1. Curso de Extensão em Análises Qualitativas
Análise de Conteúdo &
Análise Fenomenológica
24, 25 e 26 de janeiro de 2011.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Laboratório de Fenomenologia Experimental e Cognição
3. Conceitos fundamentais
• A realidade de um objeto está
intrinsecamente relacionada a
consciência que você tem dele.
(Fenomenologia transcendental)
• Recusa da dicotomia sujeito/objeto
– A realidade de um objeto é apenas
percebida no significado da experiência
individual.
4. “A fenomenologia tende à verdade, mas uma verdade em
constante movimento; ela antecipa o fato de que toda a
verdade alcançada é relativa em um horizonte possível e
sistemático, e que, em todas as direções pré-desenhadas de
cumprimento, o que está atualmente realizado e mais completo
é a verdade verdadeira na qual, no entanto, está incluída, como
aproximação, como grau imperfeito, aquela anterior.”
Edmund Husserl
5. Conceitos fundamentais
• Fenômeno:
– Como a coisa aparece para nós
• Não como a coisa é em si mesma
• Fenômeno x Natureza
• Fenômento x Verdade física
6. Conceitos fundamentais
• Perspectiva de primeira pessoa
– A fenomenologia busca o significado da
perspectiva de primeira pessoa = interesse na
estrutura da subjetividade (a existência da
pessoa, o ser...)
• Subjetividade não psicológica... Subjetividade
epistemológica: preocupação com a possibilidade de
experiência e do conhecimento como tal.
– Conta o “objetivismo” da ciência, que quer
eliminar o sujeito
7. Conceitos fundamentais
• Intencionalidade da Consciência:
– Estar consciente de um objeto é sempre
intencional
Ao perceber uma árvore, minha experiência
intencional é uma combinação da aparência exposta
da árvore e da árvore que eu tenho em minha
memória, baseada na memória, imagem,
significados (Moustakas, 1994, p.55)
– Experiência: aparência externa +
consciência interna.
8. Conceitos fundamentais
• Epoché e “redução”
– Colocar de lado (o quanto um ser humano
puder) todas as experiências pré-
concebidas para melhor entender as
experiências dos participantes
9. 2. Abordagem Fenomenológica em pesquisa
• Uma tentativa de entender questões
empíricas da perspectiva dos que estão
sendo estudados
• Busca-se entrar no campo de
entendimento do participante
11. Abordagem fenomenológica e psicologia
• Duquesne Studies in Phenomenology:
Determinar o que significa uma experiência para as
pessoas que tiveram tal experiência e que podem
fornecer uma descrição compreensiva disso.
A partir destas descrições individuais, derivam-se
significados gerais ou universais, ou seja, as
essências das estruturas da experiência
(Moustakas, 1994, p.13)
12. Objetivo
• Buscar a estrutura invariante (ou essência), ou o
significado central subjacente da experiência
• Reduzir a “textura” (o quê) e a estrutura (como) dos
significados da experiência a uma descrição breve
que tipifique as experiências de todos os
participantes do estudo.
• Se todos experienciam isso, é invariante, e é uma
redução às essências das experiências
(Moustakas, 1994)
13. Exemplo de proposta central de
pesquisa
“Dadas as peculiaridades de gênero e poder na
academia, como são as relações de orientação de
pesquisa entre orientadoras e orientandas? Devido
ao fato de haver poucos estudos explorando as
experiências de orientandas na literatura, um estudo
fenomenológico voltado para entender as
experiências vividas das mulheres enquanto
orientandas é o mais adequado para examinar esta
questão.”
(Heinrich, 1995, p. 449 - tradução nossa)
14. Questões subjacentes
• Quais são os possíveis significados
estruturais da experiência?
• Quais temas e contextos estão subjacentes e
relacionados à experiência?
• Quais são as estruturas universais que
precipitam sentimentos e pensamentos sobre
a experiência?
• Quais temas invariantes e estruturais
facilitam a descrição da experiência?
15. Exemplo
• Questão principal:
• O que significa ser um professor profissional?
• Questões subjacentes:
• Quais são os significados estruturais da
“profissionalidade” do professor?
• Que temas e contextos estão relacionados à
“profissionalidade” do professor?
• Quais as estruturas universais que incitam sentimentos
e pensamentos sobre a “profissionalidade” ?
• Que temas invariantes e estruturais melhor descrevem a
“profissionalidade” do professor tal qual é experienciada
pelos professores de primeira série?
16. Questões para tópicos*
• O que os professores profissionais fazem?
• O que os professores profissionais não
fazem?
• Descreva uma pessoa que exemplifica o
termo “professor profissional”.
• Quais as dificuldades e facilidades de se ser
um educador profissional?
• Quando/Como você se deu conta de que era
um profissional?
17. Passos da análise dos dados
~ Consenso
1. Dividir os protocolos em frases ou horizontalização
(listar sentenças relevantes para o tema e dar valor
igual para elas)
2. Criar grupos de significados, expressos em
conceitos psicológicos e fenomenológicos
3. Amarrar essas transformações a fim de se obter uma
descrição geral da experiência (descrição textural - o
que foi experienciado - e descrição estrutural - como
isso foi experienciado)
* Alguns aqui incorporam ainda significados pessoais da
experiência, ao usarem uma análise pessoal antes da
análise intersujeitos e analisando o papel do contexto no
processo (Giorgi, 1975).
18. (Fazer uma descrição da sua própria experiência)
1. Separar palavras/sentenças sobre como o
indivíduo experiencia a questão.
Lista estas palavras/sentenças significativas (frases
revelatórias)
Trata todas as sentenças com valor IGUAL
(horizontalização do dado)
Trabalha para desenvolver uma lista de sentenças que
não se sobreponham
Análise dos dados
19. 2. Sentenças são agrupadas em unidades de
análise
Lista as unidades de sentido
Cuidados: particularizar ou generalizar demais
Escreve uma descrição textural e da experiência estrutural
incluindo exemplos/vinhetas
3. Uma descrição composta é feita
Reflete sobre sua descrição e usa a variação imaginativa
(busca todos os significados e posturas divergentes)
Constrói uma descrição geral do significado e da essência
da experiência
Une questões da experiência do pesquisador e dos
participantes
21. Relato de pesquisa fenomenológica
• Todas as experiências têm uma estrutura
subjacente
• O leitor do relato fenomenológico tem que
entender melhor a estrutura invariante
(essencial) da experiência, reconhecendo
que um sentido único e unificador da
experiência existe.
– Entendi melhor como a coisa é para alguém que a
experiencia.
22. Questões para o pesquisador
• O entrevistador/auxiliar influenciou nos conteúdos das
descrições do participante a ponto de as descrições não
refletirem a experiência real do participante?
• O meio de apresentação dos dados (e.g. transcrição) foi
fidedigna, ela carrega o sentido da apresentação do
participante (oralidade/expressividade)
• Na análise, haveria outras conclusões além daquelas
oferecidas pelo pesquisador?
• É possível ir da descrição geral da estrutura para os dados
originais e para os conteúdos específicos e suas conexões?
• A descrição estrutural é específica para a situação, ou ela
permanece geral para a experiência em outras situações?
23. Desafios para fazer um estudo fenomenológico
• O pesquisador tem que ter um sólido entendimento
dos preceitos fenomenológicos
• Escolha cuidadosa dos participantes (pessoas que
experienciaram o fenômeno)
• Pode ser complicado suspender experiências
pessoais
• O pesquisador tem de decidir como e de que modo
suas experiências pessoais vão ser introduzidas no
estudo.