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ASMA OCUPACIONAL
OCCUPATIONAL ASTHMA
Willy Sarti
Coordenador da Divisão de Imunologia Clínica do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo.
CORRESPONDÊNCIA: Willy Sarti – Departamento de Clínica Médica – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
– Campus Universitário – CEP: 14048-900 – Ribeirão Preto, SP.
SARTI W. Asma ocupacional. Medicina, Ribeirão Preto, 30: 383-391, jul./set. 1997.
RESUMO: Nesta revisão da asma causada por estímulos próprios do ambiente de trabalho –asma
ocupacional – são discutidas sua conceituação, classificação, agentes desencadeantes,
fisiopatologia, critérios diagnósticos e diagnóstico diferencial, princípios de tratamento e prognós-
tico. É também apresentado um caso clínico ilustrativo, relacionado à exposição ambiental em
indústria de calçados.
UNITERMOS: Asma. Exposição Ambiental. Doenças Ocupacionais.
383
Medicina, Ribeirão Preto,
30: 383-391, jul./set. 1997 Artigo Especial: IMUNOLOGIA CLÍNICA
O caráter alérgico da doença foi reconhecido,
pela primeira vez, em 1909, por Cole, que descreveu
um caso de alergia ao trigo com “scratch test” positi-
vo. A seguir, em 1916, Schloss demonstrou testes
cutâneos de reação imediata ao extrato de farinha de
trigo. Em 1929, De Besche transferiu passivamente a
reatividade cutânea, com soros de padeiros asmáticos,
de acordo com a técnica de PRAUSNITZ-KÜSTNER,
dando, assim, suporte à teoria da presença de anticor-
pos reagínicos na alergia por farinha de trigo1.
Atualmente, é reconhecido amplamente que a
“asma dos padeiros” é devida à reação de hipersensi-
bilidade imediata, mediada por IgE e provocada pela
inalação de antígenos da farinha de trigo2,3
.
2. EPIDEMIOLOGIA
Nos dias atuais, a asma ocupacional tornou-se
a doença pulmonar ocupacional mais prevalente nos
países desenvolvidos. Programas de vigilância, em vá-
rios países, têm revelado que a asma ocorre entre 26%
e 52% das doenças respiratórias ocupacionais4/7
.
1. INTRODUÇÃO
A primeira descrição de asma ocupacional foi
feita em 1700, em Pádova, na Itália, por Bernardino
Ramazzini. Em seu trabalho “De Morbis Artificum”,
a doença dos artesãos, descreve os sintomas de tosse e
dispnéia, que acometem os padeiros, moleiros e traba-
lhadores em armazéns de cereais. Ramazzini supunha
que a causa da obstrução brônquica era devida à for-
mação de uma cola ou pasta, pela deposição de fari-
nha nas vias aéreas. Discutiu a possibilidade de preven-
ção e confessava que desconhecia qualquer tratamen-
to eficaz para impedir os malefícios e as perigosas
conseqüências do pó de farinha na saúde humana1
.
Entretanto, a asma dos padeiros tem sido re-
ferida desde a Antigüidade, pois foi documentado
que escravos romanos, padeiros e moleiros, tinham
que usar máscara e luvas, quando em contacto com a
farinha1.
Desde Ramazzini, vários autores estudaram a
asma relacionada à profissão de padeiro, sendo, des-
de então, conhecida como “Asma dos Padeiros”.
384
W Sarti
Nos Estados Unidos, os casos novos de asma ocupa-
cional têm sido estimados em 15% 5
.
A alergia ocupacional representa, hoje, um pro-
blema de extensão mundial, com tendência a se agra-
var em virtude da industrialização e do surgimento de
novas substâncias.
Até o presente, têm sido descritos mais de du-
zentos e cinqüenta agentes que causam asma ocupa-
cional. Os isocianatos são largamente usados na in-
dústria e são responsáveis pela forma mais comum da
doença. São usados em fundição de metais, composi-
ção de substâncias plásticas e em tintas e vernizes.
Cerca de 10% das pessoas expostas aos isocianatos
desenvolvem asma8
.
3. CLASSIFICAÇÃO
Há duas categorias de asma que ocorrem no
local de trabalho; asma ocupacional e asma agravada
no local de trabalho.
A asma ocupacional é caracterizada pelo qua-
dro obstrutivo e hiperreatividade das vias aéreas, de-
vido a condições próprias do ambiente de trabalho e
não por estímulos de fora do local de trabalho. A asma
agravada é preexistente e é agravada por fatores irri-
tantes do ambiente de trabalho.
Dois tipos de asma ocupacional podem ser di-
ferenciados por conta de um período de latência, que
pode haver ou não.
A asma ocupacional com um período de latên-
cia é a mais comum e desenvolve-se após um período
de exposição que varia de semanas até vários anos.
Aqui estão incluídas as asmas ocupacionais com ca-
rácter imunológico, embora nem todos os agentes en-
volvidos tenham tido os seus mecanismos imunológi-
cos identificados.
A asma ocupacional sem período de latência
ocorre após a exposição a altas concentrações de ga-
ses, fumo ou substâncias químicas, em alguma ou vá-
rias ocasiões8,9
.
4. AGENTES CAUSADORES
Os agentes causadores da asma ocupacional
formam uma lista longa e com tendência a aumentar.
As substâncias envolvidas na asma com latência en-
contram-se entre largo espectro de substâncias natu-
rais e sintéticas, encontradas em diversos processos
industriais e em variados materiais de uso corrente,
em várias atividades profissionais10. Estes agentes
podem ser subdivididos entre aqueles que são IgE
dependentes e aqueles IgE independentes (Tabela I),
diferindo na apresentação clínica, no tipo de reação
produzida durante os testes de provocação e, também,
nas características das pessoas envolvidas (Tabela II).
Gases irritantes como cloro ou amônia são os
agentes mais comumente responsáveis pela indução
de asma sem latência8.
Tabela I - Classificação e características da asma ocupacional*
Características
Asma com latência
Asma sem latência
IgE dependente IgE independente
Clínicas
Tempo de exposição longo curto em horas
Tipo de resposta ao teste
de provocação imediata dupla tardia desconhecida
Epidemiológicas
Prevalência na população exposta < 5% > 5% desconhecida
Fatores predisponentes Atopia desconhecidos desconhecidos
fumo?
Patológicas
Ativação de Linfócitos ++++ ++++ +
Ativação de Eosinófilos ++++ +++
Fibrose Subepitelial + + ++++
Espessamento da membrana basal ++++ ++++ ++++
Descamação Epitelial + + ++++
* Adaptada de Chang-Yeung M e Malo JL. (ref.8).
Asma ocupacional
385
Figura 1 - Principais tipos de respostas brônquicas à provocação com alérgeno. Raw: resistência das vias aéreas em cm H2
O/seg-1.
Tabela II - Agentes que mais freqüentemente causam asma ocupacional*
Agentes Tipo de ocupação
Origem animal
Epitélios de cães, gatos, ratos, - veterinários
cobaias, etc. - laboratoristas
Insetos e ácaros de cereais - trabalhadores em armazéns
Frutos do mar - trabalhadores na indústria de processamento
Origem vegetal ou bacteriana
Cereais e farinha - padeiros e moleiros
Pó de serra - marceneiros
Enzimas - trabalhadores na indústria farmacêutica
- trabalhadores na indústria de detergentes
- padeiros
Breu - soldadores
Gomas - trabalhadores na indústria farmacêutica
Látex - trabalhadores na indústria de tapetes
- profissionais da saúde
Origem Química
Isocianatos - pintores
- trabalhadores nas indústrias de plástico, borracha, espumas
- laqueadores, soldadores
Aminas - manuseadores de adesivos, pintores
Epóxi e Acrilatos
Corantes - trabalhadores na indústria textil
Fumos - trabalhadores na indústria eletrônica
Persulfatos - cabeleireiros
Cromo-Níquel* - trabalhadores na indústria de cromeação, niquelação
Formaldeído - trabalhadores em hospitais
* Adaptado de: Grammer CG. (ref. 23).
