Este trabalho apresenta o desenvolvimento e validação de metodologias para determinação de furanocumarinas em medicamentos fitoterápicos por cromatografia líquida de alta eficiência com detecção por UV. Foram desenvolvidas metodologias para soluções orais, cápsulas e comprimidos, validadas por parâmetros como recuperação, especificidade, limites de detecção e quantificação, estabilidade, curva de calibração e precisão. Estudos preliminares com plantas presentes nos medicamentos foram realizados para identificação
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA
DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE METODOLOGIAS
PARA DETERMINAÇÃO DE FURANOCUMARINAS EM
MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS
ADRIANA ELIAS PIRES
Orientadora: Prof. Dra. Cláudia Andréa Lima Cardoso
Campo Grande, MS
2004
2. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE QUÍMICA
DESENVOLVIMENTO E VALIDAÇÃO DE METODOLOGIAS
PARA DETERMINAÇÃO DE FURANOCUMARINAS EM
MEDICAMENTOS FITOTERÁPICOS
ADRIANA ELIAS PIRES
Orientadora: Prof. Dra. Cláudia Andréa Lima Cardoso
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Química –
Curso de Mestrado em Química, da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
como parte dos requisitos para obtenção do
Título de Mestre em Química, área de
concentração: Química Orgânica.
Campo Grande, MS
2004
3. "O Mestre na arte da vida
faz pouca distinção entre
o seu trabalho e o seu lazer,
entre a sua mente e o seu corpo, ...
entre o seu amor e a sua religião.
Ele simplesmente
persegue sua visão de excelência
em tudo que faz,
deixando para os outros
a decisão de saber se
está trabalhando ou
se divertindo."
Texto Budista
4. DEDICATÓRIA
Dedico a presente dissertação aos meus pais
Dario Xavier Pires e Tânia Mara Elias Pires,
presentes, dedicados, amorosos, sem os quais
nada seria possível.
Ao meu namorado Sókrates Campos Quevedo dos
Santos, prestativo e amoroso, companheiro de
todas as horas.
As minhas queridas irmãs Claudia e Fernanda.
A Deus por conceder a vida, a oportunidade de
compartilhá-la com pessoas tão maravilhosas, o
discernimento e o equilíbrio que me fizeram
completar mais esta etapa da vida.
5. AGRADECIMENTOS
A Deus.
À Professora Dra. Cláudia Andréa Lima Cardoso, pela preciosa e
incessante orientação deste trabalho, apoio, amizade e compreensão.
Às professoras Dra. Neli K. Honda e Dra. Rosenei L. Brum, pelos
ensinamentos, colaboração e por oferecerem o laboratório para realização deste
trabalho.
Aos professores Dra. Fernanda R. Garcez, Dr. Walmir S. Garcez, Dra.
Neuza M. Mazzaro Somera, Dra. Rozanna M. Muzzi, Dra. Nilva R. Poppi, Dra.
Márcia R. da Matta, que me proporcionaram novos conhecimentos.
Ao Luís Leonardo Viana pela colaboração e pelos grandes ensinamentos
na arte da cromatografia líquida.
À Mestre Roberta do laboratório de análises instrumentais da INEP, pela
realização de análises em cromatografia gasosa.
À Professora Dra. Conceição Eneida dos Santos Silveira e ao mestrando
em Botânica Dario Palhares da Universidade de Brasília pelas coletas e
identificação de Brosimum gaudichaudii.
Aos colegas do curso de Mestrado em Química da UFMS e todos os
demais colegas.
Aos secretários do Mestrado do DQI/UFMS Celestino G. de Oliveira e
Maria Otávia P. V. de Toledo pela colaboração.
A todos os funcionários e técnicos do Departamento de Química da
UFMS, em especial a Dona Rosa pela prestimosa organização do laboratório.
À CAPES pela bolsa concedida.
6. SUMÁRIO
ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................. v
ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................ ix
ABREVIATURAS ....................................................................................................... xi
RESUMO .................................................................................................................. xii
ABSTRACT .............................................................................................................. xiii
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1
1.1. Introdução Geral .......................................................................................................... 1
1.2. Furanocumarinas......................................................................................................... 3
1.3. Plantas contendo furanocumarinas .......................................................................... 7
1.3.1. Dorstenia .............................................................................................................. 7
1.3.1.1. Dorstenia multiformes ................................................................................. 9
1.3.1.2. Dorstenia brasiliensis ................................................................................. 9
1.3.2. Brosimum gaudichaudii .................................................................................... 10
1.4. Medicamentos Fitoterápicos .................................................................................... 11
1.4.1. Outras plantas presentes nos medicamentos estudados........................... 12
1.4.1.1. Davilla rugosa ............................................................................................ 12
1.4.1.2. Plumeria lancifolia ..................................................................................... 13
1.4.1.3. Erythrina mulungu ..................................................................................... 13
1.4.1.4. Cereus jamacaru ....................................................................................... 13
1.5. Legislação de Fitoterápicos ..................................................................................... 14
1.6. Técnicas Instrumentais de Análise ......................................................................... 17
1.7. Validação de Métodos Analíticos ............................................................................ 18
1.7.1. Desenvolvimento do método ........................................................................... 19
1.7.2. Parâmetros de validação ................................................................................. 20
1.7.2.1. Especificidade / seletividade ................................................................... 20
1.7.2.2. Limite de quantificação (LQ) ................................................................... 21
1.7.2.3. Limite de detecção (LD) ........................................................................... 23
1.7.2.4. Linearidade e faixa de aplicação ............................................................ 23
i
7. 1.7.2.5. Sensibilidade .............................................................................................. 26
1.7.2.6. Exatidão ...................................................................................................... 27
1.7.2.7. Precisão ...................................................................................................... 28
1.7.2.8. Estabilidade ................................................................................................ 30
1.7.2.9. Robustez..................................................................................................... 30
1.7.3. Parâmetros de validação requeridos ............................................................. 31
2. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 32
3. PARTE EXPERIMENTAL ................................................................................................ 33
3.1. Materiais e Equipamentos Utilizados ..................................................................... 33
3.1.1. Materiais utilizados............................................................................................ 33
3.1.2. Solventes utilizados .......................................................................................... 33
3.1.3. Equipamentos utilizados .................................................................................. 33
3.2. Medicamentos Fitoterápicos .................................................................................... 35
3.3. Desenvolvimento das Metodologias....................................................................... 38
3.3.1. Soluções orais ................................................................................................... 38
3.3.2. Cápsulas e comprimidos .................................................................................. 39
3.4. Validação das Metodologias .................................................................................... 40
3.4.1. Recuperação ...................................................................................................... 40
3.4.2. Limites de detecção e quantificação. ............................................................. 41
3.4.3. Curva de calibração .......................................................................................... 41
3.4.4. Linearidade ......................................................................................................... 42
3.4.5. Acurácia e precisão .......................................................................................... 42
3.4.6. Estabilidade ........................................................................................................ 43
3.4.7. Especificidade .................................................................................................... 43
3.5. Outros Estudos Realizados ..................................................................................... 44
3.5.1. Novas condições cromatográficas.................................................................. 44
3.5.2. Hidrólise das soluções orais A, B e C. ........................................................... 44
3.5.3. Estudos preliminares com plantas presentes nos medicamentos
fitoterápicos............................................................................................................................. 45
3.5.3.1. Material vegetal ......................................................................................... 45
3.5.3.2. Preparação das amostras ........................................................................ 47
ii
8. 3.5.3.2.1. Preparação de amostras para determinação do comprimento de
onda ......................................................................................................................................... 47
3.5.3.2.2. Preparação de extratos de agoniada ............................................. 47
3.5.3.2.3. Preparação de extratos de Brosimum gaudichaudii.................... 47
3.5.3.2.4. Preparação de extratos de carapiá, mamica de cadela,
Dorstenia multiformes e Brosimum gaudichaudii ............................................................. 48
3.5.3.2.5. Preparação de tinturas por maceração e por percolação de
Dorstenia brasiliensis e Brosimum gaudichaudii .............................................................. 49
3.5.3.2.6. Hidrólise de Dorstenia brasiliensis e Brosimum gaudichaudii ... 49
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 50
4.1. Desenvolvimento das Metodologias....................................................................... 51
4.1.1. Soluções orais ................................................................................................... 51
4.1.2. Cápsulas e comprimidos .................................................................................. 59
4.2. Validação das Metodologias .................................................................................... 63
4.2.1. Recuperação ...................................................................................................... 64
4.2.2. Especificidade .................................................................................................... 67
4.2.3. Limites de detecção e quantificação .............................................................. 69
4.2.4. Estabilidade ........................................................................................................ 70
4.2.5. Curva de calibração .......................................................................................... 70
4.2.6. Linearidade do método ..................................................................................... 72
4.2.7. Acurácia e precisão .......................................................................................... 72
4.3. Avaliação das Quantidades Obtidas nos Medicamentos Analisados ............... 75
4.4. Outros Estudos Realizados ..................................................................................... 82
4.4.1. Novas condições cromatográficas.................................................................. 82
4.4.2. Hidrólise das soluções orais A, B e C ............................................................ 90
4.4.3. Estudos preliminares com plantas presentes nos medicamentos
fitoterápicos............................................................................................................................. 90
4.4.3.1. Determinação do comprimento de onda ............................................... 90
4.4.3.2. Comparação de perfis cromatográficos dos extratos de agoniada... 92
4.4.3.3. Teores de furanocumarinas em Brosimum gaudichaudii ................... 94
4.4.3.4. Comparação entre amostras de carapiá, mamica de cadela,
Dorstenia brasiliensis e Brosimum gaudichaudii .............................................................. 97
iii
9. 4.4.3.5. Maceração e percolação de Dorstenia brasiliensis e Brosimum
gaudichaudii .......................................................................................................................... 101
4.4.3.6 - Hidrólise de Dortenia brasiliensis e Brosimum gaudichaudii .......... 105
5. CONCLUSÕES ................................................................................................................ 107
6. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 109
iv
10. LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Estrutura básica das cumarinas. ................................................................ 3
Figura 2 – Exemplos de furanocumarinas. .................................................................. 5
Figura 3 – Furanocumarinas preniladas encontradas em Dorstenia brasiliensis. ....... 8
Figura 4 – Exemplos de cumarinas encontradas em Brosimum gaudichaudii. ......... 11
Figura 5 – Pico de CLAE-UV representando uma relação sinal-ruído de 10:1.......... 22
Figura 6 – Curva de calibração por padrão externo. ................................................. 24
Figura 7 – Curva de calibração por adição de padrão na matriz contendo o analito . 25
Figura 8 – Curva de calibração com adição de padrão interno. ................................ 25
Figura 9 – Regressão linear de uma curva de calibração. Reta vermelha, reta ideal
