dança, se desenvolvem a coordenação
motora e a atenção e, com o canto, a criança estará
descobrindo suas capacidades e estabelecendo
relações com o meio em que vive. (NOGUEIRA
2003 pg 23)
Outra linha de estudos aponta a proximidade entre a música e o raciocínio lógico
matemático. Segundo Schaw, Irvine e Rauscher (apud CAVALCANTE, 2004) pesquisadores
da Universidade de Wisconsin, alunos que receberam aulas de música apresentavam
9
16. resultados de 15 a 41% superiores em testes de proporções e frações do que os de outras
crianças.
Em outra investigação, Schaw verificou que alunos de 2ª série que faziam aulas de
piano duas vezes por semana, apresentaram desempenho superior em matemática aos alunos
de 4 ª série que não estudavam música.
De acordo com Loureiro, resultados de pesquisas também comprovam a importância
da música clássica como estímulo à concentração. Conforme experiências realizadas com dois
grupos de crianças em fase de aprendizagem que apresentaram resultados favoráveis à
aplicação da música, o que foi comprovado por meio de experimento em que um grupo de
crianças tinha essa atividade e o outro não.
Ainda, quanto aos possíveis benefícios que traria, a autora revela que, além de ser de
grande contribuição para ao desenvolvimento cognitivo, auditivo e corporal, ela mostra
indícios de ser um grande instrumento para o desenvolvimento nos campos afetivo e social.
A autora diz que a música seja por meio de aprendizado de um instrumento ou apenas
pela apreciação, potencializa a aprendizagem cognitiva principalmente no aspecto do
raciocínio lógico, memória e abstração, mas é importante não deixar de lembrar-se de sua
importância na questão afetiva, já que vivemos em uma sociedade competitiva que valoriza
somente os conhecimentos lógicos, raciocínios rápidos e criatividade e que, sem dúvida, a
música também abrange o aspecto emocional do ser humano.
B.1- A PRÁTICA COERENTE DO ENSINO DA MÚSICA
Hentschke (1991, p 58-60) identifica, pelo menos, cinco valores sobre os quais a
prática de educação musical tem sido fundamentada ao longo dos anos. A autora aponta os
valores “social, estético, multicultural, psicológico e tradicional” como valores e crenças que,
através dos tempos, foram apontados por diversas correntes de pensamento, fundamentados
em áreas diversas de conhecimento e que viriam refletir uma concepção de vida, de homem e
de arte, dentre elas, a música. Segundo a autora:
(...) faz-se necessário considerar que
em toda prática educacional estão refletidos os
valores e crenças de seus agentes. Neste
sentido, se esses valores e crenças não
estiverem fundamentados, eles poderão
10
17. facilmente ser transformados ou subjugados a
pressões externas. A convicção e clareza com
que determinados valores são estabelecidos e
assumidos são de fundamental importância,
pois, com base neles, de modo consciente ou
inconsciente, as práticas educacionais são
efetivadas. Portanto, subscrever um valor falso
para a Educação Musical como, por exemplo,
transformando-a em algo lúdico e passageiro,
pode não só trazer prejuízo ao educando como
também para a própria Educação Musical
(Hentschke 1991, p.56).
Para a autora, nesse processo de identificação dos valores da educação musical não
basta categorizá-los, é necessário torná-los coerentes e claramente definidos para a nossa
sociedade.
Essa identificação desses valores favorecerá a organização, pelos educadores, de uma
prática educacional mais coerente com a realidade sociocultural, além de auxiliá-los na busca
de uma metodologia adequada, na tomada de decisões como, por exemplo, sobre modos de
atuar e agir, definir programas e currículos, formas de avaliar, escolha de material didático.
No que se refere à educação pela música dentro dessa nova sociedade em fase de
desenvolvimento sociocultural, em que sistemas ligados à comunicação de massa, ao
desenvolvimento acelerado da tecnologia dominam o cenário nacional, surge a necessidade de
fazê-la interagir com este mundo globalizado, numa tentativa de torná-la mais próxima do
homem, prevenindo, dessa forma, o declínio de sua importância social.
Na sociedade moderna (...) a arte torna-se um meio
de preservação e fortalecimento da comunicação
pessoa a pessoa e de sublimação da melancolia, do
medo e da tristeza, fenômenos que ocorrem pela
manipulação bitolada das instituições públicas e se
tornam fatores hostis à comunicação. Ela se
transforma num instrumento do progresso, do
soerguimento da personalidade e de estímulo à
criatividade (Koellreutter 1997b, p.38-39).
11
18. A música é compreendida como forma de ampliar o conhecimento cultural das
crianças e jovens no período que abrange a educação básica e, também, como fator que
contribui para o desenvolvimento no ensino-aprendizagem escolar.
A educação musical na escola deveria objetivar despertar a sensibilidade musical, o
desenvolvimento cognitivo, o afetivo e as relações interpessoais, tendo em vista que seu
caráter cultural diversificado propicia o respeito pelas diferentes culturas e pode contribuir
para o desenvolvimento da criança, dando a ela oportunidade de conhecimento e valorização
da vida e, por apresentar caráter interdisciplinar, é favorável sua inserção no currículo escolar.
