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COMENTÁRIOS CONTEXTUAIS ACERCA DO LIVRO O COLAPSO DA
                           MODERNIZAÇÃO, DE ROBERT KURZ1


                                                            José Arnaldo dos Santos Ribeiro Junior2


        O propósito deste texto é tecer alguns apontamentos críticos ao livro “O Colapso da
Modernização: da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial”, do
filósofo alemão Robert Kurz3. O leitor não deve esperar aqui um esquematismo maniqueísta
que tenta ver o lado bom ou mal das coisas, tampouco uma análise sistêmica cujo simples
enquadramento causal fornece as respostas efetivas. A intenção é estabelecer um diálogo com
Kurz na perspectiva da crítica como aproximação apontando seus limites, possibilidades,
perspectivas e desdobramentos políticos.
        Como o próprio título do livro expõe, trata-se da realização de uma análise que busca
demonstrar o esgotamento do atual momento econômico para entender como a crise do
socialismo é, na visão do autor, manifestação de uma crise econômica a nível mundial uma
vez que a mundialização da mercadoria abarca tanto o socialismo, quanto o capitalismo, na
medida em que a crise é o “momento” no qual as totalidades contraditórias da produção de
mercadorias se esgotam simultaneamente ao processo de acumulação.
        A audácia de Kurz está em tratar o declínio do socialismo numa perspectiva para além
da “vitória” do capitalismo: buscando fugir da dicotomia e de modelos maniqueístas abstratos,
como capitalismo versus socialismo, o autor concebe o conjunto da história do sistema
mundial como a produção de mercadorias.
        Assim, para o autor, o aumento da concorrência a nível mundial é o resultado da
“vitória capitalista” como consequência do desenvolvimento das forças produtivas. O
aumento da produtividade leva ao capital a perder a faculdade de explorar trabalho a partir do
momento em que a ciência e a tecnologia se tornaram forças produtivas.



1
  Este texto foi produzido originalmente como requisito para obtenção de nota na disciplina Modernização e
Contradições Espaço-Temporais, ministrada pelo Prof. Dr. Anselmo Alfredo, no Programa de Pós-Graduação
em Geografia Humana da Universidade de São Paulo. Agradeço ao geógrafo e doutorando em Geografia
Humana (FFLCH/USP) Thiago Araújo Santos pelas inúmeras colaborações, críticas e sugestões.
2
  Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Mestrando em
Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São
Paulo (USP). Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e
do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Sindicalismo (NEPS). Integrante da Rede Justiça nos Trilhos.
3
  Além de filósofo, Kurz é também ensaísta. Ganhou visibilidade com o referido livro aqui comentado, mas
também com a publicação do Manifesto contra o trabalho em 1999. Kurz foi membro do Grupo Krisis de 1986
até 2004 quando criaram um novo grupo: EXIT! CRISE E CRÍTICA DA SOCIEDADE DAS MERCADORIAS.
No entanto, Kurz coloca em cheque a perspectiva da “vitória do capitalismo”
argumentando que tanto a crise do socialismo real quanto o triunfo capitalista fazem parte do
mesmo colapso da modernização. É, indubitavelmente, uma forma de ver o colapso e a crise,
a globalização e o “fim da história4” numa outra perspectiva, de um modo de considerar os
acontecimentos sob outro ponto de vista. E é justamente esta “outridade” do argumento
discursivo de Robert Kurz que torna sua crítica vigorosa e nos convida a pensar a
modernização sob o prisma da crise.
        Este pequeno panorama geral sobre a obra, que será mais adiante melhor comentada,
serve para que possa apresentar ao leitor (e julgo ter apresentado) a tese central do livro de
maneira clara e objetiva que justificam o movimento teórico-racional de Kurz no que tange os
termos da análise crítica da igualização socialismo-capitalismo.
        Não obstante, uma pergunta paira no ar: não estaria Kurz sendo por demais
pretensioso ao reduzir a crise econômica, a histórica econômica e as relações econômicas
internacionais à centralidade da mercadoria? Outra questão: ao igualizar socialismo e
capitalismo como sistemas de produção de mercadorias Kurz não estaria anuviando as
diferenças que permeiam estes sistemas?
        As perguntas podem ter respostas distintas. Proponho-me a oferecer uma resposta para
cada uma. A meu ver, quando Kurz centraliza a crise, a história e as relações internacionais
econômicas na produção de mercadorias ele está autonomizando a lógica econômica da lógica
social total, ou ainda, está subsumindo a lógica social total à lógica econômica. Não podemos
desconsiderar, por exemplo,

                            [...] o fato de Marx ter explicitado no subtítulo de sua obra maior, O Capital, que não
                            se tratava de uma obra de economia, mas sim de “crítica da economia política”. Sua
                            fina e rigorosa análise da formação social que praticamente viu nascer o levou a
                            perceber que havia uma sociedade que se estruturava reduzindo o homem e tudo que
                            implicava as relações sociais, natureza incluída, à economia. Com toda razão
                            dedicou seu primeiro capítulo à análise da mercadoria e seu fetichismo. Fazer a
                            crítica da economia era o cerne da crítica à sociedade que se organizava em torno
                            dela e implicava superar a economia como fundamento da sociedade. Em outras
                            palavras, a crítica da economia política serve para fazer a crítica do capitalismo, mas
                            não serve para construir outra sociedade. São outros horizontes de sentido para a
                            vida, para além da economia, que devem ser criados (PORTO-GONÇALVES, 2011:
                            4).

        É o movimento de Kurz que o leva a igualizar capitalismo e socialismo como sistemas
de produção de mercadorias. Essa igualização não permite ver a diferença (já estou na

4
  Nas palavras de Fukuyama (apud VESENTINI, 2007: 63): O que testemunhamos [a Perestroika e o colapso da
URSS, a queda do muro de Berlim] não é apenas o final da guerra fria, mas o fim da história como tal, ou seja, o
ponto final da evolução ideológica da humanidade e a universalização da democracia liberal ocidental como a
forma final do governo humano.
resposta da segunda pergunta) entre a competição5 desenfreada do capitalismo e os ideais
humanísticos do socialismo. Mais ainda: apesar de concordar com a perspectiva anti-
dicotômica do autor, a meu ver, ele não escapa da abordagem de continuum. Explico melhor.
O subtítulo do livro de Kurz é esclarecedor: “Da derrocada do socialismo de caserna à crise
da economia mundial”. Ou seja, ele defende que é justamente o progresso da mercadorização
que responde pelas mudanças expressivas da sociedade, seja ela “socialista de caserna”
(estatista), ou capitalista. Em minha análise, o autor justapõe (ou melhor, aproxima) a
sociedade socialista à sociedade capitalista subsumindo posteriormente todas elas ao sistema
produtor de mercadorias.
        Assim, ao analisar a abordagem de continuum de Kurz compreendo que ele não foge
do dualismo na medida em que considera o socialismo de caserna e o capitalismo numa
perspectiva de integração, ou se preferir, modernização da economia mundial. Decorre que,
para o autor, não há contraposição entre o socialismo de caserna e o capitalismo.
        Kurz atesta ainda que a novidade da crise está assentada na incorporação da ciência ao
processo produtivo e que, portanto a classe trabalhadora entra em declínio de importância.
Acrescentaria que não apenas a ciência, mas também a tecnologia, se converteram em forças
produtivas. Mas essa conversão não se deve a qualquer entidade sobrenatural, mas sim a seres
sociais concretos que lançam mão dos mais diversos mecanismos (como a ciência e a
tecnologia) para continuar o processo de acumulação.
        A metacrítica de Kurz assenta-se na perspectiva que o conflito de sistemas (1992:13)
é pouco relevante. Tampouco o abandono do socialismo e a tese do fim da história possuem
qualquer fundamento.

                         No verão de 1989, o americano Francis Fukuyama, vice-diretor da equipe de
                         planejamento do Ministério do Exterior dos Estados Unidos, proclamou
                         precipitadamente, num artigo para o magazine trimestral National Interest, “o fim da
                         história” - sentença que se disseminou na velocidade de um raio e tem sido citada a
                         torto e a direito. Como se isso não bastasse, o autor fundamenta sua tese na ideia de
                         Hegel de uma “forma definitiva, racional, da sociedade e do Estado” que teria sido
                         por fim alcançada na figura bastante peculiar do american way of life. [...]
                         Mas a evidência de uma vitória relativa do mundo ocidental, a bem da verdade, mal
                         pode ser contestada se vigorarem ainda os critério do conflito de sistemas precedente
                         e se não se puder pensar numa metacrítica. E esta é precisamente a questão. Pois
                         será mesmo que o Ocidente agiu com plena consciência e autoconsciência naquele
                         terreno em que agora presume pisar como vencedor? (KURZ, 1992:14)




5
  Cabe assinalar que a noção de competição é uma noção biológica, e implica uma relação desarmônica, ou
seja, uma relação na qual pelo menos uma das espécies é lesada.
Kurz tem uma argumentação forte, poderosa, sofisticada, diria mais: tentadora. Ele nos
desafia a fugir das formações sociais aparentemente opostas (1992:16); cutuca nossa “análise
classista”; advoga um “fetichismo do capital”; aproxima Lênin de Weber:

                       Em nenhum outro lugar esse ethos protestante do trabalhador abstrato dentro de uma
                       sociedade transformada numa máquina de trabalho, declarado por Max Weber como
                       característica constitutiva ideológica e histórica do capitalismo, foi posto em prática
                       com mais fervor e rigor do que no movimento operário e nas formações sociais do
                       socialismo real (1992:18).
                       O socialismo do movimento operário nunca esteve muito distante dessa criação
                       fetichista da motivação do antigo protestantismo. Enquanto este colocou o trabalho
                       abstrato a serviço da religião, aquele transformou o trabalho abstrato numa religião
                       secularizada, a do endeusamento da riqueza nacional, transcendente aos fins
                       vinculados às necessidades humanas; precisamente para a Rússia, à beira da
                       modernidade burguesa, o socialismo era um substituto mais ou menos adequado dos
                       elementos constitutivos religiosos do modo de produção capitalista na Europa
                       Ocidental, desde a Reforma (1992, p.19).

