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Perseu – O Príncipe dos heróis 
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A Editora 
Ixtlan 
Apresenta... 
Adriana Matheus 
Perseu - O Príncipe dos heróis
Adriana Matheus 
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Adriana Matheus 
Perseu - O Príncipe dos heróis 
1ª Edição 
2012 
Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive através de processos xerográficos, sem permissão expressa da autora. (Lei nº 5.988 14/12/73). 
Adriana Matheus 
amatheus07@hotmail.com
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CIP. Brasil. Catalogação na Publicação. M427s - Matheus, Adriana, 1970. Perseu / Adriana Matheus - Juiz de Fora - MG. 410 p. : il. ISBN: 978-85-8197-019-6 
Literatura brasileira. Literatura infantojuvenil e ficção CDD: B869.8 
Projeto Gráfico e Impressão: Editora Ixtlan ixtlan@editoraixtlan.com Revisão ortográfica: Pâmyla Serra www.re-visaodeaguia.com 
Edição de capa: Thaís Riotto 
http://thaisriotto.wix.com/aigam Diagramação: Adriana Matheus http://anairdameuslivros.blogspot.com
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INTRODUÇÃO: 
QUEM FOI ZEUS? 
Zeus é o principal deus da mitologia grega. Era considerado, na Grécia Antiga, como o deus dos deuses. O nome Zeus em grego antigo significava “rei divino”. 
Genealogia e filhos de Zeus: - Zeus era filho mais jovem do casal de titãs Cronos e Rea. Casou-se com a deusa e irmã Hera (deusa do casamento). Porém, de acordo com a mitologia grega, teve várias amantes (deusas e mortais) e vários filhos destes relacionamentos. Os filhos mais conhecidos de Zeus são: Apolo (deus da medicina e da luz), Atenas (deusa da sabedoria e da estratégia), Hermes (deus do comércio e dos viajantes), Perséfone (deusa do mundo subterrâneo), Dionísio (deus do vinho), Herácles (herói grego),
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Helena (princesa grega), Minos (rei de Creta) e Hefesto (deus do fogo). 
Poderes e atributos: - De acordo com a crença dos gregos antigos, Zeus ficava no Monte Olimpo governando tudo o que acontecia na Terra. Era considerado também o deus do céu e do trovão. Era representado nas pinturas e esculturas num trono ou em pé, ao lado de um raio, carvalho, touro ou águia. Estas representações simbolizavam qualidades e poderes (rapidez, força, energia, comando) atribuídos ao deus. 
Mitologia romana: - Entre os deuses romanos, na mitologia romana, Zeus era conhecido como Júpiter, possuindo as mesmas características e atributos da mitologia grega. O que é mitologia: - A Mitologia Grega é um conjunto de mitos (histórias e lendas), sobre vários deuses, heróis, titãs, ninfas, e centauros. A Mitologia Grega originou- se da união das mitologias dórica e micênica. Seu desenvolvimento ocorreu por volta de 700 a.C. Pode-se dizer que na Grécia Antiga a religião era politeísta, pois os gregos adoravam a vários deuses. Não existem escrituras sagradas (como a Bíblia para os cristãos) a respeito da Mitologia Grega. As principais fontes a esse respeito foram escritas no século VIII a.C. por Hesíodo (Teogonia - Teogonia de Hesíodo - Trata da gênese dos deuses, descreve a origem do mundo, os reinados de Urano, Cronos e Zeus, e a união dos mortais aos deuses, desta forma nascendo os heróis mitológicos ), e por Homero (Ilíada e Odisseia). Na Teogonia
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são tratadas a origem e a história dos deuses gregos. Nas narrativas Ilíada e Odisseia são descritos os grandes acontecimentos envolvendo heróis e deuses. Os deuses, além de ter forma humana, tinham sentimentos humanos como amor, inveja, traição, ira, entre outros. Suscetíveis a esses sentimentos, era comum os deuses se apaixonarem por humanos e com eles terem filhos. Alguns heróis da Mitologia Grega eram filhos de deuses e humanos. Os deuses, diferentes de seus filhos, eram imortais. Os deuses do Olimpo são os deuses mais poderosos dos vários grupos de deuses. Os deuses do Olimpo se dividem em várias classes. A classe superior é formada pelos seguintes deuses: 
Quem foi Perseu: 
- Perseu era um herói e não um deus; filho de Zeus e Danae, que era uma princesa mortal, filha do rei Ar- gos. Perseu casou-se com Andrômeda e foi governador de Ti- rinto e Micenas, cidade que ele havia fundado. Seu principal feito foi ter decapitado a Medusa, que era uma linda mulher, porém com cobras na cabeça em lugar dos cabelos e dotada de poderes mágicos extraordinários. Perseu é representado por um jovem que tem uma espada em uma das mãos e segura a cabeça da Medusa na outra.
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Nota da autora 
Esta obra é baseada na mitologia grega, alguns personagens foram acrescidos para dar mais vida à história. 
Dedico esta obra aos meus filhos Luccas Matheus Manganelli e Davi Matheus, e ao Sr. Júlio César Lopes da Silva – diretor da escola Municipal Rocha Pombo (CAIC - Juiz de Fora - MG), que tão gentilmente nos cedeu o espaço para o lançamento dessa obra.
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Prólogo 
O matador da Górgona Medusa era filho de Zeus e de Dânae, filha de Acrísios que era o rei do reino de Argos. Advertido de que seria morto pelo neto, Acrísios trancou a mãe e a criança numa arca, lançando-as ao mar. A pedido de Zeus, foram lançados por Posêidon à ilha de Sérifo, onde foram salvos e onde Perseu cresceu até a idade adulta. Polidectes, rei de Sérifo, apaixonou-se por Dânae e temendo que Perseu talvez interferisse em seus planos, enviou-o, então, numa missão para obter a cabeça da Medusa, um monstro para o qual quem voltasse o olhar era transformado em pedra. Mas aparentemente o destino conspirava e Perseu acabou se deparando em uma cidade, onde conheceu Andrômeda, seu eterno amor. Os dois apaixonaram- se de imediato. Porém, a mãe de Andrômeda ofendeu Posêidon, elogiando a filha e dizendo que sua beleza era maior do que as filhas do deus, as ninfas das águas. Posêidon, então, amaldiçoou toda a cidade, dizendo que só pouparia seus habitantes caso Andrômeda fosse sacrificada ainda virgem. Perseu, então, saiu à procura das Gréias para descobrir como livrar Andrômeda do triste destino de ser devorada pelo Kraken, monstro que guardava os sete mares. Auxiliado por Flávius, seu fiel amigo, Perseu abriu caminho por entre as Gréias – três velhas decrépitas que compartilhavam o mesmo olho entre elas. Perseu tomou-lhes o olho e recusou-se a devolvê-lo até que elas lhe dessem a direção para alcançar a Medusa. 
Perseu venceu muitas batalhas antes de retornar à cidade de Cassiopeia e salvar sua amada, Andrômeda. E,
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mesmo depois de achar que tudo estaria bem, ainda teve que enfrentar a ira e o ciúme de Calibos, o semideus filho da deusa Tétis. 
Para saber o final dessa incrível aventura, abra o restante destas páginas e viaje... 
Boa leitura!
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ÍNDICE 
Intrudução.....................................12 
Capítulo I - Perseu..........................19 
Capítulo II - A Missão.....................23 
Capítulo III - Do destino ao amor....32
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I - Perseu... 
á muito tempo, quando os deuses do Olimpo ainda regiam o universo, surgiu uma lenda de que a filha de Acrísio, rei de Argos, daria à luz uma criança que ao crescer tornar-se-ia o rei absoluto do reino de Argos. Argos era uma cidade protegida por Zeus. Porém, ao saber da previsão feita 
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por um oráculo, o rei passou a blasfemar e a repudiar Zeus dentro do seu próprio templo sagrado. Zeus, então, tendo observado o mau comportamento do rei Acrísio, zangou-se e jurou cumprir a previsão feita pelo suposto oráculo para que, assim, o mundo conhecesse o seu poder. Desde então, Acrísio passou a vigiar a esposa, que estava grávida. Os meses passaram-se e ela deu à luz uma linda menina, porém, a esposa não resistiu ao parto e veio a óbito. Acrísio respirou aliviado por saber que a mulher teve uma menina ao invés de um menino. Mas, mesmo assim, o rei Acrísio estava temeroso de ver cumprida a previsão do oráculo, que mais uma vez avisou-o que poderia ser perfeitamente sua filha Dânae a mulher a dar à luz aquele que lhe roubaria o trono e a vida. O rei de Argos enclausurou-a numa torre de bronze por anos, a que somente ele tinha acesso. Acrísio, então, passou obsessivamente a proibir Dânae de ter qualquer contato com alguém do sexo oposto. Assim, a jovem passou a maior parte da infância e juventude triste, trancada em uma torre onde ela poderia ter tudo que desejasse, menos a liberdade. A jovem cresceu em igual beleza à própria deusa Afrodite. Porém, das extremidades dos céus, Zeus observava Dânae e desejava-a compulsivamente como mulher. Zeus era um deus muito caprichoso e orgulhoso. Estava disposto a cumprir a promessa que havia feito a Acrísio por tê-lo ofendido em seu templo sagrado. Certa noite, quando todos no palácio dormiam, Zeus transformou-se em chuva de ouro, introduziu-se na torre
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gradeada e conheceu Dânae. Ela ficou encantada ao ver aquela chuva misteriosa e amparou suas gotas com as mãos. Uma delas escorreu pelos dedos, caindo sobre o chão e transformando-se em um lindo jovem. Dânae rendeu-se aos seus encantos de imediato. Assim seguiram os dias da jovem: durante o dia, tudo ocorria normalmente; mas à noite Zeus visitava-a. Até que ela engravidou... No dia em que o deus estava se despedindo de Dânae em seu leito, o rei Acrísio entrou no quarto com seus soldados e flagrou-a nos braços de Zeus. Irado, o rei tenta capturar o deus, que foge, transformando-se em uma águia, voando pelos corredores da torre até alcançar a liberdade. Nunca mais o deus visitou Dânae, pois já havia cumprido a promessa de vingar-se do rei Acrísio. Acrísio, porém, era teimoso, cruel e irado; porque achava que sua filha havia traído sua confiança ao engravidar-se de Zeus. Decidiu dar um castigo a ela e ao filho, desafiando ainda mais o deus. Assim que o bebê de Dânae nasceu, ele pediu para colocá-los dentro de uma arca de bronze e que fossem lançados ao mar para que a arca afundasse e, assim, Dânae e o filho morressem afogados. Imediatamente, Zeus transformou a arca de bronze lançada por Posêidon em uma arca de madeira, impedindo que ela se afundasse. A arca chegou a uma ilha chamada Sérifo, reino de Polidectes, que se apaixonou por Dânae. Eles se casaram, criando o seu filho: Perseu. Zeus
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voltou para Argos e destruiu toda a cidade. Com as próprias mãos, esmagou Acrísio. Deste, nem mesmo o pó foi deixado como vestígio sobre a Terra. Zeus estava vingado e, agora, seus olhos eram para seu filho: o semideus Perseu. Perseu cresceu igualmente em beleza, força e bondade – o que mais ainda chamou a atenção de Zeus, demasiadamente orgulhoso por ter um filho belo, forte e com um nobre coração. Perseu cresceu, prometendo voltar a Argos um dia e reconstruí-la, tomando para si o trono que lhe era de direito. A história de Dânae e Perseu espalhou-se por toda a Terra e os dois viraram mito e cânticos em muitos lugares.
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II – A Missão ais tarde, enciumado e com o intuito de afastar Perseu da própria mãe zelosa, o rei Polidectes encarregou Perseu de uma perigosa missão: trazer a cabeça da Medusa, a única górgona mortal ainda viva. Ela possuía a cabeça com cabelos em forma de serpentes venenosas. Também tinha presas de javali, mãos de bronze e asas de ouro. Seu olhar transformava em pedra qualquer ser vivente que a fitasse. Medusa havia sido amaldiçoada pela deusa Afrodite, que se enfureceu depois de ela ter seduzido seu marido, Posêidon, dentro de seu próprio templo sagrado. Medusa, então, deixou de ser a mais bela das mortais para se transformar na mais horrenda criatura já existente sobre a Terra. Incumbido do mais novo destino, Perseu seguiu, então, com seus fiéis soldados para terras distantes, jamais pisadas por um mortal antes. No meio do caminho, ele chegou a Athalais, uma cidade misteriosa. Lá, deparou-se com a deusa Atena, disfarçada de ninfeta, que chorava muito. Perseu, então, perguntou-lhe, ao ver a ninfeta debulhando-se em lágrimas: – Por que chora, oh, filha dos deuses? – Choro porque estou com fome e não tenho nada para comer. – Mas como não? Olhe à sua volta: quantos pomares frutíferos e recheados de verdadeiros manjares! Como pode estar com fome? – disse o chefe da guarda que acompanhava Perseu, parecendo indignado ao ver a ninfeta chorando. Perseu olhou para a jovem, colocou as mãos na cintura e respondeu: M
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– O que poderia estar faltando neste pomar? Por que não come e para de chorar? – disse isso apontando para seu redor e mostrando-lhe o tanto de árvores frutíferas que existiam ali. – Não posso comer essas frutas daqui. Só posso comer uma maçã de ouro, que só cresce em uma árvore especial no templo de Hades. – disse a ninfeta, apontando para um templo em ruínas à sua frente. – E por que você mesma não entra no templo e colhe a tal fruta? Todos os demais riram, concordando com Perseu. Porém, a ninfeta respondeu tristemente: – Porque esse templo é protegido por um centauro perverso. Ele, além de não me deixar comer a maçã que é o meu único alimento, também devora todos que lá entram. Todos se entreolharam, parecendo curiosos e loucos por uma aventura como aquela. Perseu perguntou à ninfeta, percebendo o entusiasmo de seus homens: – O que quer que nós façamos para que não fique mais triste e com fome? Imediatamente, um brilho divino surgiu nos olhos da ninfeta. Ela pediu a Perseu que fosse buscar para ela uma maçã de ouro dentro do templo de Hades, em uma árvore no meio de um misterioso e perigoso labirinto, guardado por um centauro enfurecido e canibal. Em recompensa, ela dar-lhe- ia duas sandálias com asas, que lhe ajudariam muito naquela jornada difícil. Perseu, então, junto com o chefe da guarda e um de seus seis homens, entrou no labirinto. O labirinto era escuro e as trepadeiras que cercavam suas laterais estavam vivas e cheias de veneno mortal. Elas, ao perceberem a presença de nossos heróis,
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esticaram-se e conseguiram alcançar o soldado, enrolando-se no corpo dele como uma espécie de casulo, enfiando seus espinhos venenosos no corpo do rapaz. Ele morreu em um instante, envenenado e sufocado pela erva daninha. Ficaram, então, apenas Perseu e o chefe da guarda, que o seguia lado a lado dentro do labirinto. Perseu ouviu um som estranho. Empunhou sua espada, de prontidão. De repente, surgiu à sua frente uma enorme serpente de fogo. Perseu e o chefe da guarda lutaram destemidamente com a serpente, mas não havia nada que a detivesse. Zeus, então, vendo os apuros do filho, exigiu que Ártemis lhe enviasse ajuda. Muito a contragosto, a deusa, enciumada, enviou um jarro contendo as águas sagradas de Posêidon. Por fim, os dois homens já estavam quase exaustos de tanto lutar. Foi quando Perseu percebeu um enorme jarro de porcelana. Dentro dele havia água, mas não era uma água qualquer: era um presente da grande deusa Ártemis. Ártemis era filha de Zeus e de Leto e irmã gêmea de Apolo. Tida como virgem e defensora da pureza, era também protetora das parturientes e estava ligada a ritos de fecundidade, embora fosse em essência uma deusa caçadora. Encarnava as forças da natureza e tutelava as ninfas, os animais selvagens e o mundo vegetal. Cultuada, sobretudo nas áreas rurais. Na Ática, enfatizou-se seu caráter de senhora das feras. Na ilha de Eubeia, foi considerada protetora dos rebanhos. No Peloponeso, reconheceu-se seu domínio sobre o reino vegetal e ela foi associada à água vivificante. Apesar dessa imagem protetora, Ártemis exibia facetas cruéis: matou o caçador Órion; condenou à morte a ninfa Calisto por
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deixar-se seduzir por Zeus; transformou Acteão em cervo para ser despedaçado por sua própria matilha; e, com Apolo, exterminou os filhos de Níobe e Anfião, para vingar-se de uma suposta afronta. Suas ocupações principais eram a caça e a dança, no que se fazia acompanhar das Ninfas. Imediatamente, Perseu e o chefe da guarda, Flávius, pegaram o jarro, cada um de um lado, jogando a água nas chamas flamejantes da serpente. Sem as chamas, a serpente ficou indefesa. Então, Perseu transpassou sua espada na cabeça da serpente, eliminando-a, que soltou um terrível grito de dor. Continuaram a entrar mais a fundo no labirinto, que parecia não ter fim. Até que chegaram à frente de uma espécie de templo místico, cuja entrada estava totalmente em ruínas. O cheiro fétido que saía de dentro do lugar era insuportável – o que fez Perseu e Flávius enlaçarem suas capas em volta do rosto para tentar amenizar o odor. Os dois homens subiram cautelosamente os degraus do templo em ruínas. O lugar era sombrio, úmido e coberto por musgos. A cada passada que davam, mais o mau cheiro piorava. Os dois homens ficaram diante de duas portas largas e resolveram separar-se: cada um escolheu um caminho diferente. Perseu escolheu o caminho da esquerda e seguiu escuro adentro. Ele não podia ver mais nada, e diversos animais desconhecidos arrastavam-se em seus pés. Por fim, encontrou uma tocha acesa que lhe serviu de guia naquele caminho, mais parecido à entrada para o inferno. Chegou ao meio de um grande saguão de ossos, onde eram depositados os corpos das pessoas que por ali passaram. Perseu tinha que passar por cima daqueles cadáveres para poder alcançar a outra extremidade e conseguir sair daquele lugar abominável. Enquanto ele tentava atravessar por
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cima dos cadáveres e lutar com as lacraias, ratos e outros bichos repulsivos, seu companheiro Flávius caminhava por dentro da outra passagem e já estava para alcançar um enorme jardim, onde a cotovia cantava lindamente e nada se parecia com aquele lugar em que eles se enfiaram. Era como se fosse outro mundo. Flávius ficou totalmente atônito quando encontrou duas lindas mulheres banhando-se em uma fonte. Elas cantavam e convidavam-no para se refrescar junto a elas. Ele ficou encantado com aquela visão de outro mundo. Aquelas mulheres pareciam anjos: seus corpos eram perfeitos, e suas vozes eram como o som de harpas suaves e melodiosas. O homem, então, rendeu-se ao chamado das deusas do lago. Flávius não sabia, mas as mulheres eram sereias vampiras e o levariam para a morte assim que ele entrasse nas águas. Ele começou a se despir, imaginando que havia encontrado o verdadeiro paraíso. Quando já estava entrando naquelas águas traiçoeiras, Perseu puxou-o para fora, despertando-o do transe em que se encontrava. Então, Flávius pôde ver a real face das mulheres: horrendas e com enormes presas de lobo. Quando Perseu conseguiu sair do mar de ossos, achou uma pequena fenda, que o levou até onde Flávius estava. Percebendo que o amigo estava encantado, colocou musgo nos ouvidos para que o canto das sereias também não o hipnotizasse. Foi assim que Perseu salvou seu companheiro de um triste destino. Porém, as sereias, percebendo que Perseu ajudara o amigo, gritaram tão fortemente que quebraram a barreira invisível que escondia a grande árvore de maçãs de ouro. Os dois companheiros entreolharam-se e sorriram largamente. A árvore era do jardim das Hespérides, onde
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crescia a árvore das maçãs de ouro. Não havia um motivo ou lógica específica pela qual ela estava naquele lugar: era obra dos deuses. O pomo de ouro estava carregado de lindas maçãs. Perseu estava quase alcançando uma delas quando um rugido muito alto estremeceu a estrutura do templo. Os dois homens olharam para trás e depararam-se com o centauro. 