Considerar o amplo acesso que se tem à música fora da escola não justifica a sua falta
no currículo escolar, uma vez que essa música chega aos nossos ouvidos sem nenhuma
discriminação e consciência por parte de quem ouve. Além do mais, é negado ao aluno o
acesso a uma área do conhecimento que certamente poderá levá-lo a desenvolver o potencial
artístico e criador, além de permitir que esses desenvolvam uma apreciação musical crítica e
consciente. Armazenar, memorizar informações, conhecimentos estáticos
edescontextualizados não são mais situações possíveis nos dias atuais.
O momento atual requer a valorização da intuição, da criatividade e da livre expressão
do aluno para encarar e lidar com as diversas situações do seu cotidiano seja dentro ou fora do
contexto escolar. (LOUREIRO, 2003, p.142).
As músicas apresentadas fora do espaço escolar nem sempre são de boa qualidade,
com intuito de enriquecer o processo educacional, por isso sua implantação no currículo é
favorável segundo educadores musicais.
B.2- COMO UTILIZAR A MÚSICA NA SALA DE AULA
A música pode ser entendida, ainda, como um estímulo para que o aluno se sinta
valorizado, reforçando sua autoestima, e descobrindo-se como um ser importante, podendo
compor um grupo musical. Isso acontece porque, embora cada pessoa demonstre uma
habilidade maior em determinado instrumento ou tom de voz, poderá participar de trabalho a
ser realizado porque se ajustará em equipe.
Conforme Fialho (2007), Demori (2007) e Araldi (2007), ensinar música na escola não
significa necessariamente o ensinar a tocar um instrumento especifico, mas, sim, apresentá-la
como área do conhecimento e suas especificidades, com intuito de possibilitar usar práticas
12
19. musicais coletivas e conteúdos que ajudem na formação do aluno. Também, conforme as
autoras, a simples apreciação já é um bom exercício para os principiantes.
A partir de uma simples aula sem obrigação, o aluno pode dar sua opinião, expor seu
ponto de vista e, assim, começar a agir com visão crítica, podendo experimentar cantar,
compor ou tocar um instrumento musical. Quando o professor utiliza essa atividade como
instrumento didático-pedagógico, além de ampliar os conhecimentos, pode também
proporcionar ao aluno momentos agradáveis, estimulando-o a expressar-se artisticamente e,
assim, superar as angústias vividas no dia a dia, por meio de momentos prazerosos
proporcionados pela arte.
Na escola, conforme afirma Lima (2008, p.17), o professor tem a oportunidade de
passar, por meio da música, conteúdos sistematizados, trabalhando de forma que aluno possa
apropriar-se de amplo conhecimento. Ela pode ser utilizada com crianças bem pequenas,
como os bebês e até com os adolescentes, como elemento de aproximação com os professores
facilitando o relacionamento entre ambos.
Cumpre frisar que por meio da interação social com adultos ou companheiros,
brinquedos, objetos, é que ocorre a apropriação do saber, a criança aprende com o mundo que
a rodeia. Deste modo, com a música, a criança interage com o ritmo, com a letra e aprende
com os colegas e professores até mesmo a treinar sua voz, assim, a aprendizagem ocorre por
meio do estimulo do convívio social e serve de base para novas aprendizagens, já que a cada
etapa apreendida, um novo desafio surgirá e começará um novo empenho para chegar à
próxima.
Sua importância para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças da educação
infantil também é reconhecida nos documentos oficiais. Segundo os Referenciais Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil RCNEI (1998), sendo a música uma linguagem de caráter
lúdico, o professor ao se utilizar desse elemento sonoro torna o ensino mais atrativo, já que
esta pode proporcionar às crianças, momentos especiais de prazer.
As artes expressam as características culturais, políticas e sociais de cada época
através de suas obras, sejam na pintura, na arquitetura, no cinema, na literatura ou na música.
Diversos foram os pensadores de distintas áreas do conhecimento que se preocuparam em
entender a relação entre arte e sociedade, criando teorias que estavam além do caráter social,
abrangendo também os aspectos estéticos, históricos e filosóficos.
Bay (2006, p. 3) salienta que “o traço
comum a todas essas abordagens é a
13
20. constatação de que arte e sociedade são
conceitos indissociáveis, uma vez que ambos
se originam da relação do homem com seu
ambiente natural”.
Corroborando com a afirmação, Bauman (1998) entende a arte como um movimento
de vanguarda que “abre” caminhos para a sociedade se guiar.
Nesse sentido, poder-se-ia dizer que a criação artística é influenciada por diversos
setores que fazem parte de nossas vidas, sejam eles sociais, políticos, econômicos, culturais e
de relações humanas, levando sempre em consideração a história e a diversidade cultural da
sociedade em seu tempo e lugar. Além disso, a música em seu significado próprio comunica
sentidos que, de alguma maneira, constroem subjetividades humanas.
Para o historiador José Geraldo Vince, da Universidade Estadual de São Paulo
(UNESP), por ser uma dimensão da cultura humana, a música está completamente assentada
à sociedade da qual faz parte.