5. FISIOPATOLOGIA
A asma ocupacional com latência apresenta
hiperreatividadebrônquica,induzidapelametacolinaou
histamina. Esta reatividade decresce com o tempo de
afastamento da exposição e tende a retornar, gradati-
vamente, após exposição ao agente sensibilizante.
Quando estudada por meio dos testes de provo-
cação, pode apresentar-se de maneira variada. As rea-
ções podem ser imediatas isoladas, tardias isoladas,
bifásicas (imediata e tardia em seqüência) ou contí-
nuas11 (Figura 1). A reação imediata isolada ocorre em
poucos minutos após a provocação, atingindo o máxi-
mo em torno de trinta minutos e tende a desaparecer
Raw
Raw
Raw
8
4
5’ 30’ 4h 6h 30’ 4h 6h 8h 10h 30’ 4h 6h 8h 10h
PROVOCAÇÃO
8
4
8
4
PROVOCAÇÃO PROVOCAÇÃO
IMEDIATA TARDIA DUPLA
386
W Sarti
em sessenta a noventa minutos. Comporta-se, assim,
da mesma forma que a asma alérgica clássica, frente a
teste de provocação com agente sensibilizante.
Esta semelhança com a asma clássica e o ime-
diatismo da resposta sugerem mecanismo de hiper-
sensibilidade do tipo imediato, envolvendo, portan-
to, a participação de IgE e mastócitos sensibilizados.
Uma reação tardia isolada ocorre de quatro a seis horas
após a provocação com o agente específico e atinge o
máximo em oito a doze horas, evanescendo após vin-
te e quatro a trinta e seis horas. Ao que tudo indica, é
mediada também por IgE, e possivelmente por IgG,
talvez a IgG4. A reação bifásica é constituída por uma
reação imediata que desaparece espontaneamente,
seguida de reação tardia, duas a seis horas mais tarde.
A reação contínua não apresenta remissão entre as
respostas imediatas e tardias. Há ainda a reação repe-
titiva que persiste por dias, após a provocação1,8,11.
Estes padrões diferentes de respostas à provocação
não são bem compreendidos, porém podem estar re-
lacionados a variados mecanismos de resposta infla-
matória na asma brônquica, frente a diferentes carac-
terísticas dos agentes provocadores, bem como, ain-
da, dependentes dos tipos de protocolos de provoca-
ção que são usados.
A maioria dos compostos de peso molecular
elevado, isto é, acima de 5.000 daltons, são indutores
da produção de IgE específica, enquanto que algumas
substâncias de baixo peso molecular, como os anidri-
dos e os sais de platina, podem atuar como haptenos,
ligando-se a proteínas plasmáticas ou teciduais indu-
zindo à produção de IgE específica11,12,13
.
Entretanto, para a maioria dos compostos de
baixo peso molecular, tais como os isocianatos, a pro-
dução de IgE específica tem sido demonstrada em
apenas uns poucos casos e, ainda assim, a presença de
igE específica tem sido considerada como um marca-
dor da exposição ao antígeno, e não necessariamente
como responsável pela reação14
.
O papel dos linfócitos, na asma ocupacional,
bem como na asma clássica, está sob intensa investi-
gação. Alguns estudos sugerem um papel direto, im-
portante no processo inflamatório da mucosa brôn-
quica, mais do que a eventual modulação da resposta
IgE. As alterações anatomopatológicas encontradas na
asma ocupacional são semelhantes àquelas das outras
formas de asma. A acumulação de células inflamató-
rias e, entre elas, principalmente os eosinófilos, jun-
tamente com o edema, hipertrofia da musculatura lisa
e fibrose subepitelial são responsáveis pelo espessa-
mento das paredes brônquicas, que, com a secreção
de muco, leva à obstrução15/17
. Estas alterações são
encontradas em pulmões de pacientes que morreram
por “asma” induzida por isocianato18
e em biópsias
de mucosa brônquica de pacientes portadores de asma
ocupacional8,19
.
A asma ocupacional sem latência é induzida por
agentes irritativos e é mediada por mecanismo desco-
nhecido, embora as alterações patológicas nela encon-
tradas sejam iguais àquelas dos pacientes com asma
ocupacional com latência20. Entretanto, estudos mais
recentes sugerem algumas diferenças, com achados
de fibrose mais marcantes na parede brônquica e me-
nor número de linfócitos T, sugerindo ausência de
mecanismo imunológico na asma sem latência21,22
.
6. DIAGNÓSTICO
Ao se examinar um trabalhador suspeito de ter
asma ocupacional, é necessário, primeiramente, esta-
belecer o diagnóstico de asma e depois buscar o diag-
nóstico de asma causada por exposição ocupacional.
Os critérios necessários para se estabelecer a
relação com a ocupação dependem do propósito com
que o diagnóstico é feito. Assim, os requisitos são
mais marcantes, se o propósito é o diagnóstico médi-
co, e a relação com o trabalho deve ser demonstrada
de modo bem objetivo. Se o propósito tiver objetivos
epidemiológicos, os critérios necessários podem ser
menos marcantes, o que por sua vez aumenta a sensi-
bilidade da identificação de casos.
O diagnóstico diferencial deve ser feito com
as condições listadas na Tabela III, que comumen-
te se confundem com o quadro clínico de asma ocu-
pacional.
Tabela III - Diagnóstico diferencial da asma ocu-
pacional
1. Asma preexistente ou doença obstrutiva crônica
(DPOC), exacerbadas pelo frio, exercícios ou
substâncias irritantes no ambiente de trabalho.
2. Desenvolvimento de asma ou DPOC no local de
trabalho, porém não relacionada com exposição
a agentes sensibilizantes.
3. Pneumonite por hipersensibilidade.
4. Outras doenças respiratórias, não asmáticas,
como bissinose, pneumoconiose, etc.
5. Distúrbio do pânico ou outras manifestações
psicossomáticas, que causam dispnéia.
6. Simulação.
Asma ocupacional
387
A falta de agente sensibilizante específico afasta
o diagnóstico de asma ocupacional, quando se tratar
de asma preexistente ou DPOC ou asma que se desen-
volve no local de trabalho, sem relação com uma ex-
posição sensibilizante específica. No caso de bissino-
se ou pneumoconiose, a história, exame físico, radio-
logia etestesdefunçãopul-
monar são diferentes da-
queles próprios da asma. A
dificuldade maior no diag-
nósticodiferencial situa-se
nas manifestações de cau-
sa psicossomáticaenosca-
sos de simulação. Nestes
casos, a história deve ser
deixada de lado e o diag-
nóstico deve se basear no
exame físico e em testes
objetivos de função pul-
monar e testes imunológi-
cos. Uma vez afastadas
outras doenças respirató-
rias, a atenção deve ser fo-
calizada na tentativa de
demonstrar a associação
entre a asma e a ocupação.