       Mas, se o socialismo e o capitalismo são formações sociais aparentemente opostas isso
significa dizer que em essência capitalismo e socialismo são formações “paralelas”, ou seja,
estão do mesmo lado no jogo mundial de produção de mercadorias? Quando Kurz aproxima
Weber e Lênin não estaria ele negando factualmente o potencial revolucionário do trabalho
como mecanismo de emancipação, por exemplo, das “amarras da natureza”? A meu ver, Kurz
aproxima indevidamente via instrumento analítico (a categoria trabalho) Weber e Lênin. Em
Weber, ou melhor, em sua análise do espírito do capitalismo, a lógica do trabalho está
associada ao ethos da riqueza como ética da vida; já em Lênin, ou melhor, no socialismo, o
trabalho não é um mecanismo igual ao da ética protestante (do trabalho) e do espírito do
capitalismo: isso porque o trabalho é no socialismo, como adverti anteriormente, mecanismo
de emancipação social, meio de desenvolvimento político e de formação de uma consciência
crítica de classe. Kurz parece não ver diferença entre um sistema “político-religioso”
(capitalismo) e um sistema, civilizatório e disciplinador (eu estou ciente disso), que traz em
seu seio ideais humanísticos por excelência como: desenvolvimento social, saúde pública de
qualidade, moradia digna, aposentadoria, estabilidade financeira, condições dignas de
emprego, etc. Kurz parece confundir trabalho a serviço da religião, meio de se atingir riqueza,
salvação divina, ética individualista de vida, com trabalho a serviço da consciência de classe,
do desenvolvimento social (mas também individual) do mundo. É o raciocínio “mais ou
menos constitutivo” que igualiza todo o trabalho, que não percebe as diferenças internas e
externas do trabalho no campo socialista em relação ao habitus capitalista.

                       Ainda que o trabalho, como labor no sentido antigo, como estafa e moléstia,
                       ocupasse completamente o horizonte da vida da maioria das pessoas, isso acontecia
                       por causa do grau de desenvolvimento relativamente baixo das forças produtivas no
“metabolismo entre os homens e a natureza” (Marx); o trabalho era, portanto, uma
                           necessidade imposta pela natureza, porém precisamente por isso nenhum dispêndio
                           abstrato de força de trabalho e nenhuma atividade social que traz em si sua própria
                           finalidade (KURZ, 1992: 21).

        O vaivém do meu argumento será inevitável: Kurz não enxerga no trabalho mais do
que uma estafa ou moléstia. Sua “crítica estafante” enxerga no trabalho mais um engenho
alienador; não se permite ver que o fato do homem encontrar-se dependente da Natureza para
realizar a sua vivência e reprodução não o torna escravo do trabalho6.
        Após isso, a crítica do autor se concentra no processo histórico da modernidade no
qual dois regimes de produção de mercadorias se relacionam: estatismo e monetarismo. Kurz
argumenta, por exemplo, que o socialismo real é um “regime modernizador protocapitalista
de sociedades burguesas atrasadas” (1992: 28). Nesse sentido, tanto o estatismo do socialismo
real, quanto o estado social e regulador keynesiano se tornam produtos do mercado.
        Mas, Kurz ao operar o Estado como resultado do avanço do desenvolvimento do
mercado, em poucas palavras, como produto do próprio mercado, retira o foco, por exemplo,
de aspectos importantes, principalmente de dimensão política. Há de se notar certo “silêncio”
acerca da relação entre Estado e Nação, da Segurança Nacional, isso tudo em virtude de se
focalizar o Estado como produto do mercantilismo. A meu ver, seria interessante pensar o
Estado como a produção de uma escala política de atuação de um determinado segmento
social (a burguesia) como sugeriu o próprio Marx7.
        Interessante é a apropriação que Kurz faz de Tocqueville8 (1805-1859) para
demonstrar a conexão e a continuidade despótica entre o Antigo Regime e a Revolução. Para
o autor, Tocqueville é o “Marx da crítica das instituições políticas das democracias modernas,
na base da forma produtora de mercadorias” (1992: 33). Kurz compartilha com Tocqueville a
“ilusão subjetiva burguesa”, “as formas que não tem sujeito”, ou “a vontade do verdadeiro
sujeito constituído na forma mercadoria”, uma “força desconhecida”, “que não pode refrear a
si mesma”.
        Sobre a forma-mercadoria é verdade que Marx (2003: 57, grifos meus) disse que “a
riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-se em ‘imensa



6
  Não se trata em Marx, obviamente, de achar que “o trabalho dignifica o homem”. Trata-se sobretudo de
reconhecer o caráter ontológico do trabalho compreensível nos Manuscritos econômico-filosóficos.
7
  Todavia, não basta dizer apenas que o Estado é o comitê político da burguesia. O geógrafo marxista David
Harvey (2011, p.68) observou que “uma das maiores lacunas do Manifesto [do partido comunista] é a sua falta
de atenção para a organização territorial”; Além disso, Harvey (idem, ibidem) atesta que “o Estado é só uma das
muitas instituições mediadoras que influi na dinâmica da luta mundial de classes”.
8
  O historiador político Alexis de Tocqueville ficou famoso pela obra A democracia na América.
acumulação de mercadorias’, e a mercadoria, isoladamente considerada, é a forma
elementar dessa riqueza”. Todavia, é importante observar também esta passagem:

                              Não é com seus pés que as mercadorias vão ao mercado, nem se trocam por
                              decisão própria. Temos, portanto, de procurar seus responsáveis, seus donos.
                              As mercadorias são coisas; portanto inermes diante do homem. Se não é dócil, pode
                              o homem empregar força, em outras palavras, apoderar-se dela. Para relacionar essas
                              coisas, umas com as outras, como mercadorias, têm seus responsáveis de comportar-
                              se, reciprocamente, como pessoas cuja vontade reside nessas coisas, de modo que
                              um só se aposse da mercadoria do outro, alienando a sua, mediante o consentimento
                              do outro, através, portanto, de um ato voluntário. É mister, por isso, que
                              reconheçam, um nó no outro, a qualidade de proprietário privado (MARX, 2003:
                              109, grifos meus).

           Porém, ainda inquieta-me a assertiva da “ausência de sujeito”. Marx e Engels ao
abordarem a ampliação do raio de mercado pela burguesia a nível mundial atestam muito bem
que esse fenômeno não ocorre de forma natural ou sem sujeito como leva a crer Kurz; pelo
contrário, o ator principal desse fenômeno é sempre evidenciado em suas falas como nesta
notável passagem do Manifesto Comunista:

                              Através da exploração do mercado mundial, a burguesia deu um caráter cosmopolita
                              à produção e ao consumo de todos os países. [...] as antigas indústrias nacionais
                              foram destruídas e continuam a ser destruídas a cada dia. [...] Em lugar das velhas
                              necessidades, satisfeitas pela produção nacional, surgem necessidades novas, que
                              para serem satisfeitas exigem os produtos das terras e dos climas mais distantes. Em
                              lugar da antiga auto-suficiência e do antigo isolamento local e nacional desenvolve-
                              se em todas as direções, um intercâmbio universal, uma universal interdependência
                              das nações (MARX; ENGELS, 2008: 49).

           Após lançar mão de Tocqueville para justificar e “igualizar” revolucionários e
absolutistas para depois subsumi-los ao capital, ao sistema de produção de mercadorias, Kurz
apoia-se agora em Fichte9 (1762-1814) para “abrir mão de Marx” e de sua crítica da economia
política já que todas as características decisivas do socialismo estatal (mercado planejado,
direito ao trabalho e monopólio estatal do comércio exterior) já estavam em Fichte.
           Todavia, mais interessante que a apropriação do Estado racional de Fichte é a natureza
dupla do Estado que aparece em Kurz. Por um lado a forma moderna do Estado é parteira do
sistema produtor de mercadorias e, por outro, é componente inextricável deste último, o que
levou Kurz a acertadamente reconhecer que o capitalismo jamais pretendeu a liberdade de
mercado ou ainda o movimento histórico ondulatório (1992: 40), a dominação dialética do
estatismo e do monetarismo. Em suma, para Kurz, o socialismo real repetiu e “realizou” as
ideias mercantilistas tardias de Fichte.



9
    O referido filósofo foi um dos expoentes máximos do idealismo filosófico alemão.
Em minha opinião, quando Kurz “abriu mão de Marx” para se apoiar em Fichte e daí
fazer sua crítica do socialismo real, “esqueceu” da crítica que Marx faz do Estado, seja ele
racional ou não, como mecanismo/fator de alienação. Marx tinha bem em mente o que
significava o Estado. Apesar de nunca ter produzido uma teoria do Estado, Marx foi um
ferrenho crítico do Estado, como bem demonstrou em sua obra Crítica da Filosofia do Direito
de Hegel10: “Como se o povo não fosse o Estado real! O Estado é abstracto; só o povo é
concreto” (MARX, 1983: 44). Como Lallement (2004: 111-112) aponta “[...] longe de ser a
solução para todos os problemas sociais, o Estado é na realidade - inclusive em regimes
democráticos - apenas um fator de alienação”.
        É por “desconhecer” estas críticas que Kurz diz:

                            A teoria de Marx, vulgarizada por interpretações unilaterais até tornar-se
                            “marxismo”, foi privada de sua crítica decisiva da forma do sistema burguês
                            moderno de reprodução; a crítica da forma mercadoria que culmina no conceito
                            do fetichismo, criado por Marx, foi eliminada e empurrada para um além teórico e
                            histórico, difamada como nebulosa, ou degradada a um fenômeno mental puramente
                            subjetivo.
                            No lugar de um conceito de forma do sistema produtor de mercadorias e de sua
                            condicionalidade histórica aparece, dessa maneira, um conceito reduzido das
                            “classes em conflitos”, como suposta razão última da socialização; [...]
                            Desse modo, uma categoria social analítica, a “classe trabalhadora”, transformou-se
                            numa pessoa coletiva com identidade consistente que, independentemente de
                            pessoas empíricas, “atua” de forma quase biográfica (1992: 44-45, grifos meus).

