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Interligados
    Aden Stone Contra O Reino das Bruxas

PRÓLOGO

Aden Stone se debatia na cama, lençóis estavam caindo no chão. Quente demais. O
suor respingava, fazendo sua samba canção, a única peça que vestia, ficar colada
em suas coxas. Demais. Sua mente... Ah, sua pobre e arruinada mente. Tantas
imagens piscavam e se misturavam com a escuridão intensa, com o caos horrível,
com a dor brutal.

Não posso aguentar... Muito mais... Ele era humano, embora o sangue ardente dos
vampiros agora corresse em suas veias. O sangue poderoso dos vampiros que
permitia que o garoto visse o mundo pelos olhos do doador, mesmo que apenas
por um breve intervalo. Aquilo era tão horrível. Aden já tinha vivenciado esse tipo
de situação antes. No entanto, naquela noite, ele tinha ingerido sangue de duas
fontes distintas. Acidentalmente, é claro, mas essa condição não era relevante para
aquela dor avassaladora.

Uma das fontes era sua namorada, a Princesa Victoria. A outra, Dmitri, o ex-noivo
da vampira que havia falecido. Enfim.

Agora os sangues se enfrentavam em um cabo de guerra pela atenção do garoto.
Idas e vindas tóxicas. Nada demais, certo? Durante os anos de sua vida, Aden
tinha lutado contra zumbis, viajado no tempo e conversado com fantasmas. Ele
devia ser capaz de rir dessa nova condição. Errado! Ele sentia como se tivesse
ingerido uma garrafa de ácido e cacos de vidro como aperitivo. Um desses o
queimava enquanto o outro o cortava em pedaços.

E agora ele estava...

Mudando o foco novamente.

– Ah, Pai – Aden subitamente ouviu Victoria sussurrar.
Aden recuou. Ela tinha sussurrado, sim, mas alto demais. Os ouvidos do garoto
estavam tão sensíveis quanto o restante de seu corpo.

De alguma forma, ele encontrou forças para afastar a dor e focar seu olhar. Um
grande erro. Claro demais. A forte melancolia dos arredores de Dmitri tinha aberto
caminho para as cores vibrantes de Victoria. Aden agora enxergava pelos olhos
dela, incapaz de sequer piscar sozinho.

– Você foi o homem mais forte que já existiu – ela continuou em um tom solene.
Para Aden, aquilo era como se ele estivesse falando, sua garganta raspava como se
estivesse em carne viva. – Como você pode ter sido derrotado tão rapidamente? –
Como eu pude não saber que isso estava acontecendo?, pensou Victoria.

Ela, seu guarda-costas Riley e sua amiga Mary Ann tinham levado Aden para casa
na noite anterior. Victoria queria ficar com o garoto, mas ele a dispensara. Aden
não sabia como iria reagir a dois tipos diferentes de sangue em seu corpo e Victoria
precisava estar com os vampiros durante o período de luto. Por algum tempo, ele
tinha tentado dormir, agitando-se e se revirando, seu corpo se recuperava das
agressões que tinha causado... E recebido. Então, aproximadamente, uma hora
atrás, aquele cabo de guerra tinha começado. Graças a Deus Victoria tinha se
retirado. Que pesadelo terrível teria sido para Aden ver, pelos olhos da vampira, a
si mesmo, naquela situação patética, e saber o que ela estava pensando dele.

Quando Victoria pensasse nele, ele queria que ela se apegasse à palavra invencível.
Ou, se isso não fosse possível, que ela, pelo menos, se apegasse à palavra lindo.
Qualquer outro termo, não, obrigado. Porque ele pensava que ela era perfeita, de
todas as formas.

Perfeita e doce, e linda. E dele. A imagem da vampira invadiu a mente de Aden.
Ela tinha cabelos longos e escuros que se derramavam sobre aqueles ombros
pálidos; olhos azuis que brilhavam como cristais; lábios tão vermelhos quanto
cerejas. Para beijar. Para lamber.

Ele a tinha conhecido há poucas semanas, embora tivesse a impressão de que a
conhecia desde sempre. O que, de uma forma confusa, era verdade. Bem, ele
conhecia Victoria há pelo menos seis meses, graças às informações fornecidas por
uma das almas que viviam em sua cabeça. Sim, como se vampiros e sangues
telepáticos não fossem estranhos o suficiente, Aden dividia sua cabeça, agora, com
três outras almas humanas. Mais do que isso, cada uma dessas almas possuía uma
habilidade sobrenatural.
Julian era capaz de levantar os mortos.

Caleb podia possuir outros corpos.

E Elijah tinha o dom de prever o futuro.

Por meio de Elijah, Aden tinha descoberto que encontraria Victoria antes mesmo
de ela chegar a Crossroads, Oklahoma. Um lugar que, no passado, Aden
considerava a filial do inferno na Terra, mas que agora ele pensava ser o Paraíso,
muito embora aquele fosse um solo extremamente fértil para criaturas
supostamente míticas. Bruxas, duendes, fadas, elfos (todos inimigos de Victoria) e,
é claro, vampiros. Ah, e lobisomens, os protetores dos vampiros.

E tudo bem. Isso era um monte de criaturas esquisitas. No entanto, se um mito
fosse verdadeiro, de certa forma fazia sentido que todos os mitos também se
tornassem verdadeiros.

– O que eu vou fazer com... – Victoria começou a falar novamente, trazendo a
atenção de Aden para o presente.

Ele realmente queria ouvi-la completar a sentença. Entretanto, antes que a vampira
pudesse pronunciar outra palavra, o foco do garoto mudou. Mais uma vez. A
escuridão subitamente o envolveu, consumindo-o, fazendo sua ligação com
Victoria desaparecer. Aden voltou a se debater na cama, a dor explodia por todo
corpo antes de ele se ligar ao outro vampiro. Dmitri. O Dmitri morto.

