3. Em seu sentido mais estrito, arte gótica significaria a arte própria dos godos;
Foram os teóricos do Renascimento que viram, na arte de épocas anteriores à sua, um reflexo
da arte inventada pelos godos, que
“após haver arruinado os edifícios antigos e matado os
arquitetos nas guerras, passaram a construir cobrindo as abóbadas com arcos ogivais e
inundaram toda a Itália com essa maldição de edifícios, dos quais não podiam ter feito mais.”
Giorgio Vasari
Porém, entende-se por arte gótica um extensíssimo conjunto de manifestações artísticas
produzidas dentro do âmbito da cultura ocidental entre meados do século XII e o século XVI;
A historiografia romântica que se interessou pela arte medieval, superando as conotações
negativas que o termo “gótico” implicava, distinguiu em seu conjunto um período Românico e
outro período mais extenso que, apesar de haver controvérsias, conservou a denominação de
gótico.
ARTE GÓTICA
Arquitetura / escultura / pintura
4. ARTE GÓTICA
Europa Gótica
O Gótico, criado na Île-
de-France, difundiu-se
por toda a Europa,
sendo assimilado e
adaptado em graus
variáveis por cada
país;
Numa fase posterior,
difundiu-se na Itália
(especialmente na
Toscana) um novo
sentido plástico, que
se alastrou para o
resto da Europa.
5. ARTE GÓTICA
Quadro histórico da Arte Gótica
Século XII:
Expansão ocidental – crescimento demográfico e aperfeiçoamento de métodos agrícolas e
comerciais;
Afirmação do poder real frente à decadência do feudalismo;
Cruzadas e demais conquistas expansionistas;
Intensificação da reforma monástica – ordem Cister de, de São Bernardo;
Escolas catedráticas e urbanas – arrebatarão a primazia aos mosteiros como foco da cultura;
Século XIII:
Considerado o século do máximo esplendor medieval, em que as tendências de expansão do
século anterior atingem o apogeu;
A instituição monárquica solidifica seu prestígio;
Institucionalização dos Estados;
Importante atividade cultural no seio destes Estados, em boa parte impulsionada pelos próprios
monarcas – sentimento nacionalista;
Prosperidade econômica – indústria têxtil (importante produtor de riquezas) e rotas e os centros
de intercâmbio comercial;
Crescimento das cidades: corporações de ofícios e classe burguesa no governo dos municípios;
Ordens mendicantes: franciscanos e dominicanos;
Universidades – centro de ensino e atividade intelectual: franciscanos e tomistas.
6. ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
Não representa um estilo inteiramente novo, mas sim um ponto de chegada de contínuos
aperfeiçoamentos técnicos e estéticos, feitos ainda pelos construtores românicos;
Foi a primeira arte a construir-se com total exclusão de influências orientais (bizantinas) e
clássico-helenísticas;
A arquitetura gótica foi considerada desde o séc. XIX (Romantismo), a mais espetacular de toda
a Idade Média, cujo espírito de cavalaria e misticismo tão bem simboliza;
A originalidade desta arquitetura concretizou-se a partir de três áreas específicas: nas inovações
técnicas, na implementação de uma nova estética e nas alterações das estruturas formais;
A principal e mais característica invenção técnica da arte gótica foi o arco ogival, muito mais
dinâmico que o estático arco redondo românico e que exercia menor pressão lateral,
possibilitando a construção de abóbadas de cruz ou cruzaria de ogivas ou abóbada de ogivas;
Estas abóbadas tornaram-se mais elásticas e dinâmicas, adaptando-se melhor às formas e
dimensões dos espaços a cobrir, o que permitiu aumentar as áreas de construção, e sendo mais
leves e fáceis de sustentar, elevaram-se cada vez mais, contribuindo para uma maior
verticalidade das construções.
7. ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
Abadia de Saint-Denis. 1140-1281.