        Kurz qualifica de “marxismo vulgar” aquele segmento do marxismo que centra suas
análises em torno do materialismo histórico e da luta de classes. Para ele, os marxistas
vulgares não compreenderam que a crítica decisiva de Marx está na forma-mercadoria que
culmina no conceito de fetichismo. O desconhecimento disto, na análise de Kurz, levou a
redução do marxismo ao conceito de luta de classes destituído de pessoas empíricas.
        Ora, mas será realmente que a crítica decisiva de Marx está na forma mercadoria ou
isto seria uma transposição particular que Kurz faz do Capital (a obra) para universalizar no
pensamento marxiano? Concordo com Kurz que Marx não pode ser reduzido ao conceito de
luta de classes, mas daí a concluir que a crítica central e decisiva de Marx repousa na forma-
mercadoria é, no mínimo, questionável. As classes sociais não são um sujeito secundário no

10
   As concepções marxianas da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, obra do ano de 1843, caracterizam-se
pelas críticas ferozes e contundentes, de Marx, ao endeusamento do Estado, por parte de Hegel, haja vista este
último, subordina ao Estado a Sociedade Civil e a Família na obra Princípios da Filosofia do Direito. Nesta
obra, por exemplo, Hegel vê no monarca o “Homem-Deus”, bem como no autoritarismo do Estado, a
universalização e a expressão da razão. Marx, ao contrário, em sua crítica, ressalta frequentemente a importância
da Sociedade Civil e da Família, pois ambos influenciam simultaneamente o Estado, haja vista são seus
pressupostos. A louvação que Hegel faz junto ao Estado, personificados no monarca e nos funcionários
executivos, os representantes, mais tarde será invertida por Marx quando o proletariado assumirá o papel
principal na sociedade.
pensamento de Marx, se fosse desta forma, o que levaria Marx a escrever o Manifesto
Comunista11? Se a relação social da mercadoria fosse totalmente ausente de sujeito e as
classes fossem realmente secundárias porque Marx haveria de escrever As lutas de classe em
França? A meu ver, quem mistifica a forma-mercadoria como metassujeito social, quem faz a
ascensão dela aos céus é Robert Kurz. Marx, ao contrário, tem total consciência do poder
revolucionário do proletariado que é sim dotado de indivíduos políticos unidos por uma
totalidade dialética (uma conexão unitária subjetivo-objetiva). Se a contradição, por exemplo,
o motor interno que produz os acontecimentos (CHAUÍ, 2008), em Hegel é do Espírito
consigo mesmo, aparece em Marx e Engels concretamente como luta de classes, como bem
expressa a obra O 18 Brumário de Luís Bonaparte12.
        Um aspecto chama atenção no que respeita ao sistema produtor de mercadorias. Kurz
deixa claro que o sistema produtor de mercadorias é o próprio capital e que a ele tudo é
subsumido. Mas uma palavra faz toda diferença: sistema. A ideia de sistema para o autor,
pelo menos na minha ótica, leva a uma leitura repetitiva a que nada escapa reproduzindo
sempre o mesmo movimento. Seria um mecanicismo? Exemplo: não há diferença
(significativa) entre a ética do trabalho e o espírito do socialismo; é como se tudo fosse
“trabalho” num movimento hermético que autossubsume; ou quando Kurz escreve que o
socialismo não era uma alternativa histórica ao capitalismo posto que ele é parte do sistema
produtor de mercadorias. Kurz vê o todo, em tudo, em toda parte do mundo; não importa a
condição histórica: a lógica do sistema produtor de mercadorias é simplesmente, pelo menos
na minha leitura de Kurz, intemporal: a condição já está dada, não há “transformação”.
        Depois desta crítica “sistemática” um argumento de Kurz chama atenção no seu livro:
a qualidade capitalista da “acumulação socialista primitiva”. O autor provoca o nosso
pensamento e nos incita a pensar uma acumulação primitiva em termos socialistas:

                            Se sob o regime stalinista foi estabelecida temporariamente a bagatela de uma pena
                            de morte por simples atrasos, para forçar o adestramento das massas agrárias da

11
   Junto, é sempre importante dizer, com o também filósofo alemão e revolucionário comunista Friedrich Engels
(1820-1895). Escreveu, também com Marx, A ideologia alemã e A sagrada família. Dono de vastos
conhecimentos sobre política, economia e filosofia, Engels foi um fervoroso defensor do proletariado
revolucionário e da filosofia materialista. Publicou ainda: A situação da classe trabalhadora na Inglaterra,
Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã e A origem da família, da propriedade privada e do
Estado.
12
   Possivelmente, uma das melhores obras de Marx para se analisar metodologicamente a política enquanto luta
pelo poder. Nesta obra o materialismo histórico é posto em prática para se analisar o golpe de Estado de
Napoleão III (Luís Bonaparte) em França. Marx faz uma análise minuciosa das disputas políticas dos atores
envolvidos (burguesia, camponeses, proletários, o Estado) no espaço da França que é onde se desenrola
(ousamos dizer assim) as principais lutas classistas e sociais. Não é a toa que a França é o foco privilegiado das
análises políticas (enquanto luta pelo poder) de Marx expresso não apenas nessa obra, mas também em Guerra
Civil na França e Lutas de Classes em França.
Rússia, que não estavam acostumadas com as necessidades objetivas da disciplina
                         fabril, isso não representa apenas uma continuação direta da “militarização da
                         economia” trotskista do período da guerra civil: representa também um reflexo do
                         violento processo de modernização levado a cabo por uma acumulação primitiva de
                         capital, tal como já descrita por Marx, em cores parecidas, ao analisar a
                         industrialização da Inglaterra (KURZ, 1992: 54, grifos meus).

       Minha argumentação em relação à Kurz vai ao sentido do adestramento das massas
agrárias. Não entrarei em discussão sobre a questão do trabalho como forma de emancipação
posto que esse é um ponto de divergência minha em relação ao autor, mas sim na forma como
Kurz (1992, p.56-57) constrói um argumento lógico sobre a acumulação socialista primitiva
(de capital). Mais a frente ratifica:

                         Enquanto não se trata da “construção do socialismo”, mas da construção
                         recuperadora do capitalismo, Stálin tem toda razão. Pelo menos uma parte dos
                         recursos para a histórica acumulação primitiva da Europa ocidental foi obtida
                         mediante a expansão colonial desde o século XVI (sem esquecer a enorme
                         quantidade de ouro roubado na América do Sul). Essas possibilidades realmente não
                         existiam mais para a União Soviética. Mas, se o capital monetário exigido tinha de
                         ser obtido exclusivamente “dentro do país”, isso significava que o “material
                         humano” do próprio “país” tinha de ser explorado sem piedade e transformado
                         rigorosamente em produtores de riqueza abstrata, isto é, em produtores de dinheiro
                         ou mais-valia.

       De fato, estas duas assertivas acima supracitadas são aspectos extremamente profícuos
da crítica da acumulação socialista primitiva de capital e a sua relação com o adestramento
das massas agrárias que Kurz promove acerca da questão do campesinato. Com efeito, o
adestramento das massas agrárias feito na União Soviética dá razão ao autor:

                         O fim do Estado czarista baseou-se no desenvolvimento de grandes greves
                         industriais, no fomento da desordem e inquietação dos camponeses e na deserção em
                         massa do exército em março de 1917 (Primeira Guerra Mundial). A volta dos
                         soldados camponeses, cansados da guerra, trouxe consigo a revolução do meio rural.
                         Os camponeses foram obrigados a retornar à comuna, entregando-lhe as terras que
                         tinham comprado ou que lhes tinham sido cedidas em propriedade pela própria
                         comuna. No campo o poder passou às mãos dos camponeses soldados, organizados
                         em soviets camponeses, que não eram mais que os antigos conselhos comunais com
                         uma nova roupagem revolucionária. A superfície ocupada pelas comunas, entre
                         1917 e 1918, proveio de uns 76 milhões de hectares de propriedade de camponeses
                         particulares e 46 milhões de grandes proprietários. Em janeiro de 1918 a terra foi
                         socializada por meio de Lei. Os bolcheviques viram-se obrigados a permitir que os
                         camponeses ocupassem a terra, porque assim o desejava a maioria do povo. Com
                         isto, conseguiram o apoio da massa rural. Os comunistas iniciaram tentativas de
                         nacionalizar todas as terras expropriadas, enquanto que os camponeses queriam que
                         a terra e os equipamentos fossem deles e de suas comunas (SANZ-PASTOR,
                         1988:22 apud OLIVEIRA, 2007, p.74).

