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História 15

                                     "Os Dois Semblantes"
                (História recebida da Federação Espírita do Rio Grande do Sul)

CICLO : INTERMEDIÁRIO
Tema: Malefícios das drogas




                                   Certa vez, um grande artista foi escolhido para pintar um quadro a
                               óleo, destinado a uma igreja de Roma.
                                   A tela teria por tema a vida de Jesus.




                                    O artista, que há muito vinha esperando aquela
                                oportunidade, imensamente feliz e cheio de
entusiasmo, atirou-se ao trabalho ardorosamente.
    Assim, durante meses a fio, e sem descanso, dedicou-se o pintor à execução do
quadro. Quando, porém, faltava pouco para terminar, foi forçado a parar.
    É que faltavam dois modelos importantíssimos, justamente aqueles que deveriam
representar o Menino Jesus e Judas Iscariote.
    Pôs-se então à procura dos modelos.

                                  Começou a busca em sua própria cidade.
                              Percorreu todas as ruas, procurou em todos os bairros.
                              Andou muito, viajou muito.
                                  Examinou linha por linha centenas de rostos de
                              meninos e de homens, sem que nenhum deles
                              apresentasse as características que exigia para os
                              personagens de seu quadro.
                                  Foi então que retornando à sua terra natal, percorrendo
                              novamente um velho bairro da cidade, viu um pequeno de doze anos,
                              cujo semblante, de rara beleza e extraordinária meiguice, era
                              justamente o que procurava.




                                 O pintor exultou de alegria. Enfim, poderia continuar
                              seu trabalho.
   De imediato falou aos pais do menino e pôs mãos à obra.




                                                                                                   1
Durante dias, e dias o garoto pousou pacientemente até que seus lindos traços fisionômicos
passaram para a tela do pintor.

   Quando o menino se foi, o artista comentou:




     - A beleza e a candura de sua alma estão refletidas em seu rosto.
    O pintor começou a fazer novas buscas, agora na esperança de
encontrar quem lhe servisse de modelo para a imagem de Judas.
    Novas caminhadas...novas indagações...novos semblantes em
desfile...Mas ninguém satisfazia as exigências do artista.
    A bela obra paralisada, aguardava o seu último personagem, para
ser exposta aos olhares do público.
    E tudo indicava que tão cedo não seria terminada.

                                   De fato os dias foram se escoando,
                               os meses sucedendo-se um ao outro,
                               os anos também se passaram e o
                               quadro continuava no mesmo.
                                   O pintor já desanimava, quando
                               um dia, ao passar por um bar, pouco
                               recomendável, viu ao aparecer à porta
                               um pobre homem esfarrapado e magro,
                               sentado ao balcão. Estava embriagado.




    O pintor aproximou-se e condoído, estremeceu de horror e emoção.




                                   Aquela fisionomia ainda moça, marcada
                               impiedosamente pelo vício, ajustava-se com precisão à sua tela
                               inacabada!
                                   Encontrara, afinal, o seu Judas Iscariote.
                                   - Venha comigo, que eu cuidarei de você.
                                   Pôs-se então o artista, dia e noite, a completar a tela.
                                     E, coisa estranha, à medida que o trabalho avançava, o modelo
                               pouco a pouco demonstrava desalentadora tristeza.




                                                                                                     2
O pintor percebia a transformação, mas nada comentava.
     Um dia porém, notando que lágrimas silenciosas deslizavam
daqueles olhos encovados, interrompeu o trabalho e indagou,
interessado:
     - Meu filho, por que se aflige tanto? Em que lhe posso ajudar?
     Desatando a chorar, o modelo cobriu o rosto com as mãos.
     Depois, passados instantes, olhou para o pintor e, timidamente,
falou:
     - Não se lembra de mim? Há muitos anos, pousei para o seu
menino Jesus...




                                                                       3

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  • 1. História 15 "Os Dois Semblantes" (História recebida da Federação Espírita do Rio Grande do Sul) CICLO : INTERMEDIÁRIO Tema: Malefícios das drogas Certa vez, um grande artista foi escolhido para pintar um quadro a óleo, destinado a uma igreja de Roma. A tela teria por tema a vida de Jesus. O artista, que há muito vinha esperando aquela oportunidade, imensamente feliz e cheio de entusiasmo, atirou-se ao trabalho ardorosamente. Assim, durante meses a fio, e sem descanso, dedicou-se o pintor à execução do quadro. Quando, porém, faltava pouco para terminar, foi forçado a parar. É que faltavam dois modelos importantíssimos, justamente aqueles que deveriam representar o Menino Jesus e Judas Iscariote. Pôs-se então à procura dos modelos. Começou a busca em sua própria cidade. Percorreu todas as ruas, procurou em todos os bairros. Andou muito, viajou muito. Examinou linha por linha centenas de rostos de meninos e de homens, sem que nenhum deles apresentasse as características que exigia para os personagens de seu quadro. Foi então que retornando à sua terra natal, percorrendo novamente um velho bairro da cidade, viu um pequeno de doze anos, cujo semblante, de rara beleza e extraordinária meiguice, era justamente o que procurava. O pintor exultou de alegria. Enfim, poderia continuar seu trabalho. De imediato falou aos pais do menino e pôs mãos à obra. 1
  • 2. Durante dias, e dias o garoto pousou pacientemente até que seus lindos traços fisionômicos passaram para a tela do pintor. Quando o menino se foi, o artista comentou: - A beleza e a candura de sua alma estão refletidas em seu rosto. O pintor começou a fazer novas buscas, agora na esperança de encontrar quem lhe servisse de modelo para a imagem de Judas. Novas caminhadas...novas indagações...novos semblantes em desfile...Mas ninguém satisfazia as exigências do artista. A bela obra paralisada, aguardava o seu último personagem, para ser exposta aos olhares do público. E tudo indicava que tão cedo não seria terminada. De fato os dias foram se escoando, os meses sucedendo-se um ao outro, os anos também se passaram e o quadro continuava no mesmo. O pintor já desanimava, quando um dia, ao passar por um bar, pouco recomendável, viu ao aparecer à porta um pobre homem esfarrapado e magro, sentado ao balcão. Estava embriagado. O pintor aproximou-se e condoído, estremeceu de horror e emoção. Aquela fisionomia ainda moça, marcada impiedosamente pelo vício, ajustava-se com precisão à sua tela inacabada! Encontrara, afinal, o seu Judas Iscariote. - Venha comigo, que eu cuidarei de você. Pôs-se então o artista, dia e noite, a completar a tela. E, coisa estranha, à medida que o trabalho avançava, o modelo pouco a pouco demonstrava desalentadora tristeza. 2
  • 3. O pintor percebia a transformação, mas nada comentava. Um dia porém, notando que lágrimas silenciosas deslizavam daqueles olhos encovados, interrompeu o trabalho e indagou, interessado: - Meu filho, por que se aflige tanto? Em que lhe posso ajudar? Desatando a chorar, o modelo cobriu o rosto com as mãos. Depois, passados instantes, olhou para o pintor e, timidamente, falou: - Não se lembra de mim? Há muitos anos, pousei para o seu menino Jesus... 3