A música revela e constrói a sociedade da
qual participa, e é, ao mesmo tempo, construída
por ela. A música faz parte do universo humano,
da cultura humana, e obviamente influencia os
modos de vida e as relações sociais dos que estão a
sua volta; e a sociedade, por outro lado, está
construindo a música a todo o
momentoreconstruindo e repensando. (VINCE,
2010, s/p).
No contexto escolar, a música tem a finalidade de ampliar e facilitar a aprendizagem
do educando.
A utilização da música pode ajudar a enriquecer o trabalho pedagógico, facilitando a
compreensão dos fatos históricos e a formação de sujeitos críticos, atitude tão reforçada nas
propostas curriculares.
Incentivar a aprendizagem de Língua Inglesa através dos Gêneros textuais, nesse
caso, as músicas facilitam a interação entre professor/aluno, porque a letra da música é a
expressão do sentimento do autor que é registrado através da língua escrita, em um
determinado momento de sua vida e esse tipo de texto está inserido no cotidiano dos alunos,
que muitas vezes, não estão atentos para a mensagem que a letra transmite.
14
21. B-A MÚSICA E A ALFABETIZAÇÃO
Alunos desinteressados, com pouca concentração e baixo comprometimento,
apresentando superficialidade em suas relações com o ensino-aprendizagem precisam ser
estimulados a experimentar formas de apreensão da linguagem musical, mesclando estilos e
procedimentos, proporcionando maior abertura para o diálogo e o fazer musical, aliando
experiências e vivências com as possibilidades do encontro com o novo.
A reportagem publicada no Jornal Folha de S. Paulo, Caderno Cotidiano, do dia 11 de
setembro de 2000, de responsabilidade de Fernanda Krakovics, sob o título “Música ajuda
naalfabetização de crianças”diz, em seu primeiro parágrafo, que “a música é cada vez mais
usada para alfabetizar, resgatar a cultura e ajudar na construção do conhecimento de crianças
carentes. Projetos que envolvem a música na integração social se espalham por todo o país e
são exemplos de sucesso”.
Ainda na mesma reportagem, a diretora de cultura da Didá Escola de Música, em
Salvador, Vivian Queiroz, diz que “a rotina das oficinas de percussão, teclado, bateria, canto e
instrumentos de corda desenvolvem nas crianças e adolescentes, sem que eles percebam,
valores como disciplina e integração”. Segundo Vivian, a música está presente, desde muito
cedo, nocotidiano das crianças e, por isso, “elas (as crianças) têm uma sensibilidade musical
impressionante, em grande parte porque acordam e dormem ouvindo música”.
Outra iniciativa de educação através da música acontece na escola Centro Educacional
Daruê Malungo, na cidade de Recife. Lá, além das aulas de percussão e de outras oficinas
culturais, são oferecidas aulas de alfabetização onde o método de ensino, porém, é baseado na
música.
Segundo a diretora Vilma Carijós, “aqui o „a‟ é de atabaque, e não de avião, o „b‟ é de
berimbau e o „c‟, de caxixi. Também utilizamos como texto letras de música”.Acredita que,
desta forma, facilita a aprendizagem dos alunos “por fazer parte da vida deles”.
Há outro projeto, intitulado “Música na Escola”, parceria da Secretaria Municipal do
Rio de Janeiro com o Conservatório de Música Brasileira, que também trabalha a música em
classes de alfabetização. Esse projeto envolve os professores da rede municipal de ensino que,
15
22. depois de frequentarem oficinas de capacitação em que têm aulas de voz, construção de
instrumentos e cultura popular, aplicam o que aprenderam em salas de aula.
Segundo o educador musical Sérgio Henrique Alves de Andrade, a música não está na
escola como uma atividade recreativa, mas sim na construção do conhecimento.
Ele vê como primordial no projeto, o resgate cultural, e ressalta que:“as crianças geralmente
não têm acesso à música popular, à diversidade de ritmos. Quando levamos isso para a sala de
aula, elas se interessam”.
A importância da música na formação da cidadania se torna mais importante neste
momento em que nas palavras de Peixoto:
“A globalização, em sua tendência a tudo
igualar, vem rompendo as tradições e
derrubando fronteiras. Não sendo possível
escapar à sua lógica, inserida nas redes da
informática, que arquitetam nossas vidas, não
havendo outro remédio senão navegar nas
águas globais, é indispensável contar com uma
bússola e uma âncora. A bússola: a
informação, o conhecimento tanto a nível
individual, como coletivo, a educação. A
âncora – saber quem somos para não nos
perdermos”
(Peixoto, 1998, p.6).
Desta forma, uma análise é fundamental para se redimensionar o papel da música na
escola e buscar as condições necessárias para que possa vir a ter um papel e um valor
significativo no processo de educação escolar.
Atualmente, sabemos que poucas escolas incluem em seu currículo a disciplina
música. Quando há, o que encontramos é o uso excessivo da prática do cantar. Canta-se
demais, de modo inconsciente e mecânico e, o que é ainda pior, sem levar em consideração a
realidade do aluno, levando-o, cada vez mais, a distanciar-se do prazer musical.