Saint-Denis, França
Um marco da arquitetura francesa, a
abadia de Saint-Denis foi a inspiração
de todos os construtores de catedrais
góticas;
Um século depois da consagração da
fachada ocidental e da nave, Pierre de
Montreuil começou a trabalhar no coro
e no transepto;
O trifório do transepto foi preenchido
com vitrais;
O atual aspecto da catedral deve muito
à obra de Viollet-le-Duc, que a
restaurou entre 1858-1879.
9. A técnica construtiva da arquitetura gótica repousou, por isso, nas abóbadas de cruzaria ogival,
assentes num novo e complexo sistema de pilares e de contrafortes que suportavam todo o
peso daqueles através de um perfeito equilíbrio de forças;
Esta técnica envolveu conhecimentos avançados e sofisticadas maquinarias, assim como, uma
boa organização prévia da obra, que racionalizava e rentabilizava o moroso trabalho;
Assim sendo, a arte gótica revelou-se uma arte intelectualizada e conceptualista, com um
espírito tecnicista e intelectual, mundano e urbano, dogmático e sensível.
ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
Catedral de Saint-Urbain, Troyes, França
10. ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
Catedral de Chartres, 1192-1220, Chartres, França.
A perfeição do plano interior desta
catedral é o resultado de lições
aprendidas a partir de outras
construções;
Não há galeria e o clerestório
(galeria superior ao trifório, nas
igrejas ogivais) permite a entrada da
luz em abundância;
Três fileiras de arcobotantes
constituem uma característica
muito importante desta catedral.
12. ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
A catedral de Chartres (1194-1220) costuma ser
considerada a mais perfeita das catedrais góticas;
Constitui o modelo a que se submete grande parte
das erguidas posteriormente;
Houve um incêndio que destruiu parcialmente a
antiga catedral românica de Chartres, sendo
preciso reconstruir-lhe a fachada (incluindo o
portal régio);
Em 1194, um outro incêndio afetou o que restara
do antigo edifício e a reconstrução foi planejada
em termos muito ambiciosos;
14. ARTE GÓTICA
Catedral de Notre-Dame. Fachada. 1210, Paris.
A fachada da catedral de Notre-Dame em Paris é um
bom exemplo da maneira como se articulam as obras
numa primeira fase da arquitetura gótica;
Destaca-se pelo equilíbrio obtido entre todos os seus
elementos;
É construída por três corpos verticais separados por
maciços contrafortes;
Os contrafortes laterais são rematados cada um por
uma torre;
Horizontalmente, também existe uma tríplice divisão:
os portais;
a galeria real;
rosácea;
Alguns detalhes da fachada do edifício denunciam a
intervenção, com propósito restaurador, de Viollet-le-
Duc, uma das personalidades que mais decisivamente
contribuíram para a revalorização da arquitetura
gótica;
ARQUITETURA
15. ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
As obras da catedral de Notre-Dame
foram iniciadas em 1163;
O edifício é de dimensões sensivelmente
maiores que seus precedentes;
Consta de naves laterais duplas e sua
planta parece mais compacta por não
ultrapassar os extremos do cruzeiro;
Entretanto, em elevação, o cruzeiro
constitui um volume completamente
diferenciado;
Não foi a primeira construção a utilizar
os arcobotantes, mas os desta catedral
se transformaram em elementos
arquitetônicos plenamente adaptados à
sua função.
Planta de Notre-DameElevação interior de uma
catedral gótica
1. Rendilhado; 2. Lanceta; 3. Clerestório;
4. Trifório; 5. Arco de descarga;
6. Galeria ou tribuna; 7. Ábaco; 8. Capitel;
9. Pilar retangular; 10. Pilar cilíndrico;
11. Base.
19. ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
Catedral de Beauvais, França; 1225.