Em primeiro lugar,
deve-se obter uma história
detalhada sobre as expo-
sições, passadas e presen-
tes às substâncias ambien-
tais relacionadas ao traba-
lho; se possível, um relato
cronológico dos sintomas
e se há melhora de sinto-
matologia, quando o pa-
ciente está ausente do lo-
cal de trabalho, por tempo
prolongado. Nos casos
mais evidentes, pode-se
obter uma história em que
as queixas de dispnéia e si-
bilância apresentam-se no
final da jornada de traba-
lho, para, no dia seguinte
pela manhã, apresentar-se
relativamente assintomáti-
co, mostrando, também,
nítida melhora nos fins de
semana. Nas ausências
mais prolongadas do tra-
balho, como nas férias ou
Figura 2 - Algoritmo para investigação da asma ocupacional.
licença para tratamento, a recuperação é total. Entre-
tanto, a maioria dos casos não se apresenta tipicamente
desta maneira e, assim, recursos objetivos são neces-
sários para diagnóstico. Têm sido descritos vários al-
goritmos para a investigação clínica, que são muito
semelhantes entre si8,23
(Figura 2).
História compatível com exposição a agentes causais
â
Teste cutâneo e dosagem de IgE específica
â
Avaliação da Hiperreatividade Brônquica
Testes de Broncoprovocação por Metacolina/Histamina
â â
Normal Reatividade Aumentada
å
Paciente no
trabalho
Paciente ausente do trabalho
â
Teste de Provocação com
Agente Ocupacional Suspeito
å æ
Negativo
â
Retorno ao Local
de Trabalho
â
Positivo Negativo
â
Paciente no
trabalho
Positivo
Monitorização com PF ou
Provocação com o Agente Suspeito
Não é Asma Asma Ocupacional Asma não Ocupacional
â
ââ
å æ æ
388
W Sarti
Para aqueles casos IgE dependentes, o teste cutâ-
neo e a dosagem de IgE específica podem ser realiza-
dos, se o alérgeno apropriado for disponível.
A medida da hiperreatividade brônquica com
metocolina/histamina é um passo importante para afas-
tar a asma ocupacional, bem como qualquer outro tipo
de asma. Pacientes, submetidos ao ambiente ocupa-
cional, que não apresentem hiperreatividade, podem
ser excluídos sumariamente do diagnóstico de asma
ocupacional. Entretanto, a positividade a este teste,
indica necessidade de exposição ao suposto antígeno
ocupacional, para confirmação do diagnóstico.
Uma abordagem possível é a exposição do pa-
ciente ao ambiente ocupacional, monitorizado por
medidas de pico do fluxo expiratório. Entretanto, este
método depende da cooperação do paciente e do re-
gistro correto das observações. Para maior efetivida-
de e credibilidade deste método, seria necessário que
as medidas efetuadas no ambiente ocupacional fos-
sem acompanhadas por um técnico. Entretanto, quan-
do possível, a melhor condição para diagnóstico é o
teste de provocação, para reproduzir a sintomatologia
do paciente, em ambiente laboratorial controlado. Os
pacientes devem ser expostos lentamente a doses su-
cessivamente crescentes do agente suspeito, para evi-
tar reações graves11,24. O teste de provocação, especí-
fico, pode produzir falsos resultados negativos, se for
usado o agente suspeito errado ou se o paciente esti-
ver afastado por longo tempo do local de trabalho. A
história de associação temporal entre os sintomas as-
máticos e a exposição ocupacional não se constitui
em condição segura para o estabelecimento do diag-
nóstico de asma ocupacional, porque a asma é uma
doença freqüente, e a exposição concomitante a agen-
tes potencialmente causadores de asma ocupacional
pode se dar casualmente.
Para investigações epidemiológicas, de traba-
lhadores sob risco de asma ocupacional, existe um
questionário que inclui informações sobre sintomas
relacionados com o trabalho25,26
.
CASO CLÍNICO
Identificação: E.A.S. 40 anos, sexo masculino,
brasileiro, pardo, sapateiro, procedente de Franca - SP.
HMA – Relata o paciente que, há cerca de oito
meses, começou a sentir coceira na garganta acompa-
nhada de espirros e corrimento nasal hialino, e que
surgem até o presente, 2 a 4 horas após iniciar o tra-
balho. Após seis a oito horas do início do trabalho,
apresenta tosse seca, chiadeira no peito e falta de ar.
Faz uso de Franol e melhora do quadro respiratório.
O paciente trabalha em fábrica de calçados, onde opera
uma máquina com escovas para polir saltos e solas de
sapatos, após haverem sido tingidos. O micro am-
biente do local de trabalho fica tomado por uma nu-
vem densa de pó de tinta para calçados. Não usa más-
cara ou qualquer equipamento de proteção. Quando
se afasta do trabalho, para tratamento a sintomatolo-
gia desaparece. Quando volta ao trabalho, os sinto-
mas reaparecem em três a quatro dias. Nega passado
de manifestações alérgicas, como eczema, urticária,
rinite e asma brônquica.
Atualmente, está sendo tratado de úlcera péptica
e refere constipação intestinal de até dois dias. Nega
palpitações, cianose e edemas.
Antecedentes pessoais sem interesse. Nega, en-
fermidade semelhante à sua entre os seus familiares
próximos.
Exame Físico: bom estado geral, afebril, hi-
dratado e ativo. Mucosas úmidas e coradas. Tecido
subcutâneo sem edemas e distribuição normal da gor-
dura. Gânglios não palpáveis. Musculatura e esque-
leto sem alterações. O exame físico do tórax não re-
velou anormalidades. Coração, duas bulhas rítmicas,
norfonéticas, sem sopros. Pressão arterial igual a
120x80 mmHg, Freqüência de pulso igual à freqüên-
cia cardíaca, igual a setenta e seis batimentos por mi-
nuto. Abdome plano, normotenso, sem massas tumo-
rais palpáveis. Fígado e baço não palpáveis.
Exames Complementares:
Teste cutâneo (Prick Test) negativo para uma
bateria composta de vinte e quatro antígenos ambien-
tais comuns.
Teste de Função Pulmonar dentro da normali-
dade, sem sinais de distúrbios ventilatórios, restriti-
vos ou obstrutivos.
Raio X de tórax, não revelou qualquer anorma-
lidade.
Exame direto e cultura de escarro, negativos
para BAAR.
Teste de Tuberculina = reator forte.
Exame Parasitológico de Fezes = negativo
GV = 5.000.000 /mm3
# GB = 7.200/mm3
# Hb=16,2 g/dL
Neutrófilos Bast. = 08%; Neutrófilos
Seg. = 66%; Eosinófilos = 04%; Basófilos = 00%;
Linfócitos = 20%; Monócitos = 02%; Plasmóci-
tos = 00%; Urina rotina: Sem alterações.
Asma ocupacional
389
caso de asma ocupacional está entre aqueles IgE de-
pendentes ou IgE independentes.
A conduta terapêutica foi o afastamento do pa-
ciente, daquele microambiente, o que foi suficiente
para o desaparecimento imediato da sintomatologia.
Foi transferido para outro setor da fábrica, após o pa-
trão ter tomado conhecimento da situação.
7. TRATAMENTO
O melhor tratamento para asma ocupacional
consiste no afastamento do paciente do agente provo-
cador. O trabalhador pode ser mudado de lugar, den-
tro da mesma empresa, ou ser transferido para outro
tipo de ocupação. O uso de máscaras ou outro méto-
do para reduzir a exposição não é efetivo para os pa-
cientes com asma ocupacional com período de latên-
cia, pois, estes indivíduos tendem a reagir frente a
diminutas quantidades do agente. Quando a asma for
do tipo irritativo, é possível alguma acomodação, pela
melhoria das condições ambientais. Aqui, o papel do
médico é importante na conscientização do paciente
e do empregador, e na sugestão de vias para solução
do problema.
Em qualquer circunstância em que o paciente
volte ao mesmo ambiente de trabalho, deve ser
acompanhado por observação médica, e, em caso de
reaparecimento dos sintomas, deve ser removido da
exposição, imediatamente.