Os centauros eram monstros fabulosos, metade homem, metade cavalo. Viviam nas montanhas e florestas. Descendiam de Ixion, rei dos Lápitas, povo que habitava próximo aos montes Pélion e Ossa, na Tessália. Embora mantivessem contatos frequentes com os seres humanos, mostravam-se selvagens e extremamente brutais em seus hábitos. Descendente de Peneu, o deus-rio da Tessália, ou de
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Sísifo, segundo outra genealogia, Ixion foi o primeiro mortal a matar um membro da própria família. Para se casar, ele prometeu dar presentes ao pai da noiva. Mas quando este foi recebê-los, depois do casamento, o genro lançou-o em um fosso cheio de brasas. Com isso, tornou-se culpado de crimes que horrorizaram quem deles tomou conhecimento. Somente Zeus, num dia de excepcional condescendência, purificou-o e recebeu-o na morada dos deuses. Lá, Ixion resolveu assediar Tétis, rainha dos deuses e esposa de Zeus. Mas este, rindo-se da intenção do mal-agradecido, moldou uma nuvem com a forma da deusa, deu-lhe vida e assistiu, divertido, ao cortejador seduzir a nuvem. Depois, quando Ixion começou a se gabar de ter seduzido a própria Tétis, a paciência divina chegou ao fim. Para punir o criminoso, Zeus o prendeu a uma roda em chamas que girava sem cessar, e lançou-o no Hades, o inferno mitológico, onde deveria ficar por toda a eternidade. Mas da união entre Ixion e a nuvem nasceu um ser metade homem e metade cavalo: Centauro, pai dos monstruosos descendentes. O animal olhou-os com ódio mortal e avançou para cima deles, empunhando uma lança. Os dois lutaram impiedosamente com o animal, até que Perseu subiu em suas costas, enfiou a espada por trás e arrancou o coração do animal. Ao matá-lo, Perseu e Flávius viram subir aos céus todos os espíritos dos grandes guerreiros que estavam aprisionados naquele lugar amaldiçoado por anos. Eram como luzes transparentes de fumaça. Muitos daqueles guerreiros Perseu reconheceu como sendo os homens das histórias contadas por sua mãe. Os dois amigos, cansados pela luta, sentaram-se e descansaram por instantes. Depois de finalmente colherem as maçãs, seguiram pela mesma trilha que Flávius havia percorrido para chegar ali.
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O sol já estava se pondo no horizonte quando os dois conseguiram sair do labirinto. Ao vê-los, a ninfa perguntou pelo outro soldado. Ambos lhe responderam que ele havia morrido no início do caminho. Perseu contou aos companheiros e à ninfa toda a aventura que ele e Flávius viveram dentro do labirinto. Todos ficaram maravilhados. Perseu entregou à ninfa as maçãs e também algo que ela não esperava: tirou de dentro de um alforje o coração do centauro. – Este veio de brinde. Agora, quando sentir fome, não precisará ter medo de colher suas maçãs. Poderá por si só entrar e pegá-las. – anunciou Perseu. A ninfa, num gesto de gratidão, esticou a mão a Perseu, dando-lhe em seguida uma das maçãs: – Coma uma de minhas maçãs. Com isso, tornar-se-á imortal. Perseu comeu a maçã e a ninfa, então, revelou a verdadeira identidade a ele, transfigurando-se na frente de todos. Houve imenso alarido de surpresa e assombro. Em seguida, a deusa deu a Perseu o merecido prêmio: as sandálias com asas.
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Então, Perseu seguiu com seus soldados o árduo caminho pedregoso e cheio de perigos. No percurso, pararam em outro templo antigo. Perseu, mais uma vez, foi presenteado pelos deuses, a pedido de Zeus, com um elmo de bronze, cujo poder era a invisibilidade. Ganhou também um escudo de ouro e prata e uma espada feita de um metal criado pelos deuses.
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III – Do Destino ao amor... camparam naquele templo por uma noite. Durante seu sonho, Perseu recebeu a visita de Zeus, seu pai, que lhe disse: – Perseu, você é meu filho e esses presentes foram um presente dos deuses do Olimpo a meu pedido. Guarde-os com cuidado, pois poderão salvar a sua vida. Perseu acordou na manhã seguinte muito impressionado, contando tudo o que sucedera durante a noite ao seu fiel amigo Flávius. Depois, seguiram seu trajeto, passando pela Etiópia. Lá se depararam com um enorme festejo no qual Cassiopeia, esposa do rei Cefeu e mãe de Andrômeda, proclamava a filha a mais bela de todas as mulheres, até mais que as próprias ninfas das águas. Posêidon, ao ouvir tal absurdo e sentindo-se insultado, ficou furioso e castigou-os com uma inundação e com a presença de um monstro marinho, o Kraken. Posêidon exigia a princesa Andrômeda, ainda imaculada, como sacrifício. Um oráculo informou a Cefeu que a única maneira de salvar o reino seria expor Andrômeda ao monstro, o que foi feito. Perseu, ao ver Andrômeda, apaixonou-se de imediato. Compadecido da atual situação da moça, oferece-se para ajudá-la, porém não havia nada que pudesse vencer o Kraken. Um dos soldados de Perseu, porém, disse-lhe: – Meu caro e nobre príncipe, existe, sim, uma maneira de salvar a sua donzela. – E qual seria essa maneira, meu nobre soldado? A
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– As feiticeiras de Sticks: três Gréias velhas e totalmente cegas, dotadas de um fabuloso dom, que é o de saber responder qualquer coisa que lhes seja perguntada. – Então, que assim seja. Iremos imediatamente ao encontro dessas feiticeiras. – Porém, meu senhor, tem um grande problema. – ressaltou o chefe da guarda. – E que problema poderiam me causar três mulheres velhas e cegas? – Sim, meu senhor, por certo são cegas e velhas, mas são também canibais. Nunca houve quem voltasse de lá, de onde elas vivem. – Não me importo com o perigo. Farei o que for possível para salvar a princesa Andrômeda. – disse o jovem apaixonado e obstinado a cumprir com aquela tarefa árdua. Foram providenciados todos os preparativos para seguir viagem. O jovem príncipe Perseu seguiu sua jornada, sem saber que tudo aquilo estava escrito pelos deuses. Depois de uma semana de viagem, ele finalmente encontrou as montanhas de Sticks, onde viviam as Gréias. Porém, eles levariam, no mínimo, um dia para escalarem a montanha rochosa. Perseu, então, lembrou-se das sandálias de asas que lhe foram dadas pela deusa Atena. Com isso, o jovem Perseu chegou ao topo das montanhas em apenas algumas horas, enquanto seus companheiros de jornada demoraram o dia todo. Enquanto os companheiros de Perseu subiam lentamente pela montanha rochosa e escorregadia, Perseu arquitetou uma maneira de entrar no covil das feiticeiras. Quando, por fim, seus amigos chegaram ao topo da montanha, estavam todos muito exaustos e resolveram deixar aquela missão para o outro dia. Na manhã seguinte, levantaram muito cedo, seguindo em direção ao covil das Gréias.
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O lugar era muito escuro e sujo. Aquelas mulheres decrépitas não tinham os olhos, pois haviam sido amaldiçoadas pelos deuses. Por causa da ganância de seus corações, foi-lhes tirada a visão. No lugar dos olhos, não existia nada – nem mesmo uma marca sequer; a pele era lisa. Quando Perseu resolveu entrar na gruta das feiticeiras, seus soldados não quiseram entrar, temerosos pela fama de as mulheres serem canibais. Somente Perseu e Flávius entraram. Dentro da gruta, Perseu e Flávius não conseguiram permanecer incógnitos, pois as mulheres, embora não enxergassem, tinham com elas um olho de cristal que lhes servia de visão. As Gréias eram horrendas e muito sujas. Seus dedos eram pontiagudos, e elas tinham presas em forma de serras em vez dos dentes normais. Os poucos fios de cabelos que sobraram na cabeça davam-lhes ainda mais o pior dos aspectos. Elas eram empalidecidas e cheiravam muito mal. Usavam trapos rasgados como vestes e cozinhavam incessantemente alguma coisa podre e esverdeada dentro de um caldeirão borbulhante, de onde saíam estranhos ruídos, como gemidos humanos. O cozido mais parecia uma grande gosma humana sendo remexida a todo instante. Uma delas, ao perceber a presença dos jovens, colocou o olho na frente da testa para poder vê-los melhor. Ao perceber que Perseu era um jovem forte e bonito, disse ela: – Aproxime-se mais, meu querido, para que eu possa vê-lo nitidamente. A segunda queria ver com quem a irmã estava falando e, de imediato, tomou o olho de cristal da mão da primeira. Enquanto as mulheres brigavam entre si, a terceira perguntou:
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– O que tão saborosas criaturas estão fazendo aqui? – disse isso, enquanto afundava a mão de um homem no líquido esverdeado do caldeirão. Perseu e Flávius entreolharam-se, parecendo enjoados ao verem o cozido sinistro. Embora Perseu estivesse repudiando a funesta criatura, respondeu-lhe: – Estamos aqui porque soubemos que as senhoras são as criaturas mais sábias de todos os tempos e podem responder a qualquer pergunta que queiramos fazer- lhes. As Gréias começaram a brigar entre si por causa do olho, o que deu a Perseu a chance de tomá-lo das velhas. Ao perceberem o que Perseu fizera, clamaram: – Misericórdia, dependemos desse olho para sobrevivermos! Por favor, devolva-nos o olho! – Sim, eu lhes devolverei assim que me responderem uma pergunta. – O que você quer saber? – disse a primeira. – Faremos o que nos pede, responderemos as suas perguntas, mas nos devolva o olho. – disse a segunda. – Diga-nos o que você quer logo saber e, assim, nós o responderemos! Anda! – disse a terceira, parecendo ansiosa para ter o olho de volta. – Quero saber como um mortal pode matar o Kraken. Todas elas começaram a rir. A primeira respondeu: – Isso é impossível, nenhum mortal pode matar o Kraken. – Não, não. Existe, sim, uma criatura que pode matá-lo, mas nunca ninguém voltou vivo de lá, de onde ela vive, para contar. – disse a terceira.
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– E quem é a tal criatura capaz de poder matar o Kraken? Falem logo, ou nunca mais verão o olho! – Não, não, por favor, eu digo: é a Medusa. Ela é a única criatura capaz de matar o Kraken. Mas ressalto que você terá que tirar a cabeça dela. – Sim, mas ela não vai dar a própria cabeça assim, de mão beijada para você. – disse a segunda feiticeira, caçoando de Perseu. – Ela é tão mortal que, mesmo depois de morta, até o seu sangue pode ser venenoso. Ele é tão mortal quanto os seus olhos. – Se sua cabeça é tão mortal quanto seu sangue, como poderei trazer sua cabeça caso consiga derrotá-la e matá- la? – Você tocou no olho. Assim como ele tem o poder de nos dar a visão, ele também pode imunizar a sua capa. Faça um alforje com ela e coloque a cabeça da medusa dentro. Assim, o sangue dela não escorrerá e não prejudicará você nem seus companheiros. Imediatamente, Perseu esfregou o olho mágico sobre a capa vermelha e depois o jogou ao chão, para que as feiticeiras pegassem o artefato precioso. Assim, ele e Flávius ganhariam tempo para fugirem da gruta das Gréias canibais. Ao chegarem do lado de fora, os soldados tiveram o árduo trabalho de descer a montanha rochosa e escorregadia. Perseu, porém, novamente usou as sandálias para descer e aguardou por seus companheiros, calmo e tranquilo, em solo firme. Quando a noite caiu, ele, muito a contragosto, aceitou a ideia de acamparem mais um dia. O tempo estava passando e estava chegando o dia em que Andrômeda seria entregue ao Kraken. Perseu estava aflito, mas aproveitou a noite e cozeu o alforje feito da própria capa.
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Na fatídica manhã seguinte, Perseu levantou exausto porque não conseguira dormir. Na noite anterior, tivera inúmeros pesadelos com Andrômeda sendo devorada pelo Kraken. Perseu sentiu medo e estava temeroso de não conseguir capturar a górgona. Então, ele clamou aos deuses para que o ajudassem. Compadecido por ver a humildade de Perseu, Zeus imediatamente lhe enviou um presente dos céus: Pégaso, o último de todos os seus cavalos alados.
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O animal era magnífico e surgiu inesperadamente dos céus, com suas admiráveis asas gigantescas. Pégaso desceu dos céus, transformando os ventos em redemoinhos, que se dissipavam aos pés de Perseu. Todos os demais em volta ajoelharam-se para receber o presente vindo do Olímpio. O animal, ao ver Perseu, aproximou-se e reverenciou-o, provando a todos que ele era enviado por Zeus e que estava ali para servir a seu filho. Imediatamente, Perseu acariciou-o no focinho e montou-o. Os dois saíram cavalgando por entre as nuvens. Ambos formavam um conjunto de criaturas divinas e perfeitas que magistralmente desfilava nos céus, fazendo até ao mais incrédulo dos mortais sonhar com o
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surreal. Depois de divertir-se, montando e voando sobre o alazão alado, Perseu desceu e caminhou lado a lado com seus homens, montando seu cavalo comum, enquanto Pégaso o seguia dos céus. Três dias já haviam se passado depois que os corajosos homens saíram da gruta das Gréias. Estavam quase chegando perto do reino de Hades, o submundo onde as trevas imperavam e o desconhecido mais uma vez esperava por eles. Eles teriam que atravessar o mar dos mortos dentro de uma gôndola guiada pelo emissário da própria morte. Os homens seguiram o trajeto, cada qual mais apreensivo que o outro. À medida que se aproximavam da encosta, mais e mais parecia que seus corações iam batendo em um ritmo descompassado. Era como se soubessem que algo maligno envolvia aquele lugar, que a cada instante mais distante da realidade se tornava. Os soldados eram homens corajosos, mas exigir que eles não sentissem medo mediante tais situações dos últimos dias era pedir demais – até mesmo para homens acostumados com o campo de batalha. De repente, quando nada mais parecia ser surpresa, eis que surge na frente deles um intenso e misterioso nevoeiro que pairava sobre a terra, as águas e a praia. Mal dava para enxergar os próprios pés. Ao aproximarem da beira das águas, Perseu desceu do cavalo e tocou uma enorme trombeta feita com o chifre de uma serpente do mar. A melodia era parecida ao clamor dos mortos. Em um piscar de olhos, apareceu, em meio ao nevoeiro denso, dentro de uma gôndola negra e com uma carranca na forma de dragão na frente, um barqueiro misterioso e sinistro, usando uma veste rasgada e negra. Ele trazia nas mãos uma foice. Ao se aproximar, o barqueiro silenciosamente esticou as mãos de esqueleto e
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Perseu colocou sobre elas três moedas de prata, subindo em seguida cada um dentro da gôndola. Dali por diante, Pégaso não seguiu mais Perseu das alturas – mas Perseu sabia que se precisasse do fiel amigo, era só assobiar. Assim seguiram nossos heróis mar adentro, com um nevoeiro que mal se podia visualizar o que estava à frente. Não existia dia naquele lugar. Era como se o tempo nunca passasse. As águas cheiravam a sangue, e diversos clamores ecoavam à volta de Perseu e seus cinco companheiros. Todos estavam muito assustados e tentavam manter os nervos calmos. Em alguns momentos, dava a impressão de que vultos passavam sobre eles e, com medo, acabavam esbarrando-se uns nos outros. A tensão tomou conta do grupo dos bravos destemidos heróis, pois a falta de visão era uma constante. Depois de muitas horas navegando por entre aquelas águas sinistras e no meio daquele nevoeiro denso, finalmente a gôndola encontrou terra para que nossos viajantes pudessem atracar. Perseu desceu da gôndola cautelosamente e pegou uma tocha, que estava estacada na areia, logo na encosta onde o barqueiro os deixou. Depois de acender a tocha, ele disse aos companheiros: – Podem descer, homens. Parece seguro. Acendam as outras tochas que estão adiante e vamos seguir caminho. Os homens obedeceram com os corações cheios de medo e insegurança. Um dos soldados disse: – Senhor, é noite. Mesmo aqui, neste lugar fúnebre e sem luz, seria melhor que esperássemos o dia amanhecer para entrarmos no templo da Medusa, pois não sabemos o que poderemos encontrar com essa escuridão toda. Flávius concordou com o soldado dizendo:
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– Senhor, acho que devemos acampar esta noite. Mesmo que o dia aqui se pareça com a noite, ainda assim teremos mais chances de sobrevivermos na penumbra do que na escuridão. Todos concordaram entre si e Perseu não hesitou em seguir o que os companheiros sugeriram. Armaram acampamento à beira do mar e acenderam uma fogueira para protegê-los do frio e dos perigos eminentes. Perseu sentou-se perto do chefe da guarda e ambos ficaram conversando sobre as aventuras que encontraram desde que saíram do reino do rei Polidectes. O restante dos soldados aproveitou para se distraírem um pouco, bebendo vinho que um deles havia levado dentro de um alforje feito com o couro de carneiro. Perseu ficou inerte, olhando o tempo, perdido em seus próprios pensamentos, imaginando o rosto de Andrômeda. Ele sentiu o cheiro da amada vindo através dos ventos que vinham de terras muito distantes. Depois, resolveu beber com seus homens e acabou adormecendo e sonhando com Andrômeda. No sonho, Perseu entrava em um reino misterioso. Na verdade, era um pântano sujo e sombrio. De repente, ele via Andrômeda sendo trazida em uma gaiola por uma ave de rapina gigantesca. A ave pousava e a gaiola abria-se. Andrômeda descia, vestida com um fino véu azul, e seguia em direção até onde estava sentada em um trono de ossos uma criatura horrenda e terrível. A besta, ao ver Andrômeda, levantava e também seguia ao encontro da princesa. Em seguida, a besta tomava-a pelos pulos e obrigava-a a sentar-se ao seu lado. Andrômeda chorava muito e pedia que a besta libertasse sua alma. A besta dava uma terrível gargalhada e respondia:
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– Nunca! Está presa a mim por toda a eternidade. Em seguida, Perseu acordou agitado e suando muito. Ao perceber que o amigo acordou daquele jeito todo aflito, Flávius perguntou, preocupado: – O que aconteceu, senhor? Algo em que eu possa ajudá-lo? Perseu, então, contou a Flávius sobre o seu sonho angustiante e aparentemente premonitório. Flávius respondeu: – Senhor, esse seu sonho está parecendo um aviso. – Como assim? Você acha que minha amada Andrômeda está correndo perigo agora? – Isso não sei, senhor. O que sei é que dentro de duas semanas a sua princesa será sacrificada ao Kraken. Mas o que estou tentando lhe dizer é que a besta de seu sonho é Calibos, filho da deusa Tétis, amaldiçoado por Zeus por causa das crueldades praticadas contra as criaturas da Lua. Quando sua mãe, a deusa Tétis, deu-lhe os muros da Lua para que ele governasse, Calibos destruiu e perseguiu toda criatura viva que encontrou pela frente – sem contar que ele cercou e matou todos os cavalos alados de Zeus, deixando apenas o Pégaso. Zeus, então, amaldiçoou Calibos com a deformidade. Ele se tornou uma criatura horrenda aos olhos humanos. Por ter sido motivo de deboche entre muitos, refugiou-se no pântano escuro, onde vive até hoje. Calibos era um homem muito bem afeiçoado. Quando ainda estava em sua forma humana, quis se casar com Andrômeda, mas ela rejeitou seu amor. Calibos jurou vingar-se dela. E agora o senhor me conta esse sonho... Sinto muito, mas acho que pode ser uma premonição ou um aviso dos deuses.
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– Não permitirei que minha amada Andrômeda seja vítima dessa besta humana! Eu mesmo a destruirei com minhas próprias mãos. – Muito nobre de sua parte, senhor, mas antes temos que destruir a górgona. Aliás, não sei se o senhor percebeu, desde que saímos da ilha de Sérifo, reino do rei Polidectes, vivemos prestes a nos tornarmos o jantar de alguma criatura dos infernos ou feiticeiras canibais! Ambos começaram a rir e Perseu disse: – É o destino, meu caro, é o destino... Quando os dois companheiros caíram em si, o dia estava raiando. Eles levantaram e acordaram os outros quatro homens, que ainda dormiam sob o efeito do vinho da noite anterior. Mesmo tendo amanhecido, a ilha da Medusa era escura e no céu havia nuvens espessas de cores acinzentadas. Seguiram por dentro da ilha, cortando o mato seco que passava de suas cabeças. Até que chegaram a um templo em ruínas, de onde saiu um uivo que gelou suas almas. Perseu, então, seguiu em frente, subindo as escadarias do templo. Até que bem à sua frente surgiu uma enorme criatura bestial de três cabeças: Cérbero, um animal imenso, com olhos vermelhos e presas gigantescas. O cão dos infernos surgiu no meio do nada e atacou-os com uma fúria mortal. Cada um dos homens lutou contra uma daquelas cabeças, mas foi Perseu que o venceu, usando a espada que lhe foi dada por seu pai, Zeus. No entanto, Perseu perdeu mais um de seus companheiros, que foram estraçalhados pela terrível criatura. O animal caiu, gemendo de uma forma horripilante, debatendo-se ao chão, até que não mais tivesse vida. Os homens entreolharam-se, calculando o que estaria guardando aquela criatura das trevas.