Portanto, para que tal situação possa ser modificada, acreditamos ser necessário,
trabalhar o conteúdo musical dentro de uma visão de currículo mais humanista, onde
possamos envolver e desenvolver musicalmente o aluno, considerando sua vivência e
experiência, valorizando suas habilidades e potencial criativo e integrando, sempre que for
possível, o conteúdo musical aos demais conteúdos desenvolvidos por outras áreas artísticas e
às demais disciplinas do currículo.
16
23. ]
B.1- A MÚSICA E A INTERDISCIPLINARIDADE
Na concepção de Correia (2010), essa atividade auxilia na aprendizagem e é
componente histórico de qualquer época, ajuda no estudo de questões sociais e políticas e,
para o professor, serve de instrumento didático-pedagógico em vários seguimentos de forma
prazerosa, auxiliando também na expressão e comunicação e no desenvolvimento do
raciocínio lógico.
Portanto, deveria ser incentivada a interdisciplinaridade e os currículos de ensinos
deveriam adotá-las para trabalhar a cooperação, socialização, minimizando, assim, as
barreiras que atrasam a democratização curricular do ensino. Assim conforme o autor: a
música auxilia na aprendizagem de várias matérias. Ela é componente histórico de qualquer
época, portanto oferece condição de estudos na identificação de questões, comportamentos,
fatos e contextos de determinada fase da história. Os estudantes podem apreciar várias
questões sociais e políticas, escutando canções, música clássica ou comédias musicais.
O professor pode utilizar a música em
vários segmentos do conhecimento, sempre de
forma prazerosa, bem como na expressão e
comunicação, linguagem lógico matemática,
conhecimento científico, saúde e outras. Os
currículos de ensino devem incentivar a
interdisciplinaridade e suas várias possibilidades.
(CORREIA, 2003, p. 84-85).
Ainda, conforme o autor, a música serve como elemento de aproximação:
A utilização da música, bem como o uso de outros
meios, pode incentivar a participação, a
cooperação, socialização, e assim destruir as
barreiras que atrasam a democratização curricular
do ensino. [...] A prática interdisciplinar ainda é
insípida em nossa educação (CORREIA, 2003, p.
85).
17
24. O autor cita sua prática como professor de Geografia que aplica a música como
recurso metodológico. Entende que ela serve como instrumento para a orientação das
atividades, já que podem ser utilizadas linguagens musicais em forma de canções, com letras
que vêm ao encontro dos conteúdos trabalhados e, através de descrições pessoais após as
seções sonoras ouvidas pelos educandos, são realizadas discussões sobre o conteúdo e os
alunos têm oportunidade de mostrar sua criatividade e conhecimentos adquiridos, sendo uma
metodologia muito apreciada pelos jovens.
Nas últimas décadas, principalmente a partir dos anos 80, a música cada vez mais vem
despertando o interesse de estudiosos e pesquisadores, não só por parte das ciências musicais,
como também na área da história, da filosofia e da sociologia como um instrumento de grande
relevância para compreender nossa história e a realidade que nos cerca.
Por ser uma forma de manifestação e expressão do homem, as artes, aqui
especificamente, a música, torna-se um campo privilegiado para abordar questões e temas
importantes que fazem parte do nosso cotidiano. Nesse sentido, poder-se-ia dizer que a
criação artística é influenciada por diversos setores que fazem parte de nossas vidas, sejam
eles sociais, políticos, econômicos, culturais e de relações humanas, levando sempre em
consideração a história e a diversidade cultural da sociedade em seu tempo e lugar. Além
disso, a música em seu significado próprio comunica sentidos que, de alguma maneira,
constroem subjetividades humanas.
Para o historiador José Geraldo Vince, da Universidade Estadual de São Paulo
(UNESP), por ser uma dimensão da cultura humana, a música está completamente assentada à
sociedade da qual faz parte.
A música revela e constrói a sociedade da qual participa, e é, ao mesmo tempo,
construída por ela. A música faz parte do universo humano, da cultura humana, e obviamente
influencia os modos de vida e as relações sociais dos que estão a sua volta; e a sociedade, por
outro lado, está construindo a música a todo o momento, reconstruindo e repensando.
(VINCE, 2010, s/p).
O autor acima se refere à construção da música e sua relação com a sociedade como
uma via de mão dupla. Não podendo separar uma coisa da outra. O autor procura mostrar o
quanto música e sociedade são constituintes e constituidoras das questões sociais, políticas,
econômicas e culturais de uma determinada época.
Em relação aos dias atuais, conforme Loureiro (2003), a música na educação escolar
brasileira está ausente há várias décadas. Sua ausência nos currículos se explica por vários
18
25. fatores, entre os quais merece destaque sua perda de identidade como disciplina ao ser
transformada em 1971 em um dos componentes da disciplina Educação Artística.
A preocupação atual em formar indivíduos criativos capazes de enfrentar os desafios
do mundo globalizado criaram possibilidades para sua reinserção nos currículos da escola
fundamental.
São muitos os problemas enfrentados pela área de educação musical. Dentre eles,
consideramos como os de maior importância à falta de sistematização do ensino de música
nas escolas de ensino fundamental e o desconhecimento do valor da educação musical como
disciplina integrante do currículo escolar.
