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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA




    PROCESSOS FERMENTATIVOS




                         Trabalho acadêmico apresentado à
                         disciplina Processos Fermentativos
                         Industriais da Universidade Federal
                         do Paraná ministrada.




             CURITIBA
               2008
1



SUMÁRIO


1- USO DE MICRORGANISMOS NA FERMENTAÇÃO....................................                                        2
2- DEFINIÇÃO DE FERMENTAÇÃO.................................................................. 8
3- METABOLISMO MICROBIOLÓGICO............................................................                          10
   3.1- FERMENTAÇÃO ETANÓLICA................................................................. 15
   3.2- FERMENTAÇÃO DE ÁCIDO LÁCTICO...................................................                            19
   3.3- FERMENTAÇÃO DO GLICEROL............................................................                        20
   3.4- FERMENTAÇÃO ACETONA-BUTANÓLICA...........................................                                  22
   3.5- FERMENTAÇÃO BUTANOL-ISOPROPANÓLICA................................... 24
   3.6- FERMENTAÇÃO ACETONA-ETANÓLICA..............................................                                25
   3.7- FERMENTAÇÃO DO ÁCIDO PROPIÔNICO...........................................                                 26
   3.8- FERMENTAÇÃO DO ÁCIDO CÍTRICO...................................................                            27
4- CULTIVO DE CÉLULAS MICROBIANAS......................................................                            28
   4.1- BACTÉRIAS.............................................................................................     28
   4.2- FUNGOS..................................................................................................   29
   4.3- LEVEDURAS............................................................................................ 29
5- CULTIVO DE CÉLULAS ANIMAIS E VEGETAIS..........................................                                 31
6- APLICAÇÕES DA FERMENTAÇÃO.............................................................. 35
   6.1- PRODUÇÃO DE ALIMENTOS.................................................................                     36
   6.2- PRODUÇÃO DE ANTIBIÓTICOS............................................................                       39
   6.3- PRODUÇÃO DE ENZIMAS...................................................................... 40
   6.4- PRODUÇÃO DE ANTICORPOS..............................................................                       40
   6.5- PRODUÇÃO DE INOCULANTES............................................................                        41
   6.6- TRATAMENTO AMBIENTAL...................................................................                    42
   6.7- PRODUTOS RECOMBINANTES............................................................. 43
7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 46
8- ANEXO............................................................................................................ 49
2



1- USO DE MICRORGANISMOS NA FERMENTAÇÃO


      A utilização de microrganismos na biotransformação da matéria vem desde a
antiguidade. Através da observação do ambiente ao seu redor, o ser humano
passou a perceber que certos processos se desenvolviam devido à presença de
microrganismos no meio. A descoberta de microrganismos que podiam modificar um
determinado substrato possivelmente foi feita ao acaso, como ao perceber que a
carne seca resistia a deteriorização; ou que ao deixar o leite azedar era possível
retirar o líquido do coalho para fabricar queijo; ou ainda que ao secar os grão antes
da estocagem era possível evitar o aparecimento de fungos. (TORTORA et al.,
2006) A partir dessas observações, foi possível estudar mais a fundo e utilizar esses
microrganismos de forma a atender da melhor forma as nossas necessidades.
      Os babilônios e os sumérios usavam leveduras na produção de álcool antes
de 6000 AC (NAJAFPOUR, 2007). Já os egípcios, em 2000 AC, utilizavam leveduras
para a produção de pães. Na Ásia, antes do nascimento de Cristo, utilizava-se
Penicillium rouquefortii na produção de queijos. A 2500 anos atrás, na China, o
fungo Aspergillus oryzae era usado no processo de fabricação de koji, que foi levado
também para o Japão no século VII (PANDEY et al., 2007).
      Na metade do século XIX, Luis Pasteur estudou a função de microrganismos
na produção de vários produtos como alimentos fermentados, vinho, cervejas,
queijo, leite, iogurte, combustíveis e química fina. Ele identificou muitos processos
microbiológicos e descobriu um dos principais princípios da fermentação: a utilização
de substratos por microrganismos para a produção de metabólitos primários e
secundários de interesse ao homem (NAJAFPOUR, 2007).
      Através do isolamento de alguns microrganismos e cultivo em meio
adequado, Pasteur também conseguiu desvendar a base do que hoje recebe o
nome de biotecnologia. Para se conseguir um bom rendimento muitas vezes é
necessária presença de um cultivo puro com somente um microrganismo isolado e
evitar o aparecimento de microrganismos indesejados, que podem alterar o
processo. Além disso, uma vez terminado o processo, é necessário que os
microrganismos presentes também sejam “desativados”. Para isso, Pasteur
desenvolveu em 1864 o processo de pasteurização, que consiste em aquecer um
determinado meio a uma temperatura de 60ºC por 30 minutos (SCHWARTZ, 2001).
3



       Durante a Primeira Guerra Mundial começou-se a utilizar microrganismos
para a produção de substâncias como etanol, acetona e ácido cítrico. Foi durante
esse período que foi feito pela primeira vez um cultivo microbiológico asséptico em
larga escala, quando Chaim Weizmann usou um fermentador líquido para a
produção de acetona por Clostridium acetobutylicum (STANBURY et al.,1995). A
partir da Segunda Guerra Mundial, os microrganismos tiveram importância na
produção em larga escala de antibióticos. (TORTORA et al., 2006)
       As usinas de bioprocessos são muito importantes na indústria de alimentos,
química fina, e farmacêutica. Apesar de que a produção de produtos como cervejas,
vinhos e queijos já vêm acontecendo desde a antiguidade, atualmente a produção é
muito mais controlada e eficiente (NAJAFPOUR, 2007). Por exemplo, primeiramente,
os pães eram fermentados com leveduras presentes no meio ambiente. Mais tarde
passou-se a manter uma cultura própria de leveduras, guardando uma parte da
produção anterior para servir de inóculo para a próxima. Atualmente pode-se
comprar o fermento produzido industrialmente de forma padronizada. (TORTORA et
al., 2006)
       Processos como a produção de pães, vinhos e queijos, que antes eram
realizados em casa ou pequenas propriedades, passaram a ser realizados em
grades indústrias, evidenciando a grande vantagem que a microbiologia pode dar à
indústria (PRESCOTT et al., 1959).
       Exemplificando, pode-se citar a ação de leveduras em extratos de frutas ou
grãos, fazendo fermentação alcoólica, onde os carboidratos são reduzidos a piruvato
e então ocorre a reoxidação da forma reduzida da nicotinamida adenina
dinucleotídeo (NADH) e a produção de moléculas de etanol. Outro tipo de
fermentação inclui o cultivo de bactérias acéticas na produção de vinagre. Bactérias
lácteas são responsáveis pela preservação do leite, produção de iogurte e queijo.
Num cultivo pode-se visar também à produção de biomassa, onde as células estão
em meio nutritivo que favorece a multiplicação, como na produção de fermento
(NAJAFPOUR, 2007). A tabela 1 mostra alguns produtos de fermentação.
4



Tabela 1- Produtos de origem fermentativa
Produto da              Microrganismo                  Aplicação
fermentação
Etanol (não utilizado   Saccharomyces cerevisiae       Química fina
em bebidas)
Ácido 2-cetoglucônico   Pseudomonas sp.                Intermediário para o ácido D-
                                                       araboascórbico
Pectinase, protease     Aspergillus niger, A. aureus   Agente clarificante em sucos
                                                       de frutas
Amilase bacteriana      Bacillus subtilis              Amido modificado,
                                                       tratamento de papel
Protease bacteriana     B. subtillis                   Tratamento de fibras,
                                                       removedor manchas
Dextrano                Leuconostoc mesenteroides      Estabilizante alimentício
Sorbose                 Gluconobacter suboxydans       Manufatura de ácido
                                                       ascórbico
Cobalamina (vitamina    Streptomyces olivaceus         Suplemento alimentar
B12)
Ácido Glutâmico         Brevibacterium sp.             Aditivo alimentar
Ácido glucônico         Aspergillus niger              Produtos farmacêuticos
Ácido Lático            Rhizopus oryzae                Alimentos e produtos
                                                       farmacêuticos
Ácido cítrico           Aspergillus niger, A. wentii   Alimentos, medicamentos
Acetona-butanol         Clostridium acetobutylicum     Solventes, intermediários
                                                       químicos
Insulina, interferon E. coli recombinante              Terapia humana
Início de cultura    Levedura de pão,                  Produção de pães, queijo e
                     Lactobacillus bulgaricus          iogurte
Proteína microbiana  Candida utilis                    Suplemento alimentar
Penicilina           Penicillium chrysogenum           Antibióticos
Cefalosporina        Cephalosparium                    Antibióticos
                     ecremonium
Eritromicina         Streptomyces erythreus            Antibióticos
Fonte: NAJAFPOUR, 2007


       Os microrganismos utilizam uma fonte orgânica e produzem metabólitos
primários como o etanol, que são formados durante a fase de crescimento
exponencial, ao mesmo tempo em que as novas células são produzidas, e a curva
de produção do metabólito segue a curva de crescimento celular quase que paralelo,
como mostra o gráfico esquerdo da figura 1. Outros produtos como a penicilina e
polissacarídeos são considerados metabólitos secundários, sendo produzidos
durante a fase estacionária. A fase de crescimento exponencial anterior a produção
de metabólitos secundários é camada de trofofase, e a etapa estacionária em que
há produção é chamada de idiofase, como mostra o gráfico da direita da figura 1.
5



Um metabólito secundário pode ser a simples conversão de um metabólito primário
ou também pode ser originado de outros compostos, mas pode necessitar uma
quantidade   suficiente   de   células   ou   metabólitos   primários   acumulados
(NAJAFPOUR, 2007; TORTORA et al., 2006).


Figura 1- Metabólito primário e secundário.




Fonte: TORTORA et al., 2006.

      Os bioprocessos vêm substituindo uma série de processos que antigamente
só podiam ser feitos quimicamente. Eles apresentam algumas vantagens como a
possibilidade de utilizar matéria-prima barata e disponível no mercado (como por
exemplo, o bagaço de cana), o processo pode ser desenvolvido sob pressões e
temperaturas normais (evitando sistemas pressurizados caros e perigosos), e não
há a produção em quantidade de resíduos tóxicos (e quando há a produção, ainda
existe a possibilidade de utilizar um outro processo microbiológico no tratamento do
resíduo). (TORTORA et al., 2006)
      Os processos desenvolvidos no cultivo de microrganismos se desenvolvem
geralmente em equipamentos denominados biorreatores. Eles consistem em um
sistema aberto ou fechado, onde há a manipulação dos parâmetros físicos (pH,
concentração de reagentes, transferência de calor e massa, aeração) de forma a
regular a catálise, promovendo um melhor rendimento em biomassa e/ou produto,
além de tentar minimizar os custos de produção (PURICH & ALLISON, 2000). Eles
6



geralmente são tanques cilíndricos que apresentam ou não sistema de agitação,
mas também podem ser um simples erlenmeyer. Novos modelos de biorreatores
aparecem constantemente, de forma a melhorar a qualidade do processo
dependendo do tipo de célula a ser cultivada (bactérias, fungos, tecidos animais ou
vegetais, células ou enzimas imobilizadas, etc.) (DORAN, 1995).
       Ao se utilizar um biorreator, procura-se atender, se não todos, a maioria dos
requisitos listados abaixo:
      O recipiente onde ocorrerá o cultivo deverá permanecer em condições
       assépticas durante um grande período de tempo.
      Devem ser promovidas condições adequadas de agitação e areação para
       satisfazer as condições metabólicas dos microrganismos, mas sem haver
       danificação mecânica das células dos mesmos devido ao processo.
      O consumo de energia deve ser minimizado.
      Deve haver um controle de temperatura e pH.
      Deve haver uma forma de retirar amostras do fermentado para o controle do
       processo.
      Não deve haver perdas excessivas devido à evaporação.
      Não deve haver a necessidade de uma grande quantidade de trabalhadores
       para a sua operação, limpeza e manutenção do tanque de fermentação,
       minimizando assim os custos com relação à mão-de-obra.
      Materiais mais baratos, mas que ainda propiciam um rendimento desejado,
       devem ser utilizados. (STANBURY et al.,1995)


       O cultivo dos microrganismos pode ocorrer em diferentes tamanhos, como em
escala de bancada, piloto ou de planta industrial. Biorreatores de escala laboratorial
variam de 2 à 100 litros, mas durante operações em larga escala na indústria eles
podem chegar a 100000 litros.
       Inicialmente utiliza-se biorreatores menores para se investigar qual é o melhor
microrganismo a ser utilizado, qual meio de cultivo proporcionará um melhor
crescimento e quais condições operacionais são mais favoráveis para a formação do
produto desejado. São feitos estudos sobre parâmetros como: transferência de
massa, agitação, taxa de cisalhamento, formação de espuma, energia necessária,
taxa de diluição, forma e tamanho do biorreator, pH, temperatura, entre outros. Isso
7



deve ser feito em pequena escala porque não seria vantajoso fazer esses testes em
larga escala, correndo o risco de perder grandes quantidades de material e ter um
prejuízo econômico (NAJAFPOUR, 2007).
         O processo de mudança de escala está exemplificado esquematicamente na
figura 2. Após a fase de testes em frascos de 250mL a 1L e análise dos fatores de
produção, passa-se para um biorreator de bancada com capacidade de 1 a 2 litros, o
qual é normalmente equipado com sensores de ajuste de temperatura, pH e
aeração. Isso propicia uma análise mais cuidadosa de alguns parâmetros e um
controle maior sobre o processo do que o cultivo em erlenmeyer. Nessa etapa
também deve-se observar se o processo se desenvolve melhor em batelada, semi-
batelada ou contínuo. Próximo passo é o cultivo em um biorreator em escala piloto
de 100 a 1000 litros. A cada processo de aumento de escala deve-se observar se há
alguma alteração na resposta celular com relação ao rendimento do processo. Se
tudo estiver correto, a etapa final seria um biorreator de escala industrial (DORAN,
1995).


Figura 2- Processo de aumento de escala




Fonte: Adaptada de DORAN, 1995


         Mas ao mudar de escala laboratorial para escala industrial não ocorre
somente a mudança do tamanho em proporção. Devem-se preservar alguns
parâmetros de forma a continuar tendo um bom processo. Esses parâmetros seriam:
               Número de Reynolds ou fatores de momento semelhantes.
               Consumo de energia constante por unidade de volume de líquido.
               Velocidade da pá de agitação constante.
               Mistura do líquido e tempos de recirculação semelhantes.
               Coeficiente volumétrico de transferência de massa constante.
8



            Manter todos os fatores ambientais constantes para o microrganismo.
             (NAJAFPOUR, 2007)


      O cultivo de microrganismos pode ser feito utilizando substratos de baixo
valor comercial, muitas vezes podendo ser resíduos de outros processos. A
produção de álcool e solventes orgânicos muitas vezes utiliza resíduos como fonte
de carbono ou nitrogênio, sendo o bagaço de cana, por exemplo, bem importante na
indústria alcooleira. Isso é bastante viável no cultivo de microrganismos, mas já no
cultivo de células animais isso já não é possível devido ás várias exigências da
célula, o que geralmente encarece o processo de cultivo de células animais
(NAJAFPOUR, 2007).
      O papel de um engenheiro de bioprocessos é entender o mecanismo de
produção e selecionar o melhor biocatlisador (microrganismo ou enzima) para tal.
Após, deve-se estudar as melhores condições ambientais que propiciam um melhor
crescimento e uma melhor produção. Também cabe ao biotecnologista otimizar o
processo procurando recursos mais econômicos, mas que ainda produzam um
rendimento satisfatório (NAJAFPOUR, 2007). O artigo em anexo mostra a função de
um engenheiro de bioprocessos e os conceitos básicos que um profissional dessa
área deve ter para o desenvolvimento de um bom trabalho.


2- DEFINIÇÃO DE FERMENTAÇÃO


      Antes de se elucidar o papel dos microrganismos na fermentação, ela era
definida de forma diferente do conceito aceito atualmente. Por exemplo, em 1839,
Liebig definiu o termo fermentação como sendo “... a putrefação de substâncias
vegetais que se realiza sem que haja a liberação de nenhum odor, ou pelo menos
nenhum desagradável.”.
      Já Luis Pasteur tentou associar o processo de fermentação com o
desenvolvimento de organismos: “... fermentação, longe de ser o fenômeno sem
vida, é um processo vivo... todo fenômeno de fermentação é correlacionado com o
desenvolvimento de células micodérmicas e plantas, as quais eu preparei e estudei
em estado puro e isolado.” (SCHWARTZ, 2001)
      Atualmente, o termo “fermentação” pode apresentar diferentes significados
dependendo o setor do conhecimento que o utiliza. O sentido geral do termo
9



significa qualquer processo de cultivo microbiológico que ocorre com ou sem ar. O
significado bioquímico da fermentação é o processo metabólico onde o substrato
orgânico atua como doador e como receptor final de elétrons, ocorrendo em
condições anaeróbias, mas sem a utilização de uma cadeia respiratória, como
acontece na respiração anaeróbia. (TORTORA et al., 2006)
      O termo “fermentador” também pode gerar alguma discordância devido a
esses conceitos. Ele primeiramente foi utilizado para descrever os tanques onde
ocorria o cultivo. Como a maioria dos cultivos realizados nesses tanques era de
forma aeróbica, propôs-se um novo nome para não contradizer a definição
bioquímica de fermentação. O termo “biorreator” então começou a ser usado para
descrever o local onde eram realizados cultivos de microrganismos em condições
aeróbicas e anaeróbicas (NAJAFPOUR, 2007).
      A fermentação ocorre como uma forma de reoxidar as coenzimas reduzidas
NADH e NADPH que são formados durante a glicólise, de forma a manter o balanço
de redução-oxidação dentro da célula. Os elétrons são transferidos das coenzimas
para um composto orgânico, fornecendo NAD + e NADP+ suficientes para a
continuação da glicólise. (TORTORA et al., 2006)
      Durante uma fermentação, um mesmo composto orgânico pode sofrer uma
oxidação ou outras a redução dependendo do microrganismo. Por exemplo, no caso
do ácido pirúvico, ele pode sofrer uma oxidação formando ácido acético ou pode
sofrer uma redução e formar ácido láctico. (CROCOMO, 1967)
      O tipo de fermentação realizada vai depender da espécie de microrganismo
utilizada, do substrato que está sendo fornecido e dos tipos de enzimas que ele
possui e estão ativas. A análise do tipo de produto final formado na fermentação
também pode ser utilizada como forma de identificação de microrganismos,
realizando testes bioquímicos. A figura 3 mostra o tipo de fermentação que segue
alguns microrganismos.
10



Figura 3 – Produtos finais de fermentação dependendo do microrganismo




Fonte: TORTORA et al., 2006


3- METABOLISMO MICROBIOLÓGICO


      Antes do processo metabólico que inclui a fermentação, há as reações de
quebra do substrato, que geralmente é a glucose. Essa via recebe o nome de
“glicólise” ou via de Embden-Meyerhof, onde a glucose é catabolisada a piruvato e a
energia livre liberada é estocada na forma de ATP e NADH.
11



Figura 4- Glicólise




Fonte: LEHNINGER et al., 2006
12



      Como mostra a Figura 4, a glicólise pode ser dividida em duas etapas, a fase
preparatória e a fase de pagamento. Na fase preparatória, inicialmente ocorre a
fosforilação da glucose em C-6 através da enzima hexoquinase. Para isso deve
haver o gasto de uma molécula de ATP. Há então uma conversão entre glucose-6-
fosfato em frutose-6-fosfato através da fosfoexose isomerase. Após, a molécula
sofre outra fosforilação, mas agora em C-1, formando frutose-1,6-bifosfato.
      Essa molécula já está pronta para sofrer uma quebra em duas moléculas de
três carbonos, uma diidroxiacetona fosfato e um gliceraldeído-3-fosfato. É nesse
passo que ocorre a lise da molécula, e por isso ela se chama glicólise. A
diidroxiacetona é isomerizada em outro gliceraldeído-3-fosfato. Aqui termina a etapa
de preparação, onde a molécula de glucose é preparada com o gasto de 2 ATP,
para que depois essa energia armazenada possa gerar lucros energéticos.
      A fase de pagamento inicia-se com duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato,
as quais são oxidadas e fosforiladas por fósforo inorgânico, formando 1,3-
bifosfoglicerato. A partir desse ponto acontecerá a liberação de energia, onde o
“pagamento” é feito na forma de produção de ATP através da fosforilação à nível de
substrato, diferentemente da fosforilação ligada a respiração que ocorre na cadeia
respiratória. Um dos fósforos do 1,3-bifosfoglicerato será transferido para uma
molécula de ADP através da ação da enzima fosfoglicerato quinase, formando 3-
fosfoglicerato. A enzima fosfoglicerato mutase irá então fazer uma transferência
reversível do grupo fosfato do C-3 para o C-2, sendo que a transferência ocorre em
duas etapas. Primeiramente um grupo fosfato presente no sítio ativo da enzima se
liga ao C-2 do substrato, e depois o grupo fosfato em C-3 é transferido para a
enzima. Depois desse processo tem-se 2-fosfoglicerato. Essa molécula irá então
sofrer uma desidratação através da enolase, formando fosfoenolpiruvato (PEP). O
PEP é uma molécula de alto potencial de transferência do grupo fosforila, e isso
ocorrerá com a ação da enzima piruvato quinase. Esta enzima requer a presença de
íons K+ e Mg2+ ou Mn2+, e nesse ponto acontece mais uma fosforilação a nível de
substrato, com a formação de mais uma molécula de ATP por PEP. O resultado final
é a formação de piruvato. Considerando inicialmente uma molécula de glucose e
desconsiderando desvios para outras vias, a cada molécula de glucose
metabolizada, tem-se no final duas moléculas de piruvato, dois ATP e dois NADH
formados.
13



      Essa é a via pela qual a maioria dos organismos realiza a quebra da glucose.
No entanto, alguns microrganismos procariotos utilizam a via de Entner-Doudoroff,
pois não apresentam fosfofrutoquinase-1 e não pode converter frutose-6-fosfato em
frutose-1,6-bifosfato. No entanto, a via das pentoses-fosfato (ou ciclo da hexose
monofosfato) pode ser feita ou não por esses organismos (RATLEDGE &
KRISTIANSEN, 2001).
      Inicialmente, a glucose-6-fosfato é então transformada em ácido 6-
fosfoglucônico por uma enzima desidrogenase. Esse ácido é então transformado em
piruvato através de duas reações:
                       -HOH
      6-P-gluconato  2-ceto-3-desoxi-6-P-gluconato (CDGP)
      CDGP  piruvato + gliceraldeído-3-fosfato          (CROCOMO, 1967)
      A gliceraldeído-3-fosfato irá seguir o resto da via glicolítica normal até chegar
a piruvato. A Figura 5 mostra a via Entner-Doudoroff. Essa via é geralmente
realizada   por   organismos     como       Pseudomonas,   Azotobacter,    Rhizobium,
Enterococcus faecalis e Zymomonas mobilis.(TORTORA et al., 2006)
      Figura 5: Via de Entner-Doudoroff
                                                          H+
                                                          +
                                                NADP+   NADPH
                  ATP     ADP




      Glucose                      Glucose-6-P           Ácido 6-fosfoglucônico


                                                                        H2O




                   Etapas 6 a 10 da glicólise



      Ácido Pirúvico                             GA-3P           CDGP




Fonte: Adaptada de TORTORA et al., 2006
14



      Depois de ocorrida a transformação de glucose até piruvato, em condições
aeróbias ocorrerá o ciclo de Krebs, como mostra a Figura 6. Mas como se pode
observar, esse ciclo de reações gera muitos NADH os quais seguem para a cadeia
respiratória e há a transferência de elétrons, onde o aceptor final é o oxigênio. No
entanto, em condições de anaerobiose, a célula não conseguirá manter o balanço
adequado de NAD+/NADH, pois não poderá utilizar essa cadeia.