       É importante destacar que, apesar da ala intelectual do proletariado ter dirigido a
revolução na Rússia, foram os camponeses quem fizeram a revolução numa aliança com o
proletariado. Outro aspecto importante é o fato da propriedade da terra na unidade camponesa
ser familiar (mais precisamente propriedade privada familiar) no qual ele trabalha na terra
junto com sua família. Daí decorre o efeito nefasto da coletivização forçada das terras na
União Soviética. Como bem relatou Oliveira (2007, p. 74):

                           Iniciou-se assim, um processo de revoltas dos camponeses, que passaram a oporem-
                           se aos novos métodos adotados pelo poder central soviético e que duraram até 1929.
                           Deste ano em diante, foi feita a coletivização forçada dos camponeses que provocou
                           a morte de mais de 12 milhões deles. Pela força o Estado soviético liderado por
                           Stalin, dominou e passou a planificar sua agricultura. Os camponeses foram sendo
                           convertidos em uma engrenagem a mais da vontade política do Estado soviético.
                           Assim, foram obrigados a força a irem para uma forma de cooperativa, o kolkhoz,
                           ou então, igualmente pela força, uma parte dos camponeses foram transformados em
                           assalariados de empresas estatais no campo, os solvkozes. Assim, na União
                           Soviética socialista a terra era propriedade da nação e distribuía-se em: os kolkozes
                           que eram as fazendas coletivas dadas pelo Estado em usufruto perpétuo aos
                           camponeses organizados em cooperativas, para cultivo comum; os solvkozes que
                           eram as fazendas administradas pelo próprio Estado, e onde ele remunerava os
                           operários agrícolas através de um salário; as parcelas individuais, que eram as
                           áreas reservadas aos membros do kolkhoz ou do solvkhoz, contíguas à suas casas,
                           para desfrute familiar de horta, pomar e pequeno criatório; e as fazendas auxiliares,
                           organizadas por empresas e instituições, a fim de abastecerem, não a comunidade
                           em geral, porém os próprios obreiros dessas entidades.

        Categoricamente, Kurz conhecia esta realidade das massas agrárias russas e as pistas
de seu raciocínio e a sua crítica ao socialismo fazem bastante sentido. O mercado planificado
acabou levando ao totalitarismo soviético dado a necessidade do Estado impor a planificação.
Além disso, percebe-se a tentativa de proletarização forçada das massas agrárias, do
camponês, como consequência de uma política partidária/estatal/revolucionária que concebe o
camponês como resíduo social e que, portanto, vê na proletarização e no antagonismo com a
burguesia a única forma de vencer o capitalismo, uma vez que o desenvolvimento do
capitalismo no campo faria com que o camponês ou se transformasse em um pequeno
capitalista ou se proletarizasse, nos termos de Lênin13 e Kautsky14.
        Essa qualidade capitalista da acumulação socialista primitiva consequentemente levou
ao congelamento do estatismo e a militarização da sociedade. Nesse aspecto, Kurz destaca um
regime estadista de acumulação e faz uma crítica tenaz ao Estado como engrenagem da
mecânica capitalista e não como polo oposto a ele.
        Contudo, a crítica do autor, em minha leitura, beira a crítica da direita. Isso porque
raramente Kurz promove uma crítica ao capital ou ao sistema produtor de mercadorias. Pelo


13
   Lênin explorou tal questão em seu famoso livro: O desenvolvimento do capitalismo na Rússia: O processo de
formação do mercado interno para a grande indústria. São Paulo: Abril Cultural, 1982. No raciocínio do
revolucionário russo, a desintegração do campesinato por uma diferenciação interna geraria camponeses ricos
(pequenos capitalistas) e camponeses pobres (que inevitavelmente teriam que se assalariar). Ou seja: o próprio
desenvolvimento do capitalismo e de suas relações de produção engendraria o desaparecimento do campesinato.
14
    Kautsky, por sua vez, pensava que o desenvolvimento das relações capitalistas no campo levaria a
proletarização do campesinato. Tal análise está desenvolvida em seu livro A Questão Agrária. Trad. C.
IPEROIG. 3ª. ed. São Paulo: Proposta Editorial, 1980.
contrário, ele “apenas” se restringe a subsumir tudo ao capital, retira o foco da análise
marxiana da luta de classes e acusa-a de sociologismo; E mais: privilegia o automovimento do
dinheiro como uma verdadeira entidade da sociedade das mercadorias.
        Enfim, o cerne da obra de Kurz, parece-me que já fora entendido. Assim ele prossegue
ao longo do texto defendendo o fim da sociedade do trabalho e mesmo dizendo que o
socialismo será possivelmente lembrado no futuro como “uma nota de rodapé” (1992:85).
Importante, porém, é a crítica que o autor faz da crise ecológica (1992:86) como crise do
capital na medida em que desvela em sua faceta ambiental, pelo menos compreendo dessa
forma, a racionalidade irracional (nesse sentido Kurz discorda de Weber) do sistema produtor
de mercadorias.
        No bojo da discussão, a intentona socialista de “planejar racionalmente o mercado”
não passa de uma ilusão em virtude de ser o capital o sujeito automático do processo histórico
de modernização e não a ilusão da vontade política de uma subjetividade burguesa, como diz
Kurz. Daí ele deduzir que o resultado lógico do socialismo real foi a economia de escassez
cuja burocracia estatal mercantil e fechada não foi capaz de compreender o socialismo como
imanente ao capital (1992:111).
        Fatalmente, os países socialistas e os de Terceiro Mundo se iludiram tanto
estruturalmente - troca do modelo - quanto que historicamente - acreditando que haveria mais
uma vez o milagre econômico15. Na realidade, o sistema produtor de mercadorias foi o grande
responsável pela colonização de povos e territórios simultaneamente ao processo da
acumulação primitiva necessário ao processo de produção do capital. Esta dupla articulação,
ao lado da consolidação do estado-nação como elemento integrante do sistema produtor de
mercadorias serviram para a imposição da lógica do capital e, nesse sentido, nem a União
Soviética no dizer de Kurz, escapou da exageração do elemento estatista (1992:179) que
contribuiu para a destruição de sistemas ecológicos fechados e de estruturar tradicionais.
        Por isso tudo, o sistema mundial produtor de mercadorias está em crise (KURZ,
1992:185). Logo, tanto os “perdedores” quanto os “vencedores” devem afastar de si próprios
as falsas ilusões posto que o único elemento autoconsciente nesse sistema moribundo é a
forma-mercadoria que sociabiliza criticamente as personas existentes.
        Assim, “profetiza” Kurz (1992:187) as revoltas vão aumentar e não diminuir. Isso
como consequência do automovimento do dinheiro o verdadeiro fundamento do processo de


15
   A rigor, a intensa e generalizada internacionalização do capital ocorreu no âmbito da intensa e generalizada
internacionalização do processo produtivo. Os “milagres econômicos” que se sucedem ao longo da Guerra Fria e
depois dela são também momentos mais ou menos notáveis dessa internacionalização (IANNI, 2007, p. 62).
modernização cuja “razão mundial burguesa”, as leis históricas destrutivas e regras
democráticas são apenas pura expressão. Como decorrência lógica, a normalidade capitalista é
a forma de ser da anormalidade do sistema produtor de mercadorias, expressa tão bem pela
crise ecológica. Mas essa crise ecológica é ela mesma uma expressão da crise do capital que
se disseminou tal qual um “tumor maligno por metástases em um corpo aparentemente
saudável” (KURZ, 1992:194).
        Esse verdadeiro “câncer social” de que nos fala Kurz se expressa, em sua visão, no
colapso do sistema financeiro global e na decadência das estruturas sociais. Após o início da
era das trevas que Kurz profetiza, a necessidade de superação da crise se impõe, mas não pela
administração estatista: “a crise seria apenas superável se um consciente movimento social de
supressão acabasse com a mera administração dessa crise, movimento que teria de derrubar,
com violência maior ou menor, também esses aparatos” (KURZ, 1992: 210). Para o autor,
está claro que o Estado apenas administra a crise principalmente em períodos emergenciais.
        A incapacidade que o capitalismo adquiriu de explorar a massa global do trabalho
abstrato produtivamente explorado, a paralisação em número crescente de recursos materiais
em países, a transformação da ciência em força produtiva e o próprio momento crítico do
marxismo, são para Kurz modificações fundamentais que caracterizam a sociedade mundial.
A saída da crise para o autor é a “razão prática, que pode ser imanente, isto é, que se limita à
superação de determinada situação histórica” (KURZ, 1992, p.215-216). Daí decorre, para
Kurz, a incapacidade da razão crítica iluminista de fornecer a saída para a crise do sistema
produtor de mercadorias.
        Para finalizar, uma pergunta fica no ar após apreciarmos o julgamento contundente de
Robert Kurz: não seria esta própria razão prática, enfim, a própria crítica do autor, uma forma
de ser da crise do sistema produtor de mercadorias?


                                       REFERÊNCIAS


CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. 2ªed. São Paulo: Brasiliense, 2008.
HARVEY, David. A geografia do Manifesto. TRAD. G. ONDETTI; L. PEREIRA; L. F.
ALMEIDA. Disponível em http://www4.pucsp.br/neils/downloads/v4_artigo_david.pdf.
Acesso em 21 de setembro de 2011.
IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. 14ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2007.
KAUTSKY, Karl. A questão agrária. Trad. C. IPEROIG. 3ª. ed. São Paulo: Proposta
Editorial, 1980.
KURZ, Robert. O Colapso da Modernização: da derrocada do socialismo de caserna à
crise da economia mundial. TRAD. Karen Elsabe BARBOSA. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1992.
LALLEMENT, Michel. História das ideias sociológicas: das origens a Max Weber.
2ªed.Trad. Ephraim F. ALVES. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. Partes II e III. pp.85-321.
LÊNIN, Vladimir. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia: O processo de formação
do mercado interno para a grande indústria. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
MARX, Karl Heinrich. O capital: crítica da economia política. Livro I. Trad. Reginaldo
SANT’ANNA. 21ªed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Trad. Pietro
NASSETTI. 2ª ed. 1ª reimp. São Paulo: Martin Claret, 2008.
MARX, Karl Heinrich. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. 2ªed. Portugal-Brasil:
Editorial Presença, 1983.
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Modo de Produção Capitalista, Agricultura e Reforma
Agrária. São Paulo: FFLCH, 2007, 184p.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Ou Inventamos ou Erramos. Encruzilhadas da
Integração Regional Sul-americana. Anais do V Simpósio Internacional de Geografia
Agrária/VI Simpósio Internacional de Geografia Agrária. Belém, UFPA, 7 a 11 de novembro
de 2011.
VESENTINI, J. W. Novas Geopolíticas. 4ª ed. 1ª reimp. São Paulo: Contexto, 2007.