Segundo Hentschke a atual prática da
música, sua forma de apresentar-se para as crianças
e os jovens na fase escolar, isto é, inserida no
âmbito escolar com caráter de atividade lúdica,
descontextualizada de suas realidades cotidianas e
sem consequência “educativa” e indaga: qual o
valor da Educação Musical? “E qual seu papel na
educação formal do indivíduo?” Hentschke (1991
p.60).
“Para Hentschke (1991, p 56)” só a partir de uma reflexão crítica a respeito dos seus
fins, poderemos construir uma estrutura sólida como base de ação para a prática efetiva de
Educação Musical.
A música do Bob Dylan é um exemplo, de como a escolha de uma música é
importante, pois esta pode ser trabalhada de maneira interdisciplinar e abordar vários
assuntos. O trabalho traz sugestões de atividades para demonstrar a variedade de utilizações
de uma música tanto no ensino da língua inglesa como das outras disciplinas.
Além do conteúdo gramatical, interpretação e leitura, é possível explorar aspectos
históricos, políticos, sociais, culturais, religiosos e geográficos. Possibilita a abordagem de
temas transversais, como a violência, cidadania, juventude, drogas, direitos e deveres,
contribuindo para o crescimento cultural e social do aluno enquanto cidadão.
Através das reflexões e discussões os alunos perceberão que também existem graves
problemas políticos e sociais em outros países. Concluímos que é possível trabalhar qualquer
assunto em Língua Inglesa, com bons resultados, através da utilização de uma música, um
vídeo para iniciar, ou mesmo finalizar o trabalho.
19
26. A música pode ser uma ferramenta sócio- educativa e disciplinadora, mas para se
utilizar a música, o professor teria que ser capacitado através de cursos presenciais ou à
distância, pois muitos destas utilizações são desconhecidas por eles.
B.2- A MÚSICA E O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
A música é compreendida como forma de ampliar o conhecimento cultural das
crianças e jovens no período que abrange a educação básica e, também, como fator que
contribui para o desenvolvimento no ensino-aprendizagem escolar.
A educação musical na escola deveria objetivar despertar a sensibilidade musical, o
desenvolvimento cognitivo, o afetivo e as relações interpessoais, tendo em vista que seu
caráter cultural diversificado que propicia o respeito pelas diferentes culturas e pode
contribuir para o desenvolvimento da criança, dando a ela oportunidade de conhecimento e
valorização da vida e, por apresentar caráter interdisciplinar, é favorável sua inserção no
currículo escolar.
Na concepção de Correia (2010), essa
atividade auxilia na aprendizagem e é componente
histórico de qualquer época, ajuda no estudo de
questões sociais e políticas e, para o professor,
serve de instrumento didático-pedagógico em
vários seguimentos de forma prazerosa, auxiliando
também na expressão e comunicação e no
desenvolvimento do raciocínio lógico. (CORREA
2010 p.20)
Portanto, deveria ser incentivada a interdisciplinaridade e os currículos de ensinos
deveriam adotá-las para trabalhar a cooperação, socialização, minimizando, assim, as
barreiras que atrasam a democratização curricular do ensino. Assim conforme o autor: A
música auxilia na aprendizagem de várias matérias, ela é componente histórico de qualquer
época, portanto oferece condição de estudos na identificação de questões, comportamentos,
fatos e contextos de determinada fase da história.
A utilização da música, bem como o uso
de outros meios, pode incentivar a participação, a
cooperação, socialização, e assim destruir as
barreiras que atrasam a democratização curricular
do ensino. A prática interdisciplinar ainda é
20
27. insípida em nossa educação (CORREIA, 2003, p.
85).
A música como disciplina escolar, deve ser considerada como uma melhoria no
currículo escolar brasileiro e, mesmo em meio a tantas dificuldades, ainda configura-se como
oportunidade de levar um pouco de música com qualidade, contradizendo assim as influencias
negativas veiculadas pela mídia, que contribuem para degradação dos valores humanos.
Considerar o amplo acesso que se tem à música fora da escola não justifica a sua falta
no currículo escolar, uma vez que essa música chega aos nossos ouvidos sem nenhuma
discriminação e consciência por parte de quem ouve. Além do mais, é negado ao aluno o
acesso a uma área do conhecimento que certamente poderá levá-lo a desenvolver o potencial
artístico e criador, além de permitir que esses desenvolvam uma apreciação musical crítica e
consciente.
Armazenar, memorizar informações,
conhecimentos estáticos e descontextualizados
não são mais situações possíveis nos dias atuais. O
momento atual requer a valorização da intuição,
da criatividade e da livre expressão do aluno para
encarar e lidar com as diversas situações do seu
cotidiano seja dentro ou fora do contexto escolar.
(LOUREIRO, 2003, p.142).
As músicas apresentadas fora do espaço escolar nem sempre são de boa qualidade,
com intuito de enriquecer o processo educacional, por isso sua implantação no currículo é
favorável segundo educadores musicais.
Conforme Loureiro, essa atividade como
componente curricular é uma oportunidade para
que o aluno tenha acesso a essa área do
conhecimento e, ela, integrando o currículo
escolar, se aplicada de forma correta, com
profissionais especialistas na área, contribuirá para
desenvolver habilidades criativas que ajudarão o
aluno a criar, inovar em todas as situações, além de
proporcionar momentos oportunos de descontração
favorece o desenvolvimento cognitivo.
