Avanços tecnológicos melhoraram a produtividade da agricultura gr
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Prof.: Vanildo Tonetto Editado: 27/04/2015
AVANÇOS TECNOLÓGICOS MELHORARAM APRODUTIVIDADE DA AGRICULTURA
Nas últimas décadas, o Brasil se consolidou com o surgimento da Embrapa.
Hoje, volume total produzido de grãos subiu para 200 milhões de toneladas.
Na segunda parte da reportagem comemorativa dos 50 anos da Rede Globo, o Globo
Rural fala de um assunto fundamental para a evolução do nosso campo nesses 50 anos:
a tecnologia.
Com ela, a produção agrícola brasileira explodiu. E foi essa expansão incrível que fez a
Rede Globo criar, em 1980, um programa voltado para o campo: o Globo Rural, que
agora retrata um pouco dessa evolução tecnológica.
Ao longo das últimas décadas, o Brasil consolidou uma das maiores redes de pesquisa
agropecuária do mundo.
Dr. Eliseu Alves foi figura-chave nessa história. Agrônomo, ele fez parte do grupo que,
em 1973, fundou a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Naquela época, o Brasil já tinha universidades e centros de tecnologia voltados para a
agricultura, mas a produção científica era insuficiente e, apesar do potencial do nosso
campo, o Brasil ainda importava muita comida.
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Figuras 01: Tratores antigos
“Os criadores da Embrapa eram recém-egressos de universidades americanas. Então,
nós descobrimos que a grande diferença dos Estados Unidos era conhecimento. E nós
viemos com essa ideia para cá, de criar uma instituição que fosse capaz de gerar
conhecimentos para a agricultura brasileira. O Brasil era um país grande que tinha
potencial para ser grande e a Embrapa teria que ser do tamanho do Brasil”, explica
Eliseu Alves, agrônomo da Embrapa.
Figura 02: Embrapa
Hoje a Embrapa conta com quase 10 mil funcionários, 46 centros de pesquisa e estuda
de tudo em todos os cantos do Brasil: variedades de plantas, genética animal, solos,
pastagens, manejo florestal e adubação. O agrônomo Maurício Lopes é o presidente
atual da Embrapa.
“A ideia de se criar uma organização de pesquisa localizada em todas as partes do
Brasil fez a grande diferença. Nós levamos a ciência para o interior do Brasil. O Brasil
hoje é considerado a grande liderança para a agricultura, para a ciência e a inovação
para a agricultura no cinturão tropical do globo”, diz Maurício Lopes, presidente da
Embrapa.
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Graças ao trabalho da Embrapa, de universidades e vários institutos de pesquisa, o
Brasil rural deu um salto em termos de produtividade.
Veja o caso dos grãos: entre 1970 e agora, enquanto a área plantada passou de 27
milhões para 57 milhões de hectares, ou seja, pouco mais que dobrou, o volume total
produzido saltou de 29 milhões para 200 milhões de toneladas, quase sete vezes mais.
Em outras palavras: os nossos agricultores passaram a produzir mais do que o triplo em
cada hectare cultivado.
Grande parte desse avanço ocorreu graças ao surgimento de uma segunda safra de
grãos, a chamada safrinha, que começa a ser plantada logo após a colheita de verão,
entre janeiro e abril.
De volta à fazenda da dona Terezinha Brunetta, em Diamantino (MT), ela e a filha Keila
plantam milho e feijão-caupi nas mesmas áreas que foram usadas para a soja. Coisa
que, segundo elas, não existia no passado.
“Era colhido e gradeado e a terra ficava descoberta. Toda aquela entressafra que hoje
nós plantamos o milho, na época ficava descoberta", afirma a agricultora Terezinha
Brunetta.
Hoje, dona Terezinha pode fazer combinações variadas na fazenda: soja no verão e
milho no inverno; soja e algodão; soja e girassol, milho e feijão. Tem gente até que
aproveita o período da safrinha para plantar capim e fazer engorda de gado, na
chamada “integração lavoura-pecuária”.