Figura 6: Ciclo de Krebs (ou ciclo do ácido cítrico)




Fonte: LEHNINGER et al., 2006
15



      Portanto, em condições anaeróbias evita-se o ciclo do ácido cítrico (exceto
nos casos de produção de metabólitos para biossíntese), e utiliza-se as vias
fermentativas, as quais, apesar de não gerar tantas moléculas de ATP como o ciclo
de ácido cítrico, conseguem reoxidar NADH suficientemente para manter o
funcionamento celular. A Figura 7 mostra algumas das possíveis vias de
fermentação.


Figura 7- Vias Fermentativas




* Reações em que há reoxidação de NADH
Fonte: RATLEDGE & KRISTIANSEN, 2001


      A   seguir   serão   discutidas   em    maiores    detalhes    algumas    dessas
fermentações.


3.1- FERMENTAÇÃO ETANÓLICA


      É possível obter etanol de três formas: por via destilatória, por via sintética (a
partir de hidrocarbonetos não saturados e de gases de petróleo e da hulha) e por via
fermentativa. A forma fermentativa é uma das mais vantajosas aqui no Brasil, pois
há uma grande disponibilidade de matéria-prima (LIMA et al., 2001).
16



      O processo reacional do etanol já começou a ser descrito em 1815 por Gay
Lussac através da equação:


    C6H12O6  2 CH3CH2OH + 2 CO2 ∆G=-56000 cal/mol (CROCOMO, 1967)


      O francês Luis Pasteur provou que a natureza dessa reação é microbiana, e
se realiza através de uma fermentação em condições anaeróbias (LIMA et al., 2001).
Ele observou que a presença de O2 no meio inibia a formação de etanol, diminuindo
o consumo de açúcar pela levedura e aumentando o crescimento celular. Essa
propriedade foi chamada de Efeito Pasteur. (CROCOCOMO, 1967) No entanto, o
efeito Pasteur é somente observado em culturas quimioestáticas quando a
concentração de substrato limita o crescimento ou quando o cultivo é feito na
ausência de fontes de nitrogênio (LAGUNAS et al., 1982).
      Lagunas e colaboradores fizeram experimentos aeróbicos e observaram que
S. cerevisiae cultivada na presença de fonte de nitrogênio usava somente 3 a 20%
do açúcar metabolizado para respiração, o restante ia para a via fermentativa do
etanol. Já leveduras cultivadas em meios sem nitrogênio utilizavam 25 a 100% dos
açúcares metabolizados para respiração. No entanto, isso não significava que ouve
um aumento da respiração, mas sim uma perda da função fermentativa devido à
inativação dos sistemas de transporte de açúcares (LAGUNAS et al., 1982).
      Com o avanço dos estudos, foram elucidados os mecanismos reacionais
intermediários da produção de etanol a partir de glucose. Até a formação de piruvato
a reação segue exatamente igual a glicólise. O ácido pirúvico formado é
descarboxilado a acetaldeído e dióxido de carbono. Essa etapa da reação é um
processo irreversível que exige a presença da enzima carboxilase, da coenzima
difosfato de tiamina e de íons magnésio. O acetaldeído é então reduzido a etanol
através da ação da enzima desidrogenase alcoólica, ocorrendo também nessa etapa
a reoxidação de um NADH (Figura 8).
      O conjunto de reações que resultam na formação de álcool etílico e CO 2 à
partir de um carboidrato recebe o nome de via de Embden-Meyer-Parnas. Essa via
metabólica foi demonstrada in vitro pela primeira vez em 1950 por Koshland e
Westheimer, utilizando glucose com carbono marcado radiativamente em C1, e após
o seu consumo por leveduras, verificou-se que havia carbono radioativo na molécula
de etanol, mais especificamente nodo grupo metil (CROCOMO, 1967).
17



Figura 8 – Transformação de piruvato a etanol




                           Fonte: LEHNINGER et al., 2006


       Nesse tipo de fermentação há um rendimento de 2 ATP por molécula de
glucose consumida, pois são gastos dois ATP na reação da hexoquinase, mas são
formados quatro ATP (na reação de formação de ácido 3-fosfoglicérico e na
formação de piruvato).
       As leveduras podem consumir além da glucose outros açúcares, como
manose e galactose. A manose sofre uma fosforilação através da hexoquinase,
formando manose-6-fosfato, que por sua vez é transformada em frutose-6-fosfato
pela isomerase de manosefosfato, possibilitando assim a sua entrada na glicólise. Já
a galactose sofre uma transfosforilação, formando galactose-1-fosfato (CROCOMO,
1967). Também podem ser utilizados açúcares exógenos como maltose e sacarose,
e endógenos como glicogênio e trealose, como mostra a figura 9.
       Durante o cultivo, pode ocorrer também a formação de produtos secundários
através de outras vias metabólicas realizadas para a o crescimento celular e
produção de biomassa. Estima-se que 95% dos açúcares metabolizados tem como
destino a produção de etanol e CO2. Os outros 5% são desviados para a formação
de glicerol, ácidos orgânicos (como ácido succínico, acético e pirúvico), álcoois
superiores, acetaldeído, acetoína, butilenoglicol, entre outros (LIMA et al., 2001).
       A fermentação alcoólica é realizada normalmente por leveduras como
Saccharomyces cerevisiae, S. ellipsoideus, S. carlbergensis e S. warum, e bactérias
como Zymomonas mobilis, sendo que as leveduras são os microrganismos mais
utilizados na indústria.
18



Figura 9- Utilização de outros carboidratos na fermentação por Saccharomyces




Fonte: LIMA et al., 2001
19



3.2- FERMENTAÇÃO DE ÁCIDO LÁCTICO


       O ácido lático foi isolado pela primeira vez a partir do leite azedo por Scheele.
Pasteur também realizou estudos com relação à fermentação láctica. Ele observou
que assim como é sempre encontrada levedura na produção de cerveja, onde o
fermento promove a conversão de açúcares em álcool e dióxido de carbono, deve
haver um fermento que produza ácido láctico - a levedura láctica - convertendo
açúcares em lactato. Ele também verificou que nessa fermentação o produto
principal é o ácido láctico, mas também é possível encontrar no caldo fermentado
outros produtos como ácido butírico, álcool e manitol, sendo que suas proporções
podem variar (PASTEUR, 1857). Evitar essas outras vias e direcionar os compostos
de carbono somente para a produção de lactato é uma forma de otimizar a sua
produção.


Figura 10- L-lactato a partir de piruvato




                            Fonte: LEHNINGER et al., 2006


       O ácido lático pode ser produzido através da fermentação de bactérias como
os bactérias homofermentativos (Lactobacillus delbrueckii, L. bulgaricus, L.
pentosus, L. casei, L. leichmannii, Streptococcus lactis), de fungos como leveduras e
ficomicetos, e também de algumas algas. Ele também pode ser produzido de forma
sintética, através da hidrólise da lactonitrila (LIMA et al., 2001).
       O ácido lático pode apresentar duas formas esterioquímicas, devido ao
carbono quiral presente. Durante a fermentação são formadas as duas formas,
formando uma mistura racêmica (PRESCOTT et al, 1959).
       A fermentação ocorre em temperaturas relativamente altas e dependerá do
microrganismo utilizado. Lactobacillus delbrueckii cresce bem à temperatura de
45ºC; L. bulgaricus, pode ser incubado em 45-50ºC; já L. pentosus, L. casei, e
Streptococcus lactis podem ser cultivados em 30ºC (PRESCOTT et al, 1959).
20



      O ácido lático é bastante utilizado na indústria de alimentos como acidulante e
conservante de refrigerantes, geléias, xaropes e sucos de frutas (LIMA et al., 2001).


3.3- FERMENTAÇÃO DO GLICEROL


      O glicerol é usado amplamente como solvente, adoçante, constituinte de
loções, anti-sépticos, adesivos, tintas, agente anti-congelante. Ele também é
utilizado na preparação de meios nutritivos biológicos e na produção de
nitroglicerina, borracha sintética e massa de modelar (PRESCOTT et al., 1959).
      Ao estudar vinhos e cervejas, Luis Pasteur observou que leveduras
regularmente formavam glicerol. Um pouco antes da Primeira Guerra Mundial,
Neuberg, ao tentar elucidar a fermentação alcoólica através da suplementação do
meio de cultivo com sulfito de sódio, acabou descobrindo que dessa forma havia um
incremento na produção de glicerol por leveduras (PRESCOTT et al., 1959).
Normalmente, produz-se cerca de 3% de glicerol durante a fermentação alcoólica,
mas, ao se alterar o pH através da adição de sais alcalinos (carbonato de amônio,
bicarbonato de sódio, acetato de sódio ou fosfato dissódico), é possível obter de 9 a
16% de glicerol (CROCOMO, 1967).
      Segundo os trabalhos de Neuberg, a produção de glicerol pode ser feita de
quatro maneiras: fermentação alcoólica normal, presença de sulfito, soluções
alcalinas ou soluções neutras. No primeiro caso (Figura 11), durante a fermentação
alcoólica, pode ser desviado um pouco de gliceraldeído 3-fosfato, transformado em
diidroxiacetona fosfato. Esta, por sua vez, sofre a ação de desidrogenase de
glicerofosfato, reduzindo um NADH e formando glicerol 3-fosfato. A enzima fosfatase
retira o fosfato desse composto e forma o glicerol. (CROCOCOMO, 1967)


Figura 11- Produção de glicerol durante a fermentação alcoólica




Fonte: Adaptado de CROCOMO, 1967.
21



      Já na presença de sulfito, haverá acúmulo maior de glicerol. Isso ocorre
devido a fixação do acetaldeído pelo sulfito de sódio, através da reação:


CH3-CHO + Na2SO3 + H2O  CH3-CHO-HSO3Na + NaOH (PRESCOTT et al, 1959)


      Normalmente o acetaldeído é transformado em etanol, mas como ele está
sendo fixado e a redução a etanol não acontece, uma outra molécula faz o papel de
aceptor de hidrogênio do NADH. Isso faz com que a via de formação de glicerol seja
favorecida (PRESCOTT et al, 1959). A fermentação utilizando sulfito foi utilizada
pelos alemães durante a Primeira Guerra Mundial. Outros agentes que impeçam a
transformação de aldeído a álcool também podem ser utilizados, como carvão,
hidrazidas e oxalato de fenilhidrazina, desde que não haja impedimento de outras
reações in vivo (CROCOMO, 1967).
      Quando a fermentação ocorre em meio alcalino, há uma alteração no curso
normal da fermentação, gerando a produção de etanol, ácido acético, glicerol e CO 2.
Nessas condições, o acetaldeído não é reduzido a etanol, mas sim sofre a ação da
mutase aldeídica, formando ácido acético e etanol (Figura 12). Como não ocorreu a
reoxidação do NADH, a formação do glicerol a partir de diidroxiacetona fosfato é
favorecida (CROCOMO, 1967).


Figura 12- Ação da mutase aldeídica




Fonte: CROCOMO, 1967.


      A última forma de fermentação seria em meio neutro. Nesse caso não haverá
produção de etanol nem CO2, sendo acumulados glicerol e ácido pirúvico. Essa
reação ainda não está muito bem elucidada, mas é representada como:


C6H12O6  CH3-CO-COOH + CH2OH-CH2OH-CH2OH                         (CROCOMO, 1967)
22



3.4- FERMENTAÇÃO ACETONA-BUTANÓLICA


      Pasteur foi o primeiro pesquisador a mostrar que o álcool butílico era um
produto direto da fermentação, através dos seus experimentos da fermentação
butírica do ácido lático e do lactato de cálcio em 1861: “M. Pasteur... croit pouvoir
affirmer que l’alcool butylique est um produit ordinaire de la fermentation butyrique.”
(PRESCOTT et al., 1959). No entanto, foi somente em 1905 que Schardinger
notificou a produção de acetona através da fermentação (JONES & WOODS, 1986).
      A partir de 1910, o químico Chaim Weizmann trabalhou junto com outros
pesquisadores no processo de fabricação de borracha sintética. Para isso seriam
necessários compostos como butanol e isoamil, que seriam produzidos através de
microrganismos. Em 1910 eles acharam um microrganismo capaz de produzir
butanol quando cultivado em batatas. Entre 1912 e 1914 Weizmann isolou várias
culturas, as quais ele chamou de BY (e que atualmente são classificadas como
bactérias da espécie Clostridium acetobutylicum). Durante a Primeira Guerra
Mundial a Inglaterra precisou de grandes quantidades de acetona, e foi o
microrganismo isolado por Weizmann que propiciou um aumento na produção.
Como durante esse período não houve necessidade de butanol, ele foi estocado em
grandes quantidade, sendo ele posteriormente a guerra muito utilizado como
solvente na indústria automobilística (JONES & WOODS, 1986).
      A produção desses solventes em escala industrial era feita antigamente na
forma de batelada, usando fermentadores sem agitação mecânica e com
capacidade de 50000 a 200000 galões. Os fermentadores eram enchidos de 90 a
95% de sua capacidade e o restante era preenchido com uma camada gasosa de
dióxido de carbono estéril. O dióxido de carbono também era borbulhado antes e
depois da inoculação para facilitar a mistura (JONES & WOODS, 1986).
      As bactérias freqüentemente utilizadas para a fermentação acetona-butanol
são do gênero Clostridium. Esses microrganismos são esporulados, apresentam
uma forma de bastão e são sacarolíticos (fermentam açúcares). Devido a esses
fatores o isolamento dessas bactérias é relativamente fácil. Elas são geralmente
encontradas em associação com plantas como batatas, raízes de legumes e cereais.
(JONES & WOODS, 1986).
      Cada empresa que produz esses solventes pode possuir uma cepa de
bactérias diferente. A maioria dessas culturas é utilizada em processos já
23



patentiados (BEESCH, 1952). As diferenças que as cepas de Clostridium podem
apresentar podem ser com relação à proporção de solventes que produzem, como,
por exemplo: C. beijeirinckii (C. butylicum) produz solventes na mesma proporção
que C. acetobutylicum, mas ao invés de acetona produz isopropanol; C.
aurantibutyricum produz tanto acetona quanto isopropanol junto com butanol; já C.
tetanomorphum produz quantidades equimolares de butanol e etanol (JONES &
WOODS, 1986).
         A temperatura ótima para a fermentação aceto-butanólica é em torno de
30,6ºC, podendo variar de 28,9 até 33,3ºC tomando as devidas precauções de
controle do processo. Os microrganismos são estritamente anaeróbios e tem um
maior rendimento em condições anaeróbias. O pH pode variar de 5 a 7, dependendo
da cepa. Usualmente utiliza-se um pH inicial de 5,5-6,5 e final de 5,2-6,2 (BEESCH,
1952).
         A maioria das bactérias desse gênero necessita de nitrogênio de proteínas
degradadas no meio nutritivo para otimizar o processo fermentativo. Essa fonte de
nitrogênio inclui produtos intermediários de degradação de proteínas, como
polipeptídeos e aminoácidos, e também produtos finais de degradação como amônia
e seus sais. Os sais de amônia e a própria amônia dão resultados satisfatórios, mas
é preferível utilizar a amônia acompanhada de outros compostos nitrogenados mais
complexos. Elas também precisam de uma fonte de fosfato, caso as fontes de
carbono utilizadas (como melaço ou bagaço) não contenham quantidades mínimas
necessárias (BEESCH, 1952).
         A via metabólica de produção de acetona e butanol está presente na figura
13. Durante a fase inicial de crescimento (também chamada de fase acidogênica), a
bactéria produz hidrogênio, dióxido de carbono, acetato e butirato, resultando na
diminuição do pH do meio. Quando o cultivo entra em fase estacionária (chamada
também de fase solventogênica), o metabolismo passa a produzir solventes como
acetona e butanol, e também ocorre a reassimilação dos ácidos produzidos na
primeira fase, ocasionando a elevação do pH (JONES & WOODS, 1986).
24



Figura 13- Produção de Acetona-Butanol




Fonte: RHEM & REED, 1981.


3.5- FERMENTAÇÃO BUTANOL-ISOPROPANÓLICA


       A formação de butanol e isopropanol como produtos principais ocorre através
do microrganismo Clostridium butyricum, que é uma bactéria anaeróbia formadora
de esporos, com temperatura ótima de 37ºC, flagelada e Gram-positiva em culturas
jovens (podendo ser Gram-negativa em culturas mais velhas). Durante a Segunda
Guerra Mundial utilizava-se Clostridium toanum para esse processo. Em 1926,
Morikawa também isolou um microrganismo que produzia isopropanol e butanol
denominado Bacillus technicus (PRESCOTT et al, 1959).
       Os produtos finais da fermentação incluem butanol, isopropanol, dióxido de
carbono, hidrogênio, pequenas quantidades de ácido acético e butírico, e
possivelmente traços de acetona e ácido fórmico (PRESCOTT et al, 1959). O
rendimento da fermentação é de aproximadamente 53-65% de butanol, 19-44% de
isopropanol, 1-24% de acetona e 3% de etanol (LIMA et al., 2001). O caminho
metabólico seguido até a formação de isopropanol e butanol está exemplificado na
figura 14.
25



         A fermentação é otimizada quando o suprimento de nitrogênio é feito através
de proteínas parcialmente hidrolisadas (como no caso anterior) e a adição de malte,
extrato de leveduras, peptonas, água de maceração de milho ou glúten. A adição de
acetona ou de outros aceptores de hidrogênio aumentam o teor de isopropanol no
meio fermentado (LIMA et al, 2001).
         Certas substâncias podem inibir a formação de alguns produtos. A adição de
bicarbonato de sódio durante a fermentação pode inibir a formação de solventes,
principalmente o isopropanol, formando mais sais de ácidos acético, lático, pirúvico e
fórmico (LIMA et al, 2001)


Figura 14- Fermentação Butanol-isopropanólica




Fonte: Adaptada de RHEM & REED, 1981.


3.6- FERMENTAÇÃO ACETONA-ETANÓLICA


         A produção de acetona e etanol em conjunto acontece por microrganismos
como Bacillus macerans e Bacillus acetoethylicus. No final da fermentação pode-se
ter como produtos a acetona, o etanol, o ácido acético e o ácido fórmico (LIMA et al.,
2001).
         Schardinger em 1905 foi o primeiro a descobrir a acetona como produto de
uma fermentação bacteriana. O microrganismo por ele isolado era o Bacillus
26



macerans. Essa é uma bactéria móvel, esporulada, Gram-negativa e anaeróbia
facultativa (PRESCOTT et al, 1959).
       A temperatura ideal para a fermentação varia entre 40 e 43ºC e a
fermentação dura aproximadamente 6 dias. O pH do meio influencia o produto
formado. Em pH elevado há a formação de mais ácidos voláteis e menos etanol,
enquanto em pH 5,8-6,0 há estímulo da produção de solventes (LIMA et al., 2001).
No entanto, o pH ótimo de crescimento para B. aceoethylicus é 8-9. (PRESCOTT et
al, 1959). Ao meio de cultura é geralmente adicionado carbonato de cálcio para
neutralizar os ácidos formados.