(LOUREIRO,2003 p,143)
21
28. Pode ser entendida, ainda, como um estímulo para que o aluno se sinta valorizado,
reforçando sua autoestima, e descobrindo-se como um ser importante, podendo compor um
grupo musical. Isso acontece porque, embora cada pessoa demonstre uma habilidade maior
em determinado instrumento ou tom de voz, poderá participar de trabalho a ser realizado
porque se ajustará em equipe.
Conforme Fialho (2007), Demori (2007) e
Araldi (2007), ensinar música na escola não
significa necessariamente o ensinar a tocar um
instrumento especifico, mas, sim, apresentá-la
como área do conhecimento e suas especificidades,
com intuito de possibilitar usar práticas musicais
coletivas e conteúdos que ajudem na formação do
aluno. (2007 p.34)
Também, conforme as autoras, a simples apreciação já é um bom exercício para os
principiantes. A partir de uma simples aula sem obrigação, o aluno pode dar sua opinião,
expor seu ponto de vista e, assim, começar a agir com visão crítica, podendo experimentar
cantar, compor ou tocar um instrumento musical.
Quando o professor utiliza essa atividade como instrumento didático- pedagógico,
além de ampliar os conhecimentos pode proporcionar aos alunos momentos agradáveis,
estimulando-o a expressar-se artisticamente e, assim, superar as angústias vividas no dia a dia,
por meio de momentos prazerosos proporcionados pela arte.
Na escola, conforme afirma Limao
professor tem a oportunidade de passar, por meio
da música, conteúdos sistematizados, trabalhando
de forma que aluno possa apropriar-se de amplo
conhecimento. Ela pode ser utilizada com crianças
bem pequenas como os bebês e até com os
adolescentes como elemento de aproximação com
os professores facilitando o relacionamento entre
ambos. (Lima 2008, p.17)
Cumpre frisar que por meio da interação social com adultos ou companheiros,
brinquedos, objetos, é que ocorre a apropriação do saber, a criança aprende com o mundo que
a rodeia. Deste modo, com a música, a criança interage com o ritmo, com a letra e aprende
com os colegas e professores até mesmo a treinar sua voz, assim, a aprendizagem ocorre por
meio do estimulo do convívio social e serve de base para novas aprendizagens, já que a cada
22
29. etapa apreendida, um novo desafio surgirá e começará um novo empenho para chegar à
próxima.
Sua importância para o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças da educação
infantil também é reconhecida nos documentos oficiais. Segundo os Referenciais Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil RCNEI (1998), sendo a música uma linguagem de caráter
lúdico, o professor ao se utilizar desse elemento sonoro torna o ensino mais atrativo, já que
esta pode proporcionar as crianças momentos especial de prazer. Assim sendo, ela pode ser
uma grande aliada no processo de ensino e aprendizagem e um rico instrumento de
comunicação e socialização.
Ainda, de acordo com o documento, esse tipo de trabalho deve ser considerado um
importante meio de expressão e forma de conhecimento também para os bebês e as crianças
com necessidades especiais, porque a linguagem musical é um excelente meio para o
desenvolvimento da expressão, equilíbrio, autoestima e autoconhecimento e ótimo meio para
promover a integração social.
C - O PAPEL E A FORMAÇÃO DO EDUCADOR MUSICAL
A educação musical vive um momento singular nesta virada de século, neste mundo
globalizado e informatizado. O esforço que a educação musical vem fazendo ao longo dos
anos para ser legitimada diante das instituições educacionais e da sociedade brasileira
reafirma as ideias, as proposições e as propostas construídas na luta pelo reconhecimento da
área e pela valorização do educador musical.
Nesta fase de mudanças de nossa sociedade, de sucateamento da educação em todos os
níveis, a educação musical que busca a democratização do ensino de música nas escolas, que
enfoca o indivíduo em sua totalidade, busca, antes de tudo, uma formação de qualidade para o
professor do magistério.
A área de educação musical vem discutindo a formação e a preparação do educador
musical. Surge aqui a questão: quem deveria ensinar música aos milhares de jovens e crianças
que frequentam as escolas de ensino fundamental do país?
Busca-se um perfil de quem seja um educador musical de quais suas funções de ensino
aprendizagem de música. Quem é esse profissional?
Poderá se o músico (aquele diplomado em instrumento, composição ou regência),
deverá ser aquele que conhece e trabalha as dimensões da experiência musical por meio de
23
30. múltiplas maneiras de nos relacionarmos com a música, ou o professor de classe? Qual o seu
papel no intuito de resgatar a credibilidade do ensino de música como área de conhecimento
e, principalmente, como disciplina escolar.
Hoje, encontra-se uma nova proposta curricular para o ensino de arte; os Parâmetros
Curriculares nacionais (PCNs) elaborados pela secretaria de Ensino Fundamental, essas
diretrizes apontam para uma flexibilidade e uma abertura na aquisição de conhecimentos,
indicando uma prática fundamentada na experiência e na atuação ativa do aluno. Porém, o
fato musical, sua organização e compreensão, dependem da formação básica de professores e
educadores musicais, preparados para adequar-se às características e às necessidades de
alunos em diferentes fases de seu desenvolvimento.
