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Prematuridade e
neotenia
Os seres humanos são prematuros: nascem
inacabados.
O pleno desenvolvimento de estruturas tão
complexas como o cérebro é mais lento e
demorado que noutras espécies próximas
(como os chimpanzés).
No nascimento, o cérebro humano atingiu
apenas 25% da dimensão que virá a ter na
idade adulta.
Nos chimpanzés, a dimensão do cérebro no
momento do nascimento corresponde a
cerca de 40% a 50% da que atingirão na
idade adulta.
Cérebros maiores obrigam a uma antecipação
do nascimento.
A dimensão do crânio do bebé seria demasiado
grande para a fisiologia da mãe se o cérebro
continuasse a desenvolver-se durante a fase
uterina.
As dificuldades resultantes dos partos de bebés
com cérebros com maiores dimensões poderá
ter levado a evolução a selecionar as gestações
mais curtas.
O resultado foi o retardamento do processo de
crescimento e maturação.
Este retardamento fez dos seres humanos
indivíduos inacabados no momento do
nascimento.
Este inacabamento prolonga o período da
infância e da adolescência para permitir o
desenvolvimento das estruturas cerebrais e
da inteligência em interação constante com
o meio.
Por
nascermos
prematuros
e
inacabados, não vimos ao mundo já
equipados com um repertório de
comportamentos rígidos (tal como as
abelhas, etc.) que nos forneçam formas de
adaptação pré-definidas ao meio ambiente.
A capacidade de aprendizagem mantém-se
ao longo de todo o ciclo de vida, e constitui
o sinal da flexibilidade do nosso programa
genético.
Como não nascemos já com mecanismos
adaptativos especializados (como acontece
nas outras espécies), somos capazes de nos
adaptar a uma variedade de condições de
vida enorme.
Daí encontrarmos comunidades humanas
em quase todos os locais da Terra, mesmo
os mais inóspitos e improváveis, como os
esquimós.
O desenvolvimento do cérebro humano faz-se
maioritariamente depois do nascimento, em
contacto permanente com o meio físico e
social.
Embora esta evolução ocorra de acordo com as
instruções do nosso programa genético, o grau
de maturação do cérebro à nascença deixa um
papel decisivo para os estímulos do meio na
definição do rumo para a nossa evolução como
seres humanos.
Em consequência, o desenvolvimento humano
faz-se segundo:
Em lugar da fixidez biológica → a flexibilidade;
Em vez de instintos → a aptidão para aprender;

Em lugar da auto-suficiência → a aptidão para
interagir;
Em vez do determinismo → a indeterminação;
Em vez da especialização → a versatilidade;
Não um programa fechado → um programa
aberto.
O que um nascimento prematuro nos faz perder
em acabamento biológico, permite-nos ganhar
em flexibilidade, capacidade de aprendizagem e
adaptação.
É este processo de dependência e interação
social, através do qual a maioria das nossas
aprendizagens ocorre, que nos torna realmente
humanos.
Neotenia
Disposição para conservar na idade adulta
traços juvenis ou infantis.
Trata-se, no caso humano, de um processo
evolutivo do qual resulta uma capacidade
de aprendizagem que se prolonga ao longo
de toda a vida.
A neotenia reflecte a falta de acabamento
que conduz ao prolongamento da infância e
adolescência, e que nos humanos permite o
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cerebrais.
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Prematuridade e neotenia

  • 2. Os seres humanos são prematuros: nascem inacabados. O pleno desenvolvimento de estruturas tão complexas como o cérebro é mais lento e demorado que noutras espécies próximas (como os chimpanzés). No nascimento, o cérebro humano atingiu apenas 25% da dimensão que virá a ter na idade adulta. Nos chimpanzés, a dimensão do cérebro no momento do nascimento corresponde a cerca de 40% a 50% da que atingirão na idade adulta.
  • 3. Cérebros maiores obrigam a uma antecipação do nascimento. A dimensão do crânio do bebé seria demasiado grande para a fisiologia da mãe se o cérebro continuasse a desenvolver-se durante a fase uterina. As dificuldades resultantes dos partos de bebés com cérebros com maiores dimensões poderá ter levado a evolução a selecionar as gestações mais curtas. O resultado foi o retardamento do processo de crescimento e maturação.
  • 4. Este retardamento fez dos seres humanos indivíduos inacabados no momento do nascimento. Este inacabamento prolonga o período da infância e da adolescência para permitir o desenvolvimento das estruturas cerebrais e da inteligência em interação constante com o meio. Por nascermos prematuros e inacabados, não vimos ao mundo já equipados com um repertório de comportamentos rígidos (tal como as abelhas, etc.) que nos forneçam formas de adaptação pré-definidas ao meio ambiente.
  • 5. A capacidade de aprendizagem mantém-se ao longo de todo o ciclo de vida, e constitui o sinal da flexibilidade do nosso programa genético. Como não nascemos já com mecanismos adaptativos especializados (como acontece nas outras espécies), somos capazes de nos adaptar a uma variedade de condições de vida enorme. Daí encontrarmos comunidades humanas em quase todos os locais da Terra, mesmo os mais inóspitos e improváveis, como os esquimós.
  • 6. O desenvolvimento do cérebro humano faz-se maioritariamente depois do nascimento, em contacto permanente com o meio físico e social. Embora esta evolução ocorra de acordo com as instruções do nosso programa genético, o grau de maturação do cérebro à nascença deixa um papel decisivo para os estímulos do meio na definição do rumo para a nossa evolução como seres humanos.
  • 7. Em consequência, o desenvolvimento humano faz-se segundo: Em lugar da fixidez biológica → a flexibilidade; Em vez de instintos → a aptidão para aprender; Em lugar da auto-suficiência → a aptidão para interagir; Em vez do determinismo → a indeterminação; Em vez da especialização → a versatilidade; Não um programa fechado → um programa aberto.
  • 8. O que um nascimento prematuro nos faz perder em acabamento biológico, permite-nos ganhar em flexibilidade, capacidade de aprendizagem e adaptação. É este processo de dependência e interação social, através do qual a maioria das nossas aprendizagens ocorre, que nos torna realmente humanos.
  • 9. Neotenia Disposição para conservar na idade adulta traços juvenis ou infantis. Trata-se, no caso humano, de um processo evolutivo do qual resulta uma capacidade de aprendizagem que se prolonga ao longo de toda a vida. A neotenia reflecte a falta de acabamento que conduz ao prolongamento da infância e adolescência, e que nos humanos permite o desenvolvimento das estruturas e funções cerebrais. Traduz a flexibilidade e abertura do nosso programa genético.