3.7- FERMENTAÇÃO DO ÁCIDO PROPIÔNICO


       Bactérias produtoras de ácido propiônico, em geral, podem ser caracterizadas
como Gram-positivas, catalase positivas, não-esporuladas, imóveis, e aeróbicas
facultativas. Alguns exemplos são: Propionibacterium freudenreichii, P. jensenii, P.
peterssonii, P. shermanii, P. pentosaceum, P. rubrum, P. technicum, P. thoenii, P.
raffinosaceum, P. arabinosum e P. zeae. Elas podem ser isoladas de fontes como
leite, queijo, solo, silagem, e excreta de gado (PRESCOTT et al., 1959). Micrococcus
lactilycus (Veillonella gazogenes) e Clostridium propionicum também fazem esse tipo
de fermentação (CROCOMO, 1967).
       As bactérias que produzem ácido propiônico podem fermentar um grande
número de carboidratos, polióis e ácidos orgânicos, como pentose, 2-cetogluconato,
lactato, piruvato, glucose, galactose, lactose, maltose, malato, sorbitol, manitol,
glicerol, entre outros. Abaixo há a estequiometria de algumas dessas fermentações
a partir de diferentes substratos:


       3 ½ glucose  2 propionato + acetato + CO2 + HOH
       3 lactato  2 propionato + acetato + CO2 + HOH
       3 piruvato + HOH  propionato + 2 acetato +2 CO2
       glicerol  propionato + HOH                                (CROCOMO, 1967)


       A figura 15 mostra a formação de propionato a partir de glicerol ou glucose. Já
a figura 16 mostra em mais detalhe a formação de propionato e acetato a partir de
ácido lático.
27




Figura 15- Produção de Propionato          Figura 16- Produção de Propionato




Fonte: CROCOMO, 1967.                           Fonte: RHEM & REED, 1981.


      Além da produção de propionato, podem aparecer como subprodutos de
fermentação o acetato e o dióxido de carbono.


3.8- FERMENTAÇÃO DO ÁCIDO CÍTRICO


      O ácido cítrico é normalmente encontrado em frutas cítricas, abacaxis, pêras,
figos e pêssegos. Wehmer em 1893 demonstrou a ocorrência de ácido cítrico como
metabólito microbiano de Citromyces pfefferianus e C. glaber em meio contendo
sacarose e carbonato de cálcio (PRESCOTT et al, 1959). Em 1922, Mollinard
descobriu culturas de Aspergillus niger que produziam ácido cítrico em condições de
deficiência de fosfato.
      Até 1953, o ácido cítrico era obtido a partir de citrato de cálcio. Com a
descoberta de microrganismos capazes de produzi-lo, passou-se a utilizar a via
fermentativa. Há três processos fermentativos que podem ser utilizados: o processo
Koji (em substrato sólido utilizando uma cepa específica de Aspergillus niger), a
28



fermentação em superfície (o micélio de A. niger cresce sobre um meio de cultura
estático, sendo o produto recolhido do meio) e a fermentação submersa (meio de
cultura líquido sob agitação) (LIMA et al., 2001).
         As espécies Aspergillus niger, A. clavatus, Penicillium luteum, P. citrinum,
Paecilomyces divacatum, Mucor piriformis e Ustilina vulagris são usadas em
laboratório ou comercialmente para a produção desse ácido, mas a importância
maior cabe ao A. niger.
         O pH influencia fortemente a produção de ácido cítrico. A partir do controle do
pH com sais inorgânicos é possível variar a proporção de ácido cítrico e oxálico
formados. Um pH mais baixo favorece a formação de citrato e suprime a formação
oxalato, além de minimizar as chances de contaminação (PRESCOTT et al., 1959).


4- CULTIVO DE CÉLULAS MICROBIANAS


4.1- BACTÉRIAS


         Bactérias são organismos unicelulares e sem compartimentalização interna
por um sistema de membranas, ou seja, são procarióticos. Elas são envolvidas por
uma parede celular peptidioglicana, sendo que elas podem apresentar várias
formas, como bacilos, cocos ou espirilos.
         O crescimento bacteriano ocorre com o aumento do número de células, e não
com o aumento do volume de uma célula. Elas se reproduzem normalmente por
divisão binária, mas algumas podem fazer brotamento. Outras podem ainda se
fragmentar e a partir de cada fragmento se inicia uma nova célula (TORTORA et al.,
2006).
         Uma cultura bacteriana apresenta inicialmente uma fase lag, quando as
bactérias ainda não se multiplicam e sofrem somente pequenas variações para se
adaptar ao novo meio de cultivo. Elas se encontram em um estado de latência. Após
determinado tempo, podendo levar de horas a dias, a cultura passa para a fase log,
ou crescimento exponencial.         Nesse período os mecanismos de reprodução
encontram-se amplamente ativos e são bastante sensíveis a mudanças ambientais.
Depois de um longo período de crescimento ocorre a fase estacionária, e a taxa de
divisão se torna equivalente a taxa de mortalidade. Isso pode ocorrer devido ao
término de nutrientes, ao acúmulo de produtos de degradação ou a mudanças no pH
29



danosas à célula. Em determinado momento, a população microbiana entra em fase
de morte celular (ou declínio), quando o número de mortes excede a produção de
novas células (TORTORA et al., 2006).
       A maioria das bactérias cresce em pH perto da neutralidade (6,5-7,5), sendo
que poucas delas (as acidófilas) conseguem crescer em pH 4. Elas podem ser
cultivadas tanto em meio sólido quanto em meio líquido (TORTORA et al., 2006).


4.2- FUNGOS


       Os fungos pertencem ao reino Fungi e são organismos eucarióticos, quimio-
heterotróficos, multicelulares (exceto leveduras), e com parede celular formada de
glicanas, mananas e quitina. Os fungos multicelulares são classificados com relação
a sua morfologia da colônia e dos esporos reprodutivos (TORTORA et al. 2006).
       No seu ciclo de vida pode acontecer a reprodução assexuada, através da
fragmentação de suas hifas ou pela formação de esporos assexuais, e também a
reprodução sexuada, através de esporos sexuais.
       Os fungos filamentosos suportam ambientes que poderiam ser hostis a
bactérias. Eles conseguem suportar uma variação de pH maior que as bactérias,
mas os valores ótimos se encontram geralmente em pH 5-6. Eles são mais
resistentes à pressão osmótica, sendo que alguns podem crescer em concentrações
relativamente altas de sais e açúcares. Substratos com atividade de água muito
baixa também podem favorecer o crescimento de fungos. A maioria deles possui
metabolismo aeróbico. Eles também conseguem metabolizar carboidratos mais
complexos que as bactérias já não têm capacidade, como, por exemplo, degradar a
lignina (TORTORA et al., 2006).


4.3- LEVEDURAS


       Leveduras são organismos eucarióticos, unicelulares, não filamentosos, e de
forma oval que pertencem ao reino dos fungos. Esses organismos estariam entre as
bactérias e os macro-fungos (PRESCOTT et al., 1959). Assim como as bactérias, a
identificação de leveduras pode ser feita através de testes bioquímicos. (TORTORA
et al., 2006)
30



         Elas podem apresentam como forma de propagação vegetativa o brotamento
(gemulação),      sendo   que     algumas   podem    sofrer   fissão   binária,   como
Schizosaccharonyces (PRESCOTT et al., 1959). Em algumas espécies, como
Candida albicans, o broto pode não se separar da célula mãe, formando o que pode
ser chamado de pseudo-hifa. (TORTORA et al., 2006)
         As células de levedura são capazes de realizar metabolismo anaeróbico
facultativo, podendo utilizar tanto o oxigênio quanto outros compostos orgânicos
como aceptor final de elétrons.
         Elas vêm sendo bastante estudadas por serem organismos eucarióticos
relativamente fáceis de manipular, sendo então consideradas como modelo
metabólico, molecular e genético para os eucariotos assim como a bactéria
Escherichia coli é considerada como modelo para os procariotos (BADOTTI et al.,
2008).
         Leveduras como Saccharomyces cerevisiae são utilizadas em vários
processos, como a produção de fermento de pão, extrato de levedura, cerveja,
aditivos alimentícios (vitaminas, proteínas, enzimas), proteínas heterólogas (vacinas
e outros componentes terapêuticos), e produtos de interesse farmacêutico através
da manipulação de novas vias metabólicas e do aumento da produção com a
engenharia genética, uma vez que o genoma de leveduras já foi inteiramente
seqüenciado (BADOTTI et al., 2008).
         Para se cultivar leveduras pode-se utilizar vários meios de cultivo. Em meio
sólido, as células de levedura formam colônias semelhantes às de bactérias
(TORTORA et al., 2006). A maioria deles consiste em uma formulação que dispõe
dos nutrientes necessários para o crescimento de leveduras e ingredientes que
inibem o desenvolvimento de bactérias e bolores. Um dos meios bastante indicados
para o isolamento de leveduras é o YM (yeast malt extract medium).
         Sendo organismo saprófitos, as leveduras exigem a presença de uma fonte
de carbono elaborada para conseguir energia. Também pode ser necessária a
adição de vitaminas (tiamina e ácido pantotênico), de nitrogênio, fósforo, enxofre,
potássio, magnésio, cálcio, zinco, manganês, cobre, ferro, cobalto, iodo e outros
elementos traço (LIMA et al., 2001).
         As leveduras da espécie Saccharomyces cerevisiae utilizam nitrogênio na
forma amoniacal (NH4+), amídica (uréia) ou amínica (na forma de aminoácidos), não
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conseguindo metabolizar nitrato ou proteínas do meio. O fósforo é absorvido na
forma de H2PO4-, e o enxofre na forma de sulfato, sulfito ou tiosulfato.
       Elas      são   microrganismos     mesófilos,    com    temperatura     ótima   em
aproximadamente 26 a 35ºC, e com pH ótimo por volta de 4 a 5. A manutenção
dessas condições evita a contaminação do cultivo por outros microrganismos (LIMA
et al., 2001).


5- CULTIVO DE CÉLULAS ANIMAIS E VEGETAIS


       Apesar da utilização de proteínas recombinantes em bactérias como
Escherichia coli, algumas modificações estruturais pós-traducionais só podem ser
feitas eficientemente em outros tipos de célula, como de mamíferos e insetos. O
cultivo de células de mamífero tem grande importância na produção de estruturas
específicas como anticorpos, que atualmente apresenta uma demanda bastante
elevada. (SCHEPER et al., 2006) Também é de grande importância na produção de
vacinas virais, citocinas, bioinseticidas (como o baculovírus), enzimas (asparaginase,
colagenase, citocromo P450, fatores sangüíneos VII, VIII e IX, pepsina, renina,
tripsina, uroquinase), hormônios de cadeia longa (luteinizante, coriônico, folículo
estimulante) e de células para testes toxológicos, bioensaios ou fabricação de
tecidos artificiais (LIMA et al., 2001). A Tabela 2 mostra o desenvolvimento de
processos que utilizam células animais.


Tabela 2- Histórico de cultivo de células animais
Ano     Evento
1949    Crescimento de vírus em cultura de células. (Enders e col.)
1954    Vacina inativada Salk contra poliomielite (com células de rim de macaco)
1955    Vacina atenuada Sabin contra poliomielite (com células de rim de macaco)
1962    Estabelecimento de uma linhagem de células diplóides humanas – WI-38 (Hayflick)
1963    Vacina contra sarampo (com células de embrião de galinha)
1964    Vacina contra raiva (com células WI-38)
1967    Vacina contra caxumba (com células WI-38)
1969    Vacina contra rubéola (com células WI-38)
1970- a)Vacinas humanas experimentais (varicela, citomegalovírus, e outros);
1974    b)Várias vacinas veterinárias.
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1975     Produção de anticorpos monoclonais. (Kohler e Milstein)
1979     Primeira linhagem de células recombinantes
1980     Ampliação da escala de produção para 8000L (vacina contra a febre aftosa e interferon)
1981     Primeiro kit de diagnóstico com anticorpo monoclonal
1982     Primeiro produto farmacêutico resultado da tecnologia do DNA recombinante (insulina)
1986     a)Licença para a produção de γ-Interferon linfoblastóide;
         b)Testes clínicos com vários produtos resultantes da tecnologia do DNA recombinante;
         c)Vacinas contra poliomielite e raiva produzidas com células VERO.
1987     Licença para produção de OKT3 – anticorpo envolvido na imunologia de transplantes
1988     Licença para a produção de tPA recombinante (ativador de plasminogênio)
1989     Testes clínicos de eritropoetina
1990- Testes clínicos de diversos produtos oriundos da tecnologia de recombinação do
1995     DNA (antígeno da hepatite B, fatores sangüíneos VIII e IX, anticorpos monoclonais,
         anticorpos envolvidos na imunologia de transplantes, diversas citocinas, e outros).
Fonte: LIMA et al., 2001


         Os processos de manipulação, esterilização, quantificação, controle de
qualidade, ampliação de escala e formação do produto são semelhantes aos de
bactérias, fungos e leveduras. No entanto, alguns cuidados especiais devem ser
tomados, pois células animais apresentam um crescimento mais lento, são mais
frágeis (não suportando grandes taxas de agitação), apresentam necessidades
nutricionais mais complexas, e, em muitos casos, necessitam de um suporte de
adesão para o crescimento. Devido a essas peculiaridades, muitas vezes o cultivo
de células animais pode ser muito mais caro (LIMA et al., 2001).
         Originalmente, as células animais não conseguem crescer livres no meio de
cultivo assim como os microrganismos. Por isso são feitos cultivos primários, nos
quais células vindas diretamente de tecidos animais são cultivadas em meio e
dissociadas cuidadosamente em células individualizadas. Isso é realizado através da
fragmentação do tecido em pedaços suficientemente pequenos.                        Quando o
crescimento in vitro acontece e as células formam uma monocamada aderida ao
suporte, ocorre o descolamento das mesmas com o auxílio de enzimas e as células
são diluídas em meio de cultivo fresco para originar novas culturas (LIMA et al.,
2001).
         Os meios de cultivo utilizados para o cultivo de células animais eram
originalmente oriundos em fluidos biológicos. Devido à falta de uniformidade,
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começou-se a formulação de meios semi-sintéticos. Cada tipo de linhagem celular
requer um tipo diferente de meio, mas a maioria deles apresenta característica
como:
              Glucose e glutamina como fontes de carbono para o catabolismo.
              Sais que garantem a isotonicidade do meio, evitando a desregulação
               osmótica.
              Sistemas de tampão bicarbonato/CO 2, succinato de sódio/ácido
               succínico, e de tampões orgânicos do tipo HERPES (ácido 4-(2
               hidroxietil)-1-piperazina-N’-2 etanossulfônico) e do tipo TRIS (2-amino-
               2-hidroximetil-1,3 propanodiol).
              Suplementação com soro sangüíneo (complexo de proteínas para a
               nutrição, adesão e crescimento celular, para a proteção biológica –
               antioxidantes e antitoxinas – e para proteção mecânica durante a
               agitação e aeração). Como os soros utilizados são geralmente de
               origem bovina ou eqüina, ele também pode ser fonte de contaminação
               por parasitas, bactérias, fungos ou vírus. Para evitar isso, tenta-se
               substituí-lo por outras composições, o que pode encarecer o processo.
              Antibióticos como penicilina (100UI/mL), estreptomicina (50 μg/mL) e
               anfotericina B (25 μg/mL).
              Água desmineralizada, destilada e isenta de pirogênio.
               (LIMA et al., 2001)


        A maioria das células animais se desenvolve bem entre 35 e 37ºC, podendo
tolerar temperaturas mais baixas, mas morrem em temperaturas mais altas. O pH
ótimo se encontra entre 7,2 e 7,4, sendo que algumas linhagem podem suportar
extremos como 6,8 e 7,8 (LIMA et al., 2001).
        Já as cultivo de células vegetais tem como objetivo a produção de metabólitos
secundários em processos em biorreatores ou a produção de mudas padronizadas
através das técnicas de micropropagação. Através da manipulação genética também
pode-se fazer um melhoramento de plantas, protoplastos (células sem parede)
podem ser fusionadas de forma a produzir novos híbridos, e células transgênicas
podem ser desenvolvidas a plantas inteiras (WALKER & GINGOLD, 1997). A figura
17 mostra algumas das utilidades do cultivo de células vegetais.
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      Com plantas, podem ser realizados cultivos com plantas inteiras, parte delas,
tecidos, ou células únicas. O cultivo é feito em meios estéreis, contendo sais,
vitaminas, fontes de carbono e reguladores de crescimento vegetal. Quando há o
cultivo de tecidos organizados, permitindo posteriormente a obtenção de plantas
inteiras, é possível obter um cultivo sem alteração do material genético. Já um
cultivo de células desorganizadas ou que passaram por um processo de
manipulação, é possível regenerar uma planta inteira modificada através da
biotecnologia (WALKER & GINGOLD, 1997).


      Figura 17- Utilidades do cultivo vegetal




      Fonte: VOGEL & TODARO, 1997.


      Através do cultivo in vitro de plantas é possível obter condições ambientais
específicas, as quais são livres de enfermidades e pragas, e o cultivo pode ser
realizado continuamente. A produção pode ocorrer em fermentadores, onde o
crescimento celular ocorre até a fase estacionária, e depois ocorre extração do
produto; ou ainda em biorreatores de leito fixo, onde as células são imobilizadas na
forma de agregados celulares em matrizes inertes como géis, espumas ou fibras
ocas, e o produto é coletado de forma contínua ou semicontínua (WALKER &
GINGOLD, 1997).
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       Células vegetais, tecidos e cultura de órgãos podem ser cultivadas tanto em
meio sólido quanto em meio líquido, sendo que a cultura em meio líquido facilita o
aumento de escala de laboratório para a indústria. Recentemente, biorreatores de
cultivo vegetal em escala piloto no Japão tinham capacidade de 20 000L (VOGEL &
TODARO, 1997).
       Os metabólitos secundários que podem ser produzidos por plantas podem ser
divididos em fármacos, essências, perfumes, pigmentos e agentes químicos de
utilidade na agricultura. No entanto, a maioria desses compostos é produzida em
baixas concentrações, devido, entre outros fatores, a instabilidade de expressão
gênica durante o cultivo (WALKER & GINGOLD, 1997).


6- APLICAÇÕES DA FERMENTAÇÃO


       Os produtos biotecnológicos estão presentes em vários setores da economia,
como na área química, farmacêutica, energética, alimentícia e agricultural. Os tipos
de serviços que uma indústria de bioprocessos pode oferecer podem ser
classificados em:
      Produção de biomassa: onde o objetivo é a produção em grande quantidade
       de biomassa de bactérias, leveduras ou fungos. A biomassa de levedura pode
       ser utilizada no processo de panificação; já a biomassa da microalga Spirulina
       pode ser utilizada no enriquecimento de alimentos.
      Produção de metabólitos celulares: visa à produção em larga escala de
       produtos de metabolismo celular. Eles podem ser intra ou extracelulares.
      Produção de proteínas recombinantes: através da engenharia genética é
       possível manipular genes e introduzi-los em microrganismos de forma a
       chegar a produtos que antes eram produzidos em outras células ou ainda
       melhorar a especificidade de uma enzima.
      Produção de enzimas: são os produtos celulares mais usados na indústria.
       Elas podem ser extraídas de animais ou plantas, mas a produção por
       microrganismos pode fornecer uma maior rendimento.
      Biotransformação de compostos: há a transformação de substâncias do meio
       em outras. Esse recurso é bastante útil principalmente na área ambiental,
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         onde é possível fazer com que microrganismos retirem substâncias tóxicas do
         meio e convertam a produtos de toxicidade menor.