O garoto queria abrir os olhos, ver alguma coisa, qualquer coisa, mas suas
pálpebras estavam, de alguma forma, coladas. Em meio a uma respiração trêmula,
ele sentia o cheiro de terra e de... Fumaça. Sim. Fumaça. Espessa e nauseante,
fazendo sua garganta coçar. Ele tossiu, e tossiu. Ou aquilo era Dmitri tossindo?
Dmitri ainda estava vivo? Ou aquele corpo apenas reagia porque os pensamentos
de Aden corriam por uma mente compartilhada?

Ele tentou movimentar os lábios de Dmitri, forçar para que palavras saíssem para
chamar a atenção de alguém. No entanto, os pulmões se apertaram, rejeitando o ar
poluído. E, de repente, ele já não conseguia respirar.

– Queime-o – disse friamente alguém – Vamos nos assegurar de que o traidor
esteja realmente morto.

– Será um prazer – respondeu outro, com um tom ligeiramente eufórico.
Em meio à escuridão, Aden não conseguia enxergar os falantes. Não sabia se eles
eram humanos ou vampiros. Não sabia onde ele estava ou... As palavras do
primeiro homem finalmente foram absorvidas, consumindo os pensamentos de
Aden. Queime-o...

Não. Não, não, não. Não enquanto Aden estivesse ali. E se ele sentisse cada
labareda das chamas?

Não!, o garoto tentou gritar. Novamente, nenhum som saiu.

O corpo de Dmitri foi erguido. Aden sentia como se estivesse suspenso, preso a um
fio, com a cabeça caindo para trás e os membros esquecidos. Próximo dali, ele
ouviu o estalar daquelas chamas assustadoras. O calor passava por ele, girando em
volta dele, envolvendo-o.

Não! Ele tentava se debater, lutar, mas o corpo continuava sem nenhum
movimento. Não!

Um momento depois, houve um contato. E, ah, sim. Ele sentiu. As primeiras
chamas tocaram os pés antes de incendiarem... De espalharem-se. Agonia. Agora
maior do que qualquer agonia que ele já tinha sentido. A pele estava derretendo.
Músculos e ossos, liquefazendo-se. O sangue, desintegrando-se. Meu Deus.

Ainda assim, ele tentava lutar, afastar-se e correr. Entretanto, o corpo sem vida se
recusava a obedecer. Não! Ajuda! Embora parecesse impossível, a agonia se
intensificou... Ardendo por todo corpo, devorando-o, pedaço por pedaço. O que
aconteceria se ele continuasse ligado a Dmitri até o fim? O que aconteceria se ele...

Pontos de luz piscaram em meio à escuridão, pontos que cresciam até se juntarem
e, novamente, ele passou a ver o mundo pelos olhos de Victoria. Mais uma
mudança. Graças a Deus. Aden tremia, tão ensopado de suor que poderia
praticamente nadar. No entanto, apesar da mudança, a dor residual, muito maior
que o ácido que ainda raspava nas veias, escorregava dos pés até o cérebro. Ele
queria gritar.

Aden estava... Tremendo, ele se deu conta. Não, Victoria estava tremendo.

Uma mão suave e aquecida encostou-se em seu ombro. No ombro dela. Victoria
olhou para cima, a visão se embaçava em consequência das lágrimas. A luz da lua
brilhava no céu, ele percebeu, assim como as estrelas. Alguns pássaros da noite
voavam, gritando uns para os outros... Com medo? Provavelmente. Eles deviam
sentir o perigo que estava logo abaixo deles.

Victoria baixou o olhar e Aden observou os vampiros ao redor dela. Todos eram
altos, pálidos, lindos. Vivos. A maior parte deles não estava de acordo com a
imagem retratada nos romances. Eles apenas eram diferentes; os humanos eram
uma fonte de comida da qual eles não podiam se importar.

Afinal, vampiros viviam séculos enquanto os humanos se debilitavam e morriam
rapidamente. Exatamente como Aden logo morreria.

Elijah já tinha previsto a morte do garoto. Essa previsão era um saco, sim, mas o
pior dos problemas era como a morte ocorreria: uma faca afiada atravessaria o tão
necessário coração de Aden.

O garoto sempre rezava para que esse como mudasse milagrosamente. Até mesmo
agora. Uma faca enfiada em um coração queimando até a morte dentro de um
corpo que não pertencia somente a ele em nenhum dia da semana. E quando ele
teria uma folga, hein? Nada de torturas, nada de lutar contra criaturas, nada de
esperar pelo fim, mas apenas desafios como ser aprovado no colégio e beijar sua
namorada.

Aden se esforçou para se concentrar antes de se enfurecer de uma forma que ele
esperava ser incapaz de amenizar. A mansão dos vampiros, escura e misteriosa, se
elevava atrás da multidão como uma mistura de casa mal-assombrada com
catedral romana. Victoria lhe tinha contado que aquela casa estava aqui, em
Oklahoma, há quatrocentos anos e que os vampiros a tinham “tomado
emprestada” do dono quando chegaram. Aden entendeu que isso significava que o
antigo dono tinha servido um excelente bufê de almoço para os vampiros...
Usando seus próprios órgãos como prato principal.

– Ele era poderoso, você está certa quanto a isso – disse uma garota que parecia ter
a idade de Victoria. Ela tinha o cabelo da cor da neve recém-caída, olhos verdes
como um campo e o rosto de um anjo. Ela usava uma toga negra que deixava o
ombro pálido à mostra, a vestimenta tradicional das vampiras, mas aquilo de
alguma forma parecia... Fora do lugar. Talvez porque ela tenha estourado uma
bola de chiclete.