A questão que se coloca hoje para a formação do profissional da música, não é apenas
a busca do conhecimento, mas como selecioná-lo e administrá-lo dentro do contexto escolar.
A questão do universo musical utilizado pelos educadores musicais exige um mínimo de
conhecimentos a serem adquiridos e apropriados em sala de aula para que possam ser
trabalhados no atendimento dos interesses e das necessidades dos alunos, inclusive com a
possibilidade de modificação e renovação.
Nesse sentido, é grande a responsabilidade da universidade, como espaço legítimo de
produção e propagação do conhecimento além de ser, inegavelmente, lugar de reflexões e
críticas de um conhecimento em constante mutação, diante de uma sociedade na qual se
articula uma pluralidade de discursos, principalmente os existentes na área da educação.
Skeff (1997, p.199) baseado em sua própria experiência na formação artístico musical
de jovens, futuros profissionais, acredita que: o novo perfil de profissional deve envolver uma
especificidade que transcenda a mera habilidade técnica, exigindo, sim, um desenvolvimento
amplo e contínuo que responda às exigências do novo cenário cultural e mercadológico,
garantindo autonomia a esse futuro profissional.
Embora nos meios científicos e acadêmicos a música seja reconhecida, na realidade
isso não ocorre nas escolas, o que encontramos nelas são práticas isoladas, bastante variáveis
e irregulares. Em algumas escolas, há professor e carga horária específicos para música, em
outras, só há o ensino da música na educação infantil (mesmo assim como função recreativa);
em outras, a aula de música se resume a formar e a ensaiar uma banda ou coral, porém, tais
práticas envolvem apenas alguns alunos, deixando a maioria excluída.
Apesar de existir um consenso entre produção científica, as educadoras musicais e as
professoras de ensino fundamental sobre a importância da música na educação da criança e do
24
31. jovem, sua implementação na escola como ocorre, está muito distante de seu verdadeiro
significado, priorizando, aspectos disciplinares e atividades festivas.
O espaço reservado para a música está incluído no da educação artística, disciplina que
ainda tem priorizado as artes plásticas ou cênicas. O professor de educação artística, de
formação abrangente e polivalente, não encontra meios para desenvolver objetivos
propriamente musicais.
Concepções e práticas musicais adotadas nas escolas refletem, em sua maneira o
modelo conservatorial de ensino da música. Ocorre que o pouco investimento na licenciatura
em música e, consequentemente a prioridade depositada no bacharelado, fazem com que
bacharéis em música, por falta de opções no mercado de trabalho, tendam a optar pelo
magistério.
Essa inserção na rede de ensino regular acaba por ser desastrosa, uma vez que esses
profissionais não tiveram uma formação adequada em que tivessem ocorrido a reflexão e a
discussão das questões específicas do ensino de música. O confronto com as dificuldades
oriundas da realidade escolar na qual se veem inseridos é por demais desafiador e, muitas
vezes, desestimulante.
O método tradicional torna-se para o professor seu principal aliado no processo
educacional. Cristalizado na sua própria formação, o professor passa a ensinar conforme
aprendeu. Priorizando e considerando apenas seu próprio conhecimento e sua própria
experiência musical, ignorando a música apreciada pelos jovens e suas vivências, e adotando
conteúdos fragmentados, desatualizados, o ensino da música não atende às expectativas de
levar a educação de qualidade para a escola.
Além disso, esse modelo não é o mais adequado quando se tem aluno proveniente de
diversas camadas da sociedade, de diferentes meios culturais, onde a música erudita, séria e
de valor é excluída e, consequentemente, menos ouvida, compreendida e aceita.
O fato é que se há música como disciplina escolar, pouco tempo é reservado para sua
prática, a não ser como recreação ou como recurso didático, auxílio imediato para a promoção
de festas escolares ou para minimizar as dificuldades no processo de ensino e aprendizagem.
Na maioria das escolas onde há o ensino de música, os professores continuam
reduzindo essa disciplina à realização de atividades lúdicas, com aspectos agradáveis, em que
o produto final é mais importante do que o processo de aprendizagem, que busca, como
objetivo, a aquisição de um novo conhecimento.
25
32. A música como atividade educativa, quando inserida no contexto escolar, encontra
ainda, uma série de limitações, tais como carência de material músico- pedagógico, salas
inadequadas, tempo disponível reduzido, além de turmas numerosas heterogêneas.
Essas dificuldades prejudicam o trabalho do professor que não está preparado para
desenvolver objetivos propriamente musicais e lidar com os imprevistos presentes em sua
prática pedagógica diária.
Outro limite que se impõe à educação musical escolar é a ausência de um método
atrativo e realista que, em concordância com o desenvolvimento psicossocial do aluno, que
lhe possibilite um aprendizado prazeroso, acessível e voltado para o seu crescimento pessoal.
São raras as escolas que dispõem de um trabalho musical bem orientado e
metodologicamente estruturado, com possibilidades de garantir sua continuidade.
O processo de ensino aprendizagem requer constante adequação e renovação de
atividades e materiais músico pedagógicos, conhecimento e disponibilização de recursos
metodológicos que possam promover as condições necessárias como forma de assegurar a
apreensão do conhecimento musical.
