2. ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS NA ESCOLA:
DIMENSÃO DO PROBLEMA E
PROCEDIMENTOS
Palestrantes:
Dra. Camila Magalhães Silveira
Dr. Dartiu Xavier
Dr. Marcelo Sodelli
3. Objetivo da mesa:
O consumo de substâncias psicoativas é um dos problemas mais
citados por educadores. Este foi o objeto de discussão da mesa, que
buscou apresentar modelos de prevenção ao uso de álcool e outras
drogas no ambiente escolar a partir do dimensionamento mais preciso
dos diversos padrões de consumo e, consequentemente, de seus riscos.
4. Camila Magalhães Silveira
Médica psiquiatra pesquisadora do Programa do Grupo Interdisciplinar
de Estudos de Álcool e Drogas (GREA-IPq-HC-FMUSP), do Núcleo de
Epidemiologia Psiquiátrica do Departamento, do Instituto de Psiquiatria
do HCFMUSP (NEP-IPq-HC-FMUSP) e coordenadora do CISA – Centro de
Informações sobre Saúde e Álcool.
A Dra Camila divulgou dados e enfatizou a importância da prevenção, a
qual deve ter início já nas primeiras relações, que são em casa e na
escola. Em um período repleto de mudanças físicas, psicológicas e
sociais, os jovens estão mais suscetíveis aos danos causados pelo álcool
e pelas drogas, e mais propensos a comportamentos de risco.
Para a Dra Camila, a dependência do álcool é um transtorno
complexo, que envolve aspectos genéticos, psicológicos e socioculturais.
Entretanto,as ações, palavras e opções dos pais e familiares com relação
ao consumo de álcool também exercem uma grande influência nas
crianças e adolescentes.
5. Diferenças
Camila explicou que existem diferentes graus de uso. De um lado, a
abstinência. Na outra ponta, a dependência química. A capacidade de
viciar também muda entre as substâncias. No caso do álcool, do total
de consumidores, por volta de 3% dos usuários desenvolvem
dependência. No Brasil, a idade média para o primeiro gole é de 15
anos.
“Enquanto a dependência para o crack é extremamente rápida, para o
álcool chega a levar de nove a dez anos para se instalar. Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), o álcool é a substância que
mais mata no mundo, se consumida de forma abusiva.
6. Prevenção:
Uma das saídas, é detectar precocemente a fim de diminuir os
impacto, sobretudo quando se trata de crianças e adolescentes. Quanto
mais cedo o contato, maior é o risco de dependência. “Postergar o
contato com a droga é fundamental, porque é na adolescência que
acontece a maturação do funcionamento cognitivo, da fala, da atenção
e da memória”, adverte.
7. Dartiu Xavier
Graduado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Mestrado
e Doutorado em Psiquiatria e Psicologia Médica pela UNIFESP. É
Professor livre-docente da UNIFESP e Consultor do Ministério da saúde.
Xavier levantou dados históricos para demonstrar as consequências das
políticas proibicionistas. Segundo ele, na época da Lei Seca
estadounidense – proibição da comercialização de álcool em todo o
país, ocorrida entre 1920 e 1933 –, por volta de cem mil pessoas
morreram ao consumir a substância por via endovenosa. Como o acesso
era muito mais difícil, quem conseguia queria experimentar pela forma
mais intensa, o que invariavelmente levava as pessoas à morte.
Para Dartiu Xavier, um programa de prevenção nas escolas não pode
abordar o tema em palestras de forma repressiva, mas ressaltar a
promoção da saúde.
8. Saúde:
Mudar o foco: no lugar da droga, ressaltar a promoção da saúde. Do
enfoque estritamente médico, pensar na participação e
corresponsabilidade do sujeito nos cuidados consigo mesmo. Esta é a
perspectiva do psiquiatra e especialista em dependência química. “Ao invés
da droga, tratar da qualidade de vida”.
Como alternativa, Dartiu apresentou políticas de redução de
danos, voltada a diminuir os prejuízos biológicos, sociais e econômicos do
uso de drogas – inclusive as lícitas. “Cerca de 65% dos dependentes não
conseguem abandonar a droga. Mas muitos conseguem mudar a maneira
de consumo, tornando-a menos prejudicial e prosseguindo em uma vida
produtiva e criativa, sem que a droga seja um impedimento”.
Focar no indivíduo, na consolidação dos seus vínculos sociais, pode ser
uma boa estratégia a ser adotada pelas escolas. “Um adolescente mal na
própria pele é um prato cheio para se tornar um dependente. Mas, se ao
contrário, ele estiver fortalecido, mesmo que experimente, o mais provável
é que se torne um usuário ocasional de droga”, conclui.
9. Marcelo Sodelli
Doutor e mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP). Docente e pesquisador do curso de
Psicologia da PUC-SP. Membro da Sociedade Brasileira de Fenomenologia.
Presidente da ABRAMD - Associação Brasileira Multidisciplinar de Estudos
sobre Drogas. Membro do COED – Coordenação Estadual de Políticas
Públicas Sobre Drogas – SP. Autor de vários artigos científicos e do livro
“Uso de Drogas e Prevenção”.
O Dr. Marcelo defende que é inerente ao sujeito provar, desde a
infância, diferentes estados de consciência. “Basta observar a alegria que
uma criança experimenta ao torcer as correntes de um balanço e depois
sair andando tonta do brinquedo.”
10. Um mundo livre de drogas?
De acordo com o Dr. Marcelo, “nós não vamos acabar com as
drogas, nunca existiu um mundo livre das drogas”.
Em primeiro lugar é importante repensarmos alguns conceitos que podem
nos auxiliar a esclarecer certos enganos. Falamos diversas vezes a palavra
drogas, mas o que são drogas?
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), drogas são substâncias que
provocam algum tipo de reação no sistema nervoso central. Assim, quando
falamos em drogas, estamos nos referindo as drogas: ilícitas como a
maconha, cocaína, crack, etc e as drogas lícitas como a
cafeína, álcool, tabaco e os remédios
(antidepressivos, anabolizantes,reguladores de apetite, etc).
11. Medidas de prevenção nas escolas
Para resistir à vulnerabilidade social, reflete o psicologo, a escola deveria
assumir o papel que lhe cabe, ou seja, ensinar a pensar. “É fundamental
ensinar a fazer escolhas que façam sentido, sobretudo para si mesmo”.
Dessa forma, aprende-se ao invés do medo o cuidado consigo.
A proposta é que o professor adote para cada sala de aula, a cada
ano, uma dinâmica própria de prevenção, levando em conta as respostas
daqueles que são o alvo da ação. “Reduzir vulnerabilidades passa por
pensar estratégias que sejam específicas de acordo com cada grupo ou
turma”, defende.