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Comentários contextuais acerca do livro o colapso da modernização, de robert kurz

  • 1. COMENTÁRIOS CONTEXTUAIS ACERCA DO LIVRO O COLAPSO DA MODERNIZAÇÃO, DE ROBERT KURZ1 José Arnaldo dos Santos Ribeiro Junior2 O propósito deste texto é tecer alguns apontamentos críticos ao livro “O Colapso da Modernização: da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial”, do filósofo alemão Robert Kurz3. O leitor não deve esperar aqui um esquematismo maniqueísta que tenta ver o lado bom ou mal das coisas, tampouco uma análise sistêmica cujo simples enquadramento causal fornece as respostas efetivas. A intenção é estabelecer um diálogo com Kurz na perspectiva da crítica como aproximação apontando seus limites, possibilidades, perspectivas e desdobramentos políticos. Como o próprio título do livro expõe, trata-se da realização de uma análise que busca demonstrar o esgotamento do atual momento econômico para entender como a crise do socialismo é, na visão do autor, manifestação de uma crise econômica a nível mundial uma vez que a mundialização da mercadoria abarca tanto o socialismo, quanto o capitalismo, na medida em que a crise é o “momento” no qual as totalidades contraditórias da produção de mercadorias se esgotam simultaneamente ao processo de acumulação. A audácia de Kurz está em tratar o declínio do socialismo numa perspectiva para além da “vitória” do capitalismo: buscando fugir da dicotomia e de modelos maniqueístas abstratos, como capitalismo versus socialismo, o autor concebe o conjunto da história do sistema mundial como a produção de mercadorias. Assim, para o autor, o aumento da concorrência a nível mundial é o resultado da “vitória capitalista” como consequência do desenvolvimento das forças produtivas. O aumento da produtividade leva ao capital a perder a faculdade de explorar trabalho a partir do momento em que a ciência e a tecnologia se tornaram forças produtivas. 1 Este texto foi produzido originalmente como requisito para obtenção de nota na disciplina Modernização e Contradições Espaço-Temporais, ministrada pelo Prof. Dr. Anselmo Alfredo, no Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da Universidade de São Paulo. Agradeço ao geógrafo e doutorando em Geografia Humana (FFLCH/USP) Thiago Araújo Santos pelas inúmeras colaborações, críticas e sugestões. 2 Bacharel e Licenciado em Geografia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Mestrando em Geografia Humana na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Membro do Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA) e do Núcleo de Estudos e Pesquisa do Sindicalismo (NEPS). Integrante da Rede Justiça nos Trilhos. 3 Além de filósofo, Kurz é também ensaísta. Ganhou visibilidade com o referido livro aqui comentado, mas também com a publicação do Manifesto contra o trabalho em 1999. Kurz foi membro do Grupo Krisis de 1986 até 2004 quando criaram um novo grupo: EXIT! CRISE E CRÍTICA DA SOCIEDADE DAS MERCADORIAS.
  • 2. No entanto, Kurz coloca em cheque a perspectiva da “vitória do capitalismo” argumentando que tanto a crise do socialismo real quanto o triunfo capitalista fazem parte do mesmo colapso da modernização. É, indubitavelmente, uma forma de ver o colapso e a crise, a globalização e o “fim da história4” numa outra perspectiva, de um modo de considerar os acontecimentos sob outro ponto de vista. E é justamente esta “outridade” do argumento discursivo de Robert Kurz que torna sua crítica vigorosa e nos convida a pensar a modernização sob o prisma da crise. Este pequeno panorama geral sobre a obra, que será mais adiante melhor comentada, serve para que possa apresentar ao leitor (e julgo ter apresentado) a tese central do livro de maneira clara e objetiva que justificam o movimento teórico-racional de Kurz no que tange os termos da análise crítica da igualização socialismo-capitalismo. Não obstante, uma pergunta paira no ar: não estaria Kurz sendo por demais pretensioso ao reduzir a crise econômica, a histórica econômica e as relações econômicas internacionais à centralidade da mercadoria? Outra questão: ao igualizar socialismo e capitalismo como sistemas de produção de mercadorias Kurz não estaria anuviando as diferenças que permeiam estes sistemas? As perguntas podem ter respostas distintas. Proponho-me a oferecer uma resposta para cada uma. A meu ver, quando Kurz centraliza a crise, a história e as relações internacionais econômicas na produção de mercadorias ele está autonomizando a lógica econômica da lógica social total, ou ainda, está subsumindo a lógica social total à lógica econômica. Não podemos desconsiderar, por exemplo, [...] o fato de Marx ter explicitado no subtítulo de sua obra maior, O Capital, que não se tratava de uma obra de economia, mas sim de “crítica da economia política”. Sua fina e rigorosa análise da formação social que praticamente viu nascer o levou a perceber que havia uma sociedade que se estruturava reduzindo o homem e tudo que implicava as relações sociais, natureza incluída, à economia. Com toda razão dedicou seu primeiro capítulo à análise da mercadoria e seu fetichismo. Fazer a crítica da economia era o cerne da crítica à sociedade que se organizava em torno dela e implicava superar a economia como fundamento da sociedade. Em outras palavras, a crítica da economia política serve para fazer a crítica do capitalismo, mas não serve para construir outra sociedade. São outros horizontes de sentido para a vida, para além da economia, que devem ser criados (PORTO-GONÇALVES, 2011: 4). É o movimento de Kurz que o leva a igualizar capitalismo e socialismo como sistemas de produção de mercadorias. Essa igualização não permite ver a diferença (já estou na 4 Nas palavras de Fukuyama (apud VESENTINI, 2007: 63): O que testemunhamos [a Perestroika e o colapso da URSS, a queda do muro de Berlim] não é apenas o final da guerra fria, mas o fim da história como tal, ou seja, o ponto final da evolução ideológica da humanidade e a universalização da democracia liberal ocidental como a forma final do governo humano.
  • 3. resposta da segunda pergunta) entre a competição5 desenfreada do capitalismo e os ideais humanísticos do socialismo. Mais ainda: apesar de concordar com a perspectiva anti- dicotômica do autor, a meu ver, ele não escapa da abordagem de continuum. Explico melhor. O subtítulo do livro de Kurz é esclarecedor: “Da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial”. Ou seja, ele defende que é justamente o progresso da mercadorização que responde pelas mudanças expressivas da sociedade, seja ela “socialista de caserna” (estatista), ou capitalista. Em minha análise, o autor justapõe (ou melhor, aproxima) a sociedade socialista à sociedade capitalista subsumindo posteriormente todas elas ao sistema produtor de mercadorias. Assim, ao analisar a abordagem de continuum de Kurz compreendo que ele não foge do dualismo na medida em que considera o socialismo de caserna e o capitalismo numa perspectiva de integração, ou se preferir, modernização da economia mundial. Decorre que, para o autor, não há contraposição entre o socialismo de caserna e o capitalismo. Kurz atesta ainda que a novidade da crise está assentada na incorporação da ciência ao processo produtivo e que, portanto a classe trabalhadora entra em declínio de importância. Acrescentaria que não apenas a ciência, mas também a tecnologia, se converteram em forças produtivas. Mas essa conversão não se deve a qualquer entidade sobrenatural, mas sim a seres sociais concretos que lançam mão dos mais diversos mecanismos (como a ciência e a tecnologia) para continuar o processo de acumulação. A metacrítica de Kurz assenta-se na perspectiva que o conflito de sistemas (1992:13) é pouco relevante. Tampouco o abandono do socialismo e a tese do fim da história possuem qualquer fundamento. No verão de 1989, o americano Francis Fukuyama, vice-diretor da equipe de planejamento do Ministério do Exterior dos Estados Unidos, proclamou precipitadamente, num artigo para o magazine trimestral National Interest, “o fim da história” - sentença que se disseminou na velocidade de um raio e tem sido citada a torto e a direito. Como se isso não bastasse, o autor fundamenta sua tese na ideia de Hegel de uma “forma definitiva, racional, da sociedade e do Estado” que teria sido por fim alcançada na figura bastante peculiar do american way of life. [...] Mas a evidência de uma vitória relativa do mundo ocidental, a bem da verdade, mal pode ser contestada se vigorarem ainda os critério do conflito de sistemas precedente e se não se puder pensar numa metacrítica. E esta é precisamente a questão. Pois será mesmo que o Ocidente agiu com plena consciência e autoconsciência naquele terreno em que agora presume pisar como vencedor? (KURZ, 1992:14) 5 Cabe assinalar que a noção de competição é uma noção biológica, e implica uma relação desarmônica, ou seja, uma relação na qual pelo menos uma das espécies é lesada.