Figura 3 - Teste de broncoprovocação do paciente E.A.S. com asma ocupacional, induzida
por pó de tinta para calçados.
V E F 1
em
LITROS
HORAS
Teste de Broncoprovocação: utilizado o pó
derivado da atividade da máquina de polir calçados,
como substância teste, e carvão vegetal em pó, como
placebo. Em ambos os casos, o procedimento foi como
segue: O paciente foi confinado em uma cabine de
madeira, envidraçada de 1 m2
de área por dois metros
de altura. No interior, sobre uma pequena mesa, duas
bandejas, uma vazia e outra contendo o pó. Durante
trinta minutos, o paciente passava o conteúdo de uma
bandeja para a outra, de modo a provocar a suspensão
de poeira naquele ambiente. A cada quinze minutos,
durante uma hora, foram feitas medidas do FEV1. A
seguir, as medidas foram feitas a cada hora durante
dez horas. Como pode ser verificado pela Figura 3, o
paciente apresentou medidas de VEF1 normais, du-
rante a provocação com o placebo. Mostrou resposta
dupla de queda dos valores do VEF1, quando da
broncoprovocação com o pó de tinta para calçado.
Neste caso, a história clínica típica, associada
a uma resposta obstrutiva à provocação com a subs-
tância suspeita, sugere o diagnóstico de asma ocupa-
cional, provocada pela inalação, intensa e por longo
tempo, da suspensão do pó de tinta.
Uma injeção intradérmica, de 0,02ML de uma
diluição a 1/100.000 da tinta original, provocou uma
respostainflamatóriaquatrohorasdepois.Biópsiadaárea
inflamada revelou infiltrado de neutrófilos e linfócitos,
bem como, por imunofluorescência, pôde-se apreciar
a deposição de complemento no endotélio capilar.
É possível que componentes da tinta, como hi-
drocarbonetos, e princi-
palmente cera sejam ati-
vadores do sistema do
complemento e, assim,
responsáveis pela lesão
inflamatória cutânea.
Entretanto,inferiro mes-
mo mecanismo para a
inflamação da mucosa
brônquica seria alçar
um patamar de especu-
lação ainda maior.
Maiores inves-
tigações seriam neces-
sárias para tentar iden-
tificar qual ou quais os
componentes deste pó
seriamresponsáveispela
reaçãoinflamatória,bem
como averiguar se este
PLACEBO
PÓ DE TINTA
PROVOCAÇÃO
390
W Sarti
O tratamento medicamentoso na asma ocupa-
cional é o mesmo que para outras formas de asma,
mas deve ser apenas complementar ao afastamento
do agente. Embora o afastamento do agente causador
resulte em melhora, alguns pacientes continuam ne-
cessitando medicação por muito tempo, isto é, meses
ou anos.
8. AVALIAÇÃO DO GRAU DE COMPROMETI-
MENTO
O paciente deve ser avaliado, quanto à pre-
sença de invalidez temporária ou permanente, quan-
do a sua asma estiver sob bom controle. A avaliação
quanto à possibilidade de invalidez permanente deve
ser levada a efeito, após dois anos, quando o estado
da sintomatologia tenha atingido um platô27,28
. Um
guia para avaliação do grau de comprometimento ou
invalidez, provocado pela asma, foi publicado pela
American Thoracic Society, onde, além das medidas
da função pulmonar, é recomendado que a avaliação
inclua o grau de reatividade brônquica, induzida far-
macologicamente, ou o grau de reversão da obstru-
ção, induzida pelos betaadrenérgicos, bem como a
quantidade mínima de medicação necessária para con-
trole da asma e seu efeito na qualidade de vida do
indivíduo29
.
9. PROGNÓSTICO
Uma proporção significante de trabalhadores
com asma ocupacional não alcançam a cura comple-
ta, após o afastamento do ambiente de trabalho26
. Os
fatores que afetam o prognóstico não são bem conhe-
cidos, entretanto, o prognóstico favorável parece es-
tar associado ao tempo curto de duração dos sintomas
(menor que 1 ano), testes de função pulmonar nor-
mais e grau baixo de hiperreatividade brônquica30,31
.
Assim, sugere-se que o diagnóstico precoce e a remo-
ção da exposição são fatores importantes para se con-
seguir a recuperação completa do paciente.
Deve ser enfatizado que a deterioração é a re-
gra para aqueles indivíduos que permanecem expos-
tos após o diagnóstico26,32
.
10. PREVENÇÃO
O objetivo principal na asma ocupacional é a
prevenção. Higiene ambiental, tal como melhor ven-
tilação, ou processos de isolamento podem contribuir
para melhoria ambiental. O uso de equipamentos de
proteção individual é importante e tem seu emprego
em alguns casos. A educação do trabalhador acerca
da exposição no ambiente de trabalho, seus efeitos na
saúde e como minimizá-los tem importância também23.
SARTI W. Occupational asthma. Medicina, Ribeirão Preto, 30: 383-391, july/sept. 1997.
ABSTRACT: In this review of the asthma caused by stimuli derived from the work environment
- occupational asthma - we discuss its concept, classification, triggering agents, pathophysiology,
diagnostic criteria and differential diagnosis, therapeutical principles and prognosis. It is also
presented a clinical case related to environmental exposition in the shoe industry.
UNITERMS: Asthma. Environmental Exposure. Occupational Diseases.
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Asma ocupacional
391
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ratory disease due to toluene diisocyanate (TDI). Clin Allergy
14: 463-468, 1984.
Recebido para publicação em 02/07/97
Aprovado para publicação em 30/07/97

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  • 1. ASMA OCUPACIONAL OCCUPATIONAL ASTHMA Willy Sarti Coordenador da Divisão de Imunologia Clínica do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. CORRESPONDÊNCIA: Willy Sarti – Departamento de Clínica Médica – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Campus Universitário – CEP: 14048-900 – Ribeirão Preto, SP. SARTI W. Asma ocupacional. Medicina, Ribeirão Preto, 30: 383-391, jul./set. 1997. RESUMO: Nesta revisão da asma causada por estímulos próprios do ambiente de trabalho –asma ocupacional – são discutidas sua conceituação, classificação, agentes desencadeantes, fisiopatologia, critérios diagnósticos e diagnóstico diferencial, princípios de tratamento e prognós- tico. É também apresentado um caso clínico ilustrativo, relacionado à exposição ambiental em indústria de calçados. UNITERMOS: Asma. Exposição Ambiental. Doenças Ocupacionais. 383 Medicina, Ribeirão Preto, 30: 383-391, jul./set. 1997 Artigo Especial: IMUNOLOGIA CLÍNICA O caráter alérgico da doença foi reconhecido, pela primeira vez, em 1909, por Cole, que descreveu um caso de alergia ao trigo com “scratch test” positi- vo. A seguir, em 1916, Schloss demonstrou testes cutâneos de reação imediata ao extrato de farinha de trigo. Em 1929, De Besche transferiu passivamente a reatividade cutânea, com soros de padeiros asmáticos, de acordo com a técnica de PRAUSNITZ-KÜSTNER, dando, assim, suporte à teoria da presença de anticor- pos reagínicos na alergia por farinha de trigo1. Atualmente, é reconhecido amplamente que a “asma dos padeiros” é devida à reação de hipersensi- bilidade imediata, mediada por IgE e provocada pela inalação de antígenos da farinha de trigo2,3 . 2. EPIDEMIOLOGIA Nos dias atuais, a asma ocupacional tornou-se a doença pulmonar ocupacional mais prevalente nos países desenvolvidos. Programas de vigilância, em vá- rios países, têm revelado que a asma ocorre entre 26% e 52% das doenças respiratórias ocupacionais4/7 . 1. INTRODUÇÃO A primeira descrição de asma ocupacional foi feita em 1700, em Pádova, na Itália, por Bernardino Ramazzini. Em seu trabalho “De Morbis Artificum”, a doença dos artesãos, descreve os sintomas de tosse e dispnéia, que acometem os padeiros, moleiros e traba- lhadores em armazéns de cereais. Ramazzini supunha que a causa da obstrução brônquica era devida à for- mação de uma cola ou pasta, pela deposição de fari- nha nas vias aéreas. Discutiu a possibilidade de preven- ção e confessava que desconhecia qualquer tratamen- to eficaz para impedir os malefícios e as perigosas conseqüências do pó de farinha na saúde humana1 . Entretanto, a asma dos padeiros tem sido re- ferida desde a Antigüidade, pois foi documentado que escravos romanos, padeiros e moleiros, tinham que usar máscara e luvas, quando em contacto com a farinha1. Desde Ramazzini, vários autores estudaram a asma relacionada à profissão de padeiro, sendo, des- de então, conhecida como “Asma dos Padeiros”.