– Um excelente rei – acrescentou outra garota, colocando a mão do outro lado do
corpo de Victoria. Outra loura, mas dessa vez com olhos cristalinos como os de
Victoria e com o rosto de um anjo caído. Diferentemente das outras garotas, ela
usava um top de couro preto e calças também de couro preto. Havia armas presas
à cintura e arame farpado em volta do pulsos. E não, o arame não era uma
tatuagem.

– Sim – respondeu Victoria com uma voz suave. Queridas irmãs.

Irmãs? Sim, ele sabia que Victoria tinha irmãs, mas nunca as tinha conhecido. Elas
estavam trancafiadas em seus respectivos quartos durante o Baile dos Vampiros,
cerimônia que tinha como propósito celebrar o despertar oficial de Vlad, o
Empalador, depois de um século de sono. Aden se perguntava se a mãe de Victoria
também estaria aqui. Aparentemente, ela tinha sido presa na Romênia por ter
contado segredos dos vampiros a humanos. Ordens de Vlad. Que cara legal, esse
Vlad.

Aden era humano e sabia muito mais do que devia saber. Alguns vampiros (como
Victoria) eram capazes de se teletransportar, viajar de um local a outro usando
apenas o pensamento. Portanto, se a informação da morte do rei já tivesse chegado
à Romênia, a mamãe vampira podia ter chegado a Crossroads em questão de
segundos.

– Mas ele era um pai terrível, não era? – continuou a primeira garota enquanto
mascava o chiclete.

As três compartilharam um sorriso pesaroso.

– De fato, ele era – disse Victoria. – Inflexível, exigente. Brutal com seus inimigos e,
às vezes, também conosco. E, ainda assim, é tão difícil dizer adeus.

Ela olhou para baixo, encarando os restos mortais carbonizados de Vlad. Ele foi o
primeiro a transformar humanos em vampiros. Bem, o primeiro de que se teve
conhecimento. Seu corpo estava inteiro, embora queimado a ponto de não ser
reconhecível. Uma coroa se pendurava negligentemente no topo da cabeça calva
de Vlad.

Vários anéis decoravam os dedos do vampiro; um tecido de veludo preto envolvia
o peito e as pernas.

O corpo morto ainda estava onde Dmitri o tinha deixado. Havia algum tipo de
protocolo sobre mover o cadáver real? Ou aquele povo ainda estava chocado
demais para tocar em Vlad?
Eles perderam o rei exatamente na mesma noite em que deviam se reunir
novamente com ele. Dmitri o tinha queimado até a morte antes de a cerimônia
começar e afirmado que o trono agora era seu. Depois, Aden matou Dmitri, o que
significava que o garoto agora deveria liderar os chupadores de sangue. De todas
as pessoas do mundo, de todos os humanos, Aden. Isso era realmente uma
loucura. Ele seria um péssimo rei. Não que ele quisesse tentar ser o soberano.

Aden queria Victoria. Nada mais, nada menos.

– Apesar de nossos sentimentos, ele terá um lugar de honra, mesmo depois da
morte – afirmou Victoria. Seu olhar passou por suas irmãs, chegando aos vampiros
que ainda se aproximavam delas. – O funeral dele deve acontecer...

– Em alguns meses – interrompeu a segunda irmã.

Victoria piscou uma vez, duas vezes, como se tentasse dar partida em seus
pensamentos. – Por quê?

– Ele é nosso rei. Ele sempre foi nosso rei. Mais do que isso, ele é o mais forte de
nós. E se ele ainda estiver vivo sob toda essa fuligem? Precisamos esperar e
observar. Precisamos ter certeza.

– Não. – Aden sentiu o deslizar dos cabelos de Victoria, que tocavam nos ombros
da vampira, enquanto ela sacudia a cabeça violentamente. – Isso só vai nos dar
falsas esperanças.

– Alguns meses é uma espera longa demais, sim – disse a vampira de olhos verdes
que mascava chiclete. Se Aden estivesse lendo os pensamentos de Victoria
corretamente, o nome dessa garota era Stephanie. – Mas eu concordo que esperar
um pouco antes de cremá-lo é uma escolha inteligente. Assim podemos fazer todos
se acostumarem com a ideia de que vamos ter um rei humano. Então, por que não
chegamos a esse acordo, hein? Vamos esperar, ah, não sei, um mês. Podemos
manter nosso pai em uma cripta subterrânea.

– Em primeiro lugar, a cripta é para nossos humanos mortos. E, em segundo lugar,
um mês ainda é tempo demais – Victoria rangeu os dentes. – Se temos que
esperar... – Ela fez uma pausa até que suas irmãs acenassem com a cabeça,
concordando – …Então vamos esperar... Metade de um mês. – Ela queria dizer um
dia, talvez dois, mas sabia que essa sugestão seria recebida com resistência. E,
assim, Aden teria tempo para se acostumar com a ideia de ser rei.
A outra irmã passou a língua sobre os dentes muito brancos, muito afiados.

– Muito bem. Concordo. Esperaremos quatorze dias. E sim, nós vamos mantê-lo na
cripta. Ele ficará preso lá dentro, o que vai evitar que qualquer rebelde que ainda
exista por aí o fira ainda mais.

Victoria suspirou.

– Sim. Tudo bem. Você concordou com a minha condição, portanto, vou concordar
com a sua.

– Nossa! Ninguém precisou partir para a violência para ganhar a discussão. A
mudança de governo já está funcionando a seu favor. – Stephanie estourou outra
bola de chiclete. – Então, enfim, de volta ao Nosso Querido Pai. Ele tem sorte,
vocês sabem. Ele morreu aqui, então ele vai poder ficar aqui. Se isso tivesse
acontecido na Romênia, o resto da família cuspiria na cripta.