6.1- PRODUÇÃO DE ALIMENTOS


         Os microrganismos são amplamente utilizados na produção de alimentos,
tanto para consumo humano como animal. Aqui serão discutidos alguns exemplos
de produtos de fermentação na indústria alimentícia.
         Antigamente, a produção de pães era feita guardando-se um pouco das
sobras da última formada para servir como inóculo para a próxima. Atualmente,
encontra-se levedura (fermento) comercialmente, sendo selecionadas as cepas mais
produtivas para tal atividade. A produção de biomassa de levedura para a
panificação é feita em meio líquido contendo melaço ou licor de milho, com pH 4-5 e
aeração. Ao final do cultivo as células são recuperadas por centrifugação e filtração.
É adicionado um pouco de óleo vegetal para agir como plastificante, e a biomassa é
moldada na forma de blocos e embalada para comercialização (NAJAFPOUR,
2007).
         Na produção de queijos é necessária a formação do coalho, que é causada
pela ação da renina sobre a caseína do leite. O tipo de bactéria lática inoculada
também pode fornecer um sabor e odor característico. Queijos como o Cheddar e o
suíço são maturados através do crescimento anaeróbico de bactérias láticas em seu
interior. Já queijos como o Limburger são maturados por bactérias e outros
microrganismos contaminantes que crescem na superfície. Queijos como o blue e o
Roquefort são maturados pelos fungos Penicillium inoculados no queijo. Derivados
do leite como a manteiga, o iogurte, o kefir e o kumiss também são produzidos
através da fermentação (TORTORA et al., 2006).
         Pode ocorrer também de o próprio microrganismo ser o alimento. No entanto
um pré-requisito básico para utilização de biomassa de microrganismos como
alimento e medicamento é a aprovação de sua segurança toxicológica. Alguns
microrganismos podem produzir toxinas que podem fazer mal ao organismo de
quem a ingerir (SILVA et al., 2007).
         Cogumelos são um dos tipos de organismos utilizados na alimentação. Seu
uso é bastante difundido em vários países, principalmente asiáticos, onde eles são
consumidos na forma de chá, extratos ou em conjunto com outras ervas. Seu uso se
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dá principalmente devido a propriedades antibacterianas, antifúngicas, antivirais,
imunomoduladoras, antialergênicas, antiinflamatórias, antiaterogênico e antitumoral,
hipolipidemica e hipoglicemica. (LIMA et al., 2007)
          Existem aproximadamente duas mil espécies de cogumelos que podem ser
consumidas por humanos, mas somente 25 delas são as normalmente usadas na
alimentação. Daqueles que apresentam atividade biológica comprovada então o
Ganoderma lucidum (Reishi), Lentinus edodes (Shiitake), Agaricus brasiliensis
(Cogumelo do Sol), Inonotus obliquus (Chagas), G. frondosa (Maitake). Compostos
que apresentam atividade biológica estão presentes na biomassa desses fungos ou
então são excretados. Esses compostos incluem argenina, esteróides, lipídeos,
lectina e polissacarídeos, sendo esse último importante na ação antitumoral e
imunomoduladora. (LIMA et al., 2007)
          Outra biomassa de poder nutritivo e terapêutico é das cianobactérias como a
Spirulina sp. podem produzir importantes compostos bioativos como metabólitos
secundários que podem ser constituintes de complementos alimentares ou ainda a
biomassa ser utilizada como um novo alimento. Compostos por elas produzidos
podem apresentar ação anticancerígena, antioxidante, antibacteriana, antiviral e
antifúngica (SILVA et al., 2007).
          As tabelas 3 e 4 mostram alguns dos principais alimentos e bebidas que
utilizam a fermentação.
Tabela 3- Alimentos fermentados
Alimentos e Produtos          Ingredientes Crus         Microrganismos Fermentadores
Laticínios
Queijos (maturados)           Coalho de leite           Streptococcus spp., Leuconostoc
                                                        spp.
Kefir                         Leite                     Streptococcus lactis, Lactobacillus
                                                        bulgaricus, Candida spp.
Kumis                         Leite de água             L. bulgaricus, L. leichmannii,
                                                        Candida spp.
Iogurte                       Leite, sólidos do leite   S. thermophilus, L. bulgaricus
Produtos de Carne e Peixe
Presuntos curados             Presunto de porco         Aspergillus, Penicillium spp.
Salsichas                     Porco, carne de gado      Pedicoccus cerevisiae
Molho de peixe                Pequenos peixes           Bacillus spp halofílicos
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Produtos de Plantas
Cacau (chocolate)              Fruto do cacau              Candida krusei, Geotrichum spp.
Grão de café                   Fruto do café               Erwinia dissolvens,
                                                           Saccharomyces spp.
Kimchi                         Repolho e outros            Bactérias lácticas
                               vegetais
Missô                          Grãos de soja               Aspergillus oryzae,
                                                           Zygosaccharomyces rouxii
Azeitonas                      Azeitonas verdes            Leuconostoc mesenteroides,
                                                           Lactobacillus plantarum
Poi                            Raízes de taioba            Bactérias lácticas
Repolho azedo                  Repolho                     Leuconostoc mesenteroides,
                                                           Lactobacillus plantarum
Molho de soja                  Grãos de soja               A. oryzae, A. soyae, Z. rouxii,
                                                           Lactobacillus delbrueckii
Pães
Bolos, pães e outros           Farinha de trigo            Saccharomyces cerevisiae
Pão      azedo    de     São Farinha de trigo              S. exiguus, Lactobacillus
Francisco                                                  sanfrancisco
Fonte: TORTORA et al., 2006
Tabela 4- Bebidas fermentadas
         Bebida               Levedura                       Função da levedura
Cerveja e vinho
Cerveja, cerveja lager   Saccharomyces            Converter açúcar em álcool e CO 2. A
                         cerevisiae               levedura cresce no fundo do recipiente.
Cerveja, ale             S. cerevisiae            Converter açúcar em álcool e CO 2. A
                                                  levedura cresce no topo do recipiente.
Saquê                    S. cerevisiae            Converter açúcar em álcool.
Vinho, natural           S. cerevisiae            Converter açúcar da uva em álcool.
Vinho, espumante         S. cerevisiae            Na fermentação secundária produz CO 2. A
(champanhe)                                       levedura assenta rapidamente.
Bebidas destiladas
Rum                      Levedura selvagem        Converte açúcar em álcool.
Conhaque                 S. cerevisiae            Converte açúcar em álcool.
Uísque                   S. cerevisiae            Converte açúcar em álcool.
Fonte: TORTORA et al., 2006
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6.2- PRODUÇÃO DE ANTIBIÓTICOS


      Antibióticos são produtos secundários do metabolismo que, em contato com
outros microrganismos, podem inibir o crescimento do mesmo.
      No ramo dos antibióticos, um dos principais é a penicilina, onde há a
produção de praticamente 33 milhões de toneladas métricas anuais movimentando
praticamente US$ 400 milhões. A venda mundial dos três principais grupos de
antibióticos (penicilina, cefalosporina, tetraciclina e eritromicina) gera US$ 4,2
bilhões por ano (NAJAFPOUR, 2007).
      No início dos anos 40, Alexander Fleming notou a produção de penicilina pelo
fungo Penicillium notatum, a qual inviabilizou a cultura de Staphylococcus aureus.
Atualmente, a produção desse antibiótico é feita por uma outra espécie, Penicillium
chrysogenum, pois assim há a formação de uma maior quantidade de produto
(aproximadamente 1000 vezes mais). Já antibióticos como a estreptomicina são
produzidos por Actinomicetos. O cultivo submerso também favoreceu a produção de
antibióticos em larga escala (NAJAFPOUR, 2007).
      Para a produção de penicilina, podem ser utilizados resíduos industriais como
melaço. As etapas de produção consistem basicamente em:
   1. Preparação do inóculo.
   2. Preparação e esterilização do meio.
   3. Inoculação do meio no fermentador.
   4. Aeração forçada com ar estéril durante a incubação.
   5. Após a fermentação há a remoção do micélio formado.
   6. Extração e purificação da penicilina.


      A penicilina é produzida a partir da L-cisteína e L-valina. A produção se dá de
forma não ribossomal, por meio de um dipeptídeo composto de L-α-aminoadípico (L-
α-AAA) e L-cisteína ou um produto de degradação da cistationina. Após, ela se
conecta a L-valina através de uma epimerização. O produto da ciclização do
tripeptídeo é a isopenicilina N. A benzilpenicilina é produzida no intercâmbio de L- α-
AAA com ácido fenilacético ativado. (LIMA et al., 2001)
      Dos antibióticos de origem microbiana, somente 123 são produzidos por
fermentação, o resto é produzido de forma sintética ou semi-sintética. As bactérias
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produzem um número de 950 antibióticos, já os actinomicetos pruduzem 4600
antibióticos, e os fungos 1600 (LIMA et al., 2001).


6.3- PRODUÇÃO DE ENZIMAS


       As enzimas são amplamente utilizadas na indústria. Como exemplo pode-se
citar o uso de amilases para a produção de xaropes do amido de milho, na produção
de papéis e na produção de glicose de amidos. No entanto, pode-se utilizar o
microrganismo inteiro para o processo ou somente a enzima. Percebendo isso,
indústrias resolveram se especializar somente na produção de enzimas (TORTORA
et al, 2006).
       Vários fungos sintetizam e excretam grandes quantidades de enzimas no
meio de cultivo. Culturas como a de Aspergillus, Penicillium, Mucor e Rhizopus são
bastante utilizadas na indústria (NAJAFPOUR, 2007).
       A produção de enzimas em larga escala se dá principalmente através da
fermentação submersa, embora em países orientais chega-se a utilizar fermentação
semi-sólida (LIMA et al., 2001). Elas podem ser separadas do meio de cultivo após a
fermentação através de solventes como etanol ou adição de sais inorgânicos como
sulfato de amônio (NAJAFPOUR, 2007).


6.4- PRODUÇÃO DE ANTICORPOS


       Anticorpos são proteínas da família das imunoglobulinas, que são sintetizadas
normalmente pelo corpo de animais de forma a responder a moléculas estranhas. É
necessário haver uma grande produção de anticorpos, pois sua demanda é bastante
elevada. E para isso, as plantas de produção têm aumentado em tamanho e
quantidade nas últimas décadas. Também nessa época houve o desenvolvimento
de anticorpos recombinantes que são produzidos in vitro em grande quantidade
como se fossem produzidos por células in vivo. Isso foi obtido através da procura de
células com alto coeficiente de produtividade (SCHEPER & HU, 2006).
       O cultivo em batelada é raramente utilizado nesse caso, exceto em escala
laboratorial. É mais freqüente o uso de batelada alimentada ou cultivo contínuo com
retenção de células (SCHEPER & HU, 2006).
41



      A produção de anticorpos monoclonais tem sido bastante estudada,
principalmente a potencialidade de seu uso como uma droga terapêutica devido a
sua especificidade de ligação. Dentro da farmacoterapia, anticorpos monoclonais
tem sido utilizados no tratamento de doenças infecciosas (Synagis TM), câncer
(HerceptinTM) e doenças autoimunes (RemicadeTM). No entanto, esses tratamentos
ainda continuam sendo muito caros devido ao processo de produção. Eles eram
prduzidos antigamente em camundongos, mas atualmente é possível produzir
alguns tipos em Escherichia coli através de técnicas de DNA recombinante
(SCHEPER & HU, 2006).


6.5- PRODUÇÃO DE INOCULANTES


      A biotecnologia não é utilizada na agricultura somente através de organismos
vegetais geneticamente modificados. É também bastante importante a técnica de
produção de inoculantes agrícolas. Ela consiste na utilização de microrganismos
para melhorar o solo em que ocorrerá o cultivo, propiciando a fertilização natural do
solo, reduzindo os danos causados por doenças, estimulando o crescimento vegetal
e reduzindo a carga de inseticidas que podem eventualmente permanecer no solo.
      É bastante utilizado nessa área o fato de que algumas bactérias e fungos
podem fazer simbiose com vegetais. Bactérias como Bradyrhizobium e Rhizobium
são importantes na simbiose com leguminosas como soja e feijão, auxiliando na
fixação do nitrogênio atmosférico. Fungos são utilizados na micorrização das raízes
de Pinus sp. e Eucaliptus sp., auxiliando na fixação e crescimento de mudas no
ambiente (LIMA et al., 2001).
      Para a fixação de nitrogênio, são utilizadas culturas isoladas de bactérias
(usualmente Rhizobium) que consigam formar nódulos de fixação nas raízes de
leguminosas. As características do solo onde ocorrerá o plantio também é
importante para selecionar uma cepa que seja adequada para aquelas condições de
temperatura e pH. Pode ocorrer também uma competição entre bactérias do inóculo
e bactérias naturais do solo, inviabilizando o seu desenvolvimento.
      Outra característica importante da linhagem a ser usada é que as células
microbianas devem suportar as condições de produção industrial, se multiplicando
de forma significativa nos tanques cultivo.
42



      Sobre os inoculantes a base de fungos, são utilizados microrganismos de
ação mutualística, formando associações com raízes de vegetais superiores.
Dependendo do tipo de colônias formadas nas raízes, os fungos podem ser
classificados     como   endomicorrizas   (quando   há   penetração   na   raiz)   ou
ectomicorrizas.
      A seleção de microrganismos pode ocorrer de espécies naturais, a fim de se
encontrar o organismo que propicia uma melhor associação. A produção em grande
quantidade na indústria ocorre através de cultivos em estado sólido ou submerso. O
primeiro tipo apresenta problemas quanto ao controle de pH, temperatura e
disponibilidade de oxigênio e substrato. Essas condições já podem ser melhor
ajustadas durante o cultivo submerso (LIMA et al., 2001).


6.6- TRATAMENTO AMBIENTAL


      Um processo industrial geralmente apresenta a produção de alguns produtos
indesejáveis, e esses resíduos devem ser descartados de uma forma apropriada
para não danificar o ambiente. Um modelo de industria ideal seria aquele em que
não haveria nenhum resíduo e ocorreria uma integração de todos os processos (o
resíduo de um processo poderia servir de substrato pra outro). ZANETE, 2007,
utilizou esse princípio para modelar uma biorrefinaria integrada, onde, por exemplo,
um resíduo como bagaço de cana poderia ser utilizado tanto na produção de energia
quanto no cultivo de microorganismos para a produção de etanol.
      Com a constante preocupação da população com relação à preservação do
meio ambiente, deve-se prestar muita atenção aos resíduos industriais a
providenciar tratamento adequado para cada tipo.
      Para compostos biodegradáveis pode-se fazer uso da biodegradação, onde
microrganismos fazem a decomposição de compostos, desde que eles tenham a
maquinaria enzimática necessária (LIMA et al., 2001). Outra utilização é o fenômeno
de absorção de metais tóxicos do ambiente por microrganismos (por exemplo,
algas), pois podem suportar quantidades um pouco mais elevadas. A utilização de
biofiltros no tratamento de gases tóxicos também tem sido bastante estudada (MOO-
YOUNG & CHISTI, 1994).
      A diferença do tratamento biológico de efluentes líquidos, sólidos e gasosos
com relação aos outros processos discutidos anteriormente é que a escala de
43



operação é geralmente muito maior e os microrganismos são utilizados em culturas
mistas, muitas vezes sem esterilização (MOO-YOUNG & CHISTI, 1994).


6.7- PRODUTOS RECOMBINANTES


       Através da tecnologia do DNA recombinante foi possível aumentar a
quantidade de produtos resultantes da fermentação realizada por microrganismos.
Por essa técnica consegue-se induzir em um microrganismo a produção de uma
proteína heteróloga que originalmente pertencia a outro organismo. Alguns
exemplos bem sucedidos são a produção de insulina humana, de hormônio do
crescimento e de interferon pela bactéria Escherichia coli (WALKER & GINGOLD,
1997). Um exemplo de processo recombinante está na figura 18, onde os genes de
origem externa, como, por exemplo, tecido animal, são inseridos em microrganismos
através de técnicas de biologia molecular.


Figura 18- Produção de plasmídio recombinante




Fonte: Adaptado de DORAN, 1995


       Os organismos mais utilizados nesse processo são Escherichia coli, Bacillus
subtilis, leveduras, células cultiváveis de eucariotas superiores, como de inseto e de
mamíferos. As bactérias da espécie E. coli são amplamente utilizadas devido à
facilidade de crescimento e produção. Existem alguns fatores importantes durante
uma fermentação que utiliza um gene recombinante, como:
      Modificações pós-traducionais.
      Modo de secreção do produto.
      Minimização da degradação do produto.
44



      Proteção da expressão do gene estrangeiro.
      Controle do início de sua síntese durante a fermentação.
       (WALKER & GINGOLD, 1997)


       Para conseguir a expressão de genes eucarióticos em bactérias, deve-se
levar em conta que esses genes possuem seqüências de exons e introns. Portanto
deve-se modificar a seqüência de modo a ter somente os códons que devem ser
codificados em aminoácidos. Proteínas originárias de organismos eucarióticos
podem não ter sua produção exata em microrganismos também devido à presença
de algumas modificações pós-traducionais, como glicosilação, o que não é feito por
muitas bactérias. Outros fatores a serem observados são a freqüência de códons
utilizados pelo organismo (codon usage bias), pois, como o código genético é
degenerado (apresentando mais de um códon codificando o mesmo aminoácido),
cada organismo utiliza um códon preferencialmente em relação a outro.
       Para que o gene de interesse seja inserido na bactéria de interesse, é
necessária a utilização de vetores genéticos. Existe um vetor mais recomendado
dependendo do objetivo desejado. Plasmídios são pequenos segmentos de DNA
circulares que apresentam replicação autônoma, dentro dos quais podem ser
inseridas seqüências gênicas pequenas (até 10kb).         Bacteriófagos já aceitam
seqüências maiores (de 20 a 40 kb). Existem também os cosmídios, fosmídios e
cromossomos de levedura artificiais (YAC).
       A inserção de material genético exógeno por meio de vetores de clonagem é
muito importante na metagenômica, que é a análise genômica de comunidades
microbianas independentes de cultivo. Muitos microrganismos não conseguem se
desenvolver bem em meios de cultivo artificiais, mas ao mesmo tempo podem conter
seqüências gênicas importantes para o desenvolvimento de alguns processos. Para
se fazer uso delas pode-se fazer uma extração do DNA ambiental, ou seja, coleta-se
uma porção do meio ambiente e extrai-se o DNA de todos os microrganismos ali
presentes. Em seguida contrói-se uma biblioteca genômica de todos os segmentos
de DNA obtidos, fazendo uma fragmentação das seqüências, inserindo os pedaços
em E. coli através de plasmídios eselecinando aquelas bactérias que sofreram
transformação. Através de um “screening” seletivo das bactérias recombinantes, é
possível achar bactérias que realizam processos metabólicos de interesse que são
45



realizados de forma mais eficiente ou que antes só podiam ser realizados no meio
natural. A figura 19 mostra de forma esquematizada esse processo:


Figura 19- Montagem de uma biblioteca genômica através de DNA do ambiente




      Fonte: Figura montada pelo autor.


      A utilização de microrganismos é bem controlada, e existem regras como a
GILSP (Good Industrial Large-Scale Practice) que estipula que o organismo que irá
receber a seqüência gênica exógena deverá ser não patogênico, não deve conter
elementos patogênicos como vírus, fagos e plasmídios, deve ter uma longa história
de uso seguro na indústria ou ter limitações ambientais de crescimento (ou seja, ele
necessita de uma condição ambiental controlada industrialmente para crescer, caso
contrário ele morrerá). No caso de ser um organismo patogênico ele deve ser
manuseado com muita cautela e deve ser conhecido um tratamento eficiente para a
doença caso haja algum escape (VOGEL & TODARO, 1997).
      O local de manipulação desses microrganismos também deve ser observado
de acordo com as características por ele apresentadas. Equipamentos, técnicas de
operação e local adequado para manipulação de determinados microrganismos
estão presentes em “Guideline for Industrial Application of Recombinant DNA
Technology”, que foi publicado pelo ministério de troca internacional e indústria do
Japão (VOGEL & TODARO, 1997).
46



7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BADOTTI, F.; DÁRIO, M. G.; ALVES-JR, S. L.; CORDIOLI, M. L. A.; MILETTI, L. C.;
ARAUJO, P. S.; STAMBUK, B. U. Switching the mode of sucrose utilization by
Saccharomyces cerevisiae. Microbial Cell Factories 2008, 7:4.


BEESCH, S. C. Acetone-Butanol Fermentation of Sugars. Engineering and
Process development, Industrial and Engineering Chemistry, Vol. 44, No 7. p.1677-
1682, 1952.


CROCOMO, O. J. Transformações metabólicas em microrganismos. Instituto de
Bioquímica da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1967. 165 páginas.


DORAN, P. M. Bioprocess Engineering Principles. London: Academic Press
Limited, 1995, 439 p.


JONES, D. T.; WOODS, D. R. Acetone-Butanol Fermentation Revisited. American
Society for Microbiology, Microbiological Reviews, Vol. 50, No. 4, p. 484-524, Dec.
1986.


KRISTIANSEN, B.; RATLEDGE, C. Basic Biotechnology. Second Edition.
Cambrige University Press, 2001, 568 p.


LAGUNAS, R.; DOMINGUEZ, C.; BUSTURIA, A.; SÁEZ, M. J. Mechanisms of
Appearance of the Pasteur Effect in Saccharomyces cerevisiae: Inactivation of
sugar transport systems. Journal of Bacteriology, vol. 152, No. 1, p. 19-25, Oct.
1982.


LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger - Princípios de
Bioquímica. Editora Sarvier, 4ª edição, São Paulo, 2006. 1202 páginas.


LIEBIG, M. J. Sur les phénomènes de la fermentation et de la putréfaction, et
sur les causes qui les provoquent. Annales de Chimie et de Physique. 2e Serie
LXXI, p.147-195. 1839
47




LIMA, L. F. O.; NASCIMENTO, B. M.; HABU, S.; PARADA, J. L.; SOCCOL, C. R.
Produção de Biomassa e de Exopolissacarídeos por Agaricus brasiliensis em
Fermentação Submersa. Anais do XVI Sinaferm, 2007.


LIMA, U. A.; AQUARONE, E.; BORZANI, W.; SCHMIDELL, W. Biotecnologia
Industrial – Volume 3 – Processos Fermentativos e Enzimáticos. Editora Edgard
Blücher, São Paulo, 2001.


MOO-YOUNG, M.; CHISTI, Y. Biochemical Engineering in Biotechnology. Pure &
Applied Chemistry, Vol. 66, No. 1, p. 117-136, 1994.


NAJAFPOUR, G. D. Biochemical Engineering and Biotechnology. First Edition,
Elsevier, 2007. 421 p.


PANDEY, A. SOCCOL, C. R.; LARROCHE, C. Current developments in solid-
state fermentation. Asiatech Publishers, Inc. New Delhi, 2007.


PASTEUR, L. Mémoire sur la fermentation appelée lactique (Extrat par l’auteur)
- 1857. Molecular Medicine, Volume 1, Number 6, September 1995.


PRESCOTT, S. C.; DUNN, C. G. Industrial Microbiology. Third edition, McGraw-
Hill Book Company, Inc. Nova Iorque, 1959, 943 páginas.


PURICH, D. L.; ALLISON, R. D. Handbook of Biochemical Kinetics. Academic
Press, London, 2000, 788 p.


RHEM, H.-J.; REED, G. Biotechnology: a comprehensive treatise in 8 vol. -
Volume 1: Microbial Fundaments. Weinheim; Deerfield Beach, Florida; Basel:
Verlag Chemie, 1981.