  • 4. Kurz tem uma argumentação forte, poderosa, sofisticada, diria mais: tentadora. Ele nos desafia a fugir das formações sociais aparentemente opostas (1992:16); cutuca nossa “análise classista”; advoga um “fetichismo do capital”; aproxima Lênin de Weber: Em nenhum outro lugar esse ethos protestante do trabalhador abstrato dentro de uma sociedade transformada numa máquina de trabalho, declarado por Max Weber como característica constitutiva ideológica e histórica do capitalismo, foi posto em prática com mais fervor e rigor do que no movimento operário e nas formações sociais do socialismo real (1992:18). O socialismo do movimento operário nunca esteve muito distante dessa criação fetichista da motivação do antigo protestantismo. Enquanto este colocou o trabalho abstrato a serviço da religião, aquele transformou o trabalho abstrato numa religião secularizada, a do endeusamento da riqueza nacional, transcendente aos fins vinculados às necessidades humanas; precisamente para a Rússia, à beira da modernidade burguesa, o socialismo era um substituto mais ou menos adequado dos elementos constitutivos religiosos do modo de produção capitalista na Europa Ocidental, desde a Reforma (1992, p.19). Mas, se o socialismo e o capitalismo são formações sociais aparentemente opostas isso significa dizer que em essência capitalismo e socialismo são formações “paralelas”, ou seja, estão do mesmo lado no jogo mundial de produção de mercadorias? Quando Kurz aproxima Weber e Lênin não estaria ele negando factualmente o potencial revolucionário do trabalho como mecanismo de emancipação, por exemplo, das “amarras da natureza”? A meu ver, Kurz aproxima indevidamente via instrumento analítico (a categoria trabalho) Weber e Lênin. Em Weber, ou melhor, em sua análise do espírito do capitalismo, a lógica do trabalho está associada ao ethos da riqueza como ética da vida; já em Lênin, ou melhor, no socialismo, o trabalho não é um mecanismo igual ao da ética protestante (do trabalho) e do espírito do capitalismo: isso porque o trabalho é no socialismo, como adverti anteriormente, mecanismo de emancipação social, meio de desenvolvimento político e de formação de uma consciência crítica de classe. Kurz parece não ver diferença entre um sistema “político-religioso” (capitalismo) e um sistema, civilizatório e disciplinador (eu estou ciente disso), que traz em seu seio ideais humanísticos por excelência como: desenvolvimento social, saúde pública de qualidade, moradia digna, aposentadoria, estabilidade financeira, condições dignas de emprego, etc. Kurz parece confundir trabalho a serviço da religião, meio de se atingir riqueza, salvação divina, ética individualista de vida, com trabalho a serviço da consciência de classe, do desenvolvimento social (mas também individual) do mundo. É o raciocínio “mais ou menos constitutivo” que igualiza todo o trabalho, que não percebe as diferenças internas e externas do trabalho no campo socialista em relação ao habitus capitalista. Ainda que o trabalho, como labor no sentido antigo, como estafa e moléstia, ocupasse completamente o horizonte da vida da maioria das pessoas, isso acontecia por causa do grau de desenvolvimento relativamente baixo das forças produtivas no
  • 5. “metabolismo entre os homens e a natureza” (Marx); o trabalho era, portanto, uma necessidade imposta pela natureza, porém precisamente por isso nenhum dispêndio abstrato de força de trabalho e nenhuma atividade social que traz em si sua própria finalidade (KURZ, 1992: 21). O vaivém do meu argumento será inevitável: Kurz não enxerga no trabalho mais do que uma estafa ou moléstia. Sua “crítica estafante” enxerga no trabalho mais um engenho alienador; não se permite ver que o fato do homem encontrar-se dependente da Natureza para realizar a sua vivência e reprodução não o torna escravo do trabalho6. Após isso, a crítica do autor se concentra no processo histórico da modernidade no qual dois regimes de produção de mercadorias se relacionam: estatismo e monetarismo. Kurz argumenta, por exemplo, que o socialismo real é um “regime modernizador protocapitalista de sociedades burguesas atrasadas” (1992: 28). Nesse sentido, tanto o estatismo do socialismo real, quanto o estado social e regulador keynesiano se tornam produtos do mercado. Mas, Kurz ao operar o Estado como resultado do avanço do desenvolvimento do mercado, em poucas palavras, como produto do próprio mercado, retira o foco, por exemplo, de aspectos importantes, principalmente de dimensão política. Há de se notar certo “silêncio” acerca da relação entre Estado e Nação, da Segurança Nacional, isso tudo em virtude de se focalizar o Estado como produto do mercantilismo. A meu ver, seria interessante pensar o Estado como a produção de uma escala política de atuação de um determinado segmento social (a burguesia) como sugeriu o próprio Marx7. Interessante é a apropriação que Kurz faz de Tocqueville8 (1805-1859) para demonstrar a conexão e a continuidade despótica entre o Antigo Regime e a Revolução. Para o autor, Tocqueville é o “Marx da crítica das instituições políticas das democracias modernas, na base da forma produtora de mercadorias” (1992: 33). Kurz compartilha com Tocqueville a “ilusão subjetiva burguesa”, “as formas que não tem sujeito”, ou “a vontade do verdadeiro sujeito constituído na forma mercadoria”, uma “força desconhecida”, “que não pode refrear a si mesma”. Sobre a forma-mercadoria é verdade que Marx (2003: 57, grifos meus) disse que “a riqueza das sociedades onde rege a produção capitalista configura-se em ‘imensa 6 Não se trata em Marx, obviamente, de achar que “o trabalho dignifica o homem”. Trata-se sobretudo de reconhecer o caráter ontológico do trabalho compreensível nos Manuscritos econômico-filosóficos. 7 Todavia, não basta dizer apenas que o Estado é o comitê político da burguesia. O geógrafo marxista David Harvey (2011, p.68) observou que “uma das maiores lacunas do Manifesto [do partido comunista] é a sua falta de atenção para a organização territorial”; Além disso, Harvey (idem, ibidem) atesta que “o Estado é só uma das muitas instituições mediadoras que influi na dinâmica da luta mundial de classes”. 8 O historiador político Alexis de Tocqueville ficou famoso pela obra A democracia na América.
  • 6. acumulação de mercadorias’, e a mercadoria, isoladamente considerada, é a forma elementar dessa riqueza”. Todavia, é importante observar também esta passagem: Não é com seus pés que as mercadorias vão ao mercado, nem se trocam por decisão própria. Temos, portanto, de procurar seus responsáveis, seus donos. As mercadorias são coisas; portanto inermes diante do homem. Se não é dócil, pode o homem empregar força, em outras palavras, apoderar-se dela. Para relacionar essas coisas, umas com as outras, como mercadorias, têm seus responsáveis de comportar- se, reciprocamente, como pessoas cuja vontade reside nessas coisas, de modo que um só se aposse da mercadoria do outro, alienando a sua, mediante o consentimento do outro, através, portanto, de um ato voluntário. É mister, por isso, que reconheçam, um nó no outro, a qualidade de proprietário privado (MARX, 2003: 109, grifos meus). Porém, ainda inquieta-me a assertiva da “ausência de sujeito”. Marx e Engels ao abordarem a ampliação do raio de mercado pela burguesia a nível mundial atestam muito bem que esse fenômeno não ocorre de forma natural ou sem sujeito como leva a crer Kurz; pelo contrário, o ator principal desse fenômeno é sempre evidenciado em suas falas como nesta notável passagem do Manifesto Comunista: Através da exploração do mercado mundial, a burguesia deu um caráter cosmopolita à produção e ao consumo de todos os países. [...] as antigas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a ser destruídas a cada dia. [...] Em lugar das velhas necessidades, satisfeitas pela produção nacional, surgem necessidades novas, que para serem satisfeitas exigem os produtos das terras e dos climas mais distantes. Em lugar da antiga auto-suficiência e do antigo isolamento local e nacional desenvolve- se em todas as direções, um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações (MARX; ENGELS, 2008: 49). Após lançar mão de Tocqueville para justificar e “igualizar” revolucionários e absolutistas para depois subsumi-los ao capital, ao sistema de produção de mercadorias, Kurz apoia-se agora em Fichte9 (1762-1814) para “abrir mão de Marx” e de sua crítica da economia política já que todas as características decisivas do socialismo estatal (mercado planejado, direito ao trabalho e monopólio estatal do comércio exterior) já estavam em Fichte. Todavia, mais interessante que a apropriação do Estado racional de Fichte é a natureza dupla do Estado que aparece em Kurz. Por um lado a forma moderna do Estado é parteira do sistema produtor de mercadorias e, por outro, é componente inextricável deste último, o que levou Kurz a acertadamente reconhecer que o capitalismo jamais pretendeu a liberdade de mercado ou ainda o movimento histórico ondulatório (1992: 40), a dominação dialética do estatismo e do monetarismo. Em suma, para Kurz, o socialismo real repetiu e “realizou” as ideias mercantilistas tardias de Fichte. 9 O referido filósofo foi um dos expoentes máximos do idealismo filosófico alemão.