É preciso dar a educação musical um caráter progressivo, que deve acompanhar a
criança ao longo de seu processo de desenvolvimento escolar. Momentos devem ser
adaptados a suas capacidades e a seus interesses específicos.
Cantos, ritmos e sons de instrumentos regionais e folclóricos. A música vai invadir
salas, pátios e jardins das escolas do país. A disciplina defendida por um dos mais talentosos
maestros brasileiros, Heitor Villa-Lobos (1887-1959), volta a ser obrigatória na grade
curricular dos ensinos fundamental e médio. Para especialistas, a aprovação da Lei nº 11.769
em agosto de 2008, significa uma formação mais humanística dos estudantes, na qual serão
desenvolvidas habilidades motoras, de concentração e a capacidade de trabalhar em grupo, de
ouvir e de respeitar o outro.
A nova legislação altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), fazendo da
música o único conteúdo obrigatório, porém não exclusivo. As demais áreas artísticas deverão
ser contempladas dentro do planejamento pedagógico das escolas.
Antes da regra, a música era conteúdo optativo na rede de ensino, a cargo do
planejamento pedagógico das secretarias estaduais e municipais de educação. No ensino geral
de artes, a escola podia oferecer artes visuais, música, teatro e dança. “A educação musical no
Brasil é bastante diversificada e descontínua. Existem projetos duradouros de ótima
26
33. qualidade, ao lado de muitos trabalhos que são apenas esporádicos, não oferecendo formação
musical para todos os estudantes. Com a lei, isto vai mudar”, explica Figueiredo.
Durante os próximos três anos, escolas, diretores e professores terão de se adaptar a
nova regra. “A formação de professores é o principal desafio, por isso, temos que batalhar
para que mais vagas sejam criadas”, defende Figueiredo.
27
34. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve por objetivo analisar o ensino da música na escola fundamental e as
razões que levaram a música a se distanciar do cotidiano escolar brasileiro.
No que diz respeito aos teóricos da música, especialmente os que tratam da educação
musical, há o consenso de que a função e o significado do ensino de música na escola
fundamental estão aquém dos que hoje lhe são atribuídos.
Tão importante quanto a história, esses estudos não só contribuíram para
esclarecimento das questões iniciais apontadas neste trabalho, mas evidenciaram que, embora
praticamente ausente dos currículos, a educação musical vive um período de efervescência,
marcado pela busca de novos caminhos.
A pesquisa bibliográfica procurou entender o porquê da ausência do ensino de música
no atual currículo escolar (embora presente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – Lei nº 9394/96).
Como se viu ao longo deste trabalho, o ensino da música no Brasil passou por
períodos de grande efervescência, interrompidos, entretanto, por momentos de crise. À
medida que nos aprofundávamos na reflexão sobre o ensino da música como prática escolar,
esses momentos tornavam-se esclarecedores para o entendimento da função atribuída à
música como disciplina escolar.
Entretanto, pudemos constatar a predominância da abordagem tradicional nas práticas
educativas musicais. Observamos que a música foi utilizada como suporte didático no
processo de alfabetização e como apoio para a manutenção da disciplina escolar. Hoje, sua
prática está restrita a festividades do calendário escolar.
Apesar de existir um consenso entre a produção científica, as educadoras musicais e as
professoras de ensino fundamental sobre a importância da música na educação da criança e do
jovem, como mostra a pesquisa, sua implementação na escola, quando ocorre, está muito
distante de seu verdadeiro significado, priorizando, como já foram muitas vezes mencionados,
aspectos disciplinares e atividades festivas.
Dessa forma, não basta apenas reintroduzir a música no currículo escolar das escolas.
A análise histórica evidenciou que sua ausência das escolas foi consequência de um processo
em que pesaram fatores de ordem política, cultural e pedagógica.
28
35. Sua inserção no universo escolar depende, antes de mais nada, de uma reflexão mais
profunda da atual realidade educacional brasileira para que nela, a música possa ser vista e
entendida como um componente curricular importante para a formação do indivíduo como um
todo.
Depende, ainda, de uma vontade política e de investimentos, sobretudo na formação
do professor. Dessa forma, as indicações nos Parâmetros Curriculares não são suficientes para
a volta da disciplina.
Nessa perspectiva, ao buscar elementos para compreender a atual situação do ensino
da música na escola fundamental brasileira, acreditamos estar contribuindo para o debate e o
diálogo necessários à reintrodução da música no universo escolar, certos de que, para isso, há
um longo caminho a ser percorrido.
29
36. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMOVICH, Fanny. Quem educa quem? São Paulo: Círculo do Livro, 1985.
ALMEIDA, Renato. História da música brasileira. Rio de Janeiro: F. Briquiet, 1926.
ANDRADE, Mário de. Aspectos da Música Brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 1965.
_____. Pequena história da música. 9.ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1987.23
ANTUNES, Jorge. Criatividade na escola e música contemporânea. Cadernos de Estudo:
Educação Musical, São Paulo, n.1, p. 53-61, 1990.
ARROYO, Margarete. Etnografia musical em escola de ‘Ensino
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