SCHEPER, T.; HU, W. Advances in Biochemical Engineering/Biotechnology -
Cell culture engineering. Volume 101, Springer, 2006.
48



SCHWARTZ, M. Life and works of Luis Pasteur. Journal of Applied Microbiology,
91, 597-601, 2001.


SILVA, C. A.; NERY, I. A.; BOBEDA, C. R. R.; TEIXEIRA, R. C., OLIVEIRA, M. A. C.
L. Estudo da Produção de Cultura Mista de Spirulina platensis e Spirulina
maxima em Batelada. Anais do XVI Sinaferm, 2007.


STANBURY, P. F.; WHITAKER, A.; HALL, S. J. Principles of Fermentation
Technology. Second Edition. Butterworth Heinemann, Elsevier Science, 1995, 357
p.


TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, A. L. Microbiologia. 8ª edição, 1ª
reimpressão, Artmed, Porto Alegre, 2006.


VOGEL, H. C.; TODARO, C. L. Fermentation and Biochemical Engineering
Handbook: Principles, Process Design, and Equipment. Second edition, Noyes
Publications, 1997. 799p.


WALKER, J. M.; GINGOLD, E. B. Biología Molecular y Biotecnología. 2ª edición.
Editorial ACRIBIA, S.A. Zaragoza, 1997, 475 p.


ZANETTE, A. L. Balanço material e energético de uma biorrefinaria integrada.
Anais do XVI SINAFERM, 2007.
49



8- ANEXO




   BIOCHEMICAL ENGINNERING IN BIOTECHNOLOGY (Technical Report)