Das catedrais que se seguiram a de Chartres, cabe citar o
virtuosismo arquitetônico de Beauvais;
Forçaram-se ao extremo as possibilidades técnicas, com o intuito
de obter uma elevação máxima e de chegar a substituir totalmente
as paredes por vitrais;
Assim, os arquitetos de Beauvais quiseram suspender as abóbadas
até quase 50 metros de altura, mas estas desmoronaram em 1284;
A parte construída foi reparada, mas as obras não foram concluídas;
De certo modo, o desabamento da catedral pôs fim às aspirações ao
gigantismo na arquitetura gótica.
21. ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
Catedral de Wells, séculos XIII-XIV.
A primeira fase da arquitetura gótica na Inglaterra denomina-se Early English;
Entre os elementos próprios do gótico inglês então desenvolvidos estão a cabeceira plana, o
cruzeiro duplo, a chamada Lady Chapel e as salas capitulares de planta centralizada (permitindo
o desenvolvimento de impressionantes abóbadas em leque);
Numa fase posterior os elementos decorativos adquiriram maior importância (especialmente as
molduras) dando lugar ao Decarated Style;
A esse momento corresponde o erguimento de uma grande torre no vão central do cruzeiro de
Wells, que obrigou a reforçar os suportes;
A solução adotada é certamente original:
arcos ogivais invertidos, produzindo um considerável efeito plástico.
25. ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
Catedral de Gerona, séc. XIV. Espanha.
O tipo de igreja com nave única foi introduzido na
Catalunha pelas ordens mendicantes, sendo
desenvolvido com grande originalidade no contexto
da arquitetura gótica catalã;
O caso da catedral de Gerona é paradigmático;
Optou-se pela nave única para que a igreja ficasse
mais solene, mais iluminada e bem proporcionada;
A nave da catedral de Gerona é a mais larga de
todas as construídas no período Gótico.
Corte transversal da igreja de Santa
Maria del Mar, Barcelona. A partir de
1329.
Além das igrejas com nave única, a arquitetura
gótica catalã desenvolve outro tipo de igrejas com
naves laterais elevadas, praticamente a mesma
altura da central.
26. A estética inovadora da arte Gótica acentuou significativamente a verticalidade dos edifícios e
tornou os espaços internos mais amplos e abrangentes;
As paredes deixaram de possuir o papel de suporte, passando apenas a delimitar e proteger os
espaços, o que permitiu que se rasgassem amplas janelas que tornaram os espaços interiores
mais iluminados, o que favoreceu a "poética da luz" da época;
ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
A arquitetura gótica, na verdade, não é possível uma definição global com base nos elementos
que a configuram. Porém, alguns destes elementos tornam-se arquetípicos no contexto de um
modelo como a catedral gótica:
- Arco ogival – muito difundido no período gótico, pode ter muitas variações, segundo a
proporção entre a sua altura e seu vão: arco lanceolado, arco em asa de cesto, etc.
- Abóbada ogival ou abóbada sobre o cruzamento de ogivas – variam de acordo com a
quantidade de ogivas que se cruzam: quadripartida, sexpartida, estrelada ou de terciarão, em
leque, etc.
- Paredes mais finas – não tinham função estrutural, por isso podiam ser cortadas para a
implantação dos grandes vãos e vitrais;
- Arcobotantes – auxiliar na função estrutural: transmitir o empuxo lateral da abóbada aos
contrafortes, normalmente situados no exterior.