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Se a Medusa transformava qualquer criatura viva em pedra, por certo havia algum motivo para ela ter dado àquela criatura o privilégio de ainda estar viva. “Ou seria mais um desafio dos deuses?”, pensou Perseu, exausto por causa da luta. Os bravos e destemidos jovens estavam, finalmente, dentro do templo da Medusa. Sorrateiramente, eles iam se encostando pelas paredes. Porém, um dos soldados se assustou com o barulho da górgona arrastando-se por de trás dele e, sem querer, virou-se para trás, olhando em seus olhos: transformou-se em pedra imediatamente. Outro jovem tentou sair do templo, mas a Medusa o laçou com a calda, esmagando todos os ossos do seu corpo, transformando-o em pedra e, em seguida, pó. O terceiro e último soldado tentou livrar o amigo das garras da megera, mas foi envenenado por uma das flechas de seu arco. Perseu escondeu-se atrás de uma pilastra de mármore e jogou o escudo para seu fiel amigo, Flávius, que o inverteu para o lado mais polido. Assim, com o escudo na frente do rosto, Flávius não olharia para a Medusa e daria a chance de Perseu ter uma visão exata de como e onde estava a famigerada. A megera, ao perceber o reflexo de Perseu, arrastou-se vagarosamente até onde ele estava, meio desconfiada por perceber que o jovem resistia à sua maldição petrificadora. A megera, então enfurecida, abriu suas asas, armando o arco e estendendo uma flecha na direção do reflexo de Perseu, pois ela supunha que o acertaria. Ao se aproximar mais do reflexo emitido pelo escudo, Perseu mirou a cabeça da górgona com a lâmina de sua espada e, com um golpe preciso e certeiro, arrancou-a.
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A cabeça caiu ao chão. Nem deu tempo de a megera perceber o que lhe havia acontecido. Porém, seu corpo ainda estava sob o efeito de seu veneno mortal e debatia-se como louco – o que começou a abalar as estruturas do templo, desmoronando-o. Perseu imediatamente pegou a cabeça da górgona por trás, jogando-a dentro do alforje que fizera com a capa, juntando as pontas e dando um nó. Ele sabia que a capa estava imune por causa do olho das feiticeiras. Perseu jogou o alforje com a cabeça sob as costas e saiu daquele templo em ruínas com seu amigo Flávius. Ao saírem, notou que as nuvens abriam-se e o sol voltara a brilhar naquele lugar amaldiçoado. Pequenas plantas rasteiras começaram a brotar do solo, e minúsculas florzinhas abriam-se, enchendo o lugar de vida novamente. As aves estavam retornando e sobrevoavam a ilha. O intenso nevoeiro ia se dissipando como que em um passe de mágica. Os dois homens olharam aquele milagre acontecer com um largo sorriso de vitória e alívio nos lábios. Em seguida, Perseu assoviou e eis que surgiu Pégaso. Assim, ele e Flávius voltaram para a Grécia, onde estariam sendo executadas as ordens de Posêidon. A viagem de volta demorou duas semanas exatas. Os jovens tiveram que parar algumas vezes para descansar e comer – o que os atrasava em seu tempo escasso. Pégaso demonstrava-se cada vez mais esperto e fiel, salvando por várias vezes seu mestre de animais como serpentes, aranhas e escorpiões. À noite, os homens puderam dormir sossegados, pois Pégaso mantinha-se sempre alerta. Durante o dia, os homens cavalgavam pelas nuvens no lombo do corcel alado, que incansavelmente levava-os pelos céus. A paisagem era indescritível, pois nenhum outro mortal havia ido tão longe antes, cruzando os céus e podendo contemplar a magnitude de
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ver a Terra tão belamente de cima, num esplendor indescritível. As paisagens e o vento batendo em seus rostos davam-lhes a incrível sensação de liberdade e de poder absoluto. Ao se aproximarem da cidade da rainha Cassiopeia, mãe de Andrômeda, Perseu avistou ao longe o grande tumulto que se formava. Era o dia em que Andrômeda seria sacrificada ao Kraken. Perseu pousou o corcel e deixou Flávius ao chão. Subiu, em seguida, no lombo do corcel alado e sobrevoou o Kraken. Este, ao ver Pégaso, quis lançá-lo ao mar como uma mosquinha. Perseu chegou a bambear sobre o cavalo, mas não caiu. O bravo herói tira a cabeça da medusa do alforje feito de sua capa, erguendo-a e mostrando-a ao Kraken em seguida. Em instantes, a criatura foi se transformando em pedra, começando pelos olhos. Seus pedaços foram caindo ao mar, causando uma espécie de maremoto e inundando tudo o que encontrou à volta. Perseu desceu do corcel alado e desacorrentou sua amada, beijando-a suavemente nos lábios. Todos os demais que assistiam à execução da donzela comemoraram satisfeitos por Perseu ter libertado sua futura rainha. Após o seu casamento com Andrômeda – uma festa que durou um mês – Perseu retornou à ilha de Sérifo e libertou sua mãe de Polidectes, que havia se tornado um terrível e cruel tirano. Perseu usou a cabeça da Medusa para transformar o rei e seus seguidores em pedra. Então, todos retornaram a Argos, onde Perseu reconstruiu a cidade de seu falecido avô – tornando, assim, verdadeira a lenda do oráculo que dizia que o seu neto seria o rei de Argos. O oráculo também dizia que seria Perseu o causador de sua morte – o que, de certa forma, foi verdade, pois por causa de Perseu, Zeus, seu pai, destruiu toda a cidade com uma inundação.
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Ao sair de Argos, Perseu fundou Micenas, e tanto a Grécia como o Egito honraram-no como herói. Essas qualidades também despertaram a inveja de alguns deuses do Olimpo, como da fabulosa Tétis. Ela incentivou seu filho, Calibos, a tomar para si a esposa de Perseu, a princesa Andrômeda. Calibos, então, sorrateiramente, teceu sua trama diabólica com a ajuda de sua mãe. A besta, então, evocou das profundezas a mais terrível das criaturas: o Klaus. Klaus era um abutre gigantesco, sedento por sangue, que estava sob o domínio de Calibos. A deusa Tétis, tomada pela inveja e pelo ódio porque seu filho estava sob a maldição de Zeus, jogou sobre Andrômeda o encanto do sono, fazendo-a permanecer adormecida o tempo todo, como se estivesse morta. No palácio real, durante uma cerimônia festiva, Andrômeda caiu inexplicavelmente ao chão. Dali por diante, permaneceu adormecida, como se estivesse morta. Todos os médicos e especialistas em feitiços foram chamados pelo rei Perseu. Ele, desesperado, tentava de tudo para salvar sua amada esposa. Até que Amadeus, o mais poderoso profeta de todos os tempos, foi solicitado para ajudar Andrômeda. Amadeus evocou as forças ocultas para tentar salvar a princesa. Foi aí que, então, foi-lhe revelado o seguinte presságio: A princesa Andrômeda tinha a alma capturada por Calibos, e este a mantinha presa sob seu domínio até que ela fosse totalmente dele. Amadeus passou todas as informações a Perseu, que imediatamente lembrou-se de seu sonho. Quase numa súplica, ele disse: – E como ele a mantém sob seu domínio? O que deverá ser feito para que eu possa salvar minha Andrômeda dessa besta imunda?
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– Deverá primeiro usar de cautela, pois se Calibos souber que o senhor desconfia, ele mata Andrômeda imediatamente. Como eu disse, por enquanto somente a sua alma está aprisionada. A princesa permanecerá nesse sono profundo até que a sua alma seja liberta. Calibos usou de uma magia muito poderosa. Ele, por certo, foi ajudado por sua mãe. Ele colocou Andrômeda em sono profundo até que ela perca suas forças vitais e ele a capture de corpo e alma para sempre. – O que tenho que fazer? Diga-me! – Deverá ir ao reino de Calibos, no mais perigoso de todos os pântanos, e lá deverá descobrir como ele faz para manter a alma de Andrômeda sob o seu poder. Mas lembre-se: ele tem também a ajuda de seus soldados, criaturas enviadas pela morte. O senhor pode não sobreviver a essa terrível jornada, pois o caminho até o reino de Calibos é muito perigoso e só Zeus sabe quais os perigos que poderá encontrar pela frente. – Como poderei, então, chegar até Calibos e descobrir uma forma de derrotá-lo e libertar minha esposa? – Durante a noite, enquanto sua esposa dorme o sono dos justos, ele envia a seus aposentos uma terrível criatura, o Klaus. Esse animal dos infernos leva consigo uma gaiola e, com isso, a sua esposa entra e, assim, ele a tem todas as noites. – Mas como não vejo isso, se ela dorme ao meu lado todas as noites? – O senhor dorme também profundamente sob o encanto, assim como todos os demais de seu palácio. No entanto, esta noite o senhor tomará esta poção que lhe preparei para que, com isso, o senhor não consiga dormir hoje. Quando a criatura bestial estiver se aproximando de seu quarto na calada da noite, o senhor imediatamente deve colocar o elmo
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que lhe foi dado pelos deuses. O elmo tem o poder da invisibilidade e, com isso, o senhor deverá subir sobre o lombo de Pégaso e seguir a criatura alada até as profundezas do pântano escuro, para onde ela leva a alma de sua Andrômeda. Naquele exato momento, Perseu reviveu o sonho que tivera meses atrás. Ele estava impressionado com a revelação de Amadeus. Foi, então, que Perseu decidiu entrar sozinho no reino de Calibos, dizendo: – Estou disposto a fazer o que for preciso para salvar minha amada Andrômeda. Entrarei sozinho no reino dessa besta e o destruirei. Amadeus discordou de Perseu e insistiu para que ele levasse reforços, mas Perseu respondeu firmemente: – Nunca! Não posso colocar meus homens novamente em perigo por uma coisa que está destinada a mim. Amadeus ressaltou: – Então, que pelo menos o senhor leve consigo os homens até a entrada do pântano e, de lá, siga sozinho, pois os caminhos serão tortuosos e muito perigosos. Deixe que seus homens ao menos o acompanhem durante o caminho. O senhor não pode seguir sozinho durante toda essa jornada. É muito nobre de sua parte querer salvar sua esposa, mas é burrice querer seguir sozinho. E mesmo o senhor sendo um semideus, não conseguirá atravessar o deserto de sangue, assim chamado devido às tantas batalhas acontecidas naquele lugar sem honra. O senhor também não conseguirá enfrentar os perigos desse lugar, pois dizem que lá os animais são criaturas monstruosas e gigantescas. Muito menos conseguirá passar pelo portal de Lekos, pois dizem que a esfinge que guarda o lugar sempre tem um enigma para ser desvendado. Nenhum mortal conseguiu atravessar esse portal até hoje. Por isso, previno-o que não enfrente esses eminentes perigos sozinho. Precisará,
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sim, de toda a ajuda que conseguir contatar. Pense bem, meu senhor, e seja prudente. Todos os homens que morreram em suas viagens sabiam que iriam encontrar diversos perigos e, mesmo assim, seguiram em frente porque estava no sangue deles a aventura. Não existem vitórias sem derrotas, como não existe honra sem a morte. Hoje, esses homens são considerados heróis por todos à sua volta. Acredite: as famílias daqueles soldados, mesmo tendo passado pela dor da perda de cada um deles, sentem orgulho daqueles homens corajosos. Mande chamar seus homens aqui e eu mesmo explicar-lhes-ei como farão para que consigam passar por essas duas provas de fogo. Perseu meditou por instantes e disse a um lacaio, que estava encostado em um canto e esperando uma ordem qualquer: – Rapaz, vá até Flávius e peça-lhe que convoque oito de seus melhores soldados. Com eles, que venha até aqui. Olhou em seguida para Amadeus e disse: – Espero que realmente eu esteja tomando a decisão correta, pois não gostaria de levar comigo a morte de homens inocentes. – Acredite, meu senhor, esses bravos soldados estão esperando para que o senhor os convoque e os leve juntos nessa aventura. Os soldados chegaram e reverenciaram Perseu, que foi direto ao assunto, pois não queria perder tempo com detalhes. Os homens ouviram atentamente cada palavra do rei. Depois, permaneceram em silêncio para ouvir também o que Amadeus lhes explicava. Todos murmuravam entre si, mas foi Flávius quem tomou a frente, dizendo:
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– Estamos a seu dispor, meu rei, e estamos dispostos a dar nossas vidas pela rainha Andrômeda. A partir de agora, sua palavra será nossa ordem. – bateu com a mão direita e o punho fechado no próprio peito. Todos seguiram Flávius com o mesmo gesto. Perseu olhou-os dentro dos olhos e disse-lhes: – Quero que saibam que para sempre terão a minha gratidão. Aconteça o que acontecer, suas famílias serão amparadas até o fim de suas vidas. Eu mesmo farei um decreto em que exonerarei seus familiares de qualquer imposto cobrado neste reino. Caso haja uma fatalidade, quero que saibam que será erguido um monumento em honra de cada homem, que deverá ser reconhecido como herói. Os homens, mais uma vez, fizeram reverência ao rei Perseu. No dia seguinte, Flávius e oito de seus melhores soldados esperavam Perseu a postos. Todos estavam com medo e, ao mesmo tempo, ansiosos por começarem a nova aventura. Dentro do palácio, no entanto, Perseu chorava por Andrômeda, que permanecia como morta, deitada em seu leito de núpcias. Perseu ajoelhou-se diante da amada, dizendo-lhe: – Juro, minha amada esposa, que enquanto não matar Calibos e restituir-lhe a vida novamente, não voltarei. Eu lhe juro pela minha vida. – disse, beijando-a nos lábios e saindo em seguida. Do lado de fora, Perseu foi aclamado junto com seus soldados e, então, eles partiram para a nova jornada. O sol estava escaldante e a água que eles bebiam parecia não surtir efeito. Caminharam os homens dois dias e duas noites sem nem descansar, até que Perseu deu-lhes ordem para uma trégua:
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– Alto, homens! Pararemos mais à frente, naquele oásis. – disse, ao avistar um pedaço do paraíso à sua frente. Perseu e seus soldados desceram cautelosamente de seus cavalos, pois havia algo de estranho no ar. Flávius olhou para Perseu e interrogou-o: – Senhor, não acha estranho aparecer um oásis assim, no meio do nada? E se for uma armadilha de algum gênio do mal? – Então, saberemos dentro de alguns instantes, creio. – Então, devemos ter cautela, pois há algo maligno no ar. – Diga aos homens que permaneçam juntos e que não acreditem em nada que aparecer à frente dos olhos, pois sinto que esse oásis é uma ilusão. Flávius e os soldados seguiram lado a lado, exceto um deles que, ao ver uma luz brilhando no meio da relva verde, saiu do meio do grupo e seguiu até o local, tentando ver se encontrava o objeto luminoso que ofuscava ainda mais com os raios do sol. Ao se aproximar, o soldado viu uma lamparina de ouro coberta pela areia, deixando à mostra somente um pedaço que resplandeceu com os raios do sol escaldante daquele deserto. O homem abaixou-se e tomou para si o objeto. Logo que suas mãos o tocaram, uma voz fantasmagórica saiu de dentro dele. O soldado assustou-se de imediato, jogando o objeto ao chão. A voz prosseguiu, saindo de dentro da lamparina: – Julius, liberte-me e lhe darei toda a riqueza do mundo. Farei de você o homem mais poderoso do universo...
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O homem, muito ambicioso, pegou novamente a lamparina: – Quem é você, e como saberei que não é um truque? – Não é um truque, eu garanto. Meu caro Julius, sou um gênio e meu mestre, muito mau, aprisionou-me por séculos nesta lamparina de ouro para que eu nunca mais pudesse conceder um desejo a alguém, senão a ele próprio. – E como saberei que não está mentindo para mim? – Não estou, meu caro amo. Liberte-me e provarei que o que falo é a mais absoluta verdade. – E o que tenho que fazer para libertá-lo daí? – Esfregue a lâmpada e verá!
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O ingênuo e ambicioso rapaz assim o fez. Logo da lamparina começou a sair uma nuvem de fumaça. Assustado, o soldado novamente jogou a lamparina ao chão, crente que o gênio iria lhe dar toda a fortuna que havia prometido. Fora da lamparina, o gênio era gigantesco. Ao se ver livre, deu uma enorme gargalhada, chamando a atenção de Perseu e de seus soldados, que estavam bem à frente do soldado desgarrado. Perseu, então, decidiu voltar e averiguar o porquê do sumiço de seu soldado. Ele também queria saber que barulho estrondoso era aquele. O soldado olhou para cima e ficou perplexo ao ver o gigante que saíra de dentro da lamparina. Mediante as promessas feitas pelo gênio, o soldado grita: – Eu o libertei, e agora exijo que me dê o que prometeu. O gênio olhou para aquele ser minúsculo à sua frente. – E desde quando recebo ordens de um mortal? Acha mesmo que eu lhe concederei algum desejo? Para mim, você não passa de um verme tolo e insignificante. Dizendo tais palavras, o gênio do mal esmagou com um dos pés o soldado. Perseu, Flávius e o restante dos soldados chegaram no exato momento em que o gênio executava o soldado. Perseu e seus homens tentaram, então, lutar contra o gênio, que se transformou em fumaça. – Senhor, é impossível lutarmos contra esse ser, pois sua forma incorpórea torna-nos impotentes. – disse Flávius a Perseu. – Sim, você tem razão. Mas temos que tentar, ou esse monstro vai nos matar.