estimada por regressão linear. .................................................................................. 26
Figura 10 - Estrutura das substâncias analisadas ..................................................... 50
Figura 11 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV do medicamento A
(amostra bruta). ......................................................................................................... 52
Figura 12 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV do medicamento B
(amostra bruta). ......................................................................................................... 53
Figura 13 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV do medicamento C
(amostra bruta). ......................................................................................................... 53
Figura 14 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da solução para
quantificação de furanocumarinas do medicamento A. ............................................. 55
Figura 15 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da solução para
quantificação de furanocumarinas do medicamento B. ............................................. 56
Figura 16 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da solução para
quantificação de furanocumarinas do medicamento C. ............................................. 56
Figura 17 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da solução para estudos
posteriores do medicamento A. ................................................................................. 57
Figura 18 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da solução para estudos
posteriores do medicamento B. ................................................................................. 57
Figura 19 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da solução para estudos
posteriores do medicamento C.................................................................................. 58
v
11. Figura 20 – Cromatograma obtido da análise por CG-EM da solução para
quantificação de furanocumarinas do medicamento C. ............................................. 59
Figura 21 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da solução de análise do
medicamento E. ........................................................................................................ 61
Figura 22 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da solução de análise do
medicamento F.......................................................................................................... 61
Figura 23 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da solução de análise do
medicamento G. ........................................................................................................ 62
Figura 24 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da solução de análise do
medicamento H. ........................................................................................................ 62
Figura 25 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da solução de análise do
medicamento I. .......................................................................................................... 63
Figura 26 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV representativo de
análises de soluções orais. ....................................................................................... 67
Figura 27 –Cromatograma obtido por CG-DIC representativo de análises de
soluções orais. .......................................................................................................... 68
Figura 28 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV representativo de
análises de cápsulas e comprimidos. ........................................................................ 68
Figura 29 –. Cromatograma obtido por CG-EM representativo de análises de
cápsulas e comprimidos. ........................................................................................... 69
Figura 30 – Comparação entre as quantidades determinadas (µg mL-1) de psoraleno
e bergapteno nos diferentes lotes de soluções orais A, B e C por análise em CLAE-
UV e CG-DIC............................................................................................................. 77
Figura 31 - Comparação entre as quantidades determinadas (µg mL-1) de psoraleno,
bergapteno e DT nos diferentes lotes de medicamentos E, F, G, H e I por análise em
CLAE-UV e CG-EM. .................................................................................................. 78
Figura 32 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV da extração do
comprimido J. ............................................................................................................ 80
Figura 33 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição isocrática
para estudo do perfil cromatográfico do medicamento A (amostra bruta). ................ 83
Figura 34 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição isocrática
para estudo do perfil cromatográfico do medicamento B (amostra bruta). ................ 83
vi
12. Figura 35 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição isocrática
para estudo do perfil cromatográfico do medicamento C (amostra bruta). ................ 84
Figura 36 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 do
medicamento A (amostra bruta). ............................................................................... 85
Figura 37 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 do
medicamento B (amostra bruta). ............................................................................... 86
Figura 38 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 do
medicamento C (amostra bruta). ............................................................................... 86
Figura 39 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 da
solução para quantificação de furanocumarinas do medicamento A. ....................... 87
Figura 40 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 da
solução para quantificação de furanocumarinas do medicamento B. ....................... 87
Figura 41 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 da
solução para quantificação de furanocumarinas do medicamento C. ....................... 88
Figura 42 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 da
solução para estudos posteriores do medicamento A. .............................................. 88
Figura 43 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 da
solução para estudos posteriores do medicamento B. .............................................. 89
Figura 44 - Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 da
solução para estudos posteriores do medicamento C. .............................................. 89
Figura 45 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV, na condição para
quantificação de furanocumarinas, de extrato etanólico de carapiáx......................... 91
Figura 46 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV, na condição isocrática
para estudo do perfil cromatográfico, de extrato etanólico de carapiá x. .................... 92
Figura 47 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição isocrática
para estudo do perfil cromatográfico do extrato etanólico de agoniada x. .................. 93
Figura 48 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição isocrática
para estudo do perfil cromatográfico do extrato etanólico de agoniada y. .................. 93
Figura 49 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição isocrática
para estudo do perfil cromatográfico do extrato etanólico de agoniada z. .................. 94
Figura 50 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV de extrato etanólico de
raiz de Brosimum gaudichaudiix. ............................................................................... 95
vii
13. Figura 51 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV do extrato etanólico de
caule de Brosimum gaudichaudiix. ............................................................................ 95
Figura 52 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV do extrato etanólico de
folhas de Brosimum gaudichaudiix. ........................................................................... 96
Figura 53 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV (10 µL da solução final
de 10 mL) do extrato etanólico de lenho da raiz de Brosimum gaudichaudiix. .......... 96
Figura 54 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV (5 µL solução final de 25
mL) do extrato etanólico de casca da raiz de Brosimum gaudichaudiix. .................... 97
Figura 55 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV do extrato etanólico de
carapiáx. .................................................................................................................... 98
Figura 56 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV do extrato etanólico de
carapiáy. .................................................................................................................... 98
Figura 57 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV do extrato etanólico de
rizoma de Dorstenia brasiliensisx. ............................................................................. 99
Figura 58 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV do extrato etanólico de
mamica de cadelax. ................................................................................................... 99
Figura 59 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV do extrato etanólico de
raiz de Brosimum gaudichaudiix. ............................................................................. 100
Figura 60 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 da
tintura produzida por percolação de Dorstenia brasiliensisx. ................................... 103
Figura 61 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 da
tintura produzida por percolação de Brosimum gaudichaudiiy. ................................ 103
Figura 62 – Cromatograma obtido da análise por CLAE-UV na condição G2 do
medicamento D (amostra bruta). ............................................................................. 104
Figura 63 - Quantidades de psoraleno e bergapteno (porcentagem por peso seco de
amostra) nas amostras de D.brasiliensisx, B.gaudichaudiiy e B.gaudichaudiiz
hidrolisadas e não hidrolisadas. .............................................................................. 106
viii
14. LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Programação de temperatura utilizada em CG-DIC e CG-EM29 .............. 35
Tabela 2 - Informações sobre denominações, lotes, data de fabricação, data de
validade e cidade de aquisição dos medicamentos. ................................................. 37
Tabela 3 - Amostras de plantas adquiridas no comércio de Campo Grande. ........... 46
Tabela 4 - Tempo de retenção (minutos DP) das furanocumarinas em diferentes
equipamentos, empregando as condições de quantificação. .................................... 51
Tabela 5 – Porcentagens de recuperação de psoraleno e bergapteno nas soluções
orais A, B e C (n=15). ................................................................................................ 65
Tabela 6 – Porcentagens de recuperação de psoraleno, bergapteno e DT nas
cápsulas e comprimidos E, F, G, H e I (n=15). .......................................................... 66
Tabela 7 - Limite de detecção e quantificação (μg mL-1) para psoraleno, bergapteno
e DT em CLAE-UV, CG-DIC e CG-EM. .................................................................... 69
Tabela 8 - Dados de regressão linear das curvas de calibração para determinação
quantitativa de psoraleno e bergapteno por CLAE-UV e CG-DIC para soluções orais.
.................................................................................................................................. 71
Tabela 9 - Dados de regressão linear das curvas de calibração para determinação
quantitativa de psoraleno, bergapteno e DT por CLAE-UV e CG-DIC para cápsulas e
comprimidos. ............................................................................................................. 71
Tabela 10 - Acurácia e precisão intradia do método por CLAE para determinação (μg
ml-1)(média DP) de psoraleno e bergapteno em amostras das soluções orais A, B e
C (n=12). ................................................................................................................... 73
Tabela 11 - Acurácia e precisão interdia do método por CLAE para determinação (μg
ml-1) (média DP) de psoraleno e bergapteno em amostras das soluções orais A, B
e C (n=15). ................................................................................................................ 73
Tabela 12 - Acurácia e precisão intradia do método por CLAE para determinação (μg
mL-1) (média DP) de psoraleno, bergapteno e DT em amostras de cápsulas e
comprimidos E, F, G, H e I (n=15). ............................................................................ 74
ix
15. Tabela 13 - Acurácia e precisão interdia do método por CLAE para determinação (μg
mL-1) (média DP) de psoraleno, bergapteno e DT em amostras de cápsulas e
comprimidos E, F, G, H e I (n=15). ............................................................................ 74
Tabela 14 - Quantidade (μg mL-1) (média DP) de furanocumarinas nas soluções
orais empregando o método com CLAE-UV (n=15). ................................................. 75
Tabela 15 - Quantidade (μg/100 mg de cápsula ou comprimido) (média DP) de
furanocumarinas empregando o método com CLAE-UV (n=15). .............................. 76
Tabela 16 - Teores de psoraleno e bergapteno (porcentagem por peso seco de
amostra) extraídos pelo procedimento com álcool etílico absoluto e reextrações com
clorofórmio............................................................................................................... 100
Tabela 17 - Teores de psoraleno e bergapteno (porcentagem por peso seco de
amostra) nas tinturas de D.brasiliensisx e B.gaudichaudiiy obtidas por maceração e
percolação. .............................................................................................................. 102
Tabela 18 – Comparação entre as quantidades (μg mL-1) de furanocumarinas
presentes nas tinturas de D.multiformes presentes nas soluções orais A, B, C e D e
as quantidades determinadas nas tinturas de D.brasiliensisX obtidas por maceração
e percolação. ........................................................................................................... 105
x
16. LISTA DE ABREVIATURAS
PUVA - Psoralen plus UVA
P.A. - Pureza analítica
CLAE - Cromatografia líquida de alta eficiência
CLAE-UV - Cromatografia líquida de alta eficiência com detector de ultravioleta
CLAE-DAD - Cromatografia líquida de alta eficiência com detector de arranjo de
fotodiodos.