27. Ogiva simétrica, baseada num triângulo equilátero
Diferentes ogivas: A (centros dentro da base da ogiva), B(centros nos pés da ogiva - simétrica
equilátera) e C (nesta construção específica, a altura e a largura são iguais)
Ogiva lanceolada, cuja altura é
ligeiramente menor do que a
largura
ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
29. A planta
A planta da catedral corresponde ao tipo de planta basilical – uma nave central, de maior
importância, ladeada ou não por naves colaterais;
Nave central: a importância deste elemento não se deve unicamente a sua
largura, mas também à altura;
Quanto maior a altura, mais intensa será a iluminação do interior;
A planta baixa de uma catedral gótica é bem característica e nela se destacam, particularmente,
dois elementos: a cabeceira e o cruzeiro;
Torres
Além das torres da fachada (coroada por flechas), as grandes catedrais góticas foram planejadas
para serem dotadas de outras, normalmente até um total de sete;
Deviam ser dispostas ladeando o cruzeiro e sobre o vão central deste;
Na maioria dos casos, não foram concluídas, ou só o foram em épocas posteriores;
O conjunto exterior da catedral gótica assume uma evidente dimensão monumental que se
destaca do contexto urbano;
ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
32. A nova estética do gótico também propiciou ainda a criação de novas tipologias dentro da
arquitetura civil:
castelos senhoriais, palácios urbanos e casas comunais que respondiam com maior eficácia às
necessidades do modo de vida da época.
ARTE GÓTICA
ARQUITETURA
36. ARTE GÓTICA
ESCULTURA
Em relação aos portais românicos, nos
quais a escultura se concentra em
tímpanos e dintéis, os góticos implicam
uma relação muito mais fecunda entre
os elementos arquitetônicos e
escultóricos;
É na catedral de Saint-Denis, na île-de-
France, que se propagou esta
transformação;
Quando o abade Surger empreendeu a
construção da nova fachada de sua
abadia, desenhou um programa
iconográfico em que a imagem real
passava a ocupar lugar de destaque;
Embora não esteja claro que a inclusão
destas figuras fosse uma alusão direta
ou indireta à monarquia francesa, é
evidente que de algum modo se
pretende valorizar a imagem do rei, com
isso, o portal principal passou a ser
chamado de portal-régio.
Portal da Abadia de Saint-Denis, França
Em Saint-Denis aparece pela primeira vez a estátua-
coluna, nas jambas (cada uma das peças laterais das
portas e janelas aparelhadas em torno das colunas),
isto é, a coluna com uma figura adossada;
Essa inovação possibilitou a libertação da escultura
monumental da férrea sujeição ao enquadramento
arquitetônico;
As arquivoltas também foram ressaltadas juntamente
com as estátuas-colunas.
37. ARTE GÓTICA
ESCULTURA Portal régio de Chartres, França.
Desenvolve o modelo
estabelecido em Saint-Denis;
Clareza na exposição dos
temas;
Temas perfeitamente
hierarquizados e adaptados
aos marcos;
Formas menos agitadas que
as românicas;
Adequação à função
ilustrativa;
A partir dessa nova harmonia
de Chartres, começa a
evolução rumo aos grandes
portais do gótico clássico;
Nas jambas, as personagens coroadas que deram nome aos portais régios são progressivamente
substituídas pelo colégio apostólico e por imagens de santos, todos em seus respectivos
atributos.
38. ARTE GÓTICA
ESCULTURA
A iconografia dos portais adquire uma clara intencionalidade
didática, ordenando-se hierarquicamente em virtude de uma
exposição redundante dos conceitos
39. ARTE GÓTICA
ESCULTURA
Porta do Sarmental, 1230-1240. Catedral de
Burgos
Trata-se da mais antiga das portas castelhanas,
o que se reflete claramente em sua
iconografia: tema apocalíptico;
Cristo em sua majestade é rodeado por uma
dupla representação dos evangelistas (com
seus símbolos e como escribas da época);
No dintel aparecem os apóstolos;
Como em seus mais próximos modelos
franceses, no mainel aparece a figura do
bispo;
A clareza da composição é muito própria da
primeira fase gótica.