  • 2. 384 W Sarti Nos Estados Unidos, os casos novos de asma ocupa- cional têm sido estimados em 15% 5 . A alergia ocupacional representa, hoje, um pro- blema de extensão mundial, com tendência a se agra- var em virtude da industrialização e do surgimento de novas substâncias. Até o presente, têm sido descritos mais de du- zentos e cinqüenta agentes que causam asma ocupa- cional. Os isocianatos são largamente usados na in- dústria e são responsáveis pela forma mais comum da doença. São usados em fundição de metais, composi- ção de substâncias plásticas e em tintas e vernizes. Cerca de 10% das pessoas expostas aos isocianatos desenvolvem asma8 . 3. CLASSIFICAÇÃO Há duas categorias de asma que ocorrem no local de trabalho; asma ocupacional e asma agravada no local de trabalho. A asma ocupacional é caracterizada pelo qua- dro obstrutivo e hiperreatividade das vias aéreas, de- vido a condições próprias do ambiente de trabalho e não por estímulos de fora do local de trabalho. A asma agravada é preexistente e é agravada por fatores irri- tantes do ambiente de trabalho. Dois tipos de asma ocupacional podem ser di- ferenciados por conta de um período de latência, que pode haver ou não. A asma ocupacional com um período de latên- cia é a mais comum e desenvolve-se após um período de exposição que varia de semanas até vários anos. Aqui estão incluídas as asmas ocupacionais com ca- rácter imunológico, embora nem todos os agentes en- volvidos tenham tido os seus mecanismos imunológi- cos identificados. A asma ocupacional sem período de latência ocorre após a exposição a altas concentrações de ga- ses, fumo ou substâncias químicas, em alguma ou vá- rias ocasiões8,9 . 4. AGENTES CAUSADORES Os agentes causadores da asma ocupacional formam uma lista longa e com tendência a aumentar. As substâncias envolvidas na asma com latência en- contram-se entre largo espectro de substâncias natu- rais e sintéticas, encontradas em diversos processos industriais e em variados materiais de uso corrente, em várias atividades profissionais10. Estes agentes podem ser subdivididos entre aqueles que são IgE dependentes e aqueles IgE independentes (Tabela I), diferindo na apresentação clínica, no tipo de reação produzida durante os testes de provocação e, também, nas características das pessoas envolvidas (Tabela II). Gases irritantes como cloro ou amônia são os agentes mais comumente responsáveis pela indução de asma sem latência8. Tabela I - Classificação e características da asma ocupacional* Características Asma com latência Asma sem latência IgE dependente IgE independente Clínicas Tempo de exposição longo curto em horas Tipo de resposta ao teste de provocação imediata dupla tardia desconhecida Epidemiológicas Prevalência na população exposta < 5% > 5% desconhecida Fatores predisponentes Atopia desconhecidos desconhecidos fumo? Patológicas Ativação de Linfócitos ++++ ++++ + Ativação de Eosinófilos ++++ +++ Fibrose Subepitelial + + ++++ Espessamento da membrana basal ++++ ++++ ++++ Descamação Epitelial + + ++++ * Adaptada de Chang-Yeung M e Malo JL. (ref.8).
  • 3. Asma ocupacional 385 Figura 1 - Principais tipos de respostas brônquicas à provocação com alérgeno. Raw: resistência das vias aéreas em cm H2 O/seg-1. Tabela II - Agentes que mais freqüentemente causam asma ocupacional* Agentes Tipo de ocupação Origem animal Epitélios de cães, gatos, ratos, - veterinários cobaias, etc. - laboratoristas Insetos e ácaros de cereais - trabalhadores em armazéns Frutos do mar - trabalhadores na indústria de processamento Origem vegetal ou bacteriana Cereais e farinha - padeiros e moleiros Pó de serra - marceneiros Enzimas - trabalhadores na indústria farmacêutica - trabalhadores na indústria de detergentes - padeiros Breu - soldadores Gomas - trabalhadores na indústria farmacêutica Látex - trabalhadores na indústria de tapetes - profissionais da saúde Origem Química Isocianatos - pintores - trabalhadores nas indústrias de plástico, borracha, espumas - laqueadores, soldadores Aminas - manuseadores de adesivos, pintores Epóxi e Acrilatos Corantes - trabalhadores na indústria textil Fumos - trabalhadores na indústria eletrônica Persulfatos - cabeleireiros Cromo-Níquel* - trabalhadores na indústria de cromeação, niquelação Formaldeído - trabalhadores em hospitais * Adaptado de: Grammer CG. (ref. 23). 5. FISIOPATOLOGIA A asma ocupacional com latência apresenta hiperreatividadebrônquica,induzidapelametacolinaou histamina. Esta reatividade decresce com o tempo de afastamento da exposição e tende a retornar, gradati- vamente, após exposição ao agente sensibilizante. Quando estudada por meio dos testes de provo- cação, pode apresentar-se de maneira variada. As rea- ções podem ser imediatas isoladas, tardias isoladas, bifásicas (imediata e tardia em seqüência) ou contí- nuas11 (Figura 1). A reação imediata isolada ocorre em poucos minutos após a provocação, atingindo o máxi- mo em torno de trinta minutos e tende a desaparecer Raw Raw Raw 8 4 5’ 30’ 4h 6h 30’ 4h 6h 8h 10h 30’ 4h 6h 8h 10h PROVOCAÇÃO 8 4 8 4 PROVOCAÇÃO PROVOCAÇÃO IMEDIATA TARDIA DUPLA
  • 4. 386 W Sarti em sessenta a noventa minutos. Comporta-se, assim, da mesma forma que a asma alérgica clássica, frente a teste de provocação com agente sensibilizante. Esta semelhança com a asma clássica e o ime- diatismo da resposta sugerem mecanismo de hiper- sensibilidade do tipo imediato, envolvendo, portan- to, a participação de IgE e mastócitos sensibilizados. Uma reação tardia isolada ocorre de quatro a seis horas após a provocação com o agente específico e atinge o máximo em oito a doze horas, evanescendo após vin- te e quatro a trinta e seis horas. Ao que tudo indica, é mediada também por IgE, e possivelmente por IgG, talvez a IgG4. A reação bifásica é constituída por uma reação imediata que desaparece espontaneamente, seguida de reação tardia, duas a seis horas mais tarde. A reação contínua não apresenta remissão entre as respostas imediatas e tardias. Há ainda a reação repe- titiva que persiste por dias, após a provocação1,8,11. Estes padrões diferentes de respostas à provocação não são bem compreendidos, porém podem estar re- lacionados a variados mecanismos de resposta infla- matória na asma brônquica, frente a diferentes carac- terísticas dos agentes provocadores, bem como, ain- da, dependentes dos tipos de protocolos de provoca- ção que são usados. A maioria dos compostos de peso molecular elevado, isto é, acima de 5.000 daltons, são indutores da produção de IgE específica, enquanto que algumas substâncias de baixo peso molecular, como os anidri- dos e os sais de platina, podem atuar como haptenos, ligando-se a proteínas plasmáticas ou teciduais indu- zindo à produção de IgE específica11,12,13 . Entretanto, para a maioria dos compostos de baixo peso molecular, tais como os isocianatos, a pro- dução de IgE específica tem sido demonstrada em apenas uns poucos casos e, ainda assim, a presença