  • 7. Em minha opinião, quando Kurz “abriu mão de Marx” para se apoiar em Fichte e daí fazer sua crítica do socialismo real, “esqueceu” da crítica que Marx faz do Estado, seja ele racional ou não, como mecanismo/fator de alienação. Marx tinha bem em mente o que significava o Estado. Apesar de nunca ter produzido uma teoria do Estado, Marx foi um ferrenho crítico do Estado, como bem demonstrou em sua obra Crítica da Filosofia do Direito de Hegel10: “Como se o povo não fosse o Estado real! O Estado é abstracto; só o povo é concreto” (MARX, 1983: 44). Como Lallement (2004: 111-112) aponta “[...] longe de ser a solução para todos os problemas sociais, o Estado é na realidade - inclusive em regimes democráticos - apenas um fator de alienação”. É por “desconhecer” estas críticas que Kurz diz: A teoria de Marx, vulgarizada por interpretações unilaterais até tornar-se “marxismo”, foi privada de sua crítica decisiva da forma do sistema burguês moderno de reprodução; a crítica da forma mercadoria que culmina no conceito do fetichismo, criado por Marx, foi eliminada e empurrada para um além teórico e histórico, difamada como nebulosa, ou degradada a um fenômeno mental puramente subjetivo. No lugar de um conceito de forma do sistema produtor de mercadorias e de sua condicionalidade histórica aparece, dessa maneira, um conceito reduzido das “classes em conflitos”, como suposta razão última da socialização; [...] Desse modo, uma categoria social analítica, a “classe trabalhadora”, transformou-se numa pessoa coletiva com identidade consistente que, independentemente de pessoas empíricas, “atua” de forma quase biográfica (1992: 44-45, grifos meus). Kurz qualifica de “marxismo vulgar” aquele segmento do marxismo que centra suas análises em torno do materialismo histórico e da luta de classes. Para ele, os marxistas vulgares não compreenderam que a crítica decisiva de Marx está na forma-mercadoria que culmina no conceito de fetichismo. O desconhecimento disto, na análise de Kurz, levou a redução do marxismo ao conceito de luta de classes destituído de pessoas empíricas. Ora, mas será realmente que a crítica decisiva de Marx está na forma mercadoria ou isto seria uma transposição particular que Kurz faz do Capital (a obra) para universalizar no pensamento marxiano? Concordo com Kurz que Marx não pode ser reduzido ao conceito de luta de classes, mas daí a concluir que a crítica central e decisiva de Marx repousa na forma- mercadoria é, no mínimo, questionável. As classes sociais não são um sujeito secundário no 10 As concepções marxianas da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, obra do ano de 1843, caracterizam-se pelas críticas ferozes e contundentes, de Marx, ao endeusamento do Estado, por parte de Hegel, haja vista este último, subordina ao Estado a Sociedade Civil e a Família na obra Princípios da Filosofia do Direito. Nesta obra, por exemplo, Hegel vê no monarca o “Homem-Deus”, bem como no autoritarismo do Estado, a universalização e a expressão da razão. Marx, ao contrário, em sua crítica, ressalta frequentemente a importância da Sociedade Civil e da Família, pois ambos influenciam simultaneamente o Estado, haja vista são seus pressupostos. A louvação que Hegel faz junto ao Estado, personificados no monarca e nos funcionários executivos, os representantes, mais tarde será invertida por Marx quando o proletariado assumirá o papel principal na sociedade.
  • 8. pensamento de Marx, se fosse desta forma, o que levaria Marx a escrever o Manifesto Comunista11? Se a relação social da mercadoria fosse totalmente ausente de sujeito e as classes fossem realmente secundárias porque Marx haveria de escrever As lutas de classe em França? A meu ver, quem mistifica a forma-mercadoria como metassujeito social, quem faz a ascensão dela aos céus é Robert Kurz. Marx, ao contrário, tem total consciência do poder revolucionário do proletariado que é sim dotado de indivíduos políticos unidos por uma totalidade dialética (uma conexão unitária subjetivo-objetiva). Se a contradição, por exemplo, o motor interno que produz os acontecimentos (CHAUÍ, 2008), em Hegel é do Espírito consigo mesmo, aparece em Marx e Engels concretamente como luta de classes, como bem expressa a obra O 18 Brumário de Luís Bonaparte12. Um aspecto chama atenção no que respeita ao sistema produtor de mercadorias. Kurz deixa claro que o sistema produtor de mercadorias é o próprio capital e que a ele tudo é subsumido. Mas uma palavra faz toda diferença: sistema. A ideia de sistema para o autor, pelo menos na minha ótica, leva a uma leitura repetitiva a que nada escapa reproduzindo sempre o mesmo movimento. Seria um mecanicismo? Exemplo: não há diferença (significativa) entre a ética do trabalho e o espírito do socialismo; é como se tudo fosse “trabalho” num movimento hermético que autossubsume; ou quando Kurz escreve que o socialismo não era uma alternativa histórica ao capitalismo posto que ele é parte do sistema produtor de mercadorias. Kurz vê o todo, em tudo, em toda parte do mundo; não importa a condição histórica: a lógica do sistema produtor de mercadorias é simplesmente, pelo menos na minha leitura de Kurz, intemporal: a condição já está dada, não há “transformação”. Depois desta crítica “sistemática” um argumento de Kurz chama atenção no seu livro: a qualidade capitalista da “acumulação socialista primitiva”. O autor provoca o nosso pensamento e nos incita a pensar uma acumulação primitiva em termos socialistas: Se sob o regime stalinista foi estabelecida temporariamente a bagatela de uma pena de morte por simples atrasos, para forçar o adestramento das massas agrárias da 11 Junto, é sempre importante dizer, com o também filósofo alemão e revolucionário comunista Friedrich Engels (1820-1895). Escreveu, também com Marx, A ideologia alemã e A sagrada família. Dono de vastos conhecimentos sobre política, economia e filosofia, Engels foi um fervoroso defensor do proletariado revolucionário e da filosofia materialista. Publicou ainda: A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã e A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 12 Possivelmente, uma das melhores obras de Marx para se analisar metodologicamente a política enquanto luta pelo poder. Nesta obra o materialismo histórico é posto em prática para se analisar o golpe de Estado de Napoleão III (Luís Bonaparte) em França. Marx faz uma análise minuciosa das disputas políticas dos atores envolvidos (burguesia, camponeses, proletários, o Estado) no espaço da França que é onde se desenrola (ousamos dizer assim) as principais lutas classistas e sociais. Não é a toa que a França é o foco privilegiado das análises políticas (enquanto luta pelo poder) de Marx expresso não apenas nessa obra, mas também em Guerra Civil na França e Lutas de Classes em França.
  • 9. Rússia, que não estavam acostumadas com as necessidades objetivas da disciplina fabril, isso não representa apenas uma continuação direta da “militarização da economia” trotskista do período da guerra civil: representa também um reflexo do violento processo de modernização levado a cabo por uma acumulação primitiva de capital, tal como já descrita por Marx, em cores parecidas, ao analisar a industrialização da Inglaterra (KURZ, 1992: 54, grifos meus). Minha argumentação em relação à Kurz vai ao sentido do adestramento das massas agrárias. Não entrarei em discussão sobre a questão do trabalho como forma de emancipação posto que esse é um ponto de divergência minha em relação ao autor, mas sim na forma como Kurz (1992, p.56-57) constrói um argumento lógico sobre a acumulação socialista primitiva (de capital). Mais a frente ratifica: Enquanto não se trata da “construção do socialismo”, mas da construção recuperadora do capitalismo, Stálin tem toda razão. Pelo menos uma parte dos recursos para a histórica acumulação primitiva da Europa ocidental foi obtida mediante a expansão colonial desde o século XVI (sem esquecer a enorme quantidade de ouro roubado na América do Sul). Essas possibilidades realmente não existiam mais para a União Soviética. Mas, se o capital monetário exigido tinha de ser obtido exclusivamente “dentro do país”, isso significava que o “material humano” do próprio “país” tinha de ser explorado sem piedade e transformado rigorosamente em produtores de riqueza abstrata, isto é, em produtores de dinheiro ou mais-valia. De fato, estas duas assertivas acima supracitadas são aspectos extremamente profícuos da crítica da acumulação socialista primitiva de capital e a sua relação com o adestramento das massas agrárias que Kurz promove acerca da questão do campesinato. Com efeito, o adestramento das massas agrárias feito na União Soviética dá razão ao autor: O fim do Estado czarista baseou-se no desenvolvimento de grandes greves industriais, no fomento da desordem e inquietação dos camponeses e na deserção em massa do exército em março de 1917 (Primeira Guerra Mundial). A volta dos soldados camponeses, cansados da guerra, trouxe consigo a revolução do meio rural. Os camponeses foram obrigados a retornar à comuna, entregando-lhe as terras que tinham comprado ou que lhes tinham sido cedidas em propriedade pela própria comuna. No campo o poder passou às mãos dos camponeses soldados, organizados em soviets camponeses, que não eram mais que os antigos conselhos comunais com uma nova roupagem revolucionária. A superfície ocupada pelas comunas, entre 1917 e 1918, proveio de uns 76 milhões de hectares de propriedade de camponeses particulares e 46 milhões de grandes proprietários. Em janeiro de 1918 a terra foi socializada por meio de Lei. Os bolcheviques viram-se obrigados a permitir que os camponeses ocupassem a terra, porque assim o desejava a maioria do povo. Com isto, conseguiram o apoio da massa rural. Os comunistas iniciaram tentativas de nacionalizar todas as terras expropriadas, enquanto que os camponeses queriam que a terra e os equipamentos fossem deles e de suas comunas (SANZ-PASTOR, 1988:22 apud OLIVEIRA, 2007, p.74). É importante destacar que, apesar da ala intelectual do proletariado ter dirigido a revolução na Rússia, foram os camponeses quem fizeram a revolução numa aliança com o proletariado. Outro aspecto importante é o fato da propriedade da terra na unidade camponesa ser familiar (mais precisamente propriedade privada familiar) no qual ele trabalha na terra