40. No Gótico Inicial as estátuas mostram ainda uma forma alongada e rigidez na posição, mas que
se começam a distinguir do estilo Românico pelos rostos cada vez mais individualizados e
pormenorizados, que denotam calma e serenidade;
À medida que se aproxima o Gótico Pleno, é procurada uma tendência mais naturalista e
realista: os corpos apresentam um maior volume e posições ligeiramente mais curvilíneas;
Os portais do século XIII, além de constituírem extensos repertórios iconográficos, dão lugar aos
desenvolvimento de certo senso narrativo e, sobretudo, da escultura de vulto redondo. Há a
total desvinculação do marco arquitetônico, que pressupõe uma nova e importante conquista,
da qual se obtém resultados no próximo século;
A partir do séc. XIV as figuras denotam um "S" sinuoso, quase em contraposto (posição
assimétrica e obliqua do corpo em relação ao seu eixo: o tronco roda para um lado e as pernas
para outro, formando um "S") e os panejamentos (roupagem) apresentam linhas arredondadas,
sobrepostas e profundas, que acentuam a forma dos corpos e o requebro das ancas e
contribuem para um crescente realismo.
ARTE GÓTICA
ESCULTURA
A estatuária
42. A expressão formal procura exprimir a perfeição espiritual e por isso as figuras são tratadas com
maior correção anatômica e detalhe;
Os santos, a Virgem e Cristo têm outra mensagem, refletindo mais verdade, sensibilidade,
serenidade e ternura - humanização do Céu;
Por isso, estas figuras possuem gestos humanizados, proporcionalidade, naturalismo,
graciosidade, liberdade de traçado, de modelado e de composição, e transmitem uma
mensagem de doçura, beleza e desejo de viver;
Porém, a partir do final do séc. XIV, a expressividade estimulada pela crise religiosa, revela-se na
representação do homem, dos santos e do próprio Cristo, que denotam um sofrimento
exagerado nos rostos e corpos esquálidos, despertando a piedade dos fiéis;
ARTE GÓTICA
ESCULTURA
A estatuária
43. ARTE GÓTICA
ESCULTURA
Escultura da Madonna de Krummau,
Viena, séc. XIV
Virgem da Sainte-
Chapelle, Paris, Séc. XIV
Escultura da Virgem e do
Menino, séc. XIV
O culto à Virgem é um dos fatos que melhor caracterizam a arte gótica;
A Virgem passa a ser uma imagem simbólica da Igreja e também costuma
aparecer nos tímpanos (Senlis).
45. A escultura gótica dividiu-se em duas tipologias:
A escultura decorativa/monumental – principalmente nas fachadas e portais e que, juntamente
com outros elementos variados (pináculos, rosáceas, agulhas, gárgulas, vitrais...), caracteriza o
exterior das igrejas, onde o "horror ao vazio" é extremamente notório;
As cenas mais representadas são: Cristo em Majestade, O Último Julgamento ou Juízo Final, a
vida da Virgem (cuja representação se tornou mais frequente pela valorização do papel da
mulher como mãe e educadora, em que a Igreja se empenhou no final da Idade Média) e o
Nascimento de Cristo e episódios da vida de santos;
O trabalho escultural era feito em oficinas e posteriormente colocado nos lugares destinados;
Todas as esculturas eram coloridas;
As cores usadas eram as convencionais (o rosto e as mãos tinham a cor natural, os cabelos eram
loiros e as vestes policromas) e tinham uma função decorativa, estética, apelativa e simbólica.
ARTE GÓTICA
ESCULTURA
46. Devido às pestes, a fome, guerras e à falta de condições de higiene e da qualidade de vida, no
geral, a taxa de mortalidade era muito elevada;
Como o enterro de nobres nas igrejas era uma tradição, desenvolveu-se a escultura tumular,
que se vulgarizou na construção de estátuas jacentes;
No início, estas estátuas não continham pormenores dos traços físicos do morto, apenas
procuravam evocar o defunto;
Em meados do séc. XIII aparece o retrato idealizado, com um leve sorriso que ilumina o rosto do
defunto, que procura mostrar a paz com que devemos enfrentar a morte e a mesma que
devemos levar para o descanso eterno;
A partir do séc. XIV, o morto é representado muitas vezes de forma mórbida, enregelado,
envolto num lençol ou nu, um autêntico cadáver em decomposição, na sequência dos horrores
da Peste Negra e da consciencialização da nossa condição mortal - "do pó viemos e ao pó
voltaremos".