de igE específica tem sido considerada como um marca- dor da exposição ao antígeno, e não necessariamente como responsável pela reação14 . O papel dos linfócitos, na asma ocupacional, bem como na asma clássica, está sob intensa investi- gação. Alguns estudos sugerem um papel direto, im- portante no processo inflamatório da mucosa brôn- quica, mais do que a eventual modulação da resposta IgE. As alterações anatomopatológicas encontradas na asma ocupacional são semelhantes àquelas das outras formas de asma. A acumulação de células inflamató- rias e, entre elas, principalmente os eosinófilos, jun- tamente com o edema, hipertrofia da musculatura lisa e fibrose subepitelial são responsáveis pelo espessa- mento das paredes brônquicas, que, com a secreção de muco, leva à obstrução15/17 . Estas alterações são encontradas em pulmões de pacientes que morreram por “asma” induzida por isocianato18 e em biópsias de mucosa brônquica de pacientes portadores de asma ocupacional8,19 . A asma ocupacional sem latência é induzida por agentes irritativos e é mediada por mecanismo desco- nhecido, embora as alterações patológicas nela encon- tradas sejam iguais àquelas dos pacientes com asma ocupacional com latência20. Entretanto, estudos mais recentes sugerem algumas diferenças, com achados de fibrose mais marcantes na parede brônquica e me- nor número de linfócitos T, sugerindo ausência de mecanismo imunológico na asma sem latência21,22 . 6. DIAGNÓSTICO Ao se examinar um trabalhador suspeito de ter asma ocupacional, é necessário, primeiramente, esta- belecer o diagnóstico de asma e depois buscar o diag- nóstico de asma causada por exposição ocupacional. Os critérios necessários para se estabelecer a relação com a ocupação dependem do propósito com que o diagnóstico é feito. Assim, os requisitos são mais marcantes, se o propósito é o diagnóstico médi- co, e a relação com o trabalho deve ser demonstrada de modo bem objetivo. Se o propósito tiver objetivos epidemiológicos, os critérios necessários podem ser menos marcantes, o que por sua vez aumenta a sensi- bilidade da identificação de casos. O diagnóstico diferencial deve ser feito com as condições listadas na Tabela III, que comumen- te se confundem com o quadro clínico de asma ocu- pacional. Tabela III - Diagnóstico diferencial da asma ocu- pacional 1. Asma preexistente ou doença obstrutiva crônica (DPOC), exacerbadas pelo frio, exercícios ou substâncias irritantes no ambiente de trabalho. 2. Desenvolvimento de asma ou DPOC no local de trabalho, porém não relacionada com exposição a agentes sensibilizantes. 3. Pneumonite por hipersensibilidade. 4. Outras doenças respiratórias, não asmáticas, como bissinose, pneumoconiose, etc. 5. Distúrbio do pânico ou outras manifestações psicossomáticas, que causam dispnéia. 6. Simulação.
  • 5. Asma ocupacional 387 A falta de agente sensibilizante específico afasta o diagnóstico de asma ocupacional, quando se tratar de asma preexistente ou DPOC ou asma que se desen- volve no local de trabalho, sem relação com uma ex- posição sensibilizante específica. No caso de bissino- se ou pneumoconiose, a história, exame físico, radio- logia etestesdefunçãopul- monar são diferentes da- queles próprios da asma. A dificuldade maior no diag- nósticodiferencial situa-se nas manifestações de cau- sa psicossomáticaenosca- sos de simulação. Nestes casos, a história deve ser deixada de lado e o diag- nóstico deve se basear no exame físico e em testes objetivos de função pul- monar e testes imunológi- cos. Uma vez afastadas outras doenças respirató- rias, a atenção deve ser fo- calizada na tentativa de demonstrar a associação entre a asma e a ocupação. Em primeiro lugar, deve-se obter uma história detalhada sobre as expo- sições, passadas e presen- tes às substâncias ambien- tais relacionadas ao traba- lho; se possível, um relato cronológico dos sintomas e se há melhora de sinto- matologia, quando o pa- ciente está ausente do lo- cal de trabalho, por tempo prolongado. Nos casos mais evidentes, pode-se obter uma história em que as queixas de dispnéia e si- bilância apresentam-se no final da jornada de traba- lho, para, no dia seguinte pela manhã, apresentar-se relativamente assintomáti- co, mostrando, também, nítida melhora nos fins de semana. Nas ausências mais prolongadas do tra- balho, como nas férias ou Figura 2 - Algoritmo para investigação da asma ocupacional. licença para tratamento, a recuperação é total. Entre- tanto, a maioria dos casos não se apresenta tipicamente desta maneira e, assim, recursos objetivos são neces- sários para diagnóstico. Têm sido descritos vários al- goritmos para a investigação clínica, que são muito semelhantes entre si8,23 (Figura 2). História compatível com exposição a agentes causais â Teste cutâneo e dosagem de IgE específica â Avaliação da Hiperreatividade Brônquica Testes de Broncoprovocação por Metacolina/Histamina â â Normal Reatividade Aumentada å Paciente no trabalho Paciente ausente do trabalho â Teste de Provocação com Agente Ocupacional Suspeito å æ Negativo â Retorno ao Local de Trabalho â Positivo Negativo â Paciente no trabalho Positivo Monitorização com PF ou Provocação com o Agente Suspeito Não é Asma Asma Ocupacional Asma não Ocupacional â ââ å æ æ
  • 6. 388 W Sarti Para aqueles casos IgE dependentes, o teste cutâ- neo e a dosagem de IgE específica podem ser realiza- dos, se o alérgeno apropriado for disponível. A medida da hiperreatividade brônquica com metocolina/histamina é um passo importante para afas- tar a asma ocupacional, bem como qualquer outro tipo de asma. Pacientes, submetidos ao ambiente ocupa- cional, que não apresentem hiperreatividade, podem ser excluídos sumariamente do diagnóstico de asma ocupacional. Entretanto, a positividade a este teste, indica necessidade de exposição ao suposto antígeno ocupacional, para confirmação do diagnóstico. Uma abordagem possível é a exposição do pa- ciente ao ambiente ocupacional, monitorizado por medidas de pico do fluxo expiratório. Entretanto, este método depende da cooperação do paciente e do re- gistro correto das observações. Para maior efetivida- de e credibilidade deste método, seria necessário que as medidas efetuadas no ambiente ocupacional fos- sem acompanhadas por um técnico. Entretanto, quan- do possível, a melhor condição para diagnóstico é o teste de provocação, para reproduzir a sintomatologia do paciente, em ambiente laboratorial controlado. Os pacientes devem ser expostos lentamente a doses su- cessivamente crescentes do agente suspeito, para evi- tar reações graves11,24. O teste de provocação, especí- fico, pode produzir falsos resultados negativos, se for usado o agente suspeito errado ou se o paciente esti- ver afastado por longo tempo do local de trabalho. A história de associação temporal entre os sintomas as- máticos e a exposição ocupacional não se constitui em condição segura para o estabelecimento do diag- nóstico de