1) O documento descreve uma nova modalidade de orientação adaptada para pessoas com deficiência intelectual, com regras simplificadas e atividades lúdicas e competitivas.
2) A atividade consiste em seguir um percurso com pontos de controlo identificados por sequências de cores no mapa e no terreno, e assinalar as respostas corretas num cartão.
3) A orientação adaptada pretende promover a inclusão através da partilha do espaço, interação e desenvolvimento de competências num jogo com regras simples.
1. ORIENTAÇÃO ADAPTADA
UM DESPORTO PARA A
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
PROJECTO DESENVOLVIDO POR
JOAQUIM MARGARIDO
FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE ORIENTAÇÃO
DIREÇÃO TÉCNICA NACIONAL
REVISTO E ATUALIZADO EM OUTUBRO DE 2012
2. INTRODUÇÃO
A Orientação, embora relativamente recente em Portugal, é um desporto organizado já com mais de
100 anos de existência.
Os registos indicam que terá sido em Bergen, na Noruega, no dia 31 de Outubro de 1897, que se
organizou a primeira actividade desportiva de Orientação. Os países nórdicos são, ainda hoje,
aqueles onde a modalidade tem maior implantação, mobilizando um número de praticantes que a
coloca entre os cinco desportos mais praticados na Escandinávia.
Ao longo deste século de existência, a modalidade foi evoluindo, tornando-se num desporto
altamente desenvolvido que permite a partilha, em simultâneo, do mesmo espaço e tempo,
independentemente do nível físico ou técnico, da idade ou do género do praticante.
À Orientação Pedestre somam-se hoje a Orientação em Esqui, a Cavalo, em Canoa e também a
Orientação em Bicicleta e a Orientação de Precisão, esta última particularmente vocacionada para
pessoas com mobilidade reduzida, deslocando-se em cadeira de rodas. Neste contexto, de fora
ficam, ente outras, as pessoas com deficiência intelectual, sobretudo pela dificuldade em estruturar-
se um conjunto de normas orientadoras que leve em conta a multiplicidade e complexidade destes
grupos e possam ser entendidas como as “regras do jogo”.
Apesar das contingências, prevalece a consciência de que a vida é feita de constante aprendizagem.
É da ousadia das atitudes de cada um que resulta o prazer de colher os frutos das suas acções e do
seu esforço. Nesse sentido, o Grupo Desportivo dos Quatro Caminhos e o Núcleo de Desporto
Adaptado do Hospital da Prelada, com os apoios da Associação Nacional do Desporto para a
Deficiência Intelectual e da Federação Portuguesa de Orientação, avançaram com um conjunto de
pressupostos que, no seu todo, definem uma nova disciplina da Orientação, à qual se convencionou
chamar Atividade de Orientação Adaptada.
A uma experiência pioneira a nível mundial, levada a cabo no Parque da Cidade do Porto, no dia 14
de Outubro de 2011, seguiram-se várias outras iniciativas que envolveram até à data sete clubes da
esfera da Orientação nacional, cerca de três dezenas de instituições ligadas à problemática da
Deficiência Intelectual e muito perto de mil agentes, entre atletas, monitores e acompanhantes.
Também além fronteiras a modalidade começa a despertar interesse, sobretudo na vizinha Espanha,
com três atividades levadas a cabo em Saragoça, e ainda no Uruguai, com uma atividade de
demonstração realizada no âmbito do último Campeonato Sul-Americano de Orientação.
3. O QUE É A ORIENTAÇÃO ADAPTADA?
Originalmente desenvolvida a partir da Orientação de Precisão, a Orientação Adaptada pretende ser
entendida como uma disciplina da Orientação, particularmente vocacionada para grupos específicos
e onde se incluem a deficiência intelectual e as crianças em idade pré-escolar.
O desenvolvimento da atividade leva em conta a experiência do participante e as suas capacidades
intelectuais e físicas e divide-se em dois tipos, um puramente lúdico e outro que encerra uma
vertente competitiva. O primeiro toma o nome de “Atividade de Orientação Adaptada”, enquanto o
segundo se designa por “Competição de Orientação Adaptada” ou, simplesmente, “Orientação
Adaptada”.
Um mapa, um percurso, um espaço natural de liberdade e uma mão cheia de desafios. É esta a
essência do “jogo”, que se desenrola ao longo dum número variável de pontos assinalados num
mapa e materializados no terreno por balizas que devem ser visitadas de forma sequencial. A
escolha do itinerário entre cada ponto de controlo não é, em qualquer um dos casos, uma opção do
participante.
A cada participante pede-se que faça a correlação entre aquilo que se encontra assinalado no mapa e
que está depois materializado no terreno, sob a forma de sequência de cores. As respostas são
assinaladas por meio de picotador em cartão fornecido pela organização a cada participante antes
de iniciar a sua prova.
4. PONTO DE PARTIDA
No início, cada participante recebe um mapa e um cartão. No mapa, para além do terreno onde a
prova se vai realizar, está impressa uma sinalética que indica os pontos que a compõem e a
sequência de cores que corresponde à resposta correcta (figura 1).
Figura 1 – Exemplo de Sinalética
As cores utilizadas são o verde, o azul e o vermelho, permitindo uma combinação de seis
sequências diferentes. A cada uma destas combinações corresponde um pictograma (figura 2).
Inspirados numa linguagem de afectos desenvolvida por Charles Bliss , o número total de
pictogramas é de cinco (figura 3).
Figura 2 – Exemplo de sequência
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Figura 3 – Pictogramas
5. O cartão de controlo subdivide-se num conjunto de quadrículas, onde se faz a correspondência entre
os vários pontos de controlo e cada um dos pictogramas. O participante deve assinalar, por meio de
picotador, qual o pictograma que corresponde à sequência de cores correcta em cada um dos pontos
de controlo (figura 4).