Houve um momento de silêncio intenso antes que suspiros de indignação
preenchessem o local.

– O que foi? – Stephanie abriu os braços, toda inocente. – Vocês sabem que estão
pensando a mesma coisa.

Graças a Deus! Victoria não teria que ir para sua terra natal para participar do
funeral. Aden não conseguiria viajar com ela, afinal, ele vivia no Rancho D&M,
uma casa de recuperação para jovens “rebeldes”, também conhecidos como
delinquentes indesejados, onde todas as suas ações eram monitoradas.

Todos acreditavam que Aden era esquizofrênico, afinal, ele conversava com as
almas que “moravam” dentro da própria cabeça. E isso lhe havia rendido uma
vida de remédios e hospitais. Esse rancho era a tentativa final do sistema para
tentar salvá-lo e, se ele estragasse essa chance, seria transferido. Boom. Feito.
Adeus. Em outras palavras, Aden teria uma vida de confinamento em um quarto
acolchoado.

Ele perderia Victoria para sempre.

– Cale a boca, Stephanie, antes que eu tenha que forçá-la a fazer isso. Vlad nos
ensinou a sobreviver e a fazer que os humanos não saibam que nós existimos. Ele
nos tornou uma lenda, um mito. Ele também ensinou nossos inimigos a nos
temerem. Só por isso, ele já tem meu respeito – disse a irmã de olhos azuis,
Lauren... Lauren, esse era o nome dela. Lauren virou a cabeça para o lado,
subitamente tornando-se pensativa. – E o que você vai fazer com relação ao mortal
enquanto o prazo de quatorze dias já está correndo?

– O Aden... Da Victoria? – Stephanie apertou a sobrancelha. – Esse é o nome dele,
certo?

– Haden Stone, conhecido pelo povo dele como Aden, sim – respondeu Victoria. –
Mas eu...

– Seguiremos o governo dele – disse uma voz masculina, interrompendo a
vampira. – Porque, e me diga se você já ouviu isso, ele é nosso governante. – Era
Riley, o lobo e segurança de extrema confiança de Victoria, falando enquanto se
aproximava do meio círculo que as garotas formaram. Riley olhou para Lauren. –
Se você não entende isso, avise-me que desenho. Aden matou Dmitri, Aden está no
comando. Ponto final.

Lauren fez uma carranca para ele. As presas da vampira estavam mais afiadas que
antes.

– Veja lá como você fala comigo, cachorrinho. Eu sou uma princesa. Você não
passa de um funcionário contratado para nos servir.

Mais suspiros reverberaram.

Aden continuava sem conseguir visualizar a multidão, mas ela subitamente
preenchera sua linha de visão enquanto Victoria os estudava, pronta para agir se
alguém atacasse sua irmã. Eles claramente não gostavam de ver o lobo receber
insultos. Nem ela. Os lobos mereciam respeito, muito mais respeito do que era
exigido até mesmo para Vlad. Os lobos podiam...

Aden pestanejou quando Victoria limpou a mente. A vampira fazia esforços para
se concentrar no que estava acontecendo à sua volta. Os lobos eram mais
importantes que os vampiros?, Aden se perguntava. Mais importante que a realeza
dos vampiros? Por quê?

Riley deu risada, um humor genuíno.

– Seu ressentimento está aparecendo, Lore. Se eu fosse você, tomaria cuidado.
Dessa vez, Lauren ignorou Riley, voltando os olhos cristalinos para Victoria e
bravejando: – Traga Aden aqui amanhã à noite. Todos vão conhecê-lo.
Oficialmente.

E matá-lo antes mesmo de terem se passado os quatorze dias?

– Sim. – Victoria consentiu com a cabeça, mas não revelou, nem por palavras, nem
por ações, seu temor repentino. – Está bem. Amanhã você conhecerá seu novo rei.
Enquanto isso, devemos ficar de luto.

A conversa terminou com todos devidamente castigados.

Victoria suspirou e olhou para o corpo de seu pai. O que significava que Aden
estava olhando para o pai da vampira. Ele refletiu sobre os restos mortais
carbonizados, pensando sobre qual teria sido a aparência do rei antes do ocorrido.
Alto e forte, certamente. Teria ele olhos azuis como os de Victoria? Ou verdes como
os de Stephanie?

Os dedos de Vlad se moveram, fechando a mão.

Aden ficou paralisado. Ele certamente estava tendo alucinações. Devia mesmo
estar tendo alucinações, ele pensou, porque Victoria não parecia ter notado o fato
estranhíssimo enquanto Aden observava pelos olhos dela.

Os dedos de Vlad se desenrolaram.

Mais uma vez, Aden ficou paralisado, esperando, avaliando, com o coração
espancando as costelas. Não era imaginação. Ele não podia ter imaginado aquilo
porque, mesmo enquanto o pensamento se formava, aqueles dedos se debateram
como se quisessem se enrolar novamente. Movimento, movimento verdadeiro. E
movimento era sinônimo de vida. Certo?

Por que Victoria não tinha notado? Por que ninguém notou? Talvez eles estivessem
perdidos demais em meio ao sofrimento. Ou talvez o corpo de Vlad, que no
passado fora considerado imortal, estivesse apenas expelindo seus últimos sinais
de existência. De qualquer forma, Victoria precisava saber daquilo que o garoto
tinha visto.

Victoria, Aden tentou projetar a voz, desesperado para conseguir a atenção da
vampira.
Nada. Nenhuma resposta.

Victoria!

Ela acariciou o braço de Vlad antes de se levantar para instruir o maior dos
vampiros a levar o corpo de seu pai para dentro, para os preparativos do funeral.
Victoria claramente não ouvia Aden.

