Tiradentes foi transformado em herói nacional brasileiro após sua morte durante a Inconfidência Mineira de 1789, embora na época tenha sido visto como traidor. Ao longo dos séculos, mitos e símbolos foram criados em torno de sua figura para promover a identidade nacional, como estátuas, selos, moedas e o feriado de 21 de abril. Sua imagem foi usada tanto por regimes monárquicos quanto republicanos para legitimar o poder político.
2. O Grande Mito Nacional
“Há uma espécie de propaganda com que se
pode levantar a moral de uma nação - a
construção ou renovação e a difusão
consequente e multímoda de um grande mito
nacional.
De instinto, a humanidade odeia a verdade,
porque sabe, com o mesmo instinto, que não
há verdade, ou que a verdade é inatingível.
O mundo conduz-se por mentiras; quem quiser
despertá-lo ou conduzi-lo terá que mentir-lhe
delirantemente, e fá-lo-á com tanto mais êxito
quanto mais mentir a si mesmo e se
compenetrar da verdade da mentira que criou”.
Fernando Pessoa, in 'Resposta do Inquérito «Portugal,
Vasto Império»'
3. “Heróis são símbolos poderosos, encarnações de
ideias e aspirações, pontos de referência,fulcros de
identificação coletiva. São, por isso, instrumentos
eficazes para atingir a cabeça e o coração dos cidadãos
a serviço da legitimação de regimes políticos. Não há
regime que não promova o culto de seus heróis e não
possua seu panteão cívico. Em alguns, os heróis
surgiram quase espontaneamente das lutas que
precederam a nova ordem das coisas. Em outras, de
menor profundidade popular, foi necessário maior
esforço na escolha e na promoção da figura do herói”.
(José Murilo de Carvalho, p. 55)
4. Conspiração em Vila Rica (Ouro Preto),
em 1789, com ideias libertárias e
republicanas, sob as influências do
movimento iluminista e da Independência
dos Estados Unidos. Os conspiradores
reuniam-se em casa do Dr. Cláudio Manuel
da Costa, onde liam a constituição norte-
americana, redigiam as primeiras leis da
nova república, aprovaram o lema e a
bandeira do levante. Destacam-se os
personagens, além do já citado, o
desembargador Tomás Antônio Gonzaga e
o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes.
5. “A Inconfidência Mineira é um exemplo de
como acontecimentos históricos de alcance
aparentemente limitado podem ter impactos na
história de um país. Como fato material, o
movimento de rebeldia não chegou a se
concretizar e suas possibilidades de êxito eram
quase nulas. Sob este aspecto, a Revolução
[Pernambucana]de 1817 teve muito maior
importância. Mas a relevância do movimento
deriva de sua força simbólica: Tiradentes
transformou-se no herói nacional e as cenas de
sua morte, o esquartejamento de seu corpo,a
exibição de sua cabeça passaram a ser evocados
com muita emoção e horror nos bancos escolares.
Isso não aconteceu da noite para o dia, e sim
através de um longo processo de formação de um
mito que tem sua própria história”.
(FAUSTO, p. 65)
6. Tiradentes, como é conhecido hoje, é,
na verdade, Joaquim José da Silva Xavier
e nasceu em 12 de Novembro de 1746,
na Fazenda Pombal, no estado de Minas
Gerais. Tornou-se “herói” nacional ao
morrer como mártir na Inconfidência
Mineira no dia 21 de Abril de 1792, aos
45 anos de idade. Até hoje, o dia 21 de
Abril é feriado nacional, o dia de
Tiradentes. É também patrono cívico do
Brasil e das Polícias Militares.
9. A figura de Tiradentes está
associada à idéia de um homem que
morreu lutando pela autonomia do
Brasil (?). Até chegar a esse ponto,
porém, foi necessário um longo
caminho.Tiradentes só se tornou herói
nacional após a Proclamação da
República, em 1889, um século depois
de ter defendido ideais republicanos.
Tiradentes acabou transformado em
mártir. Para tanto foram utilizadas
diversas representações, desde
retratos até reproduções de sua
confissão ou sentença de morte.
16. A leitura da sentença de Tiradentes (óleo sobre tela) de Leopoldino
Faria.
17. Resposta de Tiradentes à comutação da pena de morte dos
Inconfidentes. Óleo sobre tela ,de Leopoldino de Faria (1836-
1911), final do século XIX e início do XX, 452 x 600 mm
18. Tiradentes,
de Décio Villares (1851-
1931).
60,5 x 49,7cm.
Mais uma busca pela
cristianização da imagem do
inconfidente.
19. No desenho de José Wasth
Rodrigues,
um Tiradentes quase bonito e
elegante no seu uniforme de
alferes.
“Tira-dentes, herói nacional:
um homem que só de certo
depois de morto. Aí talvez a
razão maior de identidade,
num lugar onde a vida reserva
poucas esperanças de sucesso.
(...) Era bastante alto e muito
espadaúdo, de figura
antipática, e feio e espantado”.