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Seguiram-se as horas com os homens e Perseu lutando em vão contra o gênio. Este apenas se divertia com os golpes de espadas que transpassavam o corpo dele quase invisível. Até que ele resolveu dar fim ao seu divertimento macabro, dizendo: – Estou cansado de me divertir com vocês, seus vermes. Vou esmagá-los um a um. O gênio começou o extermínio, esmagando mais dois soldados de Perseu. Ao perceber que perderia a vida e também a de seus homens, Perseu tomou a frente, gritando: – É muito fácil para o senhor nos derrotar. Afinal, tem o triplo do nosso tamanho e também usa de poderes ocultos para isso. – Quem disse isso? – perguntou o gênio, admirado por perceber que um daqueles minúsculos homens o desafiava. – Eu disse. – pulou Perseu à frente dos demais. – E quem é você, insignificante criatura? – Sou Perseu, filho de Zeus e rei de Argos. Ainda ressalto, o senhor é poderoso porque é grande em demasia e usa seus poderes ocultos, mas não acredito que um ser tão gigantesco caiba dentro de uma mísera e apertada lamparina. O gênio sentiu-se desafiado e deu outra sonora gargalhada, respondendo: – Então, terei o privilégio de esmagar um mortal que se julga filho de Zeus? – outra gargalhada. – Por certo, para o senhor isso deve mesmo ser fácil. Aceito suas dúvidas, mas também tenho o direito de duvidar que um ser tão poderoso e exuberante como o senhor caiba nessa mísera lamparina. Isso seria um feito muito
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grande, até mesmo para alguém com o seu poder. Somente um gênio poderia executar tal maravilha. – Não cairei no seu truque. Sou um gênio e digo: saí de dentro dessa lamparina. – disse o gênio meio desconfiado, mas com o ego ferido. – É mesmo? Então nos prove! Se for mesmo quem realmente nos diz ser, caberá facilmente dentro desse artefato minúsculo e poderá nos matar. Agora, se não for, terá que ficar em forma sólida para que tenhamos a chance de matá-lo. O gênio, com o orgulho ferido e sentindo-se desafiado a provar quem ele era, transformou-se em nuvem e entrou na lamparina. Imediatamente, Perseu lacrou-a com cera e, assim, prendeu o gênio para sempre dentro do artefato. Perseu enterrou a lamparina no meio do oásis e, assim, o gênio do mal se perdeu para sempre, pois as areias do deserto cada dia estão em um lugar diferente. Os homens, então, decidiram acampar naquele refrescante oásis, passando ali uma noite tranquila. No dia seguinte, Perseu decidiu fazer uma homenagem aos soldados que haviam morrido esmagados pelo gênio: queimou os pertences dos amigos junto a algumas ervas, para que assim seus espíritos descansassem em paz. Seguiram, então, os bravos homens deserto adentro. O sol escaldante do deserto deixou os homens com vertigens. Muitos deles começam a ter alucinações. Perseu, com isso, perdeu dois de seus melhores cavalos. Assim seguiram os dias e as noites torturantes pelo deserto de sangue, assim chamado porque nunca ninguém havia conseguido atravessá-lo com vida. Aqueles homens eram corajosos e cheios de perseverança, pois seguiam Perseu, acompanhando- o, sem se preocupar como os perigos eminentes que os
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esperavam. Quando, por fim, chegaram ao grande portal de Lekos, uma esfinge cercou-os, dizendo: – Para passarem, têm que decifrar o enigma. Decifra-me ou devoro-te. Perseu e os cinco homens entreolharam-se como quem queria dizer “A sorte foi lançada!”. – Então, diga-nos: qual é o enigma, oh, rainha de toda a sabedoria?! – perguntou Perseu. – Dois irmãos não de sangue, mas de batalhas, unidos não pelos laços sanguíneos, mas pela honra e pela coragem. Destemidos, ambos vencem a morte, mas apenas um retornará para os braços de sua amada. Após dizer o enigma, a esfinge fala: – Vocês só terão três chances para responder a esse enigma. Caso contrário, fá-los-ei virar pó. Perseu, Flávius e os homens afastaram-se da esfinge, sentando-se cada um de um lado. Todos ficaram pensativos e temerosos no que iriam responder. Porém, no meio dos cinco homens, eis que surgiu um jovem soldado de nome Cirus, que gritou, saindo de perto dos companheiros: – Eu sei, senhor, eu sei a resposta. – Então, diga, pelo amor de Deus, homem! Não temos mais tempo a perder! – disse Flávius, pegando o jovem
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soldado pelos braços e levando-o para frente da esfinge novamente. Na frente da gigantesca criatura, o rapaz disse: – Posso decifrar o seu enigma, serei o primeiro a derrotá-la. – Então, faço votos para que seja verdade. Caso contrário, transformá-los-ei em cinzas. – Repita para mim novamente, para que eu responda. Novamente, a esfinge declamou seu enigma. – Dois irmãos não de sangue, mas de batalhas, unidos não pelos laços sanguíneos, mas pela honra e pela coragem. Destemidos, ambos vencem a morte, mas apenas um retornará para os braços de sua amada. – O rapaz, cheio de si e confiante que sua resposta era a correta, respondeu: – Sua resposta é os irmãos Castor e Pólux, que foram dois irmãos gêmeos, filhos de Leda com Tíndaro e Zeus, respectivamente, irmãos de Helena de Troia e Clitemnestra, e meios-irmãos de Timandra, Febe, Héracles e Filónoe. Eram conhecidos coletivamente como Dióscuros, ou seja, "filhos de Zeus". Por vezes, também, são referidos como Tindáridas, uma referência ao pai de Castor e pai adotivo de Pólux. No mito, os gêmeos partilham a mesma mãe, mas têm pais diferentes, o que significa que Pólux, por ser filho de Zeus, era imortal, enquanto Castor não o era. Com a morte deste, Pólux pediu a seu pai Zeus que deixasse seu irmão partilhar da mesma imortalidade. Porém, ao conseguir a imortalidade, Castor trai seu irmão Pólux, disputando a mesma mulher com seu irmão, Millena. Esta, porém, decide ficar com Pólux. Irado, Castor resolve matar os dois enamorados, convidando-os para um passeio. Durante o
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passeio, Castor decapita o irmão e a jovem Millena com um cutelo de bronze. Ao ver a traição, Zeus se ira contra Castor e o leva, corpo e alma, para o Olímpio. Como Zeus não poderia voltar atrás com a promessa feita ao filho de dar a imortalidade ao irmão, decide juntá-los em um só corpo. Assim, teriam sido transformados na constelação de Gêmeos. Essa foi a história que minha mãe contou a mim e ao meu irmão quando ainda éramos crianças. Os irmãos são a sua resposta, pois eram irmãos, mas eram filhos de pais diferentes e eram destemidos. E venceram a morte, transformando-se em estrelas no céu. E ambos não voltaram para os braços de sua amada. Então, agora, diga-me se estou ou não certo no que disse! Todos se entreolharam com medo de que a resposta pudesse estar errada. Depois de observar em cada detalhe a reação daqueles que, para ela, eram insignificantes criaturas, a esfinge deu uma estrondosa gargalhada, que abalou o solo: – Adorei sua historinha! Agrada-me muito saber que um simples mortal teve a boa vontade de tentar entreter-me com um conto tão simpático, mas demasiadamente falso e folclórico! Sua historinha não passou nem perto de ser a resposta ao meu enigma. Dizendo tais palavras, a esfinge lançou um raio de fogo sobre o jovem que, em instantes, transformou-se em cinzas, caindo por partes ao solo. De maneira revoltada, um dos soldados saltou à frente de todos. Ele era irmão do jovem que havia sido destruído pela esfinge. Correu em direção à esfinge, tentando feri-la com um golpe de espada. Obviamente, nada ocorreu, mas a esfinge, indignada por estar sendo atacada, soltou-lhe
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outro raio de fogo. O jovem soldado tornou-se pó, que se esvaiu com o vento do deserto. Perseu olhou para Flávius e o interrogou: – Desde quando existiam irmãos entre os nossos? – Confesso que para mim também foi uma surpresa. Um soldado que ouvia a conversa se interpôs, dizendo: – Eles se recrutaram com sobrenomes diferentes. Eram poucos de nós que sabiam o grau de parentesco entre os dois. – Então, isso explica essa constrangedora situação, pois só permitimos um homem de cada família entrar para a guarda real. – disse Perseu, ainda surpreso com a situação. A esfinge gritou irada, fumegando de ódio e assustando os homens que estavam inertes, sentidos pela morte dos companheiros: – Seus insolentes, eu os destruirei por tamanho desrespeito a mim! Acham mesmo que podem me ferir com suas armas insignificantes? Dizendo isso, a esfinge rosnou como um leão furioso, soltando fumaça pelas ventas. Levantou-se do chão e, já no momento em que partiria para esmagar todos, Perseu tomou a frente: – Não, por favor, oh, magnânima criatura, soberana de todas as esfinges! Perdoe-nos! Dê-nos outra chance! Não se zangue com a gente por causa daquele jovem. Ele é um soldado bom e só teve um desequilíbrio emocional por causa da morte do irmão. Sei que nos dará outra chance, pois a senhora é sábia e superior a todos nós, mortais. Com
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certeza nos dará o seu perdão, pois sua nobreza é maior que qualquer desacato que venhamos a lhe fazer. Dizendo tais palavras, Perseu conseguiu comover a esfinge, mexendo com o seu ego. Porém, a exuberante e gigantesca criatura respondeu: – Amanhã, somente até amanhã, ao meio-dia: é o tempo que lhes darei para que decifrem o enigma. Perseu reverenciou-se diante da esfinge, agradecendo-a pelo tempo estendido. Ele e os dois soldados restantes armaram acampamento próximo do local onde se encontrava a esfinge. Assim, passaram a noite inteira tentando decifrar o enigma. Exaustos, os homens acabaram adormecendo e todos durante a noite tiveram sonhos enigmáticos, cuja resposta cada um guardou para si, para tentarem individualmente responder à esfinge. Na manhã seguinte, a esfinge acordou-os com um estrondoso rugido. Os homens levantaram com a alma pesarosa por saberem que aquele poderia ser o último dia de suas vidas. Ela, no entanto, não parecia nem um pouco preocupada com a resposta que lhe dariam aqueles que, para ela, nada significavam. Ela bocejou calmamente e perguntou: – Quem será o primeiro entre vocês que dará a própria vida? –sorrindo cinicamente. Flávius respondeu por todos: – Eu, oh, magnânima criatura! Responderei por mim e por meus companheiros. Creio já saber a sua resposta. – Ato corajoso de sua parte, mas que fique bem claro que não irei perdoá-los caso a resposta esteja errada. Vendo que o amigo estava a ponto de cometer um terrível engano, Perseu pulou na sua frente e disse: – Não! Não posso deixar que se sacrifique por nós. Deixe que eu responda ao enigma.
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– De maneira nenhuma, meu senhor! É muito nobre de sua parte, mas se o senhor morrer, estaremos perdidos. – E se você morrer, meu caro amigo, estaremos perdidos de igual modo. Deixe-me responder ao enigma. – Mas, senhor, tive um sonho muito revelador esta noite e tenho a certeza de que é a resposta ao enigma. Um dos soldados, percebendo a discussão entre os amigos, interveio: – Senhor, perdoe-me pela intromissão, mas percebo que todos nós tivemos sonhos reveladores esta noite. Perseu olhou para os demais, que concordaram com a cabeça. Isso deu uma certeza ainda maior dentro dele, que lhes disse: – Então, meus caros, é óbvio que isso é uma armadilha dos deuses. Deixe-me responder à esfinge. Tenho certeza de que meu sonho é o que tem a resposta correta. Não que eu esteja desmerecendo os sonhos de cada um, mas sei que tem o dedo da deusa Tétis no meio disso tudo. Todos se entreolharam e, a contragosto, deram passagem a Perseu, que saiu em direção à esfinge. Ela disse, ao vê-lo: – Então, terei a honra de matar o filho de Zeus em primeiro lugar? – Tenho certeza, oh, magnânima criatura, de que não será desta vez. Por favor, repita o enigma para mim, para que eu responda! Desconfiada, a esfinge repete novamente o enigma: – Dois irmãos não de sangue, mas de batalhas, unidos não pelos laços sanguíneos, mas pela honra e pela
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coragem. Destemidos, ambos vencem a morte, mas apenas um retornará para os braços de sua amada. – A resposta a esse enigma sou eu e meu amigo Flávius. Os homens entreolharam-se novamente, apavorados, com medo de serem trucidados pela esfinge. Porém, Perseu prosseguiu: – Sim, eu e Flávius. Dois irmãos não de sangue, mas de batalhas, unidos não pelos laços sanguíneos, mas pela honra e pela coragem: assim como eu e Flávius, pois não somos irmãos de sangue, mas nos consideramos como tal, e não estamos unidos pelos laços de sangue, mas sim pela nossa honra e pelas inúmeras batalhas que enfrentamos. Como todos sabem, enfrentamos a morte inúmeras vezes e agora, aqui, diante de sua magnitude e de seu poder, enfrentamo-la novamente, pois sabemos que se não a respondermos verdadeiramente, morreremos. E somente eu voltarei para os braços de minha amada, pois meu amigo Flávius ainda não é casado. Ao ouvir a resposta de Perseu, corretíssima, a esfinge urrou de ódio. Seu urro foi tamanho que estremeceu toda a sua estrutura de pedra. Percebendo que os pedaços da esfinge começaram a desmoronar, Perseu e seus amigos atravessaram imediatamente o vale em meio aos destroços da fera. Por fim, chegaram do outro lado do deserto de sangue, onde se viram em um vale coberto por montanhas rochosas. Perseu e os amigos seguiram, temendo que algo pior estivesse por vir. Caminharam por duas horas debaixo de um calor sufocante e sem limites, até que ouviram um barulho estranho... Então, Perseu e seus corajosos amigos voltaram-se
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para olhar o que poderia vir por trás deles. Porém, nada viram. Até que a terra começou a tremer sob seus pés. Os cinco homens juntaram-se, formando um círculo, cada um cunhando suas espadas. Foi quando um dos homens de Perseu avistou ao longe um pequeno sinal de poeira que mal dava para se ver por causa da areia, que fazia uma espécie de redemoinho em volta do vulto suspeito. A cada proximidade do vulto, mais eminente o perigo ficava. Até que o vulto finalmente tomou forma de três enormes escorpiões. Eles haviam sidos enviados pela deusa Tétis para exterminar aquele grupo de corajosos amigos. Perseu olhou para Flávius, que lhe deu um sorriso de ironia. Os homens, destemidamente, partiram para cima dos escorpiões, mantendo por horas uma luta mortal entre eles e os animais peçonhentos e gigantescos. Um dos soldados conseguiu subir em um dos escorpiões e arrancou o ferrão do gigantesco animal, cunhando em seguida a espada em sua cabeça. Enquanto isso, Perseu e Flávius travavam uma luta mortal com o maior e mais perigoso dos três animais, conseguindo, por fim, cada um enfiar uma espada em seu coração. O animal caiu por terra. O último dos escorpiões prendeu uma das patas na roupa de um dos soldados e, vendo-se encurralado por Perseu e Flávius e os outros dois soldados, a criatura bestial correu, arrastando o soldado. Os homens correram, tentando socorrer o amigo, mas foi inútil: a criatura escorregou em um precipício, caindo e levando consigo o pobre rapaz para morte. Exaustos por mais um batalha vencida, os quatro amigos seguiram viagem. Por fim, chegaram à frente de uma imensa mata que surgiu no meio do nada. Era onde Calibos escondia a alma de Andrômeda. Os amigos entraram caminhando pela mata, que parecia ficar cada vez mais densa e
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assustadora, pois inúmeros olhos pareciam vigiá-los. No meio da mata, finalmente encontraram o pântano escuro. Perseu, então, decidiu que entraria sozinho, pois não gostaria de perder mais nenhum de seus companheiros. Os homens, no entanto, opuseram-se a ele, dizendo-lhe que seguiriam junto e que isso era uma escolha individual. Seguiram, mais uma vez juntos, os bravos heróis... Perseu, mais adiante, pediu a Flávius e aos dois soldados que ficassem e esperassem que ele lhes desse um sinal de ataque. Perseu colocou sobre a cabeça o elmo de bronze, que tinha o poder da invisibilidade. Com isso, então, entrou no covil de Calibos sem ser percebido pela besta e seus monstros guardiões. Foi no exato momento em que a grande fera dos ares, o Klaus, entrou carregando uma gaiola de ouro, trazendo dentro a alma da princesa Andrômeda. A princesa desceu tristemente da gaiola, seguindo em direção a onde estava sentado um animal com o rosto desfigurado, cujo corpo era metade homem e metade cabra. Perseu aproximou-se da amada sem ser percebido por ninguém e ouviu quando ela disse com uma voz que mais parecia um sussurro: – Por favor, meu senhor, liberte-me desse sofrimento. Estou muito cansada e fraca. – Nunca! Você me traiu, trocando-me pelo filho de Zeus. Agora, ambos pagarão com o sofrimento e a morte. – Não é verdade! Fui-lhe fiel enquanto você e eu éramos comprometidos, mas agora... Mediante... Por favor, meu senhor, eu lhe imploro: liberte minha alma. Amo meu esposo Perseu. A besta, enfurecida, bateu com uma das patas em Andrômeda, que caiu desfalecida ao chão. Diante daquele
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ato de crueldade e covardia, Perseu partiu invisivelmente para cima da criatura, que começou a dar socos pelo ar. Seus soldados eram demônios e entreolharam-se, achando que seu mestre havia ficado louco. Perseu, então, assoviou alto. Esse foi o sinal para que seus homens entrassem e lutassem com os demônios. Perseu cravou a ponta de sua espada no coração de Calibos, que urrou, chamando por sua mãe, a deusa Tétis. Enquanto Klaus sobrevoava Perseu, tentando atacá-lo, ele lançou sua espada nele. Klaus caiu estirado ao chão, afundando pântano adentro e levando consigo a espada sagrada de Perseu. Os homens de Perseu conseguiram derrotar, também, os demônios. Estes, ao verem que seu mestre havia sido derrotado, fugiram para dentro do pântano sombrio e musguento. Perseu correu para os braços de sua amada, Andrômeda, que a cada instante ia desaparecendo. Ele tomou sua alma nos braços e, percebendo que ela estava se findando e sumindo a cada instante, chorou. – O que farei sem o meu amor? – pergunta Perseu a Flávius. Todos se calaram mediante tamanho sofrimento e dor. Do outro lado, Calibos agonizava, clamando por sua mãe. Tétis desceu do Olimpo em forma de uma nuvem de gafanhotos e transformou-se em uma linda senhora diante dos olhos de todos. A deusa, ao ver seu filho Calibos morrendo, abraçou-o e consolou-o em seus últimos momentos de vida. Calibos, ainda nos braços da deusa, voltou à sua forma humana depois de morto, o que a enfureceu mais ainda. Com ódio mortal de Perseu e seus amigos, a deusa disse:
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– Seus miseráveis, eu os destruirei um a um pela morte de meu filho! Dizendo isso, a deusa levantou-se e, no exato momento em que iria destruir Perseu e seus homens, surgiu Zeus em forma de trovão. Irado e indignado com a atitude da deusa, ele esbravejou: – Não, Tétis, você não vai ferir meu filho ou quem quer que seja mais! – Mas ele matou o meu filho! – Seu filho pagou pelo preço da desobediência e da crueldade que praticava. Seu filho era um monstro, e não falo isso por causa da forma em que o coloquei, mas sim pela forma como ele agia. Ele era intolerante e cruel, arrogante e sem coração. Mereceu ter o fim que teve. – Mas, meu senhor... Eles o mataram em uma emboscada injusta! – esbravejou a deusa. – Injusto é você não perceber a realidade à frente dos seus olhos. Seu filho era a criatura mais cruel que já habitou o planeta Terra. Não quero mais saber de argumentos! Minha palavra é uma ordem. Dizendo isso, o deus enviou a deusa de volta ao Olimpo como que em um passe de mágicas. Perseu permaneceu abraçado à alma de Andrômeda. Ao ver aquela cena, Zeus disse: – Por sua coragem e bravura, meu filho, concederei a vida dessa mulher novamente. Que você e seus bravos soldados retornem à cidade de Argos em segurança, onde serão aclamados por todos. Quanto a você e à sua esposa, meu filho, serão declamados em muitos versos e trovas por muitos e muitos anos. Sua história será contada por todas as gerações futuras. Quando os mortais olharem para os céus, verão no meio das estrelas você e sua esposa, Andrômeda.
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Dizendo tais palavras, Zeus transportou Perseu e seus soldados para seu palácio em segurança. Ao se perceber no pátio do palácio, Perseu deixou seus homens com os aplausos da vitória e correu para seus aposentos, onde encontrou Andrômeda despertada de seu terrível sono de morte. Os dois beijaram-se e Perseu começou a lhe contar tudo o que se passara nos últimos dias... Andrômeda deixou rolar uma lágrima dos olhos, e os dois olharam para os céus, onde viram a constelação que Zeus havia mencionado – lugar onde passariam seus dias de eternidade. Como Zeus previra, a história de Perseu e Andrômeda é contada por todas as gerações. Seus feitos jamais foram esquecidos. Perseu tornou-se, então, o príncipe dos heróis.
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FIM
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Sobre a autora Nascida em Juiz de Fora em 01/10/1970, onde reside com seus dois filhos, a autora Adriana Matheus escreve desde os 14 anos de idade. Já participou de diversos concursos de literatura, inclusive de poesias, neste ganhou o prêmio de melhor iniciante, em 1999. Já escreveu nove obras: O Segredo dos Girassóis; Um Olhar Vale Mais que Mil Palavras (sendo que esta obra é a finalista no concurso Lei Murilo Mendes neste ano – 2012); Lendas Urbanas; O Segredo dos Orixás; Perseu, o Príncipe dos Heróis; Memórias de um Psicopata; A cigana e a Lua, Doriko; Mary Polask; sendo que O Segredo dos Girassóis é a que mais se destaca por ser uma obra de fácil entendimento e por envolver o leitor na leitura. O Segredo dos Girassóis ganhou neste ano de 2012 (em julho) o selo de boa escolha e o prêmio de excelência em literatura como reconhecimento da editora BOKESS. A autora publica todas as suas obras pela editora Ixtlan (http://www.editoraixtlan.com), e neste ano recebeu o convite para publicar pela editora Chiado http://www.chiadoeditora.com), editora de Portugal que quer traduzir o livro Um Olhar Vale Mais que Mil Palavras para o inglês; essa parceria será muito boa para a carreira literária da autora, que já aceitou o convite e pretende publicar a obra ainda no ano de 2012. A autora faz parte da Academia Luso Brasileira de Letras da cidade de Juiz de Fora-MG e já concorreu a vários prêmios de literatura, inclusive ao prêmio da Lei Murilo Mendes dessa cidade em 2010. Esse prêmio dá ao autor e à obra a chance de um grande reconhecimento nesse
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município. Atualmente, a autora faz parte da UBE (União Brasileira de Escritores), também é membro participante do Clube dos Novos Autores (site muito conhecido que permite a divulgação dos autores e suas obras). Adriana Matheus é espiritualista e quase todas as suas obras são ditadas pelo espírito do padre Ângelo Wallejo Morales, que viveu no século XVIII no Mosteiro de San Francisco, na Espanha. Adriana Matheus segue a tradição da serpente (ou tradição da Lua) e cumpre piamente os preceitos da religião Wicca. Contatos da autora: http://anairdameuslivros.blogspot.com

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PERSEU O PRINCIPE DOS HERÓIS

  • 1.