                   M. MOO-YOUNG and Y. CHISTI

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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROCESSOS FERMENTATIVOS Trabalho acadêmico apresentado à disciplina Processos Fermentativos Industriais da Universidade Federal do Paraná ministrada. CURITIBA 2008
  • 2. 1 SUMÁRIO 1- USO DE MICRORGANISMOS NA FERMENTAÇÃO.................................... 2 2- DEFINIÇÃO DE FERMENTAÇÃO.................................................................. 8 3- METABOLISMO MICROBIOLÓGICO............................................................ 10 3.1- FERMENTAÇÃO ETANÓLICA................................................................. 15 3.2- FERMENTAÇÃO DE ÁCIDO LÁCTICO................................................... 19 3.3- FERMENTAÇÃO DO GLICEROL............................................................ 20 3.4- FERMENTAÇÃO ACETONA-BUTANÓLICA........................................... 22 3.5- FERMENTAÇÃO BUTANOL-ISOPROPANÓLICA................................... 24 3.6- FERMENTAÇÃO ACETONA-ETANÓLICA.............................................. 25 3.7- FERMENTAÇÃO DO ÁCIDO PROPIÔNICO........................................... 26 3.8- FERMENTAÇÃO DO ÁCIDO CÍTRICO................................................... 27 4- CULTIVO DE CÉLULAS MICROBIANAS...................................................... 28 4.1- BACTÉRIAS............................................................................................. 28 4.2- FUNGOS.................................................................................................. 29 4.3- LEVEDURAS............................................................................................ 29 5- CULTIVO DE CÉLULAS ANIMAIS E VEGETAIS.......................................... 31 6- APLICAÇÕES DA FERMENTAÇÃO.............................................................. 35 6.1- PRODUÇÃO DE ALIMENTOS................................................................. 36 6.2- PRODUÇÃO DE ANTIBIÓTICOS............................................................ 39 6.3- PRODUÇÃO DE ENZIMAS...................................................................... 40 6.4- PRODUÇÃO DE ANTICORPOS.............................................................. 40 6.5- PRODUÇÃO DE INOCULANTES............................................................ 41 6.6- TRATAMENTO AMBIENTAL................................................................... 42 6.7- PRODUTOS RECOMBINANTES............................................................. 43 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 46 8- ANEXO............................................................................................................ 49
  • 3. 2 1- USO DE MICRORGANISMOS NA FERMENTAÇÃO A utilização de microrganismos na biotransformação da matéria vem desde a antiguidade. Através da observação do ambiente ao seu redor, o ser humano passou a perceber que certos processos se desenvolviam devido à presença de microrganismos no meio. A descoberta de microrganismos que podiam modificar um determinado substrato possivelmente foi feita ao acaso, como ao perceber que a carne seca resistia a deteriorização; ou que ao deixar o leite azedar era possível retirar o líquido do coalho para fabricar queijo; ou ainda que ao secar os grão antes da estocagem era possível evitar o aparecimento de fungos. (TORTORA et al., 2006) A partir dessas observações, foi possível estudar mais a fundo e utilizar esses microrganismos de forma a atender da melhor forma as nossas necessidades. Os babilônios e os sumérios usavam leveduras na produção de álcool antes de 6000 AC (NAJAFPOUR, 2007). Já os egípcios, em 2000 AC, utilizavam leveduras para a produção de pães. Na Ásia, antes do nascimento de Cristo, utilizava-se Penicillium rouquefortii na produção de queijos. A 2500 anos atrás, na China, o fungo Aspergillus oryzae era usado no processo de fabricação de koji, que foi levado também para o Japão no século VII (PANDEY et al., 2007). Na metade do século XIX, Luis Pasteur estudou a função de microrganismos na produção de vários produtos como alimentos fermentados, vinho, cervejas, queijo, leite, iogurte, combustíveis e química fina. Ele identificou muitos processos microbiológicos e descobriu um dos principais princípios da fermentação: a utilização de substratos por microrganismos para a produção de metabólitos primários e secundários de interesse ao homem (NAJAFPOUR, 2007). Através do isolamento de alguns microrganismos e cultivo em meio adequado, Pasteur também conseguiu desvendar a base do que hoje recebe o nome de biotecnologia. Para se conseguir um bom rendimento muitas vezes é necessária presença de um cultivo puro com somente um microrganismo isolado e evitar o aparecimento de microrganismos indesejados, que podem alterar o processo. Além disso, uma vez terminado o processo, é necessário que os microrganismos presentes também sejam “desativados”. Para isso, Pasteur desenvolveu em 1864 o processo de pasteurização, que consiste em aquecer um determinado meio a uma temperatura de 60ºC por 30 minutos (SCHWARTZ, 2001).
  • 4. 3 Durante a Primeira Guerra Mundial começou-se a utilizar microrganismos para a produção de substâncias como etanol, acetona e ácido cítrico. Foi durante esse período que foi feito pela primeira vez um cultivo microbiológico asséptico em larga escala, quando Chaim Weizmann usou um fermentador líquido para a produção de acetona por Clostridium acetobutylicum (STANBURY et al.,1995). A partir da Segunda Guerra Mundial, os microrganismos tiveram importância na produção em larga escala de antibióticos. (TORTORA et al., 2006) As usinas de bioprocessos são muito importantes na indústria de alimentos, química fina, e farmacêutica. Apesar de que a produção de produtos como cervejas, vinhos e queijos já vêm acontecendo desde a antiguidade, atualmente a produção é muito mais controlada e eficiente (NAJAFPOUR, 2007). Por exemplo, primeiramente, os pães eram fermentados com leveduras presentes no meio ambiente. Mais tarde passou-se a manter uma cultura própria de leveduras, guardando uma parte da produção anterior para servir de inóculo para a próxima. Atualmente pode-se comprar o fermento produzido industrialmente de forma padronizada. (TORTORA et al., 2006) Processos como a produção de pães, vinhos e queijos, que antes eram realizados em casa ou pequenas propriedades, passaram a ser realizados em grades indústrias, evidenciando a grande vantagem que a microbiologia pode dar à indústria (PRESCOTT et al., 1959). Exemplificando, pode-se citar a ação de leveduras em extratos de frutas ou grãos, fazendo fermentação alcoólica, onde os carboidratos são reduzidos a piruvato e então ocorre a reoxidação da forma reduzida da nicotinamida adenina dinucleotídeo (NADH) e a produção de moléculas de etanol. Outro tipo de fermentação inclui o cultivo de bactérias acéticas na produção de vinagre. Bactérias lácteas são responsáveis pela preservação do leite, produção de iogurte e queijo. Num cultivo pode-se visar também à produção de biomassa, onde as células estão em meio nutritivo que favorece a multiplicação, como na produção de fermento (NAJAFPOUR, 2007). A tabela 1 mostra alguns produtos de fermentação.
  • 5. 4 Tabela 1- Produtos de origem fermentativa Produto da Microrganismo Aplicação fermentação Etanol (não utilizado Saccharomyces cerevisiae Química fina em bebidas) Ácido 2-cetoglucônico Pseudomonas sp. Intermediário para o ácido D- araboascórbico Pectinase, protease Aspergillus niger, A. aureus Agente clarificante em sucos de frutas Amilase bacteriana Bacillus subtilis Amido modificado, tratamento de papel Protease bacteriana B. subtillis Tratamento de fibras, removedor manchas Dextrano Leuconostoc mesenteroides Estabilizante alimentício Sorbose Gluconobacter suboxydans Manufatura de ácido ascórbico Cobalamina (vitamina Streptomyces olivaceus Suplemento alimentar B12) Ácido Glutâmico Brevibacterium sp. Aditivo alimentar Ácido glucônico Aspergillus niger Produtos farmacêuticos Ácido Lático Rhizopus oryzae Alimentos e produtos farmacêuticos Ácido cítrico Aspergillus niger, A. wentii Alimentos, medicamentos Acetona-butanol Clostridium acetobutylicum Solventes, intermediários químicos Insulina, interferon E. coli recombinante Terapia humana Início de cultura Levedura de pão, Produção de pães, queijo e Lactobacillus bulgaricus iogurte Proteína microbiana Candida utilis Suplemento alimentar Penicilina Penicillium chrysogenum Antibióticos Cefalosporina Cephalosparium Antibióticos ecremonium Eritromicina Streptomyces erythreus Antibióticos Fonte: NAJAFPOUR, 2007 Os microrganismos utilizam uma fonte orgânica e produzem metabólitos primários como o etanol, que são formados durante a fase de crescimento exponencial, ao mesmo tempo em que as novas células são produzidas, e a curva de produção do metabólito segue a curva de crescimento celular quase que paralelo, como mostra o gráfico esquerdo da figura 1. Outros produtos como a penicilina e polissacarídeos são considerados metabólitos secundários, sendo produzidos durante a fase estacionária. A fase de crescimento exponencial anterior a produção de metabólitos secundários é camada de trofofase, e a etapa estacionária em que há produção é chamada de idiofase, como mostra o gráfico da direita da figura 1.
  • 6. 5 Um metabólito secundário pode ser a simples conversão de um metabólito primário ou também pode ser originado de outros compostos, mas pode necessitar uma quantidade suficiente de células ou metabólitos primários acumulados (NAJAFPOUR, 2007; TORTORA et al., 2006). Figura 1- Metabólito primário e secundário. Fonte: TORTORA et al., 2006. Os bioprocessos vêm substituindo uma série de processos que antigamente só podiam ser feitos quimicamente. Eles apresentam algumas vantagens como a possibilidade de utilizar matéria-prima barata e disponível no mercado (como por exemplo, o bagaço de cana), o processo pode ser desenvolvido sob pressões e temperaturas normais (evitando sistemas pressurizados caros e perigosos), e não há a produção em quantidade de resíduos tóxicos (e quando há a produção, ainda existe a possibilidade de utilizar um outro processo microbiológico no tratamento do resíduo). (TORTORA et al., 2006) Os processos desenvolvidos no cultivo de microrganismos se desenvolvem geralmente em equipamentos denominados biorreatores. Eles consistem em um sistema aberto ou fechado, onde há a manipulação dos parâmetros físicos (pH, concentração de reagentes, transferência de calor e massa, aeração) de forma a regular a catálise, promovendo um melhor rendimento em biomassa e/ou produto, além de tentar minimizar os custos de produção (PURICH & ALLISON, 2000). Eles
  • 7. 6 geralmente são tanques cilíndricos que apresentam ou não sistema de agitação, mas também podem ser um simples erlenmeyer. Novos modelos de biorreatores aparecem constantemente, de forma a melhorar a qualidade do processo dependendo do tipo de célula a ser cultivada (bactérias, fungos, tecidos animais ou vegetais, células ou enzimas imobilizadas, etc.) (DORAN, 1995). Ao se utilizar um biorreator, procura-se atender, se não todos, a maioria dos requisitos listados abaixo:  O recipiente onde ocorrerá o cultivo deverá permanecer em condições assépticas durante um grande período de tempo.  Devem ser promovidas condições adequadas de agitação e areação para satisfazer as condições metabólicas dos microrganismos, mas sem haver danificação mecânica das células dos mesmos devido ao processo.  O consumo de energia deve ser minimizado.  Deve haver um controle de temperatura e pH.  Deve haver uma forma de retirar amostras do fermentado para o controle do processo.  Não deve haver perdas excessivas devido à evaporação.  Não deve haver a necessidade de uma grande quantidade de trabalhadores para a sua operação, limpeza e manutenção do tanque de fermentação, minimizando assim os custos com relação à mão-de-obra.  Materiais mais baratos, mas que ainda propiciam um rendimento desejado, devem ser utilizados. (STANBURY et al.,1995) O cultivo dos microrganismos pode ocorrer em diferentes tamanhos, como em escala de bancada, piloto ou de planta industrial. Biorreatores de escala laboratorial variam de 2 à 100 litros, mas durante operações em larga escala na indústria eles podem chegar a 100000 litros. Inicialmente utiliza-se biorreatores menores para se investigar qual é o melhor microrganismo a ser utilizado, qual meio de cultivo proporcionará um melhor crescimento e quais condições operacionais são mais favoráveis para a formação do produto desejado. São feitos estudos sobre parâmetros como: transferência de massa, agitação, taxa de cisalhamento, formação de espuma, energia necessária, taxa de diluição, forma e tamanho do biorreator, pH, temperatura, entre outros. Isso
  • 8. 7 deve ser feito em pequena escala porque não seria vantajoso fazer esses testes em larga escala, correndo o risco de perder grandes quantidades de material e ter um prejuízo econômico (NAJAFPOUR, 2007). O processo de mudança de escala está exemplificado esquematicamente na figura 2. Após a fase de testes em frascos de 250mL a 1L e análise dos fatores de produção, passa-se para um biorreator de bancada com capacidade de 1 a 2 litros, o qual é normalmente equipado com sensores de ajuste de temperatura, pH e aeração. Isso propicia uma análise mais cuidadosa de alguns parâmetros e um controle maior sobre o processo do que o cultivo em erlenmeyer. Nessa etapa também deve-se observar se o processo se desenvolve melhor em batelada, semi- batelada ou contínuo. Próximo passo é o cultivo em um biorreator em escala piloto de 100 a 1000 litros. A cada processo de aumento de escala deve-se observar se há alguma alteração na resposta celular com relação ao rendimento do processo. Se tudo estiver correto, a etapa final seria um biorreator de escala industrial (DORAN, 1995). Figura 2- Processo de aumento de escala Fonte: Adaptada de DORAN, 1995 Mas ao mudar de escala laboratorial para escala industrial não ocorre somente a mudança do tamanho em proporção. Devem-se preservar alguns parâmetros de forma a continuar tendo um bom processo. Esses parâmetros seriam:  Número de Reynolds ou fatores de momento semelhantes.  Consumo de energia constante por unidade de volume de líquido.  Velocidade da pá de agitação constante.  Mistura do líquido e tempos de recirculação semelhantes.  Coeficiente volumétrico de transferência de massa constante.
  • 9. 8  Manter todos os fatores ambientais constantes para o microrganismo. (NAJAFPOUR, 2007) O cultivo de microrganismos pode ser feito utilizando substratos de baixo valor comercial, muitas vezes podendo ser resíduos de outros processos. A produção de álcool e solventes orgânicos muitas vezes utiliza resíduos como fonte de carbono ou nitrogênio, sendo o bagaço de cana, por exemplo, bem importante na indústria alcooleira. Isso é bastante viável no cultivo de microrganismos, mas já no cultivo de células animais isso já não é possível devido ás várias exigências da célula, o que geralmente encarece o processo de cultivo de células animais (NAJAFPOUR, 2007). O papel de um engenheiro de bioprocessos é entender o mecanismo de produção e selecionar o melhor biocatlisador (microrganismo ou enzima) para tal. Após, deve-se estudar as melhores condições ambientais que propiciam um melhor crescimento e uma melhor produção. Também cabe ao biotecnologista otimizar o processo procurando recursos mais econômicos, mas que ainda produzam um rendimento satisfatório (NAJAFPOUR, 2007). O artigo em anexo mostra a função de um engenheiro de bioprocessos e os conceitos básicos que um profissional dessa área deve ter para o desenvolvimento de um bom trabalho. 2- DEFINIÇÃO DE FERMENTAÇÃO Antes de se elucidar o papel dos microrganismos na fermentação, ela era definida de forma diferente do conceito aceito atualmente. Por exemplo, em 1839, Liebig definiu o termo fermentação como sendo “... a putrefação de substâncias vegetais que se realiza sem que haja a liberação de nenhum odor, ou pelo menos nenhum desagradável.”. Já Luis Pasteur tentou associar o processo de fermentação com o desenvolvimento de organismos: “... fermentação, longe de ser o fenômeno sem vida, é um processo vivo... todo fenômeno de fermentação é correlacionado com o desenvolvimento de células micodérmicas e plantas, as quais eu preparei e estudei em estado puro e isolado.” (SCHWARTZ, 2001) Atualmente, o termo “fermentação” pode apresentar diferentes significados dependendo o setor do conhecimento que o utiliza. O sentido geral do termo
  • 10. 9 significa qualquer processo de cultivo microbiológico que ocorre com ou sem ar. O significado bioquímico da fermentação é o processo metabólico onde o substrato orgânico atua como doador e como receptor final de elétrons, ocorrendo em condições anaeróbias, mas sem a utilização de uma cadeia respiratória, como acontece na respiração anaeróbia. (TORTORA et al., 2006) O termo “fermentador” também pode gerar alguma discordância devido a esses conceitos. Ele primeiramente foi utilizado para descrever os tanques onde ocorria o cultivo. Como a maioria dos cultivos realizados nesses tanques era de forma aeróbica, propôs-se um novo nome para não contradizer a definição bioquímica de fermentação. O termo “biorreator” então começou a ser usado para descrever o local onde eram realizados cultivos de microrganismos em condições aeróbicas e anaeróbicas (NAJAFPOUR, 2007). A fermentação ocorre como uma forma de reoxidar as coenzimas reduzidas NADH e NADPH que são formados durante a glicólise, de forma a manter o balanço de redução-oxidação dentro da célula. Os elétrons são transferidos das coenzimas para um composto orgânico, fornecendo NAD + e NADP+ suficientes para a continuação da glicólise. (TORTORA et al., 2006) Durante uma fermentação, um mesmo composto orgânico pode sofrer uma oxidação ou outras a redução dependendo do microrganismo. Por exemplo, no caso do ácido pirúvico, ele pode sofrer uma oxidação formando ácido acético ou pode sofrer uma redução e formar ácido láctico. (CROCOMO, 1967) O tipo de fermentação realizada vai depender da espécie de microrganismo utilizada, do substrato que está sendo fornecido e dos tipos de enzimas que ele possui e estão ativas. A análise do tipo de produto final formado na fermentação também pode ser utilizada como forma de identificação de microrganismos, realizando testes bioquímicos. A figura 3 mostra o tipo de fermentação que segue alguns microrganismos.
  • 11. 10 Figura 3 – Produtos finais de fermentação dependendo do microrganismo Fonte: TORTORA et al., 2006 3- METABOLISMO MICROBIOLÓGICO Antes do processo metabólico que inclui a fermentação, há as reações de quebra do substrato, que geralmente é a glucose. Essa via recebe o nome de “glicólise” ou via de Embden-Meyerhof, onde a glucose é catabolisada a piruvato e a energia livre liberada é estocada na forma de ATP e NADH.
  • 12. 11 Figura 4- Glicólise Fonte: LEHNINGER et al., 2006
  • 13. 12 Como mostra a Figura 4, a glicólise pode ser dividida em duas etapas, a fase preparatória e a fase de pagamento. Na fase preparatória, inicialmente ocorre a fosforilação da glucose em C-6 através da enzima hexoquinase. Para isso deve haver o gasto de uma molécula de ATP. Há então uma conversão entre glucose-6- fosfato em frutose-6-fosfato através da fosfoexose isomerase. Após, a molécula sofre outra fosforilação, mas agora em C-1, formando frutose-1,6-bifosfato. Essa molécula já está pronta para sofrer uma quebra em duas moléculas de três carbonos, uma diidroxiacetona fosfato e um gliceraldeído-3-fosfato. É nesse passo que ocorre a lise da molécula, e por isso ela se chama glicólise. A diidroxiacetona é isomerizada em outro gliceraldeído-3-fosfato. Aqui termina a etapa de preparação, onde a molécula de glucose é preparada com o gasto de 2 ATP, para que depois essa energia armazenada possa gerar lucros energéticos. A fase de pagamento inicia-se com duas moléculas de gliceraldeído-3-fosfato, as quais são oxidadas e fosforiladas por fósforo inorgânico, formando 1,3- bifosfoglicerato. A partir desse ponto acontecerá a liberação de energia, onde o “pagamento” é feito na forma de produção de ATP através da fosforilação à nível de substrato, diferentemente da fosforilação ligada a respiração que ocorre na cadeia respiratória. Um dos fósforos do 1,3-bifosfoglicerato será transferido para uma molécula de ADP através da ação da enzima fosfoglicerato quinase, formando 3- fosfoglicerato. A enzima fosfoglicerato mutase irá então fazer uma transferência reversível do grupo fosfato do C-3 para o C-2, sendo que a transferência ocorre em duas etapas. Primeiramente um grupo fosfato presente no sítio ativo da enzima se liga ao C-2 do substrato, e depois o grupo fosfato em C-3 é transferido para a enzima. Depois desse processo tem-se 2-fosfoglicerato. Essa molécula irá então sofrer uma desidratação através da enolase, formando fosfoenolpiruvato (PEP). O PEP é uma molécula de alto potencial de transferência do grupo fosforila, e isso ocorrerá com a ação da enzima piruvato quinase. Esta enzima requer a presença de íons K+ e Mg2+ ou Mn2+, e nesse ponto acontece mais uma fosforilação a nível de substrato, com a formação de mais uma molécula de ATP por PEP. O resultado final é a formação de piruvato. Considerando inicialmente uma molécula de glucose e desconsiderando desvios para outras vias, a cada molécula de glucose metabolizada, tem-se no final duas moléculas de piruvato, dois ATP e dois NADH formados.
  • 14. 13 Essa é a via pela qual a maioria dos organismos realiza a quebra da glucose. No entanto, alguns microrganismos procariotos utilizam a via de Entner-Doudoroff, pois não apresentam fosfofrutoquinase-1 e não pode converter frutose-6-fosfato em frutose-1,6-bifosfato. No entanto, a via das pentoses-fosfato (ou ciclo da hexose monofosfato) pode ser feita ou não por esses organismos (RATLEDGE & KRISTIANSEN, 2001). Inicialmente, a glucose-6-fosfato é então transformada em ácido 6- fosfoglucônico por uma enzima desidrogenase. Esse ácido é então transformado em piruvato através de duas reações: -HOH 6-P-gluconato  2-ceto-3-desoxi-6-P-gluconato (CDGP) CDGP  piruvato + gliceraldeído-3-fosfato (CROCOMO, 1967) A gliceraldeído-3-fosfato irá seguir o resto da via glicolítica normal até chegar a piruvato. A Figura 5 mostra a via Entner-Doudoroff. Essa via é geralmente realizada por organismos como Pseudomonas, Azotobacter, Rhizobium, Enterococcus faecalis e Zymomonas mobilis.(TORTORA et al., 2006) Figura 5: Via de Entner-Doudoroff H+ + NADP+ NADPH ATP ADP Glucose Glucose-6-P Ácido 6-fosfoglucônico H2O Etapas 6 a 10 da glicólise Ácido Pirúvico GA-3P CDGP Fonte: Adaptada de TORTORA et al., 2006
  • 15. 14 Depois de ocorrida a transformação de glucose até piruvato, em condições aeróbias ocorrerá o ciclo de Krebs, como mostra a Figura 6. Mas como se pode observar, esse ciclo de reações gera muitos NADH os quais seguem para a cadeia respiratória e há a transferência de elétrons, onde o aceptor final é o oxigênio. No entanto, em condições de anaerobiose, a célula não conseguirá manter o balanço adequado de NAD+/NADH, pois não poderá utilizar essa cadeia. Figura 6: Ciclo de Krebs (ou ciclo do ácido cítrico) Fonte: LEHNINGER et al., 2006
  • 16. 15 Portanto, em condições anaeróbias evita-se o ciclo do ácido cítrico (exceto nos casos de produção de metabólitos para biossíntese), e utiliza-se as vias fermentativas, as quais, apesar de não gerar tantas moléculas de ATP como o ciclo de ácido cítrico, conseguem reoxidar NADH suficientemente para manter o funcionamento celular. A Figura 7 mostra algumas das possíveis vias de fermentação. Figura 7- Vias Fermentativas * Reações em que há reoxidação de NADH Fonte: RATLEDGE & KRISTIANSEN, 2001 A seguir serão discutidas em maiores detalhes algumas dessas fermentações. 3.1- FERMENTAÇÃO ETANÓLICA É possível obter etanol de três formas: por via destilatória, por via sintética (a partir de hidrocarbonetos não saturados e de gases de petróleo e da hulha) e por via fermentativa. A forma fermentativa é uma das mais vantajosas aqui no Brasil, pois há uma grande disponibilidade de matéria-prima (LIMA et al., 2001).
  • 17. 16 O processo reacional do etanol já começou a ser descrito em 1815 por Gay Lussac através da equação: C6H12O6  2 CH3CH2OH + 2 CO2 ∆G=-56000 cal/mol (CROCOMO, 1967) O francês Luis Pasteur provou que a natureza dessa reação é microbiana, e se realiza através de uma fermentação em condições anaeróbias (LIMA et al., 2001). Ele observou que a presença de O2 no meio inibia a formação de etanol, diminuindo o consumo de açúcar pela levedura e aumentando o crescimento celular. Essa propriedade foi chamada de Efeito Pasteur. (CROCOCOMO, 1967) No entanto, o efeito Pasteur é somente observado em culturas quimioestáticas quando a concentração de substrato limita o crescimento ou quando o cultivo é feito na ausência de fontes de nitrogênio (LAGUNAS et al., 1982). Lagunas e colaboradores fizeram experimentos aeróbicos e observaram que S. cerevisiae cultivada na presença de fonte de nitrogênio usava somente 3 a 20% do açúcar metabolizado para respiração, o restante ia para a via fermentativa do etanol. Já leveduras cultivadas em meios sem nitrogênio utilizavam 25 a 100% dos açúcares metabolizados para respiração. No entanto, isso não significava que ouve um aumento da respiração, mas sim uma perda da função fermentativa devido à inativação dos sistemas de transporte de açúcares (LAGUNAS et al., 1982). Com o avanço dos estudos, foram elucidados os mecanismos reacionais intermediários da produção de etanol a partir de glucose. Até a formação de piruvato a reação segue exatamente igual a glicólise. O ácido pirúvico formado é descarboxilado a acetaldeído e dióxido de carbono. Essa etapa da reação é um processo irreversível que exige a presença da enzima carboxilase, da coenzima difosfato de tiamina e de íons magnésio. O acetaldeído é então reduzido a etanol através da ação da enzima desidrogenase alcoólica, ocorrendo também nessa etapa a reoxidação de um NADH (Figura 8). O conjunto de reações que resultam na formação de álcool etílico e CO 2 à partir de um carboidrato recebe o nome de via de Embden-Meyer-Parnas. Essa via metabólica foi demonstrada in vitro pela primeira vez em 1950 por Koshland e Westheimer, utilizando glucose com carbono marcado radiativamente em C1, e após o seu consumo por leveduras, verificou-se que havia carbono radioativo na molécula de etanol, mais especificamente nodo grupo metil (CROCOMO, 1967).
  • 18. 17 Figura 8 – Transformação de piruvato a etanol Fonte: LEHNINGER et al., 2006 Nesse tipo de fermentação há um rendimento de 2 ATP por molécula de glucose consumida, pois são gastos dois ATP na reação da hexoquinase, mas são formados quatro ATP (na reação de formação de ácido 3-fosfoglicérico e na formação de piruvato). As leveduras podem consumir além da glucose outros açúcares, como manose e galactose. A manose sofre uma fosforilação através da hexoquinase, formando manose-6-fosfato, que por sua vez é transformada em frutose-6-fosfato pela isomerase de manosefosfato, possibilitando assim a sua entrada na glicólise. Já a galactose sofre uma transfosforilação, formando galactose-1-fosfato (CROCOMO, 1967). Também podem ser utilizados açúcares exógenos como maltose e sacarose, e endógenos como glicogênio e trealose, como mostra a figura 9. Durante o cultivo, pode ocorrer também a formação de produtos secundários através de outras vias metabólicas realizadas para a o crescimento celular e produção de biomassa. Estima-se que 95% dos açúcares metabolizados tem como destino a produção de etanol e CO2. Os outros 5% são desviados para a formação de glicerol, ácidos orgânicos (como ácido succínico, acético e pirúvico), álcoois superiores, acetaldeído, acetoína, butilenoglicol, entre outros (LIMA et al., 2001). A fermentação alcoólica é realizada normalmente por leveduras como Saccharomyces cerevisiae, S. ellipsoideus, S. carlbergensis e S. warum, e bactérias como Zymomonas mobilis, sendo que as leveduras são os microrganismos mais utilizados na indústria.