CG - Cromatografia em fase gasosa
CG-DIC – Cromatografia em fase gasosa com detector de ionização de chama
CG-EM - Cromatografia em fase gasosa acoplada a espectrometria de massas
UV - Ultravioleta
UVA - Ultravioleta A
RNA - Ácido ribonucleico
DNA – Ácido desoxirribonucleico
m – massa
v – volume
xi
17. RESUMO
A fitoterapia constitui uma forma de terapia medicinal que tem crescido notadamente
nestes últimos anos, criando a necessidade de garantir a eficácia, segurança e
qualidade dos medicamentos fitoterápicos. O presente estudo desenvolveu
metodologias para determinação de furanocumarinas em medicamentos fitoterápicos
empregando CLAE-UV. Foram analisados medicamentos fitoterápicos na forma de
soluções orais, cápsulas e comprimidos, os quais foram formulados, empregando
espécies de Dorstenia ou Brosimum entre outras associações. Sete deles são
indicados para tratamento de distúrbios menstruais ou menopausa. Três deles são
utilizados para tratamento do vitiligo. Apenas um dos medicamentos possui
informação sobre a presença de uma furanocumarina em sua composição nas bulas
ou folhetos. Os métodos otimizados foram validados segundo as normas da
International Conference on Harmonization, mostrando boa especificidade, acurácia,
precisão e linearidade. O estudo interequipamento utilizando CG-DIC para soluções
orais e CG-EM para cápsulas e comprimidos, não revelou diferenças estatísticas
significativas. Devido a grande variedade das formulações dos medicamentos
utilizados no desenvolvimento e validação dos métodos, sugere-se que estes
possam ser utilizados para análise de psoraleno, bergapteno e 5-[3-(4,5-Diidro-5,5-
dimetil-4-oxo-2-furanil)-butoxi]-7H-furo[3-2-g][1] benzopiran-7-ona em outras
formulações de fitoterápicos presentes no mercado. O estudo do perfil
cromatográfico dos medicamentos foi realizado em condições isocráticas e em
gradiente por CLAE-UV. Foram determinadas furanocumarinas em nove
medicamentos analisados, o que oferece riscos à saúde pública devido ao
desconhecimento da presença destas substâncias, na maioria destes produtos.
Além disso, a furanocumarina encontrada em maior quantidade nos medicamentos
estudados foi o psoraleno, considerado mais tóxico que a xantotoxina, normalmente
prescrita pelos médicos para tratamento de doenças de pele. O uso de fitoterápicos
contendo furanocumarinas no tratamento de distúrbios menstruais pode ser
considerado de alto risco se for considerada a relação risco-benefício, pois se
acredita que sejam indicados pelas propriedades anticoagulantes das cumarinas
presentes nas plantas da formulação. Realizou-se também o estudo do perfil
cromatográfico e dosagem de furanocumarinas em plantas presentes nas
formulações dos medicamentos, utilizando tanto amostras adquiridas no comércio
como amostras identificadas.
xii
18. ABSTRACT
The phytoterapy constitutes a form of medical therapy that notably have
been growing in the last years, creating the necessity to guarantee the effectiveness,
security and quality of phytomedicines. The present study has the development of
methodologies for the determination HPLC of furanocoumarins in phytomedicines.
Four oral solutions, three capsules and three tablets, all formulated using species of
Dorstenia or Brosimum among others associations, were analyzed. Seven of them
are indicated for the treatment of menstrual irregularities and disturbances related to
menopause. The other three are used for the treatment of vitiligo. Only one of the
medicines showed the information on the presence of furanocoumarin in its
composition. The optimized methods were validated according to the International
Conference of Harmonization, showing good specificity, accuracy, the inter- and
intra-day precision and linearity. The inter-equipment study was performed using GC-
FID for oral solutions and GC-MS for capsules and tablets. They did not displayed
significant statistic differences. Due to the great variety in the formulations of the
medicines used in the development and validation of the methods, it is suggested
that they can be used for analysis of psoralen, bergapten and 5-[3-(4,5-Dihydro-5,5-
dimethyl-4-oxo-2-furanyl)-butoxy]-7H-furo[3-2-g][1] benzopyran-7-one in the
formulation of other phytomedicines found at commerce. The study of the
chromatographic profile of medicines was evaluated in isocratic and gradient runs by
HPLC-UV. Furanocoumarins were detected in nine of the medicines analyzed. The
lack of knowledge of the presence of these substances in most of the analyzed
products offers risks to the public health. Moreover, psoralen was the furanocoumarin
found in the largest amount. Psoralen is considered more toxic than xanthotoxin,
which is normally prescribed by doctors on the treatment of skin illnesses. If we
consider the relation risk-benefit on the treatment of menstrual riots, the use of
phytomedicines containing furanocoumarins can be of high risk, since it is believed
that they are indicated because of the anticoagulation properties of coumarins found
on the plant’s formulation. The study of the chromatographic profile and dosage of
furanocoumarins in the plants found at the medicines’ formulation was also made,
using identified samples and samples acquired at commerce.
xiii
19. Introdução
1. INTRODUÇÃO
1.1. Introdução Geral
A fitoterapia, uma forma de terapia medicinal, tem crescido notadamente
nestes últimos anos, ao ponto que, atualmente, o mercado mundial de fitoterápicos
gira em torno de aproximadamente 22 bilhões de dólares1.
As plantas medicinais representaram, durante séculos, a única fonte de
agentes terapêuticos para o homem. No início do século XIX, com o
desenvolvimento da química farmacêutica, as plantas passaram a representar a
primeira fonte de substâncias para o desenvolvimento de medicamentos.
Atualmente, 25% dos medicamentos prescritos nos países industrializados são
originários de plantas e 120 substâncias de origem natural são obtidas a partir de
cerca de 90 espécies de plantas utilizadas na terapia moderna. De fato, os produtos
naturais estão envolvidos no desenvolvimento de 44% de todas as novas drogas 2.
A partir de 2001, houve um ressurgimento do interesse nas plantas como
fonte de novos agentes terapêuticos. Grandes companhias farmacêuticas
aumentaram suas pesquisas com extratos de plantas para descobrir novas
substâncias ativas. Existem na Terra aproximadamente 350.000 espécies de
plantas, mas apenas uma pequena porcentagem foi investigada do ponto de vista
fitoquímico, e um número ainda menor de frações derivadas dessas plantas foi
analisada do ponto de vista farmacológico3.
Na União Européia (sobretudo na Alemanha, França e Bélgica, países
com maior tradição de consumo de fitoterápicos), o rigor da legislação e vigilância
sanitária sobre os fitoterápicos é praticamente similar à exercida sobre os demais
medicamentos. Os consumidores vêem os fitoterápicos como uma alternativa
terapêutica menos agressiva ao organismo que um similar sintético, mas exigem de
um fitoterápico a mesma qualidade (garantia de autenticidade, da presença do teor
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 1
Medicamentos Fitoterápicos.
20. Introdução
correto de princípios ativos, de boas condições de conservação e outros) buscada
nos medicamentos sintéticos4.
No Brasil, as plantas medicinais são consideradas “remédios de baixo
custo”, o que no país é encarado como sinônimo de má-qualidade4. Grande parte
das espécies vegetais utilizadas pela população do Brasil não possui ação
farmacológica comprovada, estudo químico realizado e nem mesmo estudos
toxicológicos5.
As plantas medicinais estão sujeitas a variações de sua composição
química como alteração do teor de princípios ativos ou surgimento de novas
substâncias devido a diversas variáveis a que estão dispostas durante seu
crescimento (fatores genéticos, climáticos, ecológicos etc.), sua coleta (época, etc.),
secagem (temperatura, tempo, etc.), armazenamento e processo de extração.
Devido à grande variabilidade na composição química das plantas medicinais, há a
necessidade de padronização dos fitoterápicos4.
Um fitoterápico padronizado é o que apresenta teor conhecido dos
princípios ativos e se enquadra dentro de critérios estabelecidos para a planta
medicinal em questão. Apresenta substâncias “marcadoras” características, mas
também não apresentam substâncias estranhas3,4 O ideal para elaboração de um
fitoterápico é o uso de, no máximo, uma ou duas drogas ou extratos vegetais, tendo
estes ação farmacológica e toxicidade conhecidas5.
As principais fraudes e/ou problemas na qualidade dos fitoterápicos são:
substituição de uma determinada espécie por outra semelhante, que pode não ter
efeitos farmacológicos similares; adulteração de parte ou do todo da planta por outra
espécie ou com outro material; desconsideração do prazo de validade do
fitoterápico; contaminação exógena com micotoxinas, metais pesados ou
pesticidas4. O uso de análises cromatográficas, utilizando o cromatograma como a
“impressão digital” de uma determinada amostra, pode ajudar na identificação de
amostras autênticas e auxiliar na identificação de possíveis compostos utilizados em
uma adulteração da mesma3.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 2
Medicamentos Fitoterápicos.