  • 2. Perseu – O Príncipe dos heróis 9 A Editora Ixtlan Apresenta... Adriana Matheus Perseu - O Príncipe dos heróis
  • 3. Adriana Matheus 10 Adriana Matheus Perseu - O Príncipe dos heróis 1ª Edição 2012 Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive através de processos xerográficos, sem permissão expressa da autora. (Lei nº 5.988 14/12/73). Adriana Matheus amatheus07@hotmail.com
  • 4. Perseu – O Príncipe dos heróis 11 CIP. Brasil. Catalogação na Publicação. M427s - Matheus, Adriana, 1970. Perseu / Adriana Matheus - Juiz de Fora - MG. 410 p. : il. ISBN: 978-85-8197-019-6 Literatura brasileira. Literatura infantojuvenil e ficção CDD: B869.8 Projeto Gráfico e Impressão: Editora Ixtlan ixtlan@editoraixtlan.com Revisão ortográfica: Pâmyla Serra www.re-visaodeaguia.com Edição de capa: Thaís Riotto http://thaisriotto.wix.com/aigam Diagramação: Adriana Matheus http://anairdameuslivros.blogspot.com
  • 5. Adriana Matheus 12 INTRODUÇÃO: QUEM FOI ZEUS? Zeus é o principal deus da mitologia grega. Era considerado, na Grécia Antiga, como o deus dos deuses. O nome Zeus em grego antigo significava “rei divino”. Genealogia e filhos de Zeus: - Zeus era filho mais jovem do casal de titãs Cronos e Rea. Casou-se com a deusa e irmã Hera (deusa do casamento). Porém, de acordo com a mitologia grega, teve várias amantes (deusas e mortais) e vários filhos destes relacionamentos. Os filhos mais conhecidos de Zeus são: Apolo (deus da medicina e da luz), Atenas (deusa da sabedoria e da estratégia), Hermes (deus do comércio e dos viajantes), Perséfone (deusa do mundo subterrâneo), Dionísio (deus do vinho), Herácles (herói grego),
  • 6. Perseu – O Príncipe dos heróis 13 Helena (princesa grega), Minos (rei de Creta) e Hefesto (deus do fogo). Poderes e atributos: - De acordo com a crença dos gregos antigos, Zeus ficava no Monte Olimpo governando tudo o que acontecia na Terra. Era considerado também o deus do céu e do trovão. Era representado nas pinturas e esculturas num trono ou em pé, ao lado de um raio, carvalho, touro ou águia. Estas representações simbolizavam qualidades e poderes (rapidez, força, energia, comando) atribuídos ao deus. Mitologia romana: - Entre os deuses romanos, na mitologia romana, Zeus era conhecido como Júpiter, possuindo as mesmas características e atributos da mitologia grega. O que é mitologia: - A Mitologia Grega é um conjunto de mitos (histórias e lendas), sobre vários deuses, heróis, titãs, ninfas, e centauros. A Mitologia Grega originou- se da união das mitologias dórica e micênica. Seu desenvolvimento ocorreu por volta de 700 a.C. Pode-se dizer que na Grécia Antiga a religião era politeísta, pois os gregos adoravam a vários deuses. Não existem escrituras sagradas (como a Bíblia para os cristãos) a respeito da Mitologia Grega. As principais fontes a esse respeito foram escritas no século VIII a.C. por Hesíodo (Teogonia - Teogonia de Hesíodo - Trata da gênese dos deuses, descreve a origem do mundo, os reinados de Urano, Cronos e Zeus, e a união dos mortais aos deuses, desta forma nascendo os heróis mitológicos ), e por Homero (Ilíada e Odisseia). Na Teogonia
  • 7. Adriana Matheus 14 são tratadas a origem e a história dos deuses gregos. Nas narrativas Ilíada e Odisseia são descritos os grandes acontecimentos envolvendo heróis e deuses. Os deuses, além de ter forma humana, tinham sentimentos humanos como amor, inveja, traição, ira, entre outros. Suscetíveis a esses sentimentos, era comum os deuses se apaixonarem por humanos e com eles terem filhos. Alguns heróis da Mitologia Grega eram filhos de deuses e humanos. Os deuses, diferentes de seus filhos, eram imortais. Os deuses do Olimpo são os deuses mais poderosos dos vários grupos de deuses. Os deuses do Olimpo se dividem em várias classes. A classe superior é formada pelos seguintes deuses: Quem foi Perseu: - Perseu era um herói e não um deus; filho de Zeus e Danae, que era uma princesa mortal, filha do rei Ar- gos. Perseu casou-se com Andrômeda e foi governador de Ti- rinto e Micenas, cidade que ele havia fundado. Seu principal feito foi ter decapitado a Medusa, que era uma linda mulher, porém com cobras na cabeça em lugar dos cabelos e dotada de poderes mágicos extraordinários. Perseu é representado por um jovem que tem uma espada em uma das mãos e segura a cabeça da Medusa na outra.
  • 8. Perseu – O Príncipe dos heróis 15 Nota da autora Esta obra é baseada na mitologia grega, alguns personagens foram acrescidos para dar mais vida à história. Dedico esta obra aos meus filhos Luccas Matheus Manganelli e Davi Matheus, e ao Sr. Júlio César Lopes da Silva – diretor da escola Municipal Rocha Pombo (CAIC - Juiz de Fora - MG), que tão gentilmente nos cedeu o espaço para o lançamento dessa obra.
  • 9. Adriana Matheus 16 Prólogo O matador da Górgona Medusa era filho de Zeus e de Dânae, filha de Acrísios que era o rei do reino de Argos. Advertido de que seria morto pelo neto, Acrísios trancou a mãe e a criança numa arca, lançando-as ao mar. A pedido de Zeus, foram lançados por Posêidon à ilha de Sérifo, onde foram salvos e onde Perseu cresceu até a idade adulta. Polidectes, rei de Sérifo, apaixonou-se por Dânae e temendo que Perseu talvez interferisse em seus planos, enviou-o, então, numa missão para obter a cabeça da Medusa, um monstro para o qual quem voltasse o olhar era transformado em pedra. Mas aparentemente o destino conspirava e Perseu acabou se deparando em uma cidade, onde conheceu Andrômeda, seu eterno amor. Os dois apaixonaram- se de imediato. Porém, a mãe de Andrômeda ofendeu Posêidon, elogiando a filha e dizendo que sua beleza era maior do que as filhas do deus, as ninfas das águas. Posêidon, então, amaldiçoou toda a cidade, dizendo que só pouparia seus habitantes caso Andrômeda fosse sacrificada ainda virgem. Perseu, então, saiu à procura das Gréias para descobrir como livrar Andrômeda do triste destino de ser devorada pelo Kraken, monstro que guardava os sete mares. Auxiliado por Flávius, seu fiel amigo, Perseu abriu caminho por entre as Gréias – três velhas decrépitas que compartilhavam o mesmo olho entre elas. Perseu tomou-lhes o olho e recusou-se a devolvê-lo até que elas lhe dessem a direção para alcançar a Medusa. Perseu venceu muitas batalhas antes de retornar à cidade de Cassiopeia e salvar sua amada, Andrômeda. E,
  • 10. Perseu – O Príncipe dos heróis 17 mesmo depois de achar que tudo estaria bem, ainda teve que enfrentar a ira e o ciúme de Calibos, o semideus filho da deusa Tétis. Para saber o final dessa incrível aventura, abra o restante destas páginas e viaje... Boa leitura!
  • 11. Adriana Matheus 18 ÍNDICE Intrudução.....................................12 Capítulo I - Perseu..........................19 Capítulo II - A Missão.....................23 Capítulo III - Do destino ao amor....32
  • 12. Perseu – O Príncipe dos heróis 19 I - Perseu... á muito tempo, quando os deuses do Olimpo ainda regiam o universo, surgiu uma lenda de que a filha de Acrísio, rei de Argos, daria à luz uma criança que ao crescer tornar-se-ia o rei absoluto do reino de Argos. Argos era uma cidade protegida por Zeus. Porém, ao saber da previsão feita H
  • 13. Adriana Matheus 20 por um oráculo, o rei passou a blasfemar e a repudiar Zeus dentro do seu próprio templo sagrado. Zeus, então, tendo observado o mau comportamento do rei Acrísio, zangou-se e jurou cumprir a previsão feita pelo suposto oráculo para que, assim, o mundo conhecesse o seu poder. Desde então, Acrísio passou a vigiar a esposa, que estava grávida. Os meses passaram-se e ela deu à luz uma linda menina, porém, a esposa não resistiu ao parto e veio a óbito. Acrísio respirou aliviado por saber que a mulher teve uma menina ao invés de um menino. Mas, mesmo assim, o rei Acrísio estava temeroso de ver cumprida a previsão do oráculo, que mais uma vez avisou-o que poderia ser perfeitamente sua filha Dânae a mulher a dar à luz aquele que lhe roubaria o trono e a vida. O rei de Argos enclausurou-a numa torre de bronze por anos, a que somente ele tinha acesso. Acrísio, então, passou obsessivamente a proibir Dânae de ter qualquer contato com alguém do sexo oposto. Assim, a jovem passou a maior parte da infância e juventude triste, trancada em uma torre onde ela poderia ter tudo que desejasse, menos a liberdade. A jovem cresceu em igual beleza à própria deusa Afrodite. Porém, das extremidades dos céus, Zeus observava Dânae e desejava-a compulsivamente como mulher. Zeus era um deus muito caprichoso e orgulhoso. Estava disposto a cumprir a promessa que havia feito a Acrísio por tê-lo ofendido em seu templo sagrado. Certa noite, quando todos no palácio dormiam, Zeus transformou-se em chuva de ouro, introduziu-se na torre
  • 14. Perseu – O Príncipe dos heróis 21 gradeada e conheceu Dânae. Ela ficou encantada ao ver aquela chuva misteriosa e amparou suas gotas com as mãos. Uma delas escorreu pelos dedos, caindo sobre o chão e transformando-se em um lindo jovem. Dânae rendeu-se aos seus encantos de imediato. Assim seguiram os dias da jovem: durante o dia, tudo ocorria normalmente; mas à noite Zeus visitava-a. Até que ela engravidou... No dia em que o deus estava se despedindo de Dânae em seu leito, o rei Acrísio entrou no quarto com seus soldados e flagrou-a nos braços de Zeus. Irado, o rei tenta capturar o deus, que foge, transformando-se em uma águia, voando pelos corredores da torre até alcançar a liberdade. Nunca mais o deus visitou Dânae, pois já havia cumprido a promessa de vingar-se do rei Acrísio. Acrísio, porém, era teimoso, cruel e irado; porque achava que sua filha havia traído sua confiança ao engravidar-se de Zeus. Decidiu dar um castigo a ela e ao filho, desafiando ainda mais o deus. Assim que o bebê de Dânae nasceu, ele pediu para colocá-los dentro de uma arca de bronze e que fossem lançados ao mar para que a arca afundasse e, assim, Dânae e o filho morressem afogados. Imediatamente, Zeus transformou a arca de bronze lançada por Posêidon em uma arca de madeira, impedindo que ela se afundasse. A arca chegou a uma ilha chamada Sérifo, reino de Polidectes, que se apaixonou por Dânae. Eles se casaram, criando o seu filho: Perseu. Zeus
  • 15. Adriana Matheus 22 voltou para Argos e destruiu toda a cidade. Com as próprias mãos, esmagou Acrísio. Deste, nem mesmo o pó foi deixado como vestígio sobre a Terra. Zeus estava vingado e, agora, seus olhos eram para seu filho: o semideus Perseu. Perseu cresceu igualmente em beleza, força e bondade – o que mais ainda chamou a atenção de Zeus, demasiadamente orgulhoso por ter um filho belo, forte e com um nobre coração. Perseu cresceu, prometendo voltar a Argos um dia e reconstruí-la, tomando para si o trono que lhe era de direito. A história de Dânae e Perseu espalhou-se por toda a Terra e os dois viraram mito e cânticos em muitos lugares.
  • 16. Perseu – O Príncipe dos heróis 23 II – A Missão ais tarde, enciumado e com o intuito de afastar Perseu da própria mãe zelosa, o rei Polidectes encarregou Perseu de uma perigosa missão: trazer a cabeça da Medusa, a única górgona mortal ainda viva. Ela possuía a cabeça com cabelos em forma de serpentes venenosas. Também tinha presas de javali, mãos de bronze e asas de ouro. Seu olhar transformava em pedra qualquer ser vivente que a fitasse. Medusa havia sido amaldiçoada pela deusa Afrodite, que se enfureceu depois de ela ter seduzido seu marido, Posêidon, dentro de seu próprio templo sagrado. Medusa, então, deixou de ser a mais bela das mortais para se transformar na mais horrenda criatura já existente sobre a Terra. Incumbido do mais novo destino, Perseu seguiu, então, com seus fiéis soldados para terras distantes, jamais pisadas por um mortal antes. No meio do caminho, ele chegou a Athalais, uma cidade misteriosa. Lá, deparou-se com a deusa Atena, disfarçada de ninfeta, que chorava muito. Perseu, então, perguntou-lhe, ao ver a ninfeta debulhando-se em lágrimas: – Por que chora, oh, filha dos deuses? – Choro porque estou com fome e não tenho nada para comer. – Mas como não? Olhe à sua volta: quantos pomares frutíferos e recheados de verdadeiros manjares! Como pode estar com fome? – disse o chefe da guarda que acompanhava Perseu, parecendo indignado ao ver a ninfeta chorando. Perseu olhou para a jovem, colocou as mãos na cintura e respondeu: M
  • 17. Adriana Matheus 24 – O que poderia estar faltando neste pomar? Por que não come e para de chorar? – disse isso apontando para seu redor e mostrando-lhe o tanto de árvores frutíferas que existiam ali. – Não posso comer essas frutas daqui. Só posso comer uma maçã de ouro, que só cresce em uma árvore especial no templo de Hades. – disse a ninfeta, apontando para um templo em ruínas à sua frente. – E por que você mesma não entra no templo e colhe a tal fruta? Todos os demais riram, concordando com Perseu. Porém, a ninfeta respondeu tristemente: – Porque esse templo é protegido por um centauro perverso. Ele, além de não me deixar comer a maçã que é o meu único alimento, também devora todos que lá entram. Todos se entreolharam, parecendo curiosos e loucos por uma aventura como aquela. Perseu perguntou à ninfeta, percebendo o entusiasmo de seus homens: – O que quer que nós façamos para que não fique mais triste e com fome? Imediatamente, um brilho divino surgiu nos olhos da ninfeta. Ela pediu a Perseu que fosse buscar para ela uma maçã de ouro dentro do templo de Hades, em uma árvore no meio de um misterioso e perigoso labirinto, guardado por um centauro enfurecido e canibal. Em recompensa, ela dar-lhe- ia duas sandálias com asas, que lhe ajudariam muito naquela jornada difícil. Perseu, então, junto com o chefe da guarda e um de seus seis homens, entrou no labirinto. O labirinto era escuro e as trepadeiras que cercavam suas laterais estavam vivas e cheias de veneno mortal. Elas, ao perceberem a presença de nossos heróis,
  • 18. Perseu – O Príncipe dos heróis 25 esticaram-se e conseguiram alcançar o soldado, enrolando-se no corpo dele como uma espécie de casulo, enfiando seus espinhos venenosos no corpo do rapaz. Ele morreu em um instante, envenenado e sufocado pela erva daninha. Ficaram, então, apenas Perseu e o chefe da guarda, que o seguia lado a lado dentro do labirinto. Perseu ouviu um som estranho. Empunhou sua espada, de prontidão. De repente, surgiu à sua frente uma enorme serpente de fogo. Perseu e o chefe da guarda lutaram destemidamente com a serpente, mas não havia nada que a detivesse. Zeus, então, vendo os apuros do filho, exigiu que Ártemis lhe enviasse ajuda. Muito a contragosto, a deusa, enciumada, enviou um jarro contendo as águas sagradas de Posêidon. Por fim, os dois homens já estavam quase exaustos de tanto lutar. Foi quando Perseu percebeu um enorme jarro de porcelana. Dentro dele havia água, mas não era uma água qualquer: era um presente da grande deusa Ártemis. Ártemis era filha de Zeus e de Leto e irmã gêmea de Apolo. Tida como virgem e defensora da pureza, era também protetora das parturientes e estava ligada a ritos de fecundidade, embora fosse em essência uma deusa caçadora. Encarnava as forças da natureza e tutelava as ninfas, os animais selvagens e o mundo vegetal. Cultuada, sobretudo nas áreas rurais. Na Ática, enfatizou-se seu caráter de senhora das feras. Na ilha de Eubeia, foi considerada protetora dos rebanhos. No Peloponeso, reconheceu-se seu domínio sobre o reino vegetal e ela foi associada à água vivificante. Apesar dessa imagem protetora, Ártemis exibia facetas cruéis: matou o caçador Órion; condenou à morte a ninfa Calisto por
  • 19. Adriana Matheus 26 deixar-se seduzir por Zeus; transformou Acteão em cervo para ser despedaçado por sua própria matilha; e, com Apolo, exterminou os filhos de Níobe e Anfião, para vingar-se de uma suposta afronta. Suas ocupações principais eram a caça e a dança, no que se fazia acompanhar das Ninfas. Imediatamente, Perseu e o chefe da guarda, Flávius, pegaram o jarro, cada um de um lado, jogando a água nas chamas flamejantes da serpente. Sem as chamas, a serpente ficou indefesa. Então, Perseu transpassou sua espada na cabeça da serpente, eliminando-a, que soltou um terrível grito de dor. Continuaram a entrar mais a fundo no labirinto, que parecia não ter fim. Até que chegaram à frente de uma espécie de templo místico, cuja entrada estava totalmente em ruínas. O cheiro fétido que saía de dentro do lugar era insuportável – o que fez Perseu e Flávius enlaçarem suas capas em volta do rosto para tentar amenizar o odor. Os dois homens subiram cautelosamente os degraus do templo em ruínas. O lugar era sombrio, úmido e coberto por musgos. A cada passada que davam, mais o mau cheiro piorava. Os dois homens ficaram diante de duas portas largas e resolveram separar-se: cada um escolheu um caminho diferente. Perseu escolheu o caminho da esquerda e seguiu escuro adentro. Ele não podia ver mais nada, e diversos animais desconhecidos arrastavam-se em seus pés. Por fim, encontrou uma tocha acesa que lhe serviu de guia naquele caminho, mais parecido à entrada para o inferno. Chegou ao meio de um grande saguão de ossos, onde eram depositados os corpos das pessoas que por ali passaram. Perseu tinha que passar por cima daqueles cadáveres para poder alcançar a outra extremidade e conseguir sair daquele lugar abominável. Enquanto ele tentava atravessar por
  • 20. Perseu – O Príncipe dos heróis 27 cima dos cadáveres e lutar com as lacraias, ratos e outros bichos repulsivos, seu companheiro Flávius caminhava por dentro da outra passagem e já estava para alcançar um enorme jardim, onde a cotovia cantava lindamente e nada se parecia com aquele lugar em que eles se enfiaram. Era como se fosse outro mundo. Flávius ficou totalmente atônito quando encontrou duas lindas mulheres banhando-se em uma fonte. Elas cantavam e convidavam-no para se refrescar junto a elas. Ele ficou encantado com aquela visão de outro mundo. Aquelas mulheres pareciam anjos: seus corpos eram perfeitos, e suas vozes eram como o som de harpas suaves e melodiosas. O homem, então, rendeu-se ao chamado das deusas do lago. Flávius não sabia, mas as mulheres eram sereias vampiras e o levariam para a morte assim que ele entrasse nas águas. Ele começou a se despir, imaginando que havia encontrado o verdadeiro paraíso. Quando já estava entrando naquelas águas traiçoeiras, Perseu puxou-o para fora, despertando-o do transe em que se encontrava. Então, Flávius pôde ver a real face das mulheres: horrendas e com enormes presas de lobo. Quando Perseu conseguiu sair do mar de ossos, achou uma pequena fenda, que o levou até onde Flávius estava. Percebendo que o amigo estava encantado, colocou musgo nos ouvidos para que o canto das sereias também não o hipnotizasse. Foi assim que Perseu salvou seu companheiro de um triste destino. Porém, as sereias, percebendo que Perseu ajudara o amigo, gritaram tão fortemente que quebraram a barreira invisível que escondia a grande árvore de maçãs de ouro. Os dois companheiros entreolharam-se e sorriram largamente. A árvore era do jardim das Hespérides, onde
  • 21. Adriana Matheus 28 crescia a árvore das maçãs de ouro. Não havia um motivo ou lógica específica pela qual ela estava naquele lugar: era obra dos deuses. O pomo de ouro estava carregado de lindas maçãs. Perseu estava quase alcançando uma delas quando um rugido muito alto estremeceu a estrutura do templo. Os dois homens olharam para trás e depararam-se com o centauro. Os centauros eram monstros fabulosos, metade homem, metade cavalo. Viviam nas montanhas e florestas. Descendiam de Ixion, rei dos Lápitas, povo que habitava próximo aos montes Pélion e Ossa, na Tessália. Embora mantivessem contatos frequentes com os seres humanos, mostravam-se selvagens e extremamente brutais em seus hábitos. Descendente de Peneu, o deus-rio da Tessália, ou de
  • 22. Perseu – O Príncipe dos heróis 29 Sísifo, segundo outra genealogia, Ixion foi o primeiro mortal a matar um membro da própria família. Para se casar, ele prometeu dar presentes ao pai da noiva. Mas quando este foi recebê-los, depois do casamento, o genro lançou-o em um fosso cheio de brasas. Com isso, tornou-se culpado de crimes que horrorizaram quem deles tomou conhecimento. Somente Zeus, num dia de excepcional condescendência, purificou-o e recebeu-o na morada dos deuses. Lá, Ixion resolveu assediar Tétis, rainha dos deuses e esposa de Zeus. Mas este, rindo-se da intenção do mal-agradecido, moldou uma nuvem com a forma da deusa, deu-lhe vida e assistiu, divertido, ao cortejador seduzir a nuvem. Depois, quando Ixion começou a se gabar de ter seduzido a própria Tétis, a paciência divina chegou ao fim. Para punir o criminoso, Zeus o prendeu a uma roda em chamas que girava sem cessar, e lançou-o no Hades, o inferno mitológico, onde deveria ficar por toda a eternidade. Mas da união entre Ixion e a nuvem nasceu um ser metade homem e metade cavalo: Centauro, pai dos monstruosos descendentes. O animal olhou-os com ódio mortal e avançou para cima deles, empunhando uma lança. Os dois lutaram impiedosamente com o animal, até que Perseu subiu em suas costas, enfiou a espada por trás e arrancou o coração do animal. Ao matá-lo, Perseu e Flávius viram subir aos céus todos os espíritos dos grandes guerreiros que estavam aprisionados naquele lugar amaldiçoado por anos. Eram como luzes transparentes de fumaça. Muitos daqueles guerreiros Perseu reconheceu como sendo os homens das histórias contadas por sua mãe. Os dois amigos, cansados pela luta, sentaram-se e descansaram por instantes. Depois de finalmente colherem as maçãs, seguiram pela mesma trilha que Flávius havia percorrido para chegar ali.