E então era tarde demais. O mundo de Aden mudou, realinhou-se, a escuridão o
envolvia novamente. Não, não era escuridão. Era luz. Tanta luz. Chamas azul-
esbranquiçadas cobriam todo o corpo de Dmitri e, por consequência, o corpo de
Aden. Queimando, causticando o que sobrava dele.

Dessa vez, Aden gritou. E se debateu.

Ele também morreu.

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Aden stone contra o reino das bruxas

  • 1. Interligados Aden Stone Contra O Reino das Bruxas PRÓLOGO Aden Stone se debatia na cama, lençóis estavam caindo no chão. Quente demais. O suor respingava, fazendo sua samba canção, a única peça que vestia, ficar colada em suas coxas. Demais. Sua mente... Ah, sua pobre e arruinada mente. Tantas imagens piscavam e se misturavam com a escuridão intensa, com o caos horrível, com a dor brutal. Não posso aguentar... Muito mais... Ele era humano, embora o sangue ardente dos vampiros agora corresse em suas veias. O sangue poderoso dos vampiros que permitia que o garoto visse o mundo pelos olhos do doador, mesmo que apenas por um breve intervalo. Aquilo era tão horrível. Aden já tinha vivenciado esse tipo de situação antes. No entanto, naquela noite, ele tinha ingerido sangue de duas fontes distintas. Acidentalmente, é claro, mas essa condição não era relevante para aquela dor avassaladora. Uma das fontes era sua namorada, a Princesa Victoria. A outra, Dmitri, o ex-noivo da vampira que havia falecido. Enfim. Agora os sangues se enfrentavam em um cabo de guerra pela atenção do garoto. Idas e vindas tóxicas. Nada demais, certo? Durante os anos de sua vida, Aden tinha lutado contra zumbis, viajado no tempo e conversado com fantasmas. Ele devia ser capaz de rir dessa nova condição. Errado! Ele sentia como se tivesse ingerido uma garrafa de ácido e cacos de vidro como aperitivo. Um desses o queimava enquanto o outro o cortava em pedaços. E agora ele estava... Mudando o foco novamente. – Ah, Pai – Aden subitamente ouviu Victoria sussurrar.
  • 2. Aden recuou. Ela tinha sussurrado, sim, mas alto demais. Os ouvidos do garoto estavam tão sensíveis quanto o restante de seu corpo. De alguma forma, ele encontrou forças para afastar a dor e focar seu olhar. Um grande erro. Claro demais. A forte melancolia dos arredores de Dmitri tinha aberto caminho para as cores vibrantes de Victoria. Aden agora enxergava pelos olhos dela, incapaz de sequer piscar sozinho. – Você foi o homem mais forte que já existiu – ela continuou em um tom solene. Para Aden, aquilo era como se ele estivesse falando, sua garganta raspava como se estivesse em carne viva. – Como você pode ter sido derrotado tão rapidamente? – Como eu pude não saber que isso estava acontecendo?, pensou Victoria. Ela, seu guarda-costas Riley e sua amiga Mary Ann tinham levado Aden para casa na noite anterior. Victoria queria ficar com o garoto, mas ele a dispensara. Aden não sabia como iria reagir a dois tipos diferentes de sangue em seu corpo e Victoria precisava estar com os vampiros durante o período de luto. Por algum tempo, ele tinha tentado dormir, agitando-se e se revirando, seu corpo se recuperava das agressões que tinha causado... E recebido. Então, aproximadamente, uma hora atrás, aquele cabo de guerra tinha começado. Graças a Deus Victoria tinha se retirado. Que pesadelo terrível teria sido para Aden ver, pelos olhos da vampira, a si mesmo, naquela situação patética, e saber o que ela estava pensando dele. Quando Victoria pensasse nele, ele queria que ela se apegasse à palavra invencível. Ou, se isso não fosse possível, que ela, pelo menos, se apegasse à palavra lindo. Qualquer outro termo, não, obrigado. Porque ele pensava que ela era perfeita, de todas as formas. Perfeita e doce, e linda. E dele. A imagem da vampira invadiu a mente de Aden. Ela tinha cabelos longos e escuros que se derramavam sobre aqueles ombros pálidos; olhos azuis que brilhavam como cristais; lábios tão vermelhos quanto cerejas. Para beijar. Para lamber. Ele a tinha conhecido há poucas semanas, embora tivesse a impressão de que a conhecia desde sempre. O que, de uma forma confusa, era verdade. Bem, ele conhecia Victoria há pelo menos seis meses, graças às informações fornecidas por uma das almas que viviam em sua cabeça. Sim, como se vampiros e sangues telepáticos não fossem estranhos o suficiente, Aden dividia sua cabeça, agora, com três outras almas humanas. Mais do que isso, cada uma dessas almas possuía uma habilidade sobrenatural.
  • 3. Julian era capaz de levantar os mortos. Caleb podia possuir outros corpos. E Elijah tinha o dom de prever o futuro. Por meio de Elijah, Aden tinha descoberto que encontraria Victoria antes mesmo de ela chegar a Crossroads, Oklahoma. Um lugar que, no passado, Aden considerava a filial do inferno na Terra, mas que agora ele pensava ser o Paraíso, muito embora aquele fosse um solo extremamente fértil para criaturas supostamente míticas. Bruxas, duendes, fadas, elfos (todos inimigos de Victoria) e, é claro, vampiros. Ah, e lobisomens, os protetores dos vampiros. E tudo bem. Isso era um monte de criaturas esquisitas. No entanto, se um mito fosse verdadeiro, de certa forma fazia sentido que todos os mitos também se tornassem verdadeiros. – O que eu vou fazer com... – Victoria começou a falar novamente, trazendo a atenção de Aden para o presente. Ele realmente