Para o agrônomo Álvaro Salles, a segunda safra se tornou possível por dois motivos:
natureza favorável, com abundância de sol, calor e chuva, e uso de tecnologias
adaptadas para a região. Entre elas, ele cita as técnicas de adubação e correção de solo
do Cerrado, o plantio direto na palha e a soja precoce.
“Nós temos instituições como a Fundação Mato Grosso que começaram a adaptar a
soja, algumas variedades de ciclo curto. Aí o produtor começou a ver essa questão de
plantar uma segunda cultura e você ter retorno”, diz Álvaro Salles, diretor-executivo do
IMA.
Com tantas mudanças, dona Terezinha explica que a fazenda passou a aproveitar
melhor o espaço. No passado, cada hectare cultivado gerava, por ano, 30 sacas de soja,
da safra de verão. Hoje, cada hectare rende anualmente 60 sacas de soja e mais a
produção da safrinha: 115 sacas de milho ou 27 sacas de feijão-caupi. “Sem
comparação. E é resultado devido à tecnologia que foi surgindo”, conta a agricultora
Terezinha Brunetta.
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Outra mudança central para a nossa agricultura foi a mecanização. O Brasil rural dos
anos 1960 tinha apenas 61 mil tratores em atividade. Hoje, cerca de 1 milhão de
máquinas agrícolas de todo tipo e tamanho estão rodando pelo país.
Figura 03: Trator Massey Ferguson Figura 04: Trator Agrale
Além de elevar a produtividade, os equipamentos também provocam grandes mudanças
para quem trabalha no campo. Um exemplo disso vem dos canaviais.
O uso de máquinas para a colheita da cana-de-açúcar começou nos anos 1980 e, aos
poucos, foi se espalhando por todas as regiões do Brasil. Atualmente, no estado de São
Paulo, que é o principal produtor brasileiro, nada menos do que 85% da safra é colhida
de forma mecanizada.
Até os anos 1980, a Usina São João, em Araras (SP), empregava milhares de
cortadores na safra. Hoje, a atividade é quase toda mecanizada, como conta Humberto
Carrara, o diretor agrícola da empresa.
“Primeiro, representa a sobrevivência, porque hoje seria impensável colher esse volume
de cana manualmente. Nós nem sequer teríamos essa oferta de mão de obra. A colheita
mecanizada é mais barata, e 30% a 40% mais barata do que a manual”, conta o diretor
agrícola Humberto Carrara.
Cada colheitadeira que entra em atividade substitui 80 cortadores de cana e, ao mesmo
tempo, gera 17 novos empregos para operadores, tratoristas, motoristas de caminhão.
Raimundo da Silva passou por treinamento e trocou o facão pela colheitadeira. Hoje
trabalha na sombra, com ar condicionado e ganha em média R$ 2,5 mil por mês, uns
30% a mais do que ganharia no corte.
“Deu uma melhorada, né? O corpo já resiste mais do que se tivesse cortando cana.
Melhorou bem”, diz Raimundo da Silva, operador de colheitadeira de cana.
Ex-cortador, Genílson de Souza se tornou mecânico. “A vantagem é que é uma
profissão melhor. O facão é uma profissão muito pesada e é um desenvolvimento muito
bom para mim”, explica o mecânico Genílson de Souza.
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Figura 05: Colheitadeira de cana
Ao longo do tempo, o aumento do uso de máquinas e implementos ocorreu em todo
país, mas em ritmos variados nas diferentes lavouras e regiões. E, enquanto os
equipamentos foram entrando no campo, milhares de pessoas foram migrando para as
cidades, em busca de novos empregos que surgiam na construção civil, na indústria e
nos serviços.
Doutor em economia agrícola, Antônio Buainain, da Universidade de Campinas, fala
sobre as mudanças do trabalho no campo.