asma ocupacional, porque a asma é uma doença freqüente, e a exposição concomitante a agen- tes potencialmente causadores de asma ocupacional pode se dar casualmente. Para investigações epidemiológicas, de traba- lhadores sob risco de asma ocupacional, existe um questionário que inclui informações sobre sintomas relacionados com o trabalho25,26 . CASO CLÍNICO Identificação: E.A.S. 40 anos, sexo masculino, brasileiro, pardo, sapateiro, procedente de Franca - SP. HMA – Relata o paciente que, há cerca de oito meses, começou a sentir coceira na garganta acompa- nhada de espirros e corrimento nasal hialino, e que surgem até o presente, 2 a 4 horas após iniciar o tra- balho. Após seis a oito horas do início do trabalho, apresenta tosse seca, chiadeira no peito e falta de ar. Faz uso de Franol e melhora do quadro respiratório. O paciente trabalha em fábrica de calçados, onde opera uma máquina com escovas para polir saltos e solas de sapatos, após haverem sido tingidos. O micro am- biente do local de trabalho fica tomado por uma nu- vem densa de pó de tinta para calçados. Não usa más- cara ou qualquer equipamento de proteção. Quando se afasta do trabalho, para tratamento a sintomatolo- gia desaparece. Quando volta ao trabalho, os sinto- mas reaparecem em três a quatro dias. Nega passado de manifestações alérgicas, como eczema, urticária, rinite e asma brônquica. Atualmente, está sendo tratado de úlcera péptica e refere constipação intestinal de até dois dias. Nega palpitações, cianose e edemas. Antecedentes pessoais sem interesse. Nega, en- fermidade semelhante à sua entre os seus familiares próximos. Exame Físico: bom estado geral, afebril, hi- dratado e ativo. Mucosas úmidas e coradas. Tecido subcutâneo sem edemas e distribuição normal da gor- dura. Gânglios não palpáveis. Musculatura e esque- leto sem alterações. O exame físico do tórax não re- velou anormalidades. Coração, duas bulhas rítmicas, norfonéticas, sem sopros. Pressão arterial igual a 120x80 mmHg, Freqüência de pulso igual à freqüên- cia cardíaca, igual a setenta e seis batimentos por mi- nuto. Abdome plano, normotenso, sem massas tumo- rais palpáveis. Fígado e baço não palpáveis. Exames Complementares: Teste cutâneo (Prick Test) negativo para uma bateria composta de vinte e quatro antígenos ambien- tais comuns. Teste de Função Pulmonar dentro da normali- dade, sem sinais de distúrbios ventilatórios, restriti- vos ou obstrutivos. Raio X de tórax, não revelou qualquer anorma- lidade. Exame direto e cultura de escarro, negativos para BAAR. Teste de Tuberculina = reator forte. Exame Parasitológico de Fezes = negativo GV = 5.000.000 /mm3 # GB = 7.200/mm3 # Hb=16,2 g/dL Neutrófilos Bast. = 08%; Neutrófilos Seg. = 66%; Eosinófilos = 04%; Basófilos = 00%; Linfócitos = 20%; Monócitos = 02%; Plasmóci- tos = 00%; Urina rotina: Sem alterações.
  • 7. Asma ocupacional 389 caso de asma ocupacional está entre aqueles IgE de- pendentes ou IgE independentes. A conduta terapêutica foi o afastamento do pa- ciente, daquele microambiente, o que foi suficiente para o desaparecimento imediato da sintomatologia. Foi transferido para outro setor da fábrica, após o pa- trão ter tomado conhecimento da situação. 7. TRATAMENTO O melhor tratamento para asma ocupacional consiste no afastamento do paciente do agente provo- cador. O trabalhador pode ser mudado de lugar, den- tro da mesma empresa, ou ser transferido para outro tipo de ocupação. O uso de máscaras ou outro méto- do para reduzir a exposição não é efetivo para os pa- cientes com asma ocupacional com período de latên- cia, pois, estes indivíduos tendem a reagir frente a diminutas quantidades do agente. Quando a asma for do tipo irritativo, é possível alguma acomodação, pela melhoria das condições ambientais. Aqui, o papel do médico é importante na conscientização do paciente e do empregador, e na sugestão de vias para solução do problema. Em qualquer circunstância em que o paciente volte ao mesmo ambiente de trabalho, deve ser acompanhado por observação médica, e, em caso de reaparecimento dos sintomas, deve ser removido da exposição, imediatamente. Figura 3 - Teste de broncoprovocação do paciente E.A.S. com asma ocupacional, induzida por pó de tinta para calçados. V E F 1 em LITROS HORAS Teste de Broncoprovocação: utilizado o pó derivado da atividade da máquina de polir calçados, como substância teste, e carvão vegetal em pó, como placebo. Em ambos os casos, o procedimento foi como segue: O paciente foi confinado em uma cabine de madeira, envidraçada de 1 m2 de área por dois metros de altura. No interior, sobre uma pequena mesa, duas bandejas, uma vazia e outra contendo o pó. Durante trinta minutos, o paciente passava o conteúdo de uma bandeja para a outra, de modo a provocar a suspensão de poeira naquele ambiente. A cada quinze minutos, durante uma hora, foram feitas medidas do FEV1. A seguir, as medidas foram feitas a cada hora durante dez horas. Como pode ser verificado pela Figura 3, o paciente apresentou medidas de VEF1 normais, du- rante a provocação com o placebo. Mostrou resposta dupla de queda dos valores do VEF1, quando da broncoprovocação com o pó de tinta para calçado. Neste caso, a história clínica típica, associada a uma resposta obstrutiva à provocação com a subs- tância suspeita, sugere o diagnóstico de asma ocupa- cional, provocada pela inalação, intensa e por longo tempo, da suspensão do pó de tinta. Uma injeção intradérmica, de 0,02ML de uma diluição a 1/100.000 da tinta original, provocou uma respostainflamatóriaquatrohorasdepois.Biópsiadaárea inflamada revelou infiltrado de neutrófilos e linfócitos, bem como, por imunofluorescência, pôde-se apreciar a deposição de complemento no endotélio capilar. É possível que componentes da tinta, como hi- drocarbonetos, e princi- palmente cera sejam ati- vadores do sistema do complemento e, assim, responsáveis pela lesão inflamatória cutânea. Entretanto,inferiro mes- mo mecanismo para a inflamação da mucosa brônquica seria alçar um patamar de especu- lação ainda maior. Maiores inves- tigações seriam neces- sárias para tentar iden- tificar qual ou quais os componentes deste pó seriamresponsáveispela reaçãoinflamatória,bem como averiguar se este PLACEBO PÓ DE TINTA PROVOCAÇÃO