queria ouvi-la completar a sentença. Entretanto, antes que a vampira pudesse pronunciar outra palavra, o foco do garoto mudou. Mais uma vez. A escuridão subitamente o envolveu, consumindo-o, fazendo sua ligação com Victoria desaparecer. Aden voltou a se debater na cama, a dor explodia por todo corpo antes de ele se ligar ao outro vampiro. Dmitri. O Dmitri morto. O garoto queria abrir os olhos, ver alguma coisa, qualquer coisa, mas suas pálpebras estavam, de alguma forma, coladas. Em meio a uma respiração trêmula, ele sentia o cheiro de terra e de... Fumaça. Sim. Fumaça. Espessa e nauseante, fazendo sua garganta coçar. Ele tossiu, e tossiu. Ou aquilo era Dmitri tossindo? Dmitri ainda estava vivo? Ou aquele corpo apenas reagia porque os pensamentos de Aden corriam por uma mente compartilhada? Ele tentou movimentar os lábios de Dmitri, forçar para que palavras saíssem para chamar a atenção de alguém. No entanto, os pulmões se apertaram, rejeitando o ar poluído. E, de repente, ele já não conseguia respirar. – Queime-o – disse friamente alguém – Vamos nos assegurar de que o traidor esteja realmente morto. – Será um prazer – respondeu outro, com um tom ligeiramente eufórico.
  • 4. Em meio à escuridão, Aden não conseguia enxergar os falantes. Não sabia se eles eram humanos ou vampiros. Não sabia onde ele estava ou... As palavras do primeiro homem finalmente foram absorvidas, consumindo os pensamentos de Aden. Queime-o... Não. Não, não, não. Não enquanto Aden estivesse ali. E se ele sentisse cada labareda das chamas? Não!, o garoto tentou gritar. Novamente, nenhum som saiu. O corpo de Dmitri foi erguido. Aden sentia como se estivesse suspenso, preso a um fio, com a cabeça caindo para trás e os membros esquecidos. Próximo dali, ele ouviu o estalar daquelas chamas assustadoras. O calor passava por ele, girando em volta dele, envolvendo-o. Não! Ele tentava se debater, lutar, mas o corpo continuava sem nenhum movimento. Não! Um momento depois, houve um contato. E, ah, sim. Ele sentiu. As primeiras chamas tocaram os pés antes de incendiarem... De espalharem-se. Agonia. Agora maior do que qualquer agonia que ele já tinha sentido. A pele estava derretendo. Músculos e ossos, liquefazendo-se. O sangue, desintegrando-se. Meu Deus. Ainda assim, ele tentava lutar, afastar-se e correr. Entretanto, o corpo sem vida se recusava a obedecer. Não! Ajuda! Embora parecesse impossível, a agonia se intensificou... Ardendo por todo corpo, devorando-o, pedaço por pedaço. O que aconteceria se ele continuasse ligado a Dmitri até o fim? O que aconteceria se ele... Pontos de luz piscaram em meio à escuridão, pontos que cresciam até se juntarem e, novamente, ele passou a ver o mundo pelos olhos de Victoria. Mais uma mudança. Graças a Deus. Aden tremia, tão ensopado de suor que poderia praticamente nadar. No entanto, apesar da mudança, a dor residual, muito maior que o ácido que ainda raspava nas veias, escorregava dos pés até o cérebro. Ele queria gritar. Aden estava... Tremendo, ele se deu conta. Não, Victoria estava tremendo. Uma mão suave e aquecida encostou-se em seu ombro. No ombro dela. Victoria olhou para cima, a visão se embaçava em consequência das lágrimas. A luz da lua brilhava no céu, ele percebeu, assim como as estrelas. Alguns pássaros da noite
  • 5. voavam, gritando uns para os outros... Com medo? Provavelmente. Eles deviam sentir o perigo que estava logo abaixo deles. Victoria baixou o olhar e Aden observou os vampiros ao redor dela. Todos eram altos, pálidos, lindos. Vivos. A maior parte deles não estava de acordo com a imagem retratada nos romances. Eles apenas eram diferentes; os humanos eram uma fonte de comida da qual eles não podiam se importar. Afinal, vampiros viviam séculos enquanto os humanos se debilitavam e morriam rapidamente. Exatamente como Aden logo morreria. Elijah já tinha previsto a morte do garoto. Essa previsão era um saco, sim, mas o pior dos problemas era como a morte ocorreria: uma faca afiada atravessaria o tão necessário coração de Aden. O garoto sempre rezava para que esse como mudasse milagrosamente. Até mesmo agora. Uma faca enfiada em um coração queimando até a morte dentro de um corpo que não pertencia somente a ele em nenhum dia da semana. E quando ele teria uma folga, hein? Nada de torturas, nada de lutar contra criaturas, nada de esperar pelo fim, mas apenas desafios como ser aprovado no colégio e beijar sua namorada. Aden se esforçou para se concentrar antes de se enfurecer de uma forma que ele esperava ser incapaz de amenizar. A mansão dos vampiros, escura e misteriosa, se elevava atrás da multidão como uma mistura de casa mal-assombrada com catedral romana. Victoria lhe tinha contado que aquela casa estava aqui, em Oklahoma, há quatrocentos anos e que os vampiros a tinham “tomado emprestada” do dono quando chegaram. Aden entendeu que isso significava que o antigo dono tinha servido um excelente bufê de almoço para os vampiros... Usando seus próprios órgãos como prato principal. – Ele era poderoso, você está certa quanto a isso – disse uma garota que parecia ter a idade de Victoria. Ela tinha o cabelo da cor da neve recém-caída, olhos verdes como um campo e o rosto de um anjo. Ela usava uma toga negra que deixava o ombro pálido à mostra, a vestimenta tradicional das vampiras, mas aquilo de alguma forma parecia... Fora do lugar. Talvez porque ela tenha estourado uma bola de chiclete. – Um excelente rei – acrescentou outra garota, colocando a mão do outro lado do corpo de Victoria. Outra loura, mas dessa vez com olhos cristalinos como os de Victoria e com o rosto de um anjo caído. Diferentemente das outras garotas, ela