ARTE GÓTICA
ESCULTURA
Escultura tumular
47. ARTE GÓTICA
ESCULTURA
Túmulo do Papa Bonifácio VIII, séc. XIII
Túmulo do Cardeal Braye, Igreja de Santo
Domingo, Orvieto, séc. XIII
48. ARTE GÓTICA
PINTURA
Assim como nos exteriores das catedrais tende-se à integração arquitetura-escultura, nos
interiores modelava-se um novo conceito de espaço, em que a pintura mural já não tem lugar,
sendo substituída pelos grandes vitrais;
A miniatura será o terreno em que se define uma tendência mais clara à estilização e é a maior
representação da pintura gótica, que também se destaca na pintura em madeira dos retábulos;
A pintura gótica desenvolveu-se entre o séc. XIII e inícios do séc. XV; e teve sobretudo um
carácter religioso nas suas representações;
No final do séc. XIV foi designada por Estilo Internacional, que resultou da mistura entre as
influências bizantinas (gosto pelo dourado e cores brilhantes), o realismo dos panejamentos e
rostos, a nova concepção espacial do afresco italiano, a procura de perspectiva e o
desenvolvimento da arte do retrato e da paisagem, no Norte da Europa, principalmente na
Flandres, onde a pintura gótica adquiriu a sua expressão mais significativa.
49. ARTE GÓTICA
PINTURA
Dessa forma, a pintura gótica se manifesta em três elementos principais:
- Iluminuras – miniaturas dos livros que eram manuscritos;
- Vitrais – parede translúcida feita de vidros coloridos;
- Pintura em madeira – retábulos;
- Pintura mural – permanece em alguns países.
A iluminura, arte móvel por excelência, conjugou influências românicas e bizantinas;
Procurou o realismo na representação das figuras que compunham as obras;
Possuía uma variedade cromática, onde predominavam os azuis contrastados com os
vermelhos;
Apresentava personagens com corpos volumosos e preferia a representação de formas
humanas e animais e alguns apontamentos da Natureza e arquitetura, à representação do
espaço;
A iluminura teve grande impacto na arte gótica, ultrapassando os limites temporais da mesma,
prevalecendo até ao séc. XVI, em alguns países;
Uma das suas utilizações mais frequentes foi nos Livros de Horas, um livro de orações ilustrado
com um calendário, em que os meses e horas são decorados com os símbolos zodiacais
correspondentes e com orações destinadas à Paixão de Cristo, à Virgem, aos Santos e aos
defuntos, e destinado a uso pessoal dos membros do Clero e da Nobreza, ou simplesmente de
um colecionador;
51. ARTE GÓTICA
PINTURA
Bíblia moralizada
Consistem em extratos de passagens das Escrituras,
glosados graficamente, constituindo extensos
repertórios iconográficos;
As miniaturas – as da figura referem-se à
crucificação – são de página inteira e se organizam
em séries de medalhões, que recordam a estrutura
dos vitrais contemporâneos;
Bíblia Moralizada, Segundo terço do Séc.
XIII, Catedral de Toledo:
Exemplar doado por São Luiz, de Paris, ao Afonso X,
o Sábio, de Toledo, Espanha.
Este exemplar foi executado numa das
principais oficinas de miniaturas ativas em Paris,
durante o reinado de são Luiz, especializada em
Bíblias Moralizadas.