Figura 4 – Cartão de Controlo
AAtividade de Orientação Adaptada desenrola-se exclusivamente ao longo de caminhos,
permitindo a participação a todos os indivíduos que, para além do grau de deficiência intelectual de
que são portadores, apresentam também mobilidade reduzida, deslocando-se em cadeira de rodas ou
com auxílio de apoios externos. Além do picotador, os participantes devem ter à sua disposição uma
esferográfica como forma alternativa de assinalar a sua resposta. Esta destina-se apenas àqueles cuja
mobilidade fina esteja particularmente diminuída ou mesmo ausente, de acordo com as indicações /
informação do monitor. No sentido de obstar a que entidades clínicas adjuvantes, como por exemplo
o daltonismo, possam colocar em desvantagem alguns participantes, poderá a organização fazer
corresponder a cada cor uma imagem, por exemplo o morango em relação ao vermelho, o figo em
relação ao verde e as uvas em relação ao azul. Refira-se ainda que a Atividade de Orientação
Adaptada não encerra em si uma vertente competitiva, pelo que não está sujeita a uma classificação
nem ao fator tempo.
Na Competição de Orientação Adaptada, o traçado dos percursos não está sujeito à obrigatoriedade
de se desenrolar ao longo de caminhos, podendo estender-se a outros espaços. As respostas devem
ser assinaladas no cartão com recurso exclusivamente a picotador. Finalmente, em relação ao cartão
de controlo, a existência duma sexta quadrícula no cartão, onde se encontra assinalado um “x”, tem
a ver com a possibilidade de nenhuma das sequências apresentadas corresponder à sequência
pretendida. Esta situação não se verifica na Atividade de Orientação Adaptada, onde a hipótese “x”
não existe.
6. UM PERCURSO DE ORIENTAÇÃO ADAPTADA
Tanto na Atividade de Orientação Adaptada como na Competição de Orientação Adaptada, o terreno
assume uma importância primordial. Recomenda-se que a distância não seja superior a 1200 metros
e o percurso deva ser traçado sobre trilhos em áreas com desníveis inexistentes ou pouco
significativos, evitando-se acidentes de terreno ou barreiras arquitectónicas. No caso da Atividade
de Orientação Adaptada, o percurso poderá ser balizado por meio de sinalização adequada (fitas,
cordas), permitindo a progressão dos participantes de forma autónoma e sem correrem o risco de
saírem do trilho e perderem-se.
Cada ponto de controlo está materializado no terreno por um ponto de observação e, em face a este,
por um conjunto de quatro balizas, nas quais estão montadas as sequências de cores (figura 5).
Todas as sequências, bem como os respectivos pictogramas, devem ser diferentes entre si. As
balizas devem estar sufucientemente próximas umas das outras, de forma a que possam ser
visualizadas em simultâneo.
Figura 5 – Exemplo de ponto de controlo
Na Competição de Orientação Adaptada, os participantes fazem a prova a título individual, sendo
registado no cartão de controlo a hora de partida e de chegada para apuramento do tempo gasto no
percurso. No caso da Atividade de Orientação Adaptada, a prova desenrola-se em grupo,
obrigatoriamente enquadrado por um monitor. Os grupos serão constituídos por um número
máximo de seis pessoas. Em qualquer dos casos, os participantes podem “invadir” o espaço de jogo,
devendo ser estimulados a observar atentamente cada uma das sequências e a compará-las com
aquilo que surge indicado na sinalética do mapa que transportam consigo. Regressam então ao
ponto de observação e, por meio de picotador, assinalam a resposta no respetivo cartão de controlo.
7. CONCLUSÃO
Neste primeiro ano de vida, a Atividade de Orientação Adaptada permitiu comprovar aquilo que
suspeitávamos: a perfeita adequabilidade desta disciplina à problemática da Deficiência Intelectual.
A experimentação e a observação permitiram retirar algumas ilações muito importantes e que se
encontram plasmadas nesta atualização.
Pretendemos prosseguir com mais iniciativas, tendentes a incrementar o desenvolvimento desta
disciplina, ao mesmo tempo que vamos, de forma consciente, dar o passo seguinte e que consiste na
Comeptição de Orientação Adaptada. Serão levadas a cabo algumas provas de Orientação Adaptada
e este esforço culminará com a realização do primeiro Campeonato Nacional da Disciplina, em
Junho de 2013, integrado no III Open de Orientação de Precisão do Hospital da Prelada.
Não nos devemos esquecer. Contudo, que há uma ideia-chave que preside a este projecto:
Orientação Adaptada, um desporto para a inclusão!
A Orientação Adaptada é, assim, um meio para se atingir um fim primeiro, o da partilha dum
mesmo espaço e dum mesmo tempo, a interacção da pessoa com os outros e com o ambiente que a
rodeia, o desenvolvimento de aptidões e a aquisição de competências, por intermédio de regras
simples que, no seu todo, fazem desta disciplina um jogo.
Mas como não podia deixar de ser, é toda uma série de conceitos que, no seu todo, configuram a
Orientação enquanto modalidade desportiva, que aqui está em causa. Um mapa, um percurso, um
espaço natural de liberdade e uma mão cheia de desafios são elementos que remetem, de forma
inequívoca, para o desporto da floresta. Lá está o trilho em cujo final se adivinha o prazer da
descoberta, lá está a salutar competição no respeito pelas regras e pelo outro, lá está a nossa
consciência ambiental a lembrar-nos que são únicos os espaço que pisamos e cuja integridade temos
o dever de preservar e defender.
E lá estão os participantes, irmanados dum mesmo espírito, únicos na sua individualidade, a
lembrar-nos que “todos diferentes, todos iguais”!