O documento descreve as observações de alguém sentado em um banco sobre como as pessoas e a sociedade mudaram com o tempo. Embora as pessoas pareçam mais livres em suas escolhas, elas também parecem mais presas a padrões materiais e superficiais impostos pela mídia. A conclusão é que o verdadeiro sentido da vida não deve girar em torno do capital ou aparências, mas sim do amor e das conexões entre as pessoas.
1. Caminhando lentamente pelas ruas de minha cidade pude perceber o quanto os
tempos mudaram e junto dele, as pessoas se transformaram. Pude ver roupas com
cores e modelos diferentes, rostos carregados de produtos fortes e coloridos que
escondiam a verdadeira beleza e honestidade do ser humano, automóveis variados,
objetos de valores caríssimos sendo expostos á luz do dia e olhares selvagens e
descarados, algo incomum e proibido há vários anos atrás.
Depois de tantas observações me sentei em um banco com um copo de sorvete na
mão, pois o dia estava quente e até mesmo o calor mudara durante os anos. Sentada,
pude perceber a grande massa diante de mim se locomovendo com intensa rapidez, a
pressa e a ansiedade também se transformará muito e hoje, se tornou inimiga do ser
humano. Idosos, jovens, crianças e adultos, independente da idade todos possuíam
pressa de chegar a algum lugar. Ainda degustando a metade do meu copo de sorvete,
me dei à liberdade de ir mais a fundo em meus pensamentos e, portanto, deixei
minha hipocrisia de lado, observando os pontos positivos em nosso novo tempo. As
pessoas, afinal, se tornaram mais libertas e, portanto, não precisam se prender a
nada, podendo escolher o que estudar no que trabalhar e onde viver. O preconceito
ainda existe, mas o ‘’estranho’’ já pode andar livremente pelas ruas – ou quase
livremente. As tecnologias que facilitam nossa vida reduzem – talvez – o nosso tempo
de trabalho e evita o grande desconhecimento.
Eis que minha sobremesa chega ao fim, entretanto, sinto que ainda não cheguei onde
eu queria. Talvez uma boa desculpa para mais um copo de sorvete. Ao tirar o dinheiro
do bolso e pagar pela sobremesa lembrei-me de que as verdadeiras mudanças em
nossa vida foram às coisas concretas. O dinheiro, os aparelhos eletrônicos, as
moradias e as roupas. Uma mudança bruta, pois tomou conta do Homem e o moldou
de forma estupida. Talvez eu também esteja errada, os sentimentos, pensamentos e
comportamentos do Homem também sofreram mudanças brutas, mas para pior. É
uma incógnita escolhermos entre a linha de raciocínio de que o capitalismo moldou o
Homem ou nós já nascemos com este dom, de ter a ‘’carne fraca’’. Este ponto faz-me
entrar na pauta religiosa, o que geralmente evito, já que esta não possui total poder
de provar e, apenas o que temos diante dos nossos olhos pode e deve ser discutido.
Continuo tomando meu sorvete, dessa vez mais lentamente, e preciso balançar a
cabeça, as ideias já estão se dissipando. Volto a pensar no mundo capitalista em que
vivemos, onde o dinheiro é a chave para o sucesso e para a felicidade; onde o dinheiro
separa países e afasta pessoas. Eis uma grande contradição – pensei. Eis que quem
busca moedas e papeis valiosos para buscar também a felicidade e a ascensão
comercial, busca também a distância entre as pessoas, a disputa constante e um
coração de ferro.
Eis que me corrijo rapidamente: As pessoas possuem liberdade, mas suas escolhas as
tornam prisioneiras; o preconceito diminuiu, mas o pouco que ainda existe é tratado
com violência por mentes fechadas e cegas; As tecnologias diminuem nosso tempo
para os deveres, mas nos licitam a sermos covardes, ignorantes e a esquecer a nossa
2. própria língua. Uma mudança bruta, já que nos atinge de tal forma que nos tornamos
cegos e prisioneiros de nossas próprias ações. Um visual deslumbrante, vitrines
enfeitadas, corpos esbeltos e televisões ligadas, o suficiente para nos fazer acreditar
que o mundo em que vivemos é perfeito, já transformado e que cada um de nós
devemos seguir padrões para sermos aceitos.
Um mundo feito sob padrão para pessoas padrões, intrigante não? Um mundo onde
as pessoas devem competir consigo mesmas em busca de riqueza e beleza para uma
falsa vida feliz e eterna. Onde um corpo é mais importante do que as palavras que
saem de nossa boca. Onde a casa em que vivemos define nosso caráter. E por fim,
onde nossa forma de pensar nos define como o errado. Portanto, somos movidos por
frieza e por olhares que julgam, mas que não se entregam; Movidos por prazeres
instantâneos, mas que se esvaem rapidamente; Movidos por pensamentos
conformistas de que o país em que vivemos é perfeito, o ‘’pão e o circo’’ é essencial e
o nosso governo é esplendido; Movidos pela beleza, que embora passe, não nos deixa
enxergar o verdadeiro ‘’eu’’ que está em nossa frente.
Uma geração confusa não sabe o equilíbrio entre a razão e a emoção. Não pensam,
mas também não sentem. Influencias são bem aceitas, afinal, a preguiça em mastigar
é constante, coisas prontas são mais suscetíveis. Uma grande confusão e
estranhamento, um longo passo para que todos possam entender que a vida não gira
em torno do capital, que sentimentos precisam ser verdadeiros para não machucar,
que mentiras estão em todos os lugares e que a beleza não define o que nós
realmente somos. Competimos em uma disputa em direção ao poder e usamos
pessoas como troféus.
Concluo, por fim. O nosso sentimento, nosso desejo, nossa vontade e nossas
conquistas, são apenas nossas. Ninguém pode nos influenciar nessas escolhas, pois
ninguém vive a nossa vida. Se pautarmos nossas decisões e nosso ideais em opiniões
alheias nunca saberemos o verdadeiro sentido de viver. Sentada ainda neste banco,
pude ver que as pessoas ainda não se transformaram ao meu redor, mas minha mente
deu um grande passo. Será difícil encarar o mundo aonde as pessoas vão nos desafiar
todos os dias, mas não podemos deixar que vivam a nossa vida. Não devemos ser
perfeitos, os erros nos amadurecem e nos guiam para caminhos melhores, mas não
podemos nos acostumar com eles. O amor é o bem mais precioso que temos nos dias
de hoje, pois ele nos faz encontrar a paz e o equilíbrio em nossa família, amigos e a
pessoa com quem queremos viver. Se enxergássemos o verdadeiro sentido do amor,
saberíamos que qualquer outra coisa não deveria se sobrepor e que, amar alguém da
forma como ela é, sem julga-la pelas suas roupas e aparência, é um grande passo para
o equilíbrio. O ‘’feio’’ e o ‘’belo’’ está na mente de cada um de nós, o resto se resume
um distúrbio de uma mídia corrupta e libidinosa. O segredo está naquilo que sua
mente é capaz de pensar e acreditar, mentiras e tentações estarão constantemente
nos colocando em prova e é por isso que me despeço, afinal, o terceiro copo de
sorvete é mais uma destas – deliciosas – tentações.