  • 6. usava um top de couro preto e calças também de couro preto. Havia armas presas à cintura e arame farpado em volta do pulsos. E não, o arame não era uma tatuagem. – Sim – respondeu Victoria com uma voz suave. Queridas irmãs. Irmãs? Sim, ele sabia que Victoria tinha irmãs, mas nunca as tinha conhecido. Elas estavam trancafiadas em seus respectivos quartos durante o Baile dos Vampiros, cerimônia que tinha como propósito celebrar o despertar oficial de Vlad, o Empalador, depois de um século de sono. Aden se perguntava se a mãe de Victoria também estaria aqui. Aparentemente, ela tinha sido presa na Romênia por ter contado segredos dos vampiros a humanos. Ordens de Vlad. Que cara legal, esse Vlad. Aden era humano e sabia muito mais do que devia saber. Alguns vampiros (como Victoria) eram capazes de se teletransportar, viajar de um local a outro usando apenas o pensamento. Portanto, se a informação da morte do rei já tivesse chegado à Romênia, a mamãe vampira podia ter chegado a Crossroads em questão de segundos. – Mas ele era um pai terrível, não era? – continuou a primeira garota enquanto mascava o chiclete. As três compartilharam um sorriso pesaroso. – De fato, ele era – disse Victoria. – Inflexível, exigente. Brutal com seus inimigos e, às vezes, também conosco. E, ainda assim, é tão difícil dizer adeus. Ela olhou para baixo, encarando os restos mortais carbonizados de Vlad. Ele foi o primeiro a transformar humanos em vampiros. Bem, o primeiro de que se teve conhecimento. Seu corpo estava inteiro, embora queimado a ponto de não ser reconhecível. Uma coroa se pendurava negligentemente no topo da cabeça calva de Vlad. Vários anéis decoravam os dedos do vampiro; um tecido de veludo preto envolvia o peito e as pernas. O corpo morto ainda estava onde Dmitri o tinha deixado. Havia algum tipo de protocolo sobre mover o cadáver real? Ou aquele povo ainda estava chocado demais para tocar em Vlad?
  • 7. Eles perderam o rei exatamente na mesma noite em que deviam se reunir novamente com ele. Dmitri o tinha queimado até a morte antes de a cerimônia começar e afirmado que o trono agora era seu. Depois, Aden matou Dmitri, o que significava que o garoto agora deveria liderar os chupadores de sangue. De todas as pessoas do mundo, de todos os humanos, Aden. Isso era realmente uma loucura. Ele seria um péssimo rei. Não que ele quisesse tentar ser o soberano. Aden queria Victoria. Nada mais, nada menos. – Apesar de nossos sentimentos, ele terá um lugar de honra, mesmo depois da morte – afirmou Victoria. Seu olhar passou por suas irmãs, chegando aos vampiros que ainda se aproximavam delas. – O funeral dele deve acontecer... – Em alguns meses – interrompeu a segunda irmã. Victoria piscou uma vez, duas vezes, como se tentasse dar partida em seus pensamentos. – Por quê? – Ele é nosso rei. Ele sempre foi nosso rei. Mais do que isso, ele é o mais forte de nós. E se ele ainda estiver vivo sob toda essa fuligem? Precisamos esperar e observar. Precisamos ter certeza. – Não. – Aden sentiu o deslizar dos cabelos de Victoria, que tocavam nos ombros da vampira, enquanto ela sacudia a cabeça violentamente. – Isso só vai nos dar falsas esperanças. – Alguns meses é uma espera longa demais, sim – disse a vampira de olhos verdes que mascava chiclete. Se Aden estivesse lendo os pensamentos de Victoria corretamente, o nome dessa garota era Stephanie. – Mas eu concordo que esperar um pouco antes de cremá-lo é uma escolha inteligente. Assim podemos fazer todos se acostumarem com a ideia de que vamos ter um rei humano. Então, por que não chegamos a esse acordo, hein? Vamos esperar, ah, não sei, um mês. Podemos manter nosso pai em uma cripta subterrânea. – Em primeiro lugar, a cripta é para nossos humanos mortos. E, em segundo lugar, um mês ainda é tempo demais – Victoria rangeu os dentes. – Se temos que esperar... – Ela fez uma pausa até que suas irmãs acenassem com a cabeça, concordando – …Então vamos esperar... Metade de um mês. – Ela queria dizer um dia, talvez dois, mas sabia que essa sugestão seria recebida com resistência. E, assim, Aden teria tempo para se acostumar com a ideia de ser rei.
  • 8. A outra irmã passou a língua sobre os dentes muito brancos, muito afiados. – Muito bem. Concordo. Esperaremos quatorze dias. E sim, nós vamos mantê-lo na cripta. Ele ficará preso lá dentro, o que vai evitar que qualquer rebelde que ainda exista por aí o fira ainda mais. Victoria suspirou. – Sim. Tudo bem. Você concordou com a minha condição, portanto, vou concordar com a sua. – Nossa! Ninguém precisou partir para a violência para ganhar a discussão. A mudança de governo já está funcionando a seu favor. – Stephanie estourou outra bola de chiclete. – Então, enfim, de volta ao Nosso Querido Pai. Ele tem sorte, vocês sabem. Ele morreu aqui, então ele vai poder ficar aqui. Se isso tivesse acontecido na Romênia, o resto da família cuspiria na cripta. Houve um momento de silêncio intenso antes que suspiros de indignação preenchessem o local. – O que foi? – Stephanie abriu os