“A gente contava com uma oferta quase ilimitada de mão de obra. E isso está mudando
radicalmente. Hoje, na maior parte dos setores, nós temos escassez de mão de obra.
Isso muda o paradigma. Por que muda o paradigma? Porque obriga a usar tecnologia,
que permite intensificar, poupa mão de obra e também muda o campo. O resultado disso
é que você tem um perfil de mão de obra mais qualificado, com nível de salários mais
elevados do que no passado. Então, você começa a ter essa mudança”, afirma Antônio
Buainain, economista da Unicamp.
Mas em muitos lugares a condição dos trabalhadores rurais permanece precária, com
desrespeito às leis trabalhistas e até denúncias de trabalho análogo ao de escravo.
Assim, o mesmo país que abriga funcionários qualificados, do século 21, ainda convive
com situações do século 19.
Quando o assunto é o acesso à tecnologia, as desigualdades também são grandes, com
tratores modernos pra uns e tração animal para outros. Mas se engana quem pensa que
a evolução tecnológica ocorreu apenas em fazendas grandes ou nas regiões mais ricas
do país.
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Na Zona Rural de Petrolina, no sertão de Pernambuco, é possível encontrar as formas
mais convencionais da produção agrícola. A matraca, por exemplo, que é coisa do
passado em várias regiões do país, naquela região ainda é o principal instrumento para
fazer os plantios.
Figura 06: Matraca - plantadeira manual Figura 07: Plantadeira mecanizada moderna
Seu João de Deus e Souza, conhecido como seu Dãozinho, tem um sítio onde cultiva
18hectares de milho e melancia, e mantém pequeno rebanho de gado, cabras e
ovelhas.
Em grande parte da área, o plantio é feito com a matraca, que a cada batida na terra
libera uma semente. Para muita gente, seria um sinal de atraso, mas, para ele, foi uma
melhoria.
“Porque, de antes, plantava com a enxada, abrindo um buraquinho para entupir com o
pé. Aí você tinha muita dificuldade para plantar a roça e, com a matraca, avançou muito,
a gente conseguiu plantar com mais rapidez”, conta o produtor rural João de Deus e
Souza.
Outra evolução para o sítio é que, há alguns anos, seu Dãozinho conseguiu comprar um
trator usado e uma grade. Depois, ele acoplou uma plantadeira improvisada ao
implemento. A engenhoca, feita por um vizinho, tem um compartimento para o milho e,
embaixo, uma mangueira plástica que vai soltando as sementes. O equipamento já
substitui a matraca em algumas áreas do sítio.
“Com o decorrer do tempo, com a modernização, vai chegando essas oportunidades da
gente facilitar o trabalho da gente”, conta o seu Dãozinho.
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Seu Dãozinho mora com a mulher, dona Luzia, professora aposentada. Juntos, eles já
passaram por muita dificuldade no sertão, mas, ao longo do tempo, foram melhorando
de vida. Um dos principais avanços foi a chegada da energia elétrica.
“Televisão a gente tem como assistir os programas, os canais, tem como beber uma
aguinha gelada”, diz ele.
Hoje, o casal vive em uma casa equipada, com móveis e eletrodomésticos, coisa que
eles não tinham no passado. Outra conquista dos últimos anos foi a construção de uma
cisterna, que armazena água da chuva.
Quando compara a vida de hoje, com o passado que viveu no sertão, seu Dãozinho não
tem dúvida: “A cada ano, a cada década, cada vez vai melhorando”.
O aumento das áreas de irrigação foi mais uma novidade no sertão nordestino ao longo
desse meio século. A fruticultura moderna tomou conta de milhares de hectares, como
no Vale do São Francisco, em Pernambuco e na Bahia.
Figura 08: Irrigação moderna
Na terceira parte da reportagem, o Globo Rural continua a viagem pelos 50 anos da
nossa agropecuária: as novidades na produção de carnes, o salto na exportação e as
mudanças na relação entre agricultores e meio ambiente.
Para maiores esclarecimentos, assistir vídeo da EMBRAPA.