(Paulo Miceli, p. 41 e 42)
30. Ouro Preto /MG
Museu da Inconfidência e
Estátua de Tiradentes
“Na estátua que o governo
republicano de Minas lhe
ergueu em Ouro Preto, ele
tem o porte de um profeta
ou semideus”.
(José Murilo de Carvalho, p. 71)
34. “Foi trabalhar para todos..
-E vede o que lhe acontece!
Daqueles a quem servia,
Já nenhum mais o conhece.
Quando a desgraça é profunda,
Que amigo se compadece?
...
Talvez chore na masmorra!
Queo chorar não é fraqueza.
Talvez se lembre dos sócios
Dessa malograda empresa.
Por elas, principalmente,
Suspirará de tristeza”.
35. “Morre a tinta das sentenças
E o sangue dos enforcados...
-liras, espadas e cruzes
pura cinza agora são.
Na mesma cova as palavras,
O secreto pensamento,
As coroas e os machados,
Mentira e verdade estão.
Aqui, além, pelo mundo,
Ossos, nomes, letras, poeira...
Onde, os rostos? Onde as almas?
Nem os herdeiros recordam
Rastro nenhum pelo chão.
36. Exaltação a Tiradentes
(Mano Décio da Viola, Estanislau Silva e
Penteado)
Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a vinte e um de abril
Pela independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas
Gerais
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas
Gerais
Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado pela nossa
liberdade
Este grande herói
Para sempre há e ser
lembrado.
37. Tiradentes deixava a vida para entrar na história,
o que aconteceu muito tempo depois, principalmente
quando se “proclamou a república” e os senhores
dos novos tempos precisavam de sangue alheio para
dignificar uma luta que não houve”.
(Paulo Miceli, p. 51)
38. CARVALHO, José Murilo. A formação das almas: o
imaginário da República no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, Imprensa
Oficial do Estado, 2001.
MICELI, Paulo. O mito do herói nacional. 4ª edição,
São Paulo: Contexto.
PRIORE, Mary del. O livro de ouro da História do
Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
Hinweis der Redaktion
A origem de Ouro Preto está no arraial do Padre Faria, fundado pelo bandeirante Antônio Dias de Oliveira, pelo Padre João de Faria Fialho e pelo Coronel Tomás Lopes de Camargo e um irmão deste, por volta de 1698. Pela junção desses vários arraiais, tornando-se sede de conselho, foi elevada à categoria de vila em 1711 com o nome de Vila Rica. Em 1720 foi escolhida para capital da nova capitania de Minas Gerais. Em 1823, após a Independência do Brasil, Vila Rica recebeu o título de Imperial Cidade, conferido por D. Pedro I do Brasil, tornando-se oficialmente capital da então província das Minas Gerais e passando a ser designada como Imperial Cidade de Ouro Preto. Em 1839 foi criada a Escola de Farmácia e em 1876 a Escola de Minas. Foi sede do movimento revolucionário conhecido como Inconfidência Mineira. Foi a capital da província e mais tarde do estado, até 1897. A antiga capital de Minas conservou grande parte de seus monumentos coloniais e em 1933 foi elevada a Patrimônio Nacional, sendo, cinco anos depois, tombada pela instituição que hoje é o IPHAN. Em 5 de setembro de 1980, na quarta sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO, realizada em Paris, Ouro Preto foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade.
A Cidade de Tiradentes foi fundada por volta de 1702, quando os paulistas descobriram ouro nas encostas da Serra de São José, dando origem a um arraial batizado com o nome de Santo Antônio do Rio das Mortes. O arraial posteriormente, passou a ser conhecido como Arraial Velho, para diferenciá-lo do Arraial Novo do Rio das Mortes, a atual São João del Rei. Em 1718 o arraial foi elevado à vila, com o nome de São José, em homenagem ao príncipe D. José, Futuro rei de Portugal, passando em 1860, à categoria de cidade. Durante todo o século XVIII, a Vila de São José viveu da exploração de ouro e foi um dos importantes centros produtores de Minas Gerais.No fim do século XIX os republicanos redescobrem a esquecida terra de Joaquim José da Silva Xavier, o "Tiradentes", fazem uma visita cívica à casa do vigário Toledo, onde se tramou a Inconfidência Mineira. Mas foi o inflamado Silva Jardim que, de passagem por São José, sugere em seu discurso que o nome da cidade fosse trocado para o do herói, em lugar de um rei português. Com a proclamação da república, por decreto de número 3 do governo provisório do estado, datado de 06 de dezembro de 1889, recebe a cidade o atual nome "Cidade e Município de Tiradentes". Após longos anos de esquecimento, o conjunto arquitetônico da cidade foi tombado pelo então Serviço do patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), em 20 de abril de 1938, tendo sido, por isso, conversado quase intacto.
Tiradentes Esquartejado. 1893, Pedro Américo (1843-1905) – Destaques na obra: 1) Autor: pintou g randes obras oficiais, como o “Independência ou Morte”; 2) Catolicismo: crucifixo ao lado da cabeça; 3) Aproximação com Jesus Cristo: “santo sudário”, expressão facial de serenidade; cabelo longo e barba,braços como o do Cristo da Pietá, “cruz” no lugar da forca; 4) Morreu pelo povo: algemas abertas e ensanguentadas; tronco e perna esquerda como desenho do mapa do Brasil; 5) Santificação: a perspectiva de baixo para cima transforma a forca em um altar.