braços, toda inocente. – Vocês sabem que estão pensando a mesma coisa. Graças a Deus! Victoria não teria que ir para sua terra natal para participar do funeral. Aden não conseguiria viajar com ela, afinal, ele vivia no Rancho D&M, uma casa de recuperação para jovens “rebeldes”, também conhecidos como delinquentes indesejados, onde todas as suas ações eram monitoradas. Todos acreditavam que Aden era esquizofrênico, afinal, ele conversava com as almas que “moravam” dentro da própria cabeça. E isso lhe havia rendido uma vida de remédios e hospitais. Esse rancho era a tentativa final do sistema para tentar salvá-lo e, se ele estragasse essa chance, seria transferido. Boom. Feito. Adeus. Em outras palavras, Aden teria uma vida de confinamento em um quarto acolchoado. Ele perderia Victoria para sempre. – Cale a boca, Stephanie, antes que eu tenha que forçá-la a fazer isso. Vlad nos ensinou a sobreviver e a fazer que os humanos não saibam que nós existimos. Ele nos tornou uma lenda, um mito. Ele também ensinou nossos inimigos a nos temerem. Só por isso, ele já tem meu respeito – disse a irmã de olhos azuis,
  • 9. Lauren... Lauren, esse era o nome dela. Lauren virou a cabeça para o lado, subitamente tornando-se pensativa. – E o que você vai fazer com relação ao mortal enquanto o prazo de quatorze dias já está correndo? – O Aden... Da Victoria? – Stephanie apertou a sobrancelha. – Esse é o nome dele, certo? – Haden Stone, conhecido pelo povo dele como Aden, sim – respondeu Victoria. – Mas eu... – Seguiremos o governo dele – disse uma voz masculina, interrompendo a vampira. – Porque, e me diga se você já ouviu isso, ele é nosso governante. – Era Riley, o lobo e segurança de extrema confiança de Victoria, falando enquanto se aproximava do meio círculo que as garotas formaram. Riley olhou para Lauren. – Se você não entende isso, avise-me que desenho. Aden matou Dmitri, Aden está no comando. Ponto final. Lauren fez uma carranca para ele. As presas da vampira estavam mais afiadas que antes. – Veja lá como você fala comigo, cachorrinho. Eu sou uma princesa. Você não passa de um funcionário contratado para nos servir. Mais suspiros reverberaram. Aden continuava sem conseguir visualizar a multidão, mas ela subitamente preenchera sua linha de visão enquanto Victoria os estudava, pronta para agir se alguém atacasse sua irmã. Eles claramente não gostavam de ver o lobo receber insultos. Nem ela. Os lobos mereciam respeito, muito mais respeito do que era exigido até mesmo para Vlad. Os lobos podiam... Aden pestanejou quando Victoria limpou a mente. A vampira fazia esforços para se concentrar no que estava acontecendo à sua volta. Os lobos eram mais importantes que os vampiros?, Aden se perguntava. Mais importante que a realeza dos vampiros? Por quê? Riley deu risada, um humor genuíno. – Seu ressentimento está aparecendo, Lore. Se eu fosse você, tomaria cuidado.
  • 10. Dessa vez, Lauren ignorou Riley, voltando os olhos cristalinos para Victoria e bravejando: – Traga Aden aqui amanhã à noite. Todos vão conhecê-lo. Oficialmente. E matá-lo antes mesmo de terem se passado os quatorze dias? – Sim. – Victoria consentiu com a cabeça, mas não revelou, nem por palavras, nem por ações, seu temor repentino. – Está bem. Amanhã você conhecerá seu novo rei. Enquanto isso, devemos ficar de luto. A conversa terminou com todos devidamente castigados. Victoria suspirou e olhou para o corpo de seu pai. O que significava que Aden estava olhando para o pai da vampira. Ele refletiu sobre os restos mortais carbonizados, pensando sobre qual teria sido a aparência do rei antes do ocorrido. Alto e forte, certamente. Teria ele olhos azuis como os de Victoria? Ou verdes como os de Stephanie? Os dedos de Vlad se moveram, fechando a mão. Aden ficou paralisado. Ele certamente estava tendo alucinações. Devia mesmo estar tendo alucinações, ele pensou, porque Victoria não parecia ter notado o fato estranhíssimo enquanto Aden observava pelos olhos dela. Os dedos de Vlad se desenrolaram. Mais uma vez, Aden ficou paralisado, esperando, avaliando, com o coração espancando as costelas. Não era imaginação. Ele não podia ter imaginado aquilo porque, mesmo enquanto o pensamento se formava, aqueles dedos se debateram como se quisessem se enrolar novamente. Movimento, movimento verdadeiro. E movimento era sinônimo de vida. Certo? Por que Victoria não tinha notado? Por que ninguém notou? Talvez eles estivessem perdidos demais em meio ao sofrimento. Ou talvez o corpo de Vlad, que no passado fora considerado imortal, estivesse apenas expelindo seus últimos sinais de existência. De qualquer forma, Victoria precisava saber daquilo que o garoto tinha visto. Victoria, Aden tentou projetar a voz, desesperado para conseguir a atenção da vampira.
  • 11. Nada. Nenhuma resposta. Victoria! Ela acariciou o braço de Vlad antes de se levantar para instruir o maior dos vampiros a levar o corpo de seu pai para dentro, para os preparativos do funeral. Victoria claramente não ouvia Aden. E então era tarde demais. O mundo de Aden mudou, realinhou-se, a escuridão o envolvia novamente. Não, não era escuridão. Era luz. Tanta luz. Chamas azul- esbranquiçadas cobriam todo o corpo de Dmitri e, por consequência, o corpo de Aden. Queimando, causticando o que sobrava dele. Dessa vez, Aden gritou. E se debateu. Ele também morreu.