21. Introdução
1.2. Furanocumarinas
As cumarinas (Figura 1) são metabólitos secundários muito comuns
presentes em plantas, sendo encontradas também em fungos e bactérias,
totalizando 800 diferentes estruturas determinadas. Estruturalmente, são lactonas do
ácido о-hidroxi-cinâmico (2H-1-benzopiran-2-onas), sendo o representante mais
simples a cumarina (1,2-benzopiranona)7.
Figura 1 – Estrutura básica das cumarinas.
Dentro da classe de cumarinas, encontram-se as furanocumarinas. Estas
substâncias são formadas pela condensação de um anel furânico com um núcleo
cumarínico8 e podem ser de ocorrência natural ou sintéticos9. Estes metabólitos
podem ser também fitoalexinas, já que sua formação é muitas vezes induzida na
planta em resposta a um estímulo, particularmente pela infecção por fungos 10.
Furanocumarinas têm várias atividades biológicas importantes como:
analgésica, antiinflamatória, antibacteriana, antiviral, anticoagulante, além dos bem
conhecidos efeitos fotosensibilizantes11. São também interessantes porque são
usadas como um probe em biologia molecular e química dos ácidos nucléicos9.
As furanocumarinas têm sido usadas desde tempos remotos no
tratamento de doenças de pele como a psoríase, micoses fúngicas, dermatites e
eczema. Embora a utilização de plantas contendo furanocumarinas para propósitos
medicinais datem de 2000 a.C., atualmente o aumento no uso destas substâncias na
medicina tem sido ligado à alta incidência de câncer de pele e outras desordens,
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 3
Medicamentos Fitoterápicos.
22. Introdução
assim como trocas entre cromátides irmãs, mutação gênica e aberrações
cromossômicas em humanos12.
As furanocumarinas, como a maioria das cumarinas, são substâncias que
absorvem fortemente energia na região do ultravioleta (UV) e, por isso, são
altamente reativas sob incidência de luz. A faixa de comprimento de onda para essa
fotorreatividade situa-se entre 300 e 400 nm (UVA). Após a absorção do fóton, as
furanocumarinas formam um estado tripleto excitado, que pode reagir com
moléculas, tais como as bases nitrogenadas do DNA ou com o oxigênio no estado
fundamental. Disso resulta a formação de oxigênio singlete ou radicais tóxicos, como
os radicais superóxido ou hidróxi. Essas moléculas podem reagir com DNA, RNA,
proteínas e lipídios, ocasionando lesões nas células que os contêm. As
furanocumarinas têm especial habilidade em se ligar à bases pirimídicas do DNA
causando mutações12.
Furanocumarinas lineares, são compostos fotosensibilizantes comumente
empregados em dermatologia (oral ou topicamente), que associadas com irradiação
ultravioleta A (UVA) são usadas no tratamento de doenças de pele 13. Psoraleno,
bergapteno (também denominado 5-metoxipsoraleno ou 5-MOP), e xantotoxina
(também denominado 8-metoxipsoraleno ou 8-MOP) são exemplos de
furanocumarinas (Figura 2).
Os distúrbios cutâneos de maior importância tratados com psoralenos
são: o vitiligo (um distúrbio de pigmentação devido à perda de melanócitos da
epiderme) e a psoríase (caracterizada pela proliferação aumentada das células
epidérmicas)14.
A combinação dos elementos: psoralenos + UVA é conhecida como
terapia PUVA13. Dependendo da dose, esta ligação pode levar tanto à morte da
célula como à replicação, síntese e reparo do DNA 15,16. O fotosensibilizador
geralmente mais usado é xantotoxina (8-MOP)17.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 4
Medicamentos Fitoterápicos.
23. Introdução
Figura 2 – Exemplos de furanocumarinas.
A xantotoxina pode também interagir com o DNA na presença de UVA,
formando fotoprodutos que causam a inibição da síntese de DNA celular. Acredita-se
que este mecanismo pode explicar o efeito benéfico do PUVA nas desordens
proliferativas como psoríase13. Na terapia PUVA, várias células são afetadas,
inclusive linfócitos circulantes no sangue periférico, promovendo alívio de muitas
doenças que são associadas a desordens imunológicas15.
Além das furanocumarinas já citadas, a isopimpinelina (5,8-
dimetoxipsoraleno) e o 4,5,8-trimetilpsoraleno também podem intercalar-se com o
DNA na presença de luz UV18.
Dentre as furanocumarinas, o 4,5,8-trimetilpsoraleno é considerado o
mais fototóxico19,20, seguido por psoraleno, bergapteno e xantotoxina 21, enquanto
isopimpinelina não é considerada uma furanocumarina fototóxica e também é
considerada muito menos reativa22.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 5
Medicamentos Fitoterápicos.
24. Introdução
Apesar do tratamento com a utilização de psoralenos (fotoquimioterapia
ou PUVA) ter importante atividade terapêutica, os pacientes estão sujeitos a
indesejáveis efeitos colaterais, tanto a curto prazo (eritema, hiperpigmentação,
genotoxicidade) como a longo prazo (catarata, risco de câncer de pele) 9, o que têm
feito médicos e pacientes relutantes ao seu uso 23. Mesmo 15 anos após a
interrupção do tratamento não há significante decréscimo do risco de
desenvolvimento de câncer de pele24.
A exposição à luz ultravioleta deve ser atentamente supervisionada, pois
existem relatos de casos de queimaduras de 6-40% do corpo em crianças com
vitiligo que estavam em tratamento com óleo meladinina (mistura de 8-MOP e 8-
isoamileno-oxi-psoraleno) devido à exposição não supervisionada ao Sol enquanto
brincavam ao ar livre25. Outros casos de queimaduras de 90-95% do corpo de jovens
pelo uso indiscriminado de furanocumarinas no intuito de adquirir um rápido
bronzeamento26. Foram relatados também, casos de desenvolvimento de lesões
bolhosas na pele após a exposição de um indivíduo ao óleo aromaterapêutico de
bergamota (que contém bergapteno)27 em sauna, seguida de exposição à radiação
UVA em salão de bronzeamento28.
Quantidades baixas de furanocumarinas, como 18 ppm, podem causar
lesões, dependendo das condições de exposição à luz UV 22. Por esta razão, é muito
importante conhecer precisamente os níveis de furanocumarinas em medicamentos
fitoterápicos e plantas utilizadas pelo ser humano.
Na literatura podemos encontrar métodos de dosagem de
furanocumarinas no plasma27 e na derme de pacientes que utilizam a
fotoquimioterapia13. Também já estão descritos métodos validados de quantificação
de furanocumarinas em pomadas, cremes29, soluções tópicas30 e alguns métodos
não validados de dosagem em plantas31,32 e seus decoctos22.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 6
Medicamentos Fitoterápicos.
25. Introdução
1.3. Plantas contendo furanocumarinas
Várias famílias de plantas são conhecidas como produtoras de
furanocumarinas, dentre as quais podemos citar: membros da família Apiaceae
(aipo, por exemplo), Rutaceae (plantas cítricas, por exemplo) e Moraceae 11. Os
gêneros da família Moraceae são Sorocea, Clarisia, Maclura, Pseudolmedia,
Helicostylis, Naucleopsis, Brosimum, Dorstenia, Ficus, Coussapoa, Pourouma e
Cecropia 33. Os medicamentos fitoterápicos estudados neste trabalho apresentam os
gêneros Dorstenia e Brosimum em suas composições.
1.3.1. Dorstenia
O gênero Dorstenia Linne (Moraceae) é representado por 170 espécies
em todo o mundo34,35, sendo 37 espécies brasileiras. Quase todas as espécies do
gênero Dorstenia são herbáceas e campestres, geralmente crescendo em locais
sombreados33. Há espécies que se destacam pela beleza ornamental e outras pelos
rizomas aromáticos. A maioria se concentra no Brasil-sudeste à beira dos riachos e
grotões rochosos36.
A maior parte é conhecida pela medicina popular como “carapiá” ou
“figueirilha”31. Estas plantas estão distribuídas nas regiões subtropicais do mundo e
são conhecidas pela habilidade de sintetizar psoraleno, bergapteno, isobergapteno,
pimpinelina e isopimpinelina37.
O gênero Dorstenia é usado em terapia de plantas medicinais em muitos
países na África e América do Sul e Central como antiofídico e anti-reumático, além
do uso em infecções e doenças de pele30,38. O estudo das toxinas fotoativadas
revelou a ocorrência de fototoxinas em todas as espécies de Dorstenia investigadas.
Furanocumarinas foram isoladas em trabalhos com rizomas/raízes ou plantas brutas
de Dorstenia da América Latina como: Dorstenia contrajerva39,40, D. brasiliensis41, D.
asaroides31, D. brynoniifolia37,42, D. lindeniana43,34, D. vitifolia, D. tubicina41,32,
D.cayapiaa7, D. heringeri44, D.excentria, D.drakena e D. lindeniana43 assim como
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 7
Medicamentos Fitoterápicos.
26. Introdução
das espécies africanas D.psilurus45 e D.barnimiana46 e D. poinsettifolia47.
Furanocumarinas também foram encontradas em galhos de D. prorepens35 e D.
gigas34 e em folhas de D. gigas34.
Estruturalmente, as furanocumarinas em Dorstenia apresentam-se pouco
diversificadas, havendo predomínio de furanocumarinas angulares ou lineares
simples tais como bergapteno, psoraleno, isopimpinelina, pimpinelina, isobergapteno
etc. As exceções são três furanocumarinas preniladas encontradas em D. cayapiaa -
5-[3-(4,5-diidro-5,5-dimetil-4-oxo-2-furanil)butoxi-7H-furo[3-2-g][1]benzopiran-7-ona,
D.brasiliensis – 5-[3-(4,5-diidro-5,5-dimetil-4-oxo-2-furanil)butoxi-7H-furo[3-2-
g][1]benzopiran-7-ona (Figura 3, estrutura a) e o análogo insaturado 5-[[3-(4,5-diidro-
5,5-dimetil-4-oxo-2-furanil) 2-butenil-]oxi]-7H-furo[3-2-g][1]benzopiran-7-ona (Figura
3, estrutura b)41 e D.contrajerva – 4-[[3-(4,5-diidro-5,5-dimetil-4-oxo-2-furanil)-
butil]oxi]-7H-furo[3,2-g][1]benzopiran-7-ona43.