  • 19. 18 Figura 9- Utilização de outros carboidratos na fermentação por Saccharomyces Fonte: LIMA et al., 2001
  • 20. 19 3.2- FERMENTAÇÃO DE ÁCIDO LÁCTICO O ácido lático foi isolado pela primeira vez a partir do leite azedo por Scheele. Pasteur também realizou estudos com relação à fermentação láctica. Ele observou que assim como é sempre encontrada levedura na produção de cerveja, onde o fermento promove a conversão de açúcares em álcool e dióxido de carbono, deve haver um fermento que produza ácido láctico - a levedura láctica - convertendo açúcares em lactato. Ele também verificou que nessa fermentação o produto principal é o ácido láctico, mas também é possível encontrar no caldo fermentado outros produtos como ácido butírico, álcool e manitol, sendo que suas proporções podem variar (PASTEUR, 1857). Evitar essas outras vias e direcionar os compostos de carbono somente para a produção de lactato é uma forma de otimizar a sua produção. Figura 10- L-lactato a partir de piruvato Fonte: LEHNINGER et al., 2006 O ácido lático pode ser produzido através da fermentação de bactérias como os bactérias homofermentativos (Lactobacillus delbrueckii, L. bulgaricus, L. pentosus, L. casei, L. leichmannii, Streptococcus lactis), de fungos como leveduras e ficomicetos, e também de algumas algas. Ele também pode ser produzido de forma sintética, através da hidrólise da lactonitrila (LIMA et al., 2001). O ácido lático pode apresentar duas formas esterioquímicas, devido ao carbono quiral presente. Durante a fermentação são formadas as duas formas, formando uma mistura racêmica (PRESCOTT et al, 1959). A fermentação ocorre em temperaturas relativamente altas e dependerá do microrganismo utilizado. Lactobacillus delbrueckii cresce bem à temperatura de 45ºC; L. bulgaricus, pode ser incubado em 45-50ºC; já L. pentosus, L. casei, e Streptococcus lactis podem ser cultivados em 30ºC (PRESCOTT et al, 1959).
  • 21. 20 O ácido lático é bastante utilizado na indústria de alimentos como acidulante e conservante de refrigerantes, geléias, xaropes e sucos de frutas (LIMA et al., 2001). 3.3- FERMENTAÇÃO DO GLICEROL O glicerol é usado amplamente como solvente, adoçante, constituinte de loções, anti-sépticos, adesivos, tintas, agente anti-congelante. Ele também é utilizado na preparação de meios nutritivos biológicos e na produção de nitroglicerina, borracha sintética e massa de modelar (PRESCOTT et al., 1959). Ao estudar vinhos e cervejas, Luis Pasteur observou que leveduras regularmente formavam glicerol. Um pouco antes da Primeira Guerra Mundial, Neuberg, ao tentar elucidar a fermentação alcoólica através da suplementação do meio de cultivo com sulfito de sódio, acabou descobrindo que dessa forma havia um incremento na produção de glicerol por leveduras (PRESCOTT et al., 1959). Normalmente, produz-se cerca de 3% de glicerol durante a fermentação alcoólica, mas, ao se alterar o pH através da adição de sais alcalinos (carbonato de amônio, bicarbonato de sódio, acetato de sódio ou fosfato dissódico), é possível obter de 9 a 16% de glicerol (CROCOMO, 1967). Segundo os trabalhos de Neuberg, a produção de glicerol pode ser feita de quatro maneiras: fermentação alcoólica normal, presença de sulfito, soluções alcalinas ou soluções neutras. No primeiro caso (Figura 11), durante a fermentação alcoólica, pode ser desviado um pouco de gliceraldeído 3-fosfato, transformado em diidroxiacetona fosfato. Esta, por sua vez, sofre a ação de desidrogenase de glicerofosfato, reduzindo um NADH e formando glicerol 3-fosfato. A enzima fosfatase retira o fosfato desse composto e forma o glicerol. (CROCOCOMO, 1967) Figura 11- Produção de glicerol durante a fermentação alcoólica Fonte: Adaptado de CROCOMO, 1967.
  • 22. 21 Já na presença de sulfito, haverá acúmulo maior de glicerol. Isso ocorre devido a fixação do acetaldeído pelo sulfito de sódio, através da reação: CH3-CHO + Na2SO3 + H2O  CH3-CHO-HSO3Na + NaOH (PRESCOTT et al, 1959) Normalmente o acetaldeído é transformado em etanol, mas como ele está sendo fixado e a redução a etanol não acontece, uma outra molécula faz o papel de aceptor de hidrogênio do NADH. Isso faz com que a via de formação de glicerol seja favorecida (PRESCOTT et al, 1959). A fermentação utilizando sulfito foi utilizada pelos alemães durante a Primeira Guerra Mundial. Outros agentes que impeçam a transformação de aldeído a álcool também podem ser utilizados, como carvão, hidrazidas e oxalato de fenilhidrazina, desde que não haja impedimento de outras reações in vivo (CROCOMO, 1967). Quando a fermentação ocorre em meio alcalino, há uma alteração no curso normal da fermentação, gerando a produção de etanol, ácido acético, glicerol e CO 2. Nessas condições, o acetaldeído não é reduzido a etanol, mas sim sofre a ação da mutase aldeídica, formando ácido acético e etanol (Figura 12). Como não ocorreu a reoxidação do NADH, a formação do glicerol a partir de diidroxiacetona fosfato é favorecida (CROCOMO, 1967). Figura 12- Ação da mutase aldeídica Fonte: CROCOMO, 1967. A última forma de fermentação seria em meio neutro. Nesse caso não haverá produção de etanol nem CO2, sendo acumulados glicerol e ácido pirúvico. Essa reação ainda não está muito bem elucidada, mas é representada como: C6H12O6  CH3-CO-COOH + CH2OH-CH2OH-CH2OH (CROCOMO, 1967)
  • 23. 22 3.4- FERMENTAÇÃO ACETONA-BUTANÓLICA Pasteur foi o primeiro pesquisador a mostrar que o álcool butílico era um produto direto da fermentação, através dos seus experimentos da fermentação butírica do ácido lático e do lactato de cálcio em 1861: “M. Pasteur... croit pouvoir affirmer que l’alcool butylique est um produit ordinaire de la fermentation butyrique.” (PRESCOTT et al., 1959). No entanto, foi somente em 1905 que Schardinger notificou a produção de acetona através da fermentação (JONES & WOODS, 1986). A partir de 1910, o químico Chaim Weizmann trabalhou junto com outros pesquisadores no processo de fabricação de borracha sintética. Para isso seriam necessários compostos como butanol e isoamil, que seriam produzidos através de microrganismos. Em 1910 eles acharam um microrganismo capaz de produzir butanol quando cultivado em batatas. Entre 1912 e 1914 Weizmann isolou várias culturas, as quais ele chamou de BY (e que atualmente são classificadas como bactérias da espécie Clostridium acetobutylicum). Durante a Primeira Guerra Mundial a Inglaterra precisou de grandes quantidades de acetona, e foi o microrganismo isolado por Weizmann que propiciou um aumento na produção. Como durante esse período não houve necessidade de butanol, ele foi estocado em grandes quantidade, sendo ele posteriormente a guerra muito utilizado como solvente na indústria automobilística (JONES & WOODS, 1986). A produção desses solventes em escala industrial era feita antigamente na forma de batelada, usando fermentadores sem agitação mecânica e com capacidade de 50000 a 200000 galões. Os fermentadores eram enchidos de 90 a 95% de sua capacidade e o restante era preenchido com uma camada gasosa de dióxido de carbono estéril. O dióxido de carbono também era borbulhado antes e depois da inoculação para facilitar a mistura (JONES & WOODS, 1986). As bactérias freqüentemente utilizadas para a fermentação acetona-butanol são do gênero Clostridium. Esses microrganismos são esporulados, apresentam uma forma de bastão e são sacarolíticos (fermentam açúcares). Devido a esses fatores o isolamento dessas bactérias é relativamente fácil. Elas são geralmente encontradas em associação com plantas como batatas, raízes de legumes e cereais. (JONES & WOODS, 1986). Cada empresa que produz esses solventes pode possuir uma cepa de bactérias diferente. A maioria dessas culturas é utilizada em processos já
  • 24. 23 patentiados (BEESCH, 1952). As diferenças que as cepas de Clostridium podem apresentar podem ser com relação à proporção de solventes que produzem, como, por exemplo: C. beijeirinckii (C. butylicum) produz solventes na mesma proporção que C. acetobutylicum, mas ao invés de acetona produz isopropanol; C. aurantibutyricum produz tanto acetona quanto isopropanol junto com butanol; já C. tetanomorphum produz quantidades equimolares de butanol e etanol (JONES & WOODS, 1986). A temperatura ótima para a fermentação aceto-butanólica é em torno de 30,6ºC, podendo variar de 28,9 até 33,3ºC tomando as devidas precauções de controle do processo. Os microrganismos são estritamente anaeróbios e tem um maior rendimento em condições anaeróbias. O pH pode variar de 5 a 7, dependendo da cepa. Usualmente utiliza-se um pH inicial de 5,5-6,5 e final de 5,2-6,2 (BEESCH, 1952). A maioria das bactérias desse gênero necessita de nitrogênio de proteínas degradadas no meio nutritivo para otimizar o processo fermentativo. Essa fonte de nitrogênio inclui produtos intermediários de degradação de proteínas, como polipeptídeos e aminoácidos, e também produtos finais de degradação como amônia e seus sais. Os sais de amônia e a própria amônia dão resultados satisfatórios, mas é preferível utilizar a amônia acompanhada de outros compostos nitrogenados mais complexos. Elas também precisam de uma fonte de fosfato, caso as fontes de carbono utilizadas (como melaço ou bagaço) não contenham quantidades mínimas necessárias (BEESCH, 1952). A via metabólica de produção de acetona e butanol está presente na figura 13. Durante a fase inicial de crescimento (também chamada de fase acidogênica), a bactéria produz hidrogênio, dióxido de carbono, acetato e butirato, resultando na diminuição do pH do meio. Quando o cultivo entra em fase estacionária (chamada também de fase solventogênica), o metabolismo passa a produzir solventes como acetona e butanol, e também ocorre a reassimilação dos ácidos produzidos na primeira fase, ocasionando a elevação do pH (JONES & WOODS, 1986).
  • 25. 24 Figura 13- Produção de Acetona-Butanol Fonte: RHEM & REED, 1981. 3.5- FERMENTAÇÃO BUTANOL-ISOPROPANÓLICA A formação de butanol e isopropanol como produtos principais ocorre através do microrganismo Clostridium butyricum, que é uma bactéria anaeróbia formadora de esporos, com temperatura ótima de 37ºC, flagelada e Gram-positiva em culturas jovens (podendo ser Gram-negativa em culturas mais velhas). Durante a Segunda Guerra Mundial utilizava-se Clostridium toanum para esse processo. Em 1926, Morikawa também isolou um microrganismo que produzia isopropanol e butanol denominado Bacillus technicus (PRESCOTT et al, 1959). Os produtos finais da fermentação incluem butanol, isopropanol, dióxido de carbono, hidrogênio, pequenas quantidades de ácido acético e butírico, e possivelmente traços de acetona e ácido fórmico (PRESCOTT et al, 1959). O rendimento da fermentação é de aproximadamente 53-65% de butanol, 19-44% de isopropanol, 1-24% de acetona e 3% de etanol (LIMA et al., 2001). O caminho metabólico seguido até a formação de isopropanol e butanol está exemplificado na figura 14.
  • 26. 25 A fermentação é otimizada quando o suprimento de nitrogênio é feito através de proteínas parcialmente hidrolisadas (como no caso anterior) e a adição de malte, extrato de leveduras, peptonas, água de maceração de milho ou glúten. A adição de acetona ou de outros aceptores de hidrogênio aumentam o teor de isopropanol no meio fermentado (LIMA et al, 2001). Certas substâncias podem inibir a formação de alguns produtos. A adição de bicarbonato de sódio durante a fermentação pode inibir a formação de solventes, principalmente o isopropanol, formando mais sais de ácidos acético, lático, pirúvico e fórmico (LIMA et al, 2001) Figura 14- Fermentação Butanol-isopropanólica Fonte: Adaptada de RHEM & REED, 1981. 3.6- FERMENTAÇÃO ACETONA-ETANÓLICA A produção de acetona e etanol em conjunto acontece por microrganismos como Bacillus macerans e Bacillus acetoethylicus. No final da fermentação pode-se ter como produtos a acetona, o etanol, o ácido acético e o ácido fórmico (LIMA et al., 2001). Schardinger em 1905 foi o primeiro a descobrir a acetona como produto de uma fermentação bacteriana. O microrganismo por ele isolado era o Bacillus
  • 27. 26 macerans. Essa é uma bactéria móvel, esporulada, Gram-negativa e anaeróbia facultativa (PRESCOTT et al, 1959). A temperatura ideal para a fermentação varia entre 40 e 43ºC e a fermentação dura aproximadamente 6 dias. O pH do meio influencia o produto formado. Em pH elevado há a formação de mais ácidos voláteis e menos etanol, enquanto em pH 5,8-6,0 há estímulo da produção de solventes (LIMA et al., 2001). No entanto, o pH ótimo de crescimento para B. aceoethylicus é 8-9. (PRESCOTT et al, 1959). Ao meio de cultura é geralmente adicionado carbonato de cálcio para neutralizar os ácidos formados. 3.7- FERMENTAÇÃO DO ÁCIDO PROPIÔNICO Bactérias produtoras de ácido propiônico, em geral, podem ser caracterizadas como Gram-positivas, catalase positivas, não-esporuladas, imóveis, e aeróbicas facultativas. Alguns exemplos são: Propionibacterium freudenreichii, P. jensenii, P. peterssonii, P. shermanii, P. pentosaceum, P. rubrum, P. technicum, P. thoenii, P. raffinosaceum, P. arabinosum e P. zeae. Elas podem ser isoladas de fontes como leite, queijo, solo, silagem, e excreta de gado (PRESCOTT et al., 1959). Micrococcus lactilycus (Veillonella gazogenes) e Clostridium propionicum também fazem esse tipo de fermentação (CROCOMO, 1967). As bactérias que produzem ácido propiônico podem fermentar um grande número de carboidratos, polióis e ácidos orgânicos, como pentose, 2-cetogluconato, lactato, piruvato, glucose, galactose, lactose, maltose, malato, sorbitol, manitol, glicerol, entre outros. Abaixo há a estequiometria de algumas dessas fermentações a partir de diferentes substratos: 3 ½ glucose  2 propionato + acetato + CO2 + HOH 3 lactato  2 propionato + acetato + CO2 + HOH 3 piruvato + HOH  propionato + 2 acetato +2 CO2 glicerol  propionato + HOH (CROCOMO, 1967) A figura 15 mostra a formação de propionato a partir de glicerol ou glucose. Já a figura 16 mostra em mais detalhe a formação de propionato e acetato a partir de ácido lático.
  • 28. 27 Figura 15- Produção de Propionato Figura 16- Produção de Propionato Fonte: CROCOMO, 1967. Fonte: RHEM & REED, 1981. Além da produção de propionato, podem aparecer como subprodutos de fermentação o acetato e o dióxido de carbono. 3.8- FERMENTAÇÃO DO ÁCIDO CÍTRICO O ácido cítrico é normalmente encontrado em frutas cítricas, abacaxis, pêras, figos e pêssegos. Wehmer em 1893 demonstrou a ocorrência de ácido cítrico como metabólito microbiano de Citromyces pfefferianus e C. glaber em meio contendo sacarose e carbonato de cálcio (PRESCOTT et al, 1959). Em 1922, Mollinard descobriu culturas de Aspergillus niger que produziam ácido cítrico em condições de deficiência de fosfato. Até 1953, o ácido cítrico era obtido a partir de citrato de cálcio. Com a descoberta de microrganismos capazes de produzi-lo, passou-se a utilizar a via fermentativa. Há três processos fermentativos que podem ser utilizados: o processo Koji (em substrato sólido utilizando uma cepa específica de Aspergillus niger), a
  • 29. 28 fermentação em superfície (o micélio de A. niger cresce sobre um meio de cultura estático, sendo o produto recolhido do meio) e a fermentação submersa (meio de cultura líquido sob agitação) (LIMA et al., 2001). As espécies Aspergillus niger, A. clavatus, Penicillium luteum, P. citrinum, Paecilomyces divacatum, Mucor piriformis e Ustilina vulagris são usadas em laboratório ou comercialmente para a produção desse ácido, mas a importância maior cabe ao A. niger. O pH influencia fortemente a produção de ácido cítrico. A partir do controle do pH com sais inorgânicos é possível variar a proporção de ácido cítrico e oxálico formados. Um pH mais baixo favorece a formação de citrato e suprime a formação oxalato, além de minimizar as chances de contaminação (PRESCOTT et al., 1959). 4- CULTIVO DE CÉLULAS MICROBIANAS 4.1- BACTÉRIAS Bactérias são organismos unicelulares e sem compartimentalização interna por um sistema de membranas, ou seja, são procarióticos. Elas são envolvidas por uma parede celular peptidioglicana, sendo que elas podem apresentar várias formas, como bacilos, cocos ou espirilos. O crescimento bacteriano ocorre com o aumento do número de células, e não com o aumento do volume de uma célula. Elas se reproduzem normalmente por divisão binária, mas algumas podem fazer brotamento. Outras podem ainda se fragmentar e a partir de cada fragmento se inicia uma nova célula (TORTORA et al., 2006). Uma cultura bacteriana apresenta inicialmente uma fase lag, quando as bactérias ainda não se multiplicam e sofrem somente pequenas variações para se adaptar ao novo meio de cultivo. Elas se encontram em um estado de latência. Após determinado tempo, podendo levar de horas a dias, a cultura passa para a fase log, ou crescimento exponencial. Nesse período os mecanismos de reprodução encontram-se amplamente ativos e são bastante sensíveis a mudanças ambientais. Depois de um longo período de crescimento ocorre a fase estacionária, e a taxa de divisão se torna equivalente a taxa de mortalidade. Isso pode ocorrer devido ao término de nutrientes, ao acúmulo de produtos de degradação ou a mudanças no pH
  • 30. 29 danosas à célula. Em determinado momento, a população microbiana entra em fase de morte celular (ou declínio), quando o número de mortes excede a produção de novas células (TORTORA et al., 2006). A maioria das bactérias cresce em pH perto da neutralidade (6,5-7,5), sendo que poucas delas (as acidófilas) conseguem crescer em pH 4. Elas podem ser cultivadas tanto em meio sólido quanto em meio líquido (TORTORA et al., 2006). 4.2- FUNGOS Os fungos pertencem ao reino Fungi e são organismos eucarióticos, quimio- heterotróficos, multicelulares (exceto leveduras), e com parede celular formada de glicanas, mananas e quitina. Os fungos multicelulares são classificados com relação a sua morfologia da colônia e dos esporos reprodutivos (TORTORA et al. 2006). No seu ciclo de vida pode acontecer a reprodução assexuada, através da fragmentação de suas hifas ou pela formação de esporos assexuais, e também a reprodução sexuada, através de esporos sexuais. Os fungos filamentosos suportam ambientes que poderiam ser hostis a bactérias. Eles conseguem suportar uma variação de pH maior que as bactérias, mas os valores ótimos se encontram geralmente em pH 5-6. Eles são mais resistentes à pressão osmótica, sendo que alguns podem crescer em concentrações relativamente altas de sais e açúcares. Substratos com atividade de água muito baixa também podem favorecer o crescimento de fungos. A maioria deles possui metabolismo aeróbico. Eles também conseguem metabolizar carboidratos mais complexos que as bactérias já não têm capacidade, como, por exemplo, degradar a lignina (TORTORA et al., 2006). 4.3- LEVEDURAS Leveduras são organismos eucarióticos, unicelulares, não filamentosos, e de forma oval que pertencem ao reino dos fungos. Esses organismos estariam entre as bactérias e os macro-fungos (PRESCOTT et al., 1959). Assim como as bactérias, a identificação de leveduras pode ser feita através de testes bioquímicos. (TORTORA et al., 2006)
  • 31. 30 Elas podem apresentam como forma de propagação vegetativa o brotamento (gemulação), sendo que algumas podem sofrer fissão binária, como Schizosaccharonyces (PRESCOTT et al., 1959). Em algumas espécies, como Candida albicans, o broto pode não se separar da célula mãe, formando o que pode ser chamado de pseudo-hifa. (TORTORA et al., 2006) As células de levedura são capazes de realizar metabolismo anaeróbico facultativo, podendo utilizar tanto o oxigênio quanto outros compostos orgânicos como aceptor final de elétrons. Elas vêm sendo bastante estudadas por serem organismos eucarióticos relativamente fáceis de manipular, sendo então consideradas como modelo metabólico, molecular e genético para os eucariotos assim como a bactéria Escherichia coli é considerada como modelo para os procariotos (BADOTTI et al., 2008). Leveduras como Saccharomyces cerevisiae são utilizadas em vários processos, como a produção de fermento de pão, extrato de levedura, cerveja, aditivos alimentícios (vitaminas, proteínas, enzimas), proteínas heterólogas (vacinas e outros componentes terapêuticos), e produtos de interesse farmacêutico através da manipulação de novas vias metabólicas e do aumento da produção com a engenharia genética, uma vez que o genoma de leveduras já foi inteiramente seqüenciado (BADOTTI et al., 2008). Para se cultivar leveduras pode-se utilizar vários meios de cultivo. Em meio sólido, as células de levedura formam colônias semelhantes às de bactérias (TORTORA et al., 2006). A maioria deles consiste em uma formulação que dispõe dos nutrientes necessários para o crescimento de leveduras e ingredientes que inibem o desenvolvimento de bactérias e bolores. Um dos meios bastante indicados para o isolamento de leveduras é o YM (yeast malt extract medium). Sendo organismo saprófitos, as leveduras exigem a presença de uma fonte de carbono elaborada para conseguir energia. Também pode ser necessária a adição de vitaminas (tiamina e ácido pantotênico), de nitrogênio, fósforo, enxofre, potássio, magnésio, cálcio, zinco, manganês, cobre, ferro, cobalto, iodo e outros elementos traço (LIMA et al., 2001). As leveduras da espécie Saccharomyces cerevisiae utilizam nitrogênio na forma amoniacal (NH4+), amídica (uréia) ou amínica (na forma de aminoácidos), não
  • 32. 31 conseguindo metabolizar nitrato ou proteínas do meio. O fósforo é absorvido na forma de H2PO4-, e o enxofre na forma de sulfato, sulfito ou tiosulfato. Elas são microrganismos mesófilos, com temperatura ótima em aproximadamente 26 a 35ºC, e com pH ótimo por volta de 4 a 5. A manutenção dessas condições evita a contaminação do cultivo por outros microrganismos (LIMA et al., 2001). 5- CULTIVO DE CÉLULAS ANIMAIS E VEGETAIS Apesar da utilização de proteínas recombinantes em bactérias como Escherichia coli, algumas modificações estruturais pós-traducionais só podem ser feitas eficientemente em outros tipos de célula, como de mamíferos e insetos. O cultivo de células de mamífero tem grande importância na produção de estruturas específicas como anticorpos, que atualmente apresenta uma demanda bastante elevada. (SCHEPER et al., 2006) Também é de grande importância na produção de vacinas virais, citocinas, bioinseticidas (como o baculovírus), enzimas (asparaginase, colagenase, citocromo P450, fatores sangüíneos VII, VIII e IX, pepsina, renina, tripsina, uroquinase), hormônios de cadeia longa (luteinizante, coriônico, folículo estimulante) e de células para testes toxológicos, bioensaios ou fabricação de tecidos artificiais (LIMA et al., 2001). A Tabela 2 mostra o desenvolvimento de processos que utilizam células animais. Tabela 2- Histórico de cultivo de células animais Ano Evento 1949 Crescimento de vírus em cultura de células. (Enders e col.) 1954 Vacina inativada Salk contra poliomielite (com células de rim de macaco) 1955 Vacina atenuada Sabin contra poliomielite (com células de rim de macaco) 1962 Estabelecimento de uma linhagem de células diplóides humanas – WI-38 (Hayflick) 1963 Vacina contra sarampo (com células de embrião de galinha) 1964 Vacina contra raiva (com células WI-38) 1967 Vacina contra caxumba (com células WI-38) 1969 Vacina contra rubéola (com células WI-38) 1970- a)Vacinas humanas experimentais (varicela, citomegalovírus, e outros); 1974 b)Várias vacinas veterinárias.
  • 33. 32 1975 Produção de anticorpos monoclonais. (Kohler e Milstein) 1979 Primeira linhagem de células recombinantes 1980 Ampliação da escala de produção para 8000L (vacina contra a febre aftosa e interferon) 1981 Primeiro kit de diagnóstico com anticorpo monoclonal 1982 Primeiro produto farmacêutico resultado da tecnologia do DNA recombinante (insulina) 1986 a)Licença para a produção de γ-Interferon linfoblastóide; b)Testes clínicos com vários produtos resultantes da tecnologia do DNA recombinante; c)Vacinas contra poliomielite e raiva produzidas com células VERO. 1987 Licença para produção de OKT3 – anticorpo envolvido na imunologia de transplantes 1988 Licença para a produção de tPA recombinante (ativador de plasminogênio) 1989 Testes clínicos de eritropoetina 1990- Testes clínicos de diversos produtos oriundos da tecnologia de recombinação do 1995 DNA (antígeno da hepatite B, fatores sangüíneos VIII e IX, anticorpos monoclonais, anticorpos envolvidos na imunologia de transplantes, diversas citocinas, e outros). Fonte: LIMA et al., 2001 Os processos de manipulação, esterilização, quantificação, controle de qualidade, ampliação de escala e formação do produto são semelhantes aos de bactérias, fungos e leveduras. No entanto, alguns cuidados especiais devem ser tomados, pois células animais apresentam um crescimento mais lento, são mais frágeis (não suportando grandes taxas de agitação), apresentam necessidades nutricionais mais complexas, e, em muitos casos, necessitam de um suporte de adesão para o crescimento. Devido a essas peculiaridades, muitas vezes o cultivo de células animais pode ser muito mais caro (LIMA et al., 2001). Originalmente, as células animais não conseguem crescer livres no meio de cultivo assim como os microrganismos. Por isso são feitos cultivos primários, nos quais células vindas diretamente de tecidos animais são cultivadas em meio e dissociadas cuidadosamente em células individualizadas. Isso é realizado através da fragmentação do tecido em pedaços suficientemente pequenos. Quando o crescimento in vitro acontece e as células formam uma monocamada aderida ao suporte, ocorre o descolamento das mesmas com o auxílio de enzimas e as células são diluídas em meio de cultivo fresco para originar novas culturas (LIMA et al., 2001). Os meios de cultivo utilizados para o cultivo de células animais eram originalmente oriundos em fluidos biológicos. Devido à falta de uniformidade,
  • 34. 33 começou-se a formulação de meios semi-sintéticos. Cada tipo de linhagem celular requer um tipo diferente de meio, mas a maioria deles apresenta característica como:  Glucose e glutamina como fontes de carbono para o catabolismo.  Sais que garantem a isotonicidade do meio, evitando a desregulação osmótica.  Sistemas de tampão bicarbonato/CO 2, succinato de sódio/ácido succínico, e de tampões orgânicos do tipo HERPES (ácido 4-(2 hidroxietil)-1-piperazina-N’-2 etanossulfônico) e do tipo TRIS (2-amino- 2-hidroximetil-1,3 propanodiol).  Suplementação com soro sangüíneo (complexo de proteínas para a nutrição, adesão e crescimento celular, para a proteção biológica – antioxidantes e antitoxinas – e para proteção mecânica durante a agitação e aeração). Como os soros utilizados são geralmente de origem bovina ou eqüina, ele também pode ser fonte de contaminação por parasitas, bactérias, fungos ou vírus. Para evitar isso, tenta-se substituí-lo por outras composições, o que pode encarecer o processo.  Antibióticos como penicilina (100UI/mL), estreptomicina (50 μg/mL) e anfotericina B (25 μg/mL).  Água desmineralizada, destilada e isenta de pirogênio. (LIMA et al., 2001) A maioria das células animais se desenvolve bem entre 35 e 37ºC, podendo tolerar temperaturas mais baixas, mas morrem em temperaturas mais altas. O pH ótimo se encontra entre 7,2 e 7,4, sendo que algumas linhagem podem suportar extremos como 6,8 e 7,8 (LIMA et al., 2001). Já as cultivo de células vegetais tem como objetivo a produção de metabólitos secundários em processos em biorreatores ou a produção de mudas padronizadas através das técnicas de micropropagação. Através da manipulação genética também pode-se fazer um melhoramento de plantas, protoplastos (células sem parede) podem ser fusionadas de forma a produzir novos híbridos, e células transgênicas podem ser desenvolvidas a plantas inteiras (WALKER & GINGOLD, 1997). A figura 17 mostra algumas das utilidades do cultivo de células vegetais.