  • 8. 390 W Sarti O tratamento medicamentoso na asma ocupa- cional é o mesmo que para outras formas de asma, mas deve ser apenas complementar ao afastamento do agente. Embora o afastamento do agente causador resulte em melhora, alguns pacientes continuam ne- cessitando medicação por muito tempo, isto é, meses ou anos. 8. AVALIAÇÃO DO GRAU DE COMPROMETI- MENTO O paciente deve ser avaliado, quanto à pre- sença de invalidez temporária ou permanente, quan- do a sua asma estiver sob bom controle. A avaliação quanto à possibilidade de invalidez permanente deve ser levada a efeito, após dois anos, quando o estado da sintomatologia tenha atingido um platô27,28 . Um guia para avaliação do grau de comprometimento ou invalidez, provocado pela asma, foi publicado pela American Thoracic Society, onde, além das medidas da função pulmonar, é recomendado que a avaliação inclua o grau de reatividade brônquica, induzida far- macologicamente, ou o grau de reversão da obstru- ção, induzida pelos betaadrenérgicos, bem como a quantidade mínima de medicação necessária para con- trole da asma e seu efeito na qualidade de vida do indivíduo29 . 9. PROGNÓSTICO Uma proporção significante de trabalhadores com asma ocupacional não alcançam a cura comple- ta, após o afastamento do ambiente de trabalho26 . Os fatores que afetam o prognóstico não são bem conhe- cidos, entretanto, o prognóstico favorável parece es- tar associado ao tempo curto de duração dos sintomas (menor que 1 ano), testes de função pulmonar nor- mais e grau baixo de hiperreatividade brônquica30,31 . Assim, sugere-se que o diagnóstico precoce e a remo- ção da exposição são fatores importantes para se con- seguir a recuperação completa do paciente. Deve ser enfatizado que a deterioração é a re- gra para aqueles indivíduos que permanecem expos- tos após o diagnóstico26,32 . 10. PREVENÇÃO O objetivo principal na asma ocupacional é a prevenção. Higiene ambiental, tal como melhor ven- tilação, ou processos de isolamento podem contribuir para melhoria ambiental. O uso de equipamentos de proteção individual é importante e tem seu emprego em alguns casos. A educação do trabalhador acerca da exposição no ambiente de trabalho, seus efeitos na saúde e como minimizá-los tem importância também23. SARTI W. Occupational asthma. Medicina, Ribeirão Preto, 30: 383-391, july/sept. 1997. ABSTRACT: In this review of the asthma caused by stimuli derived from the work environment - occupational asthma - we discuss its concept, classification, triggering agents, pathophysiology, diagnostic criteria and differential diagnosis, therapeutical principles and prognosis. It is also presented a clinical case related to environmental exposition in the shoe industry. UNITERMS: Asthma. Environmental Exposure. Occupational Diseases. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 - THIEL H. Bakers asthma: A classical occupational allergy, In: SETTIPANE GA, ed. Current treatment of ambulatory asthma. New England and Regional Allergy Proceedings Provi- dence, Rhode Island, p. 169-187, 1986. 2 - WILBUR RD & WARD GW. Immunologic studies in case of backers’ asthma. J Allergy Clin Immunol 58: 366-372, 1976. 3 - NAPOLITANO J & WEISS NS. Occupational asthma of back- ers. Ann Allergy 40: 258-261, 1978. 4 - LAGIER F; CARTIER A & MALO JL. Statistiques medico- legales sur l’asthme profissionnel au Quebec de 1986 a 1988. Rev Mal Respir 7: 337-341, 1990. 5 - MEREDITH SK; TAYLOR VM & MCDONALD JC. Occupational respiratory disease in United Kingdom 1989; a report to the British Thoracic Society and Society of Occupational Medicine by the SWORD project group. Br J Ind Med 48: 292-298, 1991. 6 - REILLY MJ; ROSENMAN KD & WATT FC. Surveillance for occupational asthma - Michigan and New Jersey, 1988-1992. MMWR CDC Surveill Summ 43: 9-17, 1994.
  • 9. Asma ocupacional 391 7 - CONTRERAS GR; ROUSSEAU R & CHAN-YEUNG M. Oc- cupational respiratory diseases in British Columbia, Canadá in 1991. Occup Environ Med 51: 710-712, 1994. 8 - CHANG-YEUNG M & MALO JL. Current concepts: Occupa- tional asthma. N Eng J Med 333: 107-112, 1995. 9 - CHANG YEUNG M & MALO JL. Epidemiology of occupa- tional asthma. In: BUSSE WW & HOLGATE ST, ed. Asthma and rinitis. Blackwell Scientific Publications, Boston, p. 44-57, 1995 10 - CHANG-YEUNG M & MALO JL. Aetiologic agents in occu- pational asthma. Eur Respir J 7: 346-371, 1994. 11 - PEPYS J & HUTCHCROFT BJ. Bronchial provocation tests in etiologic diagnosis and analysis of asthma. Am Rev Respir Dis 112: 829-859, 1975. 12 - ZEISS CR et al. Trimellitic anhydride-induced airway syn- dromes: clinical and immunologic studies. J Allergy Clin Immunol 60: 96-103, 1977. 13 - PEPYS J; PICKERING CAC & HUGHES EG. Asthma due to inhaled chemical agents - complex salts of platinum. Clin Allergy 2: 391-396, 1972. 14 - MAPP CE et al. Occupational asthma due to isocyanates. Eur Respir J 1: 273-279, 1988. 15 - KAY AB; CORRIGAN CJ & FEW AJ. The role of cellular immu- nology in asthma. Eur Respir J 105s-112s, 1991. Suppl 13. 16 - GALLAGHER JS et al. Diverse profiles of immunoreactivity in toluene diisocyanate (TDI) asthma. J Occup Med 23: 610-616, 1981. 17 - REDLICH CA et al. Immunologic responses to isocyanates in sensitized asthmatic subjects. CHEST 109: 6s-8s, 1996. Suppl. 18 - FABRI LM et al. Fatal asthma in a subject sensitised to tolu- ene diisocyanate. Am Rev Respir Dis 137: 1494-1498, 1988. 19 - SAETTA M et al. Airway mucosal inflamation in occupational asthma induced by toluene diisocyanate. Am Rev Respir Dis 145: 160-168, 1992. 20 - BROOKS SM; WEISS MA & BERNSTEIN JL. Reactive airways dysfunction syndrome (RADS): persistent asthma syndrome after high level irritant exposures. Chest 88: 376-384, 1985. 21 - GAUTRIN D et al. Is reactive airways dysfunction syndrome a variant of occupational asthma? J Allergy Clin Immunol 93: 12-22, 1994. 22 - CHAN-YEUNG M et al. Persistent asthma after repeated exposure to high concentrations of gazes in pulpmills. Am J Respir Crit Care Med 149: 1676-1680, 1994. 23 - GRAMMER CG. Occupational asthma. Immunol Allergy Clin North Am 13: 769-783, 1993. 24 - STERK PJ et al. Airway responsiviness: standardized chal- lenge testing with pharmacological, physical and sensitizing stimuli in adults: Report Working Party Standardization of Lung Function Tests, European Community for Steel and Coal. Eur Respir J 16: 53-83, 1993. Suppl. 25 - BURNEY PGJ et al. Validity and repeatibility of the JUATLD (1984) Bronchial Symptoms Questionaire: an international comparison. Eur Respir J 2: 940-945, 1989. 26 - CHAN-YEUNG M. A clinician’s approach to determine the diagnosis, prognosis and therapy of occupational asthma. Med Clin North Am 74: 811-818, 1990. 27 - NATIONAL ASTHMA EDUCATION PROGRAM. Guidelines for the diagnosis and management of asthma. Bethesda, Md., Public Health Service, 1991. (DHHS publication nº NIH 91-3042). 28 - CHAN-YEUNG M. Occupational asthma. Chest 98: 148s-161s, 1990. Suppl. 29 - AMERICAN THORACIC SOCIETY. Medical Section of the American Lung Association. Guidelines for the evaluation of impairment / disability in patients with asthma. Am Rev Respir Dis 147: 1056-1061, 1993. 30 - HUDSON P et al. Follow up of occupational asthma caused by crab and various agents. J Allergy Clin Immunol 76: 262-271, 1985. 31 - LAM S; WANG R & CHAN YEUNG M. Non specific bron- chial reactivity in occupational asthma. J Allergy Clin Immunol 63: 28-34, 1979. 32 - PAGGIARO PL et al. Follow up study of patients with respi- ratory disease due to toluene diisocyanate (TDI). Clin Allergy 14: 463-468, 1984. Recebido para publicação em 02/07/97 Aprovado para publicação em 30/07/97