Figura 3 – Furanocumarinas preniladas encontradas em Dorstenia brasiliensis.
Estudos fitoquímicos do gênero relatam ainda a ocorrência de
cardenolídios48, triterpenos37, ácidos graxos42, esteróides41, diferentes
benzofuranos46 e vários flavonóides geranilados e prenilados49,50.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 8
Medicamentos Fitoterápicos.
27. Introdução
1.3.1.1. Dorstenia multiformes
Dorstenia multiformes é a espécie descrita na Farmacopéia Brasileira51
com os nomes de carapiá, caapiá e contra-herva. Segundo esta, a parte usada é o
rizoma, para produção de extrato fluído de carapiá.
Na literatura52 podemos encontrar também a denominação de cayapiá-
preto para a espécie. Possui caule curto, rasteiro e em parte subterrâneo,
densamente estipulado, folhas longo-pecioladas, muito variáveis na forma, flores
pequeninas e frutos castanhos. Encontrada da Bahia até o Rio Grande do Sul e
Minas Gerais.
Possui variedades, como D.multiformes var. arifolia, ceratosanthes,
ficifolia, pinnatifida e ramosa36. Não há trabalhos na literatura sobre a composição
química da espécie D. multiformes. A espécie pode ser encontrada53,54 como
sinonímia científica de Dorstenia brasiliensis.
1.3.1.2. Dorstenia brasiliensis
É uma planta herbácea perene, nativa do Brasil, encontrada em São
Paulo, Goiás, Mato Grosso, Bahia, Pernambuco e, principalmente, em Minas Gerais
e Rio Grande do Sul. Conhecida como cayapiá verdadeiro, é a mais importante do
gênero, sob o ponto de vista terapêutico e a única admitida na farmacopéia de vários
países52. Tem folhas compridas e de bordas arredondadas, nascendo bem próximas
ao solo, e flores pequenas, divididas em masculinas e femininas, dispostas em forma
de pendão55. Rizoma cilíndrico, ovóide, curto, aromático, fibriloso, amarelado 52.
Possui variedades, como D. brasiliensis var. mayor, palustris, tomentosa e typica36.
D. brasiliensis é conhecida no Brasil como carapiá, caiapiá ou contra-erva
e as cascas de sua raiz têm sido usadas na medicina popular para o tratamento de
doenças do sistema digestivo, febre tifóide56,55, como antiofídico, nas leucorréias, em
enfermidades na pele, em irregularidades menstruais como dismenorréia e
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 9
Medicamentos Fitoterápicos.
28. Introdução
amenorréia55,57 e na solidificação de ossos fraturados52, em mistura com a taiuiá
(Trianosperma tayuya)55.
Há apenas dois trabalhos sobre o isolamento de furanocumarinas da
espécie41,56 que identificaram psoraleno, bergapteno, 5-[3-(4,5-Diidro-5,5-dimetil-4-
oxo-2-furanil)-butoxi]-7H-furo[3-2-g][1] benzopiran-7-ona, 5-[[3-(4,5-diidro-5,5-dimetil-
4-oxo-2-furanil)-2-butenil-]oxi]-7h-furo[3-2-g][1]benzopiran-7-ona), (2’S,3’R)-3’-
hydroximarmesina 4’-O-β-D-glucopiranosida, (2’S)-marmesin 4’-O-α-L-
rhamnopiranosil (1→6)-O-β-D-glucopiranosida, (2’S,3’R)-3’-hydroximarmesina, 2’-(1”-
hidroxi-1”-metiletil)-psoraleno, 7-hydroxicumarina, 3-O-β-glucosilsitosterol, sucrose,
esteróides, diterpenóides e triterpenóides das raízes/rizomas da espécie. Os
triterpenóides (ácidos dorstênicos A e B) isolados de D. brasiliensis, apresentaram
moderada citoxicidade sobre células da leucemia (L-1210 e HL-60)56.
O nome popular “carapiá” também é encontrado referindo-se a outras
duas espécies: Cordia superba Cham.58 da família Boraginaceae, encontrada no Rio
de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo e Sida macrodon52, da família das Malváceas.
A primeira espécie também pode ser encontrada com os nomes de árvore de ranho
e grão de galo e a segunda, como malva do campo.
1.3.2. Brosimum gaudichaudii
Brosimum gaudichaudii é uma espécie conhecida como “mamica de
cadela”. Utilizada em doenças de pele devido às furanocumarinas59. É nativa do
cerrado brasileiro, com uma ampla distribuição por todo o Brasil central 60. Análises
da casca da raiz de B. gaudichaudii identificaram derivados dos ácidos cinâmicos e
diidrocinâmico, dez cumarinas (dentre elas psoraleno, bergapteno, xantiletina,
luvangetina e (+)-(2’S,3’R)-1’-hidroximarmesina) (Figura 4), uma chalcona, os
esteróides: β-sitosterol e 3-β-O-β-D-glicopiranosil- β-sitosterol e o triterpeno β-
amirina61,62.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 10
Medicamentos Fitoterápicos.
29. Introdução
Figura 4 – Exemplos de cumarinas encontradas em Brosimum gaudichaudii.
Extratos da casca do caule de B.gaudichaudii mostraram atividade
mutagênica no teste com Salmonella typhimurium e em células do ovário de hamster
chinês (CHO)63.
O nome popular “mamica de cadela” também é encontrado referindo-se
às espécies Zanthoxylum rhoifolium Lam. e Zanthoxylum riedelianum Eng. da família
Rutaceae. Ambas são também conhecidas como mamica-de-porca e tembetari58.
1.4. Medicamentos Fitoterápicos
Os medicamentos presentes no mercado contendo plantas do gênero
Dorstenia são quase que exclusivamente compostos pela espécie Dorstenia
multiformes. As indicações são diversas, devido os vários usos populares da espécie
e as diversas indicações descritas nos medicamentos que a contêm:
os diversos usos populares do carapiá: antiofídico, tratamento de
irregularidades menstruais, ossificação de ossos fraturados etc;
a associação da espécie a diversas outras na constituição dos
medicamentos: D. multiformes está presente em soluções orais para inibição do
crescimento de pêlos (associada à Foeniculum vulgaris, Trigonella foenum-graecum
e Plumeria lancifolia), em soluções orais antitussígenas (associada à Passiflora
alata), em formulações homeopáticas reguladoras do sistema nervoso (associada a
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 11
Medicamentos Fitoterápicos.
30. Introdução
Carica pagaya, Acanthus volubilis e Mimosa virginalis), para tratamento das
irregularidades menstruais, tensão pré-menstrual e inflamação do útero e ovários,
(associada à Plumeria lancifolia), e em soluções orais e cápsulas para tratamento
das irregularidades menstruais e corrimentos vaginais (associada à Plumeria
lancifolia e Davilla rugosa) e contra os efeitos da menopausa (associada à Plumeria
lancifolia, Erythrina mulungu, Cereus grandiflorus).
Nenhum dos medicamentos fitoterápicos pesquisados, que contêm
Dorstenia, informava sobre a presença de furanocumarinas ou mesmo a
possibilidade de fotosensibilização pela exposição ao Sol durante o uso do
medicamento ou de seus efeitos tardios pelo uso prolongado. A maior parte deles
informava apenas as partes de cada planta utilizada e algumas classes de
substâncias presentes tais como flavonóides, saponinas, taninos etc. Apenas alguns
dos medicamentos informavam a presença de cumarinas em algumas das plantas
presentes e sua ação anticoagulante, sem se referir, como já dito, a
furanocumarinas.
1.4.1. Outras plantas presentes nos medicamentos estudados
1.4.1.1. Davilla rugosa
Davilla rugosa Poiret (Dilleniaceae) é conhecida no Brasil como cipó-
caboclo. Cresce em zonas tropicais e subtropicais no Brasil, Cuba, Nicarágua, Peru
e Chile. A espécie é mundialmente empregada como antiinflamatório, anti-úlcera,
purgativo, estimulante, afrodisíaco e droga tônica64. Segundo a medicina popular,
suas folhas possuem propriedades adstringentes, diuréticas e colagogas, a raiz
purgativa e drástica, os ramos excelente diurético e as sementes, violento efeito
emético-catártico55.
Flavonóides tais como miricetina, quercetina, miricetina-3-O-β-D-
ramnosideo, quercetina-3-O-β-D-ramnosideo e canferol foram isolados das folhas e
o alcalóide cafeína foi isolado das sementes. Estudos dos efeitos das frações do
extrato hidroalcoólico do caule de D.rugosa em lesões gástricas em ratos sugerem a
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 12
Medicamentos Fitoterápicos.
31. Introdução
atividade antiúlcera64. As frações mais polares do extrato da planta sugerem efeito
estimulante na atividade motora65. Um efeito ansiolítico foi observado com o extrato
hidroalcoólico inteiro65.
O Doliscarpus pubens, uma espécie das Dileniáces, é chamada de cipó-
caboclo-venenoso ou cipó-vermelho sendo seus frutos tóxicos e sua casca útil
contra febres palustres55.
1.4.1.2. Plumeria lancifolia
O gênero Plumeria originou-se da América Central e suas espécies são
mundialmente distribuídas em países tropicais66. Plumeria lancifolia Müll
(Apocynaceae) é conhecida na medicina popular como “agoniada” sendo
empregada como febrífuga, emenagoga, purgativa 67, auxiliar da concepção e
regularizador da menstruação55. O extrato mostrou possuir atividade antiúlcera.