  • 35. 34 Com plantas, podem ser realizados cultivos com plantas inteiras, parte delas, tecidos, ou células únicas. O cultivo é feito em meios estéreis, contendo sais, vitaminas, fontes de carbono e reguladores de crescimento vegetal. Quando há o cultivo de tecidos organizados, permitindo posteriormente a obtenção de plantas inteiras, é possível obter um cultivo sem alteração do material genético. Já um cultivo de células desorganizadas ou que passaram por um processo de manipulação, é possível regenerar uma planta inteira modificada através da biotecnologia (WALKER & GINGOLD, 1997). Figura 17- Utilidades do cultivo vegetal Fonte: VOGEL & TODARO, 1997. Através do cultivo in vitro de plantas é possível obter condições ambientais específicas, as quais são livres de enfermidades e pragas, e o cultivo pode ser realizado continuamente. A produção pode ocorrer em fermentadores, onde o crescimento celular ocorre até a fase estacionária, e depois ocorre extração do produto; ou ainda em biorreatores de leito fixo, onde as células são imobilizadas na forma de agregados celulares em matrizes inertes como géis, espumas ou fibras ocas, e o produto é coletado de forma contínua ou semicontínua (WALKER & GINGOLD, 1997).
  • 36. 35 Células vegetais, tecidos e cultura de órgãos podem ser cultivadas tanto em meio sólido quanto em meio líquido, sendo que a cultura em meio líquido facilita o aumento de escala de laboratório para a indústria. Recentemente, biorreatores de cultivo vegetal em escala piloto no Japão tinham capacidade de 20 000L (VOGEL & TODARO, 1997). Os metabólitos secundários que podem ser produzidos por plantas podem ser divididos em fármacos, essências, perfumes, pigmentos e agentes químicos de utilidade na agricultura. No entanto, a maioria desses compostos é produzida em baixas concentrações, devido, entre outros fatores, a instabilidade de expressão gênica durante o cultivo (WALKER & GINGOLD, 1997). 6- APLICAÇÕES DA FERMENTAÇÃO Os produtos biotecnológicos estão presentes em vários setores da economia, como na área química, farmacêutica, energética, alimentícia e agricultural. Os tipos de serviços que uma indústria de bioprocessos pode oferecer podem ser classificados em:  Produção de biomassa: onde o objetivo é a produção em grande quantidade de biomassa de bactérias, leveduras ou fungos. A biomassa de levedura pode ser utilizada no processo de panificação; já a biomassa da microalga Spirulina pode ser utilizada no enriquecimento de alimentos.  Produção de metabólitos celulares: visa à produção em larga escala de produtos de metabolismo celular. Eles podem ser intra ou extracelulares.  Produção de proteínas recombinantes: através da engenharia genética é possível manipular genes e introduzi-los em microrganismos de forma a chegar a produtos que antes eram produzidos em outras células ou ainda melhorar a especificidade de uma enzima.  Produção de enzimas: são os produtos celulares mais usados na indústria. Elas podem ser extraídas de animais ou plantas, mas a produção por microrganismos pode fornecer uma maior rendimento.  Biotransformação de compostos: há a transformação de substâncias do meio em outras. Esse recurso é bastante útil principalmente na área ambiental,
  • 37. 36 onde é possível fazer com que microrganismos retirem substâncias tóxicas do meio e convertam a produtos de toxicidade menor. 6.1- PRODUÇÃO DE ALIMENTOS Os microrganismos são amplamente utilizados na produção de alimentos, tanto para consumo humano como animal. Aqui serão discutidos alguns exemplos de produtos de fermentação na indústria alimentícia. Antigamente, a produção de pães era feita guardando-se um pouco das sobras da última formada para servir como inóculo para a próxima. Atualmente, encontra-se levedura (fermento) comercialmente, sendo selecionadas as cepas mais produtivas para tal atividade. A produção de biomassa de levedura para a panificação é feita em meio líquido contendo melaço ou licor de milho, com pH 4-5 e aeração. Ao final do cultivo as células são recuperadas por centrifugação e filtração. É adicionado um pouco de óleo vegetal para agir como plastificante, e a biomassa é moldada na forma de blocos e embalada para comercialização (NAJAFPOUR, 2007). Na produção de queijos é necessária a formação do coalho, que é causada pela ação da renina sobre a caseína do leite. O tipo de bactéria lática inoculada também pode fornecer um sabor e odor característico. Queijos como o Cheddar e o suíço são maturados através do crescimento anaeróbico de bactérias láticas em seu interior. Já queijos como o Limburger são maturados por bactérias e outros microrganismos contaminantes que crescem na superfície. Queijos como o blue e o Roquefort são maturados pelos fungos Penicillium inoculados no queijo. Derivados do leite como a manteiga, o iogurte, o kefir e o kumiss também são produzidos através da fermentação (TORTORA et al., 2006). Pode ocorrer também de o próprio microrganismo ser o alimento. No entanto um pré-requisito básico para utilização de biomassa de microrganismos como alimento e medicamento é a aprovação de sua segurança toxicológica. Alguns microrganismos podem produzir toxinas que podem fazer mal ao organismo de quem a ingerir (SILVA et al., 2007). Cogumelos são um dos tipos de organismos utilizados na alimentação. Seu uso é bastante difundido em vários países, principalmente asiáticos, onde eles são consumidos na forma de chá, extratos ou em conjunto com outras ervas. Seu uso se
  • 38. 37 dá principalmente devido a propriedades antibacterianas, antifúngicas, antivirais, imunomoduladoras, antialergênicas, antiinflamatórias, antiaterogênico e antitumoral, hipolipidemica e hipoglicemica. (LIMA et al., 2007) Existem aproximadamente duas mil espécies de cogumelos que podem ser consumidas por humanos, mas somente 25 delas são as normalmente usadas na alimentação. Daqueles que apresentam atividade biológica comprovada então o Ganoderma lucidum (Reishi), Lentinus edodes (Shiitake), Agaricus brasiliensis (Cogumelo do Sol), Inonotus obliquus (Chagas), G. frondosa (Maitake). Compostos que apresentam atividade biológica estão presentes na biomassa desses fungos ou então são excretados. Esses compostos incluem argenina, esteróides, lipídeos, lectina e polissacarídeos, sendo esse último importante na ação antitumoral e imunomoduladora. (LIMA et al., 2007) Outra biomassa de poder nutritivo e terapêutico é das cianobactérias como a Spirulina sp. podem produzir importantes compostos bioativos como metabólitos secundários que podem ser constituintes de complementos alimentares ou ainda a biomassa ser utilizada como um novo alimento. Compostos por elas produzidos podem apresentar ação anticancerígena, antioxidante, antibacteriana, antiviral e antifúngica (SILVA et al., 2007). As tabelas 3 e 4 mostram alguns dos principais alimentos e bebidas que utilizam a fermentação. Tabela 3- Alimentos fermentados Alimentos e Produtos Ingredientes Crus Microrganismos Fermentadores Laticínios Queijos (maturados) Coalho de leite Streptococcus spp., Leuconostoc spp. Kefir Leite Streptococcus lactis, Lactobacillus bulgaricus, Candida spp. Kumis Leite de água L. bulgaricus, L. leichmannii, Candida spp. Iogurte Leite, sólidos do leite S. thermophilus, L. bulgaricus Produtos de Carne e Peixe Presuntos curados Presunto de porco Aspergillus, Penicillium spp. Salsichas Porco, carne de gado Pedicoccus cerevisiae Molho de peixe Pequenos peixes Bacillus spp halofílicos
  • 39. 38 Produtos de Plantas Cacau (chocolate) Fruto do cacau Candida krusei, Geotrichum spp. Grão de café Fruto do café Erwinia dissolvens, Saccharomyces spp. Kimchi Repolho e outros Bactérias lácticas vegetais Missô Grãos de soja Aspergillus oryzae, Zygosaccharomyces rouxii Azeitonas Azeitonas verdes Leuconostoc mesenteroides, Lactobacillus plantarum Poi Raízes de taioba Bactérias lácticas Repolho azedo Repolho Leuconostoc mesenteroides, Lactobacillus plantarum Molho de soja Grãos de soja A. oryzae, A. soyae, Z. rouxii, Lactobacillus delbrueckii Pães Bolos, pães e outros Farinha de trigo Saccharomyces cerevisiae Pão azedo de São Farinha de trigo S. exiguus, Lactobacillus Francisco sanfrancisco Fonte: TORTORA et al., 2006 Tabela 4- Bebidas fermentadas Bebida Levedura Função da levedura Cerveja e vinho Cerveja, cerveja lager Saccharomyces Converter açúcar em álcool e CO 2. A cerevisiae levedura cresce no fundo do recipiente. Cerveja, ale S. cerevisiae Converter açúcar em álcool e CO 2. A levedura cresce no topo do recipiente. Saquê S. cerevisiae Converter açúcar em álcool. Vinho, natural S. cerevisiae Converter açúcar da uva em álcool. Vinho, espumante S. cerevisiae Na fermentação secundária produz CO 2. A (champanhe) levedura assenta rapidamente. Bebidas destiladas Rum Levedura selvagem Converte açúcar em álcool. Conhaque S. cerevisiae Converte açúcar em álcool. Uísque S. cerevisiae Converte açúcar em álcool. Fonte: TORTORA et al., 2006
  • 40. 39 6.2- PRODUÇÃO DE ANTIBIÓTICOS Antibióticos são produtos secundários do metabolismo que, em contato com outros microrganismos, podem inibir o crescimento do mesmo. No ramo dos antibióticos, um dos principais é a penicilina, onde há a produção de praticamente 33 milhões de toneladas métricas anuais movimentando praticamente US$ 400 milhões. A venda mundial dos três principais grupos de antibióticos (penicilina, cefalosporina, tetraciclina e eritromicina) gera US$ 4,2 bilhões por ano (NAJAFPOUR, 2007). No início dos anos 40, Alexander Fleming notou a produção de penicilina pelo fungo Penicillium notatum, a qual inviabilizou a cultura de Staphylococcus aureus. Atualmente, a produção desse antibiótico é feita por uma outra espécie, Penicillium chrysogenum, pois assim há a formação de uma maior quantidade de produto (aproximadamente 1000 vezes mais). Já antibióticos como a estreptomicina são produzidos por Actinomicetos. O cultivo submerso também favoreceu a produção de antibióticos em larga escala (NAJAFPOUR, 2007). Para a produção de penicilina, podem ser utilizados resíduos industriais como melaço. As etapas de produção consistem basicamente em: 1. Preparação do inóculo. 2. Preparação e esterilização do meio. 3. Inoculação do meio no fermentador. 4. Aeração forçada com ar estéril durante a incubação. 5. Após a fermentação há a remoção do micélio formado. 6. Extração e purificação da penicilina. A penicilina é produzida a partir da L-cisteína e L-valina. A produção se dá de forma não ribossomal, por meio de um dipeptídeo composto de L-α-aminoadípico (L- α-AAA) e L-cisteína ou um produto de degradação da cistationina. Após, ela se conecta a L-valina através de uma epimerização. O produto da ciclização do tripeptídeo é a isopenicilina N. A benzilpenicilina é produzida no intercâmbio de L- α- AAA com ácido fenilacético ativado. (LIMA et al., 2001) Dos antibióticos de origem microbiana, somente 123 são produzidos por fermentação, o resto é produzido de forma sintética ou semi-sintética. As bactérias
  • 41. 40 produzem um número de 950 antibióticos, já os actinomicetos pruduzem 4600 antibióticos, e os fungos 1600 (LIMA et al., 2001). 6.3- PRODUÇÃO DE ENZIMAS As enzimas são amplamente utilizadas na indústria. Como exemplo pode-se citar o uso de amilases para a produção de xaropes do amido de milho, na produção de papéis e na produção de glicose de amidos. No entanto, pode-se utilizar o microrganismo inteiro para o processo ou somente a enzima. Percebendo isso, indústrias resolveram se especializar somente na produção de enzimas (TORTORA et al, 2006). Vários fungos sintetizam e excretam grandes quantidades de enzimas no meio de cultivo. Culturas como a de Aspergillus, Penicillium, Mucor e Rhizopus são bastante utilizadas na indústria (NAJAFPOUR, 2007). A produção de enzimas em larga escala se dá principalmente através da fermentação submersa, embora em países orientais chega-se a utilizar fermentação semi-sólida (LIMA et al., 2001). Elas podem ser separadas do meio de cultivo após a fermentação através de solventes como etanol ou adição de sais inorgânicos como sulfato de amônio (NAJAFPOUR, 2007). 6.4- PRODUÇÃO DE ANTICORPOS Anticorpos são proteínas da família das imunoglobulinas, que são sintetizadas normalmente pelo corpo de animais de forma a responder a moléculas estranhas. É necessário haver uma grande produção de anticorpos, pois sua demanda é bastante elevada. E para isso, as plantas de produção têm aumentado em tamanho e quantidade nas últimas décadas. Também nessa época houve o desenvolvimento de anticorpos recombinantes que são produzidos in vitro em grande quantidade como se fossem produzidos por células in vivo. Isso foi obtido através da procura de células com alto coeficiente de produtividade (SCHEPER & HU, 2006). O cultivo em batelada é raramente utilizado nesse caso, exceto em escala laboratorial. É mais freqüente o uso de batelada alimentada ou cultivo contínuo com retenção de células (SCHEPER & HU, 2006).
  • 42. 41 A produção de anticorpos monoclonais tem sido bastante estudada, principalmente a potencialidade de seu uso como uma droga terapêutica devido a sua especificidade de ligação. Dentro da farmacoterapia, anticorpos monoclonais tem sido utilizados no tratamento de doenças infecciosas (Synagis TM), câncer (HerceptinTM) e doenças autoimunes (RemicadeTM). No entanto, esses tratamentos ainda continuam sendo muito caros devido ao processo de produção. Eles eram prduzidos antigamente em camundongos, mas atualmente é possível produzir alguns tipos em Escherichia coli através de técnicas de DNA recombinante (SCHEPER & HU, 2006). 6.5- PRODUÇÃO DE INOCULANTES A biotecnologia não é utilizada na agricultura somente através de organismos vegetais geneticamente modificados. É também bastante importante a técnica de produção de inoculantes agrícolas. Ela consiste na utilização de microrganismos para melhorar o solo em que ocorrerá o cultivo, propiciando a fertilização natural do solo, reduzindo os danos causados por doenças, estimulando o crescimento vegetal e reduzindo a carga de inseticidas que podem eventualmente permanecer no solo. É bastante utilizado nessa área o fato de que algumas bactérias e fungos podem fazer simbiose com vegetais. Bactérias como Bradyrhizobium e Rhizobium são importantes na simbiose com leguminosas como soja e feijão, auxiliando na fixação do nitrogênio atmosférico. Fungos são utilizados na micorrização das raízes de Pinus sp. e Eucaliptus sp., auxiliando na fixação e crescimento de mudas no ambiente (LIMA et al., 2001). Para a fixação de nitrogênio, são utilizadas culturas isoladas de bactérias (usualmente Rhizobium) que consigam formar nódulos de fixação nas raízes de leguminosas. As características do solo onde ocorrerá o plantio também é importante para selecionar uma cepa que seja adequada para aquelas condições de temperatura e pH. Pode ocorrer também uma competição entre bactérias do inóculo e bactérias naturais do solo, inviabilizando o seu desenvolvimento. Outra característica importante da linhagem a ser usada é que as células microbianas devem suportar as condições de produção industrial, se multiplicando de forma significativa nos tanques cultivo.
  • 43. 42 Sobre os inoculantes a base de fungos, são utilizados microrganismos de ação mutualística, formando associações com raízes de vegetais superiores. Dependendo do tipo de colônias formadas nas raízes, os fungos podem ser classificados como endomicorrizas (quando há penetração na raiz) ou ectomicorrizas. A seleção de microrganismos pode ocorrer de espécies naturais, a fim de se encontrar o organismo que propicia uma melhor associação. A produção em grande quantidade na indústria ocorre através de cultivos em estado sólido ou submerso. O primeiro tipo apresenta problemas quanto ao controle de pH, temperatura e disponibilidade de oxigênio e substrato. Essas condições já podem ser melhor ajustadas durante o cultivo submerso (LIMA et al., 2001). 6.6- TRATAMENTO AMBIENTAL Um processo industrial geralmente apresenta a produção de alguns produtos indesejáveis, e esses resíduos devem ser descartados de uma forma apropriada para não danificar o ambiente. Um modelo de industria ideal seria aquele em que não haveria nenhum resíduo e ocorreria uma integração de todos os processos (o resíduo de um processo poderia servir de substrato pra outro). ZANETE, 2007, utilizou esse princípio para modelar uma biorrefinaria integrada, onde, por exemplo, um resíduo como bagaço de cana poderia ser utilizado tanto na produção de energia quanto no cultivo de microorganismos para a produção de etanol. Com a constante preocupação da população com relação à preservação do meio ambiente, deve-se prestar muita atenção aos resíduos industriais a providenciar tratamento adequado para cada tipo. Para compostos biodegradáveis pode-se fazer uso da biodegradação, onde microrganismos fazem a decomposição de compostos, desde que eles tenham a maquinaria enzimática necessária (LIMA et al., 2001). Outra utilização é o fenômeno de absorção de metais tóxicos do ambiente por microrganismos (por exemplo, algas), pois podem suportar quantidades um pouco mais elevadas. A utilização de biofiltros no tratamento de gases tóxicos também tem sido bastante estudada (MOO- YOUNG & CHISTI, 1994). A diferença do tratamento biológico de efluentes líquidos, sólidos e gasosos com relação aos outros processos discutidos anteriormente é que a escala de
  • 44. 43 operação é geralmente muito maior e os microrganismos são utilizados em culturas mistas, muitas vezes sem esterilização (MOO-YOUNG & CHISTI, 1994). 6.7- PRODUTOS RECOMBINANTES Através da tecnologia do DNA recombinante foi possível aumentar a quantidade de produtos resultantes da fermentação realizada por microrganismos. Por essa técnica consegue-se induzir em um microrganismo a produção de uma proteína heteróloga que originalmente pertencia a outro organismo. Alguns exemplos bem sucedidos são a produção de insulina humana, de hormônio do crescimento e de interferon pela bactéria Escherichia coli (WALKER & GINGOLD, 1997). Um exemplo de processo recombinante está na figura 18, onde os genes de origem externa, como, por exemplo, tecido animal, são inseridos em microrganismos através de técnicas de biologia molecular. Figura 18- Produção de plasmídio recombinante Fonte: Adaptado de DORAN, 1995 Os organismos mais utilizados nesse processo são Escherichia coli, Bacillus subtilis, leveduras, células cultiváveis de eucariotas superiores, como de inseto e de mamíferos. As bactérias da espécie E. coli são amplamente utilizadas devido à facilidade de crescimento e produção. Existem alguns fatores importantes durante uma fermentação que utiliza um gene recombinante, como:  Modificações pós-traducionais.  Modo de secreção do produto.  Minimização da degradação do produto.
  • 45. 44  Proteção da expressão do gene estrangeiro.  Controle do início de sua síntese durante a fermentação. (WALKER & GINGOLD, 1997) Para conseguir a expressão de genes eucarióticos em bactérias, deve-se levar em conta que esses genes possuem seqüências de exons e introns. Portanto deve-se modificar a seqüência de modo a ter somente os códons que devem ser codificados em aminoácidos. Proteínas originárias de organismos eucarióticos podem não ter sua produção exata em microrganismos também devido à presença de algumas modificações pós-traducionais, como glicosilação, o que não é feito por muitas bactérias. Outros fatores a serem observados são a freqüência de códons utilizados pelo organismo (codon usage bias), pois, como o código genético é degenerado (apresentando mais de um códon codificando o mesmo aminoácido), cada organismo utiliza um códon preferencialmente em relação a outro. Para que o gene de interesse seja inserido na bactéria de interesse, é necessária a utilização de vetores genéticos. Existe um vetor mais recomendado dependendo do objetivo desejado. Plasmídios são pequenos segmentos de DNA circulares que apresentam replicação autônoma, dentro dos quais podem ser inseridas seqüências gênicas pequenas (até 10kb). Bacteriófagos já aceitam seqüências maiores (de 20 a 40 kb). Existem também os cosmídios, fosmídios e cromossomos de levedura artificiais (YAC). A inserção de material genético exógeno por meio de vetores de clonagem é muito importante na metagenômica, que é a análise genômica de comunidades microbianas independentes de cultivo. Muitos microrganismos não conseguem se desenvolver bem em meios de cultivo artificiais, mas ao mesmo tempo podem conter seqüências gênicas importantes para o desenvolvimento de alguns processos. Para se fazer uso delas pode-se fazer uma extração do DNA ambiental, ou seja, coleta-se uma porção do meio ambiente e extrai-se o DNA de todos os microrganismos ali presentes. Em seguida contrói-se uma biblioteca genômica de todos os segmentos de DNA obtidos, fazendo uma fragmentação das seqüências, inserindo os pedaços em E. coli através de plasmídios eselecinando aquelas bactérias que sofreram transformação. Através de um “screening” seletivo das bactérias recombinantes, é possível achar bactérias que realizam processos metabólicos de interesse que são
  • 46. 45 realizados de forma mais eficiente ou que antes só podiam ser realizados no meio natural. A figura 19 mostra de forma esquematizada esse processo: Figura 19- Montagem de uma biblioteca genômica através de DNA do ambiente Fonte: Figura montada pelo autor. A utilização de microrganismos é bem controlada, e existem regras como a GILSP (Good Industrial Large-Scale Practice) que estipula que o organismo que irá receber a seqüência gênica exógena deverá ser não patogênico, não deve conter elementos patogênicos como vírus, fagos e plasmídios, deve ter uma longa história de uso seguro na indústria ou ter limitações ambientais de crescimento (ou seja, ele necessita de uma condição ambiental controlada industrialmente para crescer, caso contrário ele morrerá). No caso de ser um organismo patogênico ele deve ser manuseado com muita cautela e deve ser conhecido um tratamento eficiente para a doença caso haja algum escape (VOGEL & TODARO, 1997). O local de manipulação desses microrganismos também deve ser observado de acordo com as características por ele apresentadas. Equipamentos, técnicas de operação e local adequado para manipulação de determinados microrganismos estão presentes em “Guideline for Industrial Application of Recombinant DNA Technology”, que foi publicado pelo ministério de troca internacional e indústria do Japão (VOGEL & TODARO, 1997).
  • 47. 46 7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BADOTTI, F.; DÁRIO, M. G.; ALVES-JR, S. L.; CORDIOLI, M. L. A.; MILETTI, L. C.; ARAUJO, P. S.; STAMBUK, B. U. Switching the mode of sucrose utilization by Saccharomyces cerevisiae. Microbial Cell Factories 2008, 7:4. BEESCH, S. C. Acetone-Butanol Fermentation of Sugars. Engineering and Process development, Industrial and Engineering Chemistry, Vol. 44, No 7. p.1677- 1682, 1952. CROCOMO, O. J. Transformações metabólicas em microrganismos. Instituto de Bioquímica da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1967. 165 páginas. DORAN, P. M. Bioprocess Engineering Principles. London: Academic Press Limited, 1995, 439 p. JONES, D. T.; WOODS, D. R. Acetone-Butanol Fermentation Revisited. American Society for Microbiology, Microbiological Reviews, Vol. 50, No. 4, p. 484-524, Dec. 1986. KRISTIANSEN, B.; RATLEDGE, C. Basic Biotechnology. Second Edition. Cambrige University Press, 2001, 568 p. LAGUNAS, R.; DOMINGUEZ, C.; BUSTURIA, A.; SÁEZ, M. J. Mechanisms of Appearance of the Pasteur Effect in Saccharomyces cerevisiae: Inactivation of sugar transport systems. Journal of Bacteriology, vol. 152, No. 1, p. 19-25, Oct. 1982. LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. Lehninger - Princípios de Bioquímica. Editora Sarvier, 4ª edição, São Paulo, 2006. 1202 páginas. LIEBIG, M. J. Sur les phénomènes de la fermentation et de la putréfaction, et sur les causes qui les provoquent. Annales de Chimie et de Physique. 2e Serie LXXI, p.147-195. 1839
  • 48. 47 LIMA, L. F. O.; NASCIMENTO, B. M.; HABU, S.; PARADA, J. L.; SOCCOL, C. R. Produção de Biomassa e de Exopolissacarídeos por Agaricus brasiliensis em Fermentação Submersa. Anais do XVI Sinaferm, 2007. LIMA, U. A.; AQUARONE, E.; BORZANI, W.; SCHMIDELL, W. Biotecnologia Industrial – Volume 3 – Processos Fermentativos e Enzimáticos. Editora Edgard Blücher, São Paulo, 2001. MOO-YOUNG, M.; CHISTI, Y. Biochemical Engineering in Biotechnology. Pure & Applied Chemistry, Vol. 66, No. 1, p. 117-136, 1994. NAJAFPOUR, G. D. Biochemical Engineering and Biotechnology. First Edition, Elsevier, 2007. 421 p. PANDEY, A. SOCCOL, C. R.; LARROCHE, C. Current developments in solid- state fermentation. Asiatech Publishers, Inc. New Delhi, 2007. PASTEUR, L. Mémoire sur la fermentation appelée lactique (Extrat par l’auteur) - 1857. Molecular Medicine, Volume 1, Number 6, September 1995. PRESCOTT, S. C.; DUNN, C. G. Industrial Microbiology. Third edition, McGraw- Hill Book Company, Inc. Nova Iorque, 1959, 943 páginas. PURICH, D. L.; ALLISON, R. D. Handbook of Biochemical Kinetics. Academic Press, London, 2000, 788 p. RHEM, H.-J.; REED, G. Biotechnology: a comprehensive treatise in 8 vol. - Volume 1: Microbial Fundaments. Weinheim; Deerfield Beach, Florida; Basel: Verlag Chemie, 1981. SCHEPER, T.; HU, W. Advances in Biochemical Engineering/Biotechnology - Cell culture engineering. Volume 101, Springer, 2006.
  • 49. 48 SCHWARTZ, M. Life and works of Luis Pasteur. Journal of Applied Microbiology, 91, 597-601, 2001. SILVA, C. A.; NERY, I. A.; BOBEDA, C. R. R.; TEIXEIRA, R. C., OLIVEIRA, M. A. C. L. Estudo da Produção de Cultura Mista de Spirulina platensis e Spirulina maxima em Batelada. Anais do XVI Sinaferm, 2007. STANBURY, P. F.; WHITAKER, A.; HALL, S. J. Principles of Fermentation Technology. Second Edition. Butterworth Heinemann, Elsevier Science, 1995, 357 p. TORTORA, G. J.; FUNKE, B. R.; CASE, A. L. Microbiologia. 8ª edição, 1ª reimpressão, Artmed, Porto Alegre, 2006. VOGEL, H. C.; TODARO, C. L. Fermentation and Biochemical Engineering Handbook: Principles, Process Design, and Equipment. Second edition, Noyes Publications, 1997. 799p. WALKER, J. M.; GINGOLD, E. B. Biología Molecular y Biotecnología. 2ª edición. Editorial ACRIBIA, S.A. Zaragoza, 1997, 475 p. ZANETTE, A. L. Balanço material e energético de uma biorrefinaria integrada. Anais do XVI SINAFERM, 2007.
  • 50. 49 8- ANEXO BIOCHEMICAL ENGINNERING IN BIOTECHNOLOGY (Technical Report) M. MOO-YOUNG and Y. CHISTI