  • 23. Adriana Matheus 30 O sol já estava se pondo no horizonte quando os dois conseguiram sair do labirinto. Ao vê-los, a ninfa perguntou pelo outro soldado. Ambos lhe responderam que ele havia morrido no início do caminho. Perseu contou aos companheiros e à ninfa toda a aventura que ele e Flávius viveram dentro do labirinto. Todos ficaram maravilhados. Perseu entregou à ninfa as maçãs e também algo que ela não esperava: tirou de dentro de um alforje o coração do centauro. – Este veio de brinde. Agora, quando sentir fome, não precisará ter medo de colher suas maçãs. Poderá por si só entrar e pegá-las. – anunciou Perseu. A ninfa, num gesto de gratidão, esticou a mão a Perseu, dando-lhe em seguida uma das maçãs: – Coma uma de minhas maçãs. Com isso, tornar-se-á imortal. Perseu comeu a maçã e a ninfa, então, revelou a verdadeira identidade a ele, transfigurando-se na frente de todos. Houve imenso alarido de surpresa e assombro. Em seguida, a deusa deu a Perseu o merecido prêmio: as sandálias com asas.
  • 24. Perseu – O Príncipe dos heróis 31 Então, Perseu seguiu com seus soldados o árduo caminho pedregoso e cheio de perigos. No percurso, pararam em outro templo antigo. Perseu, mais uma vez, foi presenteado pelos deuses, a pedido de Zeus, com um elmo de bronze, cujo poder era a invisibilidade. Ganhou também um escudo de ouro e prata e uma espada feita de um metal criado pelos deuses.
  • 25. Adriana Matheus 32 III – Do Destino ao amor... camparam naquele templo por uma noite. Durante seu sonho, Perseu recebeu a visita de Zeus, seu pai, que lhe disse: – Perseu, você é meu filho e esses presentes foram um presente dos deuses do Olimpo a meu pedido. Guarde-os com cuidado, pois poderão salvar a sua vida. Perseu acordou na manhã seguinte muito impressionado, contando tudo o que sucedera durante a noite ao seu fiel amigo Flávius. Depois, seguiram seu trajeto, passando pela Etiópia. Lá se depararam com um enorme festejo no qual Cassiopeia, esposa do rei Cefeu e mãe de Andrômeda, proclamava a filha a mais bela de todas as mulheres, até mais que as próprias ninfas das águas. Posêidon, ao ouvir tal absurdo e sentindo-se insultado, ficou furioso e castigou-os com uma inundação e com a presença de um monstro marinho, o Kraken. Posêidon exigia a princesa Andrômeda, ainda imaculada, como sacrifício. Um oráculo informou a Cefeu que a única maneira de salvar o reino seria expor Andrômeda ao monstro, o que foi feito. Perseu, ao ver Andrômeda, apaixonou-se de imediato. Compadecido da atual situação da moça, oferece-se para ajudá-la, porém não havia nada que pudesse vencer o Kraken. Um dos soldados de Perseu, porém, disse-lhe: – Meu caro e nobre príncipe, existe, sim, uma maneira de salvar a sua donzela. – E qual seria essa maneira, meu nobre soldado? A
  • 26. Perseu – O Príncipe dos heróis 33 – As feiticeiras de Sticks: três Gréias velhas e totalmente cegas, dotadas de um fabuloso dom, que é o de saber responder qualquer coisa que lhes seja perguntada. – Então, que assim seja. Iremos imediatamente ao encontro dessas feiticeiras. – Porém, meu senhor, tem um grande problema. – ressaltou o chefe da guarda. – E que problema poderiam me causar três mulheres velhas e cegas? – Sim, meu senhor, por certo são cegas e velhas, mas são também canibais. Nunca houve quem voltasse de lá, de onde elas vivem. – Não me importo com o perigo. Farei o que for possível para salvar a princesa Andrômeda. – disse o jovem apaixonado e obstinado a cumprir com aquela tarefa árdua. Foram providenciados todos os preparativos para seguir viagem. O jovem príncipe Perseu seguiu sua jornada, sem saber que tudo aquilo estava escrito pelos deuses. Depois de uma semana de viagem, ele finalmente encontrou as montanhas de Sticks, onde viviam as Gréias. Porém, eles levariam, no mínimo, um dia para escalarem a montanha rochosa. Perseu, então, lembrou-se das sandálias de asas que lhe foram dadas pela deusa Atena. Com isso, o jovem Perseu chegou ao topo das montanhas em apenas algumas horas, enquanto seus companheiros de jornada demoraram o dia todo. Enquanto os companheiros de Perseu subiam lentamente pela montanha rochosa e escorregadia, Perseu arquitetou uma maneira de entrar no covil das feiticeiras. Quando, por fim, seus amigos chegaram ao topo da montanha, estavam todos muito exaustos e resolveram deixar aquela missão para o outro dia. Na manhã seguinte, levantaram muito cedo, seguindo em direção ao covil das Gréias.
  • 27. Adriana Matheus 34 O lugar era muito escuro e sujo. Aquelas mulheres decrépitas não tinham os olhos, pois haviam sido amaldiçoadas pelos deuses. Por causa da ganância de seus corações, foi-lhes tirada a visão. No lugar dos olhos, não existia nada – nem mesmo uma marca sequer; a pele era lisa. Quando Perseu resolveu entrar na gruta das feiticeiras, seus soldados não quiseram entrar, temerosos pela fama de as mulheres serem canibais. Somente Perseu e Flávius entraram. Dentro da gruta, Perseu e Flávius não conseguiram permanecer incógnitos, pois as mulheres, embora não enxergassem, tinham com elas um olho de cristal que lhes servia de visão. As Gréias eram horrendas e muito sujas. Seus dedos eram pontiagudos, e elas tinham presas em forma de serras em vez dos dentes normais. Os poucos fios de cabelos que sobraram na cabeça davam-lhes ainda mais o pior dos aspectos. Elas eram empalidecidas e cheiravam muito mal. Usavam trapos rasgados como vestes e cozinhavam incessantemente alguma coisa podre e esverdeada dentro de um caldeirão borbulhante, de onde saíam estranhos ruídos, como gemidos humanos. O cozido mais parecia uma grande gosma humana sendo remexida a todo instante. Uma delas, ao perceber a presença dos jovens, colocou o olho na frente da testa para poder vê-los melhor. Ao perceber que Perseu era um jovem forte e bonito, disse ela: – Aproxime-se mais, meu querido, para que eu possa vê-lo nitidamente. A segunda queria ver com quem a irmã estava falando e, de imediato, tomou o olho de cristal da mão da primeira. Enquanto as mulheres brigavam entre si, a terceira perguntou:
  • 28. Perseu – O Príncipe dos heróis 35 – O que tão saborosas criaturas estão fazendo aqui? – disse isso, enquanto afundava a mão de um homem no líquido esverdeado do caldeirão. Perseu e Flávius entreolharam-se, parecendo enjoados ao verem o cozido sinistro. Embora Perseu estivesse repudiando a funesta criatura, respondeu-lhe: – Estamos aqui porque soubemos que as senhoras são as criaturas mais sábias de todos os tempos e podem responder a qualquer pergunta que queiramos fazer- lhes. As Gréias começaram a brigar entre si por causa do olho, o que deu a Perseu a chance de tomá-lo das velhas. Ao perceberem o que Perseu fizera, clamaram: – Misericórdia, dependemos desse olho para sobrevivermos! Por favor, devolva-nos o olho! – Sim, eu lhes devolverei assim que me responderem uma pergunta. – O que você quer saber? – disse a primeira. – Faremos o que nos pede, responderemos as suas perguntas, mas nos devolva o olho. – disse a segunda. – Diga-nos o que você quer logo saber e, assim, nós o responderemos! Anda! – disse a terceira, parecendo ansiosa para ter o olho de volta. – Quero saber como um mortal pode matar o Kraken. Todas elas começaram a rir. A primeira respondeu: – Isso é impossível, nenhum mortal pode matar o Kraken. – Não, não. Existe, sim, uma criatura que pode matá-lo, mas nunca ninguém voltou vivo de lá, de onde ela vive, para contar. – disse a terceira.
  • 29. Adriana Matheus 36 – E quem é a tal criatura capaz de poder matar o Kraken? Falem logo, ou nunca mais verão o olho! – Não, não, por favor, eu digo: é a Medusa. Ela é a única criatura capaz de matar o Kraken. Mas ressalto que você terá que tirar a cabeça dela. – Sim, mas ela não vai dar a própria cabeça assim, de mão beijada para você. – disse a segunda feiticeira, caçoando de Perseu. – Ela é tão mortal que, mesmo depois de morta, até o seu sangue pode ser venenoso. Ele é tão mortal quanto os seus olhos. – Se sua cabeça é tão mortal quanto seu sangue, como poderei trazer sua cabeça caso consiga derrotá-la e matá- la? – Você tocou no olho. Assim como ele tem o poder de nos dar a visão, ele também pode imunizar a sua capa. Faça um alforje com ela e coloque a cabeça da medusa dentro. Assim, o sangue dela não escorrerá e não prejudicará você nem seus companheiros. Imediatamente, Perseu esfregou o olho mágico sobre a capa vermelha e depois o jogou ao chão, para que as feiticeiras pegassem o artefato precioso. Assim, ele e Flávius ganhariam tempo para fugirem da gruta das Gréias canibais. Ao chegarem do lado de fora, os soldados tiveram o árduo trabalho de descer a montanha rochosa e escorregadia. Perseu, porém, novamente usou as sandálias para descer e aguardou por seus companheiros, calmo e tranquilo, em solo firme. Quando a noite caiu, ele, muito a contragosto, aceitou a ideia de acamparem mais um dia. O tempo estava passando e estava chegando o dia em que Andrômeda seria entregue ao Kraken. Perseu estava aflito, mas aproveitou a noite e cozeu o alforje feito da própria capa.
  • 30. Perseu – O Príncipe dos heróis 37 Na fatídica manhã seguinte, Perseu levantou exausto porque não conseguira dormir. Na noite anterior, tivera inúmeros pesadelos com Andrômeda sendo devorada pelo Kraken. Perseu sentiu medo e estava temeroso de não conseguir capturar a górgona. Então, ele clamou aos deuses para que o ajudassem. Compadecido por ver a humildade de Perseu, Zeus imediatamente lhe enviou um presente dos céus: Pégaso, o último de todos os seus cavalos alados.
  • 31. Adriana Matheus 38 O animal era magnífico e surgiu inesperadamente dos céus, com suas admiráveis asas gigantescas. Pégaso desceu dos céus, transformando os ventos em redemoinhos, que se dissipavam aos pés de Perseu. Todos os demais em volta ajoelharam-se para receber o presente vindo do Olímpio. O animal, ao ver Perseu, aproximou-se e reverenciou-o, provando a todos que ele era enviado por Zeus e que estava ali para servir a seu filho. Imediatamente, Perseu acariciou-o no focinho e montou-o. Os dois saíram cavalgando por entre as nuvens. Ambos formavam um conjunto de criaturas divinas e perfeitas que magistralmente desfilava nos céus, fazendo até ao mais incrédulo dos mortais sonhar com o
  • 32. Perseu – O Príncipe dos heróis 39 surreal. Depois de divertir-se, montando e voando sobre o alazão alado, Perseu desceu e caminhou lado a lado com seus homens, montando seu cavalo comum, enquanto Pégaso o seguia dos céus. Três dias já haviam se passado depois que os corajosos homens saíram da gruta das Gréias. Estavam quase chegando perto do reino de Hades, o submundo onde as trevas imperavam e o desconhecido mais uma vez esperava por eles. Eles teriam que atravessar o mar dos mortos dentro de uma gôndola guiada pelo emissário da própria morte. Os homens seguiram o trajeto, cada qual mais apreensivo que o outro. À medida que se aproximavam da encosta, mais e mais parecia que seus corações iam batendo em um ritmo descompassado. Era como se soubessem que algo maligno envolvia aquele lugar, que a cada instante mais distante da realidade se tornava. Os soldados eram homens corajosos, mas exigir que eles não sentissem medo mediante tais situações dos últimos dias era pedir demais – até mesmo para homens acostumados com o campo de batalha. De repente, quando nada mais parecia ser surpresa, eis que surge na frente deles um intenso e misterioso nevoeiro que pairava sobre a terra, as águas e a praia. Mal dava para enxergar os próprios pés. Ao aproximarem da beira das águas, Perseu desceu do cavalo e tocou uma enorme trombeta feita com o chifre de uma serpente do mar. A melodia era parecida ao clamor dos mortos. Em um piscar de olhos, apareceu, em meio ao nevoeiro denso, dentro de uma gôndola negra e com uma carranca na forma de dragão na frente, um barqueiro misterioso e sinistro, usando uma veste rasgada e negra. Ele trazia nas mãos uma foice. Ao se aproximar, o barqueiro silenciosamente esticou as mãos de esqueleto e
  • 33. Adriana Matheus 40 Perseu colocou sobre elas três moedas de prata, subindo em seguida cada um dentro da gôndola. Dali por diante, Pégaso não seguiu mais Perseu das alturas – mas Perseu sabia que se precisasse do fiel amigo, era só assobiar. Assim seguiram nossos heróis mar adentro, com um nevoeiro que mal se podia visualizar o que estava à frente. Não existia dia naquele lugar. Era como se o tempo nunca passasse. As águas cheiravam a sangue, e diversos clamores ecoavam à volta de Perseu e seus cinco companheiros. Todos estavam muito assustados e tentavam manter os nervos calmos. Em alguns momentos, dava a impressão de que vultos passavam sobre eles e, com medo, acabavam esbarrando-se uns nos outros. A tensão tomou conta do grupo dos bravos destemidos heróis, pois a falta de visão era uma constante. Depois de muitas horas navegando por entre aquelas águas sinistras e no meio daquele nevoeiro denso, finalmente a gôndola encontrou terra para que nossos viajantes pudessem atracar. Perseu desceu da gôndola cautelosamente e pegou uma tocha, que estava estacada na areia, logo na encosta onde o barqueiro os deixou. Depois de acender a tocha, ele disse aos companheiros: – Podem descer, homens. Parece seguro. Acendam as outras tochas que estão adiante e vamos seguir caminho. Os homens obedeceram com os corações cheios de medo e insegurança. Um dos soldados disse: – Senhor, é noite. Mesmo aqui, neste lugar fúnebre e sem luz, seria melhor que esperássemos o dia amanhecer para entrarmos no templo da Medusa, pois não sabemos o que poderemos encontrar com essa escuridão toda. Flávius concordou com o soldado dizendo:
  • 34. Perseu – O Príncipe dos heróis 41 – Senhor, acho que devemos acampar esta noite. Mesmo que o dia aqui se pareça com a noite, ainda assim teremos mais chances de sobrevivermos na penumbra do que na escuridão. Todos concordaram entre si e Perseu não hesitou em seguir o que os companheiros sugeriram. Armaram acampamento à beira do mar e acenderam uma fogueira para protegê-los do frio e dos perigos eminentes. Perseu sentou-se perto do chefe da guarda e ambos ficaram conversando sobre as aventuras que encontraram desde que saíram do reino do rei Polidectes. O restante dos soldados aproveitou para se distraírem um pouco, bebendo vinho que um deles havia levado dentro de um alforje feito com o couro de carneiro. Perseu ficou inerte, olhando o tempo, perdido em seus próprios pensamentos, imaginando o rosto de Andrômeda. Ele sentiu o cheiro da amada vindo através dos ventos que vinham de terras muito distantes. Depois, resolveu beber com seus homens e acabou adormecendo e sonhando com Andrômeda. No sonho, Perseu entrava em um reino misterioso. Na verdade, era um pântano sujo e sombrio. De repente, ele via Andrômeda sendo trazida em uma gaiola por uma ave de rapina gigantesca. A ave pousava e a gaiola abria-se. Andrômeda descia, vestida com um fino véu azul, e seguia em direção até onde estava sentada em um trono de ossos uma criatura horrenda e terrível. A besta, ao ver Andrômeda, levantava e também seguia ao encontro da princesa. Em seguida, a besta tomava-a pelos pulos e obrigava-a a sentar-se ao seu lado. Andrômeda chorava muito e pedia que a besta libertasse sua alma. A besta dava uma terrível gargalhada e respondia:
  • 35. Adriana Matheus 42 – Nunca! Está presa a mim por toda a eternidade. Em seguida, Perseu acordou agitado e suando muito. Ao perceber que o amigo acordou daquele jeito todo aflito, Flávius perguntou, preocupado: – O que aconteceu, senhor? Algo em que eu possa ajudá-lo? Perseu, então, contou a Flávius sobre o seu sonho angustiante e aparentemente premonitório. Flávius respondeu: – Senhor, esse seu sonho está parecendo um aviso. – Como assim? Você acha que minha amada Andrômeda está correndo perigo agora? – Isso não sei, senhor. O que sei é que dentro de duas semanas a sua princesa será sacrificada ao Kraken. Mas o que estou tentando lhe dizer é que a besta de seu sonho é Calibos, filho da deusa Tétis, amaldiçoado por Zeus por causa das crueldades praticadas contra as criaturas da Lua. Quando sua mãe, a deusa Tétis, deu-lhe os muros da Lua para que ele governasse, Calibos destruiu e perseguiu toda criatura viva que encontrou pela frente – sem contar que ele cercou e matou todos os cavalos alados de Zeus, deixando apenas o Pégaso. Zeus, então, amaldiçoou Calibos com a deformidade. Ele se tornou uma criatura horrenda aos olhos humanos. Por ter sido motivo de deboche entre muitos, refugiou-se no pântano escuro, onde vive até hoje. Calibos era um homem muito bem afeiçoado. Quando ainda estava em sua forma humana, quis se casar com Andrômeda, mas ela rejeitou seu amor. Calibos jurou vingar-se dela. E agora o senhor me conta esse sonho... Sinto muito, mas acho que pode ser uma premonição ou um aviso dos deuses.
  • 36. Perseu – O Príncipe dos heróis 43 – Não permitirei que minha amada Andrômeda seja vítima dessa besta humana! Eu mesmo a destruirei com minhas próprias mãos. – Muito nobre de sua parte, senhor, mas antes temos que destruir a górgona. Aliás, não sei se o senhor percebeu, desde que saímos da ilha de Sérifo, reino do rei Polidectes, vivemos prestes a nos tornarmos o jantar de alguma criatura dos infernos ou feiticeiras canibais! Ambos começaram a rir e Perseu disse: – É o destino, meu caro, é o destino... Quando os dois companheiros caíram em si, o dia estava raiando. Eles levantaram e acordaram os outros quatro homens, que ainda dormiam sob o efeito do vinho da noite anterior. Mesmo tendo amanhecido, a ilha da Medusa era escura e no céu havia nuvens espessas de cores acinzentadas. Seguiram por dentro da ilha, cortando o mato seco que passava de suas cabeças. Até que chegaram a um templo em ruínas, de onde saiu um uivo que gelou suas almas. Perseu, então, seguiu em frente, subindo as escadarias do templo. Até que bem à sua frente surgiu uma enorme criatura bestial de três cabeças: Cérbero, um animal imenso, com olhos vermelhos e presas gigantescas. O cão dos infernos surgiu no meio do nada e atacou-os com uma fúria mortal. Cada um dos homens lutou contra uma daquelas cabeças, mas foi Perseu que o venceu, usando a espada que lhe foi dada por seu pai, Zeus. No entanto, Perseu perdeu mais um de seus companheiros, que foram estraçalhados pela terrível criatura. O animal caiu, gemendo de uma forma horripilante, debatendo-se ao chão, até que não mais tivesse vida. Os homens entreolharam-se, calculando o que estaria guardando aquela criatura das trevas.