Desta espécie foram isolados iridóides, uleína e dimetoxiaspidospermina 67.
1.4.1.3. Erythrina mulungu
Erythrina mulungu Mart., vulgarmente conhecida como mulungu,
mulungu-coral, tiricero, capa-homem e suína-suinã, é uma planta espinhenta
encontrada em Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e na floresta
latifoliada semidecídua da bacia do Paraná58. Na medicina popular, o extrato da
casca é usado em banhos para acalmar a excitação do sistema nervoso e também
para combater insônias. O cozimento das cascas é utilizado em bronquites
asmáticas e nas inflamações do fígado e do baço 57. Extrato hidroalcoólico de
Erythrina mulungu apresentou efeitos antinociceptivos em ratos68. Foram isolados
alcalóides69.
1.4.1.4. Cereus jamacaru
Cereus jamacaru, da família das Cactáceas, é um arbusto que vegeta em
Pernambuco e outros Estados do norte do Brasil. É vulgarmente conhecida como
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 13
Medicamentos Fitoterápicos.
32. Introdução
jamacaru, urumbeva e cumbela. É utilizada pela medicina popular em tratamento de
problemas nas vias respiratórias, como bronquites, afecções pulmonares e tosses
persistentes. Usa-se também contra o escorbuto e febres gástricas. Externamente,
em cataplasmas, é utilizada no tratamento de úlceras e tumores70.
1.5. Legislação de Fitoterápicos
O primeiro ato normativo de expressão referente às plantas medicinais no
Brasil, foi a publicação da primeira edição da Farmacopéia Brasileira 51, que refletia
as características da terapêutica da época, fundamentada em fitoterápicos e
produtos biológicos, oficializando a utilização de plantas medicinais como matéria-
prima farmacêutica71.
A profissão farmacêutica e seu exercício foram normatizados através do
Decreto nº 19606 de 19 de janeiro de 1931. Este decreto foi regulamentado pelo
Decreto nº 20377 de 08 de setembro do mesmo ano, que marca o início formal das
atividades de vigilância sanitária no país71.
Com relação aos procedimentos de registro de medicamentos, o Decreto
nº 19606 estabeleceu exigência de licença, que corresponde hoje ao registro, no
órgão nacional de saúde antes de serem entregues ao consumo; estabeleceu ainda
uma classificação dos medicamentos em oficiais e especialidades farmacêuticas,
liberando os primeiros da necessidade de licença, sem definir o que seriam tais
produtos, quais os limites dessa liberalização e os critérios ao controle administrativo
e de qualidade. Determinava também, a apreensão e inutilização de plantas
medicinais sob classificação botânica falsa ou desprovidas de ação terapêutica.
Esses decretos estabeleciam o comércio direto de plantas medicinais de aplicações
terapêuticas com o consumidor, como privativo de farmácias e ervarias71.
No Brasil, houve então a constituição do Grupo de Estudos de Produtos
Fitoterápicos (GEPFITO) em 1994, posteriormente alterada pela CONAFIT em 1998.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 14
Medicamentos Fitoterápicos.
33. Introdução
O primeiro trabalho do GEPFITO foi a publicação de normatização de registro de
produtos fitoterápicos por meio de uma proposta aberta de consulta pública em
1994, que resultou na Portaria SVS nº 6 de 31 de janeiro de 1995 71.
A Portaria SVS nº 6 conceituou os fitoterápicos como medicamentos
preparados exclusivamente por matérias ativas oriundas de plantas medicinais,
obedecendo integralmente aos requisitos técnicos para a preparação farmacêutica e
o uso terapêutico; padronizou os conceitos e termos técnicos próprios da área;
estabeleceu padronização para qualquer fitoterápico, a cerca dos critérios de
segurança e eficácia baseado em modelos farmacológicos adequados; fixou normas
de qualidade para a matéria-prima, processamento e para o produto final. No pedido
de registro, a empresa deveria apresentar as técnicas desenvolvidas para o controle
de qualidade72.
A Portaria SVS nº 6 foi aprimorada em alguns de seus itens pela SVS nº
1.029/98, cuja maior finalidade é o procedimento diferenciado ao registro de
produtos fitoterápicos tradicionais71.
A norma vigente, durante o desenvolvimento deste trabalho, sobre o
registro de medicamentos fitoterápicos, foi a RDC nº 17 de 25 de fevereiro de
200073, que dispõe sobre registro de medicamentos fitoterápicos, não só nacionais,
mas também importados. Regulariza o conceito de medicamento fitoterápico e
define como devem ser industrializados, embalados e comercializados em nosso
país. Apresenta o regulamento técnico que trata de medicamentos fitoterápicos
novo, tradicional e com base na similaridade; da isenção de registro; da revalidação
do registro de fitoterápicos registrados até 31 de janeiro de 1995; da embalagem e
bula dos medicamentos. Para os medicamentos fitoterápicos importados, estabelece
que devem cumprir os mesmos requisitos previstos neste regulamento e na
legislação específica em vigor.
O ano de 2002 apresentou várias consultas públicas74 que sugeriam
mudanças no que se refere à legislação brasileira de medicamentos fitoterápicos. Na
Consulta Pública nº 59 de 12 de agosto, sugeriu-se alterações na Resolução nº
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 15
Medicamentos Fitoterápicos.
34. Introdução
17/2000. As seguintes Consultas Públicas: nº 61/2002 e nº 84/2002 sugeriam
atualização da normatização de registro de medicamentos fitoterápicos junto ao
Sistema de Vigilância Sanitária. A Consulta Pública nº 84/2002 é por sua vez,
complementada pelas Consultas Públicas nº 87/2002 e nº 88/2002 que trazem guias
para a realização de alterações, inclusões e notificações pós-registro de
medicamentos fitoterápicos e um guia para notificação de Lotes-Piloto de
medicamentos. Estas consultas públicas, publicadas em outubro de 2002, não se
transformaram em legislações em função das grandes controvérsias ainda
existentes sobre o assunto. A Consulta Pública nº 94 de 6 de novembro de 2003
resultou na Resolução RDC nº48 de 16 de março de 2004 74.
A Resolução RDC nº 4875 visa atualizar a normatização do registro de
medicamentos fitoterápicos. Este regulamento abrange medicamentos cujos
princípios ativos são exclusivamente derivados de drogas vegetais. Segundo a
resolução, não é objeto de registro ou cadastro planta medicinal ou suas partes,
após processos de coleta, estabilização e secagem, podendo ser íntegra, rasurada,
triturada ou pulverizada.
Segundo a nova resolução, a partir de 360 dias contados de sua
publicação, todos os testes referentes a controle de qualidade (quando
terceirizados), deverão ser executados em instituições credenciadas no sistema
REBLAS - Rede Brasileira de Laboratórios em Saúde ou por empresas fabricantes
de medicamentos que tenham certificado de BPFC (Certificado de Boas Práticas de
Fabricação e Controle emitido pela ANVISA) atualizado e satisfatório. A partir desta
data, a apresentação dos resultados destes testes será exigida pela ANVISA no
registro e na renovação do registro.
Estabelece também um regulamento técnico mais criterioso para os
fitoterápicos quanto a medidas antecedentes ao registro, ao pedido de registro e
medidas pós-registro. Em relação à legislação anterior, a nova resolução em
demonstra mais detalhamento nas exigências sobre controle de qualidade química,
estudos de toxicidade, eficácia e indicações terapêuticas dos medicamentos
fitoterápicos.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 16
Medicamentos Fitoterápicos.
35. Introdução
1.6. Técnicas Instrumentais de Análise
As aplicações da cromatografia cresceram de modo explosivo nos últimos
cinqüenta anos e isto se deve não somente ao desenvolvimento de novos tipos de
técnicas cromatográficas, mas também à necessidade crescente dos cientistas de
melhores métodos para caracterizar misturas complexas76.
A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) é a mais usada de todas
as técnicas analíticas de separação devido a sua sensibilidade, fácil adaptação para
determinações quantitativas acuradas, sua adequação à separação de espécies
não-voláteis ou termicamente frágeis e, acima de tudo, sua ampla aplicabilidade a
substâncias de grande interesse para indústria, para muitos campos da ciência e
para o público. Exemplos desses materiais incluem: aminoácidos, ácidos nucléicos,
pesticidas, drogas e muitas substâncias inorgânicas76.
Na última década, a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) foi
uma das técnicas mais utilizadas para análise e isolamento de produtos naturais a
partir de matrizes complexas, por exemplo, extratos de plantas. A CLAE tem sido
utilizada de maneira rotineira como “piloto” para o isolamento em escala preparativa
de produtos naturais pela otimização das condições experimentais, pelo controle de
diferentes frações obtidas durante o isolamento e pelo controle da pureza final dos
compostos isolados3.
Detectores baseados em absorção de luz ultravioleta (UV), fluorescência,
índice de refração, difração de luz e eletroquímica proporcionam boa detecção e
sensibilidade. Uma desvantagem, apesar do custo menor desses detectores em
relação aos detectores de espectrometria de massas (EM) e ressonância magnética
nuclear (RMN), é a pouca ou nenhuma informação estrutural fornecida 3.
A introdução das técnicas de acoplamento, tais como CLAE-UV equipada
com detector com arranjo de fotodiodos (CLAE/UV-DAD) e o acoplamento com a
espectrometria de massa (CLAE-EM) e ressonância magnética nuclear (CLAE-RMN)
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 17
Medicamentos Fitoterápicos.
36. Introdução
proporcionou um real avanço na identificação estrutural, em linha, de produtos
naturais3.
A cromatografia em fase gasosa (CG) é muito utilizada na realização de
separações com relação a sistemas bioquímicos, complexos orgânico-metálicos ou
orgânicos, constituídos de espécies voláteis ou de espécies que podem reagir e
formar produtos voláteis76. Dentre os detectores mais usados estão o de
condutividade térmica, ionização por chama e captura de elétrons. O detector de
ionização por chama é excelente na análise destes compostos orgânicos em nível
de traços devido à seletividade por esses compostos77.