  • 10. junto com sua família. Daí decorre o efeito nefasto da coletivização forçada das terras na União Soviética. Como bem relatou Oliveira (2007, p. 74): Iniciou-se assim, um processo de revoltas dos camponeses, que passaram a oporem- se aos novos métodos adotados pelo poder central soviético e que duraram até 1929. Deste ano em diante, foi feita a coletivização forçada dos camponeses que provocou a morte de mais de 12 milhões deles. Pela força o Estado soviético liderado por Stalin, dominou e passou a planificar sua agricultura. Os camponeses foram sendo convertidos em uma engrenagem a mais da vontade política do Estado soviético. Assim, foram obrigados a força a irem para uma forma de cooperativa, o kolkhoz, ou então, igualmente pela força, uma parte dos camponeses foram transformados em assalariados de empresas estatais no campo, os solvkozes. Assim, na União Soviética socialista a terra era propriedade da nação e distribuía-se em: os kolkozes que eram as fazendas coletivas dadas pelo Estado em usufruto perpétuo aos camponeses organizados em cooperativas, para cultivo comum; os solvkozes que eram as fazendas administradas pelo próprio Estado, e onde ele remunerava os operários agrícolas através de um salário; as parcelas individuais, que eram as áreas reservadas aos membros do kolkhoz ou do solvkhoz, contíguas à suas casas, para desfrute familiar de horta, pomar e pequeno criatório; e as fazendas auxiliares, organizadas por empresas e instituições, a fim de abastecerem, não a comunidade em geral, porém os próprios obreiros dessas entidades. Categoricamente, Kurz conhecia esta realidade das massas agrárias russas e as pistas de seu raciocínio e a sua crítica ao socialismo fazem bastante sentido. O mercado planificado acabou levando ao totalitarismo soviético dado a necessidade do Estado impor a planificação. Além disso, percebe-se a tentativa de proletarização forçada das massas agrárias, do camponês, como consequência de uma política partidária/estatal/revolucionária que concebe o camponês como resíduo social e que, portanto, vê na proletarização e no antagonismo com a burguesia a única forma de vencer o capitalismo, uma vez que o desenvolvimento do capitalismo no campo faria com que o camponês ou se transformasse em um pequeno capitalista ou se proletarizasse, nos termos de Lênin13 e Kautsky14. Essa qualidade capitalista da acumulação socialista primitiva consequentemente levou ao congelamento do estatismo e a militarização da sociedade. Nesse aspecto, Kurz destaca um regime estadista de acumulação e faz uma crítica tenaz ao Estado como engrenagem da mecânica capitalista e não como polo oposto a ele. Contudo, a crítica do autor, em minha leitura, beira a crítica da direita. Isso porque raramente Kurz promove uma crítica ao capital ou ao sistema produtor de mercadorias. Pelo 13 Lênin explorou tal questão em seu famoso livro: O desenvolvimento do capitalismo na Rússia: O processo de formação do mercado interno para a grande indústria. São Paulo: Abril Cultural, 1982. No raciocínio do revolucionário russo, a desintegração do campesinato por uma diferenciação interna geraria camponeses ricos (pequenos capitalistas) e camponeses pobres (que inevitavelmente teriam que se assalariar). Ou seja: o próprio desenvolvimento do capitalismo e de suas relações de produção engendraria o desaparecimento do campesinato. 14 Kautsky, por sua vez, pensava que o desenvolvimento das relações capitalistas no campo levaria a proletarização do campesinato. Tal análise está desenvolvida em seu livro A Questão Agrária. Trad. C. IPEROIG. 3ª. ed. São Paulo: Proposta Editorial, 1980.
  • 11. contrário, ele “apenas” se restringe a subsumir tudo ao capital, retira o foco da análise marxiana da luta de classes e acusa-a de sociologismo; E mais: privilegia o automovimento do dinheiro como uma verdadeira entidade da sociedade das mercadorias. Enfim, o cerne da obra de Kurz, parece-me que já fora entendido. Assim ele prossegue ao longo do texto defendendo o fim da sociedade do trabalho e mesmo dizendo que o socialismo será possivelmente lembrado no futuro como “uma nota de rodapé” (1992:85). Importante, porém, é a crítica que o autor faz da crise ecológica (1992:86) como crise do capital na medida em que desvela em sua faceta ambiental, pelo menos compreendo dessa forma, a racionalidade irracional (nesse sentido Kurz discorda de Weber) do sistema produtor de mercadorias. No bojo da discussão, a intentona socialista de “planejar racionalmente o mercado” não passa de uma ilusão em virtude de ser o capital o sujeito automático do processo histórico de modernização e não a ilusão da vontade política de uma subjetividade burguesa, como diz Kurz. Daí ele deduzir que o resultado lógico do socialismo real foi a economia de escassez cuja burocracia estatal mercantil e fechada não foi capaz de compreender o socialismo como imanente ao capital (1992:111). Fatalmente, os países socialistas e os de Terceiro Mundo se iludiram tanto estruturalmente - troca do modelo - quanto que historicamente - acreditando que haveria mais uma vez o milagre econômico15. Na realidade, o sistema produtor de mercadorias foi o grande responsável pela colonização de povos e territórios simultaneamente ao processo da acumulação primitiva necessário ao processo de produção do capital. Esta dupla articulação, ao lado da consolidação do estado-nação como elemento integrante do sistema produtor de mercadorias serviram para a imposição da lógica do capital e, nesse sentido, nem a União Soviética no dizer de Kurz, escapou da exageração do elemento estatista (1992:179) que contribuiu para a destruição de sistemas ecológicos fechados e de estruturar tradicionais. Por isso tudo, o sistema mundial produtor de mercadorias está em crise (KURZ, 1992:185). Logo, tanto os “perdedores” quanto os “vencedores” devem afastar de si próprios as falsas ilusões posto que o único elemento autoconsciente nesse sistema moribundo é a forma-mercadoria que sociabiliza criticamente as personas existentes. Assim, “profetiza” Kurz (1992:187) as revoltas vão aumentar e não diminuir. Isso como consequência do automovimento do dinheiro o verdadeiro fundamento do processo de 15 A rigor, a intensa e generalizada internacionalização do capital ocorreu no âmbito da intensa e generalizada internacionalização do processo produtivo. Os “milagres econômicos” que se sucedem ao longo da Guerra Fria e depois dela são também momentos mais ou menos notáveis dessa internacionalização (IANNI, 2007, p. 62).
  • 12. modernização cuja “razão mundial burguesa”, as leis históricas destrutivas e regras democráticas são apenas pura expressão. Como decorrência lógica, a normalidade capitalista é a forma de ser da anormalidade do sistema produtor de mercadorias, expressa tão bem pela crise ecológica. Mas essa crise ecológica é ela mesma uma expressão da crise do capital que se disseminou tal qual um “tumor maligno por metástases em um corpo aparentemente saudável” (KURZ, 1992:194). Esse verdadeiro “câncer social” de que nos fala Kurz se expressa, em sua visão, no colapso do sistema financeiro global e na decadência das estruturas sociais. Após o início da era das trevas que Kurz profetiza, a necessidade de superação da crise se impõe, mas não pela administração estatista: “a crise seria apenas superável se um consciente movimento social de supressão acabasse com a mera administração dessa crise, movimento que teria de derrubar, com violência maior ou menor, também esses aparatos” (KURZ, 1992: 210). Para o autor, está claro que o Estado apenas administra a crise principalmente em períodos emergenciais. A incapacidade que o capitalismo adquiriu de explorar a massa global do trabalho abstrato produtivamente explorado, a paralisação em número crescente de recursos materiais em países, a transformação da ciência em força produtiva e o próprio momento crítico do marxismo, são para Kurz modificações fundamentais que caracterizam a sociedade mundial. A saída da crise para o autor é a “razão prática, que pode ser imanente, isto é, que se limita à superação de determinada situação histórica” (KURZ, 1992, p.215-216). Daí decorre, para Kurz, a incapacidade da razão crítica iluminista de fornecer a saída para a crise do sistema produtor de mercadorias. Para finalizar, uma pergunta fica no ar após apreciarmos o julgamento contundente de Robert Kurz: não seria esta própria razão prática, enfim, a própria crítica do autor, uma forma de ser da crise do sistema produtor de mercadorias? REFERÊNCIAS CHAUÍ, Marilena. O que é ideologia. 2ªed. São Paulo: Brasiliense, 2008. HARVEY, David. A geografia do Manifesto. TRAD. G. ONDETTI; L. PEREIRA; L. F. ALMEIDA. Disponível em http://www4.pucsp.br/neils/downloads/v4_artigo_david.pdf. Acesso em 21 de setembro de 2011. IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. 14ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
  • 13. KAUTSKY, Karl. A questão agrária. Trad. C. IPEROIG. 3ª. ed. São Paulo: Proposta Editorial, 1980. KURZ, Robert. O Colapso da Modernização: da derrocada do socialismo de caserna à crise da economia mundial. TRAD. Karen Elsabe BARBOSA. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. LALLEMENT, Michel. História das ideias sociológicas: das origens a Max Weber. 2ªed.Trad. Ephraim F. ALVES. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. Partes II e III. pp.85-321. LÊNIN, Vladimir. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia: O processo de formação do mercado interno para a grande indústria. São Paulo: Abril Cultural, 1982. MARX, Karl Heinrich. O capital: crítica da economia política. Livro I. Trad. Reginaldo SANT’ANNA. 21ªed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. Trad. Pietro NASSETTI. 2ª ed. 1ª reimp. São Paulo: Martin Claret, 2008. MARX, Karl Heinrich. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. 2ªed. Portugal-Brasil: Editorial Presença, 1983. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Modo de Produção Capitalista, Agricultura e Reforma Agrária. São Paulo: FFLCH, 2007, 184p. PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Ou Inventamos ou Erramos. Encruzilhadas da Integração Regional Sul-americana. Anais do V Simpósio Internacional de Geografia Agrária/VI Simpósio Internacional de Geografia Agrária. Belém, UFPA, 7 a 11 de novembro de 2011. VESENTINI, J. W. Novas Geopolíticas. 4ª ed. 1ª reimp. São Paulo: Contexto, 2007.