53. ARTE GÓTICA
PINTURA
O vitral, que ocupou o lugar dos murais executados afresco, por não ser uma técnica
convencional da pintura;
Foi o método que melhor se adaptou à necessidade narrativa do interior da catedral gótica e
contribuiu para “a poética da luz”:
"Deus é luz. Desta luz inicial incriada e criadora participa cada criatura. Cada criatura recebe
e transmite a iluminação divina de acordo com a sua capacidade, isto é, segundo o lugar que
ocupa na escala dos seres (...). Proveniente de uma irradiação, o universo é um fluxo
luminoso que desce em cascatas e luz que emana do Ser primeiro instala no seu lugar
imutável cada um dos seus criados. Mas ela une-os a todos. Laço de amor, irriga o mundo
inteiro, estabelece-o na ordem e na coesão e, porque todo o objeto reflete mais ou menos a
luz, esta irradiação, (...) suscita, desde as profundidades da sombra, um movimento de
reflexão, para o foco do seu irradiamento. Luz absoluta, Deus está mais ou menos velado em
cada criatura, consoante ela é mais ou menos refratária à sua iluminação; mas cada criatura
o desvenda à sua medida, pois liberta, diante de quem a observar com amor, a parte da luz
que tem em si."
Georges Duby, citando São Dinis em O Tempo das Catedrais, Ed.Estampa
Possuía cores vibrantes, formas lineares e depuradas e um forte carácter estático, sem
perspectiva nem realismo;
54. ARTE GÓTICA
PINTURA
Interior da Sainte Chapelle, Paris, 1248
A capela do palácio real de Paris representa a culminação do processo de substituição da
“parede opaca” pela “parede translúcida”.
55. ARTE GÓTICA
PINTURA
A árvore de Jessé, séc. XII. Catedral de
Chartres
O conjunto dos vitrais da catedral de
Chartres é um dos mais extensos e mais
bem preservados do período gótico;
Não desenvolve um programa
iconográfico único, ainda que os
espaços hierarquicamente mais
importantes são reservados para os
temas essenciais;
Assim, a imagem da Virgem ocupa o
vitral do centro do presbitério;
O tema da árvore de Jessé, bastante
frequente na primeira fase do período
gótico, consiste numa representação
simbólica da genealogia de Jesus;
Por tratar-se de um motivo de
desenvolvimento vertical, que
implicava a presença de
elementos vegetais, adequou-se
perfeitamente à estrutura dos
vitrais, que fechavam as grandes
janelas lanceoladas.
Contudo, as criações mais
espetaculares da arte do vitral
no período gótico são, sem
dúvida, as rosáceas.
56. ARTE GÓTICA
PINTURA
Rosácea da catedral de Chartres
As rosáceas geralmente possuíam conteúdo
iconográfico de grande amplitude e tem caráter
simbólico;
É bem frequente que nas fachadas ocidentais se
represente o Juízo Final e, nos braços do cruzeiro,
o Cristo em Majestade e a Virgem.
Entre as rosáceas góticas mais brilhantes estão as
das catedrais de Paris: Reims, Chartres, Lausanne,
Orviedo e Siena.
57. ARTE GÓTICA
PINTURA
A pintura sobre madeira ou de retábulos era feita em forma de dípticos, trípticos ou polípticos.
Hans Memling, "Díptico de
Jean de Cellier"
O díptico é um quadro em
madeira dividido em dois
painéis, que se dobram um
sobre o outro.
58. ARTE GÓTICA
PINTURA
Cimabue
"Tríptico A Virgem e o
Menino no trono e
Cenas da Paixão de
Cristo“
Semelhante ao
díptico, mas dividido
em três painéis, cujos
dois laterais se
dobram sobre o do
meio.
59. ARTE GÓTICA
PINTURA
Jan e Hubert Van Eyck
Políptico do Cordeiro Místico. Painel central, 1432.
Catedral de São Bavão.
Quadro dividido em quatro ou mais painéis.
60. A pintura afresco ou a pintura mural
ARTE GÓTICA
PINTURA
Altar maior da Basílica de São Francisco de Assis, Itália