A cromatografia em fase gasosa (CG) possui detectores universalmente
aplicáveis como detectores de ionização por chama e de condutividade térmica 78. Os
detectores da CLAE não possuem esta característica.
Uma tendência importante é o acoplamento com a espectrometria de massa
(CG-EM)76, apesar de seu alto custo se comparado com outros detectores
empregados nesta técnica.
1.7. Validação de Métodos Analíticos
A validação de um método analítico é realizada para garantir que uma
metodologia analítica seja exata, específica, reproduzível e robusta dentro de uma
faixa de aplicação em que o analito será analisado 79,80. Assegura credibilidade às
medidas obtidas80,81,82. Tem se tornado requisito indispensável para publicação de
novas metodologias, tendo alguns periódicos83 publicado os parâmetros mínimos de
validação.
A validação permite que a transferência de um método entre laboratórios
ocorra da forma mais satisfatória82, pois avalia a influência de parâmetros como
mudança de temperatura, pH, analistas, equipamentos, entre outros parâmetros no
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 18
Medicamentos Fitoterápicos.
37. Introdução
resultado final de uma análise. Os mesmos princípios gerais podem ser aplicados
com sucesso em métodos cromatográficos e não cromatográficos84.
As normas internacionais, nacionais e sistemas de qualidade destacam a
importância da validação de métodos analíticos e a documentação do trabalho de
validação para a obtenção de resultados confiáveis e adequados ao uso
pretendido85.
Para validação de métodos analíticos, guias da US Food and Drug
Administration (FDA)86,87,88, United States Pharmacopeia (USP)89 e Internacional
Conference on Harmonization (ICH)90,91 entre outros, fornecem a descrição dos
parâmetros principais.
O uso da validação no desenvolvimento de novas metodologias tem
aumentado consideravelmente em todo o mundo. No Brasil, o aumento do interesse
pela validação gerou a necessidade da formulação pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária –ANVISA- da Resolução RE nº 899, de 29 de maio de 2003 79,
que descreve os parâmetros a serem avaliados para a validação de métodos
analíticos e bioanalíticos para determinação de fármacos e suas impurezas,
podendo ser aplicado também a métodos imunológicos e microbiológicos.
1.7.1. Desenvolvimento do método
Um protocolo de validação inicia-se com a definição do objetivo do
80
método : quais os resultados pretendidos (identificação, quantificação, etc.); qual
matriz será utilizada (comprimido, ar, plasma, etc.); possíveis interferentes e quais os
níveis de exatidão, precisão, sensibilidade, limite de detecção requeridos.
Durante o desenvolvimento do método, identifica-se a (s) substância (s)
de interesse na matriz e otimiza-se um método de extração. No processo de
otimização, várias substâncias extratoras, formas e tempos de extração são
testados. Após obtenção do método otimizado, realiza-se o procedimento de
recuperação que avalia a eficiência do processo de extração. A recuperação
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 19
Medicamentos Fitoterápicos.
38. Introdução
consiste em submeter a amostra com adição de diferentes concentrações da
substância de interesse (analito) ao método otimizado para avaliar a porcentagem de
recuperação. Uma boa recuperação do método garante que o analito seja analisado
na totalidade de sua massa presente na amostra79,93,94.
Para o monitoramento dos testes é necessário qualificar um equipamento
analítico que seja compatível com a avaliação do analito (absorção atômica,
cromatógrafo líquido, entre outros). Após a escolha do equipamento, realiza-se o
teste de adequação do sistema que estabelece se os dados obtidos terão qualidade
aceitável. No caso da cromatografia líquida de alta performance, por exemplo, o fator
de capacidade, repetitividade de injeção, retenção relativa, resolução, fator de cauda
e pratos teóricos devem ser avaliados80.
Para a avaliação da estabilidade das soluções analíticas são testadas
soluções de amostras e padrões durante 24 horas em condições de estocagem. A
concentração das soluções de amostras e padrões não deve variar mais que 2% em
relação a amostras frescas e seus cromatogramas devem ser equivalentes 80.
1.7.2. Parâmetros de validação
Os principais parâmetros de validação são: especificidade, exatidão,
precisão, linearidade, faixa de aplicação, sensibilidade, limite de detecção, limite de
quantificação e robustez. A seguir são descritos os parâmetros de validação de
metodologias, segundo as principais referências citadas em artigos científicos.
1.7.2.1. Especificidade / seletividade
Especificidade/seletividade é a capacidade de um método diferenciar um
composto em presença de outros componentes da amostra (impurezas,
intermediários de síntese, excipientes, produtos de degradação e componentes da
matriz)93,94,95,96. Na literatura podemos encontrar uma diferenciação dos dois termos:
especificidade refere-se a um método que produz resposta somente para um único
analito, e seletividade diz respeito a um método que produz resposta para um
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 20
Medicamentos Fitoterápicos.
39. Introdução
determinado número de substâncias químicas que podem ou não ser
82,94 79,86
distinguíveis . Algumas normas trazem os dois termos juntos ou optaram por
um deles88,89,90.
A seletividade / especificidade pode ser dividida em duas categorias:
análises qualitativas e análises quantitativas. Para análise qualitativa é necessário
demonstrar a capacidade de seleção do método entre compostos com estruturas
relacionadas que podem estar presentes79,90. Para análise quantitativa e análise de
impurezas, a especificidade pode ser determinada pela comparação dos resultados
obtidos de amostras fortificadas com quantidades apropriadas de impurezas ou
excipientes e amostras não fortificadas, para demonstrar que o resultado do teste
não é afetado por esses materiais. Estas comparações devem incluir amostras
armazenadas sob condições de estresse (por ex. luz, calor, umidade, hidrólise
ácida/básica, oxidação) 79,90,95.
A determinação da especificidade é extremamente importante durante a
validação de um método não cromatográfico, porque este não contém uma fase de
separação que garanta a não interferência dos excipientes. Os métodos não
cromatográficos contam com diferenças intrínsecas às propriedades físicas ou
químicas, para garantir sua capacidade de determinar a concentração da substância
em exame, mesmo em amostras contendo misturas complexas84.
Em métodos cromatográficos, deve-se tomar as precauções necessárias
para garantir a separação dos picos cromatográficos. A utilização de testes de
pureza de pico (por exemplo, com auxílio de detector de arranjo de fotodiodos ou
espectrometria de massas) é interessante para demonstrar que o pico
cromatográfico é atribuído a um só componente79,90,95.
1.7.2.2. Limite de quantificação (LQ)
Limite de quantificação é a menor quantidade do analito em uma amostra
que pode ser determinada com precisão e exatidão aceitáveis sob as condições
experimentais estabelecidas79,81,82,88,93,94,95. É um parâmetro determinado
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 21
Medicamentos Fitoterápicos.
40. Introdução
principalmente, para ensaios quantitativos de impurezas e produtos de degradação,
sendo expresso em concentração do analito (por exemplo, porcentagem p/p ou p/v,
partes por milhão) na amostra79.
Várias metodologias para a determinação do LQ são possíveis,
dependendo do procedimento ser instrumental ou não. Os modos atuais mais
aceitáveis são descritos a seguir:
a) baseado na avaliação visual: é determinado pela análise de várias
amostras com quantidades conhecidas de analito, estabelecendo-se o nível mínimo
em que pode ser quantificado com aceitável exatidão e precisão. É utilizado
principalmente para métodos não instrumentais90.
b) baseado na relação sinal-ruído (Figura 5): pode ser aplicado somente
em procedimentos analíticos que exibem ruído de linha de base. É determinado pela
comparação da medida dos sinais de amostras com baixas quantidades conhecidas
de analito, estabelecendo-se a mínima concentração em que o analito pode ser
quantificado com confiabilidade. A relação sinal-ruído típica é 10:1 (concentração do
analito que produz sinal 10 vezes superior ao ruído da linha de base) 79,90,95.
Figura 5 – Pico de CLAE-UV representando uma relação sinal-ruído de 10:1.
c) baseado no desvio padrão da resposta e no coeficiente angular da
curva de calibração: o LQ pode ser expresso como LQ = 10 (DP/S), onde S é a
inclinação da curva de calibração e o DP é o desvio padrão da resposta que pode
ser determinado com base no DP do branco79,82,90,95, no DP da análise de amostras
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 22
Medicamentos Fitoterápicos.
41. Introdução
com baixas quantidades de analito84, no DP do residual da linha de regressão90,95 ou
no DP da intersecção do y das linhas de regressão79,90,95. Para este último cálculo do
DP, são necessárias, no mínimo, três curvas de calibração contendo concentrações
do analito próximas ao suposto limite de quantificação79. A relação 10 DP é
associada a um erro de 30% com 99% de probabilidade97.
O termo limite observado de quantificação (LOQ) pode ser encontrado em
análises de resíduos98. Um outro termo encontrado na literatura é o limite inferior de
quantificação (LIQ) utilizado em análises de matrizes biológicas79,88.
1.7.2.3. Limite de detecção (LD)
Limite de detecção é a menor quantidade do analito em uma amostra que
pode ser detectada, porém não necessariamente quantificada, sob as condições
experimentais estabelecidas.
Pode ser determinado com base na avaliação visual 79,90, na relação sinal-
ruído, cuja relação sinal-ruído típica é 2:188,89,90 ou 3:179,89,90 ou ainda, pode ser
expresso como LD = 3,3 (DP/S)90, onde S é o coeficiente angular da curva de
calibração e o DP é o desvio padrão da resposta que pode ser determinado pelos
mesmos métodos descritos para LQ. A relação LD = 3 (DP/S) também é encontrada
na literatura79. Na determinação pela relação 3,3 ou 3 DP/S, o resultado será um
verdadeiro reflexo do limite de detecção se S for bem definido e a intersecção for
essencialmente zero82.