  • 37. Adriana Matheus 44 Se a Medusa transformava qualquer criatura viva em pedra, por certo havia algum motivo para ela ter dado àquela criatura o privilégio de ainda estar viva. “Ou seria mais um desafio dos deuses?”, pensou Perseu, exausto por causa da luta. Os bravos e destemidos jovens estavam, finalmente, dentro do templo da Medusa. Sorrateiramente, eles iam se encostando pelas paredes. Porém, um dos soldados se assustou com o barulho da górgona arrastando-se por de trás dele e, sem querer, virou-se para trás, olhando em seus olhos: transformou-se em pedra imediatamente. Outro jovem tentou sair do templo, mas a Medusa o laçou com a calda, esmagando todos os ossos do seu corpo, transformando-o em pedra e, em seguida, pó. O terceiro e último soldado tentou livrar o amigo das garras da megera, mas foi envenenado por uma das flechas de seu arco. Perseu escondeu-se atrás de uma pilastra de mármore e jogou o escudo para seu fiel amigo, Flávius, que o inverteu para o lado mais polido. Assim, com o escudo na frente do rosto, Flávius não olharia para a Medusa e daria a chance de Perseu ter uma visão exata de como e onde estava a famigerada. A megera, ao perceber o reflexo de Perseu, arrastou-se vagarosamente até onde ele estava, meio desconfiada por perceber que o jovem resistia à sua maldição petrificadora. A megera, então enfurecida, abriu suas asas, armando o arco e estendendo uma flecha na direção do reflexo de Perseu, pois ela supunha que o acertaria. Ao se aproximar mais do reflexo emitido pelo escudo, Perseu mirou a cabeça da górgona com a lâmina de sua espada e, com um golpe preciso e certeiro, arrancou-a.
  • 38. Perseu – O Príncipe dos heróis 45 A cabeça caiu ao chão. Nem deu tempo de a megera perceber o que lhe havia acontecido. Porém, seu corpo ainda estava sob o efeito de seu veneno mortal e debatia-se como louco – o que começou a abalar as estruturas do templo, desmoronando-o. Perseu imediatamente pegou a cabeça da górgona por trás, jogando-a dentro do alforje que fizera com a capa, juntando as pontas e dando um nó. Ele sabia que a capa estava imune por causa do olho das feiticeiras. Perseu jogou o alforje com a cabeça sob as costas e saiu daquele templo em ruínas com seu amigo Flávius. Ao saírem, notou que as nuvens abriam-se e o sol voltara a brilhar naquele lugar amaldiçoado. Pequenas plantas rasteiras começaram a brotar do solo, e minúsculas florzinhas abriam-se, enchendo o lugar de vida novamente. As aves estavam retornando e sobrevoavam a ilha. O intenso nevoeiro ia se dissipando como que em um passe de mágica. Os dois homens olharam aquele milagre acontecer com um largo sorriso de vitória e alívio nos lábios. Em seguida, Perseu assoviou e eis que surgiu Pégaso. Assim, ele e Flávius voltaram para a Grécia, onde estariam sendo executadas as ordens de Posêidon. A viagem de volta demorou duas semanas exatas. Os jovens tiveram que parar algumas vezes para descansar e comer – o que os atrasava em seu tempo escasso. Pégaso demonstrava-se cada vez mais esperto e fiel, salvando por várias vezes seu mestre de animais como serpentes, aranhas e escorpiões. À noite, os homens puderam dormir sossegados, pois Pégaso mantinha-se sempre alerta. Durante o dia, os homens cavalgavam pelas nuvens no lombo do corcel alado, que incansavelmente levava-os pelos céus. A paisagem era indescritível, pois nenhum outro mortal havia ido tão longe antes, cruzando os céus e podendo contemplar a magnitude de
  • 39. Adriana Matheus 46 ver a Terra tão belamente de cima, num esplendor indescritível. As paisagens e o vento batendo em seus rostos davam-lhes a incrível sensação de liberdade e de poder absoluto. Ao se aproximarem da cidade da rainha Cassiopeia, mãe de Andrômeda, Perseu avistou ao longe o grande tumulto que se formava. Era o dia em que Andrômeda seria sacrificada ao Kraken. Perseu pousou o corcel e deixou Flávius ao chão. Subiu, em seguida, no lombo do corcel alado e sobrevoou o Kraken. Este, ao ver Pégaso, quis lançá-lo ao mar como uma mosquinha. Perseu chegou a bambear sobre o cavalo, mas não caiu. O bravo herói tira a cabeça da medusa do alforje feito de sua capa, erguendo-a e mostrando-a ao Kraken em seguida. Em instantes, a criatura foi se transformando em pedra, começando pelos olhos. Seus pedaços foram caindo ao mar, causando uma espécie de maremoto e inundando tudo o que encontrou à volta. Perseu desceu do corcel alado e desacorrentou sua amada, beijando-a suavemente nos lábios. Todos os demais que assistiam à execução da donzela comemoraram satisfeitos por Perseu ter libertado sua futura rainha. Após o seu casamento com Andrômeda – uma festa que durou um mês – Perseu retornou à ilha de Sérifo e libertou sua mãe de Polidectes, que havia se tornado um terrível e cruel tirano. Perseu usou a cabeça da Medusa para transformar o rei e seus seguidores em pedra. Então, todos retornaram a Argos, onde Perseu reconstruiu a cidade de seu falecido avô – tornando, assim, verdadeira a lenda do oráculo que dizia que o seu neto seria o rei de Argos. O oráculo também dizia que seria Perseu o causador de sua morte – o que, de certa forma, foi verdade, pois por causa de Perseu, Zeus, seu pai, destruiu toda a cidade com uma inundação.
  • 40. Perseu – O Príncipe dos heróis 47 Ao sair de Argos, Perseu fundou Micenas, e tanto a Grécia como o Egito honraram-no como herói. Essas qualidades também despertaram a inveja de alguns deuses do Olimpo, como da fabulosa Tétis. Ela incentivou seu filho, Calibos, a tomar para si a esposa de Perseu, a princesa Andrômeda. Calibos, então, sorrateiramente, teceu sua trama diabólica com a ajuda de sua mãe. A besta, então, evocou das profundezas a mais terrível das criaturas: o Klaus. Klaus era um abutre gigantesco, sedento por sangue, que estava sob o domínio de Calibos. A deusa Tétis, tomada pela inveja e pelo ódio porque seu filho estava sob a maldição de Zeus, jogou sobre Andrômeda o encanto do sono, fazendo-a permanecer adormecida o tempo todo, como se estivesse morta. No palácio real, durante uma cerimônia festiva, Andrômeda caiu inexplicavelmente ao chão. Dali por diante, permaneceu adormecida, como se estivesse morta. Todos os médicos e especialistas em feitiços foram chamados pelo rei Perseu. Ele, desesperado, tentava de tudo para salvar sua amada esposa. Até que Amadeus, o mais poderoso profeta de todos os tempos, foi solicitado para ajudar Andrômeda. Amadeus evocou as forças ocultas para tentar salvar a princesa. Foi aí que, então, foi-lhe revelado o seguinte presságio: A princesa Andrômeda tinha a alma capturada por Calibos, e este a mantinha presa sob seu domínio até que ela fosse totalmente dele. Amadeus passou todas as informações a Perseu, que imediatamente lembrou-se de seu sonho. Quase numa súplica, ele disse: – E como ele a mantém sob seu domínio? O que deverá ser feito para que eu possa salvar minha Andrômeda dessa besta imunda?
  • 41. Adriana Matheus 48 – Deverá primeiro usar de cautela, pois se Calibos souber que o senhor desconfia, ele mata Andrômeda imediatamente. Como eu disse, por enquanto somente a sua alma está aprisionada. A princesa permanecerá nesse sono profundo até que a sua alma seja liberta. Calibos usou de uma magia muito poderosa. Ele, por certo, foi ajudado por sua mãe. Ele colocou Andrômeda em sono profundo até que ela perca suas forças vitais e ele a capture de corpo e alma para sempre. – O que tenho que fazer? Diga-me! – Deverá ir ao reino de Calibos, no mais perigoso de todos os pântanos, e lá deverá descobrir como ele faz para manter a alma de Andrômeda sob o seu poder. Mas lembre-se: ele tem também a ajuda de seus soldados, criaturas enviadas pela morte. O senhor pode não sobreviver a essa terrível jornada, pois o caminho até o reino de Calibos é muito perigoso e só Zeus sabe quais os perigos que poderá encontrar pela frente. – Como poderei, então, chegar até Calibos e descobrir uma forma de derrotá-lo e libertar minha esposa? – Durante a noite, enquanto sua esposa dorme o sono dos justos, ele envia a seus aposentos uma terrível criatura, o Klaus. Esse animal dos infernos leva consigo uma gaiola e, com isso, a sua esposa entra e, assim, ele a tem todas as noites. – Mas como não vejo isso, se ela dorme ao meu lado todas as noites? – O senhor dorme também profundamente sob o encanto, assim como todos os demais de seu palácio. No entanto, esta noite o senhor tomará esta poção que lhe preparei para que, com isso, o senhor não consiga dormir hoje. Quando a criatura bestial estiver se aproximando de seu quarto na calada da noite, o senhor imediatamente deve colocar o elmo
  • 42. Perseu – O Príncipe dos heróis 49 que lhe foi dado pelos deuses. O elmo tem o poder da invisibilidade e, com isso, o senhor deverá subir sobre o lombo de Pégaso e seguir a criatura alada até as profundezas do pântano escuro, para onde ela leva a alma de sua Andrômeda. Naquele exato momento, Perseu reviveu o sonho que tivera meses atrás. Ele estava impressionado com a revelação de Amadeus. Foi, então, que Perseu decidiu entrar sozinho no reino de Calibos, dizendo: – Estou disposto a fazer o que for preciso para salvar minha amada Andrômeda. Entrarei sozinho no reino dessa besta e o destruirei. Amadeus discordou de Perseu e insistiu para que ele levasse reforços, mas Perseu respondeu firmemente: – Nunca! Não posso colocar meus homens novamente em perigo por uma coisa que está destinada a mim. Amadeus ressaltou: – Então, que pelo menos o senhor leve consigo os homens até a entrada do pântano e, de lá, siga sozinho, pois os caminhos serão tortuosos e muito perigosos. Deixe que seus homens ao menos o acompanhem durante o caminho. O senhor não pode seguir sozinho durante toda essa jornada. É muito nobre de sua parte querer salvar sua esposa, mas é burrice querer seguir sozinho. E mesmo o senhor sendo um semideus, não conseguirá atravessar o deserto de sangue, assim chamado devido às tantas batalhas acontecidas naquele lugar sem honra. O senhor também não conseguirá enfrentar os perigos desse lugar, pois dizem que lá os animais são criaturas monstruosas e gigantescas. Muito menos conseguirá passar pelo portal de Lekos, pois dizem que a esfinge que guarda o lugar sempre tem um enigma para ser desvendado. Nenhum mortal conseguiu atravessar esse portal até hoje. Por isso, previno-o que não enfrente esses eminentes perigos sozinho. Precisará,
  • 43. Adriana Matheus 50 sim, de toda a ajuda que conseguir contatar. Pense bem, meu senhor, e seja prudente. Todos os homens que morreram em suas viagens sabiam que iriam encontrar diversos perigos e, mesmo assim, seguiram em frente porque estava no sangue deles a aventura. Não existem vitórias sem derrotas, como não existe honra sem a morte. Hoje, esses homens são considerados heróis por todos à sua volta. Acredite: as famílias daqueles soldados, mesmo tendo passado pela dor da perda de cada um deles, sentem orgulho daqueles homens corajosos. Mande chamar seus homens aqui e eu mesmo explicar-lhes-ei como farão para que consigam passar por essas duas provas de fogo. Perseu meditou por instantes e disse a um lacaio, que estava encostado em um canto e esperando uma ordem qualquer: – Rapaz, vá até Flávius e peça-lhe que convoque oito de seus melhores soldados. Com eles, que venha até aqui. Olhou em seguida para Amadeus e disse: – Espero que realmente eu esteja tomando a decisão correta, pois não gostaria de levar comigo a morte de homens inocentes. – Acredite, meu senhor, esses bravos soldados estão esperando para que o senhor os convoque e os leve juntos nessa aventura. Os soldados chegaram e reverenciaram Perseu, que foi direto ao assunto, pois não queria perder tempo com detalhes. Os homens ouviram atentamente cada palavra do rei. Depois, permaneceram em silêncio para ouvir também o que Amadeus lhes explicava. Todos murmuravam entre si, mas foi Flávius quem tomou a frente, dizendo:
  • 44. Perseu – O Príncipe dos heróis 51 – Estamos a seu dispor, meu rei, e estamos dispostos a dar nossas vidas pela rainha Andrômeda. A partir de agora, sua palavra será nossa ordem. – bateu com a mão direita e o punho fechado no próprio peito. Todos seguiram Flávius com o mesmo gesto. Perseu olhou-os dentro dos olhos e disse-lhes: – Quero que saibam que para sempre terão a minha gratidão. Aconteça o que acontecer, suas famílias serão amparadas até o fim de suas vidas. Eu mesmo farei um decreto em que exonerarei seus familiares de qualquer imposto cobrado neste reino. Caso haja uma fatalidade, quero que saibam que será erguido um monumento em honra de cada homem, que deverá ser reconhecido como herói. Os homens, mais uma vez, fizeram reverência ao rei Perseu. No dia seguinte, Flávius e oito de seus melhores soldados esperavam Perseu a postos. Todos estavam com medo e, ao mesmo tempo, ansiosos por começarem a nova aventura. Dentro do palácio, no entanto, Perseu chorava por Andrômeda, que permanecia como morta, deitada em seu leito de núpcias. Perseu ajoelhou-se diante da amada, dizendo-lhe: – Juro, minha amada esposa, que enquanto não matar Calibos e restituir-lhe a vida novamente, não voltarei. Eu lhe juro pela minha vida. – disse, beijando-a nos lábios e saindo em seguida. Do lado de fora, Perseu foi aclamado junto com seus soldados e, então, eles partiram para a nova jornada. O sol estava escaldante e a água que eles bebiam parecia não surtir efeito. Caminharam os homens dois dias e duas noites sem nem descansar, até que Perseu deu-lhes ordem para uma trégua:
  • 45. Adriana Matheus 52 – Alto, homens! Pararemos mais à frente, naquele oásis. – disse, ao avistar um pedaço do paraíso à sua frente. Perseu e seus soldados desceram cautelosamente de seus cavalos, pois havia algo de estranho no ar. Flávius olhou para Perseu e interrogou-o: – Senhor, não acha estranho aparecer um oásis assim, no meio do nada? E se for uma armadilha de algum gênio do mal? – Então, saberemos dentro de alguns instantes, creio. – Então, devemos ter cautela, pois há algo maligno no ar. – Diga aos homens que permaneçam juntos e que não acreditem em nada que aparecer à frente dos olhos, pois sinto que esse oásis é uma ilusão. Flávius e os soldados seguiram lado a lado, exceto um deles que, ao ver uma luz brilhando no meio da relva verde, saiu do meio do grupo e seguiu até o local, tentando ver se encontrava o objeto luminoso que ofuscava ainda mais com os raios do sol. Ao se aproximar, o soldado viu uma lamparina de ouro coberta pela areia, deixando à mostra somente um pedaço que resplandeceu com os raios do sol escaldante daquele deserto. O homem abaixou-se e tomou para si o objeto. Logo que suas mãos o tocaram, uma voz fantasmagórica saiu de dentro dele. O soldado assustou-se de imediato, jogando o objeto ao chão. A voz prosseguiu, saindo de dentro da lamparina: – Julius, liberte-me e lhe darei toda a riqueza do mundo. Farei de você o homem mais poderoso do universo...
  • 46. Perseu – O Príncipe dos heróis 53 O homem, muito ambicioso, pegou novamente a lamparina: – Quem é você, e como saberei que não é um truque? – Não é um truque, eu garanto. Meu caro Julius, sou um gênio e meu mestre, muito mau, aprisionou-me por séculos nesta lamparina de ouro para que eu nunca mais pudesse conceder um desejo a alguém, senão a ele próprio. – E como saberei que não está mentindo para mim? – Não estou, meu caro amo. Liberte-me e provarei que o que falo é a mais absoluta verdade. – E o que tenho que fazer para libertá-lo daí? – Esfregue a lâmpada e verá!
  • 47. Adriana Matheus 54 O ingênuo e ambicioso rapaz assim o fez. Logo da lamparina começou a sair uma nuvem de fumaça. Assustado, o soldado novamente jogou a lamparina ao chão, crente que o gênio iria lhe dar toda a fortuna que havia prometido. Fora da lamparina, o gênio era gigantesco. Ao se ver livre, deu uma enorme gargalhada, chamando a atenção de Perseu e de seus soldados, que estavam bem à frente do soldado desgarrado. Perseu, então, decidiu voltar e averiguar o porquê do sumiço de seu soldado. Ele também queria saber que barulho estrondoso era aquele. O soldado olhou para cima e ficou perplexo ao ver o gigante que saíra de dentro da lamparina. Mediante as promessas feitas pelo gênio, o soldado grita: – Eu o libertei, e agora exijo que me dê o que prometeu. O gênio olhou para aquele ser minúsculo à sua frente. – E desde quando recebo ordens de um mortal? Acha mesmo que eu lhe concederei algum desejo? Para mim, você não passa de um verme tolo e insignificante. Dizendo tais palavras, o gênio do mal esmagou com um dos pés o soldado. Perseu, Flávius e o restante dos soldados chegaram no exato momento em que o gênio executava o soldado. Perseu e seus homens tentaram, então, lutar contra o gênio, que se transformou em fumaça. – Senhor, é impossível lutarmos contra esse ser, pois sua forma incorpórea torna-nos impotentes. – disse Flávius a Perseu. – Sim, você tem razão. Mas temos que tentar, ou esse monstro vai nos matar.