Pietá (1499), de Michelangelo e detalhe de Tirandentes Esquartejado: posição do braço direito preso ao corpo e forma como cai.
Marat assassinado ou A morte de Marat é uma tela de Jacques-Louis David pintada em 1793. Muitos associam o detalhe do braço direito preso ainda ao corpo de Tiradentes como uma alusão ao do jornalista “Amigo do Povo”, o revolucionário francês, Jean Paul Marat.
Ainda dentro do processo de criação do mito nacional: 1) Cabelos e barba longos; 2) Perspectiva de altar; 3) A forca como cruz; 4) O padre é quem se ajoelha diante de Tiradentes; 5) O choro do carrasco; 6) A presença da pomba (seria o Espírito Santo?); 7) A tranquilidade diante da morte.
A leitura da sentença de Tiradentes uma aproximação com o julgamento de Sócrates (469 a.C. 399 a.C.).
Óleo sobre tela de Leopoldino de Faria (1836-1911), final do século XIX e início do XX, 452 x 600 mm, retratando a "Resposta de Tiradentes à comutação da pena de morte dos Inconfidentes". Uma aproximação com o julgamento de Sócrates (469 a.C. 399 a.C.). A tela foi encomendada pela Câmara Municipal de Ouro Preto no final do século XIX, para homenagear Tiradentes, o Mártir da Inconfidência, como passou a ser retratado após a Proclamação da República.
(Alferes Tiradentes, óleo sobre tela de Washington Rodrigues)
"Despojos de Tiradentes", de Cândido Portinari. Colégio de Cataguases, MG.
Estátua mostrando Tiradentes a serenforcado, na Praça Tiradentes, emBelo Horizonte.
Na estátua que o governo republicano de Minas lhe ergueu em Ouro
“A estátua é um compromisso entre as versões cívica e religiosa. O inconfidente aí aparece de alva e a caminho da forca mas, ao mesmo tempo, mantém a atitude desafiadora e rebelde”. (José Murilo de Carvalho, p. 148)
Descrição:Majestosa estátua localizada na entrada do Palácio Tiradentes, sede da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Esculpida em bronze e mede 4,50 metros de altura. O pedestal de granito mede 4 metros de altura.
Em meados da década de 30, o presidente Getúlio Vargas determinou que os restos mortais dos participantes da Inconfidência degredados para a África fossem trazidos de volta ao Brasil. Os ossos que puderam ser exumados chegaram em 1937. Numa época em que o resgate da memória brasileira começava a se tornar prioridade tanto para governo quanto para intelectuais, o local para depósito daquelas relíquias só poderia ser Ouro Preto.
Ao ser esvaziado em 1938 o prédio da antiga Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica, que ultimamente funcionava como penitenciária estadual, um dos seus salões destinou-se para abrigar o Panteão dos Inconfidentes, que foi inaugurado no dia 21 de abril de 1942, data do transcurso do 150º aniversário da sentença condenatória dos inconfidentes. Em seguida, por meio de decreto-lei do governo federal, criou-se o Museu da Inconfidência, que completaria a ocupação do imóvel, sendo inaugurado em 11 de agosto de 1944, ao término das reformas para a adaptação do edifício à nova função.
O lema LIBERTAS QUÆ SERA TAMEN. (muitas vezes traduzido como "Liberdade ainda que tardia") teria sido cunhado pelo inconfidente Alvarenga Peixoto a partir de um verso das Bucólicas (1.27) do poeta latino Virgílio, em que se lê Libertas quae sera tamen respexit inertem, que pode ser traduzido por "Liberdade, a qual, embora tarde, (me) viu inerte". Há quem sustente, contudo, que a tradução correta do dístico seria "Liberdade ainda que tardia, todavia...", o que não faz sentido2 . Para esses, a frase correta a ser usada na bandeira para ter o sentido desejado deveria ser Libertas quae sera3
A bandeira do estado de Minas Gerais foi instituída no dia 8 de janeiro de 1963. Ela é baseada na bandeira que seria adotada após a Inconfidência Mineira e a Independência do Brasil. O triângulo simboliza a Santíssima Trindade. Já a expressão "Libertas quae sera tamen" significa em latim "Liberdade antes que tardia". É uma expressão tirada de um verso de Virgílio, grande poeta romana da antiguidade. A cor vermelha do triângulo foi escolhida pela Assembleia Legislativa, pois representa o ideal revolucionário.
Em 1949, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano sagrou-se campeão com este samba-enredo composto por Mano Décio da Viola, Estanislau Silva e Penteado. A letra foi escrita para exaltar a figura de Tiradentes, o herói que nos libertaria do jugo opressor. A real figura de Tiradentes não é a que fomos acostumados e ver nos livros e quadros. Esta figura foi criada para que o Brasil tivesse um herói.O samba não deixa de ser lindo e didático.