1.7.2.4. Linearidade e faixa de aplicação
Linearidade é a habilidade do método produzir resultados diretamente
proporcionais à concentração do analito num dado intervalo de variação 81,90,94,95,96.
Intervalo é a faixa de variação entre o maior e o menor nível de analito
que demonstra ser determinado com precisão, exatidão e linearidade usando o
método descrito79.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 23
Medicamentos Fitoterápicos.
42. Introdução
Para análise da linearidade do método, recomenda-se o número de cinco
79,90
concentrações em replicata (n>2) nas seguintes faixas mínimas de variação:
para doseamento, 80 a 120% da concentração do teste 79,86,90; para teste de
impurezas, do nível esperado até 120% do limite máximo especificado; em análises
de resíduos, de ½ a 5 LOQ98; em testes de uniformidade de conteúdo: 70 a
130%79,90 e em ensaios de dissolução: ± 20% em relação à faixa de variação do
teste79,90. Em toxicologia os limites devem se adequar às quantidades a serem
controladas79,86,90.
A linearidade pode ser demonstrada pelo exame visual do gráfico (Figura
6) que relaciona os sinais obtidos na análise e a concentração do analito 79,88. A
equação da reta é definida por: y = ax + b 93, onde y= resposta do analito, x=
concentração, a= coeficiente angular e b= coeficiente linear.
Figura 6 – Curva de calibração por padrão externo.
A avaliação da linearidade pode ser realizada de diversas formas
dependendo da natureza da análise:
a) pela construção de curva de calibração a partir de soluções-padrão
(padrão externo) de analito em diferentes concentrações81 (Figura 6). Relaciona a
resposta do aparelho com a massa do analito 81,94 sem levar em conta a interferência
da matriz94.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 24
Medicamentos Fitoterápicos.
43. Introdução
b) pela construção da curva de calibração com adição do analito à matriz,
a qual elimina a interferência da matriz e de outras etapas do método 94. O analito
pode ser adicionado na etapa inicial do método ou na fase final, imediatamente
antes da realização da medida pelo equipamento. Geralmente é utilizada quando há
impossibilidade de se obter uma matriz branca (sem a presença do analito) (Figura
7)81,94. Neste caso, o intercepto da curva no eixo y (coeficiente linear) corresponde
ao sinal do analito presente na matriz sem adição81.
Figura 7 – Curva de calibração por adição de padrão na matriz contendo o analito
c) pela construção da curva de calibração com adição de padrão interno.
A curva é construída a partir de soluções-padrão de analito em diferentes
concentrações, nas quais é adicionada uma concentração fixa de padrão interno 81,94
(Figura 8), cuja medida permite comparação relativa com o analito. O padrão interno
é uma substância de tempo de retenção próximo e boa resolução em relação ao
analito, alta pureza e estabilidade81,94.
Figura 8 – Curva de calibração com adição de padrão interno.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 25
Medicamentos Fitoterápicos.
44. Introdução
Havendo relação linear aparente, os resultados deverão ser tratados por
métodos estatísticos apropriados para determinação da soma residual dos
quadrados mínimos da regressão linear, do coeficiente de correlação, da intersecção
com o eixo y, do coeficiente angular e desvio padrão relativo79,90.
Figura 9 – Regressão linear de uma curva de calibração. Reta vermelha, reta ideal
estimada por regressão linear.
A regressão linear (método dos mínimos quadrados) (Figura 9) é uma
forma de estimar qual a melhor reta que passa pelos pontos obtidos
experimentalmente93, geralmente realizada por programas computacionais.
O coeficiente de correlação (r) expressa a relação de x e y na curva, em
que os valores ideais esperados são 1 e –1 , ou seja, quanto mais próximo da
unidade maior a relação, maior a probabilidade de existir uma relação linear definida.
Caso os valores tendam a zero, indica que não há relação linear 15. Alguns critérios
mínimos aceitáveis são r= 0,9979 e 0,99986. A maioria dos artigos avalia a
linearidade pelo coeficiente de determinação: o quadrado do coeficiente de
correlação (r2)99,100,101.
1.7.2.5. Sensibilidade
Pode-se definir sensibilidade como sendo a capacidade de um método
distinguir, com determinado nível de confiança, duas concentrações próximas 81,86,94.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 26
Medicamentos Fitoterápicos.
45. Introdução
Na literatura há uma divergência sobre o conceito de sensibilidade que
pode ser definido pela determinação dos limites de quantificação e detecção 81,96 ou
pela coeficiente angular da curva de calibração 82,94,95. Segundo os defensores do
segundo conceito, sensibilidade não é uma referência ao conceito atual de limite de
detecção e quantificação.
Pode ser utilizada como parâmetro comparativo entre dois métodos.
Quanto maior for o coeficiente angular da curva de calibração, maior a sensibilidade
do método82,94.
1.7.2.6. Exatidão
Exatidão é o grau de concordância ou compatibilidade entre o valor médio
dos resultados e o valor de referência aceito79,81,82,86,93,94,95,96. O cálculo é realizado
pela fórmula79:
%Exatidão = Concentração média experimental 100%
Concentração de referência aceita
ou em termos de inexatidão94:
%Inexatidão = Concentração obtida – Concentração esperada 100%
Concentração esperada
Os termos exatidão e acurácia são utilizados como sinônimos, sendo o
termo exatidão mais comum na literatura brasileira. Apenas uma das literaturas
consultadas designa acurácia como a medida que combina precisão e exatidão82.
Várias formas de avaliação da exatidão estão disponíveis: análise de
amostra de concentração conhecida (padrão de referência) e comparação dos
dados com o valor verdadeiro79,90,95; comparação dos dados do método novo com os
de uma metodologia bem caracterizada de exatidão estabelecida 79,90,95; recuperação
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 27
Medicamentos Fitoterápicos.
46. Introdução
de quantidades conhecidas de analito adicionadas a matrizes brancas 79,90,95 e
recuperação de quantidades conhecidas de analito adicionadas a matrizes com o
analito79,90. Este último é mais utilizado quando há impossibilidade de obter matriz
branca, como por exemplo, em medicamentos fitoterápicos.
%Recuperação = Concentração obtida 100%
Concentração adicionada
Recomenda-se que a análise da exatidão seja realizada com nove
determinações contemplando o intervalo linear do procedimento, ou seja, 3
concentrações, baixa, média e alta, com 3 réplicas cada79,90,96. Na literatura
podemos encontrar os níveis de concentração baixo, médio e alto indicados como
80, 100 e 120% da concentração usual da amostra 86. A concentração recomendada
para avaliação da exatidão varia de acordo com as matrizes ou quantidade de
analito na amostra.
Na avaliação de recuperação de resíduos de pesticidas por exemplo,
recomenda-se que as três concentrações sejam: 1L OQ, 2 LOQ e 10 LOQ 98. Valores
de exatidão de 98 a 102% são recomendados para métodos de doseamento,
inclusive de produtos farmacêuticos96. No caso de dosagem de impurezas: 0,1%
absoluto ou 10% relativo80. Para resíduos: 70 a 120% de exatidão98. Em análises
bioanalíticas considera-se valores 15%, ou 20% no LQ79,88.
1.7.2.7. Precisão
Precisão é a avaliação da proximidade dos resultados obtidos em uma
série de medidas do método79,82,93. É calculada pelo coeficiente de variação (CV):
%CV = desvio padrão das medidas 100%
concentração média determinada
Pode ser avaliada em três níveis: repetitividade, precisão intermediária e
reprodutividade.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 28
Medicamentos Fitoterápicos.
47. Introdução
Repetitividade: expressa a precisão entre os resultados de medidas do
mesmo método para a mesma amostra, no mesmo laboratório, pelo mesmo
operador usando mesmo equipamento em um curto intervalo de
tempo79,82,86,90,93,94,95. Deve ser avaliada pela análise de amostras em 3
concentrações em triplicata contemplando intervalo linear ou 6 determinações a
100% da concentração teórica da amostra79,80,90,95. Amostras autênticas são
utilizadas para evitar diferenças devido à interação entre o analito e a matriz 94. Em
análises bioanalíticas utiliza-se 3 concentrações em quintuplicata79,80,90. A
repetitividade do instrumento também deve ser avaliada através de 10 injeções de
uma mesma amostra86.
Para doseamento recomenda-se que a variação seja 2% e a precisão
do instrumento 1%80. No caso de impurezas, 5% no LQ e a precisão do
instrumento 10%80. Em análise de resíduos valores até 20% são aceitos98.
Precisão intermediária expressa a precisão dos resultados obtidos
usando o mesmo laboratório, mas em dias diferentes, com analistas diferentes e/ou
equipamentos diferentes79,81,82,86,90,95,96. Para a determinação da precisão
intermediária recomenda-se um mínimo de 2 dias diferentes com analistas
diferentes79,94. O uso de amostras autênticas também é indicado90.
A reprodutividade expressa a precisão dos resultados obtidos pelo
mesmo método e mesma amostra, por diferentes operadores, usando diferentes
equipamentos em diferentes laboratórios79,82,90,93,94,95. Geralmente avaliada em
estudos colaborativos, aplicados à padronização de metodologia analítica, por
exemplo, para inclusão de metodologia em farmacopéias 79,90. O valor máximo
aceitável deve ser definido de acordo com a metodologia empregada, a
concentração do analito na amostra, o tipo de matriz e a finalidade do método, não
se admitindo valores superiores a 5%79. Em análises bioanalíticas, o valor limite é
15%, sendo no LIQ, valores menores ou iguais a 20%79,88.
Alguns aspectos da precisão, como precisão intermediária e
reprodutividade, estão intimamente associados à robustez do método 82.
Desenvolvimento e Validação de Metodologias para Determinação de Furanocumarinas em 29
Medicamentos Fitoterápicos.