  • 48. Perseu – O Príncipe dos heróis 55 Seguiram-se as horas com os homens e Perseu lutando em vão contra o gênio. Este apenas se divertia com os golpes de espadas que transpassavam o corpo dele quase invisível. Até que ele resolveu dar fim ao seu divertimento macabro, dizendo: – Estou cansado de me divertir com vocês, seus vermes. Vou esmagá-los um a um. O gênio começou o extermínio, esmagando mais dois soldados de Perseu. Ao perceber que perderia a vida e também a de seus homens, Perseu tomou a frente, gritando: – É muito fácil para o senhor nos derrotar. Afinal, tem o triplo do nosso tamanho e também usa de poderes ocultos para isso. – Quem disse isso? – perguntou o gênio, admirado por perceber que um daqueles minúsculos homens o desafiava. – Eu disse. – pulou Perseu à frente dos demais. – E quem é você, insignificante criatura? – Sou Perseu, filho de Zeus e rei de Argos. Ainda ressalto, o senhor é poderoso porque é grande em demasia e usa seus poderes ocultos, mas não acredito que um ser tão gigantesco caiba dentro de uma mísera e apertada lamparina. O gênio sentiu-se desafiado e deu outra sonora gargalhada, respondendo: – Então, terei o privilégio de esmagar um mortal que se julga filho de Zeus? – outra gargalhada. – Por certo, para o senhor isso deve mesmo ser fácil. Aceito suas dúvidas, mas também tenho o direito de duvidar que um ser tão poderoso e exuberante como o senhor caiba nessa mísera lamparina. Isso seria um feito muito
  • 49. Adriana Matheus 56 grande, até mesmo para alguém com o seu poder. Somente um gênio poderia executar tal maravilha. – Não cairei no seu truque. Sou um gênio e digo: saí de dentro dessa lamparina. – disse o gênio meio desconfiado, mas com o ego ferido. – É mesmo? Então nos prove! Se for mesmo quem realmente nos diz ser, caberá facilmente dentro desse artefato minúsculo e poderá nos matar. Agora, se não for, terá que ficar em forma sólida para que tenhamos a chance de matá-lo. O gênio, com o orgulho ferido e sentindo-se desafiado a provar quem ele era, transformou-se em nuvem e entrou na lamparina. Imediatamente, Perseu lacrou-a com cera e, assim, prendeu o gênio para sempre dentro do artefato. Perseu enterrou a lamparina no meio do oásis e, assim, o gênio do mal se perdeu para sempre, pois as areias do deserto cada dia estão em um lugar diferente. Os homens, então, decidiram acampar naquele refrescante oásis, passando ali uma noite tranquila. No dia seguinte, Perseu decidiu fazer uma homenagem aos soldados que haviam morrido esmagados pelo gênio: queimou os pertences dos amigos junto a algumas ervas, para que assim seus espíritos descansassem em paz. Seguiram, então, os bravos homens deserto adentro. O sol escaldante do deserto deixou os homens com vertigens. Muitos deles começam a ter alucinações. Perseu, com isso, perdeu dois de seus melhores cavalos. Assim seguiram os dias e as noites torturantes pelo deserto de sangue, assim chamado porque nunca ninguém havia conseguido atravessá-lo com vida. Aqueles homens eram corajosos e cheios de perseverança, pois seguiam Perseu, acompanhando- o, sem se preocupar como os perigos eminentes que os
  • 50. Perseu – O Príncipe dos heróis 57 esperavam. Quando, por fim, chegaram ao grande portal de Lekos, uma esfinge cercou-os, dizendo: – Para passarem, têm que decifrar o enigma. Decifra-me ou devoro-te. Perseu e os cinco homens entreolharam-se como quem queria dizer “A sorte foi lançada!”. – Então, diga-nos: qual é o enigma, oh, rainha de toda a sabedoria?! – perguntou Perseu. – Dois irmãos não de sangue, mas de batalhas, unidos não pelos laços sanguíneos, mas pela honra e pela coragem. Destemidos, ambos vencem a morte, mas apenas um retornará para os braços de sua amada. Após dizer o enigma, a esfinge fala: – Vocês só terão três chances para responder a esse enigma. Caso contrário, fá-los-ei virar pó. Perseu, Flávius e os homens afastaram-se da esfinge, sentando-se cada um de um lado. Todos ficaram pensativos e temerosos no que iriam responder. Porém, no meio dos cinco homens, eis que surgiu um jovem soldado de nome Cirus, que gritou, saindo de perto dos companheiros: – Eu sei, senhor, eu sei a resposta. – Então, diga, pelo amor de Deus, homem! Não temos mais tempo a perder! – disse Flávius, pegando o jovem
  • 51. Adriana Matheus 58 soldado pelos braços e levando-o para frente da esfinge novamente. Na frente da gigantesca criatura, o rapaz disse: – Posso decifrar o seu enigma, serei o primeiro a derrotá-la. – Então, faço votos para que seja verdade. Caso contrário, transformá-los-ei em cinzas. – Repita para mim novamente, para que eu responda. Novamente, a esfinge declamou seu enigma. – Dois irmãos não de sangue, mas de batalhas, unidos não pelos laços sanguíneos, mas pela honra e pela coragem. Destemidos, ambos vencem a morte, mas apenas um retornará para os braços de sua amada. – O rapaz, cheio de si e confiante que sua resposta era a correta, respondeu: – Sua resposta é os irmãos Castor e Pólux, que foram dois irmãos gêmeos, filhos de Leda com Tíndaro e Zeus, respectivamente, irmãos de Helena de Troia e Clitemnestra, e meios-irmãos de Timandra, Febe, Héracles e Filónoe. Eram conhecidos coletivamente como Dióscuros, ou seja, "filhos de Zeus". Por vezes, também, são referidos como Tindáridas, uma referência ao pai de Castor e pai adotivo de Pólux. No mito, os gêmeos partilham a mesma mãe, mas têm pais diferentes, o que significa que Pólux, por ser filho de Zeus, era imortal, enquanto Castor não o era. Com a morte deste, Pólux pediu a seu pai Zeus que deixasse seu irmão partilhar da mesma imortalidade. Porém, ao conseguir a imortalidade, Castor trai seu irmão Pólux, disputando a mesma mulher com seu irmão, Millena. Esta, porém, decide ficar com Pólux. Irado, Castor resolve matar os dois enamorados, convidando-os para um passeio. Durante o
  • 52. Perseu – O Príncipe dos heróis 59 passeio, Castor decapita o irmão e a jovem Millena com um cutelo de bronze. Ao ver a traição, Zeus se ira contra Castor e o leva, corpo e alma, para o Olímpio. Como Zeus não poderia voltar atrás com a promessa feita ao filho de dar a imortalidade ao irmão, decide juntá-los em um só corpo. Assim, teriam sido transformados na constelação de Gêmeos. Essa foi a história que minha mãe contou a mim e ao meu irmão quando ainda éramos crianças. Os irmãos são a sua resposta, pois eram irmãos, mas eram filhos de pais diferentes e eram destemidos. E venceram a morte, transformando-se em estrelas no céu. E ambos não voltaram para os braços de sua amada. Então, agora, diga-me se estou ou não certo no que disse! Todos se entreolharam com medo de que a resposta pudesse estar errada. Depois de observar em cada detalhe a reação daqueles que, para ela, eram insignificantes criaturas, a esfinge deu uma estrondosa gargalhada, que abalou o solo: – Adorei sua historinha! Agrada-me muito saber que um simples mortal teve a boa vontade de tentar entreter-me com um conto tão simpático, mas demasiadamente falso e folclórico! Sua historinha não passou nem perto de ser a resposta ao meu enigma. Dizendo tais palavras, a esfinge lançou um raio de fogo sobre o jovem que, em instantes, transformou-se em cinzas, caindo por partes ao solo. De maneira revoltada, um dos soldados saltou à frente de todos. Ele era irmão do jovem que havia sido destruído pela esfinge. Correu em direção à esfinge, tentando feri-la com um golpe de espada. Obviamente, nada ocorreu, mas a esfinge, indignada por estar sendo atacada, soltou-lhe
  • 53. Adriana Matheus 60 outro raio de fogo. O jovem soldado tornou-se pó, que se esvaiu com o vento do deserto. Perseu olhou para Flávius e o interrogou: – Desde quando existiam irmãos entre os nossos? – Confesso que para mim também foi uma surpresa. Um soldado que ouvia a conversa se interpôs, dizendo: – Eles se recrutaram com sobrenomes diferentes. Eram poucos de nós que sabiam o grau de parentesco entre os dois. – Então, isso explica essa constrangedora situação, pois só permitimos um homem de cada família entrar para a guarda real. – disse Perseu, ainda surpreso com a situação. A esfinge gritou irada, fumegando de ódio e assustando os homens que estavam inertes, sentidos pela morte dos companheiros: – Seus insolentes, eu os destruirei por tamanho desrespeito a mim! Acham mesmo que podem me ferir com suas armas insignificantes? Dizendo isso, a esfinge rosnou como um leão furioso, soltando fumaça pelas ventas. Levantou-se do chão e, já no momento em que partiria para esmagar todos, Perseu tomou a frente: – Não, por favor, oh, magnânima criatura, soberana de todas as esfinges! Perdoe-nos! Dê-nos outra chance! Não se zangue com a gente por causa daquele jovem. Ele é um soldado bom e só teve um desequilíbrio emocional por causa da morte do irmão. Sei que nos dará outra chance, pois a senhora é sábia e superior a todos nós, mortais. Com
  • 54. Perseu – O Príncipe dos heróis 61 certeza nos dará o seu perdão, pois sua nobreza é maior que qualquer desacato que venhamos a lhe fazer. Dizendo tais palavras, Perseu conseguiu comover a esfinge, mexendo com o seu ego. Porém, a exuberante e gigantesca criatura respondeu: – Amanhã, somente até amanhã, ao meio-dia: é o tempo que lhes darei para que decifrem o enigma. Perseu reverenciou-se diante da esfinge, agradecendo-a pelo tempo estendido. Ele e os dois soldados restantes armaram acampamento próximo do local onde se encontrava a esfinge. Assim, passaram a noite inteira tentando decifrar o enigma. Exaustos, os homens acabaram adormecendo e todos durante a noite tiveram sonhos enigmáticos, cuja resposta cada um guardou para si, para tentarem individualmente responder à esfinge. Na manhã seguinte, a esfinge acordou-os com um estrondoso rugido. Os homens levantaram com a alma pesarosa por saberem que aquele poderia ser o último dia de suas vidas. Ela, no entanto, não parecia nem um pouco preocupada com a resposta que lhe dariam aqueles que, para ela, nada significavam. Ela bocejou calmamente e perguntou: – Quem será o primeiro entre vocês que dará a própria vida? –sorrindo cinicamente. Flávius respondeu por todos: – Eu, oh, magnânima criatura! Responderei por mim e por meus companheiros. Creio já saber a sua resposta. – Ato corajoso de sua parte, mas que fique bem claro que não irei perdoá-los caso a resposta esteja errada. Vendo que o amigo estava a ponto de cometer um terrível engano, Perseu pulou na sua frente e disse: – Não! Não posso deixar que se sacrifique por nós. Deixe que eu responda ao enigma.
  • 55. Adriana Matheus 62 – De maneira nenhuma, meu senhor! É muito nobre de sua parte, mas se o senhor morrer, estaremos perdidos. – E se você morrer, meu caro amigo, estaremos perdidos de igual modo. Deixe-me responder ao enigma. – Mas, senhor, tive um sonho muito revelador esta noite e tenho a certeza de que é a resposta ao enigma. Um dos soldados, percebendo a discussão entre os amigos, interveio: – Senhor, perdoe-me pela intromissão, mas percebo que todos nós tivemos sonhos reveladores esta noite. Perseu olhou para os demais, que concordaram com a cabeça. Isso deu uma certeza ainda maior dentro dele, que lhes disse: – Então, meus caros, é óbvio que isso é uma armadilha dos deuses. Deixe-me responder à esfinge. Tenho certeza de que meu sonho é o que tem a resposta correta. Não que eu esteja desmerecendo os sonhos de cada um, mas sei que tem o dedo da deusa Tétis no meio disso tudo. Todos se entreolharam e, a contragosto, deram passagem a Perseu, que saiu em direção à esfinge. Ela disse, ao vê-lo: – Então, terei a honra de matar o filho de Zeus em primeiro lugar? – Tenho certeza, oh, magnânima criatura, de que não será desta vez. Por favor, repita o enigma para mim, para que eu responda! Desconfiada, a esfinge repete novamente o enigma: – Dois irmãos não de sangue, mas de batalhas, unidos não pelos laços sanguíneos, mas pela honra e pela
  • 56. Perseu – O Príncipe dos heróis 63 coragem. Destemidos, ambos vencem a morte, mas apenas um retornará para os braços de sua amada. – A resposta a esse enigma sou eu e meu amigo Flávius. Os homens entreolharam-se novamente, apavorados, com medo de serem trucidados pela esfinge. Porém, Perseu prosseguiu: – Sim, eu e Flávius. Dois irmãos não de sangue, mas de batalhas, unidos não pelos laços sanguíneos, mas pela honra e pela coragem: assim como eu e Flávius, pois não somos irmãos de sangue, mas nos consideramos como tal, e não estamos unidos pelos laços de sangue, mas sim pela nossa honra e pelas inúmeras batalhas que enfrentamos. Como todos sabem, enfrentamos a morte inúmeras vezes e agora, aqui, diante de sua magnitude e de seu poder, enfrentamo-la novamente, pois sabemos que se não a respondermos verdadeiramente, morreremos. E somente eu voltarei para os braços de minha amada, pois meu amigo Flávius ainda não é casado. Ao ouvir a resposta de Perseu, corretíssima, a esfinge urrou de ódio. Seu urro foi tamanho que estremeceu toda a sua estrutura de pedra. Percebendo que os pedaços da esfinge começaram a desmoronar, Perseu e seus amigos atravessaram imediatamente o vale em meio aos destroços da fera. Por fim, chegaram do outro lado do deserto de sangue, onde se viram em um vale coberto por montanhas rochosas. Perseu e os amigos seguiram, temendo que algo pior estivesse por vir. Caminharam por duas horas debaixo de um calor sufocante e sem limites, até que ouviram um barulho estranho... Então, Perseu e seus corajosos amigos voltaram-se
  • 57. Adriana Matheus 64 para olhar o que poderia vir por trás deles. Porém, nada viram. Até que a terra começou a tremer sob seus pés. Os cinco homens juntaram-se, formando um círculo, cada um cunhando suas espadas. Foi quando um dos homens de Perseu avistou ao longe um pequeno sinal de poeira que mal dava para se ver por causa da areia, que fazia uma espécie de redemoinho em volta do vulto suspeito. A cada proximidade do vulto, mais eminente o perigo ficava. Até que o vulto finalmente tomou forma de três enormes escorpiões. Eles haviam sidos enviados pela deusa Tétis para exterminar aquele grupo de corajosos amigos. Perseu olhou para Flávius, que lhe deu um sorriso de ironia. Os homens, destemidamente, partiram para cima dos escorpiões, mantendo por horas uma luta mortal entre eles e os animais peçonhentos e gigantescos. Um dos soldados conseguiu subir em um dos escorpiões e arrancou o ferrão do gigantesco animal, cunhando em seguida a espada em sua cabeça. Enquanto isso, Perseu e Flávius travavam uma luta mortal com o maior e mais perigoso dos três animais, conseguindo, por fim, cada um enfiar uma espada em seu coração. O animal caiu por terra. O último dos escorpiões prendeu uma das patas na roupa de um dos soldados e, vendo-se encurralado por Perseu e Flávius e os outros dois soldados, a criatura bestial correu, arrastando o soldado. Os homens correram, tentando socorrer o amigo, mas foi inútil: a criatura escorregou em um precipício, caindo e levando consigo o pobre rapaz para morte. Exaustos por mais um batalha vencida, os quatro amigos seguiram viagem. Por fim, chegaram à frente de uma imensa mata que surgiu no meio do nada. Era onde Calibos escondia a alma de Andrômeda. Os amigos entraram caminhando pela mata, que parecia ficar cada vez mais densa e
  • 58. Perseu – O Príncipe dos heróis 65 assustadora, pois inúmeros olhos pareciam vigiá-los. No meio da mata, finalmente encontraram o pântano escuro. Perseu, então, decidiu que entraria sozinho, pois não gostaria de perder mais nenhum de seus companheiros. Os homens, no entanto, opuseram-se a ele, dizendo-lhe que seguiriam junto e que isso era uma escolha individual. Seguiram, mais uma vez juntos, os bravos heróis... Perseu, mais adiante, pediu a Flávius e aos dois soldados que ficassem e esperassem que ele lhes desse um sinal de ataque. Perseu colocou sobre a cabeça o elmo de bronze, que tinha o poder da invisibilidade. Com isso, então, entrou no covil de Calibos sem ser percebido pela besta e seus monstros guardiões. Foi no exato momento em que a grande fera dos ares, o Klaus, entrou carregando uma gaiola de ouro, trazendo dentro a alma da princesa Andrômeda. A princesa desceu tristemente da gaiola, seguindo em direção a onde estava sentado um animal com o rosto desfigurado, cujo corpo era metade homem e metade cabra. Perseu aproximou-se da amada sem ser percebido por ninguém e ouviu quando ela disse com uma voz que mais parecia um sussurro: – Por favor, meu senhor, liberte-me desse sofrimento. Estou muito cansada e fraca. – Nunca! Você me traiu, trocando-me pelo filho de Zeus. Agora, ambos pagarão com o sofrimento e a morte. – Não é verdade! Fui-lhe fiel enquanto você e eu éramos comprometidos, mas agora... Mediante... Por favor, meu senhor, eu lhe imploro: liberte minha alma. Amo meu esposo Perseu. A besta, enfurecida, bateu com uma das patas em Andrômeda, que caiu desfalecida ao chão. Diante daquele
  • 59. Adriana Matheus 66 ato de crueldade e covardia, Perseu partiu invisivelmente para cima da criatura, que começou a dar socos pelo ar. Seus soldados eram demônios e entreolharam-se, achando que seu mestre havia ficado louco. Perseu, então, assoviou alto. Esse foi o sinal para que seus homens entrassem e lutassem com os demônios. Perseu cravou a ponta de sua espada no coração de Calibos, que urrou, chamando por sua mãe, a deusa Tétis. Enquanto Klaus sobrevoava Perseu, tentando atacá-lo, ele lançou sua espada nele. Klaus caiu estirado ao chão, afundando pântano adentro e levando consigo a espada sagrada de Perseu. Os homens de Perseu conseguiram derrotar, também, os demônios. Estes, ao verem que seu mestre havia sido derrotado, fugiram para dentro do pântano sombrio e musguento. Perseu correu para os braços de sua amada, Andrômeda, que a cada instante ia desaparecendo. Ele tomou sua alma nos braços e, percebendo que ela estava se findando e sumindo a cada instante, chorou. – O que farei sem o meu amor? – pergunta Perseu a Flávius. Todos se calaram mediante tamanho sofrimento e dor. Do outro lado, Calibos agonizava, clamando por sua mãe. Tétis desceu do Olimpo em forma de uma nuvem de gafanhotos e transformou-se em uma linda senhora diante dos olhos de todos. A deusa, ao ver seu filho Calibos morrendo, abraçou-o e consolou-o em seus últimos momentos de vida. Calibos, ainda nos braços da deusa, voltou à sua forma humana depois de morto, o que a enfureceu mais ainda. Com ódio mortal de Perseu e seus amigos, a deusa disse:
  • 60. Perseu – O Príncipe dos heróis 67 – Seus miseráveis, eu os destruirei um a um pela morte de meu filho! Dizendo isso, a deusa levantou-se e, no exato momento em que iria destruir Perseu e seus homens, surgiu Zeus em forma de trovão. Irado e indignado com a atitude da deusa, ele esbravejou: – Não, Tétis, você não vai ferir meu filho ou quem quer que seja mais! – Mas ele matou o meu filho! – Seu filho pagou pelo preço da desobediência e da crueldade que praticava. Seu filho era um monstro, e não falo isso por causa da forma em que o coloquei, mas sim pela forma como ele agia. Ele era intolerante e cruel, arrogante e sem coração. Mereceu ter o fim que teve. – Mas, meu senhor... Eles o mataram em uma emboscada injusta! – esbravejou a deusa. – Injusto é você não perceber a realidade à frente dos seus olhos. Seu filho era a criatura mais cruel que já habitou o planeta Terra. Não quero mais saber de argumentos! Minha palavra é uma ordem. Dizendo isso, o deus enviou a deusa de volta ao Olimpo como que em um passe de mágicas. Perseu permaneceu abraçado à alma de Andrômeda. Ao ver aquela cena, Zeus disse: – Por sua coragem e bravura, meu filho, concederei a vida dessa mulher novamente. Que você e seus bravos soldados retornem à cidade de Argos em segurança, onde serão aclamados por todos. Quanto a você e à sua esposa, meu filho, serão declamados em muitos versos e trovas por muitos e muitos anos. Sua história será contada por todas as gerações futuras. Quando os mortais olharem para os céus, verão no meio das estrelas você e sua esposa, Andrômeda.
  • 61. Adriana Matheus 68 Dizendo tais palavras, Zeus transportou Perseu e seus soldados para seu palácio em segurança. Ao se perceber no pátio do palácio, Perseu deixou seus homens com os aplausos da vitória e correu para seus aposentos, onde encontrou Andrômeda despertada de seu terrível sono de morte. Os dois beijaram-se e Perseu começou a lhe contar tudo o que se passara nos últimos dias... Andrômeda deixou rolar uma lágrima dos olhos, e os dois olharam para os céus, onde viram a constelação que Zeus havia mencionado – lugar onde passariam seus dias de eternidade. Como Zeus previra, a história de Perseu e Andrômeda é contada por todas as gerações. Seus feitos jamais foram esquecidos. Perseu tornou-se, então, o príncipe dos heróis.
  • 62. Perseu – O Príncipe dos heróis 69 FIM
  • 63. Adriana Matheus 70 Sobre a autora Nascida em Juiz de Fora em 01/10/1970, onde reside com seus dois filhos, a autora Adriana Matheus escreve desde os 14 anos de idade. Já participou de diversos concursos de literatura, inclusive de poesias, neste ganhou o prêmio de melhor iniciante, em 1999. Já escreveu nove obras: O Segredo dos Girassóis; Um Olhar Vale Mais que Mil Palavras (sendo que esta obra é a finalista no concurso Lei Murilo Mendes neste ano – 2012); Lendas Urbanas; O Segredo dos Orixás; Perseu, o Príncipe dos Heróis; Memórias de um Psicopata; A cigana e a Lua, Doriko; Mary Polask; sendo que O Segredo dos Girassóis é a que mais se destaca por ser uma obra de fácil entendimento e por envolver o leitor na leitura. O Segredo dos Girassóis ganhou neste ano de 2012 (em julho) o selo de boa escolha e o prêmio de excelência em literatura como reconhecimento da editora BOKESS. A autora publica todas as suas obras pela editora Ixtlan (http://www.editoraixtlan.com), e neste ano recebeu o convite para publicar pela editora Chiado http://www.chiadoeditora.com), editora de Portugal que quer traduzir o livro Um Olhar Vale Mais que Mil Palavras para o inglês; essa parceria será muito boa para a carreira literária da autora, que já aceitou o convite e pretende publicar a obra ainda no ano de 2012. A autora faz parte da Academia Luso Brasileira de Letras da cidade de Juiz de Fora-MG e já concorreu a vários prêmios de literatura, inclusive ao prêmio da Lei Murilo Mendes dessa cidade em 2010. Esse prêmio dá ao autor e à obra a chance de um grande reconhecimento nesse
  • 64. Perseu – O Príncipe dos heróis 71 município. Atualmente, a autora faz parte da UBE (União Brasileira de Escritores), também é membro participante do Clube dos Novos Autores (site muito conhecido que permite a divulgação dos autores e suas obras). Adriana Matheus é espiritualista e quase todas as suas obras são ditadas pelo espírito do padre Ângelo Wallejo Morales, que viveu no século XVIII no Mosteiro de San Francisco, na Espanha. Adriana Matheus segue a tradição da serpente (ou tradição da Lua) e cumpre piamente os preceitos da religião Wicca. Contatos da autora: http